02 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 ÍNDICE 04 EDITORIAL 09 VIVA VOZ OPINIÃO Mudar é fácil! Por Miguel Schreck FÓRUM Até onde vão as verdadeiras consequências da falta de respeito pelos recursos naturais? Por José Luís Monteiro, Oikos; Susana Fonseca, Coopérnico; Frederico Lucas, Programa Novos Povoadores; Nuno Sequeira, Quercus INTERNACIONAL Construir a Felicidade do futuro 26 NO CENTRO Feedback Global The Story of Stuff 30 EXPERIÊNCIAS NACIONAIS Smart Waste Portugal, Terras Dentro, Noocity, In Loco INTERNACIONAIS Biovision Foundation, 350.org, Friends of the Earth 39 PRÉMIOS & INCENTIVOS Por Tania Moloney, Nurture in Nature Australia 44 ARTIGOS TÉCNICOS A solução das alterações climáticas está nas nossas terras Por GRAIN e Via Campesina Revolução na gestão dos resíduos Por Luís Veiga Martins 16 CAPA ENTREVISTAS Sushma Kalam, Walls and the Tiger Vandana Shiva 50 FOTOFILANTROPIA EDITORIAL “IMAGINE ALL THE PEOPLE SHARING ALL THE WORLD”1 Não podemos continuar a ignorar. O mundo não é nosso, não é de cada um, é de todos. Chega. Já não vai dar mais para continuar assim. Chegou a hora de nos redimirmos, de tentarmos voltar atrás pois só assim poderemos viver para sempre. O mundo está a acabar. A Ecologia deixa agora de ser um tema “cinzento”, para ser palavra de ordem. Não nos deixemos enganar, a Ecologia também é Humana. É hora de parar, refletir, assumir a culpa e mudar. Mudar para sempre. Mudar hábitos, pensar consequências. Basta pensar nas consequências. O conforto do consumismo desmesurado faz sofrer outros homens, destrói a nossa terra, o nosso mar, o nosso ar… “É hora de parar, refletir, assumir a culpa e mudar. Mudar para sempre”. Não perca o testemunho central de Vandana Shiva, a história por trás do documentário “Walls and the Tiger”, as explicações simples e para todas as idades de “The story of Stuff”, os passos dados pela Ecologia em Portugal e no Mundo, as preocupações e as lutas nas quais todos somos chamados a participar ativamente. Este número da Revista tem a ambição de ser um contributo sincero que “ajude a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente”, tal como refere o Papa Francisco na encíclica “Laudato Sí’”, reconhecida por todos, independentemente dos quadrantes políticos ou religiões, como um importante apelo mundial. O mundo é de todos mas pode acabar, ou não. Basta mudar. 1John Lennon, in Imagine Leonor A. Rodrigues GESTORA DE PROJETO *Siga-nos em www.impulsopositivo.com facebook.com/impulsopositivo twitter.com/impulsopositivo O PROJETO IMPULSO POSITIVO É APOIADO POR: Julho/Agosto 2015 Administração Raquel Campos Franco | António Gil Machado • Direção Raquel Campos Franco | [email protected] EdiçãoLeonorRodrigues|[email protected] • Colaboradores Leonor Rodrigues | [email protected] Pedro Lopes | [email protected] • Capa Teresa Fontes (teresatypes) • Projecto Gráfico Gonçalo Forte(Brandscape Leisure & Lifestyle, Lda) • Design Gráfico tê[email protected] • Impressão Uniarte Gráfica S.A, Rua Pinheiro de Campanhã, 342, 4300-414 Porto Assinaturas Paula Moreira • Propriedade Positivagenda – Edições Periódicas e Multimédia, Lda. • Preço Assinatura anual (6 números): 70€ | Avulso: 12€ Tiragem 5000 exemplares Redação, Administração e Assinaturas PORTO – R. Gonçalo Cristovão nº 185, 6º 4049-012 PORTO Tel 222 085 009 | Fax 222 085 010 • Redação, Administração e Assinaturas LISBOA Av. Fontes Pereira de Melo, nº 6 – 4º andar, 1069-106 Lisboa | Tel. 217 970 029 | Fax. 217 970 030 • Nº Registo ERC 126045 BREVES Demonstrar o valor gerado por projetos de eficiência energética Demonstrar o valor gerado por projetos de eficiência energética é um dos objetivos do BCSD Portugal. Para alcançar este objetivo, o projeto iniciou com a identificação dos bloqueios à eficiência energética e, atualmente, o trabalho está concentrado em dois desses bloqueios: a falta de alinhamento entre as propostas de projetos de eficiência energética e o modelo de negócios das empresas e o reduzido envolvimento da gestão de topo em temas de energia. De forma a traduzir a eficiência energética em poupanças de energia e em reduções de custos, a AÇÃO 7 foi ancorada na construção de casos de estudo - disponíveis em www.bcsdportugal.org - que introduzem um conjunto de indicadores económico-financeiros e que permitem posicionar a eficiência energética como uma variável na estrutura de custos nas empresas. Os casos de estudo demonstram não só os valores de investimento, os períodos de retorno, as poupanças a cinco e dez anos, as reduções dos consumos de energia, mas também os bloqueios, as formas de os contornar, os sucessos alcançados, as lições aprendidas e os argumentos que as empresas usam habitualmente para conseguirem convencer a gestão de topo a avançar com o projeto. Numa segunda fase, a meta assenta na análise agregada dos resultados dos casos de estudo, no sentido de demonstrar o potencial da eficiência energética à gestão de topo das empresas e aos profissionais que diariamente lidam com as questões da energia dentro das empresas. Adequar perfis de competências entre empresas e formação escolar Adequar os perfis de competências entre as empresas e a formação escolar é o objetivo do trabalho do BCSD Portugal dedicado ao capital humano. O BCSD Portugal já realizou um diagnóstico das competências necessárias para as empresas no período 2017-2020 que conclui que 47 empresas vão criar entre 7.500 e 11.200 postos de trabalho e que as cinco competências mais escassas em Portugal são: engenharia tecnológica; comercial, marketing e comunicação de informação; ciências económicas; operações e logística; e automação. Dentro das cinco competências mais escassas, são exemplos de profissões os Técnicos de Redes, Programadores e Analistas de Sistemas (engenharia tecnológica), os Técnicos de CRM/ Marketing Relacional e E-commerce (comercial, marketing e comunicação de informação), os Gestores de Risco e Controllers de Gestão (ciências económicas), os Técnicos de Operação Logística e Responsáveis de Entreposto Logístico (operações e logística) e os Técnicos de Robótica, Programadores CNC (máquinas robotizadas) e Programadores de Automação (automação). Terminada a fase de diagnóstico, haverá de seguida uma campanha de sensibilização para estas profissões junto dos jovens em idade de decidir o seu futuro. Este projeto está a ser acompanhado desde o primeiro momento pelo Ministério da Educação e Ciência.das empresas. 06 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 GRACE e o Manifesto de Milão O GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial – participou em Milão, nos passados dias 18 e 19 de Junho, na Conferência “Last Call to Europe 2020”, organizada pela CSR Europe, e que serviu de mote ao lançamento do Manifesto de Milão. Em resposta à premente necessidade de encontrar soluções para o desemprego e mudanças climáticas e demográficas na Europa, a CSR Europe, rede empresarial europeia de RSC que faz lobby junto da Comissão Europeia, elaborou o Manifesto Enterprise 2020 que foi lançado em Milão. No momento em que faltam apenas cinco anos para atingir os objetivos da Estratégia Europa 2020, o Documento apela às empresas e governos europeus para que assumam um papel ativo na implementação de uma economia sustentável e inclusiva, agindo em três áreas: empregabilidade/ inclusão, sustentabilidade e transparência. O primeiro desafio pretende que a empregabilidade e a inclusão sejam prioritárias além-fronteiras, a nível de gestão e da cadeia de valor. As soluções apresentadas passam pelo aumento estrutural de parcerias entre entidades públicas e privadas nas áreas do emprego e educação, inovação no local de trabalho e apoio ao empreendedorismo, sem esquecer a aposta na formação de competências profissionais e pessoais. No que à sustentabilidade diz respeito, é imperativo estimular as empresas a interagirem de forma comprometida com as comunidades, cidades e regiões, no desenvolvimento e implementação de novos meios de subsistência, consumo e produção sustentáveis. Para tal, haverá que adotar modelos de gestão mais abrangentes, para que todos os stakeholders sejam envolvidos, limitando assim os impactes ambientais e fortalecendo a economia. Por último, a transparência e o respeito pelos Direitos Humanos no foco da conduta empresarial. As empresas devem ser agentes de mudança nas suas práticas de gestão, promovendo a inclusão, a diversidade, a igualdades de oportunidades e divulgação de informação não-financeira por toda a cadeia de valor. Este ambicioso Manifesto conta já com o apoio de 40 organizaçõesmembro da CSR Europe, entre os quais o GRACE, representando entre si um total de 10 mil empresas espalhadas pela Europa. BREVES Soluções Empresariais para o Desenvolvimento Sustentável O BCSD Portugal lançou a AÇÃO 2020, a resposta das empresas portuguesas à “Visão 2050” do WBCSD - World Business Council for Sustainable Development, casa-mãe do BCSD Portugal, que defende que “Em 2050, nove mil milhões de pessoas vivem bem, respeitando os limites do planeta”. A Visão 2050 do WBCSD, traduz-se num conjunto de diretrizes para o caminho que as empresas devem percorrer até 2050, rumo ao desenvolvimento sustentável. A AÇÃO 2020 - Soluções Empresariais para o Desenvolvimento Sustentável é um conjunto de linhas de força para a agenda das empresas, para promover o desenvolvimento sustentável de Portugal em seis áreas prioritárias: desenvolvimento social, economia, capital natural, energia, cidades e infraestruturas, indústria e materiais. O projeto é da autoria do BCSD Portugal - Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável e assenta na liderança e colaboração entre as empresas membro. Na área do desenvolvimento social, o BCSD Portugal está a desenvolver um projeto ao nível do capital humano - Adequar perfis de competências entre empresas e formação escolar – e na área da energia, um projeto no âmbito da eficiência energética Demonstrar o valor gerado por projetos de eficiência energética. Urgente: medidas eficazes de apoio aos refugiados na EU Portugal vai receber um total de 1500 refugiados nos próximos dois anos e para isso já está a ser organizado um grupo de trabalho composto por cinco ministérios, que deverão unir esforços para organizar a chegada e a integração destes migrantes. São eles o ministério da Administração Interna, o ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, o ministério dos Negócios Estrangeiros, da Saúde e da Educação, avança o Diário de Notícias na edição de 27 de agosto. Ao lado dos cinco ministros estará também o Alto-Comissariado para as Migrações. O Governo apenas espera que a União Europeia indique “quando vêm e qual o seu perfil, para que possamos adaptar a organização logística e disponibilizar os recursos necessários”, disse fonte da Administração Interna ao DN. O processo de acolhimento é financiado pela União Europeia, numa média de 6 mil euros pro cada migrante. Até 2020 Portugal vai receber de fundos comunitários um total de 39 milhões de euros para as políticas de migração. De acordo com o mesmo jornal, no entanto, o início da chegada dos refugiados a Portugal, não deverá acontecer “antes de outubro”, segundo confirmou a porta-voz da Comissão Europeia para os Assuntos Internos e Migrações. Os migrantes deverão ser, na sua maioria, sírios com qualificações, que perderam tudo na guerra contra o regime de Bashar al-Assad. Ao grupo de trabalho, pode ler-se no despacho que o criou, é pedido que a sua equipa governativa consiga “aferir a capacidade instalada e preparar um plano de ação e resposta em matéria de reinstalação, relocalização e integração dos migrantes”. A coordenação ficará a cargo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. É urgente tomar medidas eficazes o mais rapidamente possível e foi nesse sentido que no mesmo dia, o alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, António Guterres, e o ministro francês do Interior, Bernard Cazeneuve, apelaram à criação urgente de centros de acolhimento e de triagem face ao fluxo de migrantes e refugiados na Europa. “Temos de acelerar e intensificar as decisões tomadas pelo Conselho Europeu relativo à Agenda para as Migrações. Há questões essenciais como a receção, o registo, os ‘hotspots’ [centros de acolhimento e de triagem], a relocalização e a reinstalação”, disse Guterres depois de uma reunião com o governante francês em Genebra, de acordo com a agência de notícias francesa. Desde o início do ano, 293.000 migrantes e refugiados tentaram chegar à Europa através do Mediterrâneo e 2.440 faleceram durante o percurso, segundo os números anunciados esta quinta-feira por Guterres. “É evidentemente um desafio sério para a Europa”, afirmou o responsável português. E realçou: “É claro que a Europa tem a dimensão e a capacidade para responder a este desafio, desde que seja unida e que se assuma conjuntamente essa responsabilidade”. Guterres deixou também um apelo à comunidade internacional para mostrar uma maior generosidade para com os refugiados sírios, salientando que o apelo feito pela ONU para um financiamento para o efeito obteve contribuições de apenas 41%, até ao momento, do montante total solicitado. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 07 BREVES A Grécia e o crescente número de crianças abandonadas CD: Gettyimage São cada vez mais os pais que entregam os filhos nos orfanatos, porque não têm dinheiro para os alimentar, na Grécia. Mas muitas das crianças são abandonadas. O desespero a que os levou a crise vivida no país faz com que muitos pais se tenham tornado alcoólicos, toxicodependentes, violentos ou se tenham suicidado, tendo acabado por abandonar os filhos. Em reportagem, a prestigiada cadeia Sky News conta que em julho um pai optou por se matar deixando os 3 filhos com um familiar. Numa das maiores instituições de caridade para os mais novos, The Smile of The Child Charity, quase não há dinheiro para dar uma vida digna às mais de 350 crianças que lá vivem. O presidente, que criou a instituição a pedido de um filho que morreu, conta que anda a contactar cidadãos gregos no estrangeiro a pedir ajuda. Também os hospitais se depararam com o mesmo problema: as grávidas dão à luz e deixam os filhos para trás. Durante 6 meses essas crianças mantêm-se sem nome e numa ala especial do hospital. Os médicos e enfermeiros ainda têm a esperança de que os pais possam voltar, mas esses são os casos raros, o mais certo é estes bebés seguirem para um orfanato. Para além disso, tal como relatou o diretor de um dos hospitais à Sky News, aos gregos juntam-se as migrantes grávidas e que usam a Grécia como ponte para outros países, deixando quase todas os filhos par trás. 08 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 Um "livro bebível" que salva vidas Cientistas americanos criaram um "livro bebível" - “Drinkable Book” - com páginas quimicamente alteradas capazes de tornar água contaminada em água 99,9% pura. Uma equipa da Carnegie Mellon University nos Estados Unidos, testou o livro em África e relatou como cada página - contendo nano partículas metálicas bactericidas - tornou água poluída de esgoto, tão segura como água da torneira nos Estados Unidos. A designer, Theresa Dankovitch teve esta ideia enquanto estudava as propriedades do papel. Muito embora as propriedades bactericidas da prata já fossem conhecidas, Dankovitch diz que ainda ninguém tinha pensado em colocá-las no papel. Cada página pode purificar até 100 litros de água e um livro inteiro pode purificar o abastecimento de água de uma pessoa durante um ano inteiro. Tudo o que é necessário é um dispositivo de fixação no qual as páginas devem ser encaixadas. Dankovitch apresentou os resultados dos ensaios que conduziu em África e no Bangladesh na reunião da American Chemical Society que decorreu em Boston em agosto. "Em África, quisemos ver se os filtros iriam resultar em "água de verdade", e não em água contaminada propositadamente no laboratório" citou o jornal Huffington Post. "Um dia, enquanto filtrávamos água ligeiramente contaminada de um canal de irrigação, trabalhadores locais levaram-nos até uma vala próxima de uma escola onde um esgoto tinha sido despejado. Descobrimos milhões de bactérias; esta era uma amostra desafiadora", contou Dankovitch. "Mas mesmo assim, mesmo em fontes de água altamente contaminadas como esta, conseguimos alcançar 99,9% de pureza com o nosso papel de nano partículas de prata e cobre, trazendo os níveis de bactérias comparáveis aos da água potável nos Estados Unidos”. Veja o filme que explica como tudo funciona e conheça o projeto em http://waterislife.com/. O famoso Ice Bucket Challenge está de volta O famoso Ice Bucket Challenge, que revolucionou as redes sociais em 2014, mobilizou personalidades do mundo inteiro e promoveu de uma forma única a procura de cura para a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), está de volta. A APELA - Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica volta a apelar a todos os portugueses que adiram à campanha dos baldes de água gelada. Segundo a Associação, “em 2014, o Ice Bucket Challenge permitiu à APELA angariar cerca de 200.000€, sendo que 50.000€ foram canalizados para suprir as necessidades financeiras que a implementação do Projeto MinE, em Portugal, implicaria”. Ainda assim, os recursos angariados apresentaram-se diminutos no momento de alcançar os 200 doentes inicialmente estimados para serem abrangidos por este projeto internacional. O Projeto MinE trata-se de uma iniciativa de escala mundial, do qual fazem parte vários países europeus, os Estados Unidos, Austrália e Israel, que uniram esforços para descobrir a causa genética da doença e, a partir daí, desenvolver possibilidades de cura. Para alcançar este objetivo, o ProjectMine terá de recolher 15.000 perfis de ADN completos de doentes de ELA e 7.500 perfis de ADN de "não doentes", enquanto grupo de controlo. O objetivo do Ice Bucket Challenge 2015 passa não só por apoiar o desenvolvimento desta investigação científica, mas sobretudo por continuar a lutar pela criação de condições que munam a pessoa com ELA da melhor qualidade de vida possível. Conheça a APELA em www.apela.pt. VIVA VOZ Gigante H&M mais verde que nunca Depois de colocar à disposição dos clientes um contentor onde podem deixar as peças que já não usam, a cadeia sueca H&M vai lançar uma nova linha de ganga produzida com algodão reciclado, ao mesmo tempo que acaba de criar uma bolsa de um milhão de euros para premiar as melhores ideias no campo da reciclagem têxtil. A história recente da H&M, uma das principais marcas de fast fashion, inclui para além das colaborações com designers conhecidos, uma linha chamada Conscious que procura, precisamente, garantir uma maior consciência e sustentabilidade da indústria. “A criação de um ciclo fechado para os têxteis, no qual as roupas que os nossos clientes já não querem possam ser recicladas e transformadas em novas peças, permitirá não apenas minimizar o desperdício de têxteis, como também reduzir de forma significativa os recursos virgens, bem como outros impactos que a moda tem no nosso planeta”, diz KarlJohan Persson, CEO da H&M, em comunicado a propósito da nova linha Close the Loop Denim. Ao todo são 16 novos estilos de ganga que estarão disponíveis nas lojas a partir do dia 3 de setembro, com propostas para homem, mulher e criança que procuram “fechar o ciclo” por usarem 20% de algodão que foi conseguido a partir das peças que os clientes deixaram nas lojas (independentemente da marca), no âmbito da iniciativa de recolha de roupa usada, criada em 2013 e que já reuniu mais de 14.000 tonel adas a nível mundial. Segundo o mesmo comunicado, a empresa sueca garante que está a investir em nova tecnologia para aumentar a percentagem de algodão reciclado usado sem comprometer a qualidade das peças e que pretende multiplicar “em 300% (em comparação com 2014) o número de peças feitas com, no mínimo, 20% de tecido reciclado”. Em busca desta inovação, na terça-feira, 25 de agosto, a H&M Conscious Foundation lançou o seu primeiro Global Change Award, uma bolsa de um milhão de euros, divididos por cinco vencedores, que pretende atrair novas ideias ecológicas para ajudar a proteger os recursos naturais do planeta. Os vencedores terão acesso a soluções que impulsionem as suas ideias e, com isso, a fundação pretende responder a “um dos maiores desafios da indústria: criar moda para uma população crescente reduzindo o impacto no meio ambiental”. Qualquer pessoa pode concorrer, bastando para isso visitar o site oficial da bolsa e olhar para a roupa sem ser para decidir qual vai ser a próxima compra, ou o que vai vestir de manhã. Forbes destaca empreendedorismo português A conceituada Revista Forbes destaca o empreendedorismo português, caracterizando o país como “famoso pelos descobrimentos marítimos, pela riqueza Histórica e cultural e, agora, pelo seu investimento no empreendedorismo”. Para a Forbes, o segredo do sucesso português, em relação aos restantes países europeus,no que toca ao empreendedorismo é o apoio do governo. A sociedade de capital de risco Portugal Ventures é destacada pelo seu contínuo investimento em empresas inovadoras com base científica e tecnológica e em projetos no setor do turismo e da expansão internacional. Após vários anos, o sucesso das startups em Portugal é evidente e este ano o PIB português já aumentou 1,6%. É a era dos “novos descobrimentos portugueses”. As outras escolhas da Forbes vão desde uma empresa que permite criar call centers numa questão de minutos a um sistema de saúde do futuro que assegura que os doentes tomem o medicamento certo, à hora certa. As Escolhas da Forbes: TalkDest: Nasceu em 2011 e permite que uma empresa crie o seu próprio ‘call center’ numa questão de minutos. Tem clientes nos cinco continentes, em mais de 50 países. Feedzai: É a startup de Coimbra que se especializa em soluções antifraude. Atualmente, emprega cerca de 60 pessoas. Veniam: Transforma veículos em hotspots (pontos de acesso). Trata-se de “WiFi em movimento” e aproveita a conetividade entre veículos, objetos móveis e utilizadores finais para ampliar a cobertura de rede WiFi. PharmAssistant: É descrita como o futuro do sistema de saúde e assegura que os doentes tomem o medicamento certo, à hora certa. Oferece um recipiente “inteligente” para medicamentos com um alarme, sonoro e visual, que é ativado na hora de tomar a medicação. Cuckuu: Uma mistura de alarmes, lembretes e “genialidade” numa sóapp. Utiliza a motivação social para incentivar os utilizadores a passarem mais tempo juntos, em comunidade. Unbabel: Um serviço de tradução que combina a inteligência humana e artificial para produzir traduções rápidas e com qualidade. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 09 VIVA VOZ OPINIÃO Mudar é fácil! Por Miguel Schreck Desde que me conheço que tinha vontade de viver no campo. Nasci no Porto, onde estudei e fiz o meu grupo de amigos mas todos os fim-de-semana e férias de que tenho memória foram passadas no Gerês. Não sou daqueles que têm aversão aos meios urbanos, apenas prefiro o verde e todas as outras cores em que se transforma ao longo do ano. Há quatro anos atrás resolvi percorrer o curso do rio Douro, desde a foz até à nascente em Espanha com o intuito de pintar as suas paisagens. Dei um mês daquele ano para tal; a viagem demorou três. Já tinha viajado, nunca o suficiente mas sempre acompanhado de amigos. Desta vez e pela primeira, fi-lo sozinho acompanhado da minha cadela Riska e da minha carrinha. Sou por natureza uma pessoa faladora e que gosta de estar com os amigos mas a ideia de percorrer todos aqueles quilómetros sozinho começou a transformar-se num fantasma. Sabia que iria ver paisagens deslumbrantes, conhecer gente encantadora, viver momentos inesquecíveis e que não poderia partilhar nada disto com alguém próximo. Que iria passar dificuldades, problemas e aflições onde, igualmente, não teria o tal alguém com quem procurar soluções. Poderia ter desistido perante a consciência dos perigos de viajar sozinho, quando a mãe ansiosa (porque é mãe) respirava sem fundo ao ouvir falar dos meus planos, ou quando alguns amigos Velhos do Restelo apostavam que não iria nunca concluir a viagem. Já tinha, anteriormente, desistido de outros projetos por medo, anseios e opiniões alheias. Se na maioria dos casos me arrependi de lhes ter dado ouvidos, porquê voltar a fazê-lo? A viagem começou e fiquei quatro dias sem conversar com alguém, para além do “um café cheio, por favor” e do subsequente “obrigado”. Dei por mim a falar com a Riska sobre os dias que se tinham passado e apesar da grande amizade que temos, achei obviamente estúpido e esquizofrénico. A partir daí, comecei não só a conversar com quem tinha tempo para mim mas principalmente a ouvir (coisa que não sabia fazer antes) com o gosto de quem foi aprendendo que tal não é tempo perdido. Passar de falador a ouvinte foi-me natural, embora nunca o tenha conseguido antes; acho que foi uma questão de necessidade. Mudamos facilmente de carro, não mais facilmente de namorada, mas mudar a nossa 10 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 Miguel Schreck maneira de ser parece-nos muitas vezes impossível ou trabalhoso demais. A verdade é que o fazemos continuamente ao longo da nossa vida embora raramente o façamos conscientemente. Durante a viagem de três meses pelo Douro, fiquei um mês em Miranda do Douro. A ideia era percorrer parte do Douro internacional com um burro da A.E.P.G.A., a associação que luta pela preservação do Burro de Miranda. Quando cheguei, semanas depois da data agendada, estava prestes a começar o festival L Burro i l Gueiteiro e a minha caminhada com o burro teve de ser adiada. Os planos nunca correm como planeado e nessa altura o tempo tinha-se transformado numa coisa elástica e maleável que eu podia moldar à minha vontade. Então, deixei-me ficar... Lembro-me de sentir que o potencial daquele festival era enorme e no final, em conversa com o meu novo amigo Miguel, um dos responsáveis pela associação, dizia-lhe - “isto é único, verdadeiro, não conheço outro evento que apele a uma causa desta forma, com um ambiente tão familiar. É incrível o vosso trabalho e como conseguem fazer magia com esta festa: os passeios por este território fantastico, o conhecimento que é transmitido nas oficinas, o contacto com as pessoas das aldeias por onde passamos. Este festival devia receber mais pessoas!” Ao qual ele me respondeu - “se o festival tiver mais gente, tudo isso que achas fantástico, deixa de ser sustentável!” Sei que eventos como este necessitam de apoios para continuarem a existir mas de facto seria profundamente triste se um dia este nome fosse comprado por uma empresa de telecomunicações ou por uma multinacional energética. Há coisas únicas que não devem ser massificadas, senão deixam de ser genuínas. Os cinco dias que percorri sozinho com o burro e com a Riska por caminhos de terra, na vastidão do planalto mirandês, foram de longe a melhor experiência da minha vida. Nunca fora uma pessoa de caminhadas; sempre usara o carro para ir ao café no fim da rua mas aqueles cinquenta e tal quilómetros sob o sol abrasador de agosto e as noites de reflexão nos palheiros das aldeias por onde passava, fizeram-me descobrir o prazer de andar e reconhecer o ser caminhante que existe em todos nós. Foi durante este percurso que levei a sério a minha vontade de VIVA VOZ ir viver para um meio rural e onde tomei a decisão que o faria o mais breve possível. De preferência algures no planalto mirandês. Esta zona tinha tudo o que eu queria: uma cultura riquíssima, uma paisagem de horizontes longínquos onde as quatro estações se fazem notar com as suas cores próprias e um grupo enorme de pessoas com quem falar e com assuntos interessantes para ouvir. Deixei o planalto mirandês e a viagem continuou Douro acima até à nascente. O sentimento de vitória foi enorme, embora a Riska tenha lá chegado primeiro. Cumprira um objetivo, ultrapassando as preocupações e todas as ocupações que não previ. Voltei ao Porto, fiz duas exposições de pintura, uma de fotografia e passado um ano estava no Palancar, a aldeia mais pequena do conselho de Miranda, para viver a minha nova vida rural com dois amigos, a Rita e o Viegas, que procuravam o mesmo. O espanto dos habitantes da aldeia sentiu-se na pergunta repetida – “É da cidade? Então porque veio para aqui viver? Lá é que se está bem!” O inverno chegou com o frio rigoroso que aqui se faz sentir e aprendi a “ir à lenha”, trabalho que se fez em comunidade e que naquele ano foi junto aos caminhos da aldeia de Atenor, de forma a prevenir futuros incêndios. Rapidamente percebi que conseguiria ir buscar alguns bens necessários em troca de trabalho. Fui ao cultivo de batatas em troca das mesmas, à cresta do mel em troca de uma colmeia, vindimar em troca de uvas para fazer o meu primeiro vinho e pintar quadros em troca de um burro. Os hábitos e as técnicas de trabalho agrícola, que perduraram durante séculos, foram radicalmente alterados nas últimas décadas e nem sempre para melhor. Foi aqui que entendi a razão da quase extinção do Burro de Miranda que, ao ter caído em desuso em prol do trator, quase desapareceu da paisagem e da vida desta gente. Aquando do percurso com o burro, de passagem por Aldeia Nova, me perguntaram como ali tinha chegado respondi orgulhosamente – de burro. A velhinha fez uma cara de desdém e respondeu – “De burro?!? Atão porque não veio de mota? “ Assim como a quase extinção do burro, o êxodo rural é uma realidade inegável e com ele ficam ao abandono as aldeias e os campos. Li no outro dia, num jornal local, a crónica de um otimista que referia que a única vantagem do abandono dos campos é a recuperação da fauna e da flora selvagens. As mulheres aqui são como a cegonha-preta, estão em vias de extinção – dizia-me alguém no outro dia em tom de gozo. Sabia que ao vir para esta zona cada vez mais despovoada, seria matematicamente mais difícil encontrar alguém por quem me apaixonasse. A matemática esteve a meu favor. Conto ter filhos e criá-los aqui mas com menos gente no interior, o governo central faz contas cegas e fecha serviços públicos. Ouvimos diariamente na televisão as populações a reclamar mas só quando tive de fazer cem quilómetros para tirar um raio-X a uma costela partida, porque o centro de saúde de Miranda só tem radiologista às terças, quintas e sábados, senti que fazia parte desta população desfavorecida. Dizem-me que o planalto mirandês é um caso raro a nível associativista no país. Aqui concentram-se várias associações que trabalham em prol do meio ambiente, dos costumes e cultura, da língua e da música. Foi na Lérias, a associação cultural que mais promove o ensino da música tradicional local, que encontrei o meu espaço de trabalho como ator e professor de pintura e me comecei a aperceber das dificuldades com que algumas associações se deparam há já vários anos. Perante um território tão vasto, com falta de transportes entre as aldeias, os professores desta associação deslocam-se às localidades de forma a proporcionarem maiores oportunidades de ensino às pessoas. Apesar do esfoço e trabalho feito, na maioria por gente que se mudou para cá porque acredita no potencial deste território, os apoios dos organismos locais ainda são insuficientes e essa falta provoca “stress rural”. Não acredito na dependência de apoios e subsídios, isso mina à partida toda a dinâmica de uma sociedade, mas é da responsabilidade de quem gere um território criar condições para quem quer ficar na sua terra e para quem quer desenvolver bons projetos a nível local. Tenho assistido contudo a algumas mudanças e estreitamento de laços que espero que venham a dar bons frutos. Sou um otimista por natureza e sei que o país atravessa uma fase difícil, mas se olharmos para o interior rural de forma sincera e sustentável, tudo será mais fácil! É da cidade? Então porque veio para aqui viver? Lá é que se está bem!” julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 11 VIVA VOZ FÓRUM ATÉ ONDE VÃO AS VERDADEIRAS CONSEQUÊNCIAS DA FALTA DE RESPEITO PELOS RECURSOS NATURAIS? É urgente tomar consciência que a partilha do planeta com outras espécies e a interação com o meio ambiente, ou passam a ser feitos com respeito, ou a vida na Terra tornar-se-á insustentável. O Fórum desta edição reflete sobre a responsabilização de cada um pelas escolhas feitas e pela marca que deixa, todos os dias, na Terra. José Luís Monteiro Técnico de Projetos da Oikos A história da relação humana com a Natureza é como a fábula do escorpião e da rã, diferindo apenas porque decorre numa escala temporal de alguns milhões de anos. A Natureza é o suporte último de todas as sociedades humanas, este facto parece ter sido esquecido por grande parte da população. Vivemos o nosso dia-a-dia olhando quase exclusivamente para indicadores económicos para tomar decisões cujo impacto não se resume a essa área. Todos os dias discutimos PIBs, défices, taxas de juro e cotações em bolsa como se nada mais importasse. A Terra não devia ser vista apenas como uma fonte de recursos a explorar, deveria ser considerada um sistema quase fechado que precisamos gerir, com limites de tolerância que, uma vez ultrapassados, forçam o equilíbrio do sistema a alterar-se. Diversas instituições e cientistas têm trabalhado para determinar estas fronteiras planetárias, os pontos a partir dos quais a nossa sobrevivência estaria ameaçada, tendo concluído que, das 7 fronteiras atualmente determinadas, já ultrapassámos os limites de risco em 4 (estamos em situação de risco crescente em relação às alterações climáticas” e “alterações dos habitats terrestres”, mas já estamos em risco extremo para os “ ciclos biogeoquímicos”, como o azoto ou o fósforo, e “perda de biodiversidade”). Será que o escorpião está condenado a seguir a sua natureza ou este escorpião conseguirá lembrar-se a tempo de que é a rã que o mantém à tona de água? Susana Fonseca Membro da Direção da Coopérnico A espécie humana partilha com as restantes espécies da Terra a dependência de condições naturais que permitam a sua existência. A sua qualidade de vida e existência física dependem dos serviços que os ecossistemas prestam - água de qualidade, solo fértil, ar limpo, regulação do clima – bem como dos recursos naturais que usamos para sustentar o nosso sistema de produção e consumo. Contudo, a nossa conduta tem levado a um enorme desequilíbrio. Se generalizássemos a pegada ecológica da União Europeia ao mundo, seriam necessários 3 planetas. Dado que só existe um, é urgente tomar consciência que tem de ser alterada a forma como os extraordinários recursos do planeta são usados, não apenas por razões ambientais, mas também por razões de preservação da própria espécie. Um contributo importante pode ser o uso de energias renováveis. A Coopérnico surgiu para ajudar a concretizar este novo modelo e dar aos cidadãos a possibilidade de participarem na mudança, seja através do apoio a projetos de produção, seja através da aquisição de eletricidade baseada em fontes renováveis. O desafio é grande, mas as soluções existem. Há agora que vencer a inércia e ter a coragem de as abraçar. 12 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 VIVA VOZ Frederico Lucas Coordenador do Programa Novos Povoadores As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost. Isto já existe. Chama-se "Campo". As cidades são a imagem do passado, os territórios rurais são espaços do futuro. O Século XX ficará para a história como o limite na utilização dos recursos naturais. Primeiro no campo, onde as indústrias altamente poluentes instalaram as suas unidades produtivas, depois as cidades que acolheram milhões de habitantes, sem avaliar a sustentabilidade dos recursos ambientais. O consumo excessivo de água e a emissão de CO para a atmosfera estão a condenar o ambiente das áreas metropolitanas. Quem tem condições para migrar para territórios mais saudáveis, acaba por fazê-lo. No Programa Novos Povoadores, o foco está nos serviços dos ecossistemas. Procuramos oportunidades de negócio que geram valor, riqueza e postos de trabalho, em sintonia com a melhoria das condições desses recursos. Não é possível manter o princípio do “mal menor”: polui o ambiente mas cria emprego. Hoje, é fundamental que crie emprego enquanto despolui o rio. Não é uma utopia. Já há quem produza capas para telemóveis a partir dos resíduos recolhidos de um rio, e quem construa casas de madeira dentro de um processo de ref lorestação. A importância de criar valor não substitui a necessária melhoria dos ecossistemas, devido às gerações vindouras. Precisamos de simbiose entre ambiente e economia, e não de uma relação de concorrência. A imaginação é o limite. Nuno Sequeira Vogal da Direção Nacional da Quercus Neste momento, em que continuamos a assistir a inúmeros desastres ambientais que ocorrem em todo o Mundo, será importante olhar para os erros cometidos, refletir, e sobretudo, tomar opções rumo a um futuro mais sustentável do Planeta. Infelizmente, mais de quatro décadas passadas desde que as questões ambientais e de respeito pela Natureza tomaram uma dimensão mundial, o caminho percorrido não tem ido no bom sentido e a nossa capacidade de conhecer e respeitar os limites da sustentabilidade do Planeta não tem progredido tanto quanto o necessário. Em Portugal, para além da insustentabilidade financeira de muitos dos projetos desenvolvidos nos últimos anos, os custos ambientais dos mesmos têm sido demasiado significativos: quer a construção de estradas com pouco tráfego atravessando áreas sensíveis do ponto de vista ecológico e que estimulam o uso do automóvel com a consequente poluição; quer a construção de barragens com um rendimento muito limitado mas que destruíram um património natural único; quer a implantação de urbanizações e empreendimentos em zonas de solos produtivos ou ecologicamente relevantes, como áreas da Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional ou Rede Natura 2000. Num cenário de crise económica nacional e internacional, que tem acabado por relegar as questões ambientais para segundo plano, é importante não esquecer que continuamos a viver uma crise ambiental, com problemas tão graves como o aquecimento global, a perda de biodiversidade, o crescimento exponencial da população humana ou a alteração dos seus padrões de consumo. Ignorar estes problemas que têm reflexos diretos do ponto de vista ambiental, mas também do ponto de vista social e económico, e adiar decisões que necessitam de ser tomadas urgentemente, não irá resolver as questões, mas sim agravá-las futuramente, com as consequências para todo o Planeta e naturalmente para a espécie humana também. