02 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
ÍNDICE
04 EDITORIAL
09 VIVA VOZ
OPINIÃO
Mudar é fácil!
Por Miguel Schreck
FÓRUM
Até onde vão as verdadeiras consequências da
falta de respeito pelos recursos naturais?
Por José Luís Monteiro, Oikos; Susana Fonseca, Coopérnico;
Frederico Lucas, Programa Novos Povoadores;
Nuno Sequeira, Quercus
INTERNACIONAL
Construir a Felicidade do futuro
26 NO CENTRO
Feedback Global
The Story of Stuff
30 EXPERIÊNCIAS
NACIONAIS
Smart Waste Portugal, Terras Dentro,
Noocity, In Loco
INTERNACIONAIS
Biovision Foundation, 350.org, Friends of the Earth
39 PRÉMIOS
& INCENTIVOS
Por Tania Moloney, Nurture in Nature Australia
44 ARTIGOS TÉCNICOS
A solução das alterações climáticas
está nas nossas terras
Por GRAIN e Via Campesina
Revolução na gestão dos resíduos
Por Luís Veiga Martins
16 CAPA
ENTREVISTAS
Sushma Kalam, Walls and the Tiger
Vandana Shiva
50 FOTOFILANTROPIA
EDITORIAL
“IMAGINE ALL THE PEOPLE
SHARING ALL THE WORLD”1
Não podemos continuar a ignorar. O mundo não é nosso, não é de cada um, é de todos. Chega. Já não
vai dar mais para continuar assim. Chegou a hora de nos redimirmos, de tentarmos voltar atrás pois só
assim poderemos viver para sempre. O mundo está a acabar. A Ecologia deixa agora de ser um tema
“cinzento”, para ser palavra de ordem. Não nos deixemos enganar, a Ecologia também é Humana.
É hora de parar, refletir, assumir a culpa e mudar. Mudar para sempre. Mudar hábitos, pensar
consequências. Basta pensar nas consequências. O conforto do consumismo desmesurado faz sofrer
outros homens, destrói a nossa terra, o nosso mar, o nosso ar…
“É hora de parar,
refletir, assumir a
culpa e mudar.
Mudar para sempre”.
Não perca o testemunho central de Vandana Shiva, a história por trás do documentário “Walls and
the Tiger”, as explicações simples e para todas as idades de “The story of Stuff”, os passos dados pela
Ecologia em Portugal e no Mundo, as preocupações e as lutas nas quais todos somos chamados a
participar ativamente.
Este número da Revista tem a ambição de ser um contributo sincero que “ajude a reconhecer a grandeza,
a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente”, tal como refere o Papa Francisco na encíclica
“Laudato Sí’”, reconhecida por todos, independentemente dos quadrantes políticos ou religiões, como
um importante apelo mundial.
O mundo é de todos mas pode acabar, ou não. Basta mudar.
1John Lennon, in Imagine
Leonor A. Rodrigues
GESTORA DE PROJETO
*Siga-nos em
www.impulsopositivo.com
facebook.com/impulsopositivo
twitter.com/impulsopositivo
O PROJETO IMPULSO POSITIVO É APOIADO POR:
Julho/Agosto 2015
Administração Raquel Campos Franco | António Gil Machado • Direção Raquel Campos Franco | [email protected]
EdiçãoLeonorRodrigues|[email protected] • Colaboradores Leonor Rodrigues | [email protected]
Pedro Lopes | [email protected] • Capa Teresa Fontes (teresatypes) • Projecto Gráfico Gonçalo
Forte(Brandscape Leisure & Lifestyle, Lda) • Design Gráfico tê[email protected] • Impressão Uniarte Gráfica S.A,
Rua Pinheiro de Campanhã, 342, 4300-414 Porto Assinaturas Paula Moreira • Propriedade Positivagenda – Edições
Periódicas e Multimédia, Lda. • Preço Assinatura anual (6 números): 70€ | Avulso: 12€ Tiragem 5000 exemplares
Redação, Administração e Assinaturas PORTO – R. Gonçalo Cristovão nº 185, 6º 4049-012 PORTO Tel 222 085 009 |
Fax 222 085 010 • Redação, Administração e Assinaturas LISBOA Av. Fontes Pereira de Melo, nº 6 – 4º andar, 1069-106
Lisboa | Tel. 217 970 029 | Fax. 217 970 030 • Nº Registo ERC 126045
BREVES
Demonstrar o valor gerado por
projetos de eficiência energética
Demonstrar o valor gerado por projetos de eficiência energética é um
dos objetivos do BCSD Portugal. Para alcançar este objetivo, o projeto
iniciou com a identificação dos bloqueios à eficiência energética e,
atualmente, o trabalho está concentrado em dois desses bloqueios:
a falta de alinhamento entre as propostas de projetos de eficiência
energética e o modelo de negócios das empresas e o reduzido
envolvimento da gestão de topo em temas de energia.
De forma a traduzir a eficiência energética em poupanças de energia
e em reduções de custos, a AÇÃO 7 foi ancorada na construção
de casos de estudo - disponíveis em www.bcsdportugal.org - que
introduzem um conjunto de indicadores económico-financeiros e
que permitem posicionar a eficiência energética como uma
variável na estrutura de custos nas empresas. Os casos de estudo
demonstram não só os valores de investimento, os períodos de
retorno, as poupanças a cinco e dez anos, as reduções dos consumos
de energia, mas também os bloqueios, as formas de os contornar,
os sucessos alcançados, as lições aprendidas e os argumentos que as
empresas usam habitualmente para conseguirem convencer a gestão
de topo a avançar com o projeto.
Numa segunda fase, a meta assenta na análise agregada dos
resultados dos casos de estudo, no sentido de demonstrar o
potencial da eficiência energética à gestão de topo das empresas e
aos profissionais que diariamente lidam com as questões da energia
dentro das empresas.
Adequar perfis de competências entre
empresas e formação escolar
Adequar os perfis de competências entre as empresas e a
formação escolar é o objetivo do trabalho do BCSD Portugal
dedicado ao capital humano. O BCSD Portugal já realizou um
diagnóstico das competências necessárias para as empresas no
período 2017-2020 que conclui que 47 empresas vão criar entre
7.500 e 11.200 postos de trabalho e que as cinco competências
mais escassas em Portugal são: engenharia tecnológica;
comercial, marketing e comunicação de informação; ciências
económicas; operações e logística; e automação.
Dentro das cinco competências mais escassas, são exemplos de
profissões os Técnicos de Redes, Programadores e Analistas de
Sistemas (engenharia tecnológica), os Técnicos de CRM/ Marketing
Relacional e E-commerce (comercial, marketing e comunicação
de informação), os Gestores de Risco e Controllers de Gestão
(ciências económicas), os Técnicos de Operação Logística e
Responsáveis de Entreposto Logístico (operações e logística) e os
Técnicos de Robótica, Programadores CNC (máquinas robotizadas)
e Programadores de Automação (automação).
Terminada a fase de diagnóstico, haverá de seguida uma
campanha de sensibilização para estas profissões junto dos
jovens em idade de decidir o seu futuro. Este projeto está a ser
acompanhado desde o primeiro momento pelo Ministério da
Educação e Ciência.das empresas.
06 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
GRACE e o Manifesto de Milão
O GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial
– participou em Milão, nos passados dias 18 e 19 de Junho, na
Conferência “Last Call to Europe 2020”, organizada pela CSR
Europe, e que serviu de mote ao lançamento do Manifesto de Milão.
Em resposta à premente necessidade de encontrar soluções para
o desemprego e mudanças climáticas e demográficas na Europa,
a CSR Europe, rede empresarial europeia de RSC que faz lobby
junto da Comissão Europeia, elaborou o Manifesto Enterprise 2020
que foi lançado em Milão. No momento em que faltam apenas
cinco anos para atingir os objetivos da Estratégia Europa 2020,
o Documento apela às empresas e governos europeus para que
assumam um papel ativo na implementação de uma economia
sustentável e inclusiva, agindo em três áreas: empregabilidade/
inclusão, sustentabilidade e transparência.
O primeiro desafio pretende que a empregabilidade e a inclusão
sejam prioritárias além-fronteiras, a nível de gestão e da cadeia de
valor. As soluções apresentadas passam pelo aumento estrutural
de parcerias entre entidades públicas e privadas nas áreas do
emprego e educação, inovação no local de trabalho e apoio ao
empreendedorismo, sem esquecer a aposta na formação de
competências profissionais e pessoais.
No que à sustentabilidade diz respeito, é imperativo estimular
as empresas a interagirem de forma comprometida com as
comunidades, cidades e regiões, no desenvolvimento e implementação
de novos meios de subsistência, consumo e produção sustentáveis.
Para tal, haverá que adotar modelos de gestão mais abrangentes,
para que todos os stakeholders sejam envolvidos, limitando assim os
impactes ambientais e fortalecendo a economia.
Por último, a transparência e o respeito pelos Direitos Humanos
no foco da conduta empresarial. As empresas devem ser agentes
de mudança nas suas práticas de gestão, promovendo a inclusão,
a diversidade, a igualdades de oportunidades e divulgação de
informação não-financeira por toda a cadeia de valor.
Este ambicioso Manifesto conta já com o apoio de 40 organizaçõesmembro da CSR Europe, entre os quais o GRACE, representando
entre si um total de 10 mil empresas espalhadas pela Europa.
BREVES
Soluções Empresariais
para o Desenvolvimento
Sustentável
O BCSD Portugal lançou a AÇÃO 2020,
a resposta das empresas portuguesas à
“Visão 2050” do WBCSD - World Business
Council for Sustainable Development,
casa-mãe do BCSD Portugal, que
defende que “Em 2050, nove mil milhões
de pessoas vivem bem, respeitando
os limites do planeta”. A Visão 2050
do WBCSD, traduz-se num conjunto
de diretrizes para o caminho que as
empresas devem percorrer até 2050,
rumo ao desenvolvimento sustentável.
A AÇÃO 2020 - Soluções Empresariais
para o Desenvolvimento Sustentável é
um conjunto de linhas de força para a
agenda das empresas, para promover
o desenvolvimento sustentável de
Portugal em seis áreas prioritárias:
desenvolvimento social, economia,
capital natural, energia, cidades e
infraestruturas, indústria e materiais.
O projeto é da autoria do BCSD
Portugal - Conselho Empresarial para o
Desenvolvimento Sustentável e assenta
na liderança e colaboração entre as
empresas membro.
Na área do desenvolvimento social, o BCSD
Portugal está a desenvolver um projeto ao
nível do capital humano - Adequar perfis de
competências entre empresas e formação
escolar – e na área da energia, um projeto
no âmbito da eficiência energética Demonstrar o valor gerado por projetos de
eficiência energética.
Urgente: medidas eficazes de
apoio aos refugiados na EU
Portugal vai receber um total de 1500 refugiados nos próximos dois anos e para isso já está
a ser organizado um grupo de trabalho composto por cinco ministérios, que deverão unir
esforços para organizar a chegada e a integração destes migrantes. São eles o ministério
da Administração Interna, o ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, o
ministério dos Negócios Estrangeiros, da Saúde e da Educação, avança o Diário de Notícias na
edição de 27 de agosto.
Ao lado dos cinco ministros estará também o Alto-Comissariado para as Migrações. O
Governo apenas espera que a União Europeia indique “quando vêm e qual o seu perfil, para
que possamos adaptar a organização logística e disponibilizar os recursos necessários”, disse
fonte da Administração Interna ao DN. O processo de acolhimento é financiado pela União
Europeia, numa média de 6 mil euros pro cada migrante. Até 2020 Portugal vai receber de
fundos comunitários um total de 39 milhões de euros para as políticas de migração.
De acordo com o mesmo jornal, no entanto, o início da chegada dos refugiados a Portugal, não
deverá acontecer “antes de outubro”, segundo confirmou a porta-voz da Comissão Europeia
para os Assuntos Internos e Migrações. Os migrantes deverão ser, na sua maioria, sírios com
qualificações, que perderam tudo na guerra contra o regime de Bashar al-Assad.
Ao grupo de trabalho, pode ler-se no despacho que o criou, é pedido que a sua equipa
governativa consiga “aferir a capacidade instalada e preparar um plano de ação e resposta
em matéria de reinstalação, relocalização e integração dos migrantes”. A coordenação
ficará a cargo do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
É urgente tomar medidas eficazes o mais rapidamente possível e foi nesse sentido que no mesmo
dia, o alto comissário das Nações Unidas para os refugiados, António Guterres, e o ministro
francês do Interior, Bernard Cazeneuve, apelaram à criação urgente de centros de acolhimento e
de triagem face ao fluxo de migrantes e refugiados na Europa.
“Temos de acelerar e intensificar as decisões tomadas pelo Conselho Europeu relativo à Agenda
para as Migrações. Há questões essenciais como a receção, o registo, os ‘hotspots’ [centros de
acolhimento e de triagem], a relocalização e a reinstalação”, disse Guterres depois de uma reunião
com o governante francês em Genebra, de acordo com a agência de notícias francesa.
Desde o início do ano, 293.000 migrantes e refugiados tentaram chegar à Europa através
do Mediterrâneo e 2.440 faleceram durante o percurso, segundo os números anunciados
esta quinta-feira por Guterres.
“É evidentemente um desafio sério para a Europa”, afirmou o responsável português.
E realçou: “É claro que a Europa tem a dimensão e a capacidade para responder a este
desafio, desde que seja unida e que se assuma conjuntamente essa responsabilidade”.
Guterres deixou também um apelo à comunidade internacional para mostrar uma maior
generosidade para com os refugiados sírios, salientando que o apelo feito pela ONU para
um financiamento para o efeito obteve contribuições de apenas 41%, até ao momento, do
montante total solicitado.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 07
BREVES
A Grécia e o crescente
número de crianças
abandonadas
CD: Gettyimage
São cada vez mais os pais que entregam
os filhos nos orfanatos, porque não têm
dinheiro para os alimentar, na Grécia. Mas
muitas das crianças são abandonadas.
O desespero a que os levou a crise vivida
no país faz com que muitos pais se tenham
tornado alcoólicos, toxicodependentes,
violentos ou se tenham suicidado, tendo
acabado por abandonar os filhos.
Em reportagem, a prestigiada cadeia Sky
News conta que em julho um pai optou por se
matar deixando os 3 filhos com um familiar.
Numa das maiores instituições de caridade
para os mais novos, The Smile of The Child
Charity, quase não há dinheiro para dar uma
vida digna às mais de 350 crianças que lá
vivem. O presidente, que criou a instituição
a pedido de um filho que morreu, conta
que anda a contactar cidadãos gregos no
estrangeiro a pedir ajuda.
Também os hospitais se depararam com o
mesmo problema: as grávidas dão à luz e
deixam os filhos para trás. Durante 6 meses
essas crianças mantêm-se sem nome e
numa ala especial do hospital. Os médicos e
enfermeiros ainda têm a esperança de que os
pais possam voltar, mas esses são os casos
raros, o mais certo é estes bebés seguirem
para um orfanato.
Para além disso, tal como relatou o diretor
de um dos hospitais à Sky News, aos gregos
juntam-se as migrantes grávidas e que usam
a Grécia como ponte para outros países,
deixando quase todas os filhos par trás.
08 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
Um "livro bebível"
que salva vidas
Cientistas americanos criaram um "livro
bebível" - “Drinkable Book” - com páginas
quimicamente alteradas capazes de tornar
água contaminada em água 99,9% pura.
Uma equipa da Carnegie Mellon University
nos Estados Unidos, testou o livro em África
e relatou como cada página - contendo nano
partículas metálicas bactericidas - tornou
água poluída de esgoto, tão segura como água
da torneira nos Estados Unidos.
A designer, Theresa Dankovitch teve esta
ideia enquanto estudava as propriedades
do papel. Muito embora as propriedades
bactericidas da prata já fossem conhecidas,
Dankovitch diz que ainda ninguém tinha
pensado em colocá-las no papel.
Cada página pode purificar até 100 litros
de água e um livro inteiro pode purificar
o abastecimento de água de uma pessoa
durante um ano inteiro. Tudo o que é
necessário é um dispositivo de fixação no qual
as páginas devem ser encaixadas.
Dankovitch apresentou os resultados
dos ensaios que conduziu em África e no
Bangladesh na reunião da American Chemical
Society que decorreu em Boston em agosto.
"Em África, quisemos ver se os filtros
iriam resultar em "água de verdade", e não
em água contaminada propositadamente
no laboratório" citou o jornal Huffington
Post. "Um dia, enquanto filtrávamos água
ligeiramente contaminada de um canal de
irrigação, trabalhadores locais levaram-nos
até uma vala próxima de uma escola onde um
esgoto tinha sido despejado. Descobrimos
milhões de bactérias; esta era uma amostra
desafiadora", contou Dankovitch. "Mas mesmo
assim, mesmo em fontes de água altamente
contaminadas como esta, conseguimos
alcançar 99,9% de pureza com o nosso papel
de nano partículas de prata e cobre, trazendo
os níveis de bactérias comparáveis aos da
água potável nos Estados Unidos”.
Veja o filme que explica como tudo funciona e
conheça o projeto em http://waterislife.com/.
