3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X DESENVOLVIMENTO DE INSTRUMENTO PARA AVALIAÇÃO DE ALUNOS COM PARALISIA CEREBRAL PARA ADAPTAÇÃO DE RECURSO E PLANEJAMENTO DE ESTRATÉGIAS1 Michele Oliveira da SILVA1; Eduardo José MANZINI2. Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências (UNESP– Marília). Apoio: FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo). 1 Introdução Com a matricula de todos os alunos no ensino comum surge a necessidade de refletir sobre as metodologias de ensino e a sua eficácia frente à diversidade de alunos. No caso específico dos alunos com paralisia cerebral, encontra-se o desafio de adequar a metodologia educacional, garantir o acesso físico das atividades com o manuseio dos materiais pedagógicos e desenvolver estratégias que garantam a permanência e o acesso dos alunos ao ambiente escolar, garantindo um ensino de qualidade para todos (MARTINS, 2006). Essa situação justifica-se devido às características da paralisia cerebral que podem influenciar no ensino desses alunos, como pode ser observado em sua definição: Paralisia Cerebral descreve um grupo de desordens do movimento e da postura, causando limitação de atividades, que são devidas a alterações não progressivas que ocorreram no cérebro fetal ou infantil. As desordens motoras da paralisia cerebral freqüentemente estão acompanhadas por alterações sensoriais, na cognição, comunicação, percepção, comportamento e/ou crises convulsivas (SOUZA, 2005, p.51). Diante de características tão especificas, o aluno com paralisia cerebral, na maioria das vezes, pode ter dificuldade para manipular o material pedagógico e/ou dificuldades para utilizar os mobiliários encontrados na escola. Nesse contexto, há a necessidade de adaptar o recurso pedagógico às necessidades específicas do aluno (ARAÚJO; MANZINI, 2001). No entanto, Gonçalves (2006), em um trabalho de observação de alunos com paralisia cerebral matriculados no ensino infantil, constatou que, em alguns casos, a presença de materiais adaptados não garantiu que o aluno participasse efetivamente das atividades que foram desenvolvidas na sala. Observa-se então, que, o uso do recurso pedagógico adaptado só favorece o ensino do aluno com paralisia cerebral quando o contexto escolar é levado em consideração, ou seja, quando são oferecidas situações favoráveis ao ensino (DELIBERATO, 2007). Assim, além de avaliar as características do aluno para adaptar um recurso pedagógico, é preciso avaliar: 1 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação (mestrado) da Faculdade de Filosofia e Ciências- UNESPCampus de Marília, bolsista FAPESP. e-mail: [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências- UNESP- Campus de Marília. e-mail: [email protected] 1174 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X 1) O conteúdo da atividade acadêmica que é oferecido ao aluno: é preciso oferecer atividades que estimulem o aluno (CURTO; MORILLO, FEIXIDÓ, 2000), dentro das metas do currículo básico. Esse currículo deve ao mesmo tempo em que direciona o planejamento acadêmico, aceitar modificações, para adequar a atividade ao nível de desenvolvimento de cada aluno (GONZÁLES, 2002); 2) O acesso do aluno a materiais tecnológicos: principalmente no caso do computador. Acredita-se que, além de adaptar o computador às capacidades físicas do aluno é necessário que o seu uso se justifique por um planejamento acadêmico compatível ao objetivo de ensino. Imamura (2008) desenvolveu uma pesquisa sobre as estratégias de ensino com alunos com deficiência física no uso da informática. Nesse estudo, a autora observou que, mesmo com a presença do computador, o seu uso, na maioria das vezes, se limitava a atividades lúdicas sem nenhum conteúdo acadêmico previamente programado; 3) A interação do aluno em sala de aula: Barbosa, Azevedo e Caselatto (2007) concluíram que são as interações sociais favoráveis as responsáveis por garantir o sucesso acadêmico e a permanência dos alunos no ensino regular; por isso, é necessário oferecer situações que estimulem essas interações entre o aluno com paralisia cerebral e o resto da sala. 4) As características emocionais do aluno: observa-se que na medida em que o aluno tem uma perspectiva negativa