ISSN 1982 - 0283 DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Ano XXIII - Boletim 10 - JUNHO 2013 DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL SUMÁRIO Apresentação........................................................................................................................... 3 Rosa Helena Mendonça Introdução............................................................................................................................... 4 Lívia Fraga Vieira Texto 1 - A profissão docente na Educação Infantil . ............................................................... 8 Dalila Andrade Oliveira Texto 2 - O perfil das professoras e educadoras da Educação Infantil no Brasil..................... 16 Lívia Maria Fraga Vieira Texto 3: Professoras da Educação Infantil: formação, identidade e profissionalização..........28 Isabel de Oliveira e Silva Apresentação Docência na Educação Infantil A publicação Salto para o Futuro comple- A edição 10 de 2013 traz como tema Docên- menta as edições televisivas do programa cia na Educação Infantil e conta com a con- de mesmo nome da TV Escola (MEC). Este sultoria de Lívia Fraga Vieira, professora da aspecto não significa, no entanto, uma sim- graduação e pós-graduação da Faculdade de ples dependência entre as duas versões. Ao Educação da Universidade Federal de Minas contrário, os leitores e os telespectadores Gerais - UFMG. – professores e gestores da Educação Básica, em sua maioria, além de estudantes de Os textos que integram essa publicação são: cursos de formação de professores, de Faculdades de Pedagogia e de diferentes licenciaturas – poderão perceber que existe uma 1. A profissão docente na Educação Infantil interlocução entre textos e programas, preservadas as especificidades dessas formas distintas de apresentar e debater temáticas 2. O perfil das professoras e educadoras da Educação Infantil no Brasil variadas no campo da educação. Na página eletrônica do programa, encontrarão ainda 3. Professoras da Educação Infantil: for- outras funcionalidades que compõem uma mação, identidade e profissionaliza- rede de conhecimentos e significados que se ção efetiva nos diversos usos desses recursos nas escolas e nas instituições de formação. Os Boa Leitura! textos que integram cada edição temática, além de constituírem material de pesquisa e estudo para professores, servem também de base para a produção dos programas. 1 Supervisora Pedagógica do programa Salto para o Futuro (TV Escola/MEC). Rosa Helena Mendonça1 3 Docência na Educação Infantil INTRODUÇÃO Lívia Fraga Vieira 1 A estruturação da força de trabalho na Edu- dos serviços voltados para as crianças pe- cação Infantil reflete a estruturação histó- quenas, baseado em precárias condições de rica dos serviços voltados para o cuidado e trabalho e precário profissionalismo (VIEI- a educação da criança pequena, os quais se RA, 1999; ROSEMBERG, 1999; 2002). relacionam com as tradições e as inovações socioculturais e com os modelos de orga- Em estudo comparado entre os 30 países2 nização das políticas sociais. Tais modelos vinculados à Organização para a Cooperação estabelecem relação com as concepções do e o Desenvolvimento Econômicos - OCDE, papel do Estado, da família e da sociedade na Peter Moss (2006) mostrou que os modelos provisão de serviços de atenção à infância, de organização dos serviços e do trabalho, no âmbito das políticas educacionais e as- a sua dependência administrativa e as suas sistenciais. Assim é que o entendimento da origens históricas acarretam implicações docência na Educação Infantil requer uma em relação à formação, aos salários, às con- abordagem histórica das políticas de aten- dições de trabalho e ao status profissional dimento e das legislações concernentes. No dos trabalhadores envolvidos. O autor ar- Brasil, as políticas que visaram à expansão gumenta que a formação dos trabalhadores da oferta de creches e pré-escolas iniciadas e a estrutura da força de trabalho na área no final dos anos 1970, articuladas com as não estão separadas dos entendimentos, mudanças sociodemográficas das famílias, das concepções sobre o trabalho e sobre os com a crescente inserção das mulheres no trabalhadores que se ocupam diretamente mercado de trabalho e com as demandas so- do cuidado e educação nas instituições de ciais por atendimento, conformaram deter- Educação Infantil. Em última instância, isso minado padrão dominante de organização também não está separado das concepções 1 Professora da graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Consultora da edição temática. 2 Austrália, Áustria, Bélgica (comunidade flamenga), Brasil, Bulgária, Coreia, Dinamarca, Eslovênia, Espanha, Estônia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Lituânia, Malásia, Malta, México, Noruega, Polônia, Portugal, República Eslovaca, Turquia. 4 sobre a pequena infância e sobre as próprias Colaboram para isso os processos e origens instituições de Educação Infantil, onde o tra- históricas das instituições de Educação In- balho exercido se aproxima do trabalho no fantil, o legado das políticas de assistência âmbito privado do domicílio familiar. social e de educação, a composição nos municípios de instituições públicas e privadas A descentralização da gestão das políticas (organizações comunitárias, filantrópicas educativas no Brasil, por meio da munici- etc.), a presença, em muitas redes, de uma palização, enseja enorme diversidade na or- estrutura dual na composição do corpo do- ganização dos sistemas e redes municipais cente – professores pertencentes à carreira de ensino. Os diferentes arranjos das polí- do magistério e auxiliares de sala vinculados ticas municipais observados evidenciam a aos chamados quadros da carreira civil –, existência de uma multiplicidade de profis- além da diversidade de terminologias e de- sionais com status e formação/qualificação nominações dos grupos e profissionais que diferenciados, bem como variadas moda- atuam na Educação Infantil (VIEIRA & SILVA, lidades de relações de emprego e trabalho. 2009). No setor público municipal, é possível verificar a criação de novos postos de trabalho Estudos baseados em estatísticas produzidas fora da carreira do magistério público, com por órgãos oficiais também mostraram que, salários menores e menores oportunidades no contexto da educação básica, é na Educa- de progressão pelas características da carrei- ção Infantil que estão concentradas as maio- ra pública (VIEIRA e SOUZA, 2010). res proporções dos docentes que recebem os salários mais baixos e os que praticam as De forma mais acentuada que nas demais mais extensas jornadas de trabalho sema- etapas da educação básica, a Educação In- nais na unidade educacional (BRASIL, 2007; fantil constitui-se como um locus por exce- GATTI & BARRETO, 2009; VIEIRA & SOUZA, lência de diversidade de formas de compo- 2010; OLIVEIRA & VIEIRA, 2010; VIEIRA & OLI- sição e organização do trabalho docente. VEIRA, 2011). TEXTOS DA EDIÇÃO TEMÁTICA DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL3 Esta edição temática tem por objetivo discutir aspectos históricos da constituição do campo profissional da Educação Infantil no Brasil: creches, escolas maternais e jardins de infância; políticas de 3 Os textos desta publicação eletrônica são referenciais para o desenvolvimento dos assuntos abordados na edição temática Docência na Educação Infantil, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola nos dias 10 e 12 de junho de 2013. 5 assistência social; políticas de educação; legislação e políticas públicas: o dever do Estado, o direito da criança e o município; os profissionais da Educação Infantil no Brasil: heterogeneidade e desigualdades, perfil sociodemográfico, formação inicial e continuada, ingresso, carreira, remuneração, emprego e condições de trabalho, participação e organização dos sujeitos; as especificidades da docência na Educação Infantil; características do trabalho docente: cuidar e educar; condição docente e identidades; principais tensões no campo educacional e perspectivas. TEXTO 1: A PROFISSÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL No primeiro texto da edição temática, são apresentados e discutidos os desafios que se colocam para o atendimento à Educação Infantil que deve ser ofertada em creches e pré-escolas, em especial no que se refere à definição de qual é o profissional que atuará nesta etapa da educação, qual deve ser a sua formação e em que condições ele deverá trabalhar. TEXTO 2: O PERFIL DAS PROFESSORAS E EDUCADORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL O segundo texto da edição temática apresenta o perfil e alguns aspectos das condições de trabalho dos sujeitos docentes na Educação Infantil no Brasil, baseados em informações do Censo Escolar de 2011 e na pesquisa Trabalho Docente na Educação Básica no Brasil – TDEBB. TEXTO 3: PROFESSORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: FORMAÇÃO, IDENTIDADE E PROFISSIONALIZAÇÃO O terceiro texto da edição temática analisa a formação profissional e a construção das identidades dos professores e professoras da Educação Infantil, que devem ser elementos centrais das políticas e práticas em Educação Infantil. REFERÊNCIAS educação infantil. In: BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. SEF/DPE/COEDI. Por BRASIL. INEP. Sinopse Estatística do Professor da Educação Básica. Brasília, 2009. Disponível uma política de formação do profissional de educação infantil. Brasília, 1994. em: <http//www.inep.gov.br> CAMPOS, Roselane. Trabalho docente e forCAMPOS, Maria Malta. Educar e cuidar: mação de professores da educação infantil. questões sobre o perfil do profissional da VII Seminário da REDESTRADO “Nuevas regu- 6 laciones en América Latina”, Buenos Aires, SILVA, Isabel O. Profissionais da educação in- 2008. Anais... (CD-ROM). fantil: formação e construção de identida- GATTI, B. A. 