239 EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES OFÍDICOS NO MUNICÍPIO DE ROLIM DE MOURA, RONDÔNIA Carolina Stedile Anacleto de Souza1 Reginaldo de Oliveira Nunes2 RESUMO O presente trabalho apresenta um estudo relativo a epidemiologia de acidentes ofídicos ocorridos no município de Rolim de Moura, Estado de Rondônia entre 2000 e 2007. Foram analisados dados disponibilizados pela Secretaria Municipal de Saúde do município, onde os resultados obtidos foram organizados referentes a idade, sexo, procedência, zona (rural ou urbana), região anatômica picada, espécie de animal causador, classificação do caso, soroterapia e tempo decorrido entre a picada e o atendimento.Os acidentes foram causados por serpentes dos gêneros Bothrops, Lachesis e Micrurus. Os acidentes predominaram em pessoas do sexo masculino, trabalhadores rurais e com idades entre 10 e 29 anos. Na maioria dos acidentes os principais locais de picada foram pernas e pés; o tempo decorrido entre a picada e o atendimento prevaleceu entre 1 a 3 horas; 69,9% dos casos foram classificados de nível leve e 19,3% de grau moderado; 80,7% das pessoas recebeu soroterapia, e 89,1% dos casos evoluíram para cura, exceto um caso que evoluiu a óbito. Palavras-chave: Epidemiologia, Acidentes ofídicos, Rolim de Moura. ABSTRACT This work presents a study on the epidemiology about ophidian’s accidents occurring in the city of Rolim de Moura, Rondônia State, Brazil, between 2000 and 2007. We analyzed the data provided by the Municipal Health Secretariat of the city, where the results were organized for age, sex, origin, area (rural or urban), anatomic region bite, the species of animal , classification of the case, serum and time between the bite and the assistance.The accidents were caused by snakes of the kind Bothrops, Lachesis and Micrurus. The accidents predominated in male people, rural workers aged 10 and 29 years. In most accidents main sites of the bites were legs and feet, the time between the bite and the assistance prevailed between 1 to 3 hours, 69,9% of the cases was rated between mild and 19,3% moderate; 80,7% most people received serum, and 89,1% the cases progressed to cure, except one case that came to death. Keywords: Epidemiology,ophidian’s accidents , Rolim de Moura. INTRODUÇÃO È preciso esclarecer que peçonha não é o mesmo que veneno. Peçonha são substâncias tóxicas produzidas em glândulas e que podem ser inoculadas nos organismos. Venenos também são substâncias tóxicas produzidas em glândulas, porém não pode ser inoculado. Desse modo os animais peçonhentos podem ser considerados aqueles que possuem aparato especializado para inocular substâncias tóxicas em outros organismos; enquanto os animais venenosos não apresentam aparelho inoculador (SANTOS et al. 1995 apud GOMES, 2007.p.15.). ________________________________________________________________________ 1 Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – E-mail: [email protected] 2 Docente do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – E-mail: [email protected] 240 Os acidentes ofídicos representam sérios problemas de saúde pública nos países tropicais pela freqüência com que ocorrem e pela mortalidade que ocasionam. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, ocorrem entre 19 mil a 22 mil acidentes ofídicos por ano (MARQUES e SAZIMA, 2003. p.62-69). Dentre os vertebrados, as serpentes que causam acidentes pertencem a família dos Elapidae e Viperidae. Dentre a família dos Elapidae destaca-se o gênero Micrurus (coralverdadeira) e da família Viperidae (jararacas, cascavéis e surucucus) dentre elas estão as dos gêneros: Bothrops, Crotalus e Lachesis (SANTOS, et al, 1995 apud GOMES, 2007.p.16), que são as espécies que representam o mais importante grupo de serpentes para a saúde pública, pois são responsáveis pela maioria dos mais graves acidentes ofídicos registrados, não só no Brasil, mas também em outros países americanos. Para a Região Norte são importantes principalmente as serpentes com potencial tóxico do gênero