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 13 VIVA VOZ INTERNACIONAL Construir a Felicidade do futuro Por Tania Moloney, Mãe de duas crianças maravilhosas, defensora apaixonada da relação entre crianças e famílias com e na natureza, e Diretora Executiva da Nurture in Nature Australia Olho para trás, para a minha infância e vejo muitas memórias felizes. Andar lá fora, completamente submersa na natureza, está entre as melhores. Com o cabelo ao vento, o sol a cara e terra nas unhas, desde os meus primeiros dias na Terra, a natureza teve a oportunidade de me tocar na pela e de fazer o seu caminho no meu coração. Muitas vezes andava lá fora sozinha ou com os meus amigos (não um adulto a vigiar). Longe da televisão, da tecnologia e alegremente sem noção do tempo, eu era livre para brincar e explorar. Era livre para ser eu. Mas as memórias que fazem o meu coração bater mais forte são os momentos que passei ao ar livre com a minha família. Todas as férias verdadeiramente espetaculares que tivemos foram passadas na natureza: a correr na praia, a fazer acampamentos no rio, a escalar montanhas (algumas das quais pouco mais altas do que a nossa casa mas que nos pareciam o Evereste), ou a sermos cobertos por areia vermelha no interior da Austrália. Não importava, de facto, onde estávamos; o mais poderoso é que estávamos ao ar livre e estávamos juntos. Viajámos para muito longe nas nossas aventuras em família, mas muitos dos meus momentos mais maravilhosos não se passaram muito longe do nosso próprio quintal. Um dos mais marcantes é o de um dia em que toda a família dormiu ao ar livre, numa noite quente em fevereiro de 1986, a tentar ter um vislumbre do cometa Halley. E ver um cometa que se vê uma vez na vida não é do que me lembro melhor. As experiências na natureza que partilhámos tornaram-nos mais próximos uns dos outros, alimentaram e fortaleceram de uma forma única os laços que ainda hoje nos unem. Eu acredito que estes momentos tiveram um papel muito significativo na formação de quem sou eu enquanto ser humano, enquanto mãe, enquanto vencedora na ajuda a outras pessoas a conectarem-se com a natureza e com os outros. Ajudaram-me a crescer enquanto adulta confiante, capaz e resiliente que consegue comunicar claramente - capacidades vitais necessárias para conseguir montar uma tenda com os meus dois irmãos mais novos. Também aprendi a ser mais persistente, empenhada e paciente! Uma e outra vez a natureza ajuda-me a desacelerar quando a correria da vida me oprime. Também sei que esses momentos são parte da razão pela qual me sinto tão fortemente ligada à minha família mas também a alguns lugares; os lugares onde cresci são parte de mim e eu deles. Eu pertenço-lhes E nas nossas vidas modernas e extremamente ocupadas, um forte sentimento de pertença é algo que precisamos de cultivar mais para os nossos filhos. Eu quero que os meus filhos tenham carinhosas memórias de acampamentos em família. Eu quero que eles desenvolvam bases sólidas de aprendizagem para a vida e que a natureza me deu a mim. Eu desejo, para eles, a certeza e a autoconfiança que vem de 14 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 saber que se pertence - a uma família e a um lugar. Eu desejo tudo isso para os meus filhos. Sim, é possível cultivar relações familiares também dentro de caso, mas estarmos juntos lá fora, na natureza parece que amplifica o efeito de uma forma poderosa. Passar tempo ao ar livre é algo de que as famílias podem desfrutar desde que os filhos são recém-nascidos, durante toda a infância, na adolescência e até na idade adulta. Pode até ser apreciado por várias gerações! As minhas aventuras em família continuam agora que os meus irmãos e eu temos as nossas próprias famílias. Só trazemos a "tribo" inteira atrás de nós! Os grandes espaços ao ar livre são também o “fio condutor" perfeito para conectar famílias entre elas, o que ajuda a construir redes de apoio e comunidades mais fortes; e comunidades mais fortes tornam o mundo também mais forte, mais pacífico e mais saudávl. Contudo, conectar famílias com a natureza não é bom só para as famílias e para as comunidades, é vital para a natureza, também. Dar às crianças oportunidades frequentes de se ligarem à natureza, seja no seu quintal ou fora dele, é vital para ajudar a cultivar os nossos futuros administradores ambientais. Para que as crianças, cresçam a amar e a querer cuidar da natureza, primeiro devem ter a oportunidade de a conhecer e de a sentir na pele. Só depois disso é que a natureza pode fazer o seu caminho nos seus corações, nas suas cabeças e nas suas mãos para sempre. Eu sei que fazer um intervalo das distrações e dos horários sobrecarregados em que tantas vezes vejo a minha família a correr de um evento/aula/jogo/reunião/telefonema/email para outro, para partilharmos tempo junto ao ar livre, nos vai dar a oportunidade de termos muito tempo de qualidade do qual precisamos; nós vamos começar a abrandar e, mais importante, vamos ligar-nos com o que realmente importa nesta vida preciosa. Mas, tanto como eu estar comprometida a levar os meus filhos lá para fora e a divertirmo-nos juntos na natureza, descobrir o tempo para escolher a natureza em vez do ipad, da roupa que tenho para passar ou da necessidade de fazer um bocadinho de algo que gere trabalho, é um desafio. É que às vezes estou extremamente ocupada... Estarei? Estou realmente muito ocupada para não poder fazer algo que é tão importante? CAPA 16 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 CAPA Ser parte da mudança O documentário Walls and the Tiger de Sushma Kalam, correu mundo para contar uma história passada numa vila indiana. Dito de outra maneira, é a história do impacto das escolhas que fazemos - quando compramos os nossos alimentos, a nossa roupa, os nossos gadgets -, na vida de sociedades ancestrais a que por defeito nominamos tantas vezes “pouco desenvolvidas”. É a história do impacto das nossas vontades, na vida de tantos outros. E como ainda é possível mudar. Entrevista |Texto: Leonor Rodrigues Impulso Positivo (IP): Quais são os principias desafios que enfrentamos atualmente? Sushma Kalam (SK): Há muitos desafios que enfrentamos globalmente tais como a devastação ambiental, o excesso de consumo, a escassez dos recursos naturais, as migrações, a pobreza, a justiça social, a falta de educação básica e de cuidados primários de saúde para tanta gente, entre muitas outras coisas. Para além destes desafios todos, o facto de existirem tantas pessoas cujas necessidades básicas não são satisfeitas e que nem sequer vêm os seus direitos humanos básicos respeitados, é um indicador de que os sistemas e modelos que criámos em prol do desenvolvimento não estão a funcionar. Temos desenvolvido tecnologias para enviar o Homem a Marte, mas estamos a falhar no respeito pelos nossos companheiros humanos na Terra. Preocupamo-nos tanto com a economia, tecnologia e dinheiro que nos esquecemos de cuidar da dignidade humana. IP: Que retrato faz da atuação atual dos líderes mundiais? SK: Se estamos a falar sobre os governantes de cada país, não acho que exista algum líder mundial. Os líderes das nações consideradas poderosas agem como líderes mundiais e criam políticas e sistemas que agradam os seus cidadãos à custa de outras nações para que possam manter o seu poder e possam ser reeleitos. E os chamados países menos desenvolvidos compram essas políticas pela ganância de se tornarem também poderosos, ou pelo orgulho de se associarem aos considerados poderosos, ou por coação ou intimidação. A maioria destes líderes está concentrada em pacificar os seus cidadãos com sonhos de conforto material, intensificando a luta pelos recursos naturais, o que resulta em violações generalizadas dos direitos humanos, o que é exatamente o ponto central do documentário Walls and the Tiger. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 17 CAPA “Devemos parar de explorar outras pessoas para nosso benefício e de perturbar comunidades tradicionais só porque as consideramos pobres e subdesenvolvidas” IP: O que é que o documentário pretende fazer chegar ao público? SK: Em primeiro lugar devemos parar de explorar outras pessoas para nosso benefício e de perturbar comunidades tradicionais só porque as consideramos pobres e subdesenvolvidas. Quando os aldeões no filme explicam que se têm vindo a sustentar há gerações e gerações sem precisarem de dinheiro da maneira que este é usado na economia moderna, e como o dinheiro é um fenómeno recente, temos que ter a perspetiva que o desenvolvimento e a economia moderna de que estamos a falar são uma coisa muito recente dos últimos cem anos. Mesmo sem saber os efeitos a longo prazo das economias modernas, impô-las às sociedades tradicionais que se têm vido a sustentar ao longo de tantas gerações é prematuro por parte dos governos. Os governos devem parar de correr atrás de taxas de crescimento económico de 5, 6 e 10 por cento e começar a pensar sobre o que isso beneficia as comunidades locais. No filme, os agricultores pedem indústrias relacionadas com a agricultura e a pesca em vez de indústrias de mercadorias para enviar para o Ocidente. Os governos devem prestar atenção áquilo que as comunidades locais precisam. IP: O egoísmo e a ganância tornaram-se assim armas mortíferas capazes de destruir inclusive sociedades ancestrais? SK: Quando eu trabalhava como consultora no mundo empresarial, ajudando as empresas a otimizar as suas cadeias de valor, focávamo-nos sempre naquilo que o consumidor queria e não nos preocupávamos com as limitações físicas dos recursos utilizados para fazer o produto. Estávamos treinados para produzir cada vez mais para otimizar os lucros. Este é um ponto fulcral em que o ambiente e as limitações dos recursos naturais não são parte da equação. Isso deu origem a um novo nível de competição 18 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 por recursos no qual as empresas tentam aliciar as pessoas a comprarem cada vez mais para aumentar os seus lucros. Para além disso, enquanto sociedade, convencemo-nos a nós próprios de que os bens materiais são o caminho para a felicidade. Tornamo-nos gananciosos, num esforço para acumularmos cada vez mais. Foi isto que tentei retratar no filme, tentando interligar o sítio onde os bens são produzidos para o consumidor e como isso afeta o meio ambiente as comunidades tradicionais. IP: O que é que a fez contar a história de Walls and the Tiger? SK: Eu ouvi muitas vezes os meus colegas dizerem que a tecnologia pode ajudar os países com necessidades de desenvolvimento e que toda a gente devia valorizar o seu modo de vida, tais como ter um carro, um computador, um telemóvel. Ao mesmo tempo, sempre que falava da falta de consciência social e ambiental no mundo empresarial, eles desconsideravam o efeito que tem sobre a população que eles acham que tem necessidades de se desenvolver. Também sei que as empresas e governos se estão a aproveitar dessa falta de consciência. Ao assistir a uma reunião da Trade Alliance, testemunhei o convite feito por funcionários do Governo indiano a empresas americanas para desenvolverem instalações no meu estado natal, oferecendo incentivos, inclusive terras a praticamente custo zero em zonas protegidas. Fiquei curiosa para saber como é que o Governo foi capaz de adquirir tantas terras de agricultores, sabendo o significado profundamente enraizado entre a terra e as pessoas naquela região. Viajei, então, por toda a Índia para descobrir mais. Descobri que esta não é a história só de alguns, todos estamos envolvidos. Não podia ficar sentada a assistir a tudo isto. Regressei todos os anos desde a primeira visita. Deixei o meu emprego e comecei a fazer este filme. CD: Kartikey Shiva CAPA IP: Que impacto teve o documentário? SK: Durante as nossas apresentações na Europa e nos Estados Unidos as pessoas ficaram de facto comovidas com o que viram. Muitas pessoas têm respondido dizendo que foram inspirados a agir sobre as questões apresentadas no filme e a fazerem mudanças nas suas vidas pessoais, seja tornando-se cada vez mais conscientes ou reduzindo o seu próprio consumo. As pessoas puderam relacionar os agricultores com aquilo que tem vindo a acontecer nas suas próprias comunidades. Isso foi muito gratificante de ver. Depois, a triste realidade é que algumas pessoas assumem automaticamente que o filme prega contra o desenvolvimento em todas as sus vertentes. Alguns indianos têm-me acusado de desrespeitar o bem maior, como eles dizem, que alguém tem de pagar o preço do sucesso da nação. Claro que, eu poderia argumentar que eles são os beneficiários deste sistema, pelos quais as comunidades tradicionais e rurais quase sempre carregam o fardo. De volta aos Estados Unidos, as pessoas acham que o filme faz sobressair que o seu excesso de consumo descontrolado é parte do problema. Por isso costumam ficar à defesa ou passar a culpa para um problema sistemático maior que os deixa de fora da equação. Algumas vezes senti que a atitude era, "não nos digas onde gastar o meu dinheiro". IP: O que é que acha que nos leva a crer que estamos “fora da equação” e que não existem razões para sermos responsabilizados? SK: Usamos a tecnologia para nos afastarmos das sociedades tradicionais e nos modernizarmos para libertarmos o nosso tempo de tarefas diárias e termos mais conforto. Para preenchermos o tempo livre que temos, acumulamos mais gadgets e mais tecnologia ao ponto de estarmos todos a trabalhar demais e não termos tempo de nos mantermos bem com tanta informação que recebemos. Nesta vontade de nos afastarmos das comunidades tradicionais com estruturas sociais rígidas em direção ao individualismo e à liberdade nós criámos os nossos próprios mundos pequenos onde somos completamente absorvidos e não temos tempo nenhum para pensar nos nossos vizinhos e nas nossas comunidades, muito menos naquilo que está agora a acontecer nalgum sítio longe do sítio onde nos encontramos. IP: O que é que os governos devem começar a fazer para dar início a um caminho verdadeiramente sustentável? SK: Antes de se pensar em sustentabilidade, é preciso reconhecermos que os recursos do planeta são finitos, por isso, não podemos consumir o que quisermos. Segundo, o processo de tornarmos as nossas vidas confortáveis tem custos sociais e ambientais. Vemos isso no filme quando os moradores das aldeias perguntam como é que as suas vidas podem ser melhores quando o ambiente está poluído e as suas quintas que os sustentaram durante gerações foram agora substituídas por fábricas. Outra coisa que tentámos mostrar é como muitas vezes há uma lacuna de perceção entre o que o governo quer e o que as pessoas querem. Aquilo que todos os governos querem fazer é correr atrás de maior crescimento económico. Não existem pessoas a sofrer por não verem satisfeitas as suas necessidades básicas nos países com maior crescimento económico? Ou se o benefício geral é aquilo que os governos andam à procura e dizem "alguém tem de pagar o preço", terão eles enquanto legisladores desistido dos seus estilos de vida por um bem maior? IP: Quais são as grandes armas para lutarmos pela mudança? SK: O conhecimento e a consciência são os principais fatores que nos podem ajudar a fazer escolhas conscientes sobre o nosso julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 19 CD: Kartikey Shiva CAPA futuro. Na Índia, nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar, temos de nos esforçar para conhecer como é que as escolhas que fazemos afetam a vida de outros. Com a população mundial a crescer, os recursos naturais a empobrecer e as alterações climáticas a acontecer, não nos podemos mais sentar à espera que outros resolvam os problemas. Esta não é uma história sobre o que está a acontecer numa aldeia rural na Índia, é antes uma história sobre o que é que as pessoas podem fazer quando são confrontadas com obstáculos maiores que as próprias vidas. É uma história sobre como as pessoas podem fazer a mudança contra todas as probabilidades. É uma história sobre pessoas que se unem para fazer a diferença, para fazer com que a verdadeira democracia funcione. Nós queremos ser parte da mudança que já começou e que se baseia numa consciência crescente. “O conhecimento e a consciência são os principais fatores que nos podem ajudar a fazer escolhas conscientes sobre o nosso futuro” 20 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 IP: O que podemos nós fazer enquanto cidadãos comuns para inverter esta situação? SK: Podemos comprar alimentos cultivados localmente tanto quanto possível ou apoiar a agricultura comunitária. Antes de gastarmos apenas porque podemos, podemos pensar duas vezes se de facto precisamos de determinado produto, como um novo par de sapatos ou a nossa quinquagésima camisola. Devemos questionarmo-nos sobre como são feitos os produtos e se as empresas a quem compramos têm preocupações em reduzir o seu impacto ambiental. IP SUSHMA KALAM A realizadora de Walls and the Tiger Sushma Kallam é descendente de uma longa linhagem de agricultores de aldeias na Índia e durante a sua infância viveu na pacífica aldeia natal dos seus avós, e desde então volta lá frequentemente. Depois de se ter formado em engenharia na Índia, Sushma Kallam foi para os Estados Unidos em 2001 trabalhar como consultora de Tecnologias de Informação independente, especializada em gestão de cadeias de distribuição. Foi nesse mundo que aprendeu tudo sobre a s formas como o desenvolvimento económico neoliberal - a globalização - foi perturbando a vida rural tradicional na Índia. O produtor e realizador associado do filme, Liam O'Connor é conselheiro para a juventude no estado de Washington, músico e artista. CAPA “Precisamos de nos concentrar na vida” Vandana Shiva, uma das maiores referências internacionais na defesa de um mundo são, falou em exclusivo com o Impulso Positivo sobre os riscos que corremos, as calamidades que provocamos e cometemos, as soluções que temos nas mãos e como ainda vamos a tempo de mudar. Por um mundo melhor. Para todos. Vandana Shiva Impulso Positivo (IP): Quais são os grandes desafios globais atuais? Vandana Shiva (VS): A crise Ecológica da erosão da Biodiversidade, o esgotamento da água, a desertificação, as alterações climáticas, a crise económica de um modelo que beneficia um por cento da população, e as consequências sociais do desemprego, das agitações e conflitos civis e das migrações forçadas. IP: Quais são os principais ultrajes cometidos pelos líderes mundiais nesta área? VS: Continuarem a fomentar e a proclamar a doença do neoliberalismo como a cura e militarizarem a sociedade. 22 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 IP: O que é urgente parar? VS: A nossa sobrevivência comum exige que façamos uma transição de ciclos viciosos de violência para ciclos virtuosos de não-violência, de economias negativas de morte e destruição para economias de vida que sustentem a vida na terra e as nossas vidas, de políticas negativas e culturas que estão a levar à aniquilação mútua para as democracias que incluem preocupação com toda a vida e a participação da mesma. IP: As questões ambientais e a ganância or recursos naturais estão por trás de algumas das maiores calamidades mundiais. Pode falar um pouco sobre isso? VS: Este é um dos temas abordados no Manifesto Terra Viva, CAPA publicado este ano pela Navdanya Foundation. A guerra na Síria e o terrorismo do Boko Haram foram gerados, entre outras coisas, pelas alterações climáticas. O modelo agrícola industrial atual tem sido um verdadeiro fracasso. Completamente interligado a isso está o modelo económico dominante, que se baseia na extração e nunca na reintegração, em sistemas económicos que são destruidores de vida e que causa a extinção de espécies animais e vegetais, o que eventualmente levará ao colapso do ecossistema. Este modelo é para o benefício de poucos e é a causa de injustiça económica, de uma instabilidade perigosa, da pobreza desesperante, fome e desemprego. Pela primeira vez na história da humanidade, o futuro da espécie humana já não é mais certo: as catástrofes climáticas, conflitos e guerras estão a empurrar-nos para a beira de um colapso ecológico, económico e social. IP: Podemos inverter esta situação? VS: Podemos escolher outro caminho. Um caminho baseado em cidadania global e na partilha de recursos, um caminho que aponta para uma economia circular com base na regeneração de recursos. A agricultura desempenha um papel fundamental dentro desta nova visão. A nova agricultura restaura a fertilidade da terra através de práticas agrícolas orgânicas regenerativas. Isso irá assegurar que os agricultores recebem uma remuneração justa, permitindo-lhes, assim, permanecer nas suas terras, enquanto continuam a fornecer alimentos para as cidades e comunidades. Este novo caminho troca um processo linear de exploração da terra e dos recursos naturais por um processo circular com base a reintegração e regeneração, o que por sua vez vem garantir resiliência, sustentabilidade, justiça e paz. Esta nova agricultura é parte de um processo que visa redefinir os próprios conceitos de democracia e liberdade. Este processo é capaz de gerar tanto uma nova economia como uma nova democracia, a que chamo Democracia da Terra. IP: O que é a Democracia da Terra? VS: Em ecologia integral, a sustentabilidade e a justiça social são inseparáveis. Tal como refere a recente Encíclica do Papa Francisco, Laudate Sí, "uma verdadeira abordagem ecológica torna-se numa abordagem social: ela deve integrar questões de justiça em debates sobre o ambiente, de maneira curar tanto o choro da Terra como o choro dos pobres". Isto para mim é a Democracia da Terra. IP: Que responsabilidades temos enquanto cidadãos comuns? VS: O nosso primeiro dever é recuperar os nossos direitos. Podemos começar com a comida e com a água. Precisamos de deixar de ser consumidores para sermos Cidadãos da Terra e praticar a Democracia da Terra. IP: A que de deve esta falta de consciência global da situação da Terra? VS: Deve-se a uma visão do mundo que fragmenta os nossos pensamentos, que nos separa da natureza e uns dos outros e ainda uma indústria de media que gera ficções e distrações. IP: O que é que os governos podem começar por fazer para darem início a um verdadeiro trajeto sustentável? VS: Os Governos podem começar por seguir o exemplo do Butão adotando o indicador de "Felicidade Interna Bruta" em vez do "Produto Interno Bruto" (PIB). Também podem começar a consultar mais os seus povos, como a Grécia. IP: E nós, enquanto cidadãos comuns, o que podemos começar a fazer? VS: De forma consciente tornarmo-nos Cidadãos da Terra, tomando conta da Terra e uns dos outros. Comece um jardim. Transforme os resíduos alimentares e toda a matéria orgânica em composto, capaz