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Tal inclusão representou uma vez mais, um desafio a ser enfrentado pelo mudança radical na compreensão do atendi- Estado como um todo e pelos gestores mu- mento à infância, que passou a ser caracteri- nicipais, especialmente. Com as alterações zado como educacional, devendo, portanto, recentes sofridas pela Constituição Federal seguir as diretrizes e normas da educação. no seu artigo 208, resultantes da nova re- Essa mesma Lei estabeleceu o prazo de três dação dada pela Emenda Constitucional n. anos, a partir de sua publicação, para que 59/2009, a educação ofertada em creches e as creches e pré-escolas se integrassem ao pré-escolas teve sua inclusão entre os deve- sistema de ensino. res do Estado, estabelecendo a obrigatoriedade escolar entre 4 e 17 anos. A partir dessa Dez anos depois, a Emenda Constitucional mudança, novos desafios se colocam para o nº 53/2006 e sua consequente regulamenta- atendimento a essa etapa da educação bási- ção, por meio da Lei nº 11.494/2007, amplia- ca, de responsabilidade primeira dos muni- ram para todas as etapas da Educação Básica cípios, considerando a ampliação do direito a sistemática de financiamento, antes restri- à educação da infância. Dentre esses, a de- ta ao Ensino Fundamental, criando o Fundo finição de qual é o profissional que atuará de Manutenção e Desenvolvimento da Edu- na Educação Infantil e em que condições ele cação Básica e de Valorização dos Profissio- deverá trabalhar e como deve ser formado. nais da Educação (FUNDEB), que passou a contemplar essa etapa da educação básica, Desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educa- portanto, garantindo o financiamento da ção Nacional (Lei nº 9.394/96) que a Educa- educação de 0 a 5 anos. 1 Professora do Programa de Pós-Graduação e da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Coordenadora da Rede Latino-americana de Estudos Sobre Trabalho Docente (RedEstrado). Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd. Pesquisadora do CNPq e da FAPEMIG (PPM). 8 A ampliação desse direito tem resultado em pa da educação básica. Contudo, são muitas maior atenção das políticas educacionais à as imprecisões que persistem na Educação Educação Infantil, fato recente na história Infantil, sob as quais residem desigualdades do país. Concebida como assistência por e injustiças que precisam ser corrigidas. longo período, a Educação Infantil se desenvolveu de forma periférica ao sistema Recentemente, a Câmara de Educação Bási- escolar, como lugar de guarda, ou mesmo ca do Conselho Nacional de Educação ela- relegada à informalidade, à filantropia, ao borou o Parecer nº 17/2012, com a finalida- voluntariado e a arranjos domésticos. Essa de de “orientar os sistemas de ensino e as experiência marcou profundamente esta instituições de Educação Infantil quanto aos etapa da educação básica, imprimindo de- aspectos fundamentais para a organização terminadas identidades a esse trabalho que, e funcionamento dessa etapa educacional, ainda hoje, mais de 15 anos depois de essa entre os quais se destacam: a carga horá- etapa ser incluída no sistema educacional, ria, a jornada de atendimento, a organiza- ainda persistem. A Educação Infantil sofre ção e enturmação, o material pedagógico, a de indefinição em relação a importantes avaliação e a formação dos profissionais da aspectos de sua organização, de seus obje- Educação Infantil” (Brasil, 2012). 9 tivos e de suas funções. O debate é complexo, envolvendo concepções de infância e de É afirmado, no referido parecer: “Alguns sis- educação que permitem pensar esta etapa temas de ensino defendem que na creche da educação básica para além do arremedo podem trabalhar profissionais não docentes da forma escolar clássica, do currículo disci- coordenando os grupos infantis – auxiliares plinar e da educação como ensino e apren- de desenvolvimento infantil, técnicos em dizagem. desenvolvimento infantil, recreacionistas, monitores, pajens e outras denominações –, Muitas têm sido as iniciativas nessa direção. dado que a função desses profissionais não As Diretrizes Curriculares Nacionais para a seria a de ensinar para crianças, mas a de Educação Infantil e as Diretrizes Curricula- socializá-las, garantir seu bem-estar”. res Nacionais Gerais para a Educação Básica são exemplos de esforços no sentido de se A pesquisa Trabalho Docente na Educação definirem os objetivos e a função desta eta- Básica no Brasil realizou um survey2 entre 2 Pesquisa “Trabalho Docente na Educação Básica no Brasil”, que contou com apoio do Ministério da Educação – MEC, em projeto institucional de cooperação técnica com a Secretaria de Educação Básica – SEB. O trabalho foi realizado em conjunto com oito grupos de pesquisa dos sete estados pesquisados, a saber: GESTRADO/ UFMG, GESTRADO/UFPA, GETEPE/UFRN, NEDESC/UFG, NEPE/UFES, NUPE/UFPR, GEDUC/UEM-PR, GEPETO/UFSC. os anos 2009 e 2010, em sete estados bra- no conjunto do magistério público, em que sileiros, sendo eles: Minas Gerais, Espírito já não são satisfatórias no geral. Santo, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Pará e Rio Grande do Norte, em que pela primei- A partir de 8.795 entrevistas com docentes ra vez se buscou realizar um estudo sobre em unidades educacionais nos sete men- a docência na educação básica, compreen- cionados estados brasileiros, utilizando-se dendo suas três etapas. Foram considera- de um questionário com 85 questões e que dos sujeitos docentes, nessa pesquisa, os contém 319 variáveis, foi traçado o perfil so- trabalhadores que realizam atividades que cioeconômico e cultural dos docentes em se relacionam diretamente com o processo exercício na Educação Básica no Brasil. Bus- de ensino, sendo compreendidos aí os pro- cou-se conhecer a divisão técnica do traba- fessores e outros profissionais que exercem lho nas unidades educacionais, a emergên- atividade de docência. Por meio desta pes- cia de postos, cargos e funções derivados de quisa, buscou-se conhecer uma diversidade novas exigências e atribuições, bem como de sujeitos que atuam na educação básica, as atividades desenvolvidas pelos docentes. realizando a docência, e que muitas vezes Procurou-se, ainda, conhecer as condições não aparecem nas estatísticas educacionais, de trabalho dos docentes: os meios físicos, nos planos de cargos e carreira e nas polí- os equipamentos disponíveis, os recursos ticas públicas educacionais. Foi encontrada, pedagógicos, entre outros fatores que inter- sobretudo na Educação Infantil, uma varia- ferem diretamente na realização do traba- da lista de nomenclaturas para designar o lho docente. Foram coletadas informações profissional que atua na educação das crian- sobre a formação inicial e continuada dos ças pequenas. docentes, o acesso à literatura específica das áreas de atuação, às tecnologias e a ou- O objetivo da pesquisa foi analisar o traba- tros bens culturais para o desenvolvimento lho docente nas suas dimensões constituti- de seu trabalho. As formas de contratação, vas, identificando seus atores, o que fazem e as condições salariais e de carreira nas dife- em que condições é realizado o trabalho nas rentes redes de ensino foram também obje- instituições de Educação Básica de redes pú- to de investigação. blicas municipais e estaduais e, no caso da Educação Infantil, em instituições convenia- Os dados do survey informam que os piores das com o poder público. Os resultados do vínculos empregatícios (contratos vulnerá- survey referentes às condições de realização veis, falta de estabilidade), os mais baixos da docência na Educação Infantil permitem salários e as mais precárias condições de considerá-las como bastante preocupantes trabalho encontram-se na Educação Infan- 10 til. Além disso, é também na Educação In- a finalidade de discriminar as categorias de fantil que se observa o maior percentual de trabalhadores que devem ser considerados profissionais que não detêm habilitação em profissionais da educação, modifica o referi- nível superior. Merece destaque, ainda, a do artigo, estabelecendo: observação de que tais condições são ainda menos favoráveis nas instituições educacio- Art. 1o: O art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de nais conveniadas. dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: OS DESAFIOS PARA A PROFISSIONALIZAÇÃO DA DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Esses dados de realidade evidenciam alguns desafios presentes para o exercício da docência na Educação Infantil em creches e pré-escolas públicas ou conveniadas pelo Art. 61: Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio (BRASIL, 2009). 