Bothriopsis, Bothrocophisis, Bothrops, Lachesis, Crotalus e Micrurus todos com representação no Estado de Rondônia (SANTOS, et al, 1995 apud GOMES, 2007.p.16). Ainda nos grupos das serpentes, diversas espécies de Colubrideos (família Colubridae), habitualmente tratadas como não peçonhentas, possuem glândulas cefálicas que secretam substâncias químicas para ajudar na ingestão e digestão do alimento, e que podem, algumas vezes, ser tóxicas também para o homem (CARDOSO, 2003.p.119). Tendo em vista que não existem análises sistematizadas sobre os acidentes ofídicos para o Município de Rolim de Moura, o mesmo constitui um problema de saúde pública e o cenário epidemiológico é desconhecido, portanto faz-se necessário um levantamento para uma futura caracterização do cenário epidemiológico, fornecendo dados para futuras ações no combate aos acidentes ofídicos na região. O objetivo deste trabalho foi traçar o perfil epidemiológico e discutir a incidência dos acidentes com serpentes na região, tornando eficaz a verificação dos grupos de animais peçonhentos que mais causam acidentes na região. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de estudo O presente trabalho foi realizado no município de Rolim de Moura (Figura 1), Estado de Rondônia, que está localizado nas coordenadas geográficas: S – 11º45’ e W – 61º45’. 241 Rolim de Moura originou-se de um projeto implantado na área pelo INCRA, destinado ao assentamento de colonos excedentes do Projeto Ji-paraná. O nome da cidade foi dado em homenagem ao Visconde de Azambuja. Dom Antonio Rolim de Moura Tavares, primeiro Governador da capitania de Mato Grosso, pelos relevantes serviços prestados a região do Vale do Guaporé (LOBATO, 2006.p.8). Figura 1: Localização do município de Rolim de Moura. Fonte: IDARON. A cidade é um importante pólo regional, sendo a cidade mais populosa e economicamente ativa do que chamam Zona da Mata Rondoniense, com uma população de cerca de 50 mil habitantes e área de 1.458Km2, com uma região de influencia que abrange os municípios de Alta Floresta D’Oeste, Alto Alegre dos Parecis, Castanheiras, Nova Brasilândia D’Oeste, Novo Horizonte do Oeste, Parecis, Santa Luzia D’Oeste e São Felipe D’Oeste, totalizando uma população de cerca de 151.000 habitantes e área de 19.664 Km 2 (SEDAM – Secretaria do Estado de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia, 2008). O município de Rolim de Moura está localizado na região tropical, próximo a linha do equador. É influenciado pelo efeito moderador da temperatura do ar causada pelas águas que cortam e cercam a região. Seu clima é caracterizado por apresentar uma homogeneidade espacial e sazonal da temperatura média do ar, o mesmo não ocorrendo em relação a precipitação pluviométrica, que apresenta uma variabilidade temporal, e em menor escala espacial, devido aos diferentes fenômenos atmosféricos que atuam no ciclo anual da precipitação (SEDAM, 2008). 242 Segundo dados obtidos na SEDAM (2008), o município é formado por terras de média e baixa fertilidade, de textura média a grossa, com presença de cascalho, a predominância é do tipo Podzólico vermelho amarelo estrófico, com zonas de solo arenoso e mancho de terra roxa. A vegetação dominante é a Floresta Equatorial Amazônica com presença escassa de campos e cerrados, o que faz dela uma região com vários tipos de biomas, sendo assim há grande diversidade de flora e fauna. 2.2 Procedimentos Metodológicos Para realização desse trabalho, em primeiro lugar foi feita uma coleta de dados epidemiológicos em busca de informações que contribuíssem com a pesquisa, no município de Rolim de Moura, Estado de Rondônia. Os dados do presente estudo foram obtidos em planilhas organizadas a partir de dados contidos em prontuários médicos dos pacientes picados por animais peçonhentos durante o período de janeiro de 2000 a dezembro de 2007. Esses dados foram disponibilizados pela Secretaria de Saúde de Rolim de Moura que correspondem a prontuários de investigação do paciente, elaborada e fornecida pelo Ministério da Saúde, Sistema Nacional de Agravos