de contribuir para a fertilidade do solo, cultive uma horta e contribua para a agricultura urbana em área inutilizadas da cidade. Selecione e recicle resíduos para ajudar a reduzir os gases de efeito de estufa. Em zonas rurais, façam a recolha de biomassa para evitar a queima de galhos produzidos pela poda uma vez que esta prática, para além de produzir CO2 e contribuir para o efeito de estufa é um desperdício de material, uma vez que a biomassa pode ser utilizada como adubo, pellets, celulose para produção de papel, entre outras coisas. Aposte em práticas agrícolas que evitem o contínuo cultivo da terra como a permacultura ou a agricultura sinérgica. IP: Existe muita informação sobre estas matérias mas ao mesmo tempo uma grande inércia generalizada para agir corretamente. Porquê? VS: Estamos muito focados no medo e na negatividade. Precisamos de nos concentrar na vida, celebrar a vida, envolvermo-nos numa ação criativa e construtiva, não importa quão pequena seja. IP: O que é que o público em geral não entende e é urgente compreender sobre o impacto devastador do estilo de vida que temos hoje? VS: Que tudo está interligado. Quando nós comemos comida industrial, estamos a contribuir para a destruição da água e do solo, contribuímos para as alterações climáticas, empurramos pequenos agricultores para o suicídio, e destruímos a nossa própria saúde. IP: Qual será o nosso futuro a curto e médio prazo? VS: Se continuarmos no caminho dominante, a humanidade não tem futuro. Se mudarmos e adotarmos a Democracia da Terra, longe da ganância e do consumismo, longe da dominação pelo que é economicamente poderoso, tanto a terra como as pessoas vão florescer., IP Em ecologia integral, a sustentabilidade e a justiça social são inseparáveis.” julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 23 NO CENTRO PÔR FIM AO DESPERDÍCIO ALIMENTAR As consequências do desperdício alimentar são devastadoras não só para a própria terra como para a vida de agricultores do mundo inteiro. O Impulso Positivo falou em exclusivo com Edd Colbert, Coordenador de Campanha e de Investigação da Feedback, uma das organizações sem fins lucrativos mundiais que mais tem chamado a atenção para esta calamidade. Tristram Stuart, Fundador da Feedback Impulso Positivo (IP): Qual foi a origem da organização Feedback? Edd Colbert (EC): A Feedback foi fundada por Tristram Stuart, autor da obra "Waste: uncovering the global food scandal" e ativista global contra o desperdício alimentar. Tristram começou a fazer campanhas quando era ainda uma criança e criou os seus próprios porcos com desperdícios alimentares de cozinhas de lojas locais. Muito rapidamente percebeu que estes alimentos estavam em perfeitas condições para serem comidos e começou a devorá-los como protesto. Essas ações iniciais deram origem a campanhas posteriores incluindo aquele que é o nosso evento principal, "Feeding the 5.000", onde servimos refeições a milhares de pessoas, utilizando comida que teria ido para o lixo em grandes eventos públicos, e a campanha "The Pig Idea”, uma campanha para obter mais desperdícios alimentares para alimentar gado e assim compensar o impacto ambiental da produção de carne. 24 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 IP: O que urgente alertar a população em geral sobre a produção alimentar? EC: O desperdício alimentar é um sintoma de problemas mais amplos do nosso sistema alimentar global. No centro destes problemas encontra-se a continuação da tendência para a superprodução e o consumo excessivo o que leva a problemas de saúde relacionados com a alimentação e vastas escalas de resíduos. O desperdício faz destacar desigualdades no sistema tais como o facto de os agricultores não estarem a ser pagos pelos alimentos que são rejeitados pelos supermercados, e isso é uma ferramenta importante para compreender outros assuntos que envolvem a produção alimentar. IP: Atualmente, quais são os principais impactos ambientais da produção alimentar? EC: Um terço da oferta mundial de alimentos poderia ser salva pela redução do desperdício - isso é suficiente para alimentar 3 NO CENTRO mil milhões de pessoas. Além disso, a FAO estima que todos os anos, a produção de alimentos que é desperdiçada gera 3,3 mil milhões de toneladas de gases com efeitos de estufa e uso até 28% da área agrícola mundial. Para colmatar, os agricultores estão a ser forçados a sair do negócio como resultado dos exigentes critérios dos supermercados para produzirem apenas aquilo que encaixa nas rigorosas especificações cosméticas como o tamanho, a cor e a forma e por causa das práticas comerciais injustas, tais como o cancelamento de encomendas à última hora, sem contrapartidas. Os agricultores apenas são pagos por aquilo que os supermercados vendem, por isso quando alimentos bons são rejeitados, não há só desperdício, como também os agricultores não são pagos. Em lugares como o Quénia, isso leva os agricultores a serem forçados a entrarem em ciclos de dívida apenas para pagarem aos seus trabalhadores, alimentarem a sua família e enviarem os filhos para a escola. IP: O que é que podemos fazer para mudar esta realidade? EC: Neste momento a União Europeia está a consultar os EstadosMembro sobre como acabar com as práticas comerciais injustas. Já reconheceu que este problema resulta em excesso de produção e de desperdício de alimentos mas nós queremos garantir que põe em prática legislação forte para assegurar que os supermercados param de despejar comida sobre os agricultores. Qualquer pessoa ao acrescentar o seu nome à nossa petição que se encontra disponível online está a ajudar a garantir que os políticos sabem que isto é algo que precisa de ser tratado. Vamos levar a petição ao Parlamento Europeu, fazer muito barulho, e exigir que as leis sejam postas em práticas para que se acabe com o desperdício alimentar. IP: Começamos a ouvir falar cada vez mais do combate ao desperdício alimentar. EC: A consciencialização sobre o desperdício alimentar está a atravessar um momento alto e o movimento global contra o desperdício alimentar tem feito um caminho extraordinário para fazer desta questão um assunto doméstico. Contudo, a atenção maior recai sobre o desperdício do consumidor e do retalhista. É preciso ir mais longe desses níveis e olhar para o desperdício de alimentos nas explorações agrícolas e na parte inferior das cadeias de abastecimento. Os supermercados não querem que se saiba como estes tratam os seus fornecedores, mas uma pesquisa recente realizada pelo governo do Reino Unido descobriu que os fornecedores dos principais supermercados do Reino Unido enfrentam rotineiramente práticas comerciais desleais. Precisamos espalhar a palavra sobre este problema para que possamos realmente pôr fim ao desperdício alimentar. IP: Que medidas, no sentido de combater o desperdício alimentar, foram tomadas por governos e outras entidades que valham a pena replicar e apoiar? EC: As Nações Unidas estão a acordar um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável para reduzir para metade o desperdício alimentar até 2030. O Programa Ambiental das Nações Unidas está a reunir líderes empresariais para alcançar essa meta ainda mais cedo. França acaba de aprovar uma lei que obriga os supermercados a ter um contrato com instituições de caridade, que, apesar de não os forçar a doar alimentos não vendidos é certamente uma vitória simbólica e um sinal de que esse movimento global começa de facto a travar o desperdício alimentar. IP: O que é que levou à criação da campanha Stop Dumping? EC: A Feedback tem vindo a investigar as cadeias de valor dos supermercados durante anos em países tão diversos como o Reino Unido, Quénia ou Guatemala. Temos descoberto as práticas comerciais desleais levadas a cabo pelos supermercados que destroem os meios de subsistência dos pequenos agricultores e fazem com que toneladas de alimentos bons acabem no lixo. Esta campanha passa por contar as histórias desses agricultores e asseguram que os supermercados passam a assumir a responsabilidade pelo desperdício alimentar nas suas cadeias de valor. IP: Quais são os objetivos que a Feedback pretende alcançar com esta campanha, e quando? EC: Queremos que um milhão de pessoas assine a petição para que os supermercados parem de descarregar o desperdício alimentar nos agricultores. Depois iremos entregar isso aos deputados para que trabalhem a consulta de práticas comerciais desleais e vamos fazer muito barulho nos parlamentos europeus para assegurar que este assunto não fica esquecido. A consulta deve terminar muito em breve e no início do próximo ano deverá ser publicado um relatório. Queremos ter a certeza que este relatório inclui recomendações para uma legislação eficaz contra práticas comerciais desleais para garantir justiça aos agricultores do mundo inteiro e que seja o fim de alimentos bons desperdiçados. IP “Um terço da oferta mundial de alimentos poderia ser salva pela redução do desperdício - isso é suficiente para alimentar 3 mil milhões de pessoas.” julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 25 © The Story of Stuff NO CENTRO PERCEBER E FALAR DA “HISTÓRIA DAS COISAS” Em dezembro de 2007, Annie Leonard e os seus amigos da Free Range Studios, uma empresa de marketing e publicidade nos Estados Unidos, publicaram na internet um filme de 20 minutos sobre a forma como se fazem, utilizam e se deitam fora coisas, tendo desencadeado uma onda de debate sobre aquilo que antes era um tema reprimido e passava assim a ser uma conversa honesta sobre os impactos da louca cultura consumista atual, nas pessoas e no planeta. Nos seis anos que se seguiram desde que "The Story of Stuff" (“A História das Coisas”) foi lançada, os "desenhos animados sobre lixo" de Annie foram vistos mais de 40 milhões de vezes no mundo inteiro. Annie respondeu ao apelo dos espetadores que queriam mais informações e ajuda para se envolverem com a causa, e em 2008 fundou o The Story of Stuff Project. Desde então, em conjunto com a sua equipa já lançou um best-seller, cocriou um programa para o ensino secundário chamado Buy, Use, Toss? (Comprar, Usar, Deitar fora?), desenvolveu um programa de estudo para comunidades de fé e lançou uma série de podcasts chamada The Good Stuff que narra os esforços quotidianos de pessoas transformadoras. E claro, o The Story of Stuff Project criou também várias séries de novos filmes online. Na primeira série - The Story of Bottled Water, The Story of Cosmetics and The Story of Electronics (A História da Água engarrafada, A História dos Cosméticos e a História da Eletrónica) - foram usados produtos de consumo de todos os dias para lançar um olhar mais profundo sobre de onde vêm as coisas e para onde vão quando as deitamos fora. Mas os seguidores de The Story of Stuff pediram mais e foi criada uma segunda série desta vez intitulada The Story of Citizens United, The Story of Broke and The Story of Change (A História dos Cidadãos Unidos, A História de Quebrar e A História da 26 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 Mudança). Desta vez a mensagem passava por examinar as raízes subjacentes aos nossos padrões de produção e de consumo insustentáveis: o que é que marca o sistema, quem paga, quem ganha e como podemos dar a volta a isso. THE STORY OF STUFF, HOJE "Depois de termos ajudado milhões de pessoas do mundo inteiro a perceber e a falar da "História das Coisas" começámos à procura de caminhos para desenvolver soluções com cerca de 500.000 membros da nossa Comunidade", contou o The Story of Stuff Project em exclusivo ao Impulso Positivo. "Em 2014 lançámos campanhas geradas e alimentadas pela Comunidade para a redução da poluição de plástico, para fazer crescer a economia de partilha e acabar com a corrupção política". Ainda no final de 2014, o The Story of Stuff Project começou a oferecer aos membros da comunidade "um inovador Bootcamp online que tem como objetivo ajudar os participantes a fortalecer e a agilizar os seus músculos da cidadania", acrescentou a organização. NO CENTRO O MICRO FILME DO MOMENTO Depois de mais de um ano, no dia 6 de maio foi lançado um novo vídeo, uma animação "explicativa" de dois minutos que conta a história das microesferas. "O novo vídeo foi lançado para apoiar os esforços crescentes nos Estados Unidos, Canadá e Europa e noutros lugares para proibir as microesferas de plástico, um ingrediente cada vez mais comum em produtos de cuidados de higiene que escapa à maioria das estações de tratamento de água e polui o meio ambiente", explica o The Story of Stuff Project. "As microesferas podem ser encontradas em tudo desde o esfoliante facial e sabão à pasta de dentes e maquilhagem, e aparecem nos rótulos de ingredientes sob os seus nomes técnicos, como polietileno, polipropileno, tereftalato de polietileno ou polimetilmetacrilato". A organização acrescenta ainda que "os cientistas estimam que mais de 500 mil milhões de microesferas de plástico entram na Baía de São Francisco todos os dias”. Narrado pela fundadora do The Story of Stuff Project e atual Diretora Executiva do Greenpeace USA, o vídeo usa o estilo de marca animado The Story of Stuff para destacar o problema fundamental das microesferas: elas estão "desenhadas para ir pelo ralo abaixo". “Os "desenhos animados sobre lixo" de Annie foram vistos mais de 40 milhões de vezes no mundo inteiro” O "THE STORY OF STUFF PROJECT" SUGERE... - Comece por preencher o Changemaker Quiz disponível online - Considere a possibilidade de se inscrever no Citizen Muscle Bootcamp - Organize uma triagem dos filmes The Story of Stuff. Pode ainda manter-se atualizado seguindo o "The Story of Stuff Project" nas redes sociais. O QUE PODE SER FEITO E PORQUÊ Annie Leonnard explica na série Story of Change, que "é muito importante vivermos fora das nossas convicções". "As ações de consumo individuais são uma forma importante de encarnar a mudança que cada um quer ver", comenta a organização ao Impulso Positivo. Por outro lado, "Acreditamos que nenhuma mãe deve ter de gastar 45 minutos no corredor dos champôs do supermercado a tentar determinar que champô de bebé é provavelmente menos cancerígeno", acrescenta. O The Story of Stuff Project está a trabalhar para que as lojas "simplesmente não possam vender esses produtos tóxicos”. Para que tudo isto se torne realidade, é preciso fazer com que os cidadãos - não os consumidores - escrevam uma nova história da mudança. The Story of Stuff Project propõe "evitar a compra de coisas más, em primeiro lugar, mas também trabalharmos os músculos da cidadania e fazer pressão sobre as empresas para que façam o que está correto”. Mais, é preciso “defender políticas sólidas nos corredores dos governos e nas salas de reunião das empresas”. IP julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 27 EXPERIÊNCIAS SMART WASTE PORTUGAL Atuar por uma economia circular O setor da gestão de resíduos em Portugal tem sido, até hoje, muito desvalorizado, apesar de desempenhar um papel fundamental na sustentabilidade da economia nacional, assegurando um correto encaminhamento e valorização do lixo produzido. Foi com o intuito de potenciar o verdadeiro valor deste setor, reunindo esforços e conhecimentos de várias áreas e “pontos” da cadeia de valor, que este ano nasceu o cluster Smart Waste Portugal - SWP, cujo Plano Estratégico foi divulgado em julho. “O SWP nasce da constatação de que a aplicação em Portugal do postulado de que um “resíduo é um recurso”, não pode ser tarefa de um Governo, de uma Entidade ou de um Cidadão”, afirma Aires Pereira, membro da Direção do SWP, em exclusivo ao Impulso Positivo. “Só uma “pool” de entidades de diferentes setores, mas representativa da cadeia de valor dos resíduos, poderá concretizar com êxito a geração de valor, de riqueza, de criação de Empresas e Emprego, que o SWP pretende atingir”, acrescenta. Com uma missão de inovar, investigar e desenvolver o setor, o Smart Waste – Cluster de Resíduos de Portugal quer tornar a gestão nacional de resíduos num exemplo de sucesso, afirmando a relevância da gestão de resíduos para o desenvolvimento da economia circular. O plano de ação do SWP passa antes de mais por “fazer o apelo às Organizações nacionais, públicas e privadas, para que se unam num “cluster”, o SWP, que visa essencialmente promover negócio”, explica Aires Pereira. Entre as principais missões assumidas pelo Smart Waste Portugal encontram-se a divulgação de boas-práticas, promoção da investigação e desenvolvimento no setor, potencialização do emprego e empreendedorismo e o reforço do sector junto dos decisores nacionais e europeus. Contudo, antes de mais é fundamental estudar e conhecer a realidade e neste sentido está a ser feito “um aprofundado Estudo, realizado pelo Gabinete do Professor Augusto Mateus sobre a Relevância e o Impacto do Setor dos Resíduos em Portugal e na perspetiva 28 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 de uma Economia Circular, que nos oriente posteriormente em Investimentos, em negócios, em oportunidades”, sublinha. Lançado oficialmente em Fevereiro deste ano, o cluster que conta já com 40 associados e pretende chegar aos 100 até ao final do ano, é uma iniciativa da Lipor, a entidade responsável pela gestão de resíduos do Grande Porto, a que se juntam diversos membros fundadores como a Agência Portuguesa do Ambiente, a Sociedade Ponto Verde ou a AEPSA – Associação das Empresas Portuguesas para o Sector do Ambiente. O Smart Waste Portugal quer ser o grande impulsionador de uma missão conjunta para que venha a prevalecer uma visão de negócio mais sustentável. Em conjunto, os seus associados complementam o conceito de economia verde na medida em que promovem uma economia circular, de baixo carbono e com produção minimizada de resíduos, com consequências benéficas no ambiente e na saúde humana. Para isso, Aires Pereira afirma ser “fundamental criarmos sinergias, ganharmos dimensão e conseguirmos, através do associativismo, abarcar os novos desafios da economia”. Se a economia circular é o futuro, o SWP não podia ser mais bem-vindo. IP “…tornar a gestão nacional de resíduos num exemplo de sucesso, afirmando a relevância da gestão de resíduos para o desenvolvimento da economia circular.” EXPERIÊNCIAS TERRAS DENTRO Do coração do Alentejo para o Mundo As Associações são atores cada vez mais relevantes no desenvolvimento e na restruturação dos territórios locais e a Terras Dentro é exemplo disso mesmo. Apesar de não estar circunscrita a qualquer âmbito geográfico de atuação, a Associação Terras Dentro está particularmente vocacionada para o trabalho em meio rural tendo uma intervenção descentralizada, a partir do coração do Alentejo, abrangendo um território que inclui os concelhos de Viana do Alentejo, Alvito, Cuba, Portel, Vidigueira e Montemor-o-Novo. Contudo, a sua visão humanitária e universalista do desenvolvimento, fez com que esta Associação tivesse ido terras dentro pelo mundo fora, desenvolvendo projetos em cooperação com outros territórios destacando-se os projetos com o Brasil, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, França, Espanha e Bulgária. O intenso trabalho desenvolvido pela Terras Dentro até ao momento reflete-se também num conjunto considerável de boas práticas e produtos que têm contribuído direta ou indiretamente para os processos de desenvolvimento da região. INCLUSÃO, PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DA REGIÃO DO ALENTEJO Os produtos Terras Dentro vão desde as mais de 15 publicações, passando por uma Maleta Ambiental, um Kit Pedagógico para a Intercultura para crianças e jovens, sem esquecer os Jogos Tradicionais, assim como o Kit para a promoção da Igualdade de Género – Azul no Rosa. No que diz respeito aos projetos da Terras Dentro, a associação é desde o início entidade gestora de um grupo de ação local no âmbito da abordagem Leader e, mais recentemente de uma estratégia de desenvolvimento local enquadrada do DLBC – Desenvolvimento Local de Base Comunitária. Para além da intervenção subjacente às iniciativas Leader e DLBC, a Terras Dentro desde cedo que diversificou a sua atuação assente numa abordagem integrada de áreas de intervenção como a educação e formação, intervenção social, empreendedorismo, desenvolvimento rural, valorização e preservação ambiental e cooperação para o desenvolvimento. É neste contexto que se têm desenvolvido projetos e ações de apoio à criação de empresas, de estímulo ao empreendedorismo, de luta contra a pobreza, de igualdade de oportunidades, de igualdade de género, de promoção cultural e patrimonial, de valorização dos produtos endógenos, de valorização ambiental, de investigação, de capacitação e qualificação de recursos humanos, entre muitos outros. A inclusão de jovens, através de atividades que promovem o associativismo, a orientação vocacional, o desenvolvimento de competências e o espírito empreendedor é o objetivo do projeto promovido pela Associação no concelho de Montemor-o-Novo, o Projeto Monte Dentro. É também neste concelho que está a ser desenvolvido um projeto cofinanciado pelo Alto Comissariado para as Migrações, para a integração de comunidades ciganas, com vista à promoção da interculturalidade e prevenção de eventuais comportamentos de descriminação. De âmbito mais regional, e numa vertente de divulgação dos produtos locais, está em curso o Projeto Centro de Inovação, Promoção e Projeto Centro de Inovação, Promoção e Divulgação do Pão e Doçaria Alentejana Divulgação do Pão e Doçaria Alentejana/INAlentejo que, como explica Elsa Branco, Presidente da Terras Dentro, “pretende sobretudo dar a conhecer e valorizar dois produtos de extrema relevância na economia da região Alentejo”. O Projeto “Alentejo for All” com grande impacto na região e hoje promovido pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo, conta também com o apoio e assessoria técnica da Associação. Elsa Branco conta que este “nasceu na sequência de um projeto da associação para a igualdade de oportunidades, o Projeto Rotas Sem Barreiras e, cujo objetivo é tornar acessível a todos, o turismo na região Alentejo”. Importante ainda destacar o Projeto Cidadania & Território Desenvolvimento Local Sustentado que está estruturado numa parceria entre as associações RUMO, do Barreiro, Rota do Guadiana, de Serpa, a Terras Dentro de Alcáçovas e a ACERT de Tondela. Enquadra-se no Programa Cidadania Ativa, cofinanciado pelo EEA Grants e gerido pela Fundação Calouste Gulbenkian, e tem como objetivos “criar, implementar e animar uma plataforma interinstitucional de discussão e reflexão do desenvolvimento territorial sustentável, promover a abordagem económica, social, cultural e ambiental integrada e animar ciclos de debates e reflexão que contribuam para o diálogo e cooperação entre ONGs, setor lucrativo e autoridades públicas, no quadro dos processos de execução de políticas públicas”. A TERRAS DENTRO EM PROL DO DESENVOLVIMENTO Uma associação como a Terras Dentro tem um papel fundamental na dinamização e no desenvolvimento de uma região como o Alentejo, trabalhando dia-a-dia, direta e indiretamente pela melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes assim como pela valorização do território.