11 poder público que necessitam ser urgentemente enfrentados para que o direito à Dessa forma, a legislação brasileira passou a educação de qualidade seja efetivado. A já considerar que, para atuar na educação bá- referida Emenda Constitucional n. 53, que sica, incluindo aí a educação infantil como incluiu a Educação Infantil como um direi- sua primeira etapa, pode-se obter formação to, inserindo-a como etapa da educação bá- em nível médio, sendo dispensável a forma- sica com financiamento pelo Fundeb, o que ção superior. Essa medida reforça o que tem podemos considerar um avanço, por outro sido a prática de muitos gestores munici- lado, resultou em mudanças, no que se refe- pais: a de optarem por contratarem profis- re aos profissionais da educação básica, que sionais de formação de nível médio, com sa- pouco contribuem na direção de maior pro- lários inferiores aos que são pleiteados pelos fissionalização. profissionais de nível superior. Essa prática assenta-se, em geral, na justificativa de que O artigo 61 da LDB no 9.394/96, que na sua para cuidar de criança pequena não é neces- primeira redação estabelecia a exigência de sária a formação de nível superior, contri- formação em nível superior para atuação buindo para uma ideia de que a Educação docente na educação básica, sofreu altera- Infantil pode ser exercida de forma amado- ção a partir da Lei no 12.014/2009 que, com ra, por qualquer pessoa que se disponha a fazê-lo, sem a necessidade de uma prepara- ção Infantil e, mesmo na Educação Infantil, ção específica. Em última instância, não pre- entre os que trabalham em creches e os que cisa ser profissional para atuar na educação atuam na pré-escola. da infância. Esta questão nuclear na discussão da proSe a discussão sobre a profissionalização do- fissão docente, que se refere aos aspectos cente já é complexa quando se refere à edu- relativos à identidade desses profissionais, cação escolar propriamente dita, mais ainda aparece com maior evidência na Educação se torna quando se trata da Educação Infan- Infantil e tem relação com a concepção de til. É que a noção de profissionalização apli- infância e de educação vigentes. A identida- cada à educação sempre foi ambígua, o uso de docente tem sido amplamente discutida do termo profissionalização na educação na atualidade, em razão das mudanças ocor- sempre esteve vinculado ao quadro concei- ridas na educação a partir das últimas déca- tual da sociologia americana das profissões, das do século XX. São muitos os estudos que onde a profissionalização supõe não somen- tratam desse tema em distintas realidades2. te a prática do ofício em tempo pleno, mas No Brasil, são muitos os fatores que têm le- também um estatuto legal que reconhece a vado à discussão de uma identidade docen- qualificação dos seus membros como uma te engendrada pelos recentes processos de formação específica e a existência de asso- reforma educacional que trouxeram a des- ciações profissionais (Savoie, 2009). centralização administrativa, pedagógica e financeira para o âmbito escolar. A ênfase O que constitui o grupo ou corpo profissio- no trabalho coletivo, a instituição legal da nal é justamente o sentimento de perten- gestão democrática nas escolas públicas e a cimento comum, que começa mesmo an- flexibilidade curricular foram fatores que re- tes do ingresso no local de trabalho, já no sultaram em maior autonomia docente, ao processo de formação, sendo então a pro- mesmo tempo em que têm levado à intensi- fissionalização dependente da formação. ficação do trabalho e maior responsabiliza- Esse sentimento de pertencimento comum ção pelo sucesso e fracasso escolar (Oliveira, encontra alguns obstáculos no domínio da 2004; Assunção e Oliveira, 2009). educação, por exemplo, a fisionomia dos docentes do Ensino Médio é bastante distinta Contudo, é a partir da inclusão da Educação daquela dos que atuam nos anos iniciais do Infantil definitivamente como uma etapa da Ensino Fundamental e mais ainda na Educa- educação básica, compreendendo inclusive 3 Arroyo (1985); Apple (1995); Costa (1995); Hypolito (1997); Hargreaves (1998); Nóvoa (2000); Contreras (2002); Tardif e Lessard (2004); Tenti Fanfani (2007), entre outros. 12 as creches, ou seja, a educação das crianças que, na realidade, apresenta complexidades de 0 a 3 anos, que a questão da identidade muitas vezes ignoradas. Conhecer as distin- docente passa a ser uma discussão de pri- ções entre esses profissionais, seus saberes meira ordem e que conduz à luta por maior e fazeres, seus vínculos e sentimentos de profissionalização. Tal medida obriga a que pertencimento institucional, as exigências se pense o profissional da educação básica que lhes são postas, as responsabilidades e em um contexto mais complexo de ativida- os constrangimentos aos quais estão expos- des, responsabilidades e competências, que tos são condições essenciais para se pensar envolvem desde o cuidado e a atenção no a adequação curricular da formação, que processo educativo presentes na Educação deverá promover a porta de entrada para o Infantil até a fragmentação da grade disci- exercício docente. Porém, a formação não plinar própria do Ensino Médio. O contraste entre essas duas pontas da educação básica é tão grande que dificulta pensar a possibilidade de um grupo homogêneo que possa constituir-se um corpo é suficiente para defi- A formação dos profissionais que atuam na Educação Infantil apresenta-se como o mais urgente e polêmico dos desafios a serem enfrentados. nir a profissionalização docente, é necessário considerar outros fatores que interferem na identidade profissional dos que atuam na educação básica. profissional. Tais difi- A formação dos profis- culdades refletem-se na sionais que atuam na definição dos currícu- Educação Infantil apre- los e diretrizes para a formação de profes- senta-se como o mais urgente e polêmico sores. Contudo, se a formação é compreen- dos desafios a serem enfrentados. As espe- dida como base do processo constitutivo da cificidades da Educação Infantil, envolvendo profissionalização, é necessário considerar no processo educativo o cuidado e a aten- esses aspectos na redefinição dos cursos e ção, conforme já mencionado, acrescidas projetos de formação docente. ainda à informalidade e aos arranjos presentes nos processos de trabalho nas creches e Os desafios para a formação inicial docen- pré-escolas, fruto do descaso de séculos com te para atuar na educação básica são mui- que essa etapa da educação conviveu, obri- tos e exigentes, o que requer discutir pro- gam a revisão dos padrões usuais de forma- fundamente e reconhecer as identidades ção docente, que têm na figura tradicional presentes nesse suposto grupo homogêneo do professor que ministra uma disciplina, 13 com seus conteúdos distribuídos em aulas trução histórica, que varia com o contexto de 50 minutos, o modelo de profissional a socioeconômico e cultural ao qual está sub- ser perseguido. metida. Definir os tipos de formação e especialização, de carreira e de remuneração Como afirma o Parecer nº 17/2012: “Igual- para um determinado grupo social que vem mente as instituições incumbidas da forma- crescendo e consolidando-se, com a entra- ção inicial e continuada dos professores de da da Educação Infantil como uma etapa da Educação Infantil devem rever os currículos educação básica e um direito conquistado, dos cursos de preparação para o magistério, é uma tarefa presente da qual não podemos para atender aos requisitos colocados pelo fugir. ordenamento legal e pela concepção técnica que tem se consolidado a partir de pesquisas sobre o desenvolvimento e a aprendi- REFERÊNCIAS zagem de bebês e crianças menores de seis anos em ambientes de educação coletiva” (Brasil, 2012). ASSUNÇÃO, A. A. & OLIVEIRA, D. A. Intensificação do trabalho e saúde dos professores. Revista Educação & Sociedade, Campinas, CE- É necessário enfrentar as resistências e conceber a atuação docente distinta da tradicional grade de disciplinas, romper com a ideia de que para cuidar das crianças pequenas não é necessário ter formação específi- DES/UNICAMP, v. 30, n.107, maio/ago. 2009. APPLE, M. W. Trabalho docente e textos: economia política das relações de classe e de gênero em educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. ca, sendo algo natural da gênese feminina o cuidado e a atenção. Não é sem razão que ARROYO, M. Mestre, educador e trabalhador: a feminização do magistério é muito mais organização do trabalho e profissionaliza- presente na Educação Infantil e que, à me- ção. Belo Horizonte: FAE/UFMG, 1985. (Tese, dida que se avança na educação básica, au- concurso de professor titular). menta a presença do sexo masculino entre os profissionais, ou seja, os homens estão mais presentes na segunda fase do Ensino Fundamental e no Ensino Médio como professores. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 18. ed., atualizada e ampliada. São Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de 20 dez.1996. A profissionalização do magistério pode ser compreendida como um processo de cons- BRASIL. Lei nº 12.014 de 20 de agosto de 2009. 14 BRASIL. CNE. Parecer nº 17. Junho, 2012. CONTRERAS, J. Autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. COSTA, M. C. V. Trabalho docente e profissionalismo. Porto Alegre: Sulina, 1995. HARGREAVES, A. Os professores em tempos de mudança: o trabalho e a cultura na Idade Pós-Moderna. Alfragide-Portugal: Editora McGraw-Hill de Portugal, 1998. HYPÓLITO, A. L. M. Trabalho Docente, Classe Social e Relações de Gênero. Campinas: Papirus, 1997. NÓVOA, A. Os professores e a história da sua vida. In: NÓVOA, A. (Org.). Vida de professores. 2ª. ed. Porto: Porto Editora, 2000. OLIVEIRA, D. A. A reestruturação do trabalho docente: precarização e flexibilização. Educ. 