30 www.dentistry.pt EDIÇÃO PORTUGUESA Negócios Eurico Castro Alves “Os médicos dentistas portugueses são hoje aceites e respeitados a nível técnico, profissional e deontológico pela sociedade portuguesa” No presente artigo, a MedSUPPORT, em jeito de “fecho de capítulo”, falou com Eurico Castro Alves sobre o trabalho concretizado enquanto membro do Conselho Directivo da Entidade Reguladora da Saúde. E urico Castro Alves, médico de profissão e cidadão activo nas questões ligadas à saúde, por vocação, conta no seu percurso profissional com cargos assumidos de relevo e de proeminência na área da saúde em Portugal. Enquanto membro do Conselho Directivo, da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), foi a cara de projectos como o Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (SINAS) e o grande dinamizador do registo e do licenciamento das unidades de saúde portuguesas, nas quais se incluem as clínicas de Medicina Dentária. A especialidade foi a primeira abrangida pelo regime simplificado de licenciamento. A MedSUPPORT falou com Eurico Castro Alves sobre as motivações, ambições e realizações que pautaram os seus últimos anos de trabalho como vogal do Conselho Directivo da ERS. Qual a motivação por trás de ter aceitado um cargo no Conselho Diretivo da ERS? O exercício de cidadania implica estar disponível para funções públicas. Quem tem ideias, princípios e valores, então deve estar sempre presente e disponível para, no terreno, defender esses valores e princípios. A ERS – Entidade Reguladora da Saúde era, na altura, um organismo relativamente recente, mas imbuído de uma nobre missão, na qual acredito plenamente, que é defender os direitos dos cidadãos no âmbito da prestação de cuidados de saúde. No âmbito do licenciamento das clínicas ou consultórios de Medicina Dentária, regulamentada pela Portaria n.º 268/2010 de 12 de Maio, com entrada em vigor durante o seu mandato, como acompanhou a adesão das clínicas dentárias? Foi um processo relativamente lento e progressivo, como naturalmente seria de esperar, já que nestes processos é expectável um período inicial para esclarecimentos de dúvidas. O que me apraz registar é que a esmagadora maioria dos prestadores cumpriram a sua obrigação legal, o que denota um importante sentido de responsabilidade no cumprimento da lei e no respeito pelos cidadãos por parte dos médicos dentistas portugueses. Mário Amorim/Infarmed Notícias Decorrido este tempo, acha que a Medicina Dentária está mais segura em Portugal? Não tenho a menor dúvida! Os médicos dentistas portugueses são hoje aceites e respeitados, quer a nível técnico e profissional, quer a nível deontológico, pela sociedade portuguesa. Permitam-me uma referência em particular em relação à Ordem dos Médicos Dentistas e aos seus dirigentes, que têm contribuído decisivamente para o prestígio social do médico dentista. Um dos projectos que coordenou foi o SINAS (SINAS@ Hospitais e SINAS@Saúde.Oral). Considera o projecto suficientemente implementado? O que ficou por fazer? O Projeto SINAS é um programa de avaliação de cuidados de saúde e foi pensado e desenhado, desde o início, como um sistema modular que vai progredindo e desenvolvendo-se ao longo do tempo. É esta dinâmica que permite ao SINAS estar preparado para adaptar-se gradualmente às mudanças e aos novos enquadramentos sociais e legais. Portanto, é um projecto que, não deixando de estar a cumprir a missão para a qual foi pensado, nunca estará terminado. Que impacto acha que terá o Projecto SINAS na medicina em Portugal? Penso que já foram evidentes as inúmeras vantagens deste programa, desde logo a cultura do registo, que aumentou significativamente nas unidades de saúde em todo o país. Outro aspecto importante decorre do princípio que as regras e as boas práticas são por todos, conhecidas. Todas as instituições têm vindo a preparar-se e a adaptar-se progressivamente às melhores práticas. De que forma o trabalho encetado na ERS irá contribuir/influenciar o novo cargo que assumiu no INFARMED? O trabalho desempenhado na ERS representa para mim uma importante e gratificante experiência. Consolidei o princípio da defesa dos direitos dos cidadãos como um pressuposto importante para que haja uma séria prestação de cuidados de saúde. Neste âmbito, também consolidei o princípio da avaliação de cuidados como uma ferramenta fundamental para que haja um crescimento, efectivo e contínuo, da qualidade do serviço prestado na defesa da saúde pública. Todos estes princípios são aplicáveis às áreas de competência do Infarmed, garantindo assim uma regulação efectiva. Como via antes e como vê agora, que conheceu “por dentro”, a ERS? A ERS foi uma estrutura criada de raiz, tendo em vista a regulação das actividades em saúde e tendo sempre Tlf.: 229 445 650 www.medsupport.pt | www.facebook.com/medsupport Dentistry EDIÇÃO PORTUGUESA Negócios 31 www.dentistry.pt presente a defesa do cidadão. Com a criação da ERS foi possível, pela primeira vez a nível nacional, o cidadão comum encontrar na esfera do Estado uma entidade, verdadeiramente independente, a quem poderia recorrer em situações de insatisfação com a qualidade dos serviços prestados. Acha que a população em geral (re)conhece o trabalho da ERS? Penso que à ERS já é reconhecida a capacidade de intervenção em garantir que os direitos dos cidadãos sejam acautelados. Reconheço, no entanto, que deveria haver um maior conhecimento da sua actividade na população mas diferenciada e que nos preocupa, nomeadamente os mais carenciados. São estes que, por terem menos acesso à informação, estão mais sujeitos às injustiças e idiossincrasias do sistema. Qual o legado que considera ter deixado na ERS? Sinto que cumpri o meu dever. Contribui para a criação do SINAS, que como referi é um importante instrumento para a melhoria da qualidade da prestação dos cuidados de saúde. Este é, sem dúvida, um vector importante que potencia a transparência e a accountability a que todos os prestadores de serviços de saúde estão obrigados a respeitar num estado de direito e civilizado. Por outro lado, ajudei a criar um sistema de registo de reclamações em que os doentes/ utentes viram garantido o princípio de que as todas as suas reclamações são apreciadas e analisadas por uma entidade que lhes dá a devida orientação. Só assim foi possível que milhares de doentes/utentes tenham conseguido resolver os seus problemas e serem ressarcidos nas suas pretensões. Acresce que, ao permitir-se este empowerment do cidadão, também eles estão a contribuir para a melhoria do sistema de prestação de serviços. As consequências das suas reclamações permitem identificar e resolver problemas de ordem sistémica, o que contribui para a melhoria do sistema e, em consequência, prevenir que outros não sejam prejudicados. Por último, e porque entendo que também assim se defende os direitos do cidadão, procurei estar atento e proteger os legítimos interesses dos prestadores de cuidados de saúde e dos seus profissionais. Eles são essenciais no processo de garantia da qualidade dos serviços de saúde e, por isso, merecem o nosso respeito enquanto prestadores e técnicos desses serviços. n