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ALFABETIZAÇÃO SOLIDÁRIA: UM PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
HUMANO
Mônica Maria Teixeira Figueirol
Joaquim de Medeiros Neto
Maria Onide Ballan Sardinha
UNOPAR – Universidade Norte do Paraná
RESUMO
O presente artigo aborda uma síntese do trabalho, que um grupo de educadores da
UNOPAR – Universidade Norte do Paraná, vem desenvolvendo desde 1998, na área social,
mais especificamente, na alfabetização de jovens e adultos, envolvendo milhares de pessoas
do Nordeste brasileiro. Trata-se de uma análise do Programa Alfabetização Solidária gerenciado por uma organização não governamental, sem fins lucrativos e de utilidade
pública - ressaltando os fatores positivos, negativos, avanços e dificuldades dessa ação, que
é geradora de inúmeros projetos da Instituição e, tem promovido por meio de várias ações,
que o Programa motivou, a inclusão de milhares de brasileiros, no processo educacional e
conseqüentemente
no
processo
social,
promovendo
a
elevação
do
índice
do
desenvolvimento humano naquela região. A forma como vem se desenvolvendo e as
estratégias adotadas na sua trajetória, pelas Instituições envolvidas, fizeram com que
cidadãos de 2.010 municípios que o Programa atende, se beneficiem, de diferentes maneiras
das ações, que seus diferentes parceiros lhes possibilitam.
INTRODUÇÃO
Os problemas sociais como analfabetismo, desescolarização, desemprego ou subemprego,
vem se constituindo objeto de análise e pesquisa de educadores e profissionais ligados a
área de Ciências Sociais, considerando que se faz uma relação desses com o
desenvolvimento individual e social e, um problema tem repercutido como causa e ao
mesmo tempo conseqüência, no universo de contradições existentes na atual sociedade
brasileira.
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Por um lado se vislumbra a possibilidade cada vez maior de acesso aos bens culturais e
sociais, que a humanidade já constituiu, disponíveis por meio de diferentes fontes e canais
que viabilizam o aprender. Por outro o aumento das desigualdades entre aqueles que estão e
os que não estão inseridos nesse processo. Os motivos que levam a essa exclusão estão
ligados a determinantes sociais, culturais, políticos e econômicos que promovem um baixo
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.
Considerando que o analfabetismo é fator de exclusão social, já se percebe que está havendo
um esforço, por parte de organismos nacionais e internacionais, ONGs, setores organizados
da sociedade civil, no sentido de implementar ações, para tentar minimizar o fosso e as
barreiras existentes, (ligadas a esse e outros fatores), contribuindo com programas de
inclusão social.
A UNOPAR quis, enquanto instituição, contribuir para minimizar esses distanciamentos
sociais, considerando que o não domínio da leitura e da escrita (ferramenta fundamental
para a construção e apropriação do conhecimento) é fator determinante de exclusão, pois
segundo Delors (1996) em relatório a UNESCO, mostra que a grande tendência desse
século é a busca pela formação continuada e, o que pode ser observado tanto em países
desenvolvidos como em desenvolvimento, que quanto mais formado se é mais desejo se tem
de formação.
É por isso, que o aumento de escolarização de jovens, os progressos da alfabetização e o
novo impulso dado à educação básica no Brasil deixam antever um aumento cada vez maior
pela procura da educação de adultos, na sociedade.
Medeiros e Barbosa (2001), lembram que a educação na atualidade é indispensável para
melhorar a qualidade e competitividade nos setores produtivos, ampliar as condições de
empregabilidade do trabalhador e fortalecer a cidadania. Assim, investir na educação,
através de programas sociais é estar caminhando rumo a inclusão social.