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Impulsionados fios da formação e do trabalho docente na pelos movimentos sociais por creches que Educação Infantil, é necessário considerar a emergiam nos centros urbanos, no contexto história mais recente da expansão da oferta das lutas pelas liberdades democráticas em dessas instituições e seu processo de inte- um Brasil que ainda vivia sob a égide de um gração no sistema educacional. regime político autoritário, esses programas tinham o propósito de atender às crianças De modo geral, a expansão da Educação dos meios populares, cujo acesso à Educa- Infantil no Brasil, ocorrida a partir do final ção Infantil era extremamente deficitário. dos anos 1970, acompanhou as tendências Ao lado da atuação tradicional das Secreta- dos grandes municípios brasileiros no pe- rias de Educação, esses novos programas fo- ríodo. Ao lado das classes pré-escolares e ram implantados em espaços improvisados, de alguns jardins de infância que se mul- emprestados de igrejas, de obras sociais, de tiplicaram ao longo da década de 1960 sob clubes esportivos, ou alugados, e em cre- responsabilidade das Secretarias de Estado ches comunitárias. As mulheres que se ocu- da Educação (Vieira, 2010), outras modali- pavam da educação dessas crianças quase dades de oferta de pré-escolas foram sendo sempre não possuíam formação pedagógi- criadas a partir de meados dos anos 1970, ca, e no caso das creches/pré-escolas comu- por meio de programas apoiados pelo Mi- nitárias, conveniadas com a LBA ou outros nistério da Educação1 e pela antiga Legião órgãos públicos da assistência social das di- Brasileira de Assistência Social – LBA, órgão ferentes esferas federativas, apresentavam do Ministério da Previdência e Assistência baixa escolaridade, de ensino fundamental 1 Professora da graduação e pós-graduação da Faculdade de Educação da UFMG. Consultora da edição temática. 2 Criado em 1981, o Programa Nacional de Educação Pré-Escolar, do Ministério da Educação, contou com a atuação decisiva do antigo Movimento Brasileiro de Alfabetização, o MOBRAL, para a implantação de classes pré-escolares em parceria com as prefeituras municipais, nas quais trabalhavam as “monitoras”, professoras ou estagiárias, sem vínculos formais de trabalho. 16 completo ou incompleto. Eram chamadas vamos um processo de profissionalização de “monitoras”, “pajens”, “crecheiras”. Os da Educação Infantil, exigência das socie- vínculos de trabalho eram precários, prati- dades contemporâneas, pois cada vez mais camente inexistentes, e a remuneração era temos a presença de crianças pequenas que incerta. Essa realidade foi estudada nas in- são cuidadas e educadas em espaços não do- vestigações que começavam a surgir nos pro- mésticos e que precisam contar com adul- gramas de pós-graduação na década de 1980, tos especializados, o que condiciona novos sobretudo da região do Sudeste brasileiro, e modos de socialização da infância, trazidos em alguns estudos empreendidos no âmbito pelas mudanças na organização das famílias de algumas administrações municipais. e nas próprias concepções da criança, como sujeito de direitos (Dandurand, 1994; Mollo- A partir de meados da década de 19903, Bouvier, 2005). acentua-se o processo de municipalização da educação pré-escolar, cuja oferta era Esse campo de trabalho – educar e cuidar de principalmente organizada pelas Secretarias crianças pequenas em instituições educa- de Estado de Educação. Observou-se, desde cionais coletivas fora do espaço doméstico então, o crescimento das pré-escolas a car- – apresenta algumas características que de- go dos municípios, sendo que a presença vem ser consideradas no processo de cons- do atendimento às crianças de 0 a 3 anos trução da profissão docente na área: predominava nas creches conveniadas com o poder público das diferentes instâncias fe- • é um campo de trabalho de mulheres, onde derativas. Contávamos, nesse período, com mais recentemente começamos a observar informações muito frágeis sobre o perfil, a a presença de alguns homens ocupando formação e as condições de trabalho das funções de professores ou educadores. No professoras e outros sujeitos que se ocupa- Brasil, 97% das funções docentes que atu- vam diretamente da gestão das unidades e am nessa etapa do ensino são exercidas da educação das crianças, seja na oferta pú- por mulheres (Brasil, INEP, 2011). Na cre- blica, seja na privada. che, são 98%, e na pré-escola 96%. Já na educação básica, a presença de mulheres O quadro histórico brevemente descrito responde pelo percentual de 81%. vem sofrendo modificações relevantes nas duas últimas décadas, com avanços que se refletem na legislação educacional. Obser- 3 • sofre a influência de fatores econômicoculturais da divisão sexual do trabalho Na região Nordeste esse processo se inicia nos anos 1980. 17 na esfera pública e privada, que tendem atuais, que carrega consigo as característi- a “naturalizar” o trabalho no contexto da cas sociais e as desigualdades da inserção Educação Infantil, sobretudo nas creches, feminina nas atividades econômicas (Brus- e a emprestar-lhe menor valor no merca- chini, 2007). do de empregos, pois a criação, o cuidado e a educação das crianças é histórica e A legislação brasileira sobre a educação na- culturalmente tarefa de mulheres, ligada cional estabeleceu elementos que definem à reprodução da vida; algumas características do/a trabalhador/a e do trabalho na área, que deveriam ser aten- • alimenta-se do conhecimento e dos discursos relativos à socialização, à educação e ao desenvolvimento infantil que evidenciam, por um lado, a complexidade da formação requerida e do trabalho na área e, por outro lado, conflitam com o senso comum da naturalização, cuja adoção é conveniente para empregadores públicos e privados, no sentido de baratear o custo didas. Ao definir que os docentes na educação básica devem ter formação superior em cursos de licenciatura, sendo que a formação mínima para os que atuam na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental é a de nível médio, na modalidade Normal (art. 62, LDB, 1996), ensejou a interpretação de que o profissional da Educação Infantil é o docente, o professor. do trab alho. Temos que considerar, igualmente, o papel das instituições de formação de professores/ as, bem como da pesquisa e dos movimentos sociais na construção das identidades profissionais e na difusão de conhecimentos sistematizados sobre o cuidado e a educação de crianças pequenas nas instituições educacionais. A organização social e sindical das trabalhadoras na área é também elemento que condiciona a construção da profissão docente na Educação Infantil. Tais elementos, brevemente citados, concorrem para engendrar um perfil da docência na Educação Infantil brasileira nos dias A Constituição Federal, ao reconhecer a autonomia dos municípios para organizar sistemas próprios de ensino, e ao definir a prioridade municipal para com a oferta de Educação Infantil e Ensino Fundamental, instaurou a necessidade de atuação de Conselhos Municipais de Educação na regulamentação da oferta pública e privada de Educação Infantil, ao lado dos Conselhos Estaduais, em consonância com a legislação nacional e as diretrizes normativas do Conselho Nacional. Com isso, algumas condições e critérios de atendimento foram estabelecidos, visando ao bem-estar das crianças, das famílias e dos profissionais, sob o 18 impulso de parâmetros e indicadores de de 2011, produzido pelo Instituto de Estu- qualidade, de padrões mínimos da educação dos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixei- básica, bem como de diretrizes curriculares ra – INEP, do Ministério da Educação, e em emanadas do Governo Federal (Brasil, PNE, informações da pesquisa Trabalho Docente 2001; Brasil/MEC, 1995, 2006 e 2009; Brasil/ na Educação Básica no Brasil - TDEBB4 (2010), CNE, 2009a, 2009b e 2010). coordenada pelo Grupo de Estudos sobre Política Educacional e Trabalho Docente - Mesmo com tais definições, que resulta- GESTRADO/UFMG. ram de embates e negociações, envolvendo governos, conselhos de educação, o Mi- Um estudo divulgado recentemente sobre nistério Público, movimentos sociais, or- professores no Brasil (Gatti e Barreto, 2009) ganismos internacionais e especialistas, a mostrou que, no âmbito da educação bási- realidade nos mostra que estamos diante ca, a Educação Infantil concentra os profes- de muitos desafios para a valorização pro- sores mais jovens, mulheres, não brancas e fissional na área. com menor escolaridade. A pesquisa TDEBB (2010) e as informações sobre professores do A oferta de Educação Infantil cresceu signi- INEP (2011) evidenciaram, também, que nes- ficativamente nos últimos 20 anos no Brasil, sa etapa da educação básica concentram-se configurando um locus de trabalho em ex- as maiores frequências dos que trabalham pansão, a cargo, principalmente, das secre- em uma única unidade educacional e que tarias municipais de educação. O Censo Es- cumprem mais longas jornadas de trabalho colar de 2011 informou o total de 6.980.052 diárias em uma mesma unidade. É nela que matrículas, sendo 2.298.707 em creches são encontradas as maiores frequências dos (63,6% municipais) e 4.681.345 em pré-esco- que auferem remuneração mais baixa, na las (74,6% municipais). faixa de 1 a 2 salários mínimos mensais, em relação aos docentes das outras etapas da O perfil e alguns aspectos das condições de educação básica, cruzando-se as variáveis: trabalho dos sujeitos docentes na Educação formação, vínculo de trabalho e jornada se- Infantil no Brasil são apresentados a seguir, manal. baseados em informações do Censo Escolar 4 Na amostra de 35 municípios de sete estados brasileiros – Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Norte e Santa Catarina – foram entrevistados, nos meses de setembro, outubro e novembro de 2009, 8.795 sujeitos docentes, sendo 1.838 da educação infantil: 1.544 das redes municipais, 283 das unidades educacionais conveniadas, 11 da rede estadual. Aos sujeitos docentes foi solicitado que respondessem às perguntas sempre em referência à unidade educacional em que foram entrevistados, caso trabalhassem em mais de uma unidade. 