“Contribuir para a qualificação de recursos humanos na região, incrementar o tecido empresarial, tornar a região mais competitiva, promover a integração social e no mercado de trabalho, promover os territórios rurais nas vertentes patrimonial, cultural e dos produtos locais estimulando a sua atratividade para a fixação e captação de residentes e visitantes e ter um papel ativo na definição de políticas” são só algumas das metas que a associação luta por alcançar a cada dia que passa, como afirma Elsa Branco. No Futuro, a Terras Dentro quer continuar “a desenvolver o seu trabalho em prol do desenvolvimento integrado das comunidades rurais, embora com uma aposta ainda mais forte na inovação ao nível dos projetos e suas metodologias de implementação”. A Associação continuará a aprofundar a sua intervenção “sempre numa perspetiva de trabalho de conjunto e em parceria com todos os atores locais, condição fundamental para a prossecução dos seus objetivos”, como afirma a sua presidente. Contudo, Elsa Branco salienta que “é muito importante pensar o desenvolvimento de uma forma integrada e cada vez numa vertente mais global, pois só assim é possível afirmar positivamente a região Alentejo”. IP julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 29 EXPERIÊNCIAS NOOCITY Em 2009, o brasileiro Pedro Monteiro e os portuenses Samuel Rodrigues e José Ruivo conheceram-se no interior do estado do Rio de Janeiro, durante um curso de permacultura. Na Primavera de 2013, já em Portugal, os três resolveram montar uma horta no pátio do prédio onde trabalhavam, no centro do Porto, mas não encontravam os equipamentos adequados para isso. Decidiram, então, juntar esforços e experiências em arquitetura e permacultura e construir os seus próprios equipamentos. Não foi preciso muito tempo para perceberem que funcionava e que poderiam ir mais além, como explica Leonor Babo da Noocity: “Pouco tempo depois já partilhavam legumes e ervas aromáticas que cresciam aos montes numa série de caixas e sistemas. Os protótipos foram evoluindo e os três perceberam que poderiam transformá-los em produtos, a ideia amadureceu e em Setembro do mesmo ano nascia oficialmente a Noocity Ecologia Urbana e o seu primeiro produto, a Noocity Growbed um sistema de horta com sub-irrigação”. A Noocity quer oferecer aos cidadãos urbanos a alternativa de criarem os seus próprios sistemas sustentáveis, mais parecidos com os processos cíclicos naturais, através de equipamentos eficientes e acessíveis que permitem às pessoas produzir alimentos na cidade de forma simples e ecológica. “O sistema de produção e consumo de alimentos atual é insustentável por ser um processo linear que, por um lado, consome e esgota recursos e, por outro, produz e acumula resíduos. Numa conjuntura de degradação ambiental e de cultura de junk food, cuidar de nós mesmos e do meio ambiente permite caminhar em direção a cidades e comunidades mais saudáveis e resilientes”. OS PRODUTOS DO PRESENTE E DO FUTURO NOOCITY Hoje, em paralelo com a afirmação da marca Noocity Ecologia Urbana, o principal projeto é a comercialização e distribuição da Noocity Growbed, uma cama de cultivo com sistema de sub-irrigação (auto 30 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 © www.noocity.com Horta urbana portuguesa, com certeza rega), fácil de montar e de baixa manutenção, permitindo plantar uma grande variedade de legumes, frutos e ervas em qualquer lugar como uma varanda, um pátio ou uma cobertura. Para além de criar e desenvolver equipamentos para agricultura urbana, a Noocity acredita que a educação tem um papel importante na desmistificação da sua prática, aproximando os cidadãos urbanos à natureza. É por isso que dedica uma parte do seu tempo a criar e partilhar material didático exclusivo sobre vegetais e os princípios básicos de agricultura biológica bem como outras práticas sustentáveis. Na Biblioteca da plataforma online da Noocity (www.noocity.com), é possível encontrar uma série de informação sobre várias plantas e como cultivar, tudo explicado de uma forma simples, prática e com um design altamente apelativo. O mesmo se pode dizer da secção Magazine onde, para além de artigos e entrevistas sobre os temas mais variados relacionados com a agricultura urbana é possível encontrar receitas e dicas sobre como melhor aproveitar os produtos da horta. Contudo a Noocity não quer ficar por aqui. “Queremos seguir caminho no desenvolvimento de mais soluções eficientes para os agricultores urbanos e, nessa perspetiva, pretendemos vir a realizar um conjunto de equipamentos que feche um ciclo de produção e reutilização de recursos e resíduos”, afirma Leonor Babo. “Neste momento, temos na mira a viabilização de um compostor que, incorporado na nossa Noocity Growbed, permitirá ao cidadão urbano ter um sistema único com auto-rega EXPERIÊNCIAS e auto-fertilização”. Para além disso, um secador solar de escala doméstica, um sistema de recolha das águas das chuvas e uma estufa são alguns dos produtos que estão também em desenvolvimento o que não só virá complementar o Noocity Growbed como sustentar a criação de um ciclo de produção próprio. O CRESCIMENTO DA NOOCITY Quando tudo começou, os responsáveis pelo “nascimento” da Noocity sentiam de facto uma necessidade de desenvolver o equipamento imaginado e foi isso que fez com que se superasse a cada dia um processo “longo e muito cuidado para criar uma solução e, mais tarde, um produto que fosse realmente relevante e pertinente”. Hoje é ponto assente que valeu a pena e os resultados alcançados até ao momento vão “um pouco além das expetativas”, como confirma Leonor. Os comentários e elogios feitos e o facto de se sentir que está a “responder a uma necessidade real de citadinos por todo o mundo” faz com que o sentimento partilhado por esta equipa seja altamente inspirador. A confirmação da aposta acertada da Noocity revelou-se uma vez mais recentemente através de uma campanha de crowdfunding. “O maior desafio, superado, foi a recente campanha de crowdfunding que realizamos na plataforma Indiegogo através da qual fizemos chegar Noocity Growbeds aos Estados Unidos, Singapura, Austrália, França, Itália, Inglaterra “Acreditamos que praticar Agricultura Urbana é assumir uma atividade inspiradora, ecológica e produtiva.” e muitos outros” conta Leonor Babo. Hoje a Noocity está assim espalhada pelo mundo. Depois de quase 300 clientes oriundos de 38 países diferentes, esta equipa quer continuar a “oferecer soluções, eficientes, eficazes e relevantes para quem quer viver a cidade de uma forma diferente, mais consciente, sustentável e próxima à natureza”. Para além de ser uma forma original de repensar os espaços inutilizados e não produtivos como as coberturas, as varandas ou os pátios, transformando-os em lugares de convívio e abundância, trata-se de cultivar alimentos, pessoas e famílias mais saudáveis, estabelecer sintonia com o ritmo da natureza e fortalecer laços comunitários. “Acreditamos que praticar Agricultura Urbana é assumir uma atividade inspiradora, ecológica e produtiva.” A falta de espaço, de tempo ou de orientação prática já não são desculpa. Tem tudo para fazer com que a sua varanda dê certo.. IP “Para além de criar e desenvolver equipamentos para agricultura urbana, a Noocity acredita que a educação tem um papel importante na desmistificação da sua prática, aproximando os cidadãos urbanos à natureza.” julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 31 EXPERIÊNCIAS IN LOCO Perseverar para desenvolver Portugal profundo A In Loco, uma das organizações mais conceituadas em Portugal no âmbito do desenvolvimento local, nasceu em 1988, com o objetivo principal de promover o desenvolvimento local do interior rural do Algarve. A ASSOCIAÇÃO E OS SEUS PROJETOS Passados 27 anos, muitos projetos, parcerias e aprendizagens, a organização atua essencialmente em quatro vertentes: o desenvolvimento rural; o desenvolvimento social, principalmente desde o ano 2000; a cooperação internacional, europeia e extracomunitária, que tem estado presente desde a fundação da In Loco, embora reforçada decisivamente a partir de 2005 com intervenções em países de África e América Latina; e a diversificação das fontes de financiamento, com o incremento decisivo da prestação de serviços, com maior incidência a partir de 2007. Atualmente a In Loco tem ativos cerca de quinze projetos nas áreas do desenvolvimento rural, do desenvolvimento social, da promoção da participação e da cidadania e da cooperação internacional. Alguns dos mais inovadores e com maior impacto e que vão desde a disseminação de práticas de democracia participativa, a intervenções no âmbito do desperdício alimentar, passando por uma colaboração internacional para salvaguardar a Dieta Mediterrânica como Património Cultural e Imaterial da Humanidade (ver caixa). Nelson Dias, Presidente d aIn Loco orgulha-se do facto de a “In Loco ter contribuído de forma decisiva para o desenvolvimento do interior do Algarve, apoiando a criação de inúmeros projetos que ajudaram a criar atividades económicas e riqueza, bem como a contribuir para a fixação de pessoas no território”. Acrescenta ainda que um dos méritos da organização “tem sido colocar esta sub-região no mapa das preocupações de diversas entidades, rentabilizando recursos e ampliando a capacidade de intervenção sobre os problemas”. Para além disso, é de ressalvar o facto de a In Loco ser “a entidade portuguesa que maior contributo tem dado para a disseminação do tema e das práticas de democracia participativa ao nível das autarquias portuguesas”. Uma das grandes preocupações da associação ao longo do tempo foi apoiar “a conceção, implementação e avaliação de diversas experiências de norte a sul do país”. A sua experiência neste campo fez com que o seu papel fosse “publicamente reconhecido” e esta frente de atuação “tem inclusive sido alargada a outros países onde a In Loco tem sido convidada a intervir”, como refere o Presidente. CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO NACIONAL Com base no contributo de todos estes anos, o Presidente da In Loco aponta como medidas fundamentais para que o desenvolvimento sustentável se torne uma realidade, “uma verdadeira reforma do Estado” com uma aproximação deste à Administração pública, a “criação de políticas de participação dos cidadãos” e “um maior equilíbrio entre o Estado, o Mercado e a Sociedade”. A reforma do Estado “não deve ser apenas baseada no seu redimensionamento mas mais orientada para a criação de 32 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 mecanismos de governação integrada, capazes de colocar o Estado e a sua Administração Pública a olhar de forma conjunta para o território nacional e para as especificidades regionais”, explica Nelson Dias. “A rentabilização de recursos e a articulação de políticas entre Ministérios é algo essencial para um novo conceito de Estado e para a promoção de um desenvolvimento mais equilibrado do país, contrariando, entre outras, a assimetria interior e litoral”, afirma. Em relação à criação de políticas de participação ativa dos cidadãos, o Presidente da In Loco defende que o “desenvolvimento mais sustentável do país passa necessariamente pela melhoria e aprofundamento dos mecanismos de envolvimento efetivo dos cidadãos na conceção, gestão e avaliação das políticas públicas”. No que diz respeito à relação entre o Estado, o Mercado e a Sociedade, Nelson Dias defende que “o Estado não pode ser apenas regulador e ficar com os riscos nas relações de negócio com o Mercado, o Mercado deve assumir maior responsabilidade na promoção dos equilíbrios sociais e ambientais ea Sociedade deve ser entendida como um parceiro estratégico do Estado e do Mercado, deixando de assumir apenas o papel de ator no qual se delegam as ações marginais que aos outros dois pilares da regulação social pouco interessam”. Organizações como a In Loco têm sido motor de desenvolvimento principalmente nas regiões mais desprotegidas do interior do País. O reconhecimento e a vontade de ver o trabalho realizado replicado, tanto em regiões do país como noutras comunidades internacionais, só prova que a sua qualidade e riqueza em muito poderão contribuir para diminuir assimetrias tanto regionais como sociais, promovendo um aproveitamento do território mais eficiente e saudável.IP PROJETOS DE DESTAQUE IN LOCO “Portugal Participa”, apoiado pelo Programa Cidadania Ativa, que visa experimentar e disseminar práticas de democracia participativa no país. Foi neste âmbito possível apoiar a criação de uma Rede de Autarquias Participativas, que conta atualmente com 45 Câmaras Municipais; “Melhoria da Governação Municipal em Moçambique”, suportado pelo Banco Mundial e pela Cooperação Britânica, que tem permitido a implementação de processos de Orçamento Participativo nos Municípios de Maputo; Nampula e Quelimane, bem como a formulação de contributos para uma política de disseminação nacional desta metodologia, aliada à criação de uma rede de Municípios; “Don’t Waste Our Future”, financiado pela Comissão Europeia, que está a permitir desenvolver um trabalho sobre o tema do desperdício alimentar em oito países, assumindo a In Loco a coordenação da intervenção no caso português; “SlowMed”, suportado pelo ENPI CBC MED, que tem viabilizado uma intervenção de apoio à salvaguarda da Dieta Mediterrânica como Património Cultural e Imaterial da Humanidade, com intervenção em seis países; “Loja Made In Loco”, espaço criado pela Associação para promover e vender os produtos regionais de qualidade do Algarve, contribuindo para a sustentabilidade das pequenas produções locais. Para mais informações sobre estes e outros projetos podem consultar a página da Associação In Loco – www.in-loco.pt ou seguir a nossa atividade no Facebook - https://www.facebook.com/associacao.inloco © Biovision EXPERIÊNCIAS BIOVISION Combater a fome e a pobreza pela raiz Nos anos 80, o entomologista de renome internacional Hans Rudolf Herren salvou milhões de pessoas em África de morrerem à fome através da elaboração de métodos de controlo orgânicos para uma peste devastadora da mandioca. Foi agraciado com o World Food Prize em 1995 pelo seu trabalho. A Biovision Foundation foi fundada em 1998 por Hans Rudolf Herren juntamente com três amigos basicamente para financiar o seu projeto de disseminação de conhecimentos junto dos pequenos agricultores da África Oriental. Enquanto Diretor Geral do International Centre of Insect Physiology and Ecolgy, Herren tinha constatado que os cientistas estavam a trabalhar isoladamente, sem partilharem as suas ideias com os agricultores e sem beneficiarem das experiências dos mesmos. Hoje a Biovision é uma referência incontornável do mundo da ecologia. O Impulso Positivo falou em exclusivo com David Fritz, Diretor de Comunicação e Campanhas da Fundação. Impulso Positivo (IP): Qual a missão da Biovision Foundation? David Fritz (DF): A nossa missão é um mundo com uma alimentação saudável suficiente para todos, produzida por pessoas saudáveis num ambiente saudável. A Biovision combate a fome e a pobreza nas suas raízes e está comprometida com a divulgação e aplicação de métodos ecológicos que melhorem de forma sustentável as condições de vida em África ao mesmo tempo que preserva o meio ambiente. Promovemos a autoajuda, um pensamento e uma ação ecológica de Norte a Sul do planeta. As nossas atividades internacionais de defesa de direitos começaram há quatro anos quando se tornou claro que as políticas existentes tinham obrigatoriamente que mudar para garantir que os desenvolvimentos positivos no terreno poderiam ser bem-sucedidos a longo prazo. IP: Quais foram as grandes conquistas da Fundação até ao momento? DF: O sucesso do Programa de Comunicação para Agricultores na África Oriental é certamente uma das maiores histórias de sucesso. Assim como os 3,5 milhões de agricultores no Quénia que ouvem a TOF Radio e os cerca de 250.000 agricultores quenianos que leem, a revista "The Organic Farmer" todos os meses. Outras 110.000 pessoas leem a edição Suaíli publicada na Tanzânia. Cerca de 76.000 agricultores beneficiaram dos centros locais de informação e formação e dos conselhos que estes providenciam. O site Infonet tem uma audiência global e um número de visitantes que aumenta continuamente. Do ponto de vista internacional, ficamos orgulhosos de que alguns dos nossos textos em relação ao desenvolvimento da agricultura foram incluídos na declaração final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro em 2012 e fomos capazes de continuar a ter um papel influente durante a elaboração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ao longo dos dois últimos anos. IP: Quais são os projetos em cursos mais relevantes? DF: O nosso envolvimento na negociação e elaboração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é muito importante uma vez que irá ser a base do nosso grande objetivo de mudar o percurso da agricultura global, longe da agricultura convencional e industrial e no sentido de uma agroecologia que não só irá ajudar a alimentar o mundo, mas que terá também um impacto significativo na desaceleração das alterações climáticas. Para além disso, aumentar o impacto do nosso Programa de Comunicação para Agricultores continua no centro das nossas atividades. IP: Quais são os maiores desafios globais do momento? DF: A pobreza e a fome continuam a ser os maiores desafios que o mundo enfrenta e esta questão é central na missão da Biovision. A nossa abordagem para resolver o problema consiste em promover a agricultura sustentável e ecológica, baseada em pequenos agricultores e num sistema alimentar mais localizado. IP: Pode dar-nos exemplos práticos daquilo que é urgente mudarmos no nosso estilo de vida atual? DF: Atualmente produzimos cerca de 4.600 calorias por pessoa, por