Colostro como terapia imune oral para
promoção da saúde neonatal
Colostrum as Oral Immune Therapy to Promote Neonatal
Health
Sheila M. Gephart, PhD, RN; Michelle Weller, BSN, RN, IBCLC
Advances in Neonatal Care 2014;14:44-51
HMIB- HOSPITAL MATERNO INFANTIL DE BRASÍLIA
RESIDENTE: JULIANA FERREIRA GONÇALVES
COORDENAÇÃO: FABIANA MÁRCIA A. ALTIVO
www.paulomargotto.com.br
Brasília, 28 de abril de 2014
NEONATOLOGIA
 Nos EUA 1 a cada 8 crianças é prematura;
 Dos recém-nascidos (RN) de muito baixo peso, cerca de
30% serão vítimas de complicações neurológicas,
respiratórias e/ou do trato gastrintestinal (TGI)1;
 Complicações da prematuridade como doença crônica
pulmonar, retinopatia da prematuridade, sepse e
enterocolite necrosante são decorrentes de uma resposta
imunológica imatura e exagerada;
NEONATOLOGIA
 Para os RN em estado crítico há um tratamento
disponível que pacientes adultos não possuem: o leite da
sua própria mãe, começando com o colostro
 O colostro da própria mãe, funciona como uma terapia
imunológica que estimula o desenvolvimento e a resposta
imune neonatal2;
 Reduz
as complicações neonatais, facilitando a
progressão da alimentação enteral, especialmente se
fornecido nos primeiros dias de vida3-5;
NEONATOLOGIA
 Pode ser usado nos RN de muito baixo peso incapazes de
se alimentar, a menos que o leite materno seja
contraindicado (mães com HIV/AIDS e HTLV-1; RN com
galactosemia), lembrando que as contraindicações são
raras e controversas6;
 Os RN prematuros são altamente vulneráveis a infecções
como a enterocolite necrosante, no entanto a
implementação de medidas de prevenção pode reduzir a
sua incidência pela metade7;
NEONATOLOGIA
 Segundo
um estudo realizado em uma UTIN da
Califórnia, houve um impacto significativo sobre as taxas
de enterocolite necrosante quando a terapia imune oral
com colostro e protocolos padronizados de alimentação
foram implementados juntos8;
 A importância do leite humano no cuidado do RN de alto
risco é bem documentada e recomendada pela Academia
Americana de Pediatria, sendo o colostro o primeiro
estimulador da imunidade na infância9;
NEONATOLOGIA
 O colostro é produzido nos primeiros dias após o
nascimento quando as junções do epitélio mamário estão
abertas facilitando o transporte de componentes imunes
da circulação da mãe para o leite10;
 As mães que são incentivadas a colocar seus bebes pele a
pele (canguru) produzem leite que constitui proteção
específica para o seu bebe;ocorrem mudanças no leite
humano em resposta aos antígenos quando a mãe é
expostas a eles ou imunizadas contra eles (estes
antígenos permitem os linfócitos no seio secretem
imunoglobulinas no leite)6.
NEONATOLOGIA
Plausibilidade biológica da colostroterapia
 O leite humano possui propriedades únicas sendo elas imunológicas,
anti- infecciosas, anti-inflamatórias e protetoras de mucosas11 (p127);
 Colostro humano tem concentrações mais elevadas de IgA secretora,
fatores de crescimento, a lactoferrina, citocinas anti-inflamatórias,
oligossacarídeos, antioxidantes, e outros componentes de proteção em
comparação com o leite humano maduro
 Em um trabalho descrito por Rodrigues et al2, foi observado que o
colostro estimula o sistema imune imaturo funcionando como um
prebiótico; estimula o desenvolvimento imune através dos tecidos
linfóides da orofaringe e intestino.
 Quando a criança é alimentada por meio de sonda os benefícios
imunológicos do leite não são utilizados já que o mesmo não atuará
diretamente no tecido linfóide da mucosa orofaringe ;
NEONATOLOGIA
 Se houver absorção dos fatores imunológicos pela
cavidade oral há a diferenciação da mucosa do intestino
levando a formação de uma barreira imunológica na
mucosa intestinal;
 Quando dado na orofaringe, as citocinas do colostro da própria mãe,
interagem com as células linfóides em tecido linfóide na boca
 A lactoferrina é uma proteína importante presente em
altas concentrações no colostro; esses níveis são ainda
maiores em mães de prematuros12;
 A
lactoferrina trata-se de prebiótico com funções
antimicrobianas, anti-inflamatórias, imunomoduladoras
que se liga ao ferro impedindo seu consumo por
organismos patógenos12,13,14,15;
NEONATOLOGIA
 Alguns estudos demonstraram que a lactoferrina diminui
a incidência de infecções do trato respiratório inferior,
diminui a duração de quadros diarreicos, reduz a
gravidade de infecções pelo rotavírus e a colonização por
giardia lamblia14,16-19;
 Apesar de todos os benefícios citados, a lactação em RN
na UTI Neonatal é limitada principalmente pelo estresse
dos pais e pela dificuldade de tocar ou segurar seu
bebê20;
NEONATOLOGIA
Administração da colostroterapia oral (Tabela 1)
 A administração de colostro por via orofaringea, não é
dada como alimentação enteral e sim em pequenos
volumes os quais a criança não precisa engolir;
 Uma pequena quantidade de colostro, cerca de 0,2 ml
são colocados na cavidade oral com uma mecha de
algodão estéril ou aplicador oral;
NEONATOLOGIA
 Um cuidador, de preferência o pai, pinta suavemente o
interior da boca com colostro fresco, incluindo língua,
gengivas e área bucal;
 O colostro deve ser identificado para garantir que o RN
receba apenas o leite da mãe biológica;
 A maioria dos protocolos preconizam cuidados bucais
com leite humano a cada 3 a 4 horas;
NEONATOLOGIA
Pergunta clínica e pesquisa estratégica
 “Em RN criticamente doentes a terapia imune oral com
colostro surtiu resultados significativos (taxas de
complicações, tempo para alimentação plena, número de
interrupções de alimentações e resposta imune)
comparados aos RN com cuidados habituais?”