19 O INEP informou a presença de 408.739 pessoas docentes e, desse total, 20% encontravam- ocupando funções docentes5 em creches e pré- se na Educação Infantil: creches com 163.148 escolas brasileiras em 2011, nas instituições de funções docentes e pré-escolas com 265.000. ensino públicas e privadas – particulares, filantrópicas, comunitárias e confessionais. Na Tabela 1, podemos visualizar a distribuição percentual das funções docentes na As redes públicas e privadas de educação Educação Infantil, de acordo com algumas básica no Brasil somaram 2.045.350 funções variáveis. Tabela 1 - Funções docentes na educação básica e na Educação Infantil (creche e pré-escola) no Brasil e respectiva distribuição percentual segundo sexo, idade, raça/cor e formação, 2011. 20 Fonte: INEP, Sinopse estatística da educação básica, 2011. *O percentual se refere ao total dos que possuem curso superior. 5 Não estão incluídos os auxiliares de Educação Infantil. O Censo Escolar 2010 apresentou três categorias de função docente: regência de classe (docente), apoio à Educação Infantil (auxiliar) e responsabilidade por desenvolver atividades complementares (monitor/a). As/os auxiliares correspondem a 28% do corpo docente da Educação Infantil, sendo 45% da creche e 13% da pré-escola. Apresentam uma distribuição etária semelhante à das/os docentes, mas concentram um maior número nas faixas de idade menores: 20% das/os auxiliares têm até 24 anos. Cor/raça é uma característica que exige um tratamento diferenciado, pois a comparação entre funções é distorcida pelo alto número de ‘não declaração’, todavia, constatamos que 47% se declararam brancas, 22%, pardas e 25% não declararam. Quase metade (45%) das/os auxiliares possui apenas o Ensino Médio regular e 31% têm a formação em Ensino Médio Normal/magistério. 13% têm formação em curso superior, sendo que metade (50%) não é formada na área educacional voltada para as crianças pequenas. Em instituições de Educação Infantil privadas, são 27% do corpo docente, enquanto que nas instituições municipais são 29%. Nas comunitárias, confessionais e filantrópicas, o percentual de auxiliares fica em torno dos 35%, percentual maior do que o das particulares (23%). Nas unidades da zona urbana, formam 30% do conjunto de sujeitos docentes, enquanto que, nas unidades da zona rural, formam apenas 11%. Veja-se, conforme a Tabela 1, que em rela- ra, temos ainda no Brasil percentual elevado ção à educação básica, na Educação Infan- de professoras leigas (24%), realidade que til e, sobretudo, nas creches, temos maior exige políticas corretivas. presença de professorado mais jovem, o que pode indicar também que são profissionais em início de carreira: 58% com as idades que variam de 24 a 40 anos. Mas a formação na Educação Infantil apresentou importantes avanços, quando comparada à situação encontrada dez anos antes. Em 2001, de acordo com o Censo Escolar, Embora não sejam significativas as dife- apenas 12,7% das profissionais que atuavam renças em relação à raça/cor, encontramos nas creches e 24,7% em pré-escolas possu- maiores frequências de pessoas que se de- íam formação superior. Havia percentual claram pretas/pardas na Educação Infantil, expressivo nas creches, 18%, com formação sobretudo na pré-escola. É alto o percentual em nível de Ensino Fundamental completo dos que não declararam raça/cor. ou incompleto. Quanto à formação, na creche encontramos Em relação à formação continuada, chama menor frequência de respondentes com en- atenção o baixo percentual de respondentes sino superior (56%), menos 3% em relação que realizaram algum curso específico para às respondentes da pré-escola. trabalhar em creches ou pré-escolas. O Censo Escolar de 2011 solicitou que o/a respon- É preocupante notar que do percentual dente informasse somente a realização de que possui formação superior na Educação cursos específicos com carga horária míni- Infantil (57%), 15% possui curso superior ma de 40 horas. sem licenciatura. Destaca-se também, nas creches, a presença significativa (9%) de As informações coletadas na pesquisa TDE- profissionais que possuem apenas a forma- BB agregam outras dimensões que nos per- ção inicial de nível médio, sem formação mitem, de forma inédita, conhecer melhor pedagógica em Magistério, e mais 2% com o perfil dos sujeitos docentes na Educação apenas Ensino Fundamental. Isto indica a Infantil no Brasil, como também comparar necessidade de que os municípios não recru- situações de trabalho em creches/pré-esco- tem, por meio de concursos ou contratos, las municipais e conveniadas com o poder pessoas sem formação pedagógica, descum- público, revelando um quadro de importan- prindo assim a legislação educacional con- tes disparidades. cernente. No cômputo da Educação Infantil, somando-se a situação das profissionais que Dos respondentes da Educação Infantil que possuem formação superior sem licenciatu- participaram desta pesquisa, em 2009, 98% 21 são mulheres, com idade média de 38 anos. Ressalte-se que entre todas as respondentes Metade delas (51%) se considera branca. A com formação em pós-graduação, mais de maioria (52%) é casada e 69% possuem fi- 90% realizaram curso de especialização, lhos, sendo que, entre estas, 44% têm 2 pós-graduação lato sensu, o que se deu pre- filhos. A média da renda familiar informa- dominantemente em instituições de ensino da foi de R$ 2.178,00, sendo que 35% de- superior privadas. Em relação à formação clararam ter como renda familiar de 2 a 4 superior inicial, 61% frequentaram institui- salários mínimos. Nesse período, o salário ções de ensino particulares. mínino tinha o valor de R$ 465,00. Entre as respondentes, 37% declararam ser o princi- O percentual ainda elevado de docentes na Educação Infantil que pal provedor da renda familiar. Em relação à escolaridade, observam-se diferenças acentua- das entre as docentes que atuam em instituições de Educação Infantil conveniadas com o poder público municipal e aquelas O percentual ainda elevado de docentes na Educação Infantil que não possuem formação superior reforça as desigualdades nas situações de trabalho e emprego, pois a formação agrega valor à remuneração. não possuem formação superior reforça as desigualdades nas situações de trabalho e emprego, pois a formação agrega valor à remuneração. Os dados da pesquisa TDEBB demonstram também diferenças expressivas entre as que trabalham em instituições públicas municipais. Nessas úl- condições de trabalho e emprego na rede timas estão as docentes com níveis de es- pública municipal e conveniada. Registra- colaridade mais elevados. Na rede munici- se, na rede municipal, percentual de 66% pal, 57% dos sujeitos docentes das creches e de respondentes que fazem parte do regime 70% da pré-escola possuem curso superior. estatutário e que ingressaram no trabalho Em ambas as modalidades, 36% informaram por meio de concurso público. Nas conve- ter feito algum curso de pós-graduação. Na niadas, prevalece o vínculo celetista, como rede conveniada, o percentual de docentes mostrado na Tabela 2, onde se visualiza si- com formação superior é significativamen- tuação dos docentes conforme vínculo tra- te menor: 32% e 47%, respectivamente. Nes- balhista. Observa-se, também, percentual sa rede, apenas 15% das professoras da pré- significativo de temporários atuando na escola possuem curso de pós-graduação. Educação Infantil. 