O famoso Ice Bucket Challenge está de volta
O famoso Ice Bucket Challenge, que revolucionou as redes sociais em 2014, mobilizou
personalidades do mundo inteiro e promoveu de uma forma única a procura de cura para a
Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), está de volta. A APELA - Associação Portuguesa de
Esclerose Lateral Amiotrófica volta a apelar a todos os portugueses que adiram à campanha
dos baldes de água gelada.
Segundo a Associação, “em 2014, o Ice Bucket Challenge permitiu à APELA angariar cerca de
200.000€, sendo que 50.000€ foram canalizados para suprir as necessidades financeiras que a
implementação do Projeto MinE, em Portugal, implicaria”. Ainda assim, os recursos angariados
apresentaram-se diminutos no momento de alcançar os 200 doentes inicialmente estimados
para serem abrangidos por este projeto internacional.
O Projeto MinE trata-se de uma iniciativa de escala mundial, do qual fazem parte vários países
europeus, os Estados Unidos, Austrália e Israel, que uniram esforços para descobrir a causa
genética da doença e, a partir daí, desenvolver possibilidades de cura. Para alcançar este
objetivo, o ProjectMine terá de recolher 15.000 perfis de ADN completos de doentes de ELA e
7.500 perfis de ADN de "não doentes", enquanto grupo de controlo.
O objetivo do Ice Bucket Challenge 2015 passa não só por apoiar o desenvolvimento desta
investigação científica, mas sobretudo por continuar a lutar pela criação de condições que
munam a pessoa com ELA da melhor qualidade de vida possível.
Conheça a APELA em www.apela.pt.
VIVA VOZ
Gigante H&M mais verde que nunca
Depois de colocar à disposição dos clientes um contentor onde
podem deixar as peças que já não usam, a cadeia sueca H&M vai
lançar uma nova linha de ganga produzida com algodão reciclado, ao
mesmo tempo que acaba de criar uma bolsa de um milhão de euros
para premiar as melhores ideias no campo da reciclagem têxtil.
A história recente da H&M, uma das principais marcas
de fast fashion, inclui para além das colaborações com
designers conhecidos, uma linha chamada Conscious que
procura, precisamente, garantir uma maior consciência e
sustentabilidade da indústria.
“A criação de um ciclo fechado para os têxteis, no qual as
roupas que os nossos clientes já não querem possam ser
recicladas e transformadas em novas peças, permitirá não
apenas minimizar o desperdício de têxteis, como também
reduzir de forma significativa os recursos virgens, bem como
outros impactos que a moda tem no nosso planeta”, diz KarlJohan Persson, CEO da H&M, em comunicado a propósito da
nova linha Close the Loop Denim.
Ao todo são 16 novos estilos de ganga que estarão disponíveis
nas lojas a partir do dia 3 de setembro, com propostas para
homem, mulher e criança que procuram “fechar o ciclo” por
usarem 20% de algodão que foi conseguido a partir das peças
que os clientes deixaram nas lojas (independentemente da
marca), no âmbito da iniciativa de recolha de roupa usada,
criada em 2013 e que já reuniu mais de 14.000 tonel adas a
nível mundial.
Segundo o mesmo comunicado, a empresa sueca garante
que está a investir em nova tecnologia para aumentar a
percentagem de algodão reciclado usado sem comprometer
a qualidade das peças e que pretende multiplicar “em 300%
(em comparação com 2014) o número de peças feitas com, no
mínimo, 20% de tecido reciclado”.
Em busca desta inovação, na terça-feira, 25 de agosto, a H&M
Conscious Foundation lançou o seu primeiro Global Change
Award, uma bolsa de um milhão de euros, divididos por cinco
vencedores, que pretende atrair novas ideias ecológicas para
ajudar a proteger os recursos naturais do planeta.
Os vencedores terão acesso a soluções que impulsionem as
suas ideias e, com isso, a fundação pretende responder a “um
dos maiores desafios da indústria: criar moda para uma população
crescente reduzindo o impacto no meio ambiental”. Qualquer
pessoa pode concorrer, bastando para isso visitar o site oficial
da bolsa e olhar para a roupa sem ser para decidir qual vai ser a
próxima compra, ou o que vai vestir de manhã.
Forbes destaca empreendedorismo português
A conceituada Revista Forbes destaca o empreendedorismo português, caracterizando o país como “famoso pelos descobrimentos marítimos,
pela riqueza Histórica e cultural e, agora, pelo seu investimento no empreendedorismo”. Para a Forbes, o segredo do sucesso português, em
relação aos restantes países europeus,no que toca ao empreendedorismo é o apoio do governo.
A sociedade de capital de risco Portugal Ventures é destacada pelo seu contínuo investimento em empresas inovadoras com base científica e
tecnológica e em projetos no setor do turismo e da expansão internacional. Após vários anos, o sucesso das startups em Portugal é evidente e
este ano o PIB português já aumentou 1,6%. É a era dos “novos descobrimentos portugueses”.
As outras escolhas da Forbes vão desde uma empresa que permite criar call centers numa questão de minutos a um sistema de saúde do futuro
que assegura que os doentes tomem o medicamento certo, à hora certa.
As Escolhas da Forbes:
TalkDest: Nasceu em 2011 e permite que uma empresa crie o seu próprio ‘call center’ numa questão de minutos. Tem clientes nos cinco
continentes, em mais de 50 países.
Feedzai: É a startup de Coimbra que se especializa em soluções antifraude. Atualmente, emprega cerca de 60 pessoas.
Veniam: Transforma veículos em hotspots (pontos de acesso). Trata-se de “WiFi em movimento” e aproveita a conetividade entre veículos,
objetos móveis e utilizadores finais para ampliar a cobertura de rede WiFi.
PharmAssistant: É descrita como o futuro do sistema de saúde e assegura que os doentes tomem o medicamento certo, à hora certa. Oferece
um recipiente “inteligente” para medicamentos com um alarme, sonoro e visual, que é ativado na hora de tomar a medicação.
Cuckuu: Uma mistura de alarmes, lembretes e “genialidade” numa sóapp. Utiliza a motivação social para incentivar os utilizadores a passarem
mais tempo juntos, em comunidade.
Unbabel: Um serviço de tradução que combina a inteligência humana e artificial para produzir traduções rápidas e com qualidade.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 09
VIVA VOZ
OPINIÃO
Mudar é fácil!
Por Miguel Schreck
Desde que me conheço que tinha vontade de viver no campo. Nasci
no Porto, onde estudei e fiz o meu grupo de amigos mas todos os
fim-de-semana e férias de que tenho memória foram passadas
no Gerês. Não sou daqueles que têm aversão aos meios urbanos,
apenas prefiro o verde e todas as outras cores em que se transforma
ao longo do ano.
Há quatro anos atrás resolvi percorrer o curso do rio Douro, desde
a foz até à nascente em Espanha com o intuito de pintar as suas
paisagens. Dei um mês daquele ano para tal; a viagem demorou
três. Já tinha viajado, nunca o suficiente mas sempre acompanhado
de amigos. Desta vez e pela primeira, fi-lo sozinho acompanhado
da minha cadela Riska e da minha carrinha. Sou por natureza
uma pessoa faladora e que gosta de estar com os amigos mas a
ideia de percorrer todos aqueles quilómetros sozinho começou
a transformar-se num fantasma. Sabia que iria ver paisagens
deslumbrantes, conhecer gente encantadora, viver momentos
inesquecíveis e que não poderia partilhar nada disto com alguém
próximo. Que iria passar dificuldades, problemas e aflições onde,
igualmente, não teria o tal alguém com quem procurar soluções.
Poderia ter desistido perante a consciência dos perigos de viajar
sozinho, quando a mãe ansiosa (porque é mãe) respirava sem
fundo ao ouvir falar dos meus planos, ou quando alguns amigos
Velhos do Restelo apostavam que não iria nunca concluir a viagem.
Já tinha, anteriormente, desistido de outros projetos por medo,
anseios e opiniões alheias. Se na maioria dos casos me arrependi
de lhes ter dado ouvidos, porquê voltar a fazê-lo?
A viagem começou e fiquei quatro dias sem conversar com
alguém, para além do “um café cheio, por favor” e do subsequente
“obrigado”. Dei por mim a falar com a Riska sobre os dias que se
tinham passado e apesar da grande amizade que temos, achei
obviamente estúpido e esquizofrénico. A partir daí, comecei não só
a conversar com quem tinha tempo para mim mas principalmente
a ouvir (coisa que não sabia fazer antes) com o gosto de quem
foi aprendendo que tal não é tempo perdido. Passar de falador a
ouvinte foi-me natural, embora nunca o tenha conseguido antes;
acho que foi uma questão de necessidade. Mudamos facilmente
de carro, não mais facilmente de namorada, mas mudar a nossa
10 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
Miguel Schreck
maneira de ser parece-nos muitas vezes impossível ou trabalhoso
demais. A verdade é que o fazemos continuamente ao longo da
nossa vida embora raramente o façamos conscientemente.
Durante a viagem de três meses pelo Douro, fiquei um mês
em Miranda do Douro. A ideia era percorrer parte do Douro
internacional com um burro da A.E.P.G.A., a associação que luta
pela preservação do Burro de Miranda. Quando cheguei, semanas
depois da data agendada, estava prestes a começar o festival L
Burro i l Gueiteiro e a minha caminhada com o burro teve de ser
adiada. Os planos nunca correm como planeado e nessa altura o
tempo tinha-se transformado numa coisa elástica e maleável que
eu podia moldar à minha vontade. Então, deixei-me ficar...
Lembro-me de sentir que o potencial daquele festival era enorme
e no final, em conversa com o meu novo amigo Miguel, um dos
responsáveis pela associação, dizia-lhe - “isto é único, verdadeiro,
não conheço outro evento que apele a uma causa desta forma,
com um ambiente tão familiar. É incrível o vosso trabalho e
como conseguem fazer magia com esta festa: os passeios por
este território fantastico, o conhecimento que é transmitido nas
oficinas, o contacto com as pessoas das aldeias por onde passamos.
Este festival devia receber mais pessoas!”
Ao qual ele me respondeu - “se o festival tiver mais gente, tudo isso
que achas fantástico, deixa de ser sustentável!”
Sei que eventos como este necessitam de apoios para continuarem
a existir mas de facto seria profundamente triste se um dia este
nome fosse comprado por uma empresa de telecomunicações
ou por uma multinacional energética. Há coisas únicas que não
devem ser massificadas, senão deixam de ser genuínas.
Os cinco dias que percorri sozinho com o burro e com a Riska por
caminhos de terra, na vastidão do planalto mirandês, foram de
longe a melhor experiência da minha vida. Nunca fora uma pessoa
de caminhadas; sempre usara o carro para ir ao café no fim da rua
mas aqueles cinquenta e tal quilómetros sob o sol abrasador de
agosto e as noites de reflexão nos palheiros das aldeias por onde
passava, fizeram-me descobrir o prazer de andar e reconhecer o
ser caminhante que existe em todos nós.
Foi durante este percurso que levei a sério a minha vontade de
VIVA VOZ
ir viver para um meio rural e onde tomei a decisão que o faria o
mais breve possível. De preferência algures no planalto mirandês.
Esta zona tinha tudo o que eu queria: uma cultura riquíssima,
uma paisagem de horizontes longínquos onde as quatro estações
se fazem notar com as suas cores próprias e um grupo enorme de
pessoas com quem falar e com assuntos interessantes para ouvir.
Deixei o planalto mirandês e a viagem continuou Douro acima até
à nascente. O sentimento de vitória foi enorme, embora a Riska
tenha lá chegado primeiro. Cumprira um objetivo, ultrapassando
as preocupações e todas as ocupações que não previ.
Voltei ao Porto, fiz duas exposições de pintura, uma de fotografia
e passado um ano estava no Palancar, a aldeia mais pequena do
conselho de Miranda, para viver a minha nova vida rural com dois
amigos, a Rita e o Viegas, que procuravam o mesmo. O espanto
dos habitantes da aldeia sentiu-se na pergunta repetida – “É da
cidade? Então porque veio para aqui viver? Lá é que se está bem!”
O inverno chegou com o frio rigoroso que aqui se faz sentir e
aprendi a “ir à lenha”, trabalho que se fez em comunidade e que
naquele ano foi junto aos caminhos da aldeia de Atenor, de forma a
prevenir futuros incêndios. Rapidamente percebi que conseguiria
ir buscar alguns bens necessários em troca de trabalho. Fui ao
cultivo de batatas em troca das mesmas, à cresta do mel em troca
de uma colmeia, vindimar em troca de uvas para fazer o meu
primeiro vinho e pintar quadros em troca de um burro.
Os hábitos e as técnicas de trabalho agrícola, que perduraram
durante séculos, foram radicalmente alterados nas últimas
décadas e nem sempre para melhor. Foi aqui que entendi a razão
da quase extinção do Burro de Miranda que, ao ter caído em
desuso em prol do trator, quase desapareceu da paisagem e da vida
desta gente. Aquando do percurso com o burro, de passagem por
Aldeia Nova, me perguntaram como ali tinha chegado respondi
orgulhosamente – de burro. A velhinha fez uma cara de desdém e
respondeu – “De burro?!? Atão porque não veio de mota? “
Assim como a quase extinção do burro, o êxodo rural é uma
realidade inegável e com ele ficam ao abandono as aldeias e os
campos. Li no outro dia, num jornal local, a crónica de um otimista
que referia que a única vantagem do abandono dos campos é a
recuperação da fauna e da flora selvagens. As mulheres aqui são
como a cegonha-preta, estão em vias de extinção – dizia-me
alguém no outro dia em tom de gozo. Sabia que ao vir para esta zona
cada vez mais despovoada, seria matematicamente mais difícil
encontrar alguém por quem me apaixonasse. A matemática esteve
a meu favor. Conto ter filhos e criá-los aqui mas com menos gente
no interior, o governo central faz contas cegas e fecha serviços
públicos. Ouvimos diariamente na televisão as populações a
reclamar mas só quando tive de fazer cem quilómetros para tirar
um raio-X a uma costela partida, porque o centro de saúde de
Miranda só tem radiologista às terças, quintas e sábados, senti que
fazia parte desta população desfavorecida.
Dizem-me que o planalto mirandês é um caso raro a nível
associativista no país. Aqui concentram-se várias associações que
trabalham em prol do meio ambiente, dos costumes e cultura, da
língua e da música. Foi na Lérias, a associação cultural que mais
promove o ensino da música tradicional local, que encontrei o meu
espaço de trabalho como ator e professor de pintura e me comecei
a aperceber das dificuldades com que algumas associações se
deparam há já vários anos. Perante um território tão vasto, com
falta de transportes entre as aldeias, os professores desta associação
deslocam-se às localidades de forma a proporcionarem maiores
oportunidades de ensino às pessoas. Apesar do esfoço e trabalho
feito, na maioria por gente que se mudou para cá porque acredita
no potencial deste território, os apoios dos organismos locais ainda
são insuficientes e essa falta provoca “stress rural”. Não acredito
na dependência de apoios e subsídios, isso mina à partida toda a
dinâmica de uma sociedade, mas é da responsabilidade de quem
gere um território criar condições para quem quer ficar na sua
terra e para quem quer desenvolver bons projetos a nível local.
Tenho assistido contudo a algumas mudanças e estreitamento de
laços que espero que venham a dar bons frutos.
Sou um otimista por natureza e sei que o país atravessa uma fase
difícil, mas se olharmos para o interior rural de forma sincera e
sustentável, tudo será mais fácil!
É da cidade? Então porque
veio para aqui viver? Lá é
que se está bem!”
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 11
VIVA VOZ
FÓRUM
ATÉ ONDE VÃO AS VERDADEIRAS CONSEQUÊNCIAS DA
FALTA DE RESPEITO PELOS RECURSOS NATURAIS?
É urgente tomar consciência que a partilha do planeta com outras espécies e a interação com o meio ambiente,
ou passam a ser feitos com respeito, ou a vida na Terra tornar-se-á insustentável. O Fórum desta edição reflete
sobre a responsabilização de cada um pelas escolhas feitas e pela marca que deixa, todos os dias, na Terra.
José Luís Monteiro
Técnico de Projetos da Oikos
A história da relação humana com a Natureza é como a fábula do escorpião e da rã, diferindo apenas
porque decorre numa escala temporal de alguns milhões de anos. A Natureza é o suporte último de
todas as sociedades humanas, este facto parece ter sido esquecido por grande parte da população.
Vivemos o nosso dia-a-dia olhando quase exclusivamente para indicadores económicos para tomar
decisões cujo impacto não se resume a essa área. Todos os dias discutimos PIBs, défices, taxas de juro e cotações em bolsa como se nada
mais importasse.
A Terra não devia ser vista apenas como uma fonte de recursos a explorar, deveria ser considerada um sistema quase fechado que
precisamos gerir, com limites de tolerância que, uma vez ultrapassados, forçam o equilíbrio do sistema a alterar-se. Diversas
instituições e cientistas têm trabalhado para determinar estas fronteiras planetárias, os pontos a partir dos quais a nossa sobrevivência
estaria ameaçada, tendo concluído que, das 7 fronteiras atualmente determinadas, já ultrapassámos os limites de risco em 4 (estamos
em situação de risco crescente em relação às alterações climáticas” e “alterações dos habitats terrestres”, mas já estamos em risco
extremo para os “ ciclos biogeoquímicos”, como o azoto ou o fósforo, e “perda de biodiversidade”).
