Impactos Econômicos e Socioambientais de Grandes Hidrelétricas: A Percepção dos Atores Locais em Serra da Mesa Resumo Expandido A partir da segunda metade do século XX, o crescimento econômico brasileiro tem sido resultado de um acelerado processo de industrialização e urbanização, fundamentado, entre outros fatores, em fortes investimentos de capitais estatais e privados, na abundância de recursos naturais, na ampla oferta de mão-de-obra, e na expansão dos mercados de consumo. A viabilização desse crescimento econômico tem sido diretamente ligada à capacidade de planejamento do Estado no sentido de equipar o território com grandes obras de infraestrutura, em especial nos setores logístico e de energia. Mesmo afetado por várias crises políticas e econômicas internas e externas, o país tem realizado consideráveis esforços no sentido de induzir o rápido crescimento econômico, considerado como via para o alcance do desenvolvimento. Os incentivos à diversificação da indústria, à modernização das técnicas produtivas no campo e ao crescimento do setor de comércio e serviços permitiram o posicionamento do Brasil como uma das dez maiores economias do mundo nos dias atuais, e um dos mais atrativos mercados entre os países emergentes. Apesar de todo esse dinamismo econômico, perduram no país sérias desigualdades sociais e consideráveis desequilíbrios regionais, uma vez que o crescimento econômico tem sido acompanhado por forte concentração de renda e os principais pólos econômicos encontram-se também muito concentrados espacialmente. Além disso, o crescimento econômico rápido tem resultado em fortes impactos socioambientais, causando significativos efeitos negativos aos ecossistemas naturais e às populações que neles vivem. Ainda que tenha ocorrido nos últimos anos uma considerável evolução no arcabouço institucional e o surgimento de importantes movimentos voltados para a conservação ambiental e para as causas sociais, há uma nítida continuidade da implantação de projetos de desenvolvimento “de cima para baixo” (top-down), causadores de elevados passivos ambientais e sociais. Mesmo com a crítica capacidade financeira do Estado para patrocinar grandes obras de infraestrutura a partir da década de 1980, de forma pontual, houve uma lenta continuidade da construção de alguns desses grandes empreendimentos, como foi o caso da Usina Hidrelétrica de Serra da Mesa, no norte de Goiás. Essa hidrelétrica e seu reservatório proporcionaram a regularização da vazão do rio Tocantins, viabilizando projetos de uma série de outras hidrelétricas em cascata no mesmo rio e o aumento da capacidade de geração de energia elétrica por Tucuruí. Além disso, o empreendimento possibilitou a disponibilidade de fornecimento de energia elétrica para grandes projetos de mineração eletrointensivos que estão sendo implantados na região. A privatização do setor elétrico a partir da década de 1990, a retomada do crescimento econômico a partir da segunda metade da década de 2000, e mais recentemente o Programa de Aceleração do Crescimento do Governo Federal, têm contribuído de forma decisiva para a continuidade da exploração de grandes potenciais hidrelétricos nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, consolidando a nova fronteira energética. Durante o período de construção dessas grandes barragens e a formação dos reservatórios, os municípios abrangidos, apesar de sofrerem consideráveis perdas ambientais e terem parte de suas populações atingidas, criam expectativas de desenvolvimento não só pelo recebimento de compensações financeiras, mas também por meio da exploração de usos múltiplos das águas, tais como turismo, pesca, aquicultura e navegação. Se por um lado as expectativas das populações locais são justas, por outro, elas parecem nem sempre ser totalmente realizadas quando da conclusão das obras e a entrada em operação das usinas. Além disso, embora já previstos no Código de Águas de 1934, os usos múltiplos das águas, como um dos fundamentos de uma Política Nacional de Recursos Hídricos, só vieram a ser institucionalmente consolidados há pouco mais de uma década por meio da Lei Federal 9.433/97. A proposta deste trabalho tem como objetivo analisar a percepção dos atores locais sobre os impactos econômicos e socioambientais de grandes hidrelétricas, tomando como estudo de caso a hidrelétrica de Serra da Mesa, no rio Tocantins, cujo reservatório abrange oito municípios localizados no norte do estado de Goiás. Como metodologia, o trabalho será fundamentado em entrevistas semi-estruturadas que foram realizadas, nos oito municípios, com três segmentos de atores locais: representantes do poder público, empreendedores, e atingidos pela barragem. As informações e percepções coletadas nas entrevistas serão complementadas por meio de pesquisa bibliográfica e documental. A hidrelétrica de Serra da Mesa foi a segunda maior construída no leito do rio Tocantins. Apesar de ter entrado em operação em 1998 os efeitos regionais do empreendimento ainda são pouco estudados, tendo em vista que as mesorregiões abrangidas ainda se encontram em uma situação periférica em relação ao próprio estado de Goiás. Como parte dos resultados e conclusões, é inegável que o empreendimento trouxe algum crescimento econômico local, devido à exploração das águas do reservatório para a atividade turística e ao recebimento de parcelas do Fundo de Compensação pela Utilização de Recursos Hídricos, transferido pelo Governo Federal aos municípios. Entretanto, esse crescimento é diferenciado entre os municípios, que continuam com suas bases econômicas tradicionais. As questões propostas para debate são: a) Até que ponto as grandes hidrelétricas têm proporcionado o desenvolvimento regional? b) Qual é o saldo de seus impactos, considerando-se os aspectos econômicos e socioambientais? Palavras-chave: Grandes hidrelétricas, Impactos econômicos e socioambientais; Percepção dos atores locais. Principais referências bibliográficas ACSELRAD, Henri. As práticas espaciais e o campo dos conflitos ambientais. In: ACSELRAD, Henri (org.). Conflitos ambientais no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará:; Fundação Heinrich Böll, 2004, p. 13 - 35. BURSZTYN, Marcel. Armadilhas do progresso: contradições entre economia e ecologia. Sociedade e Estado, volume X, n. 1. Brasília, Universidade de Brasília – Departamento de Sociologia, jan/jun 1995, p. 97 – 124. CHRISTOFIDIS, Demetrios. Considerações sobre conflitos e uso sustentável em recursos hídricos. In: THEODORO, Suzi Huff (org.). Conflitos e uso sustentável dos recursos naturais. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. p. 13 – 28. GUIMARÃES, Roberto P. Desenvolvimento Sustentável: Da Retórica à Formulação de Políticas Públicas. In: BECKER, Bertha K.; MIRANDA, Mariana. A Geografia Política do Desenvolvimento Sustentável. 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