22 Tabela 2 – Percentual de tipo de vínculo empregatício ou contrato de trabalho dos sujeitos docentes da Educação Infantil, municipal e conveniada, 2009 Tipo de vínculo ou contrato de trabalho É preocupante o fato de 50% das pessoas As condições de trabalho na Educação In- que trabalham nas redes municipais afirma- fantil parecem gerar problemas de saúde, rem não estar contempladas em um plano pois quase um terço (27%) das respondentes de cargos e salários, e não pertencer a uma declararam ter-se afastado das atividades carreira profissional pública. docentes por motivo de licença médica nos últimos 24 meses. Entre os motivos para tal No que tange à jornada de trabalho, verifi- destacam-se o estresse (9%) e depressão, an- ca-se que a maioria das docentes que traba- siedade e nervosismo (13%). lham na rede conveniada, 93% em creches e 89% em pré-escolas, atua em apenas uma Não é sem razão que, ao serem inquiridas unidade educacional. Isso se explica em fun- sobre “o que seria importante para melho- ção da carga horária semanal de trabalho rar o trabalho docente”, são três as respos- mais frequentemente informada, compre- tas que sobressaíram. Em primeiro lugar, endida entre 30 e 40 horas. Para essa carga com a maior frequência, foi a de “receber horária, o rendimento bruto mensal das res- melhor remuneração”, tal como os respon- pondentes é de 1 a 2 salários mínimos (R$ dentes das outras etapas da educação básica 465,01 a R$ 930,00, no período da pesquisa). participantes da pesquisa TDEBB. Em segui- Na rede municipal, um número significati- da, destacam-se “receber mais capacitação vo de docentes afirma trabalhar em mais para as atividades que exerce” e “diminuir o de uma instituição, 21% em creches e 38% número de alunos/crianças por turma”. Tais em pré-escolas. A carga horária semanal in- respostas denotam que a formação inicial é formada, relativa à unidade educacional em insuficiente ou inadequada para o trabalho, que foram entrevistadas, foi de 20 a 25 horas sobretudo em creches, onde se observou e o salário mensal referente de até 2 salários maior frequência dessa resposta. E sugerem mínimos. o desejo de vir a desenvolver um trabalho de 23 melhor qualidade com as crianças, em gru- tamente do cuidado e educação nas insti- pos menores, o que permitiria uma atenção tuições de Educação Infantil. Sendo majori- mais individualizada e melhores condições tariamente trabalhadoras, as hierarquias de de trabalho. Tais respostas indicam forte de- gênero presentes no mercado de trabalho, manda por formação continuada. bem como as características e objetivos do trabalho na Educação Infantil, são elemen- Um aspecto a ser considerado na constitui- tos na constituição da posição e do status ção da profissão e da identidade docente profissional na área. Nesse sentido, concor- na Educação Infantil é a participação nas damos com Emílio Tenti Fanfani (2011), para associações sindicais. Apurou-se que 38% quem a profissão docente é uma construção das respondentes são filiadas a sindicatos, histórica, depende da sociedade, das con- e dentre estas 20% afirmaram participar ati- cepções vigentes sobre a escola e o trabalho vamente das reuniões, movimentos e even- docente, do protagonismo dos trabalhado- tos promovidos pela entidade sindical. A fi- res da educação. liação sindical é diferenciada se se trata de creches/pré-escola conveniada, municipal No Brasil, nós observamos que existem situ- ou particular. Vieira e Souza (2010), a par- ações diversificadas e desiguais de trabalho tir de pesquisa realizada em Belo Horizonte, e emprego, em redes municipais e privadas mostraram que as docentes da rede muni- de Educação Infantil. As situações são tam- cipal se reportam ao Sindicato de Trabalha- bém desiguais se se trata da creche ou da dores da Educação; na rede conveniada, a pré-escola. O surgimento de novos sujeitos relação é com o sindicato que reúne cate- e de novos cargos/funções, em razão, sobre- gorias de trabalhadores que atuam na área tudo, da inserção de crianças de 0 a 3 anos da assistência social, sendo que os da rede nas creches, nos sistemas de ensino, contri- particular se relacionam com sindicato pró- buem para um quadro de fragmentação, o prio de professores. que reitera a precarização e desigualdades. CONSIDERAÇÕES FINAIS As informações da pesquisa TDEBB relativas ao cargo/função ocupado na unidade educa- Moss (2006) argumenta que a formação cional ilustram essa fragmentação. Os car- das trabalhadoras e a estrutura da força de gos e funções mais frequentes se referiram trabalho não estão separadas dos entendi- a educador infantil e professor, conforme a mentos, das concepções sobre o trabalho e Tabela 3. sobre as trabalhadoras que se ocupam dire- 24 Tabela 3 – Percentual de sujeitos docentes em relação ao cargo/função que ocupam nas creches e pré-escolas, municipais e conveniadas, 2009. Outros cargos/funções foram citados, tais tia de uma educação de qualidade, na qual como: assistente de Educação Infantil, auxi- deve ser considerada a existência de infra- liar, babá, cuidador. estrutura adequada, de proposta pedagógica de acordo com as Diretrizes Curriculares Estamos, portanto, diante de uma realida- Nacionais para a Educação Infantil, com a de fortemente segmentada em relação aos presença de profissional docente tendo for- cargos e funções existentes, em relação à mação inicial e oportunidades de formação remuneração, às carreiras, aos vínculos tra- continuada. E na qual a remuneração deve balhistas e condições de trabalho. ser o piso nacional salarial profissional (BRASIL, 2008), no âmbito da carreira do magisté- Por outro lado, deve-se compreender que o rio público (BRASIL/CNE, 2009b). campo profissional é dinâmico e nele se assistem a mudanças significativas relativas à formação dos sujeitos docentes, à organização dos trabalhadores na área, à construção de novas identidades docentes, em busca de reconhecimento e valorização. Diante de políticas municipais que insistem na criação de novas/os “profissionais” como as/os auxiliares de Educação Infantil, por exemplo, recrutados e/ou concursados sem REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Critérios de qualidade em creches que respeitem os direitos da criança. Brasília: MEC, 1995. ______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996. exigência de formação pedagógica, em carreiras paralelas desvalorizadas, defendemos ______. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. que se deve insistir na concepção constitu- Aprova o Plano Nacional de Educação e dá cional da Educação Infantil, que inclui não outras providências. Diário Oficial da União, somente o direito de acesso, mas a garan- Brasília, 10 jan. 2001. 25 ______. Ministério da Educação. Parâmetros de qualidade da educação infantil. Brasília: nacionais de qualidade para a educação infan- MEC, 2009. til. Brasília: MEC, 2006. v. 1. ______. Ministério da Educação. Conselho ______. Lei nº 11.738, de 16 de julho de 2008. Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB nº Regulamenta a alínea “e” do inciso III do ca- 8, de 5 de maio de 2010. Estabelece normas put do art. 60 do Ato das Disposições Cons- para a aplicação do inciso IX do artigo 4º da titucionais Transitórias, para instituir o piso Lei nº 9.394/96 (LDB), que trata dos padrões salarial profissional nacional para os profis- mínimos de qualidade de ensino para a Edu- sionais do magistério público da educação cação Básica pública. Brasília: MEC/CNE, básica. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2010. 17 jul. 2008. BRASIL. Ministério da Educação. INEP. Si______. Ministério da Educação. Conselho nopse estatística da educação básica. Brasília, Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB 2001. Disponível em: <http://www.inep.gov. nº 05, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as br>. Acesso em: 21 out. 2012. Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, 18 dez. ______. INEP. Sinopse estatística da educação 2009a. básica. Brasília, 2011. Disponível em: <http:// www.inep.gov.br>. Acesso em: 21 out. 2012. ______. Ministério da Educação. 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Indicadores social del trabajo docente. In: CUNHA, C.; 26 SOUSA, J. V.; SILVA, M. A. (orgs.). Políticas pú- Issues in Early Childhood, v. 7, n. 1, pp.30-41, blicas de educação na América Latina: lições 2006. aprendidas e desafios. Campinas/SP: Autores Associados, 2011. pp. 253-277. OLIVEIRA, D. A.; VIEIRA, L. M. F. Trabalho docente na educação básica no Brasil. Base de GATTI, Bernardete Angelina e BARRETO, Elba Dados TDEBB/GESTRADO. Belo Horizonte: Siqueira de Sá (coords.). Professores do Brasil: Faculdade de Educação/UFMG, 2010. Apoio impasses e desafios. Brasília: Unesco, 2009. SEB/MEC. MOLLO-BOUVIER, S. Transformação dos mo- VIEIRA, L. F.; SOUZA, G. “Trabalho e empre- dos de socialização das crianças: uma abor- go na educação infantil no Brasil: segmen- dagem sociológica, Educação & Sociedade, tações e desigualdades”, Educar em Revista, Campinas, v. 26, n. 91, pp.391-403, maio/ago. Curitiba, n. especial 1, pp. 119-139, 2010. 2005. VIEIRA, L. F. 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No enfrentamento deste desafio, Os estudos sobre a Educação Infantil, mais tanto no que se refere às políticas quanto especificamente aqueles que tratam dos às práticas dos professores e professoras, (as) profissionais que atuam ou que virão as pesquisas têm sido importantes, contri- a atuar nessa etapa da educação básica, buindo para um maior entendimento dos têm ressaltado a especificidade do traba- diversos aspectos relacionados ao tema. lho com crianças de zero até seis anos de Dentre os aspectos mais relevantes para a idade em instituições educativas. Enfatiza- implementação de políticas que incorporem se a necessidade de construir um projeto os avanços dos conhecimentos científicos produzidos sobre a criança, a infância e a Educação Infantil no Brasil e no mundo, está a questão da formação dos professores(as) para esta etapa da educação básica. É por isto que procuraremos refletir a respeito da formação e identidade profissionais na Educação Infantil, consideradas elementos fundamentais para o desenvolvimento de uma educação de qualidade. educativo, entendido como um conjunto de ações, situações e experiências com e para as crianças pequenas, que favoreça o seu desenvolvimento global e sua participação na cultura. Assim, a brincadeira, a exploração do mundo à sua volta, a interação com adultos e crianças em um ambiente seguro e aconchegante configuram um complexo espaço/lugar-tempo de experiências e relações a serem coordenadas pela professora ou professor (OLIVEIRA, 1995). Os estudos da 1 Doutora em Educação e professora da Universidade Federal de Minas Gerais. 