Alfabetização de Jovens e Adultos: um processo permanente de desenvolvimento
humano
Movidos pelo desejo de inserção da Unopar na proposta do Programa Alfabetização
Solidária, objetivando transformar o “solitário” analfabeto no solidário cidadão, capaz de
assumir sua existência no mundo de hoje, de forma mais adequada e compatível com as
exigências, que se colocam na vida contemporânea, a Coordenação do Curso de Pedagogia
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assumiu o compromisso com outros parceiros do programa, de sua efetivação no município
de José da Penha – RN, no início de 1998.
Os princípios norteadores apresentados pelo documento do Programa Alfabetização
Solidária (1999) e que definiu metas e serviu de base na organização do trabalho desde seu
início podem ser destacados: a urgente necessidade da população com pouca ou nenhuma
escolaridade, ter a oportunidade de se alfabetizar como condição de inserção no mundo
globalizado, que exige de cada sujeito, habilidades não antes solicitadas; o respeito pelo
saber do aluno jovem e adulto, como possibilidade de acesso às diversas áreas do
conhecimento articulado com as práticas sociais, que podem contribuir para a ampliação da
cidadania; a reflexão para a formação dos professores contemplando uma revisão das
concepções de ensino-aprendizagem, que considere cada alfabetizando como um ser capaz,
pensante e já inserido no processo de trabalho e nas práticas sociais.
Mantendo o saber tradicional que não precisa ser reinventado, conforme escrevem Barbosa
e Medeiros (2001), cabe às universidades renovar conhecimento para se posicionar diante
do século XXI com a excelência que lhes deve ser inerente, e com a responsabilidade social
que marca o sentido primordial da educação. Nesta reflexão se insere a questão da
alfabetização, que para o Brasil se reveste de profunda importância não só para o presente
como para o futuro da Nação.
Esse Projeto teve início na UNOPAR em agosto de 1998, em parceria com o MEC, no
município de José da Penha, no Rio Grande do Norte, seguindo as diretrizes do Programa
Alfabetização Solidária, e teve como meta não só a codificação e decodificação da
linguagem por meio da alfabetização, mas motivar e estimular a participação dos jovens,
adultos e idosos daquele município do agreste nordestino, inseridos na alfabetização
solidária a dar continuidade aos estudos integrando-se nos ciclos regulares do ensino
fundamental, possibilitando-lhes a inserção na rede de ensino municipal e estadual. Além
disso, procurou desencadear o processo de qualificação profissional e possibilitar o
exercício de cidadania dos mesmos, na sociedade em que vivem. Para isso, foi preciso
contar com a participação voluntária de docentes, acadêmicos e funcionários da IES,
oportunizando o estudo de metodologias contextualizadas de ensino, voltadas para jovens e
adultos, através da interdisciplinaridade dos conteúdos numa nova visão do ensinar e
aprender.
Para o desencadeamento do projeto, foram realizadas: observação da realidade social,
teorização, busca de hipóteses de solução e, posteriormente, aplicação dos recursos
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levantados na elaboração do programa a ser desenvolvido nos cursos de formação de
alfabetizadores.
No percurso desse trabalho pode-se armazenar um respeitável banco de dados quantitativos,
com qual pode-se avaliar o grau de interferência produzido por este trabalho, no sentido de
alterar a realidade do município e implementar o índice de desenvolvimento humano e
qualidade de vida dos alfabetizandos atendidos.
Com uma análise mais crítica, é possível constatar que o analfabetismo não será superado
apenas com medidas paliativas, mas com efetivos investimentos do poder público, de
organizações não governamentais de IES, para a partir do processo de alfabetização dar
prosseguimento a educação formal dessa parcela tão significativa da sociedade. Assim, uma
das preocupações dos educadores e dos envolvidos diretamente com o programa foi o de
assegurar a continuidade de uma ação educadora, que realmente seja fundamental no
processo educativo em sua totalidade, objetivando a criação de mecanismos ágeis e
democráticos de promoção e integração social dos envolvidos. Dessa forma, a Universidade
estará sendo difusora e produtora de conhecimentos.