Será que o escorpião está condenado a seguir a sua natureza ou este escorpião conseguirá lembrar-se a tempo de que é a rã que o
mantém à tona de água?
Susana Fonseca
Membro da Direção da Coopérnico
A espécie humana partilha com as restantes espécies da Terra a dependência de condições naturais
que permitam a sua existência. A sua qualidade de vida e existência física dependem dos serviços
que os ecossistemas prestam - água de qualidade, solo fértil, ar limpo, regulação do clima – bem
como dos recursos naturais que usamos para sustentar o nosso sistema de produção e consumo.
Contudo, a nossa conduta tem levado a um enorme desequilíbrio. Se generalizássemos a pegada
ecológica da União Europeia ao mundo, seriam necessários 3 planetas. Dado que só existe um, é
urgente tomar consciência que tem de ser alterada a forma como os extraordinários recursos do
planeta são usados, não apenas por razões ambientais, mas também por razões de preservação da
própria espécie. Um contributo importante pode ser o uso de energias renováveis. A Coopérnico
surgiu para ajudar a concretizar este novo modelo e dar aos cidadãos a possibilidade de participarem na mudança, seja através do
apoio a projetos de produção, seja através da aquisição de eletricidade baseada em fontes renováveis. O desafio é grande, mas as
soluções existem. Há agora que vencer a inércia e ter a coragem de as abraçar.
12 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
VIVA VOZ
Frederico Lucas
Coordenador do Programa Novos Povoadores
As "cidades do futuro" pretendem ser verdes, sustentáveis, inteligentes e low cost.
Isto já existe. Chama-se "Campo".
As cidades são a imagem do passado, os territórios rurais são espaços do futuro.
O Século XX ficará para a história como o limite na utilização dos recursos naturais.
Primeiro no campo, onde as indústrias altamente poluentes instalaram as suas
unidades produtivas, depois as cidades que acolheram milhões de habitantes, sem
avaliar a sustentabilidade dos recursos ambientais.
O consumo excessivo de água e a emissão de CO para a atmosfera estão a condenar o
ambiente das áreas metropolitanas.
Quem tem condições para migrar para territórios mais saudáveis, acaba por fazê-lo.
No Programa Novos Povoadores, o foco está nos serviços dos ecossistemas.
Procuramos oportunidades de negócio que geram valor, riqueza e postos de trabalho, em sintonia com a melhoria das
condições desses recursos. Não é possível manter o princípio do “mal menor”: polui o ambiente mas cria emprego.
Hoje, é fundamental que crie emprego enquanto despolui o rio.
Não é uma utopia. Já há quem produza capas para telemóveis a partir dos resíduos recolhidos de um rio, e quem construa
casas de madeira dentro de um processo de ref lorestação.
A importância de criar valor não substitui a necessária melhoria dos ecossistemas, devido às gerações vindouras.
Precisamos de simbiose entre ambiente e economia, e não de uma relação de concorrência.
A imaginação é o limite.
Nuno Sequeira
Vogal da Direção Nacional da Quercus
Neste momento, em que continuamos a assistir a inúmeros desastres ambientais que ocorrem em
todo o Mundo, será importante olhar para os erros cometidos, refletir, e sobretudo, tomar opções
rumo a um futuro mais sustentável do Planeta. Infelizmente, mais de quatro décadas passadas
desde que as questões ambientais e de respeito pela Natureza tomaram uma dimensão mundial,
o caminho percorrido não tem ido no bom sentido e a nossa capacidade de conhecer e respeitar
os limites da sustentabilidade do Planeta não tem progredido tanto quanto o necessário.
Em Portugal, para além da insustentabilidade financeira de muitos dos projetos desenvolvidos
nos últimos anos, os custos ambientais dos mesmos têm sido demasiado significativos: quer
a construção de estradas com pouco tráfego atravessando áreas sensíveis do ponto de vista
ecológico e que estimulam o uso do automóvel com a consequente poluição; quer a construção
de barragens com um rendimento muito limitado mas que destruíram um património natural
único; quer a implantação de urbanizações e empreendimentos em zonas de solos produtivos ou
ecologicamente relevantes, como áreas da Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional ou Rede Natura 2000.
Num cenário de crise económica nacional e internacional, que tem acabado por relegar as questões ambientais para segundo plano,
é importante não esquecer que continuamos a viver uma crise ambiental, com problemas tão graves como o aquecimento global, a
perda de biodiversidade, o crescimento exponencial da população humana ou a alteração dos seus padrões de consumo. Ignorar estes
problemas que têm reflexos diretos do ponto de vista ambiental, mas também do ponto de vista social e económico, e adiar decisões
que necessitam de ser tomadas urgentemente, não irá resolver as questões, mas sim agravá-las futuramente, com as consequências
para todo o Planeta e naturalmente para a espécie humana também.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 13
VIVA VOZ INTERNACIONAL
Construir a Felicidade
do futuro
Por Tania Moloney,
Mãe de duas crianças maravilhosas, defensora apaixonada da
relação entre crianças e famílias com e na natureza, e Diretora
Executiva da Nurture in Nature Australia
Olho para trás, para a minha infância e vejo muitas memórias
felizes. Andar lá fora, completamente submersa na natureza,
está entre as melhores.
Com o cabelo ao vento, o sol a cara e terra nas unhas, desde os
meus primeiros dias na Terra, a natureza teve a oportunidade de
me tocar na pela e de fazer o seu caminho no meu coração.
Muitas vezes andava lá fora sozinha ou com os meus amigos
(não um adulto a vigiar). Longe da televisão, da tecnologia e
alegremente sem noção do tempo, eu era livre para brincar e
explorar. Era livre para ser eu.
Mas as memórias que fazem o meu coração bater mais forte são os
momentos que passei ao ar livre com a minha família.
Todas as férias verdadeiramente espetaculares que tivemos foram
passadas na natureza: a correr na praia, a fazer acampamentos
no rio, a escalar montanhas (algumas das quais pouco mais
altas do que a nossa casa mas que nos pareciam o Evereste), ou
a sermos cobertos por areia vermelha no interior da Austrália.
Não importava, de facto, onde estávamos; o mais poderoso é que
estávamos ao ar livre e estávamos juntos.
Viajámos para muito longe nas nossas aventuras em família,
mas muitos dos meus momentos mais maravilhosos não se
passaram muito longe do nosso próprio quintal. Um dos mais
marcantes é o de um dia em que toda a família dormiu ao ar
livre, numa noite quente em fevereiro de 1986, a tentar ter um
vislumbre do cometa Halley. E ver um cometa que se vê uma
vez na vida não é do que me lembro melhor.
As experiências na natureza que partilhámos tornaram-nos mais
próximos uns dos outros, alimentaram e fortaleceram de uma
forma única os laços que ainda hoje nos unem.
Eu acredito que estes momentos tiveram um papel muito
significativo na formação de quem sou eu enquanto ser humano,
enquanto mãe, enquanto vencedora na ajuda a outras pessoas a
conectarem-se com a natureza e com os outros. Ajudaram-me a
crescer enquanto adulta confiante, capaz e resiliente que consegue
comunicar claramente - capacidades vitais necessárias para
conseguir montar uma tenda com os meus dois irmãos mais novos.
Também aprendi a ser mais persistente, empenhada e paciente!
Uma e outra vez a natureza ajuda-me a desacelerar quando a
correria da vida me oprime.
Também sei que esses momentos são parte da razão pela qual me
sinto tão fortemente ligada à minha família mas também a alguns
lugares; os lugares onde cresci são parte de mim e eu deles. Eu
pertenço-lhes E nas nossas vidas modernas e extremamente
ocupadas, um forte sentimento de pertença é algo que precisamos
de cultivar mais para os nossos filhos.
Eu quero que os meus filhos tenham carinhosas memórias de
acampamentos em família. Eu quero que eles desenvolvam bases
sólidas de aprendizagem para a vida e que a natureza me deu a
mim. Eu desejo, para eles, a certeza e a autoconfiança que vem de
14 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
saber que se pertence - a uma família e a um lugar. Eu desejo tudo
isso para os meus filhos.
Sim, é possível cultivar relações familiares também dentro de caso,
mas estarmos juntos lá fora, na natureza parece que amplifica o
efeito de uma forma poderosa.
Passar tempo ao ar livre é algo de que as famílias podem desfrutar
desde que os filhos são recém-nascidos, durante toda a infância,
na adolescência e até na idade adulta. Pode até ser apreciado por
várias gerações! As minhas aventuras em família continuam agora
que os meus irmãos e eu temos as nossas próprias famílias. Só
trazemos a "tribo" inteira atrás de nós!
Os grandes espaços ao ar livre são também o “fio condutor"
perfeito para conectar famílias entre elas, o que ajuda a construir
redes de apoio e comunidades mais fortes; e comunidades mais
fortes tornam o mundo também mais forte, mais pacífico e mais
saudávl. Contudo, conectar famílias com a natureza não é bom só
para as famílias e para as comunidades, é vital para a natureza,
também. Dar às crianças oportunidades frequentes de se ligarem
à natureza, seja no seu quintal ou fora dele, é vital para ajudar a
cultivar os nossos futuros administradores ambientais.
Para que as crianças, cresçam a amar e a querer cuidar da natureza,
primeiro devem ter a oportunidade de a conhecer e de a sentir na
pele. Só depois disso é que a natureza pode fazer o seu caminho
nos seus corações, nas suas cabeças e nas suas mãos para sempre.
Eu sei que fazer um intervalo das distrações e dos horários
sobrecarregados em que tantas vezes vejo a minha família a
correr de um evento/aula/jogo/reunião/telefonema/email para
outro, para partilharmos tempo junto ao ar livre, nos vai dar
a oportunidade de termos muito tempo de qualidade do qual
precisamos; nós vamos começar a abrandar e, mais importante,
vamos ligar-nos com o que realmente importa nesta vida preciosa.
Mas, tanto como eu estar comprometida a levar os meus filhos lá
para fora e a divertirmo-nos juntos na natureza, descobrir o tempo
para escolher a natureza em vez do ipad, da roupa que tenho para
passar ou da necessidade de fazer um bocadinho de algo que gere
trabalho, é um desafio.
É que às vezes estou extremamente ocupada...
Estarei? Estou realmente muito ocupada para não poder fazer
algo que é tão importante?
CAPA
16 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
CAPA
Ser parte da mudança
O documentário Walls and the Tiger de Sushma Kalam, correu mundo para contar uma história passada
numa vila indiana. Dito de outra maneira, é a história do impacto das escolhas que fazemos - quando
compramos os nossos alimentos, a nossa roupa, os nossos gadgets -, na vida de sociedades ancestrais
a que por defeito nominamos tantas vezes “pouco desenvolvidas”. É a história do impacto das nossas
vontades, na vida de tantos outros. E como ainda é possível mudar.
Entrevista |Texto: Leonor Rodrigues
Impulso Positivo (IP): Quais são os principias desafios que
enfrentamos atualmente?
Sushma Kalam (SK): Há muitos desafios que enfrentamos
globalmente tais como a devastação ambiental, o excesso de
consumo, a escassez dos recursos naturais, as migrações, a
pobreza, a justiça social, a falta de educação básica e de cuidados
primários de saúde para tanta gente, entre muitas outras coisas.
Para além destes desafios todos, o facto de existirem tantas
pessoas cujas necessidades básicas não são satisfeitas e que nem
sequer vêm os seus direitos humanos básicos respeitados, é um
indicador de que os sistemas e modelos que criámos em prol do
desenvolvimento não estão a funcionar. Temos desenvolvido
tecnologias para enviar o Homem a Marte, mas estamos a falhar
no respeito pelos nossos companheiros humanos na Terra.
Preocupamo-nos tanto com a economia, tecnologia e dinheiro
que nos esquecemos de cuidar da dignidade humana.
IP: Que retrato faz da atuação atual dos líderes mundiais?
SK: Se estamos a falar sobre os governantes de cada país, não
acho que exista algum líder mundial. Os líderes das nações
consideradas poderosas agem como líderes mundiais e criam
políticas e sistemas que agradam os seus cidadãos à custa de
outras nações para que possam manter o seu poder e possam
ser reeleitos. E os chamados países menos desenvolvidos
compram essas políticas pela ganância de se tornarem também
poderosos, ou pelo orgulho de se associarem aos considerados
poderosos, ou por coação ou intimidação. A maioria destes
líderes está concentrada em pacificar os seus cidadãos com
sonhos de conforto material, intensificando a luta pelos
recursos naturais, o que resulta em violações generalizadas
dos direitos humanos, o que é exatamente o ponto central do
documentário Walls and the Tiger.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 17
CAPA
“Devemos parar de explorar
outras pessoas para nosso
benefício e de perturbar
comunidades tradicionais
só porque as consideramos
pobres e subdesenvolvidas”
IP: O que é que o documentário pretende fazer chegar ao
público?
SK: Em primeiro lugar devemos parar de explorar outras pessoas
para nosso benefício e de perturbar comunidades tradicionais só
porque as consideramos pobres e subdesenvolvidas. Quando os
aldeões no filme explicam que se têm vindo a sustentar há gerações
e gerações sem precisarem de dinheiro da maneira que este é usado
na economia moderna, e como o dinheiro é um fenómeno recente,
temos que ter a perspetiva que o desenvolvimento e a economia
moderna de que estamos a falar são uma coisa muito recente dos
últimos cem anos. Mesmo sem saber os efeitos a longo prazo das
economias modernas, impô-las às sociedades tradicionais que se
têm vido a sustentar ao longo de tantas gerações é prematuro por
parte dos governos. Os governos devem parar de correr atrás de
taxas de crescimento económico de 5, 6 e 10 por cento e começar a
pensar sobre o que isso beneficia as comunidades locais. No filme,
os agricultores pedem indústrias relacionadas com a agricultura
e a pesca em vez de indústrias de mercadorias para enviar para
o Ocidente. Os governos devem prestar atenção áquilo que as
comunidades locais precisam.
IP: O egoísmo e a ganância tornaram-se assim armas mortíferas
capazes de destruir inclusive sociedades ancestrais?
SK: Quando eu trabalhava como consultora no mundo
empresarial, ajudando as empresas a otimizar as suas cadeias de
valor, focávamo-nos sempre naquilo que o consumidor queria
e não nos preocupávamos com as limitações físicas dos recursos
utilizados para fazer o produto. Estávamos treinados para produzir
cada vez mais para otimizar os lucros. Este é um ponto fulcral
em que o ambiente e as limitações dos recursos naturais não são
parte da equação. Isso deu origem a um novo nível de competição
18 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
por recursos no qual as empresas tentam aliciar as pessoas a
comprarem cada vez mais para aumentar os seus lucros. Para além
disso, enquanto sociedade, convencemo-nos a nós próprios de que
os bens materiais são o caminho para a felicidade. Tornamo-nos
gananciosos, num esforço para acumularmos cada vez mais. Foi
isto que tentei retratar no filme, tentando interligar o sítio onde os
bens são produzidos para o consumidor e como isso afeta o meio
ambiente as comunidades tradicionais.
IP: O que é que a fez contar a história de Walls and the Tiger?
SK: Eu ouvi muitas vezes os meus colegas dizerem que a tecnologia
pode ajudar os países com necessidades de desenvolvimento e
que toda a gente devia valorizar o seu modo de vida, tais como
ter um carro, um computador, um telemóvel. Ao mesmo tempo,
sempre que falava da falta de consciência social e ambiental no
mundo empresarial, eles desconsideravam o efeito que tem sobre a
população que eles acham que tem necessidades de se desenvolver.
Também sei que as empresas e governos se estão a aproveitar
dessa falta de consciência. Ao assistir a uma reunião da Trade
Alliance, testemunhei o convite feito por funcionários do Governo
indiano a empresas americanas para desenvolverem instalações
no meu estado natal, oferecendo incentivos, inclusive terras a
praticamente custo zero em zonas protegidas. Fiquei curiosa para
saber como é que o Governo foi capaz de adquirir tantas terras
de agricultores, sabendo o significado profundamente enraizado
entre a terra e as pessoas naquela região. Viajei, então, por toda
a Índia para descobrir mais. Descobri que esta não é a história só
de alguns, todos estamos envolvidos. Não podia ficar sentada a
assistir a tudo isto. Regressei todos os anos desde a primeira visita.
Deixei o meu emprego e comecei a fazer este filme.
CD: Kartikey Shiva
CAPA
IP: Que impacto teve o documentário?
SK: Durante as nossas apresentações na Europa e nos Estados
Unidos as pessoas ficaram de facto comovidas com o que viram.