28 área vêm perseguindo uma maior compre- etária em instituições educacionais devem ensão da natureza das ações de cuidado e seguir um eixo que articule cuidado e edu- educação de crianças pequenas em institui- cação como práticas integradas na atuação ções educacionais, de seus objetivos e das dos (as) professores (as) e nas experiências formas de organização e funcionamento das crianças, onde se enfatizam as intera- que melhor atendam aos interesses e ne- ções e as brincadeiras (Brasil, 2009). cessidades das crianças e de suas famílias. A definição do(a) professor(a) como o(a) Tem-se buscado superar a separação que, profissional adequado(a) para atuar com historicamente, marcou o atendimento à bebês e crianças pequenas é uma etapa criança pequena no Brasil entre, por um importante no processo de constituição da lado, a creche, concebida como espaço de identidade da Educação Infantil, mas não é cuidados, e, por outro, a pré-escola, vista suficiente. É preciso dar conteúdo ao que se como espaço de educação e de preparação entende por professor ou professora de bebês para o Ensino Fundamental. Especialmente e crianças pequenas. As referências a esse no trabalho com os bebês e crianças até os respeito estão em construção e estão base- 3 anos de idade e nas instituições de aten- adas na ideia de que esse trabalho é uma dimento em período integral, identificava- atividade educacional. No entanto, o aten- se a predominância da ideia de que a cre- dimento à faixa etária de 0 a 3 anos e em che e suas profissionais exerciam a função período integral ainda é associado, dentro de substitutas da família e da mãe. Em boa e fora dos círculos educacionais, à dimen- parte dos casos, as pessoas responsáveis são de assistência, embora, em geral, se pelas crianças nas creches e também em reconheça o caráter educativo das relações pré-escolas não contavam com formação entre os adultos e as crianças em qualquer profissional adequada para a função que de- situação ou contexto. veriam exercer: cuidar e educar crianças em espaços coletivos (HADDAD, 1991). A literatura da área e os instrumentos normativos (BRASIL, 2009) são claros quanto Os estudos e pesquisas sobre a criança de 0 à necessidade de não haver separação en- até os 6 anos de idade e sobre a Educação tre cuidado e educação, mesmo que, ainda Infantil têm procurado demonstrar a impor- hoje, permaneçam representações e práti- tância de se considerar esse período da vida cas que tratam de forma segmentada essas como um tempo de vivências e de desen- ações. Em algumas creches e pré-escolas volvimento contínuo. Assim, as propostas encontram-se ainda práticas que atribuem de atendimento para as crianças dessa faixa à professora ou professor a função de pla- 29 nejamento e desenvolvimento das ativida- No processo de constituição da área da Edu- des pedagógicas e a outro(a) profissional cação Infantil como um segmento da edu- – os auxiliares –, na maioria dos casos sem cação básica, tem-se procurado construir formação como professor(a), os cuidados fí- outras referências que indicam a comple- sicos, como banho e troca de fraldas, dentre xidade das ações de cuidado onde quer que outros. elas aconteçam, na medida em que o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, social e Outra forma de tratar separadamente essas cultural das crianças é percebido como um dimensões do atendimento às crianças pe- processo único, marcado por diferentes di- quenas é a existência, ainda atualmente, de mensões que acontecem no interior das re- instituições que não construíram propostas lações entre os adultos e as crianças e entre pedagógicas adequadas para as crianças pe- as crianças. Nessa perspectiva, cuidado pas- quenas, estruturando as rotinas das crian- sa a ser considerado como a ajuda à criança ças a partir das necessidades de cuidados para que ela possa desenvolver-se como ser hu- físicos, deixando de oportunizar a elas as mano (MARANHÃO, 2000), integrando, por- múltiplas experiências que podem favorecer tanto, o conjunto de relações das quais as seu desenvolvimento, bem-estar e vivência crianças participam, sob a responsabilidade plena do tempo de infância. de adultos familiares ou profissionais. Além disso, encontramos práticas de Educação Infantil – especialmente com as crianças maiores, entre 4 e 5 anos – que se dedicam a realizar atividades tidas como preparatórias para o Ensino Fundamental, constituin- IDENTIDADES PROFISSIONAIS E FORMAÇÃO DOS(AS) PROFESSORES (AS) DA EDUCAÇÃO INFANTIL do-se, muitas vezes, de situações pouco ou nada significativas para as crianças. Essas práticas fundamentam-se em uma visão da Educação Infantil e do trabalho do professor ou professora restritos às funções de construção/transmissão de conhecimentos. Além disso, evidenciam uma concepção de criança que pouco a considera em seu momento atual, com suas necessidades e capacidades de participação e expressão. No processo de construção do atendimento às crianças desde os primeiros meses de vida até os seis anos de idade como uma prática educacional, constitui-se não apenas a identidade da própria instituição, mas também a identidade da criança que a frequüenta e a dos(as) adultos(as) que dela se ocupam nesse espaço (HADDAD, 1991; SILVA, 2004). 30 A formação profissional e a construção das são alargada das funções da instituição de identidades dos professores e professoras Educação Infantil que compreenda o tempo da Educação Infantil constituem-se em ele- da infância como um tempo de participação mentos centrais das políticas e práticas em e de produção de cultura e as crianças como Educação Infantil. Essa questão envolve tan- capazes de se expressarem por meio de dife- to a formação e a habilitação profissional rentes linguagens. quanto as condições de trabalho e a carreira profissional nas redes de ensino que ofere- As identidades profissionais, no en- cem essa etapa da educação. tanto, não se alteram de uma hora para outra. Elas são construídas nas relações so- Na medida em que houve uma ampliação das matrículas e que os debates e os estudos sobre a Educação Infantil foram se aprofundando, a integração entre as funções de cuidar e educar consolidouse, no plano teórico e legal, como o eixo sobre o qual a prá- ciais, em um proces- Os contextos e as relações dos quais os/as profissionais da Educação Infantil participam são dinâmicos e sofrem transformações decorrentes de mudanças sociais, culturais, históricas e também no plano das normas que regem as relações de trabalho. so de identificação, de diferenciação e de reconhecimento recíproco entre os diversos segmentos que atuam na área. Nessa direção, sobretudo quando se trata da identidade coletiva – no caso, a profissional – as relações internas e tica de professores externas às institui- e professoras deve ções em que se tra- estruturar-se. No entanto, sabemos que, em balha exercem importante papel na cons- geral, a profissão professor(a) estruturou-se trução das formas pelas quais as pessoas com maior ênfase nos aspectos cognitivos concebem suas funções, se reconhecem e se e de construção/transmissão de conheci- valorizam. Por conseguinte, tais percepções mentos para crianças a partir dos 7 anos de se refletem também, em alguma medida, na idade. Portanto, tem-se procurado pensar a forma pela qual os (as) profissionais são vis- formação de um novo perfil profissional que tos (as) por outros grupos e indivíduos. incorpore essas novas concepções sobre a qualidade do atendimento à criança peque- Assim, não se pode falar em identidades na (CAMPOS, 1994). Ou seja, uma compreen- prontas e acabadas. Os contextos e as rela- 31 ções dos quais os/as profissionais da Edu- Educação Infantil em muito se assemelham cação Infantil participam são dinâmicos e àquelas desenvolvidas na família, tornando sofrem transformações decorrentes de mu- tênues os limites entre esses dois ambientes danças sociais, culturais, históricas e tam- (CERISARA, 1996; SILVA, 2004, 2007). bém no plano das normas que regem as relações de trabalho. Além disso, os processos No espaço coletivo, as relações entre pro- de construção de identidades ocorrem em fessoras (es) e crianças, embora fortemente um universo marcado por relações de na- marcadas por conteúdo afetivo e também turezas distintas: as relações adulto-criança orientadas por valores, não expressam rela- na sociedade como um todo, as relações ções de parentesco, mas constituem a prá- adulto-criança na família, as relações adul- tica profissional dos adultos que cuidam e to-criança no contexto institucional, as rela- educam crianças oriundas de diferentes ções entre profissional da Educação Infantil contextos familiares. e as famílias/mães das crianças, as relações entre profissional da Educação Infantil e professores e professoras dos demais níveis de ensino, bem como com o Poder Público. O FAZER PROFISSIONAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL O aprofundamento dos estudos sobre as No desempenho de suas funções, as(os) profissionais que atuam com crianças muito pequenas, especialmente com os bebês, mobilizam saberes e habilidades pessoais e profissionais para a realização de sua prática. No entanto, ao longo de nossa história, tais saberes e práticas não foram reconhecidos especificidades da condição humana nos primeiros anos de vida e também sobre a