Na verdade, a educação de jovens e adultos pode ser considerada o grande desafio imposto
hoje aos governantes, que precisam possibilitar as condições de oferta a essa grande camada
da sociedade. Sem acesso aos rudimentos da leitura e cálculo, indispensáveis no contexto
mundial ela fica à margem do processo de desenvolvimento social. Desafio também ao
educador que deve ter a competência quase mágica de ligar dois universos absolutamente
distintos, porque existem concomitantes: globalização, mercado de trabalho, tecnologias
avançadas, progresso científico, convivendo com a pobreza, violência, desemprego e
exclusão social. Para as universidades e docentes envolvidos no Programa Alfabetização
Solidária o objetivo de vencer começa por este desafio.
Analfabetismo : um indicador de exclusão
Analisando a sociedade atual constata-se que as distâncias se reduziram, “são virtuais”, não
há mais barreiras físicas para a informação, o conhecimento, o intercâmbio cultural; os
avanços tecnológicos possibilitaram desvendar enigmas seculares, nas várias áreas da vida
humana e social; a democracia atingiu a quase maioria dos países e é requisito de
legitimidade internacional. No entanto por um outro lado os efeitos perversos desses
processos são danosos, entre esses a exclusão social. De acordo com Wanderley (2002),esse
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termo exprime um conceito tão amplo como uma espécie de palavra-mãe, que abriga vários
significados para reunir pessoas e grupos sociais que são abandonados, desafiados, deixados
de lado, desqualificados, quer do mercado de trabalho, quer das políticas sociais e, por outro
lado um conceito não muito entendido e até um tanto equivocado uma vez, que quando se
fala em exclusão, muitos já pensam nos portadores de necessidade especial, como se apenas
esses são vítimas nesse processo. Alguns a consideram como um novo paradigma em
construção .
A exclusão pode ser analisada, em nossas sociedades contemporâneas ,de acordo com Véras
(2002 ), como uma nova manifestação da questão social. A pobreza e a exclusão no Brasil
são faces de uma mesma moeda. Percebe-se, que a desigualdade social, econômica e
política tem inviabilizado a democratização da sociedade. No país a discriminação é
econômica, cultural e política, além de étnica. É a exclusão social e não pessoal, que passa
pela: discriminação; segregação; subalternidade;
isolamento;
não equidade;
não
acessibilidade aos bens sociais e culturais( entre esses a alfabetização) e, pela não
representabilidade pública. Ela é um fenômeno multidimensional, que atinge os clássicos
pobres (indigentes, subnutridos, como outros segmentos da população, os deficientes, os
analfabetos). “Não são
considerados excluídos não só aqueles os rejeitados física,
geográfica ou materialmente, do mercado e de suas trocas, mas de todas as riquezas sociais
e espirituais, seus valores não são reconhecidos, ou seja há também uma exclusão
cultural”.(Wanderley, 2002, p. 17).
A desqualificação está entre os efeitos desse modelo social que impede o desenvolvimento
humano. Ela está relacionada com a falta de políticas públicas, indispensáveis à regulação
do vínculo social como garantia de coesão e de mudanças significativas, no panorama dos
problemas brasileiros.
O analfabetismo é considerado um dos fatores mais determinantes da exclusão, no qual
estão envolvidos 1/5 da população mundial e 119.533.048 brasileiros na faixa etária de 15
anos ou mais,segundo dados do INEP (2003), cujas conseqüências segundo Sawaia (2002)
são: desqualificação, desinserção, desafiliação e apartação social. Esta última considerada
por Cristóvão Buarque (2002), aquelas pessoas que ficam “à parte”, separados de seus
demais na sociedade.