sobre sua vida, não há estímulo para a realização de nenhuma atividade, por isso, os aspectos emocionais devem ser observados para identificar a necessidade de fazer intervenções adequadas (SOUZA, 2004); 5) A adequação do mobiliário às necessidades do aluno: estudos concluíram que a disponibilização de um mobiliário adaptado às características do aluno pode favorecer o seu desempenho acadêmico, pois, uma postura adequada colabora para a realização das atividades, além de prevenir possíveis lesões causadas pela má postura (BRACIALLI; MANZINI, 2003; MARTIN; JÁURGUI; LÓPEZ; 2004; BRACIALLI; MANZINI; VILARTA; 2005; BRACCIALLI, et al., 2008); 6) As estratégias que são utilizadas em sala de aula: Silva (2009) desenvolveu um estudo cujo objetivo foi o de identificar as estratégias que foram utilizadas na intervenção de três mediadoras em atividades de reconto de histórias com quatro alunos sem oralidades diagnosticados com paralisia cerebral, nesse trabalho a autora concluiu que o planejamento prévio de estratégias favoreceu para o desenvolvimento das atividades e para a interação em grupo. Sobre esse assunto, Manzini (no prelo, p.14) definiu as estratégias com as ações planejadas pelo professor para o ensino ou avaliação do aluno, podendo ser identificadas no plano de aula “[...] pelos verbos de ação que compõem as orações”, por exemplo, as peças do jogo foram apresentadas uma a uma ao aluno, antes de começar a atividade. Acredita-se assim, que as estratégias devem ser planejadas para atender cada caso em particular (FALVEY; GIVNER; KIMM, 2002, p.144). Observa-se então, que antes de adaptar um recurso e planejar as estratégias de ensino é necessário que o professor avalie as situações de ensino já existentes que servirão de dados para uma intervenção futura. A avaliação deve ter dois focos: 1) identificar as características dos alunos, suas potencialidades e necessidades; 2) identificar os fatores ambientais que favorecem ou dificultam o ensino do aluno. Isso se justifica, por entender que, as estratégias e qualquer tipo de intervenção devem basear-se não só nas necessidades, mas, também nas potencialidades do aluno (MANZINI, no prelo). Sabe-se, porém, que em muitos casos, as potencialidades dos alunos com paralisia cerebral estão encobertas pela limitação motora, favorecendo para que o professor sem formação 1175 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X específica realize uma avaliação com foco em suas dificuldades, tanto em relação às suas características, quanto em relação a sua interação social. Nesse contexto, para auxiliar o professor do ensino regular, muitas pesquisas da educação e da saúde têm evidenciado a importância da parceria entre professor do ensino regular e professor especialista para garantir um ensino de qualidade a todos os alunos (BALEOTTI, 2001; MARTÍN; JÁUREGUI; LÓPEZ, 2004; BRUNO, 2005; GONÇALVES, 2006; REGANHAN, 2006; DE PAULA, 2007; SILVA, 2007; ALPINO, 2008). O professor especialista é aquele que possui formação na área da educação especial para atuar em diferentes contextos educacionais, como: [...] nas salas comuns do ensino regular, nas salas de recursos, nos centros de atendimento educacional especializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições de educação superior, nas classes hospitalares e nos ambientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos de educação especial (BRASIL, 2008, p. 11). Entende-se assim, que a função do profissional especializado é colaborar com o professor da sala comum, auxiliando no planejamento acadêmico, na elaboração de estratégias e na avaliação de cada aluno (SILVA, 2007). No entanto, mesmo para o professor especialista, a coleta desses dados é um processo demorado, visto que não há um instrumento de avaliação com o objetivo específico de coletar dados sobre as características específicas do aluno, a interação social e as características do ambiente físico para auxiliar na adaptação de recursos e no planejamento de estratégias. Dessa forma, o problema desse estudo pode ser concretizado nas seguintes indagações: Seria possível desenvolver um instrumento de avaliação sobre características específicas do aluno, do ambiente e da interação social para auxiliar