e Notificação (SINAN). Os dados foram checados após terem sido obtidos das planilhas, que por ser dirigidos somente para acidentes com serpentes, facilitou a obtenção de informações precisas. Nos dados disponibilizados para a pesquisa, obteve-se informações epidemiológicas como: faixa etária, sexo, procedência segundo zona (rural ou urbana), região anatômica picada, gênero de animal causador, classificação do caso, tempo decorrido entre a picada e o atendimento, soroterapia e evolução do caso. Desse modo foi possível traçar o perfil epidemiológico e discutir a incidência dos acidentes com serpentes na região, tornando eficaz a verificação dos grupos de animais peçonhentos que mais causam acidentes na região. Dados analisados são baseados na informação dos acidentados, ou dos seus acompanhantes, ou na observação pelos profissionais de saúde dos sinais e sintomas apresentados pelos pacientes. Portanto em todos os dados disponibilizados a partir de planilhas organizadas, contendo dados de acidentes ofídicos levantados neste trabalho, o reconhecimento das espécies de animais causadoras de acidentes não foram realizados por profissionais especializados na área. 243 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Faixa etária No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, ocorrem, por ano, entre 19.000 a 22.000 acidentes ofídicos com aproximadamente 115 óbitos. A maioria destes acidentes devese a Serpentes do gênero Bothrops e Crotalus (FEITOSA, MELO e MONTEIRO, 1997.p.2). Sabe-se que a ocorrência dos acidentes ofídicos está, em geral, relacionada a fatores climáticos e aumento das atividades humanas nos trabalhos de campo no Nordeste (ARAUJO, SANTALUCIA e CABRAL, 2003.p.6). Após coleta e tabulação dos dados coletados nos prontuários dos pacientes cedidos pela Secretaria de Saúde do Município de Rolim de Moura, RO, em relação aos acidentes ofídicos, percebe-se que a maioria dos casos ocorre em pessoas com faixa etária entre 10 e 29 anos (n=36) – (Figura 02). Nº de casos Número de casos de acidentes ofídicos - 2000/2007 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 1a9 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 70 a 79 Intervalo de idade Figura 2 – Número total de casos de acidentes ofídicos em relação a idade dos pacientes atendidos no período entre 2000 2 2007. Desse modo, para o município pode-se considerar que os acidentes envolvem indivíduos com idade de maior atividade de trabalho no campo. Resultados similares são indicados em trabalhos realizados em outros municípios, tais como: (GOMES, 2007.p.32; FEITOSA, MELO e MONTEIRO, 1997.p.5; PINHO, OLIVEIRA e FALEIROS, 2004.p.4; RIBEIRO, JORGE e IVERSSON, 1995.p.3; ALBUQUERQUE, COSTA e CAVALCANTI, 2004.p.3; MORENO, et al, 2005.p.16; NASCIMENTO, 2000.p.4). Portanto pode-se 244 considerar que a idade dos indivíduos vem a ser um importante indicativo na caracterização epidemiológica dos acidentes ofídicos. 3.2. Sexo Em relação ao sexo dos pacientes picados por serpentes, cujos acidentes foram notificados pela Secretaria Municipal de Saúde do município de Rolim de Moura, Rondônia, existe predominância em relação aos indivíduos do sexo masculino. Do total de 83 casos notificados com serpentes, 60 (72,3%) são referentes ao sexo masculino e 23 (27,7%) ao sexo feminino. Observa-se na Figura 3 que em todos os anos analisados o percentual de pacientes do sexo masculino foi superior ao do sexo feminino. Percebe-se também que o número de casos de acidentes com pacientes do sexo masculino foi maior nos anos de 2004 e 2005. De maneira geral para o Brasil, a maior parte dos acidentes envolvendo serpentes ocorre com indivíduos do sexo masculino (ARAÚJO, SANTALÚCIA e CABRAL, 2003). Número de casos de acidentes ofídicos - Relação de gênero 12 10 8 Nº de Casos 6 4 2 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Masculino Feminino Figura 3 – Número de casos de acidentes ofídicos em relação ao gênero dos pacientes analisados no período de 2000 a 2007. Segundo MARTINEZ et al, 1995, a maior incidência é encontrada em pessoas do sexo masculino. 