Muitas pessoas têm respondido dizendo que foram inspirados a agir
sobre as questões apresentadas no filme e a fazerem mudanças nas
suas vidas pessoais, seja tornando-se cada vez mais conscientes ou
reduzindo o seu próprio consumo. As pessoas puderam relacionar
os agricultores com aquilo que tem vindo a acontecer nas suas
próprias comunidades. Isso foi muito gratificante de ver. Depois, a
triste realidade é que algumas pessoas assumem automaticamente
que o filme prega contra o desenvolvimento em todas as sus
vertentes. Alguns indianos têm-me acusado de desrespeitar o
bem maior, como eles dizem, que alguém tem de pagar o preço
do sucesso da nação. Claro que, eu poderia argumentar que eles
são os beneficiários deste sistema, pelos quais as comunidades
tradicionais e rurais quase sempre carregam o fardo. De volta aos
Estados Unidos, as pessoas acham que o filme faz sobressair que o
seu excesso de consumo descontrolado é parte do problema. Por
isso costumam ficar à defesa ou passar a culpa para um problema
sistemático maior que os deixa de fora da equação. Algumas vezes
senti que a atitude era, "não nos digas onde gastar o meu dinheiro".
IP: O que é que acha que nos leva a crer que estamos
“fora da equação” e que não existem razões para sermos
responsabilizados?
SK: Usamos a tecnologia para nos afastarmos das sociedades
tradicionais e nos modernizarmos para libertarmos o nosso tempo
de tarefas diárias e termos mais conforto. Para preenchermos o
tempo livre que temos, acumulamos mais gadgets e mais tecnologia
ao ponto de estarmos todos a trabalhar demais e não termos tempo
de nos mantermos bem com tanta informação que recebemos.
Nesta vontade de nos afastarmos das comunidades tradicionais
com estruturas sociais rígidas em direção ao individualismo e à
liberdade nós criámos os nossos próprios mundos pequenos onde
somos completamente absorvidos e não temos tempo nenhum
para pensar nos nossos vizinhos e nas nossas comunidades, muito
menos naquilo que está agora a acontecer nalgum sítio longe do
sítio onde nos encontramos.
IP: O que é que os governos devem começar a fazer para dar
início a um caminho verdadeiramente sustentável?
SK: Antes de se pensar em sustentabilidade, é preciso
reconhecermos que os recursos do planeta são finitos, por isso,
não podemos consumir o que quisermos. Segundo, o processo
de tornarmos as nossas vidas confortáveis tem custos sociais e
ambientais. Vemos isso no filme quando os moradores das aldeias
perguntam como é que as suas vidas podem ser melhores quando
o ambiente está poluído e as suas quintas que os sustentaram
durante gerações foram agora substituídas por fábricas. Outra
coisa que tentámos mostrar é como muitas vezes há uma lacuna
de perceção entre o que o governo quer e o que as pessoas querem.
Aquilo que todos os governos querem fazer é correr atrás de
maior crescimento económico. Não existem pessoas a sofrer por
não verem satisfeitas as suas necessidades básicas nos países com
maior crescimento económico? Ou se o benefício geral é aquilo
que os governos andam à procura e dizem "alguém tem de pagar o
preço", terão eles enquanto legisladores desistido dos seus estilos
de vida por um bem maior?
IP: Quais são as grandes armas para lutarmos pela mudança?
SK: O conhecimento e a consciência são os principais fatores que
nos podem ajudar a fazer escolhas conscientes sobre o nosso
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 19
CD: Kartikey Shiva
CAPA
futuro. Na Índia, nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar,
temos de nos esforçar para conhecer como é que as escolhas
que fazemos afetam a vida de outros. Com a população mundial
a crescer, os recursos naturais a empobrecer e as alterações
climáticas a acontecer, não nos podemos mais sentar à espera que
outros resolvam os problemas. Esta não é uma história sobre o que
está a acontecer numa aldeia rural na Índia, é antes uma história
sobre o que é que as pessoas podem fazer quando são confrontadas
com obstáculos maiores que as próprias vidas. É uma história
sobre como as pessoas podem fazer a mudança contra todas as
probabilidades. É uma história sobre pessoas que se unem para
fazer a diferença, para fazer com que a verdadeira democracia
funcione. Nós queremos ser parte da mudança que já começou e
que se baseia numa consciência crescente.
“O conhecimento e
a consciência são os
principais fatores que
nos podem ajudar a fazer
escolhas conscientes sobre
o nosso futuro”
20 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
IP: O que podemos nós fazer enquanto cidadãos comuns para
inverter esta situação?
SK: Podemos comprar alimentos cultivados localmente tanto
quanto possível ou apoiar a agricultura comunitária. Antes de
gastarmos apenas porque podemos, podemos pensar duas vezes
se de facto precisamos de determinado produto, como um novo
par de sapatos ou a nossa quinquagésima camisola. Devemos
questionarmo-nos sobre como são feitos os produtos e se as
empresas a quem compramos têm preocupações em reduzir o seu
impacto ambiental. IP
SUSHMA KALAM
A realizadora de Walls and the Tiger Sushma Kallam é descendente
de uma longa linhagem de agricultores de aldeias na Índia e
durante a sua infância viveu na pacífica aldeia natal dos seus avós,
e desde então volta lá frequentemente. Depois de se ter formado
em engenharia na Índia, Sushma Kallam foi para os Estados
Unidos em 2001 trabalhar como consultora de Tecnologias de
Informação independente, especializada em gestão de cadeias de
distribuição. Foi nesse mundo que aprendeu tudo sobre a s formas
como o desenvolvimento económico neoliberal - a globalização
- foi perturbando a vida rural tradicional na Índia. O produtor e
realizador associado do filme, Liam O'Connor é conselheiro para
a juventude no estado de Washington, músico e artista.
CAPA
“Precisamos de nos
concentrar na vida”
Vandana Shiva, uma das maiores referências internacionais na defesa de um mundo são, falou em exclusivo
com o Impulso Positivo sobre os riscos que corremos, as calamidades que provocamos e cometemos, as
soluções que temos nas mãos e como ainda vamos a tempo de mudar. Por um mundo melhor. Para todos.
Vandana Shiva
Impulso Positivo (IP): Quais são os grandes desafios globais
atuais?
Vandana Shiva (VS): A crise Ecológica da erosão da Biodiversidade,
o esgotamento da água, a desertificação, as alterações climáticas,
a crise económica de um modelo que beneficia um por cento
da população, e as consequências sociais do desemprego, das
agitações e conflitos civis e das migrações forçadas.
IP: Quais são os principais ultrajes cometidos pelos líderes
mundiais nesta área?
VS: Continuarem a fomentar e a proclamar a doença do
neoliberalismo como a cura e militarizarem a sociedade.
22 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
IP: O que é urgente parar?
VS: A nossa sobrevivência comum exige que façamos uma
transição de ciclos viciosos de violência para ciclos virtuosos de
não-violência, de economias negativas de morte e destruição
para economias de vida que sustentem a vida na terra e as
nossas vidas, de políticas negativas e culturas que estão a levar à
aniquilação mútua para as democracias que incluem preocupação
com toda a vida e a participação da mesma.
IP: As questões ambientais e a ganância or recursos naturais
estão por trás de algumas das maiores calamidades mundiais.
Pode falar um pouco sobre isso?
VS: Este é um dos temas abordados no Manifesto Terra Viva,
CAPA
publicado este ano pela Navdanya Foundation. A guerra na Síria e
o terrorismo do Boko Haram foram gerados, entre outras coisas,
pelas alterações climáticas. O modelo agrícola industrial atual
tem sido um verdadeiro fracasso. Completamente interligado
a isso está o modelo económico dominante, que se baseia na
extração e nunca na reintegração, em sistemas económicos
que são destruidores de vida e que causa a extinção de espécies
animais e vegetais, o que eventualmente levará ao colapso do
ecossistema. Este modelo é para o benefício de poucos e é a
causa de injustiça económica, de uma instabilidade perigosa, da
pobreza desesperante, fome e desemprego. Pela primeira vez na
história da humanidade, o futuro da espécie humana já não é
mais certo: as catástrofes climáticas, conflitos e guerras estão a
empurrar-nos para a beira de um colapso ecológico, económico
e social.
IP: Podemos inverter esta situação?
VS: Podemos escolher outro caminho. Um caminho baseado
em cidadania global e na partilha de recursos, um caminho que
aponta para uma economia circular com base na regeneração
de recursos. A agricultura desempenha um papel fundamental
dentro desta nova visão. A nova agricultura restaura a fertilidade
da terra através de práticas agrícolas orgânicas regenerativas.
Isso irá assegurar que os agricultores recebem uma remuneração
justa, permitindo-lhes, assim, permanecer nas suas terras,
enquanto continuam a fornecer alimentos para as cidades e
comunidades. Este novo caminho troca um processo linear de
exploração da terra e dos recursos naturais por um processo
circular com base a reintegração e regeneração, o que por sua
vez vem garantir resiliência, sustentabilidade, justiça e paz.
Esta nova agricultura é parte de um processo que visa redefinir
os próprios conceitos de democracia e liberdade. Este processo
é capaz de gerar tanto uma nova economia como uma nova
democracia, a que chamo Democracia da Terra.
IP: O que é a Democracia da Terra?
VS: Em ecologia integral, a sustentabilidade e a justiça social
são inseparáveis. Tal como refere a recente Encíclica do Papa
Francisco, Laudate Sí, "uma verdadeira abordagem ecológica
torna-se numa abordagem social: ela deve integrar questões
de justiça em debates sobre o ambiente, de maneira curar tanto
o choro da Terra como o choro dos pobres". Isto para mim é a
Democracia da Terra.
IP: Que responsabilidades temos enquanto cidadãos comuns?
VS: O nosso primeiro dever é recuperar os nossos direitos.
Podemos começar com a comida e com a água. Precisamos de
deixar de ser consumidores para sermos Cidadãos da Terra e
praticar a Democracia da Terra.
IP: A que de deve esta falta de consciência global da situação
da Terra?
VS: Deve-se a uma visão do mundo que fragmenta os nossos
pensamentos, que nos separa da natureza e uns dos outros e
ainda uma indústria de media que gera ficções e distrações.
IP: O que é que os governos podem começar por fazer para
darem início a um verdadeiro trajeto sustentável?
VS: Os Governos podem começar por seguir o exemplo do Butão
adotando o indicador de "Felicidade Interna Bruta" em vez
do "Produto Interno Bruto" (PIB). Também podem começar a
consultar mais os seus povos, como a Grécia.
IP: E nós, enquanto cidadãos comuns, o que podemos
começar a fazer?
VS: De forma consciente tornarmo-nos Cidadãos da Terra,
tomando conta da Terra e uns dos outros. Comece um jardim.
Transforme os resíduos alimentares e toda a matéria orgânica
em composto, capaz de contribuir para a fertilidade do solo,
cultive uma horta e contribua para a agricultura urbana em área
inutilizadas da cidade. Selecione e recicle resíduos para ajudar
a reduzir os gases de efeito de estufa. Em zonas rurais, façam a
recolha de biomassa para evitar a queima de galhos produzidos
pela poda uma vez que esta prática, para além de produzir CO2 e
contribuir para o efeito de estufa é um desperdício de material,
uma vez que a biomassa pode ser utilizada como adubo, pellets,
celulose para produção de papel, entre outras coisas. Aposte em
práticas agrícolas que evitem o contínuo cultivo da terra como a
permacultura ou a agricultura sinérgica.
IP: Existe muita informação sobre estas matérias mas ao
mesmo tempo uma grande inércia generalizada para agir
corretamente. Porquê?
VS: Estamos muito focados no medo e na negatividade.
Precisamos de nos concentrar na vida, celebrar a vida,
envolvermo-nos numa ação criativa e construtiva, não importa
quão pequena seja.
IP: O que é que o público em geral não entende e é urgente
compreender sobre o impacto devastador do estilo de vida
que temos hoje?
VS: Que tudo está interligado. Quando nós comemos comida
industrial, estamos a contribuir para a destruição da água e do
solo, contribuímos para as alterações climáticas, empurramos
pequenos agricultores para o suicídio, e destruímos a nossa
própria saúde.
IP: Qual será o nosso futuro a curto e médio prazo?
VS: Se continuarmos no caminho dominante, a humanidade não
tem futuro. Se mudarmos e adotarmos a Democracia da Terra,
longe da ganância e do consumismo, longe da dominação pelo
que é economicamente poderoso, tanto a terra como as pessoas
vão florescer., IP
Em ecologia integral, a
sustentabilidade e a justiça
social são inseparáveis.”
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 23
NO CENTRO
PÔR FIM AO DESPERDÍCIO ALIMENTAR
As consequências do desperdício alimentar são devastadoras não só para a própria terra como para a vida
de agricultores do mundo inteiro. O Impulso Positivo falou em exclusivo com Edd Colbert, Coordenador
de Campanha e de Investigação da Feedback, uma das organizações sem fins lucrativos mundiais que
mais tem chamado a atenção para esta calamidade.
Tristram Stuart, Fundador da Feedback
Impulso Positivo (IP): Qual foi a origem da organização
Feedback?
Edd Colbert (EC): A Feedback foi fundada por Tristram Stuart,
autor da obra "Waste: uncovering the global food scandal"
e ativista global contra o desperdício alimentar. Tristram
começou a fazer campanhas quando era ainda uma criança e
criou os seus próprios porcos com desperdícios alimentares de
cozinhas de lojas locais. Muito rapidamente percebeu que estes
alimentos estavam em perfeitas condições para serem comidos
e começou a devorá-los como protesto. Essas ações iniciais
deram origem a campanhas posteriores incluindo aquele que
é o nosso evento principal, "Feeding the 5.000", onde servimos
refeições a milhares de pessoas, utilizando comida que teria ido
para o lixo em grandes eventos públicos, e a campanha "The Pig
Idea”, uma campanha para obter mais desperdícios alimentares
para alimentar gado e assim compensar o impacto ambiental da
produção de carne.
24 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
IP: O que urgente alertar a população em geral sobre a produção
alimentar?
EC: O desperdício alimentar é um sintoma de problemas mais
amplos do nosso sistema alimentar global. No centro destes
problemas encontra-se a continuação da tendência para a
superprodução e o consumo excessivo o que leva a problemas
de saúde relacionados com a alimentação e vastas escalas de
resíduos. O desperdício faz destacar desigualdades no sistema
tais como o facto de os agricultores não estarem a ser pagos pelos
alimentos que são rejeitados pelos supermercados, e isso é uma
ferramenta importante para compreender outros assuntos que
envolvem a produção alimentar.
IP: Atualmente, quais são os principais impactos ambientais da
produção alimentar?
EC: Um terço da oferta mundial de alimentos poderia ser salva
pela redução do desperdício - isso é suficiente para alimentar 3
NO CENTRO
mil milhões de pessoas. Além disso, a FAO estima que todos os
anos, a produção de alimentos que é desperdiçada gera 3,3 mil
milhões de toneladas de gases com efeitos de estufa e uso até 28%
da área agrícola mundial. Para colmatar, os agricultores estão
a ser forçados a sair do negócio como resultado dos exigentes
critérios dos supermercados para produzirem apenas aquilo
que encaixa nas rigorosas especificações cosméticas como o
tamanho, a cor e a forma e por causa das práticas comerciais
injustas, tais como o cancelamento de encomendas à última
hora, sem contrapartidas. Os agricultores apenas são pagos por
aquilo que os supermercados vendem, por isso quando alimentos
bons são rejeitados, não há só desperdício, como também os
agricultores não são pagos. Em lugares como o Quénia, isso leva
os agricultores a serem forçados a entrarem em ciclos de dívida
apenas para pagarem aos seus trabalhadores, alimentarem a sua
família e enviarem os filhos para a escola.
IP: O que é que podemos fazer para mudar esta realidade?
EC: Neste momento a União Europeia está a consultar os EstadosMembro sobre como acabar com as práticas comerciais injustas.
Já reconheceu que este problema resulta em excesso de produção
e de desperdício de alimentos mas nós queremos garantir que põe
em prática legislação forte para assegurar que os supermercados
param de despejar comida sobre os agricultores. Qualquer pessoa ao
acrescentar o seu nome à nossa petição que se encontra disponível
online está a ajudar a garantir que os políticos sabem que isto é algo
que precisa de ser tratado. Vamos levar a petição ao Parlamento
Europeu, fazer muito barulho, e exigir que as leis sejam postas em
práticas para que se acabe com o desperdício alimentar.
IP: Começamos a ouvir falar cada vez mais do combate ao
desperdício alimentar.
EC: A consciencialização sobre o desperdício alimentar está
a atravessar um momento alto e o movimento global contra o
desperdício alimentar tem feito um caminho extraordinário para
fazer desta questão um assunto doméstico. Contudo, a atenção
maior recai sobre o desperdício do consumidor e do retalhista.
É preciso ir mais longe desses níveis e olhar para o desperdício
de alimentos nas explorações agrícolas e na parte inferior das
cadeias de abastecimento. Os supermercados não querem que se
saiba como estes tratam os seus fornecedores, mas uma pesquisa
recente realizada pelo governo do Reino Unido descobriu
que os fornecedores dos principais supermercados do Reino
Unido enfrentam rotineiramente práticas comerciais desleais.
Precisamos espalhar a palavra sobre este problema para que
possamos realmente pôr fim ao desperdício alimentar.
IP: Que medidas, no sentido de combater o desperdício
alimentar, foram tomadas por governos e outras entidades que
valham a pena replicar e apoiar?
