1.pdf 1 25/02/2015 18:02:02 A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores C M Y CM MY CY CMY K VOLUME 1 JANEIRO DE 2015 2.pdf 1 26/02/2015 10:16:17 C M Y CM MY CY CMY K COORDENAÇÃO EDITORIAL Conteúdo – Equipe de Desenvolvimento Organizacional do AFS Intercultura Brasil Projeto Gráfico - Equipe de Comunicação & Marketing do AFS Intercultura Brasil Publicação – Volume 1 (2015) Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercialSemDerivações 4.0 Internacional. 0 3.pdf 1 26/02/2015 10:18:53 Prezados educadores, C M Y CM MY CY CMY K A educação de jovens em um mundo globalizado requer o desenvolvimento de competências e habilidades específicas. As escolas que abrem suas portas para a experiência intercultural de receber um estudante estrangeiro fortalecem a educação para a cidadania global: oferecendo aos seus alunos um ambiente que proporciona o contato com outras culturas e estimulando que eles desenvolvam competências e habilidades para lidar com a diversidade cultural. Esse guia foi desenvolvido para apoiá-los neste processo. Aqui, selecionamos alguns conteúdos e atividades do campo da Aprendizagem Intercultural. A Aprendizagem Intercultural é uma área de pesquisa, estudo e de aplicação de conhecimentos sobre interculturalidade, assim como o processo que leva a uma compreensão aprofundada de outras culturas e da própria cultura. Esperamos que este material seja útil para auxiliá-los a aproveitar ao máximo a experiência intercultural em sua escola, despertando o interesse de seus alunos e encorajando-os a ir além do convívio com um colega estrangeiro em sala de aula na descoberta de outras culturas e modos de pensar. Cordialmente, Ana Carolina Cassiano Especialista em Interculturalidade e Parcerias Educacionais AFS Intercultura Brasil *Observação: Agradecemos ao AFS França por autorizar a reprodução de partes de seu Livret pédagogique à l'usage des enseignants (Março 2013). A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 1 4.pdf 1 26/02/2015 10:21:33 SUMÁRIO O QUE É CULTURA? .............................................................................................................................. 3 Os componentes da cultura ............................................................................................................ 3 Modelo do iceberg ............................................................................................................................. 4 O QUE ACONTECE DURANTE UMA EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL? ........................... 6 Aprendizagem intercultural ............................................................................................................ 6 Ciclo de adaptação cultural ............................................................................................................. 7 IMPACTOS DE UMA EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL ............................................................ 11 Desenvolvimento de competências interculturais ................................................................ 11 Os benefícios de aprendizagem intercultural ......................................................................... 11 C M Y RECEBENDO INTERCAMBISTAS EM SUA ESCOLA................................................................. 12 CM MY CY Dicas para facilitar a integração ................................................................................................. 12 Sugestões de atividades ................................................................................................................ 13 CMY K PARA SABER MAIS .............................................................................................................................. 15 A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 2 5.pdf 1 26/02/2015 10:25:36 O QUE É CULTURA? Cultura é um termo que pode ser definido de inúmeras formas, dependendo da área de conhecimento. Uma definição bastante abrangente é “o conjunto dos traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e afetivos, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças” 1. Os componentes da cultura A cultura é, portanto, composta de nossos valores, nossas crenças, e nossos comportamentos. Estes componentes são fruto da trajetória de vida, da educação familiar e institucional e da socialização que compartilhamos com os grupos sociais nos quais estamos inseridos. A