Ouro Preto
O Preço da Liberdade
o peso da opressão...
Texto e Foto: Marcelo JB Resende
Colaboradora: Kelly Juliane Dutra (Turismo - UFOP)
Apure os ouvidos ao andar pelas ruas de Ouro
Preto. Sem muito esforço e alguma imaginação
é possível ouvir os sussurros conspiratórios, os
ideais subversivos, as intrigas palacianas...
Os paralelepípedos cobrem um chão sagrado,
abençoado pela história. E onde há história há
interesses dicotômicos, que se chocaram
violentamente pelas ruas de Vila Rica.
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o peso da opressão...
Felipe dos Santos e Pascoal Guimarães
foram os primeiros a enfrentarem a
autoridade da Coroa. Eram mineradores e
se revoltaram contra a instalação das
Casas de Fundição e a cobrança de 20%
de todo ouro recolhido (chamado Quinto).
Detinham certa influência e mobilizaram
militares, mineradores, clero e parte do
povo. A Sedição de Vila Rica, como ficou
conhecida a revolta, foi duramente
reprimida. Pascoal foi condenado e teve
sua propriedade incendiada. A pena de
Felipe dos Santos foi mais severa:
enforcamento. Outros estudiosos alegam
que seu corpo foi amarrado a cavalos e
arrastado pelas ruas, para depois ser
esquartejado. O horror gerou um nó na
garganta que mais tarde ganharia a força
de um grito de liberdade.
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A Coroa não soube dosar a medida de sua autoridade. É
certo que não podiam ser complacentes, uma vez que
deveriam perpetuar o controle de Portugal sobre a
colônia rica e distante milhares de quilômetros. Exerciam
um controle sobre homens rudes, talhados pelas
crueldades recíprocas, ambições desmedidas e
aspereza de um lugar belo mas hostil. Também havia
aqueles que não queriam pagar imposto algum e se
aproveitavam da situação para conquistar a simpatia da
sociedade. Vila Rica não teve infância. Cresceu rápido
demais. A Coroa sabia disso: parecia prever a
efemeridade de seu poder. Era preciso ganhar o máximo
em menos tempo possível.
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O ouro vazava por todas as frestas. O contrabando faz
deduzir, com certeza quase absoluta, que muito mais
ouro foi retirado do que consta nos registros oficiais.
Muitos esconderam na fé o resultado do ardil. Igrejas
com altares suntuosos, santos do pau-oco; tudo era
permitido aos que escondiam seus ganhos. Não
demorou para que as minas demonstrassem exaustão.
Na contramão do fato, a nobreza portuguesa aumentou
os impostos, garantindo os lucros dos tempos de
opulência. Contestavam o declínio alegando o aumento
constante no número de mineradores e dos recursos
cada vez maiores empregados na atividade. Não
convenceram. Cresceu o sentimento de insatisfação.
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Por volta de 1783 a produção já
tinha caído consideravelmente e
continuava a cair. O Iluminismo e
outros pensamentos europeus
ecoaram na mente dos formadores
de opinião. Poetas, juristas, militares,
padres e até setores do poder
constituído se envolveram num
movimento libertário.
Queriam Minas livre de Portugal, queriam uma universidade,
queriam indústrias... A gota d'água era a Derrama, a cobrança
acumulada de todos os impostos atrasados, sem levar em conta
o esgotamento das minas.
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O ápice se deu em 1789, entretanto não
chegou a eclodir como o planejado. Houve
traições e a denúncia de Joaquim Silvério dos
Reis. Pessoas importantes recuaram e
negaram envolvimento. Poucos foram
condenados e entraram para a história como
"inconfidentes", um nome depreciativo. O
processo-crime, denominado "Autos da
Devassa", foi aberto.
Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, foi o único a declarar
abertamente participação. Permaneceu preso por três anos, assim
como os outros inconfidentes. Também foi o único condenado à
morte, sendo enforcado em 1792 e seu corpo esquartejado e
espalhado pelos caminhos de Minas. Os demais foram exilados na
África.
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O poeta Cláudio Manuel da Costa foi
encontrado morto na prisão. Declararam que
fora suicídio(?). A cabeça de Tiradentes foi
exposta em plena Vila Rica. Sumiu
misteriosamente e nunca foi encontrada. Seu
paradeiro suscita muitas versões, mais um
pitada de sabor nas histórias de Ouro Preto.
No local onde estivera o poste (atual praça
Tiradentes) se encontra hoje um monumento
ao Mártir. A estátua em bronze de Tiradentes
está de costas para o palácio do governador.
Desdenha da opressão do poder.
O movimento não foi em vão: o Brasil se tornaria livre três décadas
depois. Inconfidente deixou de ser xingamento; virou sinônimo de
liberdade.
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