EC: As Nações Unidas estão a acordar um Objetivo de
Desenvolvimento Sustentável para reduzir para metade o
desperdício alimentar até 2030. O Programa Ambiental das
Nações Unidas está a reunir líderes empresariais para alcançar
essa meta ainda mais cedo. França acaba de aprovar uma lei que
obriga os supermercados a ter um contrato com instituições
de caridade, que, apesar de não os forçar a doar alimentos não
vendidos é certamente uma vitória simbólica e um sinal de que
esse movimento global começa de facto a travar o desperdício
alimentar.
IP: O que é que levou à criação da campanha Stop Dumping?
EC: A Feedback tem vindo a investigar as cadeias de valor dos
supermercados durante anos em países tão diversos como
o Reino Unido, Quénia ou Guatemala. Temos descoberto as
práticas comerciais desleais levadas a cabo pelos supermercados
que destroem os meios de subsistência dos pequenos agricultores
e fazem com que toneladas de alimentos bons acabem no lixo.
Esta campanha passa por contar as histórias desses agricultores
e asseguram que os supermercados passam a assumir a
responsabilidade pelo desperdício alimentar nas suas cadeias
de valor.
IP: Quais são os objetivos que a Feedback pretende alcançar
com esta campanha, e quando?
EC: Queremos que um milhão de pessoas assine a petição para
que os supermercados parem de descarregar o desperdício
alimentar nos agricultores. Depois iremos entregar isso aos
deputados para que trabalhem a consulta de práticas comerciais
desleais e vamos fazer muito barulho nos parlamentos
europeus para assegurar que este assunto não fica esquecido. A
consulta deve terminar muito em breve e no início do próximo
ano deverá ser publicado um relatório. Queremos ter a certeza
que este relatório inclui recomendações para uma legislação
eficaz contra práticas comerciais desleais para garantir justiça
aos agricultores do mundo inteiro e que seja o fim de alimentos
bons desperdiçados. IP
“Um terço da oferta mundial
de alimentos poderia
ser salva pela redução
do desperdício - isso é
suficiente para alimentar 3
mil milhões de pessoas.”
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 25
© The Story of Stuff
NO CENTRO
PERCEBER E FALAR DA “HISTÓRIA DAS COISAS”
Em dezembro de 2007, Annie Leonard e os seus amigos da Free Range Studios, uma empresa de
marketing e publicidade nos Estados Unidos, publicaram na internet um filme de 20 minutos sobre
a forma como se fazem, utilizam e se deitam fora coisas, tendo desencadeado uma onda de debate
sobre aquilo que antes era um tema reprimido e passava assim a ser uma conversa honesta sobre
os impactos da louca cultura consumista atual, nas pessoas e no planeta. Nos seis anos que se
seguiram desde que "The Story of Stuff" (“A História das Coisas”) foi lançada, os "desenhos animados
sobre lixo" de Annie foram vistos mais de 40 milhões de vezes no mundo inteiro.
Annie respondeu ao apelo dos espetadores que queriam mais
informações e ajuda para se envolverem com a causa, e em
2008 fundou o The Story of Stuff Project. Desde então, em
conjunto com a sua equipa já lançou um best-seller, cocriou um
programa para o ensino secundário chamado Buy, Use, Toss?
(Comprar, Usar, Deitar fora?), desenvolveu um programa de
estudo para comunidades de fé e lançou uma série de podcasts
chamada The Good Stuff que narra os esforços quotidianos de
pessoas transformadoras.
E claro, o The Story of Stuff Project criou também várias séries
de novos filmes online. Na primeira série - The Story of Bottled
Water, The Story of Cosmetics and The Story of Electronics (A
História da Água engarrafada, A História dos Cosméticos e a
História da Eletrónica) - foram usados produtos de consumo de
todos os dias para lançar um olhar mais profundo sobre de onde
vêm as coisas e para onde vão quando as deitamos fora. Mas
os seguidores de The Story of Stuff pediram mais e foi criada
uma segunda série desta vez intitulada The Story of Citizens
United, The Story of Broke and The Story of Change (A História
dos Cidadãos Unidos, A História de Quebrar e A História da
26 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
Mudança). Desta vez a mensagem passava por examinar as
raízes subjacentes aos nossos padrões de produção e de consumo
insustentáveis: o que é que marca o sistema, quem paga, quem
ganha e como podemos dar a volta a isso.
THE STORY OF STUFF, HOJE
"Depois de termos ajudado milhões de pessoas do mundo
inteiro a perceber e a falar da "História das Coisas"
começámos à procura de caminhos para desenvolver soluções
com cerca de 500.000 membros da nossa Comunidade", contou
o The Story of Stuff Project em exclusivo ao Impulso Positivo.
"Em 2014 lançámos campanhas geradas e alimentadas
pela Comunidade para a redução da poluição de plástico,
para fazer crescer a economia de partilha e acabar com a
corrupção política". Ainda no final de 2014, o The Story of Stuff
Project começou a oferecer aos membros da comunidade "um
inovador Bootcamp online que tem como objetivo ajudar os
participantes a fortalecer e a agilizar os seus músculos da
cidadania", acrescentou a organização.
NO CENTRO
O MICRO FILME DO MOMENTO
Depois de mais de um ano, no dia 6 de maio foi lançado um
novo vídeo, uma animação "explicativa" de dois minutos que
conta a história das microesferas.
"O novo vídeo foi lançado para apoiar os esforços crescentes
nos Estados Unidos, Canadá e Europa e noutros lugares para
proibir as microesferas de plástico, um ingrediente cada vez
mais comum em produtos de cuidados de higiene que escapa
à maioria das estações de tratamento de água e polui o meio
ambiente", explica o The Story of Stuff Project.
"As microesferas podem ser encontradas em tudo desde o
esfoliante facial e sabão à pasta de dentes e maquilhagem,
e aparecem nos rótulos de ingredientes sob os seus nomes
técnicos, como polietileno, polipropileno, tereftalato
de polietileno ou polimetilmetacrilato". A organização
acrescenta ainda que "os cientistas estimam que mais de 500
mil milhões de microesferas de plástico entram na Baía de
São Francisco todos os dias”.
Narrado pela fundadora do The Story of Stuff Project e atual
Diretora Executiva do Greenpeace USA, o vídeo usa o estilo de
marca animado The Story of Stuff para destacar o problema
fundamental das microesferas: elas estão "desenhadas para ir
pelo ralo abaixo".
“Os "desenhos animados sobre
lixo" de Annie foram vistos
mais de 40 milhões de vezes no
mundo inteiro”
O "THE STORY OF STUFF PROJECT" SUGERE...
- Comece por preencher o Changemaker Quiz disponível online
- Considere a possibilidade de se inscrever no Citizen
Muscle Bootcamp
- Organize uma triagem dos filmes The Story of Stuff.
Pode ainda manter-se atualizado seguindo o "The Story of Stuff
Project" nas redes sociais.
O QUE PODE SER FEITO E PORQUÊ
Annie Leonnard explica na série Story of Change, que "é muito
importante vivermos fora das nossas convicções".
"As ações de consumo individuais são uma forma
importante de encarnar a mudança que cada um quer
ver", comenta a organização ao Impulso Positivo. Por outro
lado, "Acreditamos que nenhuma mãe deve ter de gastar
45 minutos no corredor dos champôs do supermercado a
tentar determinar que champô de bebé é provavelmente
menos cancerígeno", acrescenta. O The Story of Stuff Project
está a trabalhar para que as lojas "simplesmente não possam
vender esses produtos tóxicos”.
Para que tudo isto se torne realidade, é preciso fazer com que os
cidadãos - não os consumidores - escrevam uma nova história
da mudança. The Story of Stuff Project propõe "evitar a compra
de coisas más, em primeiro lugar, mas também trabalharmos
os músculos da cidadania e fazer pressão sobre as empresas
para que façam o que está correto”. Mais, é preciso “defender
políticas sólidas nos corredores dos governos e nas salas de
reunião das empresas”. IP
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 27
EXPERIÊNCIAS
SMART WASTE PORTUGAL
Atuar por uma
economia circular
O setor da gestão de resíduos em Portugal tem sido,
até hoje, muito desvalorizado, apesar de desempenhar
um papel fundamental na sustentabilidade da
economia nacional, assegurando um correto
encaminhamento e valorização do lixo produzido.
Foi com o intuito de potenciar o verdadeiro valor deste setor,
reunindo esforços e conhecimentos de várias áreas e “pontos” da
cadeia de valor, que este ano nasceu o cluster Smart Waste Portugal
- SWP, cujo Plano Estratégico foi divulgado em julho.
“O SWP nasce da constatação de que a aplicação em Portugal do
postulado de que um “resíduo é um recurso”, não pode ser tarefa
de um Governo, de uma Entidade ou de um Cidadão”, afirma
Aires Pereira, membro da Direção do SWP, em exclusivo ao Impulso
Positivo. “Só uma “pool” de entidades de diferentes setores,
mas representativa da cadeia de valor dos resíduos, poderá
concretizar com êxito a geração de valor, de riqueza, de criação
de Empresas e Emprego, que o SWP pretende atingir”, acrescenta.
Com uma missão de inovar, investigar e desenvolver o setor, o Smart
Waste – Cluster de Resíduos de Portugal quer tornar a gestão nacional
de resíduos num exemplo de sucesso, afirmando a relevância da
gestão de resíduos para o desenvolvimento da economia circular.
O plano de ação do SWP passa antes de mais por “fazer o apelo
às Organizações nacionais, públicas e privadas, para que se
unam num “cluster”, o SWP, que visa essencialmente promover
negócio”, explica Aires Pereira. Entre as principais missões
assumidas pelo Smart Waste Portugal encontram-se a divulgação
de boas-práticas, promoção da investigação e desenvolvimento no
setor, potencialização do emprego e empreendedorismo e o reforço
do sector junto dos decisores nacionais e europeus.
Contudo, antes de mais é fundamental estudar e conhecer a realidade
e neste sentido está a ser feito “um aprofundado Estudo, realizado
pelo Gabinete do Professor Augusto Mateus sobre a Relevância
e o Impacto do Setor dos Resíduos em Portugal e na perspetiva
28 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
de uma Economia Circular, que nos oriente posteriormente em
Investimentos, em negócios, em oportunidades”, sublinha.
Lançado oficialmente em Fevereiro deste ano, o cluster que conta
já com 40 associados e pretende chegar aos 100 até ao final do
ano, é uma iniciativa da Lipor, a entidade responsável pela gestão
de resíduos do Grande Porto, a que se juntam diversos membros
fundadores como a Agência Portuguesa do Ambiente, a Sociedade
Ponto Verde ou a AEPSA – Associação das Empresas Portuguesas
para o Sector do Ambiente.
O Smart Waste Portugal quer ser o grande impulsionador de
uma missão conjunta para que venha a prevalecer uma visão
de negócio mais sustentável. Em conjunto, os seus associados
complementam o conceito de economia verde na medida em
que promovem uma economia circular, de baixo carbono e com
produção minimizada de resíduos, com consequências benéficas
no ambiente e na saúde humana. Para isso, Aires Pereira afirma
ser “fundamental criarmos sinergias, ganharmos dimensão e
conseguirmos, através do associativismo, abarcar os novos
desafios da economia”. Se a economia circular é o futuro, o SWP
não podia ser mais bem-vindo. IP
“…tornar a gestão nacional
de resíduos num exemplo de
sucesso, afirmando a
relevância da gestão de resíduos
para o desenvolvimento da
economia circular.”
EXPERIÊNCIAS
TERRAS DENTRO
Do coração do Alentejo
para o Mundo
As Associações são atores cada vez mais relevantes no
desenvolvimento e na restruturação dos territórios locais
e a Terras Dentro é exemplo disso mesmo.
Apesar de não estar circunscrita a qualquer âmbito geográfico de
atuação, a Associação Terras Dentro está particularmente vocacionada
para o trabalho em meio rural tendo uma intervenção descentralizada,
a partir do coração do Alentejo, abrangendo um território que inclui
os concelhos de Viana do Alentejo, Alvito, Cuba, Portel, Vidigueira e
Montemor-o-Novo. Contudo, a sua visão humanitária e universalista
do desenvolvimento, fez com que esta Associação tivesse ido terras
dentro pelo mundo fora, desenvolvendo projetos em cooperação com
outros territórios destacando-se os projetos com o Brasil, Cabo Verde,
S. Tomé e Príncipe, França, Espanha e Bulgária.
O intenso trabalho desenvolvido pela Terras Dentro até ao momento
reflete-se também num conjunto considerável de boas práticas
e produtos que têm contribuído direta ou indiretamente para os
processos de desenvolvimento da região.
INCLUSÃO, PROMOÇÃO E PROTEÇÃO DA REGIÃO DO ALENTEJO
Os produtos Terras Dentro vão desde as mais de 15 publicações,
passando por uma Maleta Ambiental, um Kit Pedagógico para
a Intercultura para crianças e jovens, sem esquecer os Jogos
Tradicionais, assim como o Kit para a promoção da Igualdade de
Género – Azul no Rosa.
No que diz respeito aos projetos da Terras Dentro, a associação é
desde o início entidade gestora de um grupo de ação local no âmbito
da abordagem Leader e, mais recentemente de uma estratégia de
desenvolvimento local enquadrada do DLBC – Desenvolvimento
Local de Base Comunitária.
Para além da intervenção subjacente às iniciativas Leader e DLBC, a
Terras Dentro desde cedo que diversificou a sua atuação assente numa
abordagem integrada de áreas de intervenção como a educação e
formação, intervenção social, empreendedorismo, desenvolvimento
rural, valorização e preservação ambiental e cooperação para o
desenvolvimento. É neste contexto que se têm desenvolvido projetos e
ações de apoio à criação de empresas, de estímulo ao empreendedorismo,
de luta contra a pobreza, de igualdade de oportunidades, de igualdade
de género, de promoção cultural e patrimonial, de valorização dos
produtos endógenos, de valorização ambiental, de investigação, de
capacitação e qualificação de recursos humanos, entre muitos outros.
A inclusão de jovens, através de atividades que promovem o
associativismo, a orientação vocacional, o desenvolvimento de
competências e o espírito empreendedor é o objetivo do projeto
promovido pela Associação no concelho de Montemor-o-Novo,
o Projeto Monte Dentro. É também neste concelho que está a ser
desenvolvido um projeto cofinanciado pelo Alto Comissariado
para as Migrações, para a integração de comunidades ciganas, com
vista à promoção da interculturalidade e prevenção de eventuais
comportamentos de descriminação.
De âmbito mais regional, e numa vertente de divulgação dos produtos
locais, está em curso o Projeto Centro de Inovação, Promoção e
Projeto Centro de Inovação, Promoção e Divulgação do Pão e Doçaria Alentejana
Divulgação do Pão e Doçaria Alentejana/INAlentejo que, como explica
Elsa Branco, Presidente da Terras Dentro, “pretende sobretudo dar
a conhecer e valorizar dois produtos de extrema relevância na
economia da região Alentejo”. O Projeto “Alentejo for All” com
grande impacto na região e hoje promovido pela Entidade Regional de
Turismo do Alentejo, conta também com o apoio e assessoria técnica da
Associação. Elsa Branco conta que este “nasceu na sequência de um
projeto da associação para a igualdade de oportunidades, o Projeto
Rotas Sem Barreiras e, cujo objetivo é tornar acessível a todos, o
turismo na região Alentejo”.
Importante ainda destacar o Projeto Cidadania & Território Desenvolvimento Local Sustentado que está estruturado numa parceria
entre as associações RUMO, do Barreiro, Rota do Guadiana, de Serpa,
a Terras Dentro de Alcáçovas e a ACERT de Tondela. Enquadra-se no
Programa Cidadania Ativa, cofinanciado pelo EEA Grants e gerido
pela Fundação Calouste Gulbenkian, e tem como objetivos “criar,
implementar e animar uma plataforma interinstitucional de
discussão e reflexão do desenvolvimento territorial sustentável,
promover a abordagem económica, social, cultural e ambiental
integrada e animar ciclos de debates e reflexão que contribuam para
o diálogo e cooperação entre ONGs, setor lucrativo e autoridades
públicas, no quadro dos processos de execução de políticas públicas”.
A TERRAS DENTRO EM PROL DO DESENVOLVIMENTO
Uma associação como a Terras Dentro tem um papel fundamental na
dinamização e no desenvolvimento de uma região como o Alentejo,
trabalhando dia-a-dia, direta e indiretamente pela melhoria da
qualidade de vida dos seus habitantes assim como pela valorização
do território.“Contribuir para a qualificação de recursos humanos
na região, incrementar o tecido empresarial, tornar a região
mais competitiva, promover a integração social e no mercado de
trabalho, promover os territórios rurais nas vertentes patrimonial,
cultural e dos produtos locais estimulando a sua atratividade para a
fixação e captação de residentes e visitantes e ter um papel ativo na
definição de políticas” são só algumas das metas que a associação luta
por alcançar a cada dia que passa, como afirma Elsa Branco.
No Futuro, a Terras Dentro quer continuar “a desenvolver o seu
trabalho em prol do desenvolvimento integrado das comunidades
rurais, embora com uma aposta ainda mais forte na inovação
ao nível dos projetos e suas metodologias de implementação”. A
Associação continuará a aprofundar a sua intervenção “sempre numa
perspetiva de trabalho de conjunto e em parceria com todos os atores
locais, condição fundamental para a prossecução dos seus objetivos”,
como afirma a sua presidente.