dia no nosso planeta. Metade dessa produção seria suficiente para alimentar toas as pessoas do mundo. Mas o desperdício alimentar é uma questão central e as pessoas do hemisfério norte estão a desperdiçar mais de 40 por cento da sua comida. Por isso, precisamos de ser muito mais conscientes acerca dos nossos hábitos consumistas. Para além disso, produzir uma caloria de carne exige doze calorias de plantas, por isso, comer menos carne também ajudará a melhorar a situação. IP: Quais serão as consequências de não alterarmos os nossos hábitos? DF: Se não seguirmos a máxima "Alimentação para todos naturalmente", então a situação do nosso planeta irá deteriorar-se drasticamente à medida que a população aumenta para mais de 9.000 milhões em 2050. Se não vencermos as alterações climáticas, assegurarmos que temos água potável suficiente para todos, se não mantivermos os nossos solos férteis e não mantivermos a biodiversidade inestimável do nosso planeta, então não há esperança para a humanidade. IP PRÉMIOS E RECONHECIMENTO NOS ÚLTIMOS ANOS Em 2012, a Biovision tornou-se a primeira Fundação suiça à qual foi concedida o status consultivo geral pelas Nações Unidas, o que permite à Biovision par ticipar nas Conferências das Nações Unidas, em discussões oficiais e a organizar eventos paralelos. Em 2013, a Biovision e o seu fundador Hans Rudolf Herren ganharam o Right Livelihood Award, também conhecido como o Prémio Nobel Alternativo. Conheça a Biovision em www.biovision.ch julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 33 EXPERIÊNCIAS © Pierre Crom FRIENDS OF THE WORLD Lutar pela Justiça Global A maior rede ambiental de base do mundo chama-se Friends of the Earth International e é composta por 75 grupos-membro nacionais e cerca de 5.000 grupos de ativistas locais de todos os continentes. Esta organização faz campanhas sobre as questões ambientais e sociais mais urgentes e desafia o atual modelo de globalização económica e empresarial, promovendo soluções que ajudarão a criar sociedades "ambientalmente mais sustentáveis e socialmente mais justas", como referiu Denis Burke em exclusivo ao Impulso Positivo. O DESAFIO Com uma estrutura descentralizada e democrática, todos os gruposmembro podem participar na tomada de decisões e são fortalecidos pelo trabalho da organização com as comunidades e pelas suas alianças com os povos indígenas, movimentos de agricultores, sindicatos, grupos de direitos humanos, entre outros A missão da Friends of the Earth é assegurar coletivamente a justiça ambiental e social, a dignidade humana, o respeito pelos direitos humanos e os direitos dos povos, de modo a garantir sociedades sustentáveis, para travar e reverter a degradação ambiental e o fim de recursos naturais, fomentar a diversidade ecológica e cultural do planeta, e garantir meios de vida sustentáveis. Denis Burke acrescenta ainda: "trabalhamos para garantir o reforço do poder dos povos indígenas, das comunidades locais, das mulheres, grupos e indivíduos, e para assegurar a participação do público em geral na tomada de decisões, para fazer com que a transformação em prol da sustentabilidade e da equidade entre e dentro das sociedades, com abordagens e soluções criativas, seja uma realidade”. Para isso, a Friends of the Earth aposta no envolvimento em campanhas vibrantes e únicas para sensibilizar e mobilizar as pessoas, construir alianças com diversos movimentos, plataformas e lutas nacionais e globais. "Inspiramo-nos uns aos outros para aproveitar, fortalecer e complementar as capacidades de cada um, vivendo a mudança que desejamos ver e trabalhando juntos d euma forma solidária", sublinha. 34 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 Processo Judicial Friends of the Earth Netherlands/Milieudefensie vs Shell. A LUTA Para esta organização mundial o maior dos desafios mundiais são as ameaças representadas pela crise climática que se atravessa, reforçadas por ações governamentais fracassadas e uma ausência de justiça social real na resposta dada. "Apesar de saber que os mais pobres do mundo irão sofrer os efeitos das alterações climáticas mais rapidamente e com maior gravidade, os acordos tratados e planos feitos até agora, não vão suficientemente longe para apoiarem os mais pobres e mais vulneráveis", diz o porta-voz. Acrescenta ainda que "enquanto vamos vendo plataformas, iniciativas de cidadãos para combater a crise climática, os governos não estão sequer a fazer o suficiente para apoiar tais iniciativas. Está na hora dos governos ajudarem ou então saírem do caminho". A par da crise climática, é urgente fazer frente à crise energética global. Para a organização a solução passa pelo direito das comunidades escolherem as próprias fontes de energia sustentáveis e desenvolverem um nível de consumo saudável. Tudo sem esquecer a necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e de "todos partilharmos recursos igualmente dentro dos limites ecológicos". Como grande parte das organizações ligadas a questões ambientais, também a Friends of the Earth tem vindo a trabalhar para proteger "a soberania do povo sobre a sua alimentação". "O nosso sistema alimentar atual coloca o agro-negócio no coração da produção alimentar, levando a problemas com os humanos, a saúde de cultivos e de animais, problemas com terras e sementes, assim como a comida culturalmente inapropriada". Como parte da solução a organização promove a agricultura de pequena escala e o comércio local que apesar de tudo ainda alimenta a maior parte do planeta. Para além disso, Denis Burke ressalva que "a agricultura ecológica pode preservar a biodiversidade e as culturas locais, arrefecer a Terra, fornecer uma alimentação saudável e meios de vida para todos". O grave problema é que este tipo de agricultura está sob ameaça da alimentação e agricultura industrializada, o que leva à destruição ambiental, expropriação de terras e à desnutrição. "A soberania alimentar é sobre alimentação de pessoas em vez de lucro empresarial e defende os interesses das gerações futuras, defende a Friends of the Earth. Mas há mais. Enquanto isso, metade das florestas do mundo desapareceram e esta é outra das bandeiras da organização. "A privatização, a liberalização do comércio e o aumento das OBJETIVOS DO PRESENTE E DO FUTURO Ao longo dos seus 44 anos de existência foram várias as batalhas travadas e vencidas pela Friends of the Earth. Só este ano foram vários os grupos da organização que conseguiram bloquear ou adiar os planos para a introdução de perfuração nos seus países. "A nossa federação está regularmente na vanguarda da luta pela preservação da biodiversidade. Grupos de todo o mundo têmse mantido fortes contra a expropriação de terras, construção de barragens e tentativas de ameaçar e intimidar as vozes que se erguem pelas suas comunidades, inclusivé garantindo a libertação de vários ativistas presos". Denis Burke diz ainda que "A Friends of the Earth nos Estados Unidos fez uma campanha bem-sucedida para manter uma série de reatores nucleares perigosos desativados”. Para além disso, vários grupos-membro "estiveram envolvidos uma vasta campanha que pedia aos principais fabricantes de eletrónica para tornarem a sua cadeia de distribuição mais limpa. Também na área da saúde, no último ano, na sequência do surto do vírus Ébola em África, a Friends of the Earth Libéria angariou dinheiro e trabalhou com sucesso junto das “Grupos de todo o mundo têm-se mantido fortes contra a expropriação de terras, construção de barragens e tentativas de ameaçar e intimidar as vozes que se erguem pelas suas comunidades, inclusivé garantindo a libertação de vários ativistas presos." © Luka Tomac exportações de carne e culturas como a soja e o óleo de palma, levaram a um aumento maciço de plantações em grande escala, provocando ainda mais deflorestação", explica o porta-voz. Isso é devastador quando se tem em conta que as florestas são não só a base do modo de vida das comunidades locais e de povos indígenas, como também têm um papel fundamental no equilíbrio do clima. A Friends of the Earth trabalha com estas comunidades na conservação das florestas e no reforço dos seus direitos e da gestão comunitária. "Fazemos campanhas contra plantações industriais de grande escala, monocultura, exploração madeireira destrutiva e contra a mercantilização de florestas e da biodiversidade. Precisamos urgentemente de proteger as florestas por um futuro sustentável para todos" apela Burke. A Friends of the Earth considera que outros dos problemas globais mais desafiantes neste momento é a influência de grandes empresas e instituições financeiras, políticas neoliberais promovidas por bancos de desenvolvimento e instituições internacionais que incidem sobre o acesso a mercados "sem ter em consideração as necessidades das pessoas, os direitos da comunidade e a justiça ambiental". Nesse sentido, a organização tem vindo a trabalhar com movimentos sociais do mundo inteiro, promovendo iniciativas sustentáveis nas comunidades locais, para mudar o trajeto da economia, ao mesmo tempo que ajuda a construir um movimento popular para dinamizar soluções criativas e alternativas à justiça económica a uma escala global. Para isso, muito embora a Friends of the Earth não seja uma organização de concessão de fundos, providencia apoio financeiro para projetos de membros, alguma capacitação, apoio logístico e de comunicação. Friends of the Earth International na COP20 em Lima, Peru. comunidades de todo o país sobre métodos de prevenção de Ébola. Neste momento a Friends of the Earth está a trabalhar com outras organizações e movimentos sociais do mundo inteiro para construir uma resposta robusta e centrada nas pessoas à crise climática: "Esta resposta coloca a comunidade, o controlo de energia e a justiça social no coração das suas atividades e esforços tanto ao nível nacional como internacional”. Entre estas atividades está o desenvolvimento de um site de mobilizador www.wearetheenergyrevolution.org. Fazer lobby junto das Nações Unidas, através de trabalho com governos e outros grupos da sociedade civil para "desenvolver um tratado juridicamente vinculativo para empresas transnacionais sobre direitos humanos, é outra das metas para a qual a organização tem vindo a trabalhar". Burke acrescenta ainda que tem vindo a ser feito um trabalho junto das comunidades para promover a consciencialização sobre os programas de conservação que "muitas vezes são prejudiciais para o ambiente destruindo, por exemplo, florestas primárias para serem substituídas por plantações de óleo de palma e que infringem os direitos da comunidade”. No que diz respeito à alimentação a Friends of the Earth está a trabalhar com grupos-membro nacionais para promover a ideia da agroecologia, “assente nas pequenas produções que conservam o solo, na preservação de milhares de variedades de sementes, de gado e peixe que alimenta mais de 70% da população mundial, apesar de possuir uma pequena proporção das terras”. Apesar de todos os desafios que o mundo enfrenta, a Friends of the Earth acredita num mundo pacífico e sustentável com base em sociedades que vivem em harmonia com a natureza: "Prevemos uma sociedade em que as pessoas serão interdependentes e viverão com dignidade, integridade, realizadas e em que a equidade e os direitos humanos dos povos serão reais. Esta será uma sociedade construída com a participação de todos e fundada na justiça social, económica, de género e ambiental, livre de todas as formas de dominação e exploração, como o neoliberalismo, a globalização corporativa, o neocolonialismo e o militarismo. Acreditamos que o futuro dos nossos filhos será melhor por causa do que fazemos". IP julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 35 EXPERIÊNCIAS 350.ORG Nos últimos dez anos, Bill McKibben cofundou e construiu o primeiro movimento popular de todo o planeta para as alterações climáticas ao qual chamou 350.org. Com esta organização no centro da questão, o movimento foi espalhando o alerta e mobilizando apoio político para uma ação urgente capaz de atenuar a crise climática que já se fazia sentir. Autor e educador de grande influência nos últimos 30 anos, Bill McKibben publicou em 1989 o livro "O Fim da Natureza", um dos primeiros livros de sempre a ser escrito com o intuito de informar o público em geral acerca das alterações climáticas. Em exclusivo ao Impulso Positivo, Bill McKibben explicou que a razão pela qual fundou a 350.org se prendeu essencialmente com a necessidade de “criar um movimento, pois sozinhos nunca teríamos dinheiro suficiente para erguer a voz contra a indústria do petróleo, era preciso contar com muitas pessoas para o fazer”. Acrescentou ainda que “Para além do óbvio, como mudarmos de lâmpadas, comermos menos carne e andar de bicicleta, o nosso dever principal juntarmo-nos em grupos capazes de pressionar o sistema. Foi por isso que começámos a 350.org”. O foco inicial da 350.org era a Conferência de Copenhaga sobre Clima em 2009. A 24 de outubro desse ano, a organização coordenou mais de 5.200 demonstrações em 181 países naquilo que foi chamado "o dia de ação política mais abrangente na história do planeta" pela CNN. CAMPANHAS Em 2010, a organização organizou pela primeira vez a Global Work Party, que reuniu 7.200 comunidades em 188 países para trabalharem juntos em soluções climáticas locais. Outras campanhas marcantes incluíram a 350 eARTh, a primeira mostra de arte planetária, tão grande, que foi possível vê-la do espaço, e a Great Power Race, uma competição de energias limpas para estudantes que chegou a mais de 1.000 universidades na China, Índia e Estados Unidos e que ainda hoje perdura. A 350.org promove desde 2011, a Power Shift Conference, com milhares de pessoas a protestarem contra os grandes poluidores. As campanhas contra o oleoduto Keystone XL que iria levar petróleo desde o Canadá até ao Golfo do México e que resultaram no seu adiamento por tempo indefinido; a criação do Climate Impacts Day e da campanha Do the Math Tour organizada em 22 cidades; e uma grande manifestação em Nova Iorque que juntou cerca de 400.000 pessoas para sublinhar as preocupações com o clima na Cimeira sobre o Clima de Ban Ki-Moon, são também alguns dos grandes marcos da 350.org até hoje. 36 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 © Steve Liptay Solução: movimento popular contra as alterações climáticas Bill McKibben A LUTA CONTRA OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS A grande frente de batalha do momento deste movimento em constante crescimento foca-se essencialmente na luta contra “o poder da indústria de combustíveis fósseis” e foi neste âmbito que foram criadas campanhas como a “Fossil Free” (http://gofossilfree. org) com o intuito de apelar a organizações governamentais, religiosas e aos cidadãos comuns que desinvistam em combustíveis fósseis. Também a atual campanha “Stop TPP”, luta contra o TransPacific Partnership, um acordo comercial que está a ser negociado entre os EUA e dezenas de outros países, considerada a mais recente ferramenta da indústria de combustíveis fósseis para encerrar a ação climática. Existe ainda uma campanha singular “Divest the Vatican” de apelo ao Papa Francisco, que tem vindo a desempenhar um papel cada vez mais marcante na luta contra as alterações climáticas, para que também o Vaticano desinvista neste tipo de combustíveis. “As empresas petrolíferas são as maiores e mais ricas da história do planeta e por isso exercem um enorme controlo político”, refere Bill McKibben ao Impulso Positivo. “Apesar de duas décadas de avisos constantes do perigo, feitos pela comunidade científica, estas empresas têm sido capazes de manter o status quo, praticamente intacto”, sublinha. A forma como os grandes líderes mundiais lidam com os desafios ambientais, é para o fundador da 350.org ultrajante: “o presidente Obama dar permissão à Shell para perfurar o Ártico, para mim, está no topo. É muito irónico. Derretemos o Ártico por queimarmos demasiado combustível fóssil e agora que está a derreter, queremos perfurar o gelo por mais petróleo?”, afirma indignado. “Seria muito importante, os governos assumirem um compromisso com expansões rápidas de energia renovável e a manterem grandes piscinas de carbono no subsolo” sugere. “O aquecimento do mundo, causa enormes problemas, especialmente para as pessoas mais pobres do planeta”. Bill McKibben dá como exemplo o que se passou na passada Primavera: “milhares de paquistaneses e indianos morreram simplesmente porque as ondas de calor foram demasiado quentes para sobreviver”. Para além disso, “milhões de pessoas morrem porque a agricultura está cada vez mais difícil, porque as doenças propagam-se transmitidas por mosquitos, e assim por diante”, reflete. A solução passa por nos ”organizarmos na luta ”, ou o futuro a curto prazo será “quente e cada vez ma quente”. IP PRÉMIOS & INCENTIVOS EM ABERTO PARTIS - PRÁTICAS ARTÍSTICAS PARA INCLUSÃO SOCIAL Estão abertas, até dia 15 de setembro, as candidaturas ao concurso PARTIS - Práticas Artísticas para Inclusão Social que pretende apoiar projetos sociais destinados à integração social através das práticas artísticas. Os melhores e mais inovadores projetos de integração social pela prática artística, nas áreas das artes visuais, artes performativas e audiovisuais (nomeadamente teatro, dança, música, circo, grafitti, performance, pintura, escultura, instalação, vídeo, fotografia, entre outras) serão apoiados, até um máximo de €25 mil euros por ano. As propostas devem ser consistentes, informadas e sustentadas, assentes em parcerias alargadas, passíveis de avaliação e potencial de replicação. Podem concorrer organizações não lucrativas com projetos a iniciar em janeiro de 2016, que promovam a inclusão social de cidadãos em situação de maior vulnerabilidade social, tendo em vista a promoção do encontro e diálogo entre diferentes - em termos sociais, etários, culturais, entre outros -, e também a igualdade de oportunidades e o reforço da coesão social e territorial. BOLSAS ES JOVEM / NOS ALIVE Estão abertas, ate dia 15 de setembro, as candidaturas às Bolsas ES JOVEM / NOS ALIVE, uma iniciativa conjunta da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) e da Everything Is New, com o intuito de premiar e valorizar jovens em fase de criação de projetos na área da Economia Social. Os projetos devem estar em fase de criação ou de implementação de organizações da economia social em qualquer setor de atividade, desde que não tenham beneficiado de outros apoios à sua constituição. Os candidatos deverão ter entre 18 e 35 anos. A cada um dos dois projetos selecionados será atribuído um valor monetário de 5.000 euros e apoio técnico. INCENTIVOS AO EMPREENDEDORISMO QUALIFICADO E CRIATIVO Está a decorrer, até 30 de setembro de 2015, o concurso para apresentação de candidaturas no âmbito do Sistema de Incentivos – Empreendedorismo Qualificado e Criativo, destinado às Pequenas e Médias Empresas. Este concurso tem como objetivo conceder apoios financeiros a projetos de Empreendedorismo Qualificado e Criativo, que contribuam para: promover o espírito empresarial, facilitando nomeadamente o apoio à exploração económica de novas ideias e incentivando a criação de novas empresas; aumentar as capacidades de gestão das empresas e da qualificação específica dos ativos em domínios relevantes para a estratégia de inovação, internacionalização e modernização das empresas. O Empreendedorismo Qualificado e Criativo inclui, para além do empreendedorismo de base tecnológica, as atividades das indústrias culturais e criativas, que fazem da utilização da criatividade, do conhecimento cultural e da propriedade intelectual, os recursos para produzir bens e serviços internacionalizáveis com significado social e cultural. Consulte mais informações no site do IEFP e aceda ao Balcão 2020 para submissão de candidaturas. 