EPICONDILITE LATERAL DO COTOVELO Philipe Eduardo Carvalho Maia1, Antônio Severo2, Marcelo Lemos3, Paulo Piluski4, Carlos Castillo5, Osvandré Lech6 INTRODUÇÃO “A etiologia da epicondilite lateral é variada, a mais comum de dor no cotovelo vista sua patologia obscura e sua cura incerta”. A nos consultórios de ortopedia. A patologia afirmação foi feita por Kellogg Speed em 1923(1), foi descrita pela primeira vez na literatura mas permanece, de certa forma, atual. germânica por Runge, em 1873.(2,3,4,5) Em 1882, Ainda existem inúmeras controvérsias a respeito Morris descreveu uma condição dolorosa vista desta patologia, desde a correta nomenclatura, sua em jogadores de tênis, a qual denominou de verdadeira etiologia e fisiopatologia até a melhor “lawn tennis arm”.(6) Major, em 1883, sugeriu a forma de tratamento. Diversas modalidades associação entre epicondilite lateral e jogadores terapêuticas conservadoras e variadas técnicas de tênis de grama, condição denominada cirúrgicas têm sido empregadas no seu tratamento, e conhecida desde então como “tennis com resultados muitas vezes incertos. elbow”(cotovelo de tenista). Epicondilite A epicondilite lateral do cotovelo é causa lateral ou cotovelo do tenista são termos que 1 Ortopedista e Traumatologista, Cirurgião de mão e microcirurgia reconstrutiva, instrutor de residência médica Hospital Mater Dei Belo Horizonte-MG 2 Ortopedista e Cirurgião de Mão. Preceptor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia, (IOT) e Hospital Universitário São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS. 3 Ortopedista e Cirurgião de Mão. Preceptor do Instituto de Ortopedia e Traumatologia, (IOT) e Hospital Universitário São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS 4 Preceptor da residência médica do Instituto de Ortopedia e Traumatologia, (IOT) e Hospital Universitário São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS 5 Especializando em cirurgia do ombro e cotovelo, Instituto de Ortopedia e Traumatologia, (IOT) e Hospital Universitário São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS 6 Chefe do Serviço de Ortopedia e da Cirurgia da Mão, Instituto de Ortopedia e Traumatologia, (IOT) e Hospital Universitário São Vicente de Paulo, Passo Fundo, RS. Ex-Presidente da SBCMão. Membro do Corpo Editorial da Revista Brasileira de Ortopedia (RBO), do Bone and Joint Journal, da Acta Ortopédica Brasileira 1 têm sido aceitos e utilizados para descrever sintomas é relativamente incidioso. Geralmente uma síndrome dolorosa localizada na região são trabalhadores que exercem atividades de do epicôndilo lateral, origem do supinador repetição. Ocorre igualmente entre os sexos, do antebraço, extensores do punho e dos sendo mais frequente em brancos. dedos. Apesar de ter se tornado termo clássico, epicondilite é uma designação que não reflete a realidade fisiopatológica da doença, uma vez ANATOMIA que não foi encontrado, nos diversos estudos O epicôndilo lateral é a parte óssea mais até então realizados, qualquer evidência de proeminente no aspecto lateral do cotovelo, processo inflamatório, como veremos adiante. sendo sítio de origem de vários músculos Do mesmo modo, o termo “cotovelo do tenista” e do ligamento colateral lateral. A origem não reflete a incidência clínica da entidade, já que do extensor radial curto do carpo localiza- acomete principalmente trabalhadores na quarta se no aspecto anterior do epicôndilo lateral, e quinta décadas de vida, e não somente tenistas. profundamente à origem do extensor comum Vários autores acreditam haver dois grupos dos dedos e inferior à origem do extensor distintos de pacientes com a patologia. Um radial longo do carpo. As origens do ligamento grupo formado por pacientes jovens, atletas e colatateral lateral, do extensor radial curto do que praticam intensamente atividades como carpo, do extensor comum dos dedos e do tênis, squash e golfe, no qual o sobreuso é o fator supinador são confluentes. O extensor comum preponderante. Este grupo corresponde à cerca dos dedos origina-se numa ampla aponeurose de 5% dos pacientes. Destes, entre 10 a 50% no epicôndilo lateral e é contíguo com a apresentarão, em algum momento, um quadro extensão aponeurótica para a origem oblíqua de epicondilite. O outro grupo corresponde à do supinador. A origem do extensor radial longo do 95% dos pacientes e é representado por pessoas carpo e do braquiorradial extende-se cefalicamente entre 35 e 55 anos nas quais o início dos ao epicôndilo e não estão envolvidas na patologia. 