A questão da inclusão social, via alfabetização de jovens e adultos, tem sensibilizado
educadores a se integrar com outros parceiros, para construir elos nessa corrente solidária,
planejada e voluntária, em benefício desses milhares de analfabetos e excluídos dos
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benefícios do letramento. Para isso fez-se necessário adotar mais que uma medida paliativa
de cunho meramente politiqueiro (como já havia acontecido em outros programas de
alfabetização de adultos, cujo objetivo era a promoção do domínio mecânico de leitura e
escrita), mas como algo que superasse esse caráter.
Com o Programa, desde seu inicio, em 1998, foram capacitados inúmeros professores, dos
quais vários repetiram a participação nos cursos de capacitação com a oportunidade de
conhecer e interagir com outras realidades (uma vez que os cursos são realizados na
Universidade) e ter um olhar mais crítico sobre o contexto no qual atuam.
Numa região, cujas possibilidades de escolarização eram ínfimas, pelas dificuldades de
diferentes natureza que “aquele povo” enfrenta , pode se considerar uma conquista, apenas
uma instituição parceira conseguir alfabetizar 2.994 jovens e adultos, matriculados nos
módulos realizados. Mesmo, com as inúmeras dificuldades, muitos ingressaram em turmas
de escolarização de adultos e concluíram a primeira etapa do Ensino Fundamental e,a
maioria ,nunca havia freqüentado a escola anteriormente. É notória a alegria que sentem de
poder concretizar um sonho: o de aprender a ler e a escrever e mesmo de poder se sentir
encorajados para continuar seus estudos.
Um dos pontos positivo, que aconteceu através desse Programa, foi o envolvimento de
professores de vários cursos da IES(Instituição de Ensino Superior) para a capacitação dos
alfabetizadores, permitindo um trabalho interdisciplinar entre os vários departamentos ,com
valiosas trocas de informações e aprofundamento de conhecimentos como também
a
participação de alguns professores convidados, pertencentes à comunidade externa.
Dentre as características do Programa merece destaque as visitas de avaliações mensais
realizadas no Município de José da Penha, para acompanhamento e assessoramento aos
alfabetizadores, nas quais estão envolvidos vários professores, muitos destes estiveram no
Município por mais de uma vez e atuaram várias vezes nos cursos de capacitação realizados.
Foi durante essas visitas que se detectou que muitos alunos não estavam tendo o
desenvolvimento esperado no processo de aprendizagem por possuírem uma visão
insuficiente que poderia ser corrigida com o uso de óculos e, para minimizar esse problema
foram realizadas outras parcerias para suprir essa necessidade. Foi também através desse
acompanhamento que se mobilizou a população a participar do Programa, que trouxe
inúmeros benefícios para essa comunidade. Cabe destacar que quando iniciou as aulas no
município, poucas salas de aula possuíam luz elétrica, pois funcionava com iluminação
precária de um lampião a gás e, atualmente, todas possuem a iluminação adequada.
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Um outro ponto positivo ocorrido foi a participação e envolvimento de acadêmicos de
diferentes cursos, principalmente na capacitação dos alfabetizadores que tiveram a
oportunidade de interação com a realidade da EJA(Educação de Jovens e Adultos),
aprimorar conhecimentos e mesmo de participar das visita de Acompanhamento e Avaliação
do Programa Alfabetização Solidária..
Um outro fator que pode se considerar relevante para a Instituição é que esta ação solidária
desencadeou outras que acabou por beneficiar os jovens e adultos envolvidos no processo
de alfabetização como também a comunidade de um modo geral. Pode-se aqui citar o
Projeto BIBLOS que arrecada, todos os anos, milhares de livros com o envolvimento de
toda a comunidade interna e externa e doa às escolas cujo acervo é pequeno ou inexistente.
A Biblioteca do município atendido foi constituída por esse projeto e, é o único local que a
região dispõe para consultas bibliográficas.
Nessa corrente para elevação do
índice de desenvolvimento humano é necessário
sensibilizar outras parcelas da sociedade a considerar que esta é uma questão social e, que a
educação de jovens e adultos, para se efetivar, historicamente necessitou do apoio da
sociedade civil, considerando os parcos recursos de que sempre dispôs. A Alfabetização
Solidária se não tivesse desde o início contado com as parcerias de que dispõe não teria
conquistado os resultados que conquistou: incluir milhares de pessoas em todo o país .