245 3.3. Procedência segundo zona (rural ou urbana) Com relação à zona de ocorrência dos acidentes, 45 acidentes (54,2%) ocorreram na área rural, 37 acidentes (44,5%) ocorreram na zona urbana e 1 acidente (1,3%) registrado em prontuário não continha a informação relacionada a este dado (Figura 04). Frequência por Ano - Local de Residência 9 8 7 6 5 Nº de Casos 4 3 2 1 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Zona Urbana Zona Rural Ign/Branco Figura 04. Freqüência por ano em relação ao local de residência dos pacientes que sofreram acidentes ofídicos no período de 2000 a 2007. O maior número de acidentes envolvendo pessoas moradoras da zona rural, provavelmente, deveu-se a maior freqüência com que esse grupo desenvolve atividades, principalmente, na agricultura e pecuária. Considerando as características da atividade que exercem, este segmento ocupacional está mais exposto às serpentes e consequentemente aos acidentes (MORENO et al, 2005.p.19). 3.4. Região anatômica picada As regiões anatômicas mais frequentemente acometidas foram os membros inferiores, tais como: as regiões dos pés (32,5%) e das pernas (24,0%) – Tabela 01. 246 Tabela 01. Regiões anatômicas acometidas por picadas de serpentes. Local da Picada 2000 Ign/Branco* 1 Cabeça 0 Braço 0 Ante-Braço 1 Mão 1 Dedo da mão 0 Coxa 0 Perna 1 Pé 2 Dedo do pé 1 Total 7 * Ignorado/Em branco 2001 0 0 0 0 2 0 0 0 4 1 7 2002 0 0 1 0 1 2 0 1 6 2 13 2003 0 0 1 0 0 0 0 3 4 0 8 2004 0 1 0 0 3 1 1 6 4 0 16 2005 6 1 0 0 1 0 1 3 3 0 15 2006 2 0 0 1 0 0 0 3 0 1 7 2007 0 0 0 1 0 1 0 3 4 1 10 Total 9 2 2 3 8 4 2 20 27 6 83 Os pacientes foram quase sempre picados nas extremidades, principalmente nas inferiores e nestas, sobretudo nos pés, o que é concordante com estudos baseados no atendimento do próprio HVB (Hospital Vital Brazil) e em outras regiões do país. Esta localização da picada está relacionada aos hábitos terrestres da maioria das serpentes peçonhentas brasileiras, as quais desferem o bote a uma distância que, como regra, não ultrapassa um terço do seu próprio comprimento. Além disso, grande parte dos acidentes por serpentes peçonhentas atendidos no HVB é causada por indivíduos juvenis de Bothrops jararaca assim classificadas por medirem menos de 40 cm de comprimento. Foi observado também que picadas acima do tornozelo são mais freqüentemente causadas por serpentes adultas e, inclusive, apresentam pior prognóstico (RIBEIRO, JORGE e IVERSSON, 1995.p.6). 3.5. Gênero de animal causador De um total de 83 casos em que houve referência ao gênero da serpente que causou o acidente, 31 casos (37,3%) foram por serpentes do gênero Bothrops e 2 casos (2,4%) por serpentes do gênero Lachesis (Figura 05). Foram constatados 54 casos (65,0%) em que não houve registro de identificação da serpente causadora do envenenamento. Não foram registrados casos de envenenamento pelos gêneros Crotalus e Micrurus. 247 Número de Casos Gênero das Serpentes 16 14 12 10 8 6 4 2 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Ign/Branco Bothrops Lachesis Figura 05. Gênero das serpentes causadoras de acidentes ofídicos. As serpentes podem ser classificadas em dois grupos básicos: as peçonhentas, que são aquelas que conseguem inocular seu veneno no corpo de uma presa ou vítima, e as não peçonhentas, ambas encontradas no Brasil, nos mais diferentes tipos de habitat, inclusive em ambientes urbanos. A serpente peçonhenta é definida por três características fundamentais: presença de fosseta loreal; presença de guizo ou chocalho no final da cauda; presença de anéis coloridos (vermelho, preto, branco ou amarelo) (BUTANTAN, 2003.p.27). Outra característica importante na distinção das serpentes peçonhentas é o tipo de cauda. Algumas serpentes com fosseta loreal apresentam um chocalho na ponta da cauda, que emite um som característico de alerta quando a serpente é perturbada. Essas são as cascavéis cujo nome científico é Crotalus (BUTANTAN, 2003.p.27). As serpentes com fosseta loreal cuja cauda é lisa até a extremidade pertencem ao