AS VIRTUDES: O QUE SÃO E COMO SE ADQUIREM? (Parte 1) Ramiro Marques À medida que as crianças crescem, precisam de adquirir e desenvolver algumas qualidades de carácter, a que alguns autores chamam disposições responsabilidade, e hábitos, coragem, tais temperança, como o sentido sentido da da justiça, autodomínio e prudência. Estas virtudes não são mais do que hábitos da mente, bons sentimentos e força de vontade para os traduzir em actos. Há três maneiras de as crianças adquirirem estas virtudes: pelo exemplo, através da prática directa e através das narrativas. As crianças aprendem pelo exemplo quando vêem e observam as vidas dos pais, amigos e vizinhos. As transformações na estrutura da família tradicional, nomeadamente a percentagem cada vez maior de filhos únicos e de famílias monoparentais, aumentou a influência dos mass media na vida das crianças. Essa influência é tanto maior e mais perigosa quanto mais frágil for a estrutura da família. Como as crianças aprendem as virtudes por imitação, a exposição a que estão sujeitas, durante longas horas por dia, ao telelixo, ao lixo que circula na web e a jogos de computador que exaltam a violência e a crueldade, pode ter efeitos extremamente nefastos no processo de formação do carácter, impedindo-as de adquirir as virtudes necessárias e aguçando nelas o apreço e apetite pelos vícios e valores negativos. A agravar este estado de coisas, está o facto de, nas sociedades ocidentais materialmente mais desenvolvidas, a juventude se estender por demasiado tempo sem que os adolescentes e jovens tenham um contacto directo com actividades produtivas, de tipo profissional ou de voluntariado. As crianças aprendem através da prática directa, ou seja, pela repetição de actos que são levadas a realizar quer sob influência dos pais quer dos professores e dos pares. Trata-se, neste caso, de uma aprendizagem através da experiência. Essa aprendizagem é muito importante porque vem associada ao desenvolvimento de competências de vida e de trabalho, as quais mantêm uma íntima relação com determinadas virtudes, como a honestidade, a verdade, a generosidade, a equidade, a perseverança e a resiliência. As crianças aprendem pela palavra e, em particular, através das narrativas, as quais têm um poderoso efeito na formação da personalidade e na construção do carácter das crianças. As narrativas familiares ajudam a criança a compreender que pertence a uma cultura e a uma comunidade marcadas por laços de solidariedade e de afeição e enquadradas por rituais, normas, tradições, proibições e limites. Sem o contacto permanente com esse quadro de normas, rituais, tradições, proibições e limites, a criança sente-se perdida e desorientada, ficando mais exposta à influência nefasta da cultura dos gangs, nomeadamente quando não dispõe do apoio e acompanhamento de uma comunidade virtuosa, na família, no bairro e na escola. Bibliografia Marques, R. (2000). O Livro das Virtudes de Sempre. Porto: Edições Asa (Edição brasileira, na Editora Landy e edição em castelhano na Editora Desclée) Marques, R. (2002). Breve História da Ética Ocidental. Lisboa: Plátano Edições