Contudo, Elsa Branco salienta que “é muito importante pensar
o desenvolvimento de uma forma integrada e cada vez
numa vertente mais global, pois só assim é possível afirmar
positivamente a região Alentejo”. IP
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 29
EXPERIÊNCIAS
NOOCITY
Em 2009, o brasileiro Pedro Monteiro e os portuenses
Samuel Rodrigues e José Ruivo conheceram-se no
interior do estado do Rio de Janeiro, durante um
curso de permacultura. Na Primavera de 2013, já
em Portugal, os três resolveram montar uma horta
no pátio do prédio onde trabalhavam, no centro
do Porto, mas não encontravam os equipamentos
adequados para isso. Decidiram, então, juntar esforços
e experiências em arquitetura e permacultura e
construir os seus próprios equipamentos. Não foi preciso muito tempo para perceberem que funcionava
e que poderiam ir mais além, como explica Leonor Babo da
Noocity: “Pouco tempo depois já partilhavam legumes e
ervas aromáticas que cresciam aos montes numa série de
caixas e sistemas. Os protótipos foram evoluindo e os três
perceberam que poderiam transformá-los em produtos, a ideia
amadureceu e em Setembro do mesmo ano nascia oficialmente
a Noocity Ecologia Urbana e o seu primeiro produto,
a Noocity Growbed um sistema de horta com sub-irrigação”.
A Noocity quer oferecer aos cidadãos urbanos a alternativa de
criarem os seus próprios sistemas sustentáveis, mais parecidos
com os processos cíclicos naturais, através de equipamentos
eficientes e acessíveis que permitem às pessoas produzir
alimentos na cidade de forma simples e ecológica. “O sistema de
produção e consumo de alimentos atual é insustentável por ser
um processo linear que, por um lado, consome e esgota recursos
e, por outro, produz e acumula resíduos. Numa conjuntura de
degradação ambiental e de cultura de junk food, cuidar de nós
mesmos e do meio ambiente permite caminhar em direção a
cidades e comunidades mais saudáveis e resilientes”.
OS PRODUTOS DO PRESENTE E DO FUTURO NOOCITY
Hoje, em paralelo com a afirmação da marca Noocity Ecologia Urbana,
o principal projeto é a comercialização e distribuição da Noocity
Growbed, uma cama de cultivo com sistema de sub-irrigação (auto
30 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
© www.noocity.com
Horta urbana portuguesa,
com certeza
rega), fácil de montar e de baixa manutenção, permitindo plantar
uma grande variedade de legumes, frutos e ervas em qualquer lugar
como uma varanda, um pátio ou uma cobertura.
Para além de criar e desenvolver equipamentos para agricultura
urbana, a Noocity acredita que a educação tem um papel
importante na desmistificação da sua prática, aproximando os
cidadãos urbanos à natureza. É por isso que dedica uma parte do
seu tempo a criar e partilhar material didático exclusivo sobre
vegetais e os princípios básicos de agricultura biológica bem como
outras práticas sustentáveis. Na Biblioteca da plataforma online
da Noocity (www.noocity.com), é possível encontrar uma série de
informação sobre várias plantas e como cultivar, tudo explicado de
uma forma simples, prática e com um design altamente apelativo.
O mesmo se pode dizer da secção Magazine onde, para além de
artigos e entrevistas sobre os temas mais variados relacionados
com a agricultura urbana é possível encontrar receitas e dicas
sobre como melhor aproveitar os produtos da horta.
Contudo a Noocity não quer ficar por aqui. “Queremos seguir
caminho no desenvolvimento de mais soluções eficientes para
os agricultores urbanos e, nessa perspetiva, pretendemos vir
a realizar um conjunto de equipamentos que feche um ciclo
de produção e reutilização de recursos e resíduos”, afirma
Leonor Babo. “Neste momento, temos na mira a viabilização de
um compostor que, incorporado na nossa Noocity Growbed,
permitirá ao cidadão urbano ter um sistema único com auto-rega
EXPERIÊNCIAS
e auto-fertilização”. Para além disso, um secador solar de escala
doméstica, um sistema de recolha das águas das chuvas e uma estufa
são alguns dos produtos que estão também em desenvolvimento o
que não só virá complementar o Noocity Growbed como sustentar a
criação de um ciclo de produção próprio.
O CRESCIMENTO DA NOOCITY
Quando tudo começou, os responsáveis pelo “nascimento” da Noocity
sentiam de facto uma necessidade de desenvolver o equipamento
imaginado e foi isso que fez com que se superasse a cada dia um processo
“longo e muito cuidado para criar uma solução e, mais tarde, um
produto que fosse realmente relevante e pertinente”. Hoje é ponto
assente que valeu a pena e os resultados alcançados até ao momento vão
“um pouco além das expetativas”, como confirma Leonor.
Os comentários e elogios feitos e o facto de se sentir que está a
“responder a uma necessidade real de citadinos por todo o
mundo” faz com que o sentimento partilhado por esta equipa seja
altamente inspirador. A confirmação da aposta acertada da Noocity
revelou-se uma vez mais recentemente através de uma campanha
de crowdfunding. “O maior desafio, superado, foi a recente
campanha de crowdfunding que realizamos na plataforma
Indiegogo através da qual fizemos chegar Noocity Growbeds aos
Estados Unidos, Singapura, Austrália, França, Itália, Inglaterra
“Acreditamos que praticar Agricultura
Urbana é assumir uma atividade
inspiradora, ecológica e produtiva.”
e muitos outros” conta Leonor Babo. Hoje a Noocity está assim
espalhada pelo mundo.
Depois de quase 300 clientes oriundos de 38 países diferentes, esta
equipa quer continuar a “oferecer soluções, eficientes, eficazes e
relevantes para quem quer viver a cidade de uma forma diferente,
mais consciente, sustentável e próxima à natureza”.
Para além de ser uma forma original de repensar os espaços
inutilizados e não produtivos como as coberturas, as varandas ou
os pátios, transformando-os em lugares de convívio e abundância,
trata-se de cultivar alimentos, pessoas e famílias mais saudáveis,
estabelecer sintonia com o ritmo da natureza e fortalecer laços
comunitários. “Acreditamos que praticar Agricultura Urbana é
assumir uma atividade inspiradora, ecológica e produtiva.”
A falta de espaço, de tempo ou de orientação prática já não são
desculpa. Tem tudo para fazer com que a sua varanda dê certo.. IP
“Para além de criar e desenvolver
equipamentos para agricultura
urbana, a Noocity acredita
que a educação tem um papel
importante na desmistificação
da sua prática, aproximando os
cidadãos urbanos à natureza.”
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 31
EXPERIÊNCIAS
IN LOCO
Perseverar para desenvolver
Portugal profundo
A In Loco, uma das organizações mais conceituadas
em Portugal no âmbito do desenvolvimento local,
nasceu em 1988, com o objetivo principal de
promover o desenvolvimento local do interior rural do
Algarve.
A ASSOCIAÇÃO E OS SEUS PROJETOS
Passados 27 anos, muitos projetos, parcerias e aprendizagens,
a organização atua essencialmente em quatro vertentes: o
desenvolvimento rural; o desenvolvimento social, principalmente
desde o ano 2000; a cooperação internacional, europeia e
extracomunitária, que tem estado presente desde a fundação da In Loco,
embora reforçada decisivamente a partir de 2005 com intervenções
em países de África e América Latina; e a diversificação das fontes de
financiamento, com o incremento decisivo da prestação de serviços,
com maior incidência a partir de 2007. Atualmente a In Loco tem
ativos cerca de quinze projetos nas áreas do desenvolvimento rural, do
desenvolvimento social, da promoção da participação e da cidadania e
da cooperação internacional. Alguns dos mais inovadores e com maior
impacto e que vão desde a disseminação de práticas de democracia
participativa, a intervenções no âmbito do desperdício alimentar,
passando por uma colaboração internacional para salvaguardar a Dieta
Mediterrânica como Património Cultural e Imaterial da Humanidade
(ver caixa). Nelson Dias, Presidente d aIn Loco orgulha-se do facto de a
“In Loco ter contribuído de forma decisiva para o desenvolvimento
do interior do Algarve, apoiando a criação de inúmeros projetos
que ajudaram a criar atividades económicas e riqueza, bem como
a contribuir para a fixação de pessoas no território”. Acrescenta
ainda que um dos méritos da organização “tem sido colocar esta
sub-região no mapa das preocupações de diversas entidades,
rentabilizando recursos e ampliando a capacidade de intervenção
sobre os problemas”. Para além disso, é de ressalvar o facto de a In Loco
ser “a entidade portuguesa que maior contributo tem dado para a
disseminação do tema e das práticas de democracia participativa ao
nível das autarquias portuguesas”. Uma das grandes preocupações da
associação ao longo do tempo foi apoiar “a conceção, implementação
e avaliação de diversas experiências de norte a sul do país”. A sua
experiência neste campo fez com que o seu papel fosse “publicamente
reconhecido” e esta frente de atuação “tem inclusive sido alargada a
outros países onde a In Loco tem sido convidada a intervir”, como
refere o Presidente.
CONTRIBUTOS PARA O DESENVOLVIMENTO NACIONAL
Com base no contributo de todos estes anos, o Presidente da In Loco
aponta como medidas fundamentais para que o desenvolvimento
sustentável se torne uma realidade, “uma verdadeira reforma do
Estado” com uma aproximação deste à Administração pública, a
“criação de políticas de participação dos cidadãos” e “um maior
equilíbrio entre o Estado, o Mercado e a Sociedade”.
A reforma do Estado “não deve ser apenas baseada no seu
redimensionamento mas mais orientada para a criação de
32 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
mecanismos de governação integrada, capazes de colocar o Estado
e a sua Administração Pública a olhar de forma conjunta para o
território nacional e para as especificidades regionais”, explica
Nelson Dias. “A rentabilização de recursos e a articulação de políticas
entre Ministérios é algo essencial para um novo conceito de Estado e
para a promoção de um desenvolvimento mais equilibrado do país,
contrariando, entre outras, a assimetria interior e litoral”, afirma.
Em relação à criação de políticas de participação ativa dos cidadãos,
o Presidente da In Loco defende que o “desenvolvimento mais
sustentável do país passa necessariamente pela melhoria e
aprofundamento dos mecanismos de envolvimento efetivo dos
cidadãos na conceção, gestão e avaliação das políticas públicas”.
No que diz respeito à relação entre o Estado, o Mercado e a Sociedade,
Nelson Dias defende que “o Estado não pode ser apenas regulador e
ficar com os riscos nas relações de negócio com o Mercado, o Mercado
deve assumir maior responsabilidade na promoção dos equilíbrios
sociais e ambientais ea Sociedade deve ser entendida como um
parceiro estratégico do Estado e do Mercado, deixando de assumir
apenas o papel de ator no qual se delegam as ações marginais que
aos outros dois pilares da regulação social pouco interessam”.
Organizações como a In Loco têm sido motor de desenvolvimento
principalmente nas regiões mais desprotegidas do interior do País.
O reconhecimento e a vontade de ver o trabalho realizado replicado,
tanto em regiões do país como noutras comunidades internacionais, só
prova que a sua qualidade e riqueza em muito poderão contribuir para
diminuir assimetrias tanto regionais como sociais, promovendo um
aproveitamento do território mais eficiente e saudável.IP
PROJETOS DE DESTAQUE IN LOCO
“Portugal Participa”, apoiado pelo Programa Cidadania Ativa, que visa
experimentar e disseminar práticas de democracia participativa no país.
Foi neste âmbito possível apoiar a criação de uma Rede de Autarquias
Participativas, que conta atualmente com 45 Câmaras Municipais;
“Melhoria da Governação Municipal em Moçambique”, suportado pelo
Banco Mundial e pela Cooperação Britânica, que tem permitido a
implementação de processos de Orçamento Participativo nos Municípios
de Maputo; Nampula e Quelimane, bem como a formulação de contributos
para uma política de disseminação nacional desta metodologia, aliada à
criação de uma rede de Municípios;
“Don’t Waste Our Future”, financiado pela Comissão Europeia, que está a
permitir desenvolver um trabalho sobre o tema do desperdício alimentar
em oito países, assumindo a In Loco a coordenação da intervenção no
caso português;
“SlowMed”, suportado pelo ENPI CBC MED, que tem viabilizado uma
intervenção de apoio à salvaguarda da Dieta Mediterrânica como
Património Cultural e Imaterial da Humanidade, com intervenção em
seis países;
“Loja Made In Loco”, espaço criado pela Associação para promover e
vender os produtos regionais de qualidade do Algarve, contribuindo para
a sustentabilidade das pequenas produções locais.
Para mais informações sobre estes e outros projetos podem consultar
a página da Associação In Loco – www.in-loco.pt ou seguir a nossa
atividade no Facebook - https://www.facebook.com/associacao.inloco
© Biovision
EXPERIÊNCIAS
BIOVISION
Combater a fome e a
pobreza pela raiz
Nos anos 80, o entomologista de renome internacional
Hans Rudolf Herren salvou milhões de pessoas em África
de morrerem à fome através da elaboração de métodos
de controlo orgânicos para uma peste devastadora da
mandioca. Foi agraciado com o World Food Prize em 1995
pelo seu trabalho. A Biovision Foundation foi fundada em
1998 por Hans Rudolf Herren juntamente com três amigos
basicamente para financiar o seu projeto de disseminação
de conhecimentos junto dos pequenos agricultores da África
Oriental. Enquanto Diretor Geral do International Centre
of Insect Physiology and Ecolgy, Herren tinha constatado
que os cientistas estavam a trabalhar isoladamente, sem
partilharem as suas ideias com os agricultores e sem
beneficiarem das experiências dos mesmos. Hoje a Biovision
é uma referência incontornável do mundo da ecologia. O
Impulso Positivo falou em exclusivo com David Fritz, Diretor
de Comunicação e Campanhas da Fundação.
Impulso Positivo (IP): Qual a missão da Biovision Foundation?
David Fritz (DF): A nossa missão é um mundo com uma alimentação
saudável suficiente para todos, produzida por pessoas saudáveis
num ambiente saudável. A Biovision combate a fome e a pobreza nas
suas raízes e está comprometida com a divulgação e aplicação de
métodos ecológicos que melhorem de forma sustentável as condições
de vida em África ao mesmo tempo que preserva o meio ambiente.
Promovemos a autoajuda, um pensamento e uma ação ecológica de
Norte a Sul do planeta. As nossas atividades internacionais de defesa
de direitos começaram há quatro anos quando se tornou claro que
as políticas existentes tinham obrigatoriamente que mudar para
garantir que os desenvolvimentos positivos no terreno poderiam ser
bem-sucedidos a longo prazo.
IP: Quais foram as grandes conquistas da Fundação até ao momento?
DF: O sucesso do Programa de Comunicação para Agricultores na
África Oriental é certamente uma das maiores histórias de sucesso.
Assim como os 3,5 milhões de agricultores no Quénia que ouvem a
TOF Radio e os cerca de 250.000 agricultores quenianos que leem,
a revista "The Organic Farmer" todos os meses. Outras 110.000
pessoas leem a edição Suaíli publicada na Tanzânia. Cerca de
76.000 agricultores beneficiaram dos centros locais de informação
e formação e dos conselhos que estes providenciam. O site Infonet
tem uma audiência global e um número de visitantes que aumenta
continuamente. Do ponto de vista internacional, ficamos orgulhosos
de que alguns dos nossos textos em relação ao desenvolvimento da
agricultura foram incluídos na declaração final da Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro
em 2012 e fomos capazes de continuar a ter um papel influente
durante a elaboração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
ao longo dos dois últimos anos.
IP: Quais são os projetos em cursos mais relevantes?
DF: O nosso envolvimento na negociação e elaboração dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável é muito importante uma vez que irá ser
a base do nosso grande objetivo de mudar o percurso da agricultura
global, longe da agricultura convencional e industrial e no sentido
de uma agroecologia que não só irá ajudar a alimentar o mundo,
mas que terá também um impacto significativo na desaceleração das
alterações climáticas. Para além disso, aumentar o impacto do nosso
Programa de Comunicação para Agricultores continua no centro
das nossas atividades.
IP: Quais são os maiores desafios globais do momento?
DF: A pobreza e a fome continuam a ser os maiores desafios que o
mundo enfrenta e esta questão é central na missão da Biovision. A
nossa abordagem para resolver o problema consiste em promover a
agricultura sustentável e ecológica, baseada em pequenos agricultores
e num sistema alimentar mais localizado.
IP: Pode dar-nos exemplos práticos daquilo que é urgente mudarmos
no nosso estilo de vida atual?
DF: Atualmente produzimos cerca de 4.600 calorias por pessoa, por dia
no nosso planeta. Metade dessa produção seria suficiente para alimentar
toas as pessoas do mundo. Mas o desperdício alimentar é uma questão
central e as pessoas do hemisfério norte estão a desperdiçar mais de
40 por cento da sua comida. Por isso, precisamos de ser muito mais
conscientes acerca dos nossos hábitos consumistas. Para além disso,
produzir uma caloria de carne exige doze calorias de plantas, por isso,
comer menos carne também ajudará a melhorar a situação.