Perfil da População Atendida
Ao analisar a população de Jovens e Adultos, que participam do Programa Alfabetização
Solidária, verificamos que na sua maioria são pessoas que vivem de subemprego, buscando
trabalhos eventuais, conforme demanda da comunidade onde vivem, dedicando-se a
profissões que não exigem uma formação específica, relacionadas às atividades agrícolas. A
renda familiar é insuficiente para atender às necessidades básicas de alimentação,
vestuários, recorrendo ao atendimento público para buscar recursos na área da saúde e
alimentação. Poucos tiveram a oportunidade de escolarização básica, quando crianças, por
se dedicarem ao trabalho que procuram evitar que aconteça com seus filhos.
Muitos pais, mães e avós vão para as aulas noturnas de alfabetização em companhia de
filhos ou netos que já freqüentam o ensino fundamental em outras escolas. Isso acontece por
motivos diversos entre eles, por não terem com quem ficar em casa à noite e para
aproveitarem o tempo enquanto os pais estudam e reforçar algumas aprendizagens. É
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comum encontrar filhos os netos procurando ajudar os adultos a entenderem as tarefas
propostas pelos alfabetizadores.
Nem todos residem próximo à escola, muitos caminham até dois ou mais quilômetros todas
as noites para assistirem as aulas, depois de um dia de trabalho que exigiu deles esforço
físico e braçal, expostos ao sol e ao calor, muitas vezes insuportável e alimentados
inadequadamente por alimentos que não favorecem a reposição das energias consumidas.
Esse quadro é significativo ser caracterizado para que possamos entender em que condições
chegam às salas de aula.
No início do Programa, muitas salas foram improvisadas utilizando-se das dependências de
casas não ocupadas (com carteiras cedidas pelo Departamento Municipal), com quadro
negro e iluminação improvisados, realidade que foi sendo modificada no decorrer do
Programa.
A merenda era subsidiada por repasse de verbas federal, bem como o material escolar,
sendo este constituído de cadernos, lápis, livros didáticos para o aluno e para o alfabetizador
e alguns materiais complementares (cartolina, lápis de cor, cola, régua e outros).
As turmas eram formadas por no máximo 20 alunos, sendo eles novos que nunca
freqüentaram o programa ou egresso de etapas anteriores. Poucos demonstravam não
possuírem alguns conhecimentos básicos do cotidiano como por exemplo reconhecimento e
grafia de números e sabiam realizar operações matemáticas e cálculos mentais por
estimativas.
A maioria dos alunos encontrava maior dificuldade na escrita em situações espontâneas de
produção de texto. Um número significativo reconhecia o alfabeto porém não compreendia
a constituição do sistema de escrita e não conseguia o traçado das letras uma das maiores
dificuldades apresentadas por exigência de habilidade motora fina, que não desenvolviam
nas suas atividades práticas extra-classe.
Sempre no início de cada etapa muitos alunos apresentavam-se inibidos e com uma autoestima baixa, desacreditando na possibilidade de aprender. Solicitavam pouca ajuda do
educador, percebendo-se certa desmotivação para realizar o que era proposto. O ritmo lento
e as exigências que faziam a eles, mesmo com relação “a dar conta do que era proposto”,
aos poucos os levavam a pedir aos alfabetizadores que “passassem tarefas” a través das quais
pudessem apresentar melhor desempenho como: escrita do nome, números, operações.
Essas situações exigiam do educador uma flexibilidade no plano de aula: atendimentos
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individualizados e organização de monitoria espontâneas eram presenciadas em quase todas
as turmas.