 Foram pesquisados artigos utilizando varias bases de
dados como CINAHL, Cochrane, PsycINFO e Pubmed
dos últimos 10 anos.
NEONATOLOGIA
 Poucos
estudos foram identificados usando essa
estratégia de pesquisa (5 estudos21-23,25,26), sendo então
incluídos resumos dissertativos indexados no ProQuest,
atas de conferência da Sociedade Internacional de
Pesquisa em Leite Humano e Aleitamento (ISRHML;
2011-2013) e Pediatric Academic Societies (PAS; 20092013) rendendo 2 relatórios adicionais de pesquisa24,27;
NEONATOLOGIA
Resultados
 No geral, o estudo foi válido apesar de algumas
limitações;
 Os estudos utilizados diferiram em alguns aspectos:
- A duração da terapia variou de 48 horas23 a 7 dias21;
- A frequência variou a cada 2, 3-4 e 4 horas;
- O número de doses diárias variou porém foi medido de
forma incompleta sendo sujeita a erros;
NEONATOLOGIA
 No geral a terapia imune oral com colostro é segura e
viável com muito baixo ou nenhum risco aos recémnascidos21,22;
 As crianças que receberam colostroterapia iniciaram a
alimentação enteral mais cedo e foram menos propensas
a ter crescimento restrito com 36 semanas de idade
gestacional pós-concepção (IGPc);
 Em um dos estudos o número de dias de nutrição
parenteral
foi
colostroterapia27;
reduzido
nos
pacientes
em
NEONATOLOGIA
 Uma pequena amostra, com baixo valor estatístico não
demonstrou diferença na incidência de enterocolite
necrosante e pneumonia associada a ventilação mecânica
(tabela 2)
Implicações para prática
 A terapia com colostroterapia parece ser segura e viável
apesar de poucos estudos concretos sobre o assunto;
NEONATOLOGIA
 Os pais parecem apreciar a terapia, se sentem mais
envolvidos com os cuidados e possuem mais tempo de
contato com o bebe28;
 É fundamental o estimulo às mães para retirada do
colostro o mais cedo possível e incentivar o fornecimento
do leite à longo prazo29;
NEONATOLOGIA
Implicações para pesquisa
 Inegavelmente há um apoio teórico e prático para essa terapia
porém é evidente que são necessários mais estudos conclusivos
com crianças vulneráveis;
 Como Rodrigues et al23 ,resultados imunes pode ser medido,
particularmente a IgAsecretora e Lactoferrina na urina;
 Houveram alguns desafios na condução desses estudos que
funcionaram como fatores de confusão;
 Acredita-se que a atribuição aleatória de crianças a um grupo
controle quando as mães desejam fornecer o colostro não seja
uma atitude ética;
NEONATOLOGIA
 Não oferecer uma terapia imunológica pode levar a riscos
de elevado custo como o desenvolvimento de sepse e
enterocolite necrosante;
 É necessário um nível de evidência mais alta para que a
colostroterapia possa ser oferecida
ampla;
de forma mais
 Novos estudos devem ser desenvolvidos identificando
grupos de comparação, divisão por idade gestacional
e/ou peso e comparar os resultados pré e pós
implementação da colostroterapia;
NEONATOLOGIA
 Nesses casos, considerar as variáveis de confusão como a
gravidade da doença e a quantidade de colostro
administrada na terapia, fortaleceria a interpretação dos
resultados;
Conclusão
 O aumento da exposição ao leite humano para neonatos
no ambiente de UTIN deve se tornar uma prática cada
vez mais comum apesar de ser um tema ainda em estudo
(tabela 3);
NEONATOLOGIA
 A
exposição precoce ao leite humano reduz
significativamente o uso de dieta parenteral, diminui o
risco de infecção e diminui o tempo de internação;
 Em um ambiente onde muitas vezes os pais tem pouco
controle direto sobre os cuidados com o seu bebe, o
fornecimento do leite materno permite uma contribuição
significativa por parte da mãe nos cuidados;
 Mais estudos serão necessários para demonstrar uma
correlação mais forte entre a colostroterapia e efeitos
imunes contra infecções em especial, a enterocolite
necrosante .
Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto
Consultem também!
Estudo piloto para determinar a segurança e viabilidade da
administração na orofaringe de colostro da própria mãe a recémnascidos de extremo baixo peso
Autor(es): Nancy A. Rodriguez, Paula P. Meier, Maureen W. Groeret et al.
Apresentação: Bárbara Lalinka de Bilbao Basilio
Você pode consultar integralmente este
artigo!Aqui e Agora!
(clique aqui!)
A pilot study to determine the safety and feasibility of
oropharyngeal administration of own mother's
colostrum to extremely low-birth-weight infants.
Rodriguez NA, Meier PP, Groer MW, Zeller JM,
Engstrom JL, Fogg L.
Adv Neonatal Care. 2010 Aug;10(4):206-12
 Este estudo é o primeiro a investigar a segurança e a
viabilidade da administração de colostro da própria mãe no
orofaringe de recém-nascidos de extremo baixo peso na UTI.
 A utilização do colostro da mãe desta maneira exige uma
mudança de pensamento, possibilitando ver o colostro como
uma potencial imunoterapia e não simplesmente como uma
alimentação.
 Como tal, a administração de colostro no orofaringe pode
ser uma alternativa complementar a dieta trófica nos
primeiros dias de vida dos recém-nascidos com peso
extremamente baixo.
 As mães estavam dispostos a participar neste estudo; 88%
das mulheres que foram abordadas concordaram em
participar deste estudo. Na verdade, muitas das mães
queriam que seus bebês
participassem e recebessem gotas de colostro, porque elas
sentiram que seria benéfico.
 Elas percebram que, de acordo com o tratamento padrão na
UTIN, uma criança com extremo baixo peso ao nascer não
iria "provar" o seu leite até pelo menos 32 semanas de idade
gestacional pós-concepção, quando são introduzidos
alimentos por via oral. As mães do estudo conheciam seus
bebês que provariam o seu colostro logo em 48 horas após o
nascimento, em oposição a 8 semanas mais tarde.
 Este protocolo também foi bem recebido pelos enfermeiros e
médicos no local da pesquisa.
 Este estudo piloto demonstrou que este protocolo para a
administração de colostro no orofaringe foi bem tolerado por
até mesmo os bebês menores e mais doentes com peso
extremamente baixo.
 A saturação de oxigênio manteve-se estável e nenhum evento
adverso ocorreu. Uma observação interessante durante o
administração de colostro no orofaríngea foi que as crianças
pareciam "provar" o colostro, como observado por sucção no tubo
orotraqueal.
 Esta observação pode ter implicações no desenvolvimento. As
mães reagiram positivamente às respostas dos seus bebês quanto
ao “provar" o colostro, uma observação que pode ter benefício
psicológico para estas mulheres.
Os dados deste estudo são limitados pelas seguintes
razões:
 Em primeiro lugar, mais de 50% da amostras de secreção traqueal
foram insuficientes em quantidade para análise. Isso levanta a questão
da viabilidade do uso de secreção traqueal em estudos futuros.
 Outra limitação deste estudo foi a falta de valores de referência para
os marcadores imunológicos em recém-nascidos de extremo baixo
peso nos primeiros dias devida, porque os valores de referência
existentes são apenas para prematuros maiores e recém-nascidos a
termo.
 Portanto, sem um valor de referência para IgA e lactoferrina,ficou
difícil determinar a adequação à linearidade dos testes
 Em resumo, os resultados deste estudo piloto mostrou que a
administração de colostro da própria mãe no orofaringe
orofaríngea é fácil, barato e bem tolerado pelos recémnascidos doentes de extremo baixo peso.
 Apesar das limitações, incluindo uma amostra pequena e
falta de dados, as informações a partir deste estudo,
particularmente em termos de recrutamento, coleta de
amostra e análise pode ser útil a orientação para futuros
estudos.
 Pesquisas futuras devem investigar as referências de
normalidade para estes marcadores imunológicos em
crianças com peso extremamente baixo e
determinar os efeitos imunes e as implicações do
desenvolvimento de bebês com peso extremamente baixo
que recebam essa intervenção.
 De particular interesse é saber que esta intervenção é fácil,
barata e pode fornecer proteção contra pneumonia pela
ventilação mecânica nos bebês de extremo baixo peso na
UTI Neonatal.
 As evidências atuais sugerem que muitos dos 130
oligossacarídeos do leite humano inibem a aderência de
bactérias a superfícies mucosas.
 Eles podem ser especialmente importantes na proteção da
área do orofaríngea e isso pode ser um mecanismo de
proteção contra pneumonia em crianças dependentes do
ventilador, quando o colostro da própria mãe é administrado
na orofaringe.Mais pesquisas se justificam nesta área .
MENSAGEM
LEITE DA PRÓPRIA MÃE CRU
PARA O SEU PRÉ-TERMO NA
UTI NEONATAL
(um trabalho diuturno
de toda a Equipe!Começa ao nascer!)
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