cultura é o que nos dá um ponto de referência, que serve como um suporte em todas as nossas interações. C M Y VALORES CM CRENÇAS MY CY CMY CULTURA K COMPORTAMENTOS 1 Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural (UNESCO, 2002). A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 3 6.pdf 1 26/02/2015 10:27:09 Modelo do iceberg Um modelo frequentemente utilizado para representar o que é cultura é um iceberg. O desenho de um iceberg nos permite diferenciar entre os elementos de uma cultura: os que são reconhecidos facilmente (a parte do iceberg que fica acima da água) e os elementos que não são reconhecidos com tanta facilidade (a parte do iceberg abaixo da água). C M Y CM MY CY CMY K Valores Na superfície Abaixo da superfície Crenças Comportamentos Modos de expressão dos três componentes da cultura que são facilmente reconhecidos: arquitetura, literatura, gastronomia, música tradicional, dança folclórica, teatro, moda... Noções de justiça, de igualdade, de liberdade, de traição, de bom e de mal, de autoridade, de propriedade. Noções do tempo e do espaço. Cosmologia, Mitologia, Rituais religiosos, Lendas. No nível familiar: educação dos filhos, o papel do pai/mãe, as regras de comportamento e punição. No nível profissional: Hierarquia, tomada de decisão, ritmo do trabalho, resolução de conflitos. No nível pessoal: Relações românticas e de amizade, percepção de si mesmo, controle de emoções, linguagem não verbal. A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 4 7.pdf 1 26/02/2015 10:34:09 Na superfície: Certos elementos de nossa cultura são facilmente identificáveis logo à primeira vista: modos de vestir, hábitos alimentares o estilo de arquitetura, obras artísticas, música tradicional, dança folclórica, literatura e teatro. Estes são aspectos que nos permitem identificar rapidamente uma cultura que é diferente da nossa. Esses elementos que são facilmente identificados, que constituem a parte visível do iceberg, são os modos de expressão de componentes profundos, complexos e fundamental em uma cultura. Abaixo da superfície: O que é bom e o que é mal? O que é justo? O que significa ser livre e igual? As respostas que damos a estas perguntas são baseadas nos valores que partilhamos como um grupo social. O nosso modo de conceber a autoridade ou a propriedade, nossa concepção do espaço e do tempo, são outros aspectos que baseiam nossas formas de organização social. As crenças compartilhadas por um grupo social necessitam igualmente de uma compreensão profunda para capturar sua complexidade e o espaço que elas ocupam em uma sociedade: as lendas ou os mitos, as diferentes concepções do universo e ritos religiosos também são partes integrais da organização social. C M Y CM Finalmente, é interessante destacar que certos aspectos também moldam nossos comportamentos, no nível pessoal, familiar ou profissional, e nos fornece um ponto de referência para todas nossas interações. MY CY CMY K Todos esses elementos que cimentam nossa cultura não ficam estagnados. Eles nos dão uma base sólida para agir e refletir, mas podem ser questionados a todo o momento. A cultura, então, corresponde a um processo, onde os elementos que a compõe evoluem durante a nossa vida, enriquecendo-se a partir de nossas experiências. “Meu intercâmbio para os Estados Unidos, entre agosto de 2012 e junho de 2013, foi um deleitável desafio. Foi incrível. Foi emocionante. Foi perfeito. Eu cresci – e engordei -, e aprendi a ver o mundo com outros olhos: mais analíticos, mais toleráveis, mais humanos. Mais do que isso, aprendi sobre mim mesmo, meus limites, minhas ambições, meus valores. E também sobre aqueles tantos sonhos que, em parte, se tornavam reais quando desembarquei em solo americano. Meu intercâmbio foi nada mais que uma profunda reflexão sobre minha vida e sobre meu “eu” mais interior.” Cassiano Santana – Intercambista AFSe nos Estados U id 2012 2013 Ilustração de Julien Peyre para AFS França, 2012 A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 5 8.pdf 1 26/02/2015 10:37:08 O QUE ACONTECE DURANTE UMA EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL? Aprendizagem intercultural A aprendizagem intercultural pode ser compreendida como um instrumento para entender a complexidade e a diversidade do mundo de hoje. Esse instrumento permite a aquisição de competências interculturais em termos de saber fazer, refletir e sentir em um contexto intercultural. A imersão