IP: Quais serão as consequências de não alterarmos os nossos
hábitos?
DF: Se não seguirmos a máxima "Alimentação para todos naturalmente", então a situação do nosso planeta irá deteriorar-se
drasticamente à medida que a população aumenta para mais de
9.000 milhões em 2050. Se não vencermos as alterações climáticas,
assegurarmos que temos água potável suficiente para todos, se
não mantivermos os nossos solos férteis e não mantivermos a
biodiversidade inestimável do nosso planeta, então não há esperança
para a humanidade. IP
PRÉMIOS E RECONHECIMENTO NOS ÚLTIMOS ANOS
Em 2012, a Biovision tornou-se a primeira Fundação suiça à qual
foi concedida o status consultivo geral pelas Nações Unidas, o
que permite à Biovision par ticipar nas Conferências das Nações
Unidas, em discussões oficiais e a organizar eventos paralelos.
Em 2013, a Biovision e o seu fundador Hans Rudolf Herren
ganharam o Right Livelihood Award, também conhecido como o
Prémio Nobel Alternativo.
Conheça a Biovision em www.biovision.ch
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 33
EXPERIÊNCIAS
© Pierre Crom
FRIENDS OF THE WORLD
Lutar pela Justiça Global
A maior rede ambiental de base do mundo chama-se
Friends of the Earth International e é composta por 75
grupos-membro nacionais e cerca de 5.000 grupos de
ativistas locais de todos os continentes. Esta organização
faz campanhas sobre as questões ambientais e sociais
mais urgentes e desafia o atual modelo de globalização
económica e empresarial, promovendo soluções que
ajudarão a criar sociedades "ambientalmente mais
sustentáveis e socialmente mais justas", como referiu
Denis Burke em exclusivo ao Impulso Positivo.
O DESAFIO
Com uma estrutura descentralizada e democrática, todos os gruposmembro podem participar na tomada de decisões e são fortalecidos
pelo trabalho da organização com as comunidades e pelas suas alianças
com os povos indígenas, movimentos de agricultores, sindicatos,
grupos de direitos humanos, entre outros
A missão da Friends of the Earth é assegurar coletivamente a justiça
ambiental e social, a dignidade humana, o respeito pelos direitos
humanos e os direitos dos povos, de modo a garantir sociedades
sustentáveis, para travar e reverter a degradação ambiental e
o fim de recursos naturais, fomentar a diversidade ecológica e
cultural do planeta, e garantir meios de vida sustentáveis. Denis
Burke acrescenta ainda: "trabalhamos para garantir o reforço
do poder dos povos indígenas, das comunidades locais, das
mulheres, grupos e indivíduos, e para assegurar a participação
do público em geral na tomada de decisões, para fazer com que a
transformação em prol da sustentabilidade e da equidade entre
e dentro das sociedades, com abordagens e soluções criativas,
seja uma realidade”. Para isso, a Friends of the Earth aposta no
envolvimento em campanhas vibrantes e únicas para sensibilizar e
mobilizar as pessoas, construir alianças com diversos movimentos,
plataformas e lutas nacionais e globais. "Inspiramo-nos uns aos
outros para aproveitar, fortalecer e complementar as capacidades
de cada um, vivendo a mudança que desejamos ver e trabalhando
juntos d euma forma solidária", sublinha.
34 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
Processo Judicial Friends of the Earth Netherlands/Milieudefensie vs Shell.
A LUTA
Para esta organização mundial o maior dos desafios mundiais são as
ameaças representadas pela crise climática que se atravessa, reforçadas
por ações governamentais fracassadas e uma ausência de justiça
social real na resposta dada. "Apesar de saber que os mais pobres
do mundo irão sofrer os efeitos das alterações climáticas mais
rapidamente e com maior gravidade, os acordos tratados e planos
feitos até agora, não vão suficientemente longe para apoiarem os
mais pobres e mais vulneráveis", diz o porta-voz. Acrescenta ainda
que "enquanto vamos vendo plataformas, iniciativas de cidadãos
para combater a crise climática, os governos não estão sequer a
fazer o suficiente para apoiar tais iniciativas. Está na hora dos
governos ajudarem ou então saírem do caminho".
A par da crise climática, é urgente fazer frente à crise energética global.
Para a organização a solução passa pelo direito das comunidades
escolherem as próprias fontes de energia sustentáveis e desenvolverem
um nível de consumo saudável. Tudo sem esquecer a necessidade
de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e de "todos
partilharmos recursos igualmente dentro dos limites ecológicos".
Como grande parte das organizações ligadas a questões ambientais,
também a Friends of the Earth tem vindo a trabalhar para proteger
"a soberania do povo sobre a sua alimentação". "O nosso sistema
alimentar atual coloca o agro-negócio no coração da produção
alimentar, levando a problemas com os humanos, a saúde de
cultivos e de animais, problemas com terras e sementes, assim
como a comida culturalmente inapropriada". Como parte da
solução a organização promove a agricultura de pequena escala e o
comércio local que apesar de tudo ainda alimenta a maior parte do
planeta. Para além disso, Denis Burke ressalva que "a agricultura
ecológica pode preservar a biodiversidade e as culturas locais,
arrefecer a Terra, fornecer uma alimentação saudável e meios
de vida para todos". O grave problema é que este tipo de agricultura
está sob ameaça da alimentação e agricultura industrializada,
o que leva à destruição ambiental, expropriação de terras e à
desnutrição. "A soberania alimentar é sobre alimentação de
pessoas em vez de lucro empresarial e defende os interesses das
gerações futuras, defende a Friends of the Earth.
Mas há mais. Enquanto isso, metade das florestas do mundo
desapareceram e esta é outra das bandeiras da organização. "A
privatização, a liberalização do comércio e o aumento das
OBJETIVOS DO PRESENTE E DO FUTURO
Ao longo dos seus 44 anos de existência foram várias as batalhas
travadas e vencidas pela Friends of the Earth. Só este ano foram
vários os grupos da organização que conseguiram bloquear ou
adiar os planos para a introdução de perfuração nos seus países. "A
nossa federação está regularmente na vanguarda da luta pela
preservação da biodiversidade. Grupos de todo o mundo têmse mantido fortes contra a expropriação de terras, construção
de barragens e tentativas de ameaçar e intimidar as vozes que
se erguem pelas suas comunidades, inclusivé garantindo a
libertação de vários ativistas presos". Denis Burke diz ainda que
"A Friends of the Earth nos Estados Unidos fez uma campanha
bem-sucedida para manter uma série de reatores nucleares
perigosos desativados”. Para além disso, vários grupos-membro
"estiveram envolvidos uma vasta campanha que pedia aos
principais fabricantes de eletrónica para tornarem a sua cadeia
de distribuição mais limpa. Também na área da saúde, no último
ano, na sequência do surto do vírus Ébola em África, a Friends of the
Earth Libéria angariou dinheiro e trabalhou com sucesso junto das
“Grupos de todo o mundo têm-se
mantido fortes contra a expropriação
de terras, construção de barragens
e tentativas de ameaçar e intimidar
as vozes que se erguem pelas suas
comunidades, inclusivé garantindo a
libertação de vários ativistas presos."
© Luka Tomac
exportações de carne e culturas como a soja e o óleo de palma,
levaram a um aumento maciço de plantações em grande escala,
provocando ainda mais deflorestação", explica o porta-voz.
Isso é devastador quando se tem em conta que as florestas são
não só a base do modo de vida das comunidades locais e de povos
indígenas, como também têm um papel fundamental no equilíbrio
do clima. A Friends of the Earth trabalha com estas comunidades
na conservação das florestas e no reforço dos seus direitos e da
gestão comunitária. "Fazemos campanhas contra plantações
industriais de grande escala, monocultura, exploração
madeireira destrutiva e contra a mercantilização de florestas
e da biodiversidade. Precisamos urgentemente de proteger as
florestas por um futuro sustentável para todos" apela Burke.
A Friends of the Earth considera que outros dos problemas globais
mais desafiantes neste momento é a influência de grandes empresas
e instituições financeiras, políticas neoliberais promovidas por
bancos de desenvolvimento e instituições internacionais que
incidem sobre o acesso a mercados "sem ter em consideração as
necessidades das pessoas, os direitos da comunidade e a justiça
ambiental". Nesse sentido, a organização tem vindo a trabalhar
com movimentos sociais do mundo inteiro, promovendo iniciativas
sustentáveis nas comunidades locais, para mudar o trajeto da
economia, ao mesmo tempo que ajuda a construir um movimento
popular para dinamizar soluções criativas e alternativas à justiça
económica a uma escala global. Para isso, muito embora a Friends
of the Earth não seja uma organização de concessão de fundos,
providencia apoio financeiro para projetos de membros, alguma
capacitação, apoio logístico e de comunicação.
Friends of the Earth International na COP20 em Lima, Peru.
comunidades de todo o país sobre métodos de prevenção de Ébola.
Neste momento a Friends of the Earth está a trabalhar com
outras organizações e movimentos sociais do mundo inteiro
para construir uma resposta robusta e centrada nas pessoas à
crise climática: "Esta resposta coloca a comunidade, o controlo
de energia e a justiça social no coração das suas atividades
e esforços tanto ao nível nacional como internacional”.
Entre estas atividades está o desenvolvimento de um site de
mobilizador www.wearetheenergyrevolution.org. Fazer lobby
junto das Nações Unidas, através de trabalho com governos e
outros grupos da sociedade civil para "desenvolver um tratado
juridicamente vinculativo para empresas transnacionais
sobre direitos humanos, é outra das metas para a qual a
organização tem vindo a trabalhar".
Burke acrescenta ainda que tem vindo a ser feito um trabalho
junto das comunidades para promover a consciencialização sobre
os programas de conservação que "muitas vezes são prejudiciais
para o ambiente destruindo, por exemplo, florestas primárias
para serem substituídas por plantações de óleo de palma e que
infringem os direitos da comunidade”.
No que diz respeito à alimentação a Friends of the Earth está a trabalhar
com grupos-membro nacionais para promover a ideia da agroecologia,
“assente nas pequenas produções que conservam o solo, na
preservação de milhares de variedades de sementes, de gado e peixe
que alimenta mais de 70% da população mundial, apesar de possuir
uma pequena proporção das terras”.
Apesar de todos os desafios que o mundo enfrenta, a Friends of
the Earth acredita num mundo pacífico e sustentável com base em
sociedades que vivem em harmonia com a natureza: "Prevemos uma
sociedade em que as pessoas serão interdependentes e viverão com
dignidade, integridade, realizadas e em que a equidade e os direitos
humanos dos povos serão reais. Esta será uma sociedade construída
com a participação de todos e fundada na justiça social, económica,
de género e ambiental, livre de todas as formas de dominação e
exploração, como o neoliberalismo, a globalização corporativa,
o neocolonialismo e o militarismo. Acreditamos que o futuro dos
nossos filhos será melhor por causa do que fazemos". IP
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 35
EXPERIÊNCIAS
350.ORG
Nos últimos dez anos, Bill McKibben cofundou e
construiu o primeiro movimento popular de todo o
planeta para as alterações climáticas ao qual chamou
350.org. Com esta organização no centro da questão,
o movimento foi espalhando o alerta e mobilizando
apoio político para uma ação urgente capaz de
atenuar a crise climática que já se fazia sentir.
Autor e educador de grande influência nos últimos 30 anos, Bill
McKibben publicou em 1989 o livro "O Fim da Natureza", um dos
primeiros livros de sempre a ser escrito com o intuito de informar o
público em geral acerca das alterações climáticas.
Em exclusivo ao Impulso Positivo, Bill McKibben explicou que a
razão pela qual fundou a 350.org se prendeu essencialmente com
a necessidade de “criar um movimento, pois sozinhos nunca
teríamos dinheiro suficiente para erguer a voz contra a indústria
do petróleo, era preciso contar com muitas pessoas para o fazer”.
Acrescentou ainda que “Para além do óbvio, como mudarmos de
lâmpadas, comermos menos carne e andar de bicicleta, o nosso
dever principal juntarmo-nos em grupos capazes de pressionar o
sistema. Foi por isso que começámos a 350.org”.
O foco inicial da 350.org era a Conferência de Copenhaga sobre
Clima em 2009. A 24 de outubro desse ano, a organização
coordenou mais de 5.200 demonstrações em 181 países naquilo
que foi chamado "o dia de ação política mais abrangente na
história do planeta" pela CNN.
CAMPANHAS
Em 2010, a organização organizou pela primeira vez a Global Work
Party, que reuniu 7.200 comunidades em 188 países para trabalharem
juntos em soluções climáticas locais. Outras campanhas marcantes
incluíram a 350 eARTh, a primeira mostra de arte planetária, tão
grande, que foi possível vê-la do espaço, e a Great Power Race,
uma competição de energias limpas para estudantes que chegou
a mais de 1.000 universidades na China, Índia e Estados Unidos e
que ainda hoje perdura. A 350.org promove desde 2011, a Power
Shift Conference, com milhares de pessoas a protestarem contra
os grandes poluidores. As campanhas contra o oleoduto Keystone
XL que iria levar petróleo desde o Canadá até ao Golfo do México e
que resultaram no seu adiamento por tempo indefinido; a criação do
Climate Impacts Day e da campanha Do the Math Tour organizada
em 22 cidades; e uma grande manifestação em Nova Iorque que
juntou cerca de 400.000 pessoas para sublinhar as preocupações
com o clima na Cimeira sobre o Clima de Ban Ki-Moon, são também
alguns dos grandes marcos da 350.org até hoje.
36 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
© Steve Liptay
Solução: movimento
popular contra as
alterações climáticas
Bill McKibben
A LUTA CONTRA OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS
A grande frente de batalha do momento deste movimento em
constante crescimento foca-se essencialmente na luta contra “o
poder da indústria de combustíveis fósseis” e foi neste âmbito que
foram criadas campanhas como a “Fossil Free” (http://gofossilfree.
org) com o intuito de apelar a organizações governamentais,
religiosas e aos cidadãos comuns que desinvistam em combustíveis
fósseis. Também a atual campanha “Stop TPP”, luta contra o TransPacific Partnership, um acordo comercial que está a ser negociado
entre os EUA e dezenas de outros países, considerada a mais recente
ferramenta da indústria de combustíveis fósseis para encerrar a
ação climática. Existe ainda uma campanha singular “Divest the
Vatican” de apelo ao Papa Francisco, que tem vindo a desempenhar
um papel cada vez mais marcante na luta contra as alterações
climáticas, para que também o Vaticano desinvista neste tipo de
combustíveis.
“As empresas petrolíferas são as maiores e mais ricas da
história do planeta e por isso exercem um enorme controlo
político”, refere Bill McKibben ao Impulso Positivo. “Apesar
de duas décadas de avisos constantes do perigo, feitos pela
comunidade científica, estas empresas têm sido capazes de
manter o status quo, praticamente intacto”, sublinha.
A forma como os grandes líderes mundiais lidam com os desafios
ambientais, é para o fundador da 350.org ultrajante: “o presidente
Obama dar permissão à Shell para perfurar o Ártico, para
mim, está no topo. É muito irónico. Derretemos o Ártico por
queimarmos demasiado combustível fóssil e agora que está a
derreter, queremos perfurar o gelo por mais petróleo?”, afirma
indignado. “Seria muito importante, os governos assumirem um
compromisso com expansões rápidas de energia renovável e a
manterem grandes piscinas de carbono no subsolo” sugere.
“O aquecimento do mundo, causa enormes problemas,
especialmente para as pessoas mais pobres do planeta”. Bill
McKibben dá como exemplo o que se passou na passada Primavera:
“milhares de paquistaneses e indianos morreram simplesmente
porque as ondas de calor foram demasiado quentes para
sobreviver”. Para além disso, “milhões de pessoas morrem porque
a agricultura está cada vez mais difícil, porque as doenças
propagam-se transmitidas por mosquitos, e assim por diante”,
reflete.
A solução passa por nos ”organizarmos na luta ”, ou o futuro a
curto prazo será “quente e cada vez ma quente”. IP
PRÉMIOS & INCENTIVOS
EM ABERTO
PARTIS - PRÁTICAS ARTÍSTICAS PARA
INCLUSÃO SOCIAL
Estão abertas, até dia 15 de setembro, as candidaturas ao
concurso PARTIS - Práticas Artísticas para Inclusão Social que
pretende apoiar projetos sociais destinados à integração social
através das práticas artísticas.
Os melhores e mais inovadores projetos de integração social pela
prática artística, nas áreas das artes visuais, artes performativas
e audiovisuais (nomeadamente teatro, dança, música, circo,
grafitti, performance, pintura, escultura, instalação, vídeo,
fotografia, entre outras) serão apoiados, até um máximo de
€25 mil euros por ano. As propostas devem ser consistentes,
informadas e sustentadas, assentes em parcerias alargadas,
passíveis de avaliação e potencial de replicação.
Podem concorrer organizações não lucrativas com projetos a iniciar
em janeiro de 2016, que promovam a inclusão social de cidadãos
em situação de maior vulnerabilidade social, tendo em vista a
promoção do encontro e diálogo entre diferentes - em termos
sociais, etários, culturais, entre outros -, e também a igualdade de
oportunidades e o reforço da coesão social e territorial.