2 O complexo dos ligamentos colateral braquial, braquiorradial e extensor radial lateral e anular é o principal estabilizador longo do carpo, sobre o capitelo e a cabeça do lateral do cotovelo. Se origina no epicôndilo rádio. Nesse nível, o nervo radial divide-se no lateral e insere-se na ulna proximal ao longo ramo sensitivo superficial e no ramo motor das fibras coalescentes do ligamento anular, ao profundo. redor da cabeça do rádio. Em 55% dos casos sob uma banda fibrosa na borda proximal apresenta-se bifurcado, com um feixe com do músculo supinador, denominada arcada fibras longitudinais que se inserem ao nível da de Frohse e penetra entre as duas cabeças do cabeça do rádio e um segundo feixe oblíquo supinador, em direção ao dorso do antebraço, que se insere mais distalmente ao longo da no qual passa a se chamar nervo interósseo ulna. Os restritores secundários laterais do posterior. Neste local pode ser comprimido cotovelo são os músculos extensores e com e ocasionar dor até a região do epicôndilo, suas fáscias e septo intermuscular. A chave para gerando muitas vezes confusão no diagnóstico a localização anatômica precisa do epicôndilo de epicondilite. Também pode ocorrer associação lateral é a palpação do ligamento colateral entre as duas patologias. O ramo motor profundo passa lateral. Esta estrutura divide o cotovelo lateral em porções anterior e posterior. É FISIOPATOLOGIA extremamente importante não desestabilizar o cotovelo por secção inadvertida do ligamento durante o procedimento cirúrgico. Isto têm sido apontado como uma causa de falha do tratamento cirúrgico. No aspecto neurológico é importante lembrar que o nervo radial cruza o antebraço por um sulco formado entre os músculos Um amplo espectro de teorias quanto a fisiopatologia da epicondilite lateral do cotovelo foram propostas. Em 1922, Osgood sugeriu que uma inflamação da bursa rádio umeral seria a causa primária. Uma sinovite do cotovelo foi descrita por Trethowan, em 1929. Cyriax, em 1932, afirmou ser uma lesão ao tendão do extensor radial curto do carpo, na 3 sua origem no epicôndilo lateral, a causa da dor. patologias, como ruptura do tendão calcâneo, Inflamação do ligamento anular decorrente do supra-espinhoso, tendinite de DeQuervain de trauma foi proposto por Bosworth, em e sindrome do túnel do carpo. Denominou 1955. Kaplan, em 1959, acreditava que uma este quadro de “síndrome mesenquimal”. compressão dos ramos pericapsulares do A teoria aceita atualmente foi descrita por nervo radial ocasionava os sintomas. Periostite Nirschl e Pettrone, em 1979. Definiram que traumática na origem do extensor radial curto a condição patológica envolvia a origem do do carpo, ocasionada por repetidas extensões extensor radial curto do carpo e, em menor grau, do punho e supinação do antebraço, foi a porção antero-medial do extensor comum teorizada por Garden, em 1961. Contudo, dos dedos. A lesão seria resultado da aplicação a primeira investigação extensa e detalhada de tração contínua por repetição, resultando acerca da causa da patologia foi realizada em microrupturas da origem do extensor radial por Goldie, em 1964. Através de estudos curto do carpo seguido de fibrose e tecido de patológicos descreveu o problema como um granulação. Macroscopicamente processo inflamatório do extensor radial cuto apresenta-se com aspecto friável, brilhante e do carpo e do extensor comum dos dedos. edematoso. A análise microscópica mostrou Caracterizou o processo de inflamação pela interrupção do tendão normal por invasão presença de hipervascularização da aponeurose de