Outro aspecto significativo que pode ser verificado era a necessidade da aprovação do
educador para cada atividade que desenvolviam. Pediam que verificassem o que foi feito e,
em alguns casos dependiam da permanência do educador ao lado da carteira, solicitando
pistas para que pudessem fazer o que era proposto.
Pode-se constatar a importância da motivação durante os trabalhos para que não desistissem
de procurar meios, que pudessem favorecer a superação das dificuldades que apresentavam.
Percebeu-se que havia uma cobrança excessiva de cada aluno para que aprendesse rápido,
talvez por fazerem comparações com o que já sabiam seus filhos e o que eles como adultos
não conseguiam compreender.
Era expressiva a ênfase dada ao erro, o medo de errar levava muitos a não demonstrar o que
sabiam, isso dificultava a exploração de escritas espontâneas, sendo de início mais
estimulador quando se propunha discussões sobre assuntos variados e, a partir dessas
conversas colocar atividades no quadro para que copiassem.
A interação entre os alunos favorecia apoio mútuo e melhor compreensão do que deveriam
realizar. Por ocasião das muitas visitas às salas de aula verificamos que num primeiro
momento pareciam envergonhar-se de fazer alguma atividade que pedíamos, porém
apresentavam o caderno com os trabalhos realizados e após alguns incentivos, adequações e
acompanhamento o que pedimos era por eles, realizado.
Todos esse contexto nos remete a algumas constatações:
- o vínculo estabelecido entre educador e os educandos é fator muito importante para a
aprendizagem. Sempre quando terminava uma etapa (após 5 meses) os alunos pediam que
fosse mantido o mesmo professor para dar aulas na etapa subseqüente;
- os educadores que permaneciam no programa em duas ou mais etapas, faziam
normalmente a capacitação e tinham, um melhor aproveitamento, discutiam suas práticas e
solicitavam dos docentes possibilidades de outros encaminhamentos, para superação das
dificuldades encontradas.
- os cursos de capacitação foram se reestruturando, procurando alternativas que pudessem
cada vez mais articular os aspectos teóricos e a prática, conhecendo a realidade dos
educadores e dos alunos.
- havia envolvimento efetivo das acadêmicas do curso de Pedagogia enquanto participantes
e monitoras nos cursos de capacitação.
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Para atender alguns aspectos diferenciados buscou-se apoio de docentes de outros cursos.
Por outro lado procuramos interpretar alguns problemas que sempre nos preocuparam.
- A evasão: mesmo tentando explicar porque muitos alunos desistiam do programa e
buscando alternativas que pudessem evitar essas perdas, o índice de desistência foi
considerado alto. Muitos deles justificavam: motivo de mudança em busca de outro
trabalho; por doença na família; por não terem com quem deixar os filhos à noite e ainda
um número significativo que informou estar desmotivado para aprender.
- A substituição do alfabetizador a cada 5 meses como um dos critérios estabelecido pelo
programa, parecia desestimular alfabetizadores e alunos.
- A baixa remuneração dos alfabetizadores, o atraso no recebimento do salário e as
dificuldades que enfrentavam para desenvolver o trabalho, muitas vezes precisando preparar
a merenda, além de dar aulas ou ter outro emprego para complementação salarial durante o
dia, a locomoção até a escola e a própria docência (aprender a “dar a aula”), pois a maioria
não tinha o ensino médio completo, eram alguns entraves que interferiam na permanência
do alfabetizador no projeto.
O que ficou evidenciado é que, um ensino com limitações, de forma acrítica (pelo próprio
contexto do educador), não tem muito significado para o alfabetizando, uma vez que o
aprender a ler (decodificar) e escrever (codificar) não assegura a construção de um saber que
favorece melhor conhecimento de mundo; e não possibilita ao aluno transformar-se em
sujeito de sua própria história. Pode-se, atender a algumas necessidades “adaptando -o
melhor à comunidade mas não dá garantia de sua inserção política, capaz de ser partícipe de
lutas para a construção de identidade e autonomia”.
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