gênero Bothrops (jararaca) (BUTANTAN, 2003.p.27). Algumas serpentes com fosseta loreal apresentam a extremidade da cauda com as escamas eriçadas como uma escova. Essas são as chamadas surucucus ou pico-de-jaca, cujo nome científico é Lachesis (BUTANTAN, 2003.p.27). As serpentes são as principais causadoras de acidentes por animais peçonhentos no Brasil sendo 80 a 90% dos casos causados por serpentes do Gênero Bothrops, conhecida como jararaca. Devido sua capacidade de adaptação, essas serpentes podem ser encontradas 248 em diferentes tipos de ambientes, e mostram-se freqüentes na região de Rondônia (FRANÇA e MÁLAQUE, 2003.p.72). As jararacas são encontradas, em sua grande maioria, em áreas mais limitadas, como as áreas de mata, apesar de alguns tipos habitarem também zonas de caatinga e cerrado. No Brasil, ocorrem entre 19 e 22 mil acidentes ofídicos por ano. São registrados anualmente 17.000 acidente botrópico com letalidade em torno de 0,6% dos casos tratados (BRAZIL, 1991). As serpentes do gênero Lachesis apresenta a cauda com escamas eriçadas como uma escova. É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m. São encontradas apenas em áreas de floresta tropical densa, como a Amazônia, pontos da Mata Atlântica e alguns enclaves de matas úmidas do Nordeste (BUTANTAN, 2003.p.27). O nome pico-de-jaca foi dado em virtude do aspecto da pele desse animal se parecer muito com a fruta em questão (BUTANTAN, 2003.p.27). 3.6. Classificação dos casos No caso de acidentes com serpentes foram considerados leves 58 casos (69,9%), 16 casos com grau moderado (19,3%) e 9 casos considerados de nível grave (10,8%). Conforme ilustrado na figura 5, o maior número de casos considerados de nível grave ocorreu no ano de 2006, que representa do universo analisado 4,8 % (Figura 06). Classificação dos casos de acidentes ofídicos 14 Nº de Casos 12 10 8 6 4 2 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Leve Moderado Grave Figura 6 – Classificação dos casos de acidentes ofídicos no período de 2000 a 2007. 249 A classificação do acidente, quanto à gravidade, tem como um dos objetivos orientar a terapêutica com o antiveneno específico. Assim, o número de ampolas utilizadas num determinado acidente depende do caso ser considerado leve, moderado ou grave (FRANÇA e MÁLAQUE, 2003.p.79). 3.7. Tempo decorrido entre a picada e o atendimento Na maioria dos casos de acidentes o tempo decorrido entre a picada e o atendimento foi de 1 a 3 horas. Foi notificado apenas 1 caso com tempo de 12 a mais horas da picada até o atendimento (Figura 7). Nº de Casos Escala de Tempo entre picada e Atendimento 8 7 6 5 4 3 2 1 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Ign/Branco 0-1 horas 1-3 horas 3-6 horas 6-12 horas 12 e mais Figura 07. Tempo decorrido entre a picada e o atendimento dos pacientes no período entre 2000 a 2007. Investigações realizadas em diferentes períodos têm demonstrado que pacientes atendidos muitas horas após a picada tem maior probabilidade de complicações locais e/ou sistêmicas e de evolução para óbito. Dados do Ministério da Saúde mostram que 60% dos pacientes vítimas de acidente botrópico que evoluíram para óbito foram atendidos 6 ou mais horas após a picada (FRANÇA e MÁLAQUE, 2003.p.80). A demora para a procura de atendimento médico pode levar o paciente à morte. No período de 1989 dos 7.544 casos de acidentes, 72 pacientes foram a óbito, sendo que 37,5 % dos óbitos ocorreram nas primeiras três horas após o acidente (CUPO, MARQUES e HERING, 2003.p.198). 