em outra cultura corresponde a um processo de aprendizagem baseado em experiências, reflexões e emoções. Fazer: A imersão intercultural é uma experiência de aprendizagem direta e concreta. A saída de sua zona de conforto leva o individuo a desenvolver competências de compreensão para poder interagir em um novo ambiente. Nova língua, novos jeitos de agir, novas relações sociais, são oportunidades de aprendizagem e de crescimento de nossas percepções. C M Y CM Sentir: A saída da zona de conforto corresponde à uma vontade de se aventurar que contribui para novas emoções. Esse choque pode provocar dois tipos de reações: recusa/defesa ou um novo sentido de segurança e confiança em si memo. MY CY CMY K Refletir: Não é somente o fato de se estar em uma situação de imersão que contribui para o entendimento de diferenças culturais de maneira instintiva. A fase de reflexão que acompanha a experiência também está presente ao longo do processo de aprendizagem. FAZER SENTIR APRENDIZAGEM INTERCULTURAL REFLETI R A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 6 9.pdf 1 26/02/2015 10:39:01 Ciclo de Adaptação Cultural Embora a experiência de cada intercambista seja única, existem alguns momentos que fazem parte da vida da maioria. A partir de sua experiência de décadas na promoção de intercâmbios, o AFS vem coletando dados sobre o processo de adaptação pelo qual os participantes de seus programas passam. O resultado é que existe um padrão relativo à adaptação cultural do intercambista, onde os altos e baixos estão ligados a momentos específicos da experiência do intercâmbio. Este padrão é chamado de “ciclo da adaptação” e pode ajudar a compreender os momentos pelos quais passam os intercambistas, sem que, no entanto, se deixe de considerar que podem haver variações individuais. C M Y CM MY CY CMY K Fonte: Hansel, 1995. Chegada Para alguns intercambistas, a chegada ao país hospedeiro pode ser incrivelmente entusiasmante. Muitas vezes é a realização de um sonho antigo. Logo após a chegada, alguns intercambistas podem estar sob o efeito do entusiasmo da viagem em si, do encontro com a família hospedeira e das novidades encontradas de maneira geral. Para outros intercambistas, a ansiedade pode ser maior que o entusiasmo e a euforia. Eles podem ter mais preocupações iniciais sobre a experiência, talvez porque antecipem problemas de adaptação que podem surgir ao longo da experiência de intercâmbio. Outros ainda podem ter algum tipo de reação mais tardiamente, tendo focado até o momento apenas as questões práticas da viagem e da logística. Fadiga Mesmo para aqueles intercambistas em que a chegada foi repleta de entusiasmo e euforia, alguns dias depois eles podem já se sentir exaustos física e emocionalmente por todas as novas coisas experimentadas até então: tantas novas pessoas que ele já conheceu, muitos novos lugares que já visitou. Além disso, há a questão da nova língua que tentam compreender, diferentes hábitos alimentares, diferenças de fuso A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 7 10.pdf 1 26/02/2015 10:45:48 horário, diferenças climáticas. Para alguns, este período de exaustão pode ser breve, enquanto para outros pode durar muitos dias, até semanas. Nostalgia/Saudade É comum que muitos estudantes sintam saudades de casa e de seu país alguns dias ou semanas após a chegada ao país hospedeiro. Mas aos poucos, tudo tende a tornar-se mais familiar. Na medida em que as aulas se iniciam, novas amizades vão sendo feitas, o vínculo com a família hospedeira vai sendo estabelecido, o intercambista pode ir pouco a pouco se ajustando ao seu novo ambiente. A saudade pode se tornar um problema quando o estudante romantiza tudo que se refere a seu país de origem, e começa a pensar que tudo que diz respeito a ele é melhor em comparação ao país hospedeiro. Neste caso, é comum o estudante ter reações negativas ou de reprovação: “A cidade é muito suja”; “As pessoas são muito liberais” ou “muito conservadoras”. Podemos ajudar o intercambista a vencer este período facilitando cada vez mais sua integração com família e escola hospedeiras. Ajudá-lo a se envolver em atividades extraclasse pode ser extremamente útil, pois aumentamos desta maneira o leque de opções de socialização e integração. C M Y CM MY CY CMY Adaptação Nem tudo no país hospedeiro requer um esforço enorme de adaptação. Muitos intercambistas descobrem semelhanças significativas entre o país hospedeiro e