o professor especialista na adaptação do recurso pedagógico e planejamento de estratégias para atingir os seus objetivos de ensino e atender as necessidades educacionais dos alunos com paralisia cerebral? Quais conteúdos ou itens seriam necessários serem incorporadas neste instrumento? Esse trabalho é um recorte de um trabalho maior desenvolvido no programa de PósGraduação em Educação na Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília. 2 Objetivo Desenvolver um instrumento de avaliação para que o professor especialista possa reunir dados sobre as características específicas do ambiente da sala, interação social e do aluno com paralisia cerebral matriculado no ensino fundamental, que serão utilizadas para a adaptação de recurso e planejamento de estratégias nas atividades em sala de aula, pelo professor do ensino comum. 3 Consentimento do comitê de ética e termo de consentimento livre e esclarecido O projeto de pesquisa foi submetido à avaliação do Comitê de Ética da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP – Campus de Marília, sendo aprovado pelo Parecer nº. 2210/2008 na data de 27/08/2008. 4 Participantes da pesquisa 1176 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X Foram participantes dessa pesquisa onze estudantes do quarto ano de pedagogia da Habilitação em Educação Especial, área de deficiência física, da Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP – Marília. Na ocasião da pesquisa, todas as participantes realizavam estágios com atendimento educacional especializados com crianças com deficiência física (incluindo alunos com paralisia cerebral) em três ambientes: na escola, no CEES (Centro de Estudos da Educação e da Saúde) e na sala hospitalar. Aproveitando esse contexto, cada participante foi convidada a avaliar o seu aluno do estágio com o uso do instrumento, com o objetivo de adaptar um recurso pedagógico para cada aluno específico. Cada participante que aceitou participar desse estudo assinou o termo de consentimento livre esclarecido, no qual continha informações sobre o objetivo do estudo, o local de realização e o esclarecimento de que a participação do estudo era opcional, e que a recusa não causaria nenhum prejuízo aos participantes. Além disso, a segunda versão do instrumento foi utilizada pelos pesquisadores para avaliar uma aluna diagnosticada com paralisia cerebral, matriculada no segundo ano do Ensino Fundamental. 5 Resultados do desenvolvimento do instrumento Os resultados e as discussões dessa pesquisa seguiram o processo de elaboração e análise das três versões do instrumento. 5.1 Construção da primeira versão do instrumento A primeira versão do instrumento de avaliação foi construída em um período de sete meses (de abril a outubro de 2008) e foram considerados: 1) Os recursos pedagógicos adaptados disponíveis no Laboratório de Educação Especial Prof. Ernani Vidon (por volta de 100 recursos); 2) A leitura dos Livros do Portal de Ajudas Técnicas para Educação: equipamento e material pedagógico para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física, volumes 1, 2 e 4 (MANZINI; SANTOS, 2002; MANZINI; DELIBERATO, 2004; MANZINI; DELIBERATO, 2007); 3) Os instrumentos desenvolvidos a serem utilizados na área da educação especial em situação escolar e familiar, sempre enfocando aspectos educacionais (AUDI, 2004; BRUNO, 2005; AUDI, MANZINI, 2006; DE PAULA, 2007; DELAGRACIA, 2007); 4) A revisão da literatura sobre adaptação de recursos pedagógicos, ensino, aprendizagem e características sobre o aluno com paralisia cerebral. O instrumento completo contém em sua estrutura 110 itens avaliativos que foram divididos por quinze áreas de conhecimento. Entre elas, as áreas que avaliam as características específicas do aluno, a parte social e colaboram para a adaptação dos recursos pedagógicos e para o planejamento de estratégias são as intituladas: 1) área social; 2) recursos do ambiente e do professor; 3) categorias para adaptação ou confecção do recurso; 4) reflexões para a escolha da estratégia de ensino e 5) estratégias de ensino. 