fibrobrastos e tecido vascular anormal em dos extensores, tecido de granulação, edema e desenvolvimento, dando origem ao termo invasão celular da aponeurose, além de tecido “hiperplasia angiofibroblástica”. Notaram que a aureolar frouxo no espaço subtendinoso. anormalidade no tendão era degenerativa e não o tecido Em 1968, Nirschl observou que existia um inflamatória. Recomendaram, então o termo grupo de pacientes que apresentavam certo “tendinose” em substituição à “tendinite” ou comprometimento do tecido conjuntivo, “epicondilite”. Esta terminologia é descritiva e representado reflete a preponderância de uma vascularização clinicamente por múltiplas 4 precária e de fibroblastos em um tendão em com contribuições do ramo posterior da artéria degeneração por sobreuso. Vários estudos seguintes colateral radial e uma menor contribuição da confirmaram os achados de Nirschl e Pettrone. artéria recorrente interóssea. Apesar de haver ausência uma rica vascularização na superfície externa, de processo inflamatório e uma alteração nenhuma vascularização foi encontrada na mesenquimal acometendo o tendão na superfície interna do tendão, sugerindo uma sua origem. Ainda, encontraram alguma possível zona hipovascular tecidual. Sugerem calcificação e formação óssea reativa, o que seria estudos microscópicos para confirmar esta uma tentativa de reparação da lesão. Também observação. Uhthoff e Sarkar observaram demonstraram que há muitas terminações Kraushar e Nirschl, em 1999, definiram nervosas livres na origem do tendão e que estas a poderiam ser alteradas com a lesão. A respeito utilizando microscopia eletrônica e análise da vascularização, acreditam que o aporte imunohistoquímica. A origem do tendão extensor sanguíneo para a origem do tendão é limitado e radial curto do carpo de 9 pacientes submetidos à que diminuiria com a idade e com o sobreuso, ressecção cirúrgica foram analisados e comparados isto é, a capacidade de regeneração celular e a com tecido da mesma região anatômica redução do suprimento sanguíneo diminuiria de cadáveres. Todos os tecidos ressecados gradualmente ultrapassando o limite necessário cirurgicamente demonstraram alterações, o que para preparar a origem muscular para uma não foi observado nos espécimes de cadáveres. Estes próxima atividade. estudos definiram claramente áreas de ruptura do histopatologia com detalhes precisos, Masquelet e Schneeberger, através do estudo colágeno, presença de miofibroblastos e elementos macroscópico da vascularização arterial do vasculares anormais, sugerindo um inadequado tendão proximal do extensor radial curto do suprimento sanguíneo para a região. Este estudo carpo, concluíram que o suprimento arterial reforça as primeiras observações deste autor, principal provém da artéria recorrente radial sugerindo que a degeneração tecidual e a falha 5 no processo de reparação, e não um processo persistente. Agrava-se por pequenos movimentos inflamatório, são responsáveis pela patologia. do cotovelo e pode mesmo impedir a realização Os estudos de Ljung et al confirmam de atividades diárias comuns, tais como abrir uma as alterações morfológicas encontradas no porta, escovar os dentes, escrever ou fazer a barba. extensor radial curto do carpo. Ao exame físico, o paciente apresenta Boyer e Hasting questionam se as alterações uma dor localizada à palpação da origem dos encontradas nos trabalhos até então publicados extensores, muitas vezes determinando com não seriam decorrentes do tratamento previamente precisão um ponto máximo de dor anterior instituído, argumentando ser difícil crer que e distal ao epicôndilo. O teste de Cozen tais tratamentos não provoquem alterações reproduz a dor experimentada pelo paciente, microscópicas. Baseiam seus argumentos no fato que ao realizar a extensão do punho contra a de que nenhum estudo examinou casos com resistência e com o cotovelo em 90° de flexão diagnóstico agudo, ou mesmo crônico, mas sem e o antebraço em pronação, refere dor no nenhum tratamento prévio. epicôndilo lateral. O teste de Mill é realizado com o