38 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 CONCURSO DE IDEIAS VEM O período para apresentação de candidaturas ao VEM, o Concurso de Ideias que pode dar o apoio necessário para passar da ideia à ação (micro-empreendedorismo), decorre até 7 de setembro de 2015. O VEM pretende apoiar a estruturação e implementação de soluções empreendedoras por parte de portugueses e lusodescendentes que vivem além-fronteiras, mas querem regressar, acompanhando-os em todas as fases de operacionalização indispensáveis para transformar um projeto num negócio em Portugal. Consulte o Regulamento do Concurso VEM, promovido pelo Alto Comissariado para as Migrações, IP. em www.acm.gov.pt. PRÉMIOS & INCENTIVOS JÁ ATRIBUIDOS PRÉMIO DO JOVEM EMPREENDEDOR 2015 A Academia dos Empreendedores organiza em 2015, o Prémio do Jovem Empreendedor, iniciativa que tem por objetivo dinamizar o Espírito Empreendedor e premiar os Jovens e as Empresas Inovadoras, em fase de criação ou expansão. Podem candidatar-se ao Prémio do Jovem Empreendedor todos os jovens portugueses com idade compreendida entre os 18 e 35 anos, promotores de projetos de criação ou expansão de empresas com caraterísticas inovadoras e exequíveis. A candidatura é considerada jovem quando o promotor do projeto for detentor de 50% do capital da empresa, isoladamente, ou em conjunto com outro jovem. As candidaturas à 17.ª edição do Prémio decorrem até 31 de agosto de 2015. O prémio, no valor aproximado de 30.000 euros terá várias componentes: uma de cariz pecuniário para apoio ao desenvolvimento do projeto, no valor de 20.000€; oferta de 1 ano de incubação num dos Centros Empresariais da ANJE e oferta de uma pós-graduação realizada na Associação. MARIANA SILVA VENCE O PRÉMIO NOVOS ARTISTAS FUNDAÇÃO EDP 2015 Mariana Silva vence a 11.ª edição do Prémio Novos Artistas Fundação EDP. Foi escolhida entre os mais de 760 candidatos e os restantes finalistas: Joana Escoval, João Grama, Manuel Caldeira, Marco Pires, Nuno Vicente, Pollyanna Freire, Teresa Braula Reis e Vasco Futscher. Juntos, apresentam o seu trabalho numa exposição coletiva patente no Museu da Eletricidade até 20 de setembro. A exposição é comissariada por Filipa Oliveira e Sérgio Mah, curadores independentes, e João Pinharanda, programador cultural da Fundação EDP. O Prémio, no valor de 20 mil euros, destina-se a apoiar a continuação do estudo ou do trabalho de criação e investigação do artista e à internacionalização da sua carreira. O júri, composto por Ana Jotta, João Ribas, José Manuel dos Santos, Elfi Turpin e Vincent Honoré, deliberou e sagrou vencedora a artista Mariana Silva, 31 anos. Segundo a organização, “a escolha desta artista deve-se à consistência do seu trabalho e à investigação das questões culturais, políticas e tecnológicas do nosso tempo”. 2ª EDIÇÃO DO PRÉMIO “INCLUSÃO E LITERACIA DIGITAL” Estão abertas as candidaturas à 2.ª edição do Prémio “Inclusão e Literacia Digital”, instituído pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, enquanto mecenas da Rede TIC e Sociedade. A edição 2015 do Prémio "Inclusão e Literacia Digital" pretende premiar projetos de Inclusão e de Literacia Digitais com impacto relevante na familiarização ou aquisição de competências básicas em TIC por públicos-alvo com utilização baixa, muito baixa ou nula das TIC. Pretende também promover e reconhecer publicamente a importância da atividade das entidades promotoras de projetos de Inclusão e de Literacia Digitais, no âmbito da Rede TIC e Sociedade, junto de decisores e comunidade em geral. Distinguir a qualidade e importância da intervenção destas entidades, premiando projetos com impacto societal digital relevante é também outro dos objetivos, assim como incentivar entidades de setores diversos a aderirem à plataforma Rede TIC e Sociedade. O valor do prémio total a atribuir corresponde, no máximo, ao montante de 500.000,00€, sendo premiadas tantas entidades quanto seja possível sem exceder este valor A data limite para submissão de candidaturas é dia 25 de setembro de 2015. UM PORTUGUÊS DESTACADO PELO RETRATO DO AMBIENTE MAL-TRATADO Há um português entre os destacados do concurso “Fotografia Ambiental do Ano”. De entre as 10 mil participações que a Chartered Institution of Water and Environmental Management (CIWEM) recebeu, Eduardo Leal ficou entre os doze melhores, com a imagem intitulada “Plastic Tree #20″, que se pode traduzir para “Árvore de Plástico #20. O concurso foi lançado em 2007 para que os fotógrafos pudessem alertar para as questões ambientais e sociais que atormentam o equilíbrio da vida no planeta, explica a BBC. Deste modo, a agenda internacional pode olhar para as causas e consequências dos problemas na Terra e agir em conformidade com elas. Os responsáveis pela CIWEM dizem que “as entradas para os prémios de 2015 estiveram no mais alto nível de sempre”, porque conseguem colocar o público a refletir sobre o impacto humano no ambiente. O trabalho de Eduardo Leal tem vindo a ser amplamente reconhecido e premiado nos últimos anos. Visite o site do fotógrafo Eduardo Leal em www.eduardoleal. co.uk. Saiba mais sobre o concurso e os participantes neste site. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 39 JÁ VIU? SITES Global Policy Forum Novos Rurais - Farming Culture Siga a página de Facebook do Movimento Novos Rurais que pretende que a sociedade urbana reencontre o prazer de cultivar e de cuidar de pequenas hortas, promovendo o autoconsumo, a saúde e também toda a estética inerente ao aspeto decorativo que tais plantações poderão ter no habitat doméstico. Vencedor do prémio Startup Rural 2013, este Movimento pretende reunir empresas, organizações, marcas e indivíduos interessados em divulgar práticas sustentáveis e métodos éticos dentro das suas indústrias. http://www.facebook.com/novosrurais.farmingculture O Global Policy Forum é um "guardião" independente criado com o objetivo de monitorizar o trabalho das Nações Unidas assim como escrutinar as decisões políticas globais. Para isso, o Fórum promove a responsabilização e a participação dos cidadãos nas decisões relacionadas com a paz, a segurança, a justiça social e o direito internacional. No site do GPF irá encontrar informação organizada e de acesso fácil podendo ser complementada com o a disponibilização de relatórios e boletins informativos. Com um papel ativo em redes de ONG's e outros círculos da defesa dos direitos humanos, o GPF organiza ainda reuniões e conferências e publica investigação de primeira linha. Através do GPF, fique a par de uma análise profunda e persistente ao poder e a uma série de questões que se impõem a par das mais variadas crises mundiais. Alguns dos principais tópicos passam pela fome e a alimentação mundial, o lado negro dos recursos naturais, segurança e forças militares ou intervenção humanitária. O GPF "procura soluções igualitárias, cooperativas, pacíficas e sustentáveis para os grandes problemas do mundo". Fique a par e participe. www.globalpolicy.org The Sentry Este é o site com um papel fundamental no mais recente projeto de defesa de direitos humanos levado a cabo pelo famoso ator George Clooney, juntamente com o ativista John Prendergast, The Sntry. O objetivo é descobrir e denunciar quem lucra com a guerra e corrupção que atravessam várias regiões do continente africano. A equipa responsável pelo projeto vai tentar seguir o rasto do fluxo de dinheiro que sangra dos conflitos que se travam em regiões como a República Democrática do Congo, a República Centro Africana, o Sudão e o Sudão do Sul. Através do site criado para o efeito, a organização responsável pelo The Sentry vai permitir que qualquer pessoa que assim o deseje faça denúncias anónimas que ajudem a seguir o rasto deste dinheiro. https://thesentry.org/ 40 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 Footprint Calculator da WWF Esta é uma entre muitas calculadoras da pegada ecológica disponíveis na internet mas que permite a chegar a um resultado através das respostas a um questionário de 5 minutos e que tem em conta as categorias: alimentação, habitação, viagens e outros assuntos. Neste site encontrará ainda dicas práticas sobre como reduzir a sua pegada ecológica. Vale a pena ficar com uma ideia. http://footprint.wwf.org.uk/ JÁ VIU? FONTES Louvado Sejas, Carta Encíclica Laudato si’ – sobre o cuidado da casa comum, de Jorge Bergoglio (Papa Francisco) A Pilhagem de África, de Tom Burgis Em maio de 2015, o premiado jornalista norte-americano Tom Burgis publicou o livro “A Pilhagem de África”, onde denuncia e descreve minuciosamente a existência de complexas teias de relações entre o crescente poder chinês, os senhores da guerra, a corrupção das elites africanas e o delapidar do património natural das nações do continente. O jornalista do Financial Times, que foi durante anos correspondente em África, explica como esta teia se estende desde o Zimbábue a Angola até cravar os tentáculos em Nova Iorque, Londres e no Dubai, onde o dinheiro “sujo” é lavado e colocado a circular. Imperdível. La Bioguia Trata-se de uma comunidade online (www.labioguia.com) criada para facilitar a pesquisa, a implementação e a procura de soluções que contribuam para uma cultura sustentável. Aqui é possível não só partilhar dicas como pontuar conteúdos publicados por outros usuários. As categorias vão desde a alimentação à arquitetura, da tecnologia à reciclagem, permacultura, saúde e até turismo sustentável. Permite ainda que, no caso de se ter uma organização, um serviço ou um negócio sustentável, se faça publicidade no portal. Fique a par de novidades sustentáveis, sejam elas pequenas dicas para melhorar o seu dia-a-dia ou uma importante descoberta científica. Um SOS a todos os habitantes do planeta. Um texto que é um alerta e um novo compromisso dirigido a todos os habitantes da Terra. Num ano crucial para decisões sobre o meio ambiente, um Papa consagra, pela primeira vez, uma encíclica às questões ambientais, reconhecendo que o tema ecológico é um importantíssimo desafio para a humanidade. A nova encíclica de Francisco, inspirando-se no Cântico das criaturas, de São Francisco de Assis – Laudato si’, mi’ Signore –, é um urgente apelo à preservação da Terra e da vida, através da qual a Igreja procura também influenciar os trabalhos da próxima Conferência de Paris sobre o Clima (7-8 de dezembro de 2015). Nesse encontro mundial, espera-se alcançar, pela primeira vez, um acordo global juridicamente constringente para todos, de modo a manter o aquecimento global abaixo dos 2 ºC. “A relação íntima entre os pobres e a fragilidade do Planeta, a convicção de que tudo está estreitamente interligado no mundo, a crítica do paradigma que deriva da tecnologia, a busca de outras maneiras de entender a economia e o progresso, o valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a grave responsabilidade da política, a cultura do descarte e a proposta de um novo estilo de vida» (LS, 16) são os eixos da nova encíclica, inspirada na sensibilidade ecológica de Francisco de Assis. Greenhouse Esta agência britânica trabalha com empresas, empreendedores e organizações sem fins lucrativos com a missão de criar a mudança e de os destacar para gerarem impacto real. Para além de uma série de serviços como a criação de marcas, o desenvolvimento de estratégias de comunicação ou encontrar soluções para grandes desafios, a Greenhouse tem um extraordinário blog (http://greenhousepr. co.uk/blog/) e uma newsletter fantástica e muito "trendy" que pode receber na sua caixa de email todo os dias de manhã, com partilha de experiências e notícias frescas dos mais importantes canais de comunicação mundiais sobre ambiente e sustentabilidade. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 41 JÁ VIU? LEGISLAÇÃO NORMAS COMUNS SOBRE O FUNDO SOCIAL EUROPEU Portaria n.º 242/2015, DR Série I, N.º 157, de 13 de agosto LEI-QUADRO DAS CONTRAORDENAÇÕES AMBIENTAIS Lei n.º 114/2015, DR Série I, N.º 168, de 28 de agosto Segunda alteração à Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, que aprova a leiquadro das contraordenações ambientais. APROVAÇÃO DA ESTRATÉGIA OPERACIONAL DE AÇÃO HUMANITÁRIA E DE EMERGÊNCIA Resolução do Conselho de Ministros n.º 65/2015, DR Série I, N.º 167, de 27 de agosto Este documento tem como objetivo definir uma Estratégia Operacional de Ação Humanitária e de Emergência (Estratégia Operacional) em resposta às necessidades globais dos indivíduos, comunidades e países afetados por situações humanitárias e de emergência. Constituem elementos -chave na elaboração e implementação desta Estratégia Operacional, as linhas de orientação, princípios e compromissos assumidos no Conceito Estratégico da Cooperação Portuguesa 2014 -2020, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 17/2014, de 7 de março. Primeira alteração ao Regulamento que estabelece Normas Comuns sobre o Fundo Social Europeu, adotado pela Portaria n.º 60- A/2015, de 2 de março. APROVAÇÃO DA ESTRATÉGIA «CIDADES SUSTENTÁVEIS 2020» Resolução do Conselho de Ministros n.º 61/2015, DR Série I, N.º 155, de 11 de agosto A estratégia «Cidades Sustentáveis 2020» procura reforçar a dimensão estratégica do papel das cidades em vários domínios. Ancorada no paradigma do desenvolvimento urbano sustentável, a estratégia «Cidades Sustentáveis 2020» deve ser entendida como uma política de desenvolvimento territorial, para a qual o envolvimento e compromisso de uma multiplicidade de agentes é condição fundamental para que o enfoque das intervenções não se limite à dimensão física do espaço urbano, mas, antes, vá ao encontro de desígnios mais altos como são o desenvolvimento económico, a inclusão social, a educação, a participação e a proteção do ambiente. CRIAÇÃO DA COMISSÃO NACIONAL DE PROMOÇÃO DOS DIREITOS E PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E JOVENS APROVAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE PROTEÇÃO AO IDOSO Decreto-Lei n.º 159/2015, DR Série I, N.º 154, de 10 de agosto Resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2015, DR Série I, N.º 165, de 25 de agosto Presidência do Conselho de Ministros Aprova a Estratégia de Proteção ao Idoso que constitui, deste modo, o lastro para a futura concretização e desenvolvimento de todos os aspetos em que se desdobra a proteção dos idosos, designadamente, nas áreas da saúde e da segurança social. DIREITOS DAS ASSOCIAÇÕES DE MULHERES Cria a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens e define as respetivas missão, atribuições, tipo de organização interna e funcionamento. APROVAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO PARA A MOBILIDADE ELÉTRICA Despacho n.º 8809/2015, DR Série II, N.º 154, de 10 de agosto Consolidação da legislação em matéria de direitos das associações de mulheres (revoga as Leis n.os 95/88, de 17 de agosto, 33/91, de 27 de julho, e 10/97, de 12 de maio). Aprova o Plano de Ação para a Mobilidade Elétrica. Este Plano deverá servir para promover perspetivas críticas e constituir um referencial aglutinador de vontades existente na sociedade portuguesa, em prol de um desígnio nacional. Pretende estabelecer um conjunto de prioridades, a partir das quais se possa acelerar, de forma sustentada, o desenvolvimento da mobilidade elétrica em Portugal. PROMOÇÃO DA PRODUÇÃO E APROVEITAMENTO DE BIOMASSA FLORESTAL APROVAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DO LINCE-IBÉRICO EM PORTUGAL Decreto-Lei n.º 166/2015, DR Série I, N.º 163, de 21 de agosto Despacho n.º 8726/2015, de 07 de agosto Procede à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 5/2011, de 10 de janeiro, que estabelece as medidas destinadas a promover a produção e o aproveitamento de biomassa florestal. Aprova o Plano de Ação para a Conservação do Lince-Ibérico em Portugal (PACLIP 2015-2020). Lei n.º 107/2015, DR Série I, N.º 165, de 25 de agosto FINANCIAMENTO DAS ASSOCIAÇÕES HUMANITÁRIAS DE BOMBEIROS REGIME JURÍDICO DAS MEDIDAS NECESSÁRIAS PARA GARANTIR O BOM ESTADO AMBIENTAL DO MEIO MARINHO ATÉ 2020 Lei n.º 94/2015, DR Série I, N.º 157, de 13 de agosto Decreto-Lei n.º 143/2015, DR Série I, N.º 148, de 31 de julho Regras do financiamento das associações humanitárias de bombeiros, no continente, enquanto entidades detentoras de corpos de bombeiros (primeira alteração à Lei n.º 32/2007, de 13 de agosto, que aprova o regime jurídico das associações humanitárias de bombeiros). Procede à terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 108/2010, de 13 de outubro, que estabelece o regime jurídico das medidas necessárias para garantir o bom estado ambiental do meio marinho até 2020, que transpôs a Diretiva 2008/56/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de junho. 42 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 JÁ VIU? PROGRAMA DE EMPREGO E APOIO À QUALIFICAÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E INCAPACIDADE Despacho n.º 8376-B/2015, DR Série II, N.º 147, de 30 de julho Aprova os regulamentos do Programa de Emprego e Apoio à Qualificação das Pessoas com Deficiência e Incapacidade, criado pelo Decreto-Lei n.º 290/2009, de 12 de outubro. QUADRO ESTRATÉGICO PARA A POLÍTICA CLIMÁTICA, PROGRAMA NACIONAL PARA AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E ESTRATÉGIA NACIONAL DE ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Resolução do Conselho de Ministros n.º 56/2015, DR Série I, N.º 147, de 30 de julho DIA NACIONAL CONTRA A HOMOFOBIA E A TRANSFOBIA Resolução da Assembleia da República n.º 99/2015, DR Série I, N.º 141, de 22 de julho Consagra o dia 17 de maio como o Dia Nacional contra a Homofobia e a Transfobia. DEFINIÇÃO DA ESTRUTURA ORGÂNICA DA REDE RURAL NACIONAL (RRN) Portaria n.º 212/2015, DR Série I, N.º 138, de 17 de julho Define a estrutura orgânica da Rede Rural Nacional (RRN), criada pela alínea h) do n.º 2 do artigo 61.º do Decreto-Lei n.º 137/2014, de 12 de setembro, para o período de 2014-2020, no âmbito do desenvolvimento rural, bem como a composição e competência dos seus órgãos. Aprova o Quadro Estratégico para a Política Climática, o Programa Nacional para as Alterações Climáticas e a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, determina os valores de redução das emissões de gases com efeito de estufa para 2020 e 2030 e cria a Comissão Interministerial do Ar e das Alterações Climáticas. APOIO FINANCEIRO PELO ESTADO A ESTABELECIMENTOS DE ENSINO PARTICULAR E COOPERATIVO DE NÍVEL NÃO SUPERIOR CONTRAPARTIDAS FINANCEIRAS DE RECOLHA E TRIAGEM EFETUADAS PELO SISTEMAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS URBANOS (SGRU) Retifica a Portaria n.º 172-A/2015, de 05 de junho, dos Ministérios das Finanças e da Educação e Ciência, que fixa as regras e procedimentos aplicáveis à atribuição de apoio financeiro pelo Estado a estabelecimentos de ensino particular e cooperativo de nível não superior. Despacho n.º 8376-C/2015, DR Série II, N.º 147, de 30 de julho Determina os valores das contrapartidas financeiras decorrentes das operações de recolha e triagem efetuadas pelos Sistemas de Gestão de Resíduos Urbanos (SGRU). HOMOLOGAÇÃO DA NORMA CONTABILÍSTICA E DE RELATO FINANCEIRO PARA ENTIDADES DO SETOR NÃO LUCRATIVO DO SISTEMA DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA Aviso n.º 8259/2015, DR Série II, N.º 146, de 29 de julho Homologa da Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Entidades do Setor não Lucrativo do Sistema de Normalização Contabilística. Esta Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Entidades do Setor Não Lucrativo tem como objetivo estabelecer os principais aspetos de reconhecimento e mensuração, com as adaptações inerentes a este tipo de entidades. MODELO DE AUTORIZAÇÃO DE RESIDÊNCIA PROVISÓRIA PARA REQUERENTES DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL Portaria n.º 597/2015, DR Série II, N.º 146, de 29 de julho Aprova o modelo de autorização de residência provisória para requerentes de proteção internacional. ESTATUTO DAS IPSS Lei n.º 76/2015, DR Série I, N.º 145, de 28 de julho Procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 172-A/2014, de 14 de novembro, que alterou (quinta alteração) o Decreto-Lei n.º 119/83, de 25 de fevereiro, em que aprovou o Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) e procede à sexta alteração ao Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social, por apreciação parlamentar. Declaração de Retificação n.º 32/2015, DR Série I, N.º 133, de 10 de julho SISTEMA DE ATRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DE APOIO Despacho n.º 7225/2015, de 1 de julho Define o modo de funcionamento do Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio (SAPA) , que se destina a pessoas com deficiência ou incapacidade, e comparticipa os custos com a aquisição de produtos de apoio com o fim de compensar, atenuar ou neutralizar as limitações de atividade e restrições de participação decorrentes da interação entre as alterações funcionais ou estruturais de carater temporário ou permanente e as condições do meio. MODELO ESPECÍFICO DE COOPERAÇÃO ENTRE O INSTITUTO DA SEGURANÇA SOCIAL, I. P. (ISS, I. P.) E AS IPSS Portaria n.