5.2 Avaliação da primeira versão do instrumento 1177 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X O instrumento foi entregue as participantes no dia 30 de outubro de 2008. Após essa data, outras reuniões aconteceram (13 de novembro de 2008 e 27 de novembro de 2008), nas quais foi realizado um debate sobre o uso do instrumento na avaliação dos alunos do estágio. As dúvidas e as sugestões sobre o uso da primeira versão do instrumento e os instrumentos preenchidos foram consideradas para a construção da segunda versão do instrumento. 5.3 Reformulação da primeira versão e construção da segunda versão do instrumento Na primeira etapa do estudo, a partir do uso do instrumento pelas participantes, e baseada nos estudos encontrados na literatura, a segunda versão do instrumento foi elaborada, com as principais modificações: Mudança na ordem das áreas de conhecimento no instrumento; Exclusão de itens que se repetiam; Inclusão de itens que faltavam (BRUNO, 2005; DE PAULA, 2007; DELAGRACIA 2007); Inserção da escala numérica identificando o número correspondente ao grau de desempenho da habilidade avaliada (BUNCHAFT; CAVAS, 2002); Reescrita de algumas sentenças que apresentavam dupla interpretação (REAL; PARKER, 2000; MANZINI, 2003); Modificação de algumas sentenças que deixaram seu lugar de origem para serem níveis avaliativos dentro de uma área geral, para deixar a tabela mais enxuta; Modificação do comando sobre as anotações adicionais, observações específicas ou dificuldade do aluno para a escolha de um único comando; Exclusão da linha final “sugestão para atividade”, pois esse item já era avaliado no final do instrumento; Exclusão da maioria das setas indicativas que não eram necessárias; Substituições de verbos de ação nas sentenças, para outros mais específicos sobre o que se pretendia avaliar; Retirada de palavras depreciativas; Redefinição de algumas tabelas. A seguir, observa-se no Quadro 1 o exemplo, de uma das tabelas de avaliação da área reflexões para estratégias de ensino: atividades individuais e coletivas, da primeira versão do instrumento. Logo após, observa-se no Quadro 2, a mesma tabela de avaliação com a substituição da coluna “ele tem dificuldade” para a coluna “circule o número que segue em relação ao nível de dificuldade do aluno” na segunda versão do instrumento: Variáveis Item avaliati vo ELE SE CANSA RAPIDAMENTE? Nun ca Às vezes Sem pre ELE COMPLETA AS ATIVIDADES PROPOSTAS? Nun Ás Sempr ca vezes e ELE TEM DIFICULDADE? Muita Pouca Nenhum a Por favor, escreva no espaço a baixo, outra informação que você julgue importante: 1178 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X ___________ 33.1) O aluno realiza atividad es em grupo? ( ) NÃO 33.2) O aluno realiza as atividad es individu ais? ( ) NÃO ( ) SIM ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ___________ ___________ ___________ ( ) SIM ___________ ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ___________ ___________ Sugestões para atividade: ______________________________________________________________________________________________________ Quadro 1– Exemplo da Seção principal da primeira versão Item avaliativo Alternativas ELE SE CANSA RAPIDAMENTE? Nun ca 33.1) O aluno participa das atividades em grupo? ( ) NÃO 33.2) O aluno realiza as atividades individuai s? ( ) NÃO ( ) SIM ( ) SIM Às vezes Sem pre ELE COMPLETA AS ATIVIDADES PROPOSTAS? Nun Ás Sem ca vezes pre Circule o número que segue em relação ao nível de dificuldade do aluno Nenhuma Muita 0 1 2 3 4 1 2 3 4 Caso seja necessário, quais estratégias poderão facilitar a interação desse aluno com o resto da sala em relação à realização dessa atividade? _________________ ( ) Nun ca ( ) Ás vezes ( ) Sem pre ( ) Nun ca ( ) Ás vezes ( ) Sem pre 0 ( ) Nun ca ( ) Ás vezes ( ) Sem pre ( ) Nun ca ( ) Ás vezes ( ) Sem pre 0 _________________ _________________ 1 2 3 4 _________________ Por favor, escreva no espaço a baixo, outra informação que você julgue importante: Quadro 2 – Exemplo da Seção principal da segunda versão 5.4 Aplicação e avaliação da segunda versão do instrumento A segunda versão do instrumento foi entregue aos participantes no dia 18 de março de 2009. Novamente, o instrumento foi apresentado pela pesquisadora que leu as orientações gerais para preenchimento do instrumento e os itens avaliativos, sem que nenhuma informação 1179 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X adicional fosse fornecida. A partir dessa data foi combinada uma nova data para a análise do instrumento, mais precisamente no dia 17 de abril. 