paciente com a mão fechada, o punho QUADRO CLÍNICO em dorsiflexão e o cotovelo em extensão. O examinador então forçará o punho em Uma anamnese detalhada é a base para o flexão e o paciente é orientado para resistir ao correto diagnóstico da patologia. O paciente movimento, provocando dor no epicôndilo refere dor sobre o epicôndilo lateral, que se lateral. Coonrad afirma que dor no epicôndilo irradia ao longo dos músculos extensores. Pode lateral ao levantar uma xícara de café cheia localizar-se posteriormente ao epicôndilo. (“coffe cup test”) seria patognomônico de No grupo de atletas tem início geralmente epicondilite lateral. Gardner descreveu o “teste repentino e rápida evolução. No outro grupo, da cadeira” (“chair test”), no qual o paciente inicia-se gradualmente e torna-se intensa e é instruído a erguer uma cadeira com uma 6 mão com o antebraço em pronação e o punho Pomerance, em 2002, fez a revisão de 294 em flexão palmar. A presença de forte dor no radiografias de pacientes com diagnóstico epicôndilo lateral indicaria epicondilite. Dor de epicondilite lateral para determinar se os à extensão do dedo médio contra resistência achados influenciariam no tratamento. Foram também pode ser positivo(“Maudsley’s Test”). analisadas radiografias nas incidências antero- Em recente estudo anatômico em cadáveres, posterior, perfil e radiocapitelar. Alterações Fairbank e Corelett demonstraram que o foram encontradas em 17%, sendo a calcificação extensor comum dos dedos pode ser dividido o achado mais frequënte (7%). No entanto, em quatro partes distintas junto à sua inserção em apenas dois casos os achados radiológicos . Uma parte, que corresponde ao extensor do alteraram o tratamento inicial. Concluiu que, já dedo médio origina-se no epicôndilo lateral que a epicondilite lateral tem tratamento inicial e as outras, mais distalmente. Os resultados conservador, as radiografias são dispensáveis na sugerem que o extensor comum dos dedos, primeira consulta. especificamente sua porção correspondente ao A ultrassonografia pode demonstrar a presença de dedo médio, está implicado na patologia da fluido hipoecogênico subjacente ao tendão extensor epicondilite lateral. comum dos dedos, laceração e microrupturas do tendão, e diminuição de ecogenicidade. EXAMES COMPLEMENTARES As radiografias de rotina do cotovelo são de pouco auxílio no diagnótico da epicondilite. Apenas 22% dos pacientes podem apresentar calcificações na região correspondente à inserção dos extensores no epicôndilo lateral. Contudo, estes achados não afetam o prognóstico e podem desaparecer após o tratamento. Imagens de ressonância magnética em T2 demonstram com maior clareza estas alterações. Em estudo comparativo entre os dois métodos, Miller e colaboradores demonstraram que ambos possuem especificidade semelhante, entre 80% a 100%. Porém, a ressonância magnética tem maior sensibilidade ( 90% a 100%). Mesmo assim, é sugerido a realização 7 de ultrassonografia para uma avaliação inicial, atividades repetitivas, seja no trabalho ou no reservando a ressonância para os casos de esporte. No caso de tenistas, modificações no pacientes sintomáticos sem alterações ao exame equipamento e no modo de jogar tem sido ultrassonográfico. propostas por alguns autores, porém, melhores A eletroneuromiografia (ENMG) dinâmica estudos são necessários para comprovar sua avalia a possibilidade de compressão do nervo eficácia. Para o alívio da dor podem ser utilizados interósseo posterior, um diagnóstico diferencial analgésicos potentes. O uso de antiinflamatórios que cursa com sintomatologia na região do terço não-esteróides parece ser pouco benéfico, uma vez proximal do antebraço e pode, ainda, ocorrer que não há processo inflamatório envolvido na em associação com a epicondilite lateral. patologia. Vários tipos de imobilizações têm sido utilizadas para diminuir a força de tração na origem TRATAMENTO dos extensores. Walther e colaboradores, em estudo biomecânico, analisaram a eficiência de diferentes O tratamento da epicondilite lateral tipos de