A sustentabilidade não pode estar apenas no nome LPN dá parecer negativo a EIncA do “Projecto: Berlengas –Laboratório de Sustentabilidade” Terminou em 29 de Outubro o período de consulta pública do Estudo de Incidências Ambientais (EincA) do “Projecto: Berlengas – Laboratório de Sustentabilidade”. A LPN considera que, no parecer elaborado, existem indefinições e lacunas importantes ao nível do projecto, da caracterização da área a afectar e, consequentemente, da análise de impactes ambientais realizada, que se mostrou incompleta e deficientemente fundamentada, recomendando-se que o que o EIncA seja reformulado. É opinião da LPN que, o facto de um projecto declarar objectivos “ambientais” nobres, não o isenta de apresentar toda a informação relevante para a definição dos seus impactes ambientais, sobretudo numa área de elevada sensibilidade como a Reserva Natural das Berlengas. O Projecto, aparentemente em fase de projecto de execução, não apresenta uma definição clara a vários níveis, desde a selecção (incompleta) das tecnologias e equipamentos a instalar, não demonstrando a sua adequabilidade e eficácia, até à indefinição das operações necessárias para a sua implementação, não estando demonstradas as características ambientalmente sustentáveis das soluções apresentadas/sugeridas. A caracterização ecológica da ilha deveria ter em maior conta a informação existente, devendo igualmente fazer-se uma identificação e análise mais completa dos impactes ambientais associados, de modo a minimizar os impactes negativos esperados. No que se refere à fauna e flora existente na Reserva Natural das Berlengas, o documento é insuficiente sendo, por exemplo, omisso quanto à identificação das espécies com estatuto de ameaça presentes, ignorando o facto de a Ilha da Berlenga ser um importante local de nidificação e repouso para as aves marinhas, em especial quatro espécies protegidas pela Directiva Aves, e que a sua flora é especialmente rica e diversificada, constituindo valores ecológicos únicos que se traduzem no nível de protecção especial nacional e comunitário, verificando-se a existência de 3 espécies endémicas (i.e. que não existem em mais nenhum ponto do planeta), também protegidas pela Directiva Habitats. O arquipélago das Berlengas, candidato a Reserva da Biosfera no próximo ano, está incluído na Lista Nacional de Sítios da Rede Natura 2000 e constitui Reserva Biogenética. As ilhas Berlengas constituem também Zona de Protecção Especial (PTZPE0009) e Important Bird Area (IBA), cuja importância ornitológica (aves) se traduz na única colónia de Roquinho da Europa continental, na única colónia de Airo do país, no limite Norte da distribuição da população nidificante da Cagarra constituindo a ilha a única colónia desta espécie em Portugal Continental, alberga cerca de 80% da população nidificante em Portugal de Corvo-marinho-decrista, entre outras espécies, das quais se destaca o Falcão-peregrino pela sua população nidificante. Neste contexto, a LPN considera essencial uma avaliação mais completa e melhor fundamentada para licenciar um projecto que se assume como um “exemplo” e um “laboratório de sustentabilidade”, tendo como objectivos declarados tornar a Ilha da Berlenga autónoma na produção energética, a partir de energias renováveis (eólica e fotovoltaica), na produção de água potável e tratamento de águas residuais e resíduos sólidos, através de soluções ambientalmente sustentáveis. O EIncA ainda levanta uma preocupante possibilidade de se aumentar a capacidade de carga da ilha, sem fundamentação apropriada, considerando-se indesejável que se abra a possibilidade de o fazer simplesmente porque passa a haver infra-estruturas para tratar maior quantidade de resíduos. Na Berlenga, a capacidade de carga deve certamente ser ponderada com base em critérios de conservação. Dado que neste projecto as energias renováveis estão associadas a impactes ambientais potencialmente muito negativos, pela afectação de uma Reserva Natural de grande importância, com valores florísticos, faunísticos e paisagísticos únicos, a LPN considera que a 'solução' apresentada não está suficientemente madura, pois não é possível tomar uma decisão sobre o licenciamento do projecto sem se conhecer em detalhe em que consiste o mesmo. Logo, a análise de impactes é inconclusiva e deve ser refeita, até apresentar garantias claras de que o projecto não afectará de forma negativa e significativa a Reserva Natural das Berlengas, garantia que não existe no presente, dado o nível de indefinição evidenciado. Lisboa, 5 de Novembro de 2008 A Direcção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza Para mais informações: Eugénio Sequeira - 968 029 499 Ricardo Lemos – 964 600 690 Zélia Vitorino – 964 656 033 Liga para a Protecção da Natureza - Estrada do Calhariz de Benfica, 187, 1500-124 Lisboa www.lpn.pt 217 780 097 | 217 740 155 | 217 740 176 A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. É uma Associação sem fins lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. A LPN é membro da IUCN (The World Conservation Union), do EEB (European Environmental Bureau), do CIDN (Conselho Ibérico para a Defesa da Natureza), do MIO-ECSDE (Mediterranean Information Office for Environmental Culture and Sustainable Development) e do SAR (Seas at Risk).