5.5 Avaliação de uma aluna com paralisia cerebral matriculada no segundo ano do Ensino Fundamental Uma aluna diagnosticada com paralisia cerebral matriculada no segundo ano do ensino fundamental foi avaliada pelos pesquisadores com o uso da segunda versão do instrumento. Essa avaliação aconteceu nos dias 16 e 23 de junho de 2009, na própria escola onde a aluna era matriculada. Para a avaliação, alguns recursos pedagógicos adaptados e não adaptados que estavam disponíveis no Laboratório de Educação Especial Prof. Ernani Vidon (UNESP- Marília). A avaliação da aula com o uso do instrumento favoreceu para: 1) Coletar dados sobre as potencialidades sociais da aluna; 2) Coletar dados sobre as características emocionais; 3) Avaliar a adequação do mobiliário escolar; 4) Avaliar a atividade acadêmica da aluna em relação à sala e propor uso de recursos pedagógicos adaptados; 5) Avaliar as áreas que necessitavam de intervenção, principalmente em relação às estratégias de ensino para o uso do computador; 6) Identificar qual o material mais apropriado para a adaptação em relação às características da aluna; 7) Planejar estratégias específicas para o ensino da aluna. Além disso, o uso do instrumento favoreceu para que outras mudanças que não haviam sido sugeridas pelas participantes fossem indicadas pelos pesquisadores para a reformulação da terceira versão do instrumento. 5.6 Reformulação segunda versão para construção da terceira versão do instrumento A partir das análises das participantes e da avaliação da aluna com o uso do instrumento, foram definidas as novas adequações da terceira versão do instrumento, em relação a: Substituição de palavras com dois significados (REAL; PARKER, 2000; BUNCHAFT; CAVAS, 2002); Acréscimo de novas áreas de avaliação e aperfeiçoamento das existentes (SANKAKO; OLIVEIRA; MANZINI, 2007). 5.7 Terceira versão do instrumento de avaliação Após o processo de construção e o uso da primeira e da segunda versão do instrumento; a terceira versão foi elaborada, sendo intitulada como “avaliação do aluno no contexto da sala de aula”, contendo em sua estrutura: 1. Área acadêmica: recursos do ambiente e do professor, com as subáreas: 1.1) Observações sobre a atividade acadêmica, com quatro itens avaliativos; 1.2) Necessidade de adaptação para acesso ao computador, com um item avaliativo; 1180 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X 2. Área social: interação do aluno, com as subáreas: 2.1) Parceiros de comunicação, com dois itens avaliativos; 2.2) Participação em sala de aula, com oito itens avaliativos; 2.3) Características emocionais do aluno, com quatro itens avaliativos; 3. Área motora: posicionamento, com as subáreas: 3.1) Posicionamento do aluno, com sete itens avaliativos; 3.2) Localização da carteira do aluno, com cinco itens avaliativos; 3.3) Posicionamento do professor em relação a sala de aula, com um item avaliativo; 4. Categoria para adaptação de recursos, com as subáreas: 4.1) Características da paralisia cerebral, com quatro itens avaliativos; 4.2) Informações sobre o material para adaptação, com 21 itens avaliativos; 5. Reflexões para a escolha de estratégias de ensino, com quatro itens avaliativos. A seguir, observa-se no Quadro 3, o exemplo, de uma das tabelas de avaliação da área motora: posicionamento, da segunda versão do instrumento. Logo após, observa-se no Quadro 4, a mesma tabela de avaliação com as reformulações sugeridas para a terceira versão do instrumento: 28) QUAL A LOCALIZACAO DA CADEIRA DESSE ALUNO EM RELAÇÃO À SALA? Ex: primeira carteira da primeira fileira do lado da porta. Resposta: __________________________________________________________________________________ 28.1) Essa 28.2) Possibilita 28.3) 28.4) Possibilita 28.5) A localização dos alunos permanece fixa localização a interação dele Possibilita a a locomoção dele todos os dias? possibilita a com o professor? visualização ao armário de interação dele dele na lousa? materiais? SIM NÃO com os outros alunos? ( ) Sim, para ( ) Não, nenhum aluno fica ( ) SIM. ( ) SIM. ( ) SIM. ( ) SIM. todos