imobilizações quanto a amplitude de permanece controverso, com uma variedade aceleração e aceleração integral. Aqueles colocados de modalidades terapêuticas descritas, tanto no antebraço e punho, de forma a impedir sua conservadoras quanto cirúrgicas. extensão, mostraram-se mais eficientes. Boyer e Hastings acreditam haver pouca O tratamento fisioterápico para a epicondilite evidência científica de que qualquer forma lateral é bastante discutido. Smidt et al, em de tratamento não cirúrgico altere a história recente trabalho de revisão, afirma que, embora natural da doença, que teria resolução exista um grande número de estudos, não existe espontânea em cerca de 70% a 80% dos casos evidência suficiente de melhora da epicondilite no período de um ano. pela maioria dos métodos fisioterapêuticos, O tratamento conservador inicial baseiase no alívio da dor e repouso, com restrição das como laser, eletroterapia, reforço muscular e técnicas de alongamento. 8 Nirschl e colaboradores compararam os com a infiltração de corticóide, estes não se mantém efeitos da dexametasona e do placebo aplicados a logo prazo, tendo maior chance de recidiva. A por eletroterapia. A dexametasona mostrou-se fisioterapia mostrou resultados pouco superiores ao mais eficiente do que o placebo na aplicação grupo não tratado, tendo quase o mesmo índice de dermal por iontoforese em apenas dois dias. melhora, porém, com um custo maior. Os resultados se mantêm ao longo do tempo. Stefanov e colaboradores realizaram um estudo Haahr e Andersen realizaram estudo de randomizado com 82 pacientes os quais foram coorte, randomizado e com seguimento de um distribuídos em três grupos: grupo I receberam ano, comparando o tratamento fisioterápico 1o mg de dexametasona via iontoforese, associado ao uso de medicação com um grupo II recebeu 10 mg dexametasona por grupo controle. Após este período, cerca injeção local e grupo III recebeu injeção de de 83% dos pacientes obtiveram melhora, triancinolona local, os três grupos foram independentemente do tratamento. submetidos ao mesmo protocolo de reabilitação Smidt et al, em outro estudo, analisaram 3 fisioterápica. Na primeira avaliação os pacientes grupos. Um grupo foi submetido à infiltrações submetidos a iontoforese apresentaram melhora com corticóide, outro grupo foi tratado com estatisticamente significativa da força de torque fisioterapia e o terceiro grupo não recebeu após a reabilitação fisioterápica e o mesmo tratamento algum. Foram avaliados após 6 grupo teve maior índice de retorno ao trabalho semanas e novamente ao final de 52 semanas. sem restrições na primeira avaliação. Mas, com Em 6 semanas, o grupo I obteve 92% de o seguimento e avaliação após os 6o mês todos sucesso, o grupo II 47% e o grupo III teve os grupos apresentavam resultados semelhantes. 32% de bons resultados. Ao final de 52 Crowther e colaboradores realizaram semanas o grupo I apresentou 69% de melhora, estudo comparativo entre o uso das ondas o grupo II 91% e o grupo III teve 83% de sucesso. de choque extracorpórea e infiltrações locais Concluiram que, apesar dos bons resultados iniciais com corticóide. O grupo I recebeu uma 9 infiltração de 20mg de triancinolona com Portanto, o método mostrou-se ineficaz para o lidocaína, enquanto o grupo II foi submetido tratamento da epicondilite lateral. a 3 sessões semanais de 2000 pulsos. Em seis Wang e Chen apresentam os resultados semanas o grupo I apresentou escore de dor utilizando ondas de choque em 57 pacientes e com decréscimo de 66 para 21; e no grupo comparados a um grupo controle de 6 pacientes, II, o escore da dor passou de 61 para 35. Em com seguimento de um ano. 64% dos pacientes três meses o grupo I teve sucesso de 84%, relataram melhora total; 29% obtiveram uma enquanto o grupo II obteve apenas 60% de melhora significativa e os demais pouca ou bons resultados. Concluem que a infiltração nenhuma melhora. Consideram o método é mais efetiva e 100 vezes mais barata que a seguro e efetivo no tratamento da epicondilite. terapia de ondas de choque. Entretanto, o estudo é de uma série e com um Haake et al publicaram um estudo multicêntrico randomizado com grupo controle relativamente pequeno. 