seu país de origem. Muito do que é descoberto na família hospedeira, por exemplo, pode ser visto com admiração e encantamento, trata-se de um período ao qual chamamos de “lua-de-mel”. Eles descobrem comidas novas, lugares novos, atividades novas, as quais lhe agradam. Descobrem também que já entendem mais a nova língua do que imaginavam. Esta fase é caracterizada pelo interesse, euforia, expectativas positivas e idealizações sobre a nova cultura. As diferenças são excitantes e interessantes. K No entanto, nem todos vivenciam este período de adaptação tranquilamente, ou seja, a “lua-de-mel” não acontece para todos. Nestes casos, além das similitudes, há também a descoberta das diferenças. Descobrir muitas diferenças ao mesmo tempo pode ser extremamente desafiante e angustiante. Até mesmo os intercambistas que se encantaram pelas novas descobertas podem sentir certo grau de frustração e confusão ocasionalmente. Eles não esperavam encontrar tantas diferenças, muitos achavam que já sabiam muito da nova cultura através de filmes ou livros estudados, através de pessoas do país hospedeiro que conheceram. No entanto, quando realmente se deparam com a nova cultura in loco, verificam que a realidade pode ser diferente das expectativas que tinham anteriormente. Aprofundando Relações É muito difícil que tanto o estudante como as famílias hospedeiras e membros da escola não cometam pequenos equívocos quando estão estabelecendo ainda uma relação entre si. No entanto, quando já estabeleceram uma relação de confiança e respeito mútuos, estes equívocos não passarão de mal entendidos, que não os impedirão de manter uma relação de afeto. A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 8 11.pdf 1 26/02/2015 10:48:23 Concomitantemente à criação dos vínculos, a família e a escola também devem mostrar a seu novo membro suas regras e costumes. Ao princípio, algumas regras podem parecer bastante estranhas aos olhos do estudante, visto que a nova cultura ainda é algo muito novo, diferente do que ele já vivenciou até então. Muitas regras familiares são reflexos de nossa própria cultura, por isso causam espanto aos estrangeiros em um primeiro momento, não lhes parecem naturais. No entanto, à medida que os vínculos com a família, com a escola e com a cultura local vão sendo fortalecidos, as regras são mais facilmente assimiladas e interpretadas, e o próprio intercambista sente-se realmente como um membro da família hospedeira e um membro de sua turma na escola. Este é o momento em que o intercambista deixa de se sentir como um hóspede na família e escola, para tornar-se um membro das mesmas. C M Y CM Choque Cultural Nas primeiras semanas, é muito comum que os intercambistas se foquem nas similitudes que encontram entre seu país de origem e o país hospedeiro. É mais confortável focar-se no que é parecido, do que prestar atenção nas diferenças. Todos nós mostramos resistência em sair de nossa zona de conforto. Diferenças óbvias como alimentação, clima, língua, vestuário, são logo percebidas e já fazem parte das expectativas. No entanto, com o passar do tempo, estas diferenças visíveis já não chamam tanto a atenção. Por exemplo, os intercambistas podem entender literalmente o conteúdo do que é dito a eles na nova língua, mas não entendem a mensagem por detrás, não sabem ainda interpretá-la, não entendem os valores subjacentes à nossa cultura, é como uma metáfora que ainda não sabem ler. MY CY CMY K Isto gera bastante confusão, estresse e uma sensação de incerteza, é o período ao qual denominamos de choque cultural. Este termo pode ser definido como uma consequência do esforço e da ansiedade resultantes do contato com uma nova cultura; além do sentimento de perda, confusão e impotência resultantes da perda de informações culturais e regras sociais previamente utilizadas, ou seja, dos parâmetros culturais aos quais o estudante estava acostumado. É um período difícil tanto para os intercambistas, como para as pessoas que com eles convivem, como os membros da família hospedeira ou da escola. No entanto, o choque cultural é uma reação considerada normal, como resposta ao estresse que estão passando pelas extensivas tentativas de adaptar-se a um “novo mundo” e passa com o decorrer da experiência. Pode se dar em maior ou menor grau, mas de todas as formas representa situações novas e desafiadores que os intercambistas têm que enfrentar. Para uma solução efetiva é necessário que haja