complexidade das ações que envolvem o cuidado e educação das crianças em ambientes coletivos indicam a necessidade de melhor definição sobre o que caracteriza a prática profissional na Educação Infantil. como parte de uma prática profissional, o que torna difícil a delimitação de uma iden- Por um lado, ser professor ou professora da tidade profissional. Como fatores que difi- Educação Infantil significa estar ao lado do cultam essa delimitação destaca-se o fato de conjunto dos professores e professoras dos ser recente na nossa cultura a ideia de que nossos sistemas de ensino como categoria é possível compartilhar com instituições profissional única. Por outro, cada etapa da educacionais a educação e os cuidados da educação escolar exigirá de seus profissio- criança dessa faixa de idade. Além disso, por nais a mobilização de saberes, competências, tratar-se de crianças ainda muito pequenas, habilidades e disponibilidades específicas. as atividades desenvolvidas na instituição de As práticas profissionais caracterizam-se 32 pela articulação entre as finalidades sociais oportunidade de autoconhecimento, seja da etapa da educação a que se referem com em relação ao próprio corpo, seja no que se as necessidades e demandas dos sujeitos – refere a suas preferências em termos estéti- crianças, adolescentes ou adultos atendidos. cos e de conforto e bem-estar. Essas ações supõem que os professores e professoras No caso da Educação Infantil, sua finalidade é o compartilhamento do cuidado e da educação das crianças até os 6 anos de idade com as famílias e a comunidade. Isso impli- aprendam a melhor maneira de cuidar do corpo da criança e, além disso, disponhamse pessoalmente a esse contato próximo e delicado com bebês, meninos e meninas. ca o desenvolvimento de ações fundamentadas em conhecimento aprofundado sobre a Como forma privilegiada de as crianças cria- criança e seu meio, sobre a sociedade, sobre rem e participarem da cultura, bem como o papel das interações entre adultos e crian- de proporcionar um desenvolvimento so- ças, entre as crianças e entre estas e o am- cioafetivo saudável, a brincadeira integra as biente natural e social, para o seu bem-estar, experiências na Educação Infantil como um desenvolvimento e participação na cultura. eixo estruturante do trabalho de professores A dimensão de cuidados físicos presentes na prática com as crianças pequenas demandará dos professores e professoras o desenvolvimento de habilidades para lidar com o corpo da criança, para assegurar a higiene, o bem-estar, uma percepção positiva de si mesma, além de condições adequadas para a alimentação e a segurança. Com os bem pequenos, isto implica em trocar fraldas, dar banho quando este estiver previsto na rotina da instituição, oferecer e criar condições para a alimentação saudável, cuidar do espaço físico para que as crianças estejam em segurança, dentre outros aspectos. e professoras. É preciso conhecer os fundamentos históricos, psicológicos, sociais e culturais do brincar e da brincadeira nas diferentes culturas. Envolver-se nas brincadeiras com as crianças exige dos professores e professoras uma disponibilidade para colocar-se em interação por meio dessa linguagem, que envolve o próprio corpo, a mobilização de energia e abertura para entrar na referência das crianças. Como educador ou educadora, compete a esse (a) profissional organizar o espaço, o tempo e os recursos para que a brincadeira aconteça no ambiente da instituição de Educação Infantil. A realização de tais ações envolve uma in- O cuidado e a educação das crianças peque- tensa relação afetiva entre os adultos e as nas envolvem também a ampliação das ex- crianças. Nessas interações, professores e periências e conhecimentos das crianças a professoras devem proporcionar às crianças respeito de si mesmas, do seu grupo social, 33 das possibilidades de explicação da realida- lhem com instituições educacionais o cui- de próxima e distante, o desenvolvimento do dado e a educação das crianças desde bem desejo de aprender, de conhecer, de indagar pequenas. Ainda prevalece um imaginário sobre o mundo, das capacidades de criação de que somente a família e a mãe devem e apreciação artísticas. Tudo isto envolve ocupar-se dos cuidados e educação dos be- conhecimentos gerais e específicos, habili- bês e crianças nos primeiros anos de vida. dades e disponibilidades para aprender tam- Essa forma de entender os papéis dos pais bém por parte dos professores e professoras e, especialmente das mães, costuma gerar ao longo de sua vida profissional. conflitos internos à família e, não raro, desta em relação à instituição e às/aos profis- Outro importante elemento da prática pro- sionais da Educação Infantil. fissional na Educação Infantil refere-se à relação entre as instituições de Educação É importante que os professores e professo- Infantil e as famílias das crianças. No plano ras sejam capazes de mediar essa passagem legal e da produção teórica, não há dúvidas da criança de uma vivência exclusiva no sobre o reconhecimento de que a Educação ambiente familiar, para um espaço coletivo. Infantil é direito da criança e deve se orga- Essa mediação deve ocupar-se tanto dos sig- nizar como um atendimento educacional. nificados dessa ampliação de experiências Essa concepção, no entanto, não deixa de para as crianças quanto para as famílias, es- considerar o benefício que o atendimento pecialmente as mães, que costumam sentir- em creches significa para as famílias, espe- se culpadas por não dedicarem atenção em cialmente para as mães, que podem com- tempo integral aos filhos e filhas pequenos. partilhar o cuidado e educação dos filhos Os professores e professoras que cotidiana- pequenos com a instituição educacional mente estarão em contato com as crianças (CAMPOS et al., 1995). Esta observação é e com seus responsáveis podem contribuir importante porque é frequente a oposição para que essa vivência torne-se um momen- entre direito da criança e necessidades da to positivo na vida da criança, o que inclui família. As famílias – pais, mães e outros ajudar seus responsáveis a construírem re- responsáveis pelas crianças – fazem parte ferências positivas a respeito da instituição do universo de relações dos professores e de Educação Infantil e das experiências que professoras, na medida em que cada um(a) as crianças vivenciarão nesse espaço. assume responsabilidades específicas que devem ser complementares. Além disso, o cuidado e a educação crianças nos primeiros anos de vida envolvem É recente em nossa cultura o entendimento ações fortemente enraizadas nas práti- de que é legítimo que as famílias comparti- cas culturais das famílias – e também dos 34 professores e professoras – orientadas por CAMPOS, M. M., ROSEMBERG, F. e FERREIRA, valores que definem o que é melhor para a I. M. Creches e pré-escolas no Brasil. São Pau- criança, tanto em termos de cuidados físicos lo: Cortez/Fundação Carlos Chagas, 1995 (2ª quanto no que se refere aos comportamen- edição). tos, ao acesso a informações, dentre outros aspectos. Essa diversidade de formas de agir CERISARA, A. B. A construção da identidade se fará presente no cotidiano da Educação das profissionais da educação infantil: entre Infantil. Reconhecer, respeitar as diferenças o feminino e o profissional, São Paulo: USP/ e encontrar soluções compartilhadas com Faculdade de Educação, 1996 (Tese de Dou- as famílias fazem parte das atribuições dos torado). professores e das professoras que trabalham com bebês e crianças pequenas. HADDAD, L.. A creche em busca de identidade. São Paulo: Loyola, 1991. Finalmente, é importante destacar a disponibilidade requerida do(a) profissional da MARANHÃO, D. G. O cuidado como elo entre Educação Infantil em colocar-se nesse am- saúde e educação. Cadernos de Pesquisa, São biente também como sujeito de aprendiza- Paulo, n. 111, dez. 2000. 35 gens. Cumpre desenvolver aguçado senso de observação e capacidade de escuta das OLIVEIRA, Z. M. R. (org.). Educação Infantil: crianças, cujo conhecimento é condição sem muitos olhares. São Paulo: Cortez, 1995. a qual não será possível atender aos interesses, necessidades e capacidades dos bebês, SILVA, I. O. Profissionais de creche no coração dos meninos e das meninas que cotidiana- da cidade: a luta pelo reconhecimento pro- mente se encontram na instituição de Edu- fissional em Belo Horizonte. Belo Horizonte: cação Infantil. Faculdade de Educação da UFMG, 2004 (Tese de doutorado). REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CEB nº 05, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, 18 dez. 2009. SILVA, I. O. Trabalho docente na educação infantil: dilemas e tensões. In: Anais da 30ª Reunião Anual da Anped, 2007, Caxambu - MG. Anais da 30ª Reunião Anual da Anped, 2007. p. 1-18. Presidência da República Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Supervisão Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento pedagógico Soraia Bruno Coordenação de Utilização e Avaliação Mônica Mufarrej Fernanda Braga Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Diagramação e Editoração Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil Gerência de Criação e Produção de Arte Consultora especialmente convidada Lívia Fraga Vieira E-mail: [email protected] Home page: www.tvbrasil.org.br/salto Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro. CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ) Junho 2013 36