272 Outra modalidade terapêutica para a pacientes, comparando um grupo submetido epicondilite lateral é o uso da toxina botulínica. à tratamento com ondas de choque e um Keizer et al publicaram um estudo prospectivo grupo tratado com placebo. Ambos recebiam randomizado comparando o uso da toxina infiltração local com lidocaína. O grupo I botulínica com o tratamento cirúrgico pela foi submetido à terapia de ondas de choque técnica de Hohmann, em pacientes refratários extracorpórea com 2.000 pulsos em 3 sessões à outras modalidades terapêuticas. 20 pacientes semanais. O grupo II foi submetido à terapia (grupo I) foram submetidos ao tratamento com placebo. O grupo submetido a ondas de cirúrgico e outros 20 (grupoII) foram tratados choque obteve sucesso de 25,8% e no grupo com uma infiltração de toxina botulínica na placebo foi de 25,4%. Melhora do quadro foi origem dos tendões extensores. Após dois anos observada em 70% dos pacientes de ambos de seguimento os pacientes do grupo I obtiveram os grupos doze meses após o tratamento. 85% de excelentes e bons resultados e, nos pacientes 10 do grupo II, 75% de excelentes e bons resultados e o escore de Nirschl foi para 0.9. Apenas 2 foram alcançados. Consideram a infiltração com pacientes precisaram de 3 injeções, sendo que toxina botulínica um método não invasivo e com ao final o escore de Nirschl foi de 0. Após esta resultados semelhantes ao tratamento cirúrgico, técnica, 22 pacientes (79%) retornaram aos podendo ser mais uma alternativa no tratamento esforços intensos e permaneceram livres da da epicondilite, antes de se optar pelo tratamento sintomatologia. Novos estudos são necessários cirúrgico. Vale lembrar, no entanto, que existem para se comprovar a real eficácia do método. várias técnicas cirúrgicas com resultados nem sempre equivalentes entre elas. Em estudo publicado em 2010 Peerbooms e colaboradores realizaram um estudo Edwards e Calandruccio, em recente publicação, randomizado envolvendo 100 pacientes com propõe um novo método de tratamento, epicondilite lateral crônica os quais foram baseado na infiltração de 2 ml de sangue submetidos a um estudo randomizado duplo autólogo na origem do extensor radial curto do cego em que um grupo de 49 pacientes foi carpo. Partem do princípio de que a tendinose submetido a injeção local de corticoesteróide não é inflamação e sim uma degeneração por (triancinolona) e 51 pacientes foram submetidos “infarto” do cotovelo. A injeção de sangue a aplicação de plasma rico em plaquetas (PRP). autólogo poderá, então, trazer mediadores O sucesso do tratamento foi considerado celulares para induzir a cascata de cicatrização. quando houve redução de mais de 25% da Foram submetidos a este protocolo 27 pacientes dor na escala analógico visual ou do DASH refratários à diversas formas de tratamento em um ano sem reintervenção. Os pacientes conservador. O seguimento médio foi de submetidos a injeção de corticoesteróides 10 meses e foram avaliados segundo escala apresentam resultados iniciais melhores os de dor (0-10) e critérios de Nirschl. Após 1 quais foram declinando com o passar do tempo injeção o escore de Nirschl caiu de 6.5 para enquanto os pacientes submetidos ao tratamento 2.0. Nove pacientes necessitaram 2 injeções com PRP melhoraram progressivamente com 11 resultados estatisticamente significativos. músculo ancôneo para o epicôndilo. Segundo As indicações para o tratamento cirúrgico os autores, 94% dos pacientes estavam da epicondilite lateral incluem dor persistente satisfeitos com o procedimento. Recomendam e sem resposta aos métodos conservadores após a técnica para os casos de falha no tratamento um período de 6 a 12 meses. Também devem conservador ou falha de cirurgias prévias de ser excluídas outras patologias que possam ser a liberação dos extensores. causa da dor, como osteocondrites e compressão do nervo interósseo posterior. Rayan e Coray, em 2001, publicaram