ajustamento e adaptação: desenvolver habilidades em resolver problemas da nova cultura e começar a aceitar suas formas com uma atitude positiva. A cultura começa então a fazer sentido e as reações negativas passam a ser reduzidas. O ajuste é lento e requer vários ciclos de crise e adaptação. Apoio e tempo são os melhores remédios para ajudar o intercambista e os envolvidos no processo a vencer este período. Os intercambistas vão se tornando mais hábeis em lidar e entender as diferenças encontradas, tornando-se mais capazes de pensar em diferentes perspectivas e não só mais na qual já estavam acostumados. A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 9 12.pdf 1 26/02/2015 10:50:29 Fim de ano Em quase todas as culturas as datas festivas no fim de ano representam importantes celebrações familiares. Para os intercambistas que chegam na metade do ano (em geral, em Agosto), este período coincidirá com a metade da experiência de intercâmbio. Esta época pode levar os intercambistas a sentirem saudades mais intensas de casa, pois estas datas festivas são celebradas (ou não) de maneira diferente de cultura para cultura. Isto faz com que a maioria dos intercambistas se remeta a recordações de seu país e cultura, como por exemplo: como passou o último Natal com sua própria família. Aprendizagem Intercultural Uma vez que os intercambistas tenham superado o choque cultural, a confiança então adquirida os ajudará a lidar com novos e maiores desafios. Neste ponto, estão prontos para aprender mais sobre a nova cultura, e sobre eles mesmos inseridos em sua cultura de origem. Este é o momento em que as dificuldades da adaptação em geral já representam uma fase superada. Suas expectativas já são mais condizentes com a realidade e a resistência à assimilação da nova cultura é menor. C M Y CM MY A aprendizagem intercultural se dá na medida em que eles já conseguem absorver a nova cultura, respondendo apropriadamente a ela, adaptando-se se necessário, adotando novos padrões de pensar e agir dentro deste novo ambiente. Tudo isto envolve ser capaz de apreciar e dar valor ao diferente, ao mesmo tempo não deixando de lado sua própria cultura original. Neste estágio, eles já se tornaram membros ativos da nova cultura, deixando de agir como simples espectadores. CY CMY K Últimas Semanas Os sentimentos que surgem nas últimas semanas em geral são muito contraditórios. Certa confusão neste sentido é esperada. Ao mesmo tempo em que os intercambistas sentem-se entusiasmados em estar em breve com sua família natural e amigos novamente, é muito difícil deixar sua nova família e amigos, enfim, os vínculos criados no país hospedeiro. Muitos não sabem se terão a oportunidade novamente de revê-los. Quando o intercambista entende que ele se apegou tanto às pessoas ao seu redor, ele começa a entender o quanto mudou. Ele pode até sentir-se culpado por querer ficar e não voltar para casa. Somado a isto, inúmeros são os convites para festas de despedidas. Todos estes eventos e emoções conflitantes podem levar o intercambista novamente a uma sensação de exaustão. Este é um processo natural que envolve também as expectativas em relação a como será o retorno para o país de origem e o processo de readaptação. A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 10 13.pdf 1 26/02/2015 10:53:03 IMPACTOS DE UMA EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL Desenvolvimento de competências interculturais Melhorar a compreensão da globalização Se adaptar a novos ambientes / flexibilidade Praticar línguas estrangeira s Conviver com outras culturas Trabalhar em equipes multiculturai s C M Y Competências interculturais CM MY CY CMY K Os benefícios de aprendizagem intercultural A experiência intercultural propícia benefícios para a aprendizagem intercultural que se situam a níveis diferentes. A abertura de uma nova cultura nos leva a aprender novas atitudes, comportamentos e novas formas de pensar que desconstroem estereótipos culturais. Isso nos convida um questionamento sobre diferenças culturais, levando-nos a respeitar o outro em sua diversidade. Finalmente, no nível pessoal, a experiência intercultural estimula a reflexão sobre o pertencimento em nossa própria cultura e o quanto ela influencia nossa identidade, permitindo descobrir si mesmo e de melhorar a definição de suas próprias expectativas e desejos. O desenvolvimento de competências interculturais permite ao jovem: x Sentir-se mais à