250 3.8. Soroterapia Na maioria dos casos de acidentes com serpentes o paciente recebeu soroterapia (80,7%). Houve também 5 casos (6,0%) que não receberam soroterapia (Figura 08). Soroterapia dos Acidentes Ofídicos 14 Nº de Casos 12 10 8 6 4 2 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Ign/Branco Sim Não Figura 08. Recebimento de soroterapia contra acidentes ofídicos nos pacientes atendidos no período de 2000 a 2007. O tratamento consiste na administração, o mais precocemente possível, do soro antiofídico, distribuído gratuitamente pelo Ministério da Saúde para todos os hospitais e postos de atendimento médico. Em caso de acidente, não faça qualquer tipo de atendimento caseiro, não corte nem perfure o local da mordida e não faça torniquete. Procure imediatamente um posto médico, porque somente o soro antiofídico cura (BUTANTAN, 2003.p.28). Vital Brazil em suas experiências descobria que a única arma contra o envenenamento ofídico era o anti-veneno especifico (o soro obtido a partir do veneno do animal que causa o acidente e neutraliza a ação desse veneno), então deu-se prosseguimento à preparação de soros antiofídicos, para atender ao grande número de acidentes com serpentes peçonhentas, já que o Brasil era um país com grande população rural (BOCHNER e STRUCHINER, 2003.p.4). O Soro é produto de origem biológica (chamados imunobiológicos) usados na prevenção e tratamento de doenças. A diferença entre esses dois produtos está no fato dos soros já conterem os anticorpos necessários para combater uma determinada doença ou intoxicação (BUTANTAN, 2003.p.13). 251 Os soros são utilizados para tratar intoxicações provocadas pelo veneno de animais peçonhentos ou por toxinas de agentes infecciosos, como os causadores da difteria, botulismo e tétano. A primeira etapa da produção de soros antipeçonhentos é a extração do veneno também chamado peçonha - de animais como serpentes, escorpiões, aranhas e taturanas. Após a extração, a peçonha é submetida a um processo chamado liofilizacão, que desidrata e cristaliza o veneno (BUTANTAN, 2003.p.14). De acordo com publicação na revista do Instituto Butantan (2003), cada tipo de veneno ofídico requer um soro específico, preparado com o veneno do mesmo gênero de serpente que causou o acidente, veja abaixo os tipos de soro para cada tipo de gênero de serpentes peçonhentas: Antibotrópico: para acidentes com jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, cotiara. Anticrotálico: para acidentes com cascavel. Antilaquético: para acidentes com surucucu. Antielapídico: para acidentes com coral. Antibotrópico-laquético: para acidentes com jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, cotiara ou surucucu. 3.9. Evolução dos casos Referente à evolução dos casos de acidentes com serpentes, a maioria evoluiu para cura, porém houve um caso de óbito no ano de 2003, conforme ilustrado na Figura 09. Nº de Casos Índice de Evolução dos Casos 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Ano Ign/Branco Cura Óbito Figura 09. Evolução dos casos dos pacientes atendidos no período de 2000 a 2007. Observa-se que o índice de óbito é relativamente baixo para o município, o que coincide com dados de GOMES, 2007, porém dados encontrados em PINHO, OLIVEIRA e FALEIROS, 2004 constam a ocorrência da notificação de 15 óbitos, perfazendo uma 252 letalidade geral de 0,46%, sendo a maior taxa observada entre acidentes causados por Crotalus (5 óbitos-1%), seguido por Bothrops (10 óbitos-0,5%). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos dados apresentados pôde-se constatar que para o grupo das serpentes ocorreu um número maior de casos com pessoas do sexo masculino, os acidentes foram causados em sua maioria com serpentes do gênero Bothrops, trabalhadores rurais e com idades entre 10 e 29 anos. Os principais locais de picada foram pernas e pés; o tempo decorrido entre a picada e o atendimento prevaleceu entre 1 a 3 horas; os casos foram classificados entre leve e moderados; a maioria das pessoas recebeu soroterapia, e quase todos os casos evoluíram para cura, exceto um caso que levou a óbito. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Helder Neves de; COSTA, Thaís Barreto Guedes da; CAVALCANTI, Mário Luiz Farias. Estudo dos acidentes ofídicos provocados por serpentes do gênero Bothrops notificados no estado da Paraíba. Revista de Biologia e Ciências da Terra. Vol.5. nº1, 2004.5p. ARAÚJO, Francisco Anilton Alves; SANTALUCIA, Marcelo; CABRAL, Renata Fernandes. Epidemiologia dos acidentes por animais peçonhentos. 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