estudo no qual realizam osteotomia do epicôndilo e Uma enorme variedade de técnicas têm sido alongamento da origem do extensor comum descritas desde , cada qual sendo defendida pelo dos dedos através de um retalho em V-Y em 23 seu autor como sendo “a melhor” técnica. pacientes. Após a cirurgia, 95% retornaram ao Procedimentos como o de Bosworth, com trabalho. Cerca de 32% dos pacientes relataram liberação do ligamento anular, não são mais limitações em atividades de esforços intensos utilizadas, pois não atuam na patologia da e 23% apresentavam certa intolerância ao doença. Os procedimentos extra-articulares frio. Todos, porém, estavam satisfeitos com os baseiam-se na liberação dos extensores, com resultados obtidos. ou sem osteotomia do epicôndilo; fasciotomias Savoie, em 2002, apresenta seus resultados com dos a tenotomia percutânea do extensor radial curto extensores; excisão do tecido angiofibroblástico, do carpo na sua origem. A técnica foi empregada defendida por Nirschl, entre outras. Baker em 21 pacientes. Em apenas um caso houve falha introduziu a técnica artroscópica para liberação no tratamento, necessitando de nova abordagem. da origem dos extensores. Todos os outros pacientes retornaram às suas múltiplas; alongamento da origem Almquist et al, em 1998, apresentaram os atividades, com um escore de Andrews-Carson resultados da técnica de ampla ressecção da de198/200. O procedimento pode ser realizado origem dos extensores com transferência do no consultório e por um custo muito baixo. 12 Oztuna et al, em 2002, publicam a sua lesão neurológica e ligamentar. série de nove pacientes, realizando a tenotomia Smith et al, em 2002, realizaram estudos em percutânea, com oito casos de excelentes e cadáveres submetidos à técnica artroscópica e bons resultados. dissecados posteriormente. A completa ressecção Pannier e Masquelet, em 2002, apresentam do extensor radial curto do carpo e extensor estudo realizado com 16 pacientes submetidos comum dos dedos foi conseguida sem lesão do à fasciotomia profunda do extensor radial curto ligamento colateral ulnar, com manutenção da do carpo e do extensor comum dos dedos. Dois estabilidade do cotovelo. pacientes realizaram o procedimento bilateral. Estudo recente conduzido por Rose, Forman Obtiveram bons e excelentes resultados em 14 e Dellon realizou uma série de casos com 26 pacientes. Uma redução da força foi observada pacientes, 30 cotovelos, os quais apresentavam em 21,5% dos pacientes. epicondilite lateral crônica sem melhora após Baker et al, em 2000, publicam os resultados 6 meses de tratamento não cirúrgico que de 42 casos operados por técnica artroscópica. apresentaram melhora da força de torque e Os tendões extensores são desinseridos da melhora da dor após o bloqueio anestésico dos sua origem e uma escarificação é realizada no ramos posteriores no nervo cutâneo posterior epicôndilo, com o uso de “shaver”. Com a do antebraço proximal. Tais pacientes foram técnica 95 % de resultados satisfatórios foram submetidos a denervação do epicôndilo lateral obtidos e o retorno ao trabalho ocorreu em cirurgicamente cerca de dois meses. Acreditam que o método melhora do controle da dor, regressão da escala proporciona uma menor agressão muscular e analógica visual de 7,9 para 1,9 em média, ganho um retorno precoce às atividades. significativo de força de torque com o cotovelo em A maior crítica ao método é que requer violação da articulação para o tratamento de sendo obtido significativa extensão, 13kg para 24 kg em média e com 80% dos resultados considerados bons ou excelentes. uma patologia extra-articular, com riscos de 13 BIBLIOGRAFIA 1. Cohen M.S., Romeo A.A.: Lateral epicondylitis: open and arthroscopic treatment. J Am Soc Surg of Hand 1(3): 172-76, 2001. 2. Jobe F.W., Ciccoti M.G.: Lateral and medial epicondylitis of the elbow. J Am Acad Orthop Surg 2: 1-8, 1994. 3. Putnam D.M., Cohen M.: Painful conditions around the elbow. Orthop Clin North Am 30(1): 109-18, 1999. 4. Baker C.L. 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