vontade quando confrontado com outras culturas. x Estar mais preparado para compreender e se adaptar a diferenças culturais. x Desenvolver relações de amizades com pessoas de outras culturas. A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 11 14.pdf 1 26/02/2015 10:56:18 RECEBENDO INTERCAMBISTAS EM SUA ESCOLA Dicas para facilitar a integração 2 x Na chegada do intercambista é importante explicar-lhes as normas, regras e rotinas da escola, deixando claro o que se espera deles. Também é interessante apresentar o estudante a cada um dos professores com quem ele terá aulas, para tentar evitar a criação de barreiras pelo simples desconhecimento. Assim, cada professor poderá também falar um pouco sobre seus métodos de trabalho para ajudar o intercambista a se situar. x Mesmo se o intercambista, ao chegar, não tiver um nível muito avançado de português, é importante evitar ao máximo o uso do inglês ou outro idioma, para que ele seja estimulado a falar o nosso idioma. No começo, quando a comunicação for ainda difícil, sugerimos que se tente falar mais lentamente e utilize gestos, mímica, imagens, dicionário, etc. Outra dica é colar adesivos em materiais e objetos dentro de sala de aula que indiquem seu nome em português. x É muito importante que os professores se esforcem ao máximo para tratar o intercambista como tratam os outros alunos da classe e não como uma exceção. Uma forma de estimular o estudante a ser mais ativo em sala é fazer com que ele se sinta parte integrante da turma. Em situações nas quais o intercambista talvez não esteja apto ainda a fazer as mesmas atividades propostas aos outros alunos, sugerimos a proposição de uma atividade mais simples. Não é bom quando o intercambista fica à toa enquanto seus colegas trabalham. O programa do qual ele faz parte é um programa escolar, portanto, é importante que o estudante participe de atividades escolares. x Uma alternativa para que o intercambista realize as atividades é permitir que ele as faça em dupla com alguma colega, para que possa assim, ao mesmo tempo em que completa o que foi proposto, interagir e aprimorar o português. x Estimular os alunos da turma a ajudarem os intercambistas com o aprendizado do português é muito importante. É ainda mais importante insistir para que os alunos evitem ao máximo conversar com o intercambista em outros idiomas. x Sugerimos também que seja perguntado ao estudante quais são as matérias de que ele mais gosta, para que ele seja estimulado nessas aulas a mostrar seus conhecimentos onde se sente mais confortável. x Pedir ao intercambista para fazer uma apresentação sobre seu país e sua cultura em português também pode ser uma forma interessante de motivá-lo e despertar o interesse do restante dos alunos em outra cultura. C M Y CM MY CY CMY K 2 Contribuição de Amanda Magnani (Voluntária AFS - Comitê Belo Horizonte – Intercambista AFS na Suíça 2011-2012) e Clarisse Machado (Psicóloga Escolar – Escola da Serra – Intercambista AFS na Tailândia 1999-2000) A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 12 15.pdf 1 26/02/2015 10:58:45 Sugestões de atividades Atividade 1: Meu iceberg pessoal 9 Objetivo: Refletir sobre o conceito da cultura e a maneira que cada um define sua própria cultura. 9 Duração: 1h 9 Materiais necessários: Quadro, folhas de papel A4 com o desenho de um iceberg (modelo para fotocopiar na próxima pagina), canetas, mesas. Descrição da atividade: Primeira parte: O que é cultura? C M Y CM MY CY CMY 1) Para introduzir essa atividade, pergunte ao grupo: o que vocês entendem por cultura? 2) Anote as contribuições do grupo no quadro, chamando que o que foi mencionado pelo grupo pode ser dividido em aspectos visíveis e invisíveis do que é cultura. 3) É importante enfatizar que os aspectos invisíveis são muito maiores que os visíveis. 4) No quadro, faça o desenho de um iceberg, indicando que esta é uma forma de representar o que é cultura, separando estes aspectos visíveis/que estão na superfície, dos aspectos invisíveis/ que estão abaixo da superfície. 5) Aqui é importante dar exemplos disso na cultura brasileira e na cultura local/regional. Por exemplo: pratos típicos e festas folclóricas (visíveis); o que é considerado pontualidade em um encontro com amigos e informalidade expressas na maneira como chamamos o professor pelo primeiro nome (aspectos invisíveis). K Segunda parte: Minha própria cultura 1) Distribua para cada aluno uma folha e peça que desenhem um iceberg, individualmente eles devem escrever o que de sua própria cultura está na parte visível e invisível do iceberg. 