os todos os dias no mesmo alunos. lugar. ( ) NÃO. ( ) NÃO. ( ) NÃO. ( ) NÃO. Motivo: Motivo: Motivo: Motivo: ( ) Sim, mas ( ) Não, mas só esse aluno só esse aluno PERMANECE no mesmo lugar todos os dias NÃO permanece no mesmo lugar ( ) Não, mas há exceções. todos os dias. Especifique: ( ) Sim, mas há exceções. Especifique: ___________ ______________________ ______________________ Quadro 3 – Exemplo da Seção principal da segunda versão 27) Como as carteiras dos alunos são organizadas na sala de aula? A localização dos alunos permanece fixa todos os dias? SIM NÃO ( ) Sim, para todos os ( ) Não, nenhum aluno fica todos os ( ) Fileiras de carteiras uma atrás da outra. 1181 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X ( ) Fileira com duas carteiras juntas em fileiras alunos. dias no mesmo lugar. ( ) Fileiras agrupadas na posição “U”. ( ) Fileiras agrupadas sem nenhuma posição específica. ( ) Sim, mas só esse aluno NÃO permanece no mesmo lugar todos os dias. ( ) Não, mas só esse aluno PERMANECE no mesmo lugar todos os dias ( ) Não, mas há exceções. Especifique: ( ) Carteiras organizadas em círculo. ( ) Grupos combinados, podendo ser pequenos grupos com diferente número de pessoas. ( ) Sim, mas há exceções. Especifique: __________________________ _____________________ __________________________ _____________________ __________________________ _____________________ __________________________ Descreva outras características que você julga necessárias: _________________________________________________ 28.1) A localização da carteira do aluno possibilita a interação dele com os outros alunos? ( ) SIM. 28.2) Possibilita a interação dele com o professor? 28.3) Possibilita a visualização dele na lousa? 28.4) Possibilita a locomoção dele ao armário de materiais? ( ) SIM. ( ) SIM. ( ) SIM. ( ) NÃO. Descreva em poucas palavras o motivo: ( ) NÃO. Descreva em poucas palavras o motivo: ( ) NÃO. Descreva em poucas palavras o motivo: ( ) NÃO. Descreva em poucas palavras o motivo: _____________________ _____________________ ______________________ ______________________ Quadro 4 – Exemplo da Seção principal da terceira versão 6 Considerações Finais A necessidade de elaborar um instrumento de avaliação sobre o aluno com paralisia cerebral no Ensino Fundamental iniciou-se a partir da dificuldade em disponibilizar um ambiente que contribuísse para o seu sucesso acadêmico, com o uso do recurso pedagógico. Observa-se que, além de adaptar o recurso pedagógico para garantir o acesso físico à atividade, outras intervenções devem ser feitas: 1) criar um ambiente acolhedor, com maiores possibilidades de interação social entre o aluno com paralisia cerebral e os outros alunos; 2) adequar a organização da sala de aula de maneira consciente e previamente planejada, a fim de favorecer o deslocamento, a visualização e a interação do aluno; 3) planejar estratégias que favoreçam o ensino e a aprendizagem do aluno. 1182 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X Nesse sentido, entende-se que antes de realizar qualquer intervenção, o profissional deve avaliar as características especificas do aluno, e avaliar como a sala de aula é cotidianamente, identificando pontos que favorecem o ensino e os pontos que necessitam de intervenção. Esses dados podem direcionar a adaptação do recurso pedagógico e o planejamento das estratégias de ensino a fim de atender as necessidades da sala e potencializar as ações que já são desenvolvidas naquele ambiente e favorecem a inclusão. Dessa maneira, buscou-se desenvolver um instrumento de avaliação que auxiliasse o professor especialista em educação especial a coletar esses dados do aluno com paralisia cerebral matriculado nas séries iniciais do Ensino Fundamental. A utilização do instrumento pelas participantes da pesquisa contribuiu para que reformulações posteriores fossem feitas. Nessa mesma perspectiva, a avaliação da aluna com paralisia cerebral favoreceu para: 1) identificar as áreas de potencialidade do ambiente escolar, ou seja, as situações que favoreciam para o ensino de toda sala, inclusive da aluna com paralisia cerebral; 2) identificar áreas que necessitam de intervenção; 3) propor estratégias de ensino, garantindo