º 196-A/2015, 1º Suplemento, DR Série I, N.º 126, de 1 de julho Define os critérios, regras e formas em que assenta o modelo específico da cooperação estabelecida entre o Instituto da Segurança Social, I. P. (ISS, I. P.) e as instituições particulares de solidariedade social ou legalmente equiparadas. COOPERAÇÃO ENTRE O ESTADO E O SETOR SOCIAL E SOLIDÁRIO Decreto-Lei n.º 120/2015, DR Série I, N.º 125, de 30 de junho Estabelece os princípios orientadores e o enquadramento a que deve obedecer a cooperação entre o Estado e as entidades do setor social e solidário. AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NESTA SECÇÃO BASEIAM-SE NOS TEXTOS LEGAIS, MAS NÃO DISPENSAM A CONSULTA DOS DIPLOMAS ORIGINAIS. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 43 ARTIGO TÉCNICO A solução das alterações climáticas está nas nossas terras Por GRAIN e Via Campesina É essencial reconhecer aos camponeses e às comunidades indígenas o controlo sobre os seus territórios. Só assim poderemos enfrentar a crise climática e alimentar crescente que vive a população mundial. No momento em que os governos convergiam na Conferência sobre Alterações Climáticas da ONU em Lima, no Perú, o brutal assassinato do ativista indígena peruano Edwin Chota e de outros três homens do povo ashanika no passado mês de setembro realçaram a relação entre deflorestação e direitos indígenas. A verdade é muito clara e está à vista: a maneira mais eficaz de prevenir a deflorestação e os impactos climáticos é reconhecer e respeitar a soberania dos povos indígenas sobre os seus territórios. Os violentos conflitos agrários no Perú também fazem sobressair outro assunto de igual importância para a crise climática e que já não se pode ignorar: a concentração de terra nas mãos de umas quantas pessoas. É imprescindível reconhecer aos camponeses e às comunidades indígenas o controlo sobre os seus territórios. Só assim poderemos enfrentar a crise climática e alimentar face à crescente população mundial. No Perú, as pequenas quintas, com menos de 5 hectares, representam 78% de todas as quintas no país, mas ocupam menos de 6% das terras agrícolas. Esta figura perturbadora reflete a situação global. Globalmente, as pequenas propriedades representam 90% de todas as quintas, mas ocupam menos de um quarto das terras agrícolas. Isto são más notícias para a crise climática. A expropriação dos territórios aos povos indígenas levou a uma extração insustentável e destrutiva e a expropriação de terras 44 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 agrícolas está na base de um sistema alimentar industrial que, entre muitos outros efeitos negativos, é responsável por entre 44 e 57 por cento das emissões de gases com efeito de estufa. A alimentação podia não ter o peso excessivo que tem na crise climática. O GRAIN calcula que uma redistribuição mundial de terras aos agricultores e aos povos indígenas, articulada com políticas que fomentem o comércio local e que cortem o uso de químicos, podem reduzir para metade as emissões globais de gases com efeito de estua em poucas décadas e travar significativamente a deflorestação. Apenas com a reconstrução da matéria orgânica que foi sendo extraída do solo graças a décadas de agricultura industrial, os agricultores poderiam devolver ao solo um quarto de todo o dióxido de carbono excedente que está agora na atmosfera. Restituir a terra às comunidades indígenas e agrícolas é também o modo mais eficaz de enfrentar o desafio de alimentar uma população mundial em crescimento numa época de caos climático. Os dados globais disponíveis mostram que os pequenos produtores são mais eficientes na produção de alimentos que as grandes plantações. Nas frações de terra que ainda têm, os agricultores e as comunidades indígenas ARTIGO TÉCNICO Cultivo: 11 a 15% É reconhecido de uma forma geral que o próprio cultivo contribui 11 a 15% para todos os gases com efeitos de estufa produzidos globalmente. A maioria dessas emissões resultam do uso de atributos industriais, como fertilizantes químicos e gasolina para pôr a funcionar tratores e sistemas de irrigação, bem como o excesso de dejetos gerados pela criação de gado intensiva. Transporte: 5 a 6% Como o sistema alimentar industrial contribui para a crise climática continuam a produzir a maior parte dos alimentos do mundo - 80% da comida nos países "em desenvolvimento"., segundo a FAO. Mesmo no Brasil, uma potência da agricultura industrial, as pequenas quintas ocupam um quarto das terras agrícolas, mas produzem 87% da mandioca do país, 69% dos grãos (ou feijão), 59% dos suínos, 58% dos produtos lácteos, 50% das galinhas, 33,8% do arroz e 30% do gado. A dupla urgência de alimentar o mundo e arrefecer o planeta pode ser enfrentada. Mas nada será cumprido se os governos continuarem a ignorar e a reprimir com violência as lutas dos povos indígenas e agricultores pela posse dos seus territórios. O sistema alimentar industrial funciona como uma agência de viagens global. Cultura de alimentos para animais podem ser cultivadas na Argentina e alimentar galinhas no Chile, que são exportados para a China para processamento e eventualmente comidos num McDonald's nos Estados Unidos. Grande parte da nossa comida, cresceu sob condições industriais de lugares distantes, viajou milhares de quilómetros antes de chegar aos nossos pratos. Podemos estimar de uma forma conservadora que o transporte de comida contribui para um quarto das emissões de gases com efeitos de estufa globais relacionados com transportes, ou 5 a 6% de todas as emissões globais de gases com efeitos de estufa. Congelamento e Revenda: 2 a 4% COMO O SISTEMA ALIMENTAR INDUSTRIAL CONTRIBUI PARA A CRISE CLIMÁTICA A refrigeração é o eixo de vastos sistemas de compra globais de modernos supermercados e cadeias de fast food. Onde quer que o sistema alimentar industriar vá, as cadeias de refrigeração também vão. Tendo em consideração que a refrigeração é responsável por 15% de toda a eletricidade consumida no mundo inteiro, e que os esvaziamentos de refrigerantes químicos são uma grande fonte de gases com efeitos de estufa, podemos dizer com confiança que a refrigeração de alimentos representa cerca de 1,2% de todas as emissões de gases com efeitos de estuda. A revenda de alimentos corresponde entre 1 e 2%. Deflorestação: 15 a 18% Resíduos: 3 a 4% Antes de se começar a plantar, os bulldozers fazem o seu trabalho. No mundo inteiro, a agricultura industrial é empurrada para savanas, terras húmidas e florestas, lavrando sob enormes quantidades de terra. A FAO diz que a expansão da fronteira agrícola contribui para 70 a 90% da deflorestação global, sendo pelo menos metade dessa percentagem para a produção de algumas matérias-primas agrícolas para exportação. A contribuição da agricultura para a deflorestação é assim responsável por 15 a 18% das emissões globais de gases com efeitos de estufa. O Sistema alimentar industrial desperdiça até metade de todos os alimentos que produz, deitando-os fora na longa viagem entre os agricultores e os vendedores, passando pelos processadores de alimentos, e eventualmente pelos revendedores e restaurantes. Uma grande parte deste desperdício apodrece em montes lixo e aterros sanitários, produzindo quantidades substanciais de gases com efeitos de estufa. Entre 3,5 e 4,5% do total das emissões de gases com efeitos de estufa vêm do lixo, e mais de 90% destes são produzidos por materiais originados dentro do sistema alimentar. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 45 ARTIGO TÉCNICO Revolução na gestão dos resíduos Por Luís Veiga Martins, Diretor Geral da Sociedade Ponto Verde Ao longo dos últimos 20 anos, Portugal foi palco de uma revolução na área dos resíduos urbanos. O sucesso conquistado, tanto na operacionalização de estratégias como na criação de infraestruturas e de modelos de intervenção mais profissionalizados, veio trazer inegáveis benefícios ambientais, mas também económicos e sociais. A par de uma significativa diminuição das emissões de gases com efeito de estufa, tem-se verificado um grande crescimento económico e criação de emprego. Hoje, sabe-se que o impacte económico direto global das atividades de gestão de resíduos urbanos é já de 357 milhões de euros (podendo crescer mais 26% no horizonte de 2020). Simultaneamente, a gestão de resíduos urbanos, que gera hoje mais de 15.000 empregos diretos e indiretos, permitirá, em 2020, um aumento de 22% dos postos de trabalho. No que diz respeito especificamente ao fluxo de embalagens, a reciclagem de embalagens emprega diretamente quase 2.400 pessoas, é responsável por 71 milhões de euros no PIB e contribui para diminuir as emissões de dióxido de carbono equivalente às emissões geradas por mais de 15.000 voltas ao mundo de avião. Mas tudo isto apenas é possível graças ao empenho de toda a população. Num mundo com uma população em crescimento e em que os recursos são escassos, é necessário limitar o impacto ambiental, melhorando, simultaneamente, o bem-estar económico e social. As pessoas estão cada vez mais conscientes dessas mais-valias, o que se tem traduzido no aumento das quantidades de resíduos separados e enviados para reciclagem. Nas últimas duas décadas, mais de 6 milhões de toneladas de resíduos de embalagens - o equivalente ao peso de 3 pontes Vasco da Gama - foram encaminhadas para reciclagem no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE), também conhecido como Sistema Ponto Verde, que existe para garantir a organização e gestão de um circuito que assegura a retoma, valorização e reciclagem dos resíduos de embalagens não-reutilizáveis, assim como a diminuição do volume de resíduos depositados em aterro. Em 2014, por exemplo, as embalagens enviadas para reciclagem no âmbito do SIGRE atingiram o valor mais elevado de sempre, tendo sido encaminhadas 419 mil toneladas de embalagens usadas recuperadas no fluxo urbano. 46 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 71% DA POPULAÇÃO SEPARA RESÍDUOS DE EMBALAGENS As campanhas e os projetos desenvolvidos ao longo dos últimos 20 anos foram determinantes para o aumento da consciência ambiental da população portuguesa e tornaram a reciclagem num hábito diário para 71% dos lares portugueses. Atualmente, 7 em cada 10 lares fazem diariamente a separação doméstica de embalagens usadas para reciclagem. Este é o valor mais elevado desde que, em 2006, a Sociedade Ponto Verde iniciou o estudo ”Hábitos e atitudes dos portugueses em relação à separação de resíduos domésticos”. O mais recente estudo, realizado em 2014 e 2015 através de observação direta e de questionários, indica que 59% dos inquiridos faz a separação doméstica de todas as tipologias de materiais passíveis de serem separadas (separadores totais) e que 12% dos lares separam alguns materiais (separadores parciais). Pelo contrário, 29% ainda não tem qualquer prática atual de separação de embalagens usadas. A maior adesão ao processo de separação de embalagens usadas verificou-se no distrito de Lisboa (79%), seguido do de Leiria (75%). Estes números traduzem um aumento dos separadores em Portugal, um crescimento que resulta do empenho da Sociedade Ponto Verde e de todos os seus parceiros, nomeadamente os Sistemas Municipais e os Municípios, que ao longo dos anos têm vindo a informar os Portugueses sobre a importância social, económica e ambiental da reciclagem. A Sociedade Ponto Verde entende como fundamental atuar junto do consumidor, despertando neste uma consciência de que as suas atitudes individuais são imprescindíveis para se atingir a sustentabilidade. Neste sentido, tem vindo a dotar a população da informação necessária, motivando-a para incluir, nas suas rotinas diárias, gestos ambientalmente corretos. Esta informação é transmitida através de campanhas de sucesso, como o “Recicla Mitos” que contou com caras bem conhecidas do público, ou através de campanhas de proximidade, como a Missão Reciclar, que contactou com 1,6 milhões de portugueses de Norte a Sul. Fruto de todo este trabalho, atualmente, constatamos que quase 60% das famílias portuguesas separa a totalidade dos ARTIGO TÉCNICO “7 em cada 10 lares fazem diariamente a separação doméstica de embalagens usadas para reciclagem.” seus resíduos de embalagens. Quando olhamos para a evolução registada desde 2006, altura em que só cerca de 11% da população o fazia, isso deixa-nos extremamente orgulhosos do percurso realizado e dos resultados alcançados. TRABALHO AINDA POR FAZER Temos consciência de que o trabalho nunca está concluído, pelo que iremos prosseguir com as ações de sensibilização. Desde logo, é fundamental sensibilizar a população para que não deixe de fazer aquilo que habitualmente já faz em casa, ou seja, separar os seus resíduos de embalagem. Este gesto é algo que todos poderemos fazer, tanto em nossas casas, como fora do lar, no nosso local de trabalho ou em férias. E as soluções estão disponíveis. Neste momento, são mais de 41.000 ecopontos espalhados por todo o País - o triplo das caixas multibanco -, havendo uma cobertura de 100% do território nacional. Por outro lado, nos últimos anos surgiram novas soluções de ecopontos domésticos, de vários formatos e cada vez mais acessíveis. Seja através da utilização de ecopontos domésticos, de ecobags, da reutilização de caixas, de recipientes, ou de sacos coloridos, o mais importante é levar todas as embalagens usadas até ao ecoponto mais próximo. É também necessário continuar a trabalhar para eliminar algumas dúvidas que ainda possam subsistir. Por exemplo, poucos consumidores sabem que as embalagens de óleo de fritura, latas de atum e conservas, aerossóis, pacotes de bebidas, champôs ou detergentes líquidos são totalmente recicláveis desde que depositadas no contentor amarelo. No caso do ecoponto verde, para além das embalagens de bebidas de vidro, os frascos de compotas e de perfume também podem ir para o ecoponto verde. Por outro lado, para tornar o processo de reciclagem ainda mais fácil e simples, a SPV e diferentes parceiros do SIGRE têm vindo a trabalhar em conjunto. A harmonização da sinalética para os 308 municípios portugueses é um projeto que está em curso, tendo resultado de um trabalho desenvolvido por uma equipa formada pela EGF, EGSRA - Associação de Empresas Gestoras de Sistemas de Resíduos e a Sociedade Ponto Verde. Esta iniciativa, agora concluída, é única a nível europeu e um passo essencial para o esclarecimento do consumidor, tornando o ato de separação mais simples e a informação mais clara. Na sinalética atual ainda se identificam por vezes regras contraditórias e terminologias diferentes. Tendo consciência desta situação, foi desenvolvida uma nova sinalética com o objetivo de mitigar as possíveis situações geradoras de dúvidas e erros na separação dos resíduos e sua deposição nos ecopontos quando nos referimos a diferentes sistemas municipais. Com este projeto, Portugal afirma- se como um exemplo na implementação de uma sinalética universal nos ecopontos, independentemente do município em que cada pessoa reside ou da fonte de informação consultada. Ao longo dos próximos anos, esta nova sinalética será progressivamente implementada em todos os ecopontos espalhados pelo território nacional e nos diversos suportes de comunicação, através dos sistemas de gestão de resíduos. Este é apenas um dos exemplos de iniciativas que têm estado em curso para contribuir para que em Portugal se possa reciclar cada vez mais e melhor. A Sociedade Ponto Verde continua firmemente comprometida com o desenvolvimento de uma “sociedade de reciclagem” e acredita que, com o apoio dos municípios, dos sistemas municipais e da sociedade em geral, é possível alcançar os desafios do novo Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU) 2020. COMO FUNCIONA O SIGRE (SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO DE RESÍDUOS DE EMBALAGENS)? O SIGRE aplica-se a todas as embalagens não reutilizáveis colocadas no mercado nacional e todos os resíduos de embalagens, com o objetivo de lhes dar um destino adequado: reciclagem ou valorização energética. As empresas embaladoras e importadoras que colocam as suas embalagens no mercado são obrigadas por lei a assegurar o destino final dos resíduos em que as suas embalagens se transformam após o consumo. Para esse efeito, podem fazê-lo de modo próprio – organizando um sistema individual que assegure a recolha e a reciclagem – ou através de um sistema integrado (onde se reúnem os mais diversos stakeholders com um papel no ciclo de vida das embalagens), cuja gestão é confiada a uma Entidade Gestora, de natureza privada e sem fins lucrativos, à qual o Estado atribui uma licença para esse efeito, de que é exemplo a Sociedade Ponto Verde (SPV). Assim, as empresas que são clientes da SPV pagam um ecovalor, com o objetivo de financiar a recolha e a triagem de resíduos de embalagem, uma tarefa efetuada pelos Municípios diretamente ou através dos Sistemas Municipais. Enquanto entidade sem fins lucrativos, os recursos financeiros, obtidos essencialmente através do ecovalor, destinam-se a apoiar as operações de recolha seletiva e triagem dos resíduos de embalagens, através do Valor de Contrapartida pago aos Sistemas Municipais. julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 47 AGENDA BOOTCAMP EM EMPREENDEDORISMO SOCIAL Data: 26 a 28 de setembro; 16 a 18 de setembro Local: Cascais; Porto Organização: IES Social Business School Info: O Bootcamp é uma formação intensiva de 48 horas que oferece a possibilidade aos participantes de desenvolverem, em equipa, o conceito e desenho de novas iniciativas de Empreendedorismo Social, definirem os seus modelos de negócio e planos de implementação e prepararem comunicações fortes. Poderão candidatar-se todos aqueles que desejam transformar uma ideia num projeto sustentável e com impacto social, que resolva de raiz problemas negligenciados da sociedade. As candidaturas devem ser feitas através do site www.ies-sbs.org “LISBOA CORRE PELA PAZ” Data: 27 de setembro, 2015 Organização: Bimbo, Câmara Municipal de Lisboa, ADFA e a Liga dos Combatentes Local: Auditório do Montepio, na Rua do Ouro em Lisboa Info: Chega a Portugal pela primeira vez a Bimbo Global Energy Race. O primeiro evento desportivo da marca em Portugal ocorre em Lisboa, em simultâneo com outras 21 cidades do mundo de 19 países diferentes, e tem como objetivo promover o sentimento de bem-estar, o gosto pela prática desportiva e os hábitos de consumo saudáveis. Por cada participante inscrito, a Bimbo doa um kit de produtos alimentares à Re-food, associação que visa eliminar o desperdício alimentar. Mais informações em http:// globalenergyrace.com/. 48 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 VII ENCONTRO NACIONAL DO VOLUNTARIADO EM SAÚDE Data: 10 de outubro, 2015 Local: Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz Organização: Federação Nacional de Voluntariado em Saúde (FNVS) Info: Dedicado ao tema "O voluntariado, promotor de desenvolvimento", o Encontro tem como objetivo reunir os voluntários que atuam no campo da saúde e similar, "em prol da humanização, do bem-estar dos utentes, da qualidade de vida e do desenvolvimento", bem como divulgar projetos e organizações "que se revelem sérios contributos de cidadania e de solidariedade". Inscrições até dia 25 de setembro no site www.voluntariadoemsaude.org. 3ª CORRIDA MONTEPIO “CORREMOS UNS PELOS OUTROS” Data: 25 de outubro, 2015 Local: Terreiro do Paço, Lisboa Organização: Montepio Info: A 3ª Corrida Montepio pretende proporcionar um dia especial, marcado pelo convívio e pela animação pensada para todas as idades, com música ao longo dos percursos, diversões para os mais pequenos e muita alegria. Estarão disponíveis três categorias de percursos: a Corrida de 10 quilómetros, a Caminhada de 5 quilómetros e a Corrida Pelicas, dedica às crianças. O valor das inscrições é de 5 euros até dia 30 de setembro, 8 euros até dia 22 de outubro e na véspera e dia do evento será de 15 euros. O valor das inscrições reverte para a Liga Portuguesa Contra o Cancro. Mais informações em www.corridamontepio.pt. © Cláudia Costa FOTOFILANTROPIA A Srª de Vila Chã que carrega às costas a comida para os seus burros, representa através deste acto irónico a importância e responsabilidade do ser humano na manutenção do meio que o rodeia. Neste caso o Burro de Miranda que se encontra em perigo de extinção. Cláudia Costa 50 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015 52 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015