2) Em grupos de dois (2), peça a eles para compartilharem o resultado de suas reflexões e explicarem um ao outro o que desenharam e escreveram. Terceira parte: Fechamento Reúna o grupo e pergunte ao grupo o que os chamou atenção no iceberg do colega com quem eles trabalharam. Havia algo diferente do seu? Quais questões surgiram quando eles preencheram o iceberg? Os elementos que compõem o iceberg são fixos ou capazes de se modificar? Etc. A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 13 16.pdf 1 26/02/2015 11:04:08 Atividade 2: Apresentação de um sistema de educação diferente 9 Objetivo: Descobrir outras práticas e métodos de ensino e aprendizagem. 9 Duração: 30min de apresentação + 30min para discussão. 9 Materiais necessários: Apresentações de PowerPoint/vídeos/testemunhos/etc. Descrição da atividade: A presença de um aluno estrangeiro em sua escola/sala de aula representa uma oportunidade de conversa e descoberta de outras práticas educativas. Ao pedir que o intercambista prepare uma apresentação sobre seu país de origem, solicite que ele inclua uma sessão sobre o sistema educacional de seu país (matérias ensinadas, horário escolar, como são as provas, etc.). A primeira meia-hora de apresentação pode ser seguida por meia-hora de debates e discussões sobre as diferenças de métodos educativos. Nota: Uma apresentação em português na frente da classe pode ser um grande desafio para um estudante estrangeiro que ainda não é fluente em português. Não hesitar apoiá-lo e acompanhá-lo durante a fase de preparação para que essa atividade não seja assustadora, podendo permitir que o estudante ganhe confiança e segurança em si mesmo. C M Y CM MY CY CMY K Atividade 3: Organizando um dia intercultural 9 Objetivo: Aprender sobre diferenças culturais por meio de diferentes atividades que visem despertar o interesse em outras culturas e refletir sobre diferenças culturais. 9 Duração: +/- 1 dia baseado nas atividades dispostas/ escolhidas 9 Materiais: Filmes, música, instrumentos musicais, comidas típicas, perguntas para um quis intercultural e etc., dependendo das atividades escolhidas. Sugestão de uma agenda: Manhã Na hora do almoço Tarde - Cada turma pode escolher uma ou duas culturas para pesquisar e apresentar o iceberg daquelas culturas (aspectos visíveis e invisíveis que descrevem determinada cultura) - Palestras e debates - Organizar um buffet de almoço intercultural para quais os alunos trazem pratos típicos de países diferentes ou receitas de família de diversas origens regionais ou internacionais - Organizar um Quiz Intercultural - Mostra de filmes que tratem sobre diferenças culturais - Mostra de danças e músicas típicas de diferentes culturas A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil 14 17.pdf 1 26/02/2015 11:05:29 PARA SABER MAIS... Sugestões de materiais de leitura do AFS: (Disponível em: http://www.afs.org.br/materiais-para-download-.html) x Contribuições de Edward T. Hall...para amigos do AFS (2012). x Dimensões Culturais de Hofstede....para amigos do AFS (2012). x Generalizações e Estereótipos...para amigos do AFS (2012). x O Modelo de Desenvolvimento de Sensibilidade Intercultural....para amigos do AFS (2012). x Terminologia Intercultural Básica...para amigos do AFS (2012). Outras leituras: C M x Bennett, M. (1998). Basic Concepts of Intercultural Communication: Selected Readings. Boston: Intercultural Press. x Deardoff, D. (ed.) (2009). The SAGE Handbook of Intercultural Competence. London: SAGE. x Hall, E. T. (1990). Press/Doubleday. x Hansel, B. (2007). The Exchange Student Survival Kit (2nd ed.). Boston: Intercultural Press. x Hofstede, G. (2010). Cultures and Organizations: Software of the Mind (2nd ed.). London: McGraw-Hill x Kim, Y. Y. (2001). Becoming Intercultural: An Integrative Theory Communication and Cross-Cultural Adaptation. Thousand Oaks, CA: Sage. x Kolb, David A. (1984) Experiential Learning: experience as the source of learning and development. Englewood Cliffs: Prentice Hall. Y CM MY CY CMY K The Silent Language. New York, NY: A EXPERIÊNCIA INTERCULTURAL NAS ESCOLAS: um guia para educadores - AFS Intercultura Brasil Anchor of 15 18.pdf 1 26/02/2015 11:09:56 C M Y CM MY CY CMY K 19.pdf 1 26/02/2015 11:07:49 C M Y CM MY CY CMY K 20.pdf 1 26/02/2015 11:14:08 C M Y CM MY CY CMY K