o seu acesso a materiais pedagógicos e 4) propor estratégias para favorecer a interação social da aluna com os outros alunos. Com o desenvolvimento e o uso da segunda versão completa do instrumento foi possível prever novas reformulações para o desenvolvimento da terceira versão: 1) Ilustrar determinados itens de avaliação para facilitar a visualização; 2) Dividir o instrumento em quatro partes, para facilitar o seu manuseio, sendo: a) área cognitiva, potencialidades do aluno; b) avaliação do aluno no contexto da sala de aula; c) resumo da avaliação e d) categorias para a adaptação do recurso pedagógico. Além disso, outros estudos serão necessários para que novos participantes utilizem o instrumento com essas modificações na avaliação de outros alunos, identificando se as modificações contribuíram ou dificultaram o uso do instrumento. REFERÊNCIAS ARAÚJO, R. C. T; MANZINI, E. J. Recursos de ensino na escolarização do aluno com deficiência física. In: MANZINI, E. J. (Org). Linguagem, cognição e ensino do aluno com deficiência. Marília: Unesp - Marília – publicações, 2001. p. 1-12. AUDI, E. M. M. Protocolo para avaliação de acessibilidade física em escolas de ensino fundamental. 2004. 228 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2004. AUDI, E. M. M.; MAZINI, E. J. Protocolo para avaliação de acessibilidade física em escolas do ensino fundamental: um guia para gestores e educadores. Marília: ABPEE, 2006. 1183 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X ALPINO, A. M. S. Consultoria colaborativa escolar do fisioterapeuta: acessibilidade e participação do aluno com paralisia cerebral em questão. 2008. 190f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Carlos, 2008. BALEOTTI, L. R. Experiência escolar do aluno com deficiência física no ensino comum: o ponto de vista do aluno. 2001. 78f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2001. BARBOSA, A. J. G.; AZEVEDO, P. R.; CASELATTO, P. Atitudes dos pares em relação aos alunos com necessidades especiais: socialização e inclusão escolar. In: MANZINI, E. J. (Org). Inclusão do aluno com deficiência na escola: os desafios continuam. Marília: ABPEE/FAPESP, 2007, p. 75-88. BRASIL. Política nacional da educação em uma perspectiva da educação inclusiva. Documento elaborado pelo Grupo de Trabalho nomeado pela Portaria nº 555/2007, prorrogada pela Portaria nº 948/2007, entregue ao Ministro da Educação em 07 de janeiro de 2008. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf >. Acesso em: 20 de março de 2009. BRACCIALLI, L. M. P.; MANZINI, Eduardo José . Considerações teóricas sobre a posição sentada do aluno com paralisia cerebral espástica: implicações orgânicas e indicação de mobiliários. In: MARQUEZINE, M. C.; ALMEIDA, M. A.; BUSTO, R. M.; TANAKA, E. D. O. (Org.). Educação física, atividades motoras e lúdicas, e acessibilidade de pessoas com necessidades especiais. Londrina: Eduel, 2003, v. 9, p. 73-86. BRACIALLI, L. M. P.; MANZINI, E. J.; VILARTA, R. Influencia do mobiliário adaptado na variação angular da curvatura lombar de indivíduos com paralisia cerebral espástica. In: Fisioterapia Brasil, v. 6, n.2, março/abril de 2005. BRACIALLI et al. Influencia do assento da cadeira adaptada na execução de uma tarefa de manuseio. In: Revista Brasileira de Educação Especial. Marília: ABPEE/FFC – UnespPublicações, n.14. v. 1, p. 141 – 154, 2008. Quadrimestral. BRUNO; M. M. G. Avaliação educacional de alunos com baixa visão e múltipla deficiência na educação infantil: uma proposta de adaptação e elaboração de instrumentos. 2005. 157f. v.2.Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2005. BUNCHAFT, G.; CAVAS, C. S. T. Sob medida: um guia sobre a elaboração de medidas do comportamento e suas aplicações. São Paulo: Vetor, 2002. 1184 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X CURTO, L. M.; MORILLO, M. M.; FEIXIDÓ, M. M. Escrever e ler: como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e ler. volume I. Tradução: Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2000. DE PAULA, R. Desenvolvimento de um protocolo para avaliação de habilidades comunicativas de alunos não-falantes em ambientes escolar. 2007. 148 f. Dissertação (Mestrado em educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007. DELAGRACIA, J. D. Desenvolvimento de um protocolo para avaliação de habilidades comunicativas para alunos não-falantes em situação familiar. 2007. 98f. Dissertação (Mestrado em educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2007. DELIBERATO, D. Acessibilidade comunicativa no contexto acadêmico. In: MANZINI, E. J. (Org). Inclusão do aluno com deficiência na escola: os desafios continuam. Marília: ABPEE/FAPESP, 2007, p. 25-36. FALVEY, M. A.; GIVNER, C. C.; KIMM, C. O que eu farei segunda-feira pela manhã? In: STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Tradução de Magda França Lopes. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. p. 142 -168. GONÇALVES, A. K. S. Estratégias pedagógicas inclusivas para crianças com paralisia cerebral na educação infantil. 2006. 136f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2006. GONZÁLES, J. A. T. Educação e diversidade: bases didáticas e organizativas. Tradução de Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2002. IMAMURA, E. T. Formação continuada do professor para uso de recurso de informática com alunos com deficiências físicas. 2008. 161 f. Dissertação (Mestrado em educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2008. MANZINI, E. J. Recurso pedagógico adaptado e estratégias para o ensino de alunos com deficiência física. 20 f. no prelo. 1185 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X ______. Considerações sobre a elaboração de roteiro para entrevista semi-estruturada. In: MARQUESINE, M. C.; ALMEIDA, M. A.; OMOTE, S. (Org). Colóquios sobre pesquisa em Educação Especial. Londrina: Eduel, 2003. p. 11-25 MANZINI, E. J.; DELIBERATO, D . Portal de ajudas técnicas: equipamento e material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física recursos para comunicação alternativa. Brasília: MEC/SEESP, 2004. fascículo 2. ______. Portal de ajudas técnicas para educação: equipamento e material pedagógico para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos pedagógicos adaptados II. Brasília: ABPEE-MEC: SEESP, 2007. fascículo 4. MANZINI, E. J.; SANTOS, M. C. F. Portal de ajudas técnicas para educação: equipamento e material pedagógico para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: recursos pedagógicos adaptados. Brasília: MEC: SEESP, 2002. fascículo 1. MARTÍN, M. C.; JÁUREGUI; M. V. G.; LÓPEZ, M. L. S. Incapacidade motora: orientações para adaptar a escola. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2004. MARTINS, L. A. R. Formação de professores numa perspectiva inclusiva: algumas constatações. In: MANZINI, E. J. (Org.). Inclusão e Acessibilidade. Marília: APPEE. 2006. p. 17 – 28. REAL, L. M.; PARKER, R. A.; Metodologia de pesquisa: do planejamento a execução. Tradução de Nivaldo Montingelli Jr. São Paulo: Pioneira, 2000. REGANHAN, W. G. Recursos e estratégias para o ensino de aluno com deficiência: percepção de professores. 2006. 216f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2006. SANKAKO, A. N.; OLIVEIRA, F.T.; MANZINI, E. J. Protocolo para avaliação de habilidades motoras para adaptar recursos pedagógicos. In: MANZINI, E. J. (Org.). Inclusão do aluno com deficiência na escola: os desafios continuam. 1 ed. Marília: ABEPEE/FAPESP, 2007, v.1, p. 139 – 152 SILVA, A. N. Estratégias de mediação em atividade de reconto de histórias com alunos não oralizados. 2008, 78f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2009. 1186 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X SILVA, D. B. R. Avaliação das atividades de crianças com paralisia cerebral na escola regular: participação, níveis de auxílio e desempenho. 2007, 116f. Dissertação (Mestrado em Educação Especial) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2007. SOUZA, A. M.C. Definição de paralisia cerebral. Resenha de: International Workshop on Definiton and Classification of Cerebral Palsy. Bethesda, Mariland. In: Arquivos Brasileiros de Paralisia Cerebral, v.1(3). p. 50-52, 2005. SOUZA, P. A. Aspectos motivacionais na reabilitação da paralisia cerebral. In: LIMA; C. L. A.; FONSECA, L. F. Paralisia cerebral: neurologia, ortopedia e reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p. 211 – 219. 1187