BOLSAS ES JOVEM / NOS ALIVE
Estão abertas, ate dia 15 de setembro, as candidaturas às Bolsas
ES JOVEM / NOS ALIVE, uma iniciativa conjunta da Cooperativa
António Sérgio para a Economia Social (CASES) e da Everything
Is New, com o intuito de premiar e valorizar jovens em fase de
criação de projetos na área da Economia Social.
Os projetos devem estar em fase de criação ou de
implementação de organizações da economia social em qualquer
setor de atividade, desde que não tenham beneficiado de outros
apoios à sua constituição.
Os candidatos deverão ter entre 18 e 35 anos.
A cada um dos dois projetos selecionados será atribuído um
valor monetário de 5.000 euros e apoio técnico.
INCENTIVOS AO EMPREENDEDORISMO
QUALIFICADO E CRIATIVO
Está a decorrer, até 30 de setembro de 2015, o concurso
para apresentação de candidaturas no âmbito do Sistema de
Incentivos – Empreendedorismo Qualificado e Criativo, destinado
às Pequenas e Médias Empresas.
Este concurso tem como objetivo conceder apoios financeiros
a projetos de Empreendedorismo Qualificado e Criativo, que
contribuam para: promover o espírito empresarial, facilitando
nomeadamente o apoio à exploração económica de novas ideias
e incentivando a criação de novas empresas; aumentar as
capacidades de gestão das empresas e da qualificação específica
dos ativos em domínios relevantes para a estratégia de inovação,
internacionalização e modernização das empresas.
O Empreendedorismo Qualificado e Criativo inclui, para além
do empreendedorismo de base tecnológica, as atividades
das indústrias culturais e criativas, que fazem da utilização
da criatividade, do conhecimento cultural e da propriedade
intelectual, os recursos para produzir bens e serviços
internacionalizáveis com significado social e cultural.
Consulte mais informações no site do IEFP e aceda ao Balcão 2020 para
submissão de candidaturas.
38 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
CONCURSO DE IDEIAS VEM
O período para apresentação de candidaturas ao VEM, o Concurso de
Ideias que pode dar o apoio necessário para passar da ideia à ação
(micro-empreendedorismo), decorre até 7 de setembro de 2015.
O VEM pretende apoiar a estruturação e implementação de soluções
empreendedoras por parte de portugueses e lusodescendentes que
vivem além-fronteiras, mas querem regressar, acompanhando-os em
todas as fases de operacionalização indispensáveis para transformar
um projeto num negócio em Portugal.
Consulte o Regulamento do Concurso VEM, promovido pelo Alto
Comissariado para as Migrações, IP. em www.acm.gov.pt.
PRÉMIOS & INCENTIVOS
JÁ ATRIBUIDOS
PRÉMIO DO JOVEM EMPREENDEDOR 2015
A Academia dos Empreendedores organiza em 2015, o Prémio
do Jovem Empreendedor, iniciativa que tem por objetivo
dinamizar o Espírito Empreendedor e premiar os Jovens e as
Empresas Inovadoras, em fase de criação ou expansão.
Podem candidatar-se ao Prémio do Jovem Empreendedor todos
os jovens portugueses com idade compreendida entre os 18
e 35 anos, promotores de projetos de criação ou expansão
de empresas com caraterísticas inovadoras e exequíveis. A
candidatura é considerada jovem quando o promotor do projeto
for detentor de 50% do capital da empresa, isoladamente, ou
em conjunto com outro jovem.
As candidaturas à 17.ª edição do Prémio decorrem até 31 de
agosto de 2015.
O prémio, no valor aproximado de 30.000 euros terá várias
componentes: uma de cariz pecuniário para apoio ao
desenvolvimento do projeto, no valor de 20.000€; oferta de 1
ano de incubação num dos Centros Empresariais da ANJE e
oferta de uma pós-graduação realizada na Associação.
MARIANA SILVA VENCE O PRÉMIO NOVOS
ARTISTAS FUNDAÇÃO EDP 2015
Mariana Silva vence a 11.ª edição do Prémio Novos Artistas Fundação
EDP. Foi escolhida entre os mais de 760 candidatos e os restantes
finalistas: Joana Escoval, João Grama, Manuel Caldeira, Marco Pires,
Nuno Vicente, Pollyanna Freire, Teresa Braula Reis e Vasco Futscher.
Juntos, apresentam o seu trabalho numa exposição coletiva patente no
Museu da Eletricidade até 20 de setembro. A exposição é comissariada
por Filipa Oliveira e Sérgio Mah, curadores independentes, e João
Pinharanda, programador cultural da Fundação EDP. O Prémio, no valor
de 20 mil euros, destina-se a apoiar a continuação do estudo ou do
trabalho de criação e investigação do artista e à internacionalização da
sua carreira. O júri, composto por Ana Jotta, João Ribas, José Manuel
dos Santos, Elfi Turpin e Vincent Honoré, deliberou e sagrou vencedora
a artista Mariana Silva, 31 anos. Segundo a organização, “a escolha
desta artista deve-se à consistência do seu trabalho e à investigação das
questões culturais, políticas e tecnológicas do nosso tempo”.
2ª EDIÇÃO DO PRÉMIO “INCLUSÃO E
LITERACIA DIGITAL”
Estão abertas as candidaturas à 2.ª edição do Prémio “Inclusão
e Literacia Digital”, instituído pela Fundação para a Ciência e
Tecnologia, enquanto mecenas da Rede TIC e Sociedade.
A edição 2015 do Prémio "Inclusão e Literacia Digital" pretende
premiar projetos de Inclusão e de Literacia Digitais com impacto
relevante na familiarização ou aquisição de competências
básicas em TIC por públicos-alvo com utilização baixa, muito
baixa ou nula das TIC. Pretende também promover e reconhecer
publicamente a importância da atividade das entidades
promotoras de projetos de Inclusão e de Literacia Digitais,
no âmbito da Rede TIC e Sociedade, junto de decisores e
comunidade em geral. Distinguir a qualidade e importância da
intervenção destas entidades, premiando projetos com impacto
societal digital relevante é também outro dos objetivos, assim
como incentivar entidades de setores diversos a aderirem à
plataforma Rede TIC e Sociedade.
O valor do prémio total a atribuir corresponde, no máximo, ao
montante de 500.000,00€, sendo premiadas tantas entidades
quanto seja possível sem exceder este valor
A data limite para submissão de candidaturas é dia 25 de
setembro de 2015.
UM PORTUGUÊS DESTACADO PELO RETRATO
DO AMBIENTE MAL-TRATADO
Há um português entre os destacados do concurso “Fotografia
Ambiental do Ano”. De entre as 10 mil participações que a
Chartered Institution of Water and Environmental Management
(CIWEM) recebeu, Eduardo Leal ficou entre os doze melhores,
com a imagem intitulada “Plastic Tree #20″, que se pode traduzir
para “Árvore de Plástico #20. O concurso foi lançado em 2007
para que os fotógrafos pudessem alertar para as questões
ambientais e sociais que atormentam o equilíbrio da vida no
planeta, explica a BBC. Deste modo, a agenda internacional pode
olhar para as causas e consequências dos problemas na Terra e
agir em conformidade com elas. Os responsáveis pela CIWEM
dizem que “as entradas para os prémios de 2015 estiveram no
mais alto nível de sempre”, porque conseguem colocar o público
a refletir sobre o impacto humano no ambiente. O trabalho
de Eduardo Leal tem vindo a ser amplamente reconhecido e
premiado nos últimos anos.
Visite o site do fotógrafo Eduardo Leal em www.eduardoleal.
co.uk. Saiba mais sobre o concurso e os participantes neste site.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 39
JÁ VIU?
SITES
Global Policy Forum
Novos Rurais - Farming Culture
Siga a página de Facebook do Movimento Novos Rurais que
pretende que a sociedade urbana reencontre o prazer de cultivar e
de cuidar de pequenas hortas, promovendo o autoconsumo, a saúde
e também toda a estética inerente ao aspeto decorativo que tais
plantações poderão ter no habitat doméstico. Vencedor do prémio
Startup Rural 2013, este Movimento pretende reunir empresas,
organizações, marcas e indivíduos interessados em divulgar
práticas sustentáveis e métodos éticos dentro das suas indústrias.
http://www.facebook.com/novosrurais.farmingculture
O Global Policy Forum é um "guardião" independente criado com
o objetivo de monitorizar o trabalho das Nações Unidas assim
como escrutinar as decisões políticas globais. Para isso, o Fórum
promove a responsabilização e a participação dos cidadãos nas
decisões relacionadas com a paz, a segurança, a justiça social e
o direito internacional.
No site do GPF irá encontrar informação organizada e de acesso fácil
podendo ser complementada com o a disponibilização de relatórios
e boletins informativos. Com um papel ativo em redes de ONG's e
outros círculos da defesa dos direitos humanos, o GPF organiza ainda
reuniões e conferências e publica investigação de primeira linha.
Através do GPF, fique a par de uma análise profunda e persistente
ao poder e a uma série de questões que se impõem a par das mais
variadas crises mundiais. Alguns dos principais tópicos passam pela
fome e a alimentação mundial, o lado negro dos recursos naturais,
segurança e forças militares ou intervenção humanitária. O GPF
"procura soluções igualitárias, cooperativas, pacíficas e sustentáveis
para os grandes problemas do mundo". Fique a par e participe.
www.globalpolicy.org
The Sentry
Este é o site com um papel fundamental no mais recente projeto
de defesa de direitos humanos levado a cabo pelo famoso ator
George Clooney, juntamente com o ativista John Prendergast, The
Sntry. O objetivo é descobrir e denunciar quem lucra com a guerra
e corrupção que atravessam várias regiões do continente africano.
A equipa responsável pelo projeto vai tentar seguir o rasto do fluxo
de dinheiro que sangra dos conflitos que se travam em regiões como
a República Democrática do Congo, a República Centro Africana,
o Sudão e o Sudão do Sul. Através do site criado para o efeito, a
organização responsável pelo The Sentry vai permitir que qualquer
pessoa que assim o deseje faça denúncias anónimas que ajudem a
seguir o rasto deste dinheiro.
https://thesentry.org/
40 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
Footprint Calculator da WWF
Esta é uma entre muitas calculadoras da pegada ecológica disponíveis
na internet mas que permite a chegar a um resultado através das
respostas a um questionário de 5 minutos e que tem em conta as
categorias: alimentação, habitação, viagens e outros assuntos. Neste
site encontrará ainda dicas práticas sobre como reduzir a sua pegada
ecológica. Vale a pena ficar com uma ideia.
http://footprint.wwf.org.uk/
JÁ VIU?
FONTES
Louvado Sejas, Carta Encíclica Laudato si’ – sobre
o cuidado da casa comum,
de Jorge Bergoglio (Papa Francisco)
A Pilhagem de África, de Tom Burgis
Em maio de 2015, o premiado jornalista norte-americano Tom
Burgis publicou o livro “A Pilhagem de África”, onde denuncia e
descreve minuciosamente a existência de complexas teias de
relações entre o crescente poder chinês, os senhores da guerra, a
corrupção das elites africanas e o delapidar do património natural
das nações do continente.
O jornalista do Financial Times, que foi durante anos
correspondente em África, explica como esta teia se estende
desde o Zimbábue a Angola até cravar os tentáculos em Nova
Iorque, Londres e no Dubai, onde o dinheiro “sujo” é lavado e
colocado a circular. Imperdível.
La Bioguia
Trata-se de uma comunidade online (www.labioguia.com) criada
para facilitar a pesquisa, a implementação e a procura de soluções
que contribuam para uma cultura sustentável. Aqui é possível
não só partilhar dicas como pontuar conteúdos publicados
por outros usuários. As categorias vão desde a alimentação à
arquitetura, da tecnologia à reciclagem, permacultura, saúde
e até turismo sustentável. Permite ainda que, no caso de se ter
uma organização, um serviço ou um negócio sustentável, se faça
publicidade no portal. Fique a par de novidades sustentáveis,
sejam elas pequenas dicas para melhorar o seu dia-a-dia ou uma
importante descoberta científica.
Um SOS a todos os habitantes do planeta. Um texto que é um alerta e
um novo compromisso dirigido a todos os habitantes da Terra. Num ano
crucial para decisões sobre o meio ambiente, um Papa consagra, pela
primeira vez, uma encíclica às questões ambientais, reconhecendo que
o tema ecológico é um importantíssimo desafio para a humanidade.
A nova encíclica de Francisco, inspirando-se no Cântico das criaturas,
de São Francisco de Assis – Laudato si’, mi’ Signore –, é um urgente
apelo à preservação da Terra e da vida, através da qual a Igreja
procura também influenciar os trabalhos da próxima Conferência
de Paris sobre o Clima (7-8 de dezembro de 2015). Nesse encontro
mundial, espera-se alcançar, pela primeira vez, um acordo global
juridicamente constringente para todos, de modo a manter o
aquecimento global abaixo dos 2 ºC. “A relação íntima entre os pobres
e a fragilidade do Planeta, a convicção de que tudo está estreitamente
interligado no mundo, a crítica do paradigma que deriva da tecnologia,
a busca de outras maneiras de entender a economia e o progresso, o
valor próprio de cada criatura, o sentido humano da ecologia, a grave
responsabilidade da política, a cultura do descarte e a proposta de um
novo estilo de vida» (LS, 16) são os eixos da nova encíclica, inspirada na
sensibilidade ecológica de Francisco de Assis.
Greenhouse
Esta agência britânica trabalha com empresas, empreendedores e
organizações sem fins lucrativos com a missão de criar a mudança e
de os destacar para gerarem impacto real. Para além de uma série de
serviços como a criação de marcas, o desenvolvimento de estratégias
de comunicação ou encontrar soluções para grandes desafios,
a Greenhouse tem um extraordinário blog (http://greenhousepr.
co.uk/blog/) e uma newsletter fantástica e muito "trendy" que pode
receber na sua caixa de email todo os dias de manhã, com partilha
de experiências e notícias frescas dos mais importantes canais de
comunicação mundiais sobre ambiente e sustentabilidade.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 41
JÁ VIU?
LEGISLAÇÃO
NORMAS COMUNS SOBRE O FUNDO SOCIAL EUROPEU
Portaria n.º 242/2015, DR Série I, N.º 157, de 13 de agosto
LEI-QUADRO DAS CONTRAORDENAÇÕES AMBIENTAIS
Lei n.º 114/2015, DR Série I, N.º 168, de 28 de agosto
Segunda alteração à Lei n.º 50/2006, de 29 de agosto, que aprova a leiquadro das contraordenações ambientais.
APROVAÇÃO DA ESTRATÉGIA OPERACIONAL DE AÇÃO
HUMANITÁRIA E DE EMERGÊNCIA
Resolução do Conselho de Ministros n.º 65/2015, DR Série I, N.º 167, de 27 de agosto
Este documento tem como objetivo definir uma Estratégia Operacional de
Ação Humanitária e de Emergência (Estratégia Operacional) em resposta
às necessidades globais dos indivíduos, comunidades e países afetados por
situações humanitárias e de emergência. Constituem elementos -chave na
elaboração e implementação desta Estratégia Operacional, as linhas de
orientação, princípios e compromissos assumidos no Conceito Estratégico
da Cooperação Portuguesa 2014 -2020, aprovado pela Resolução do
Conselho de Ministros n.º 17/2014, de 7 de março.
Primeira alteração ao Regulamento que estabelece Normas Comuns sobre
o Fundo Social Europeu, adotado pela Portaria n.º 60- A/2015, de 2 de
março.
APROVAÇÃO DA ESTRATÉGIA «CIDADES SUSTENTÁVEIS
2020»
Resolução do Conselho de Ministros n.º 61/2015, DR Série I, N.º 155,
de 11 de agosto
A estratégia «Cidades Sustentáveis 2020» procura reforçar a dimensão
estratégica do papel das cidades em vários domínios. Ancorada no paradigma
do desenvolvimento urbano sustentável, a estratégia «Cidades Sustentáveis
2020» deve ser entendida como uma política de desenvolvimento territorial,
para a qual o envolvimento e compromisso de uma multiplicidade de agentes
é condição fundamental para que o enfoque das intervenções não se limite à
dimensão física do espaço urbano, mas, antes, vá ao encontro de desígnios
mais altos como são o desenvolvimento económico, a inclusão social, a
educação, a participação e a proteção do ambiente.
CRIAÇÃO DA COMISSÃO NACIONAL DE PROMOÇÃO DOS
DIREITOS E PROTEÇÃO DAS CRIANÇAS E JOVENS
APROVAÇÃO DA ESTRATÉGIA DE PROTEÇÃO AO IDOSO
Decreto-Lei n.º 159/2015, DR Série I, N.º 154, de 10 de agosto
Resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2015, DR Série I,
N.º 165, de 25 de agosto
Presidência do Conselho de Ministros
Aprova a Estratégia de Proteção ao Idoso que constitui, deste modo, o
lastro para a futura concretização e desenvolvimento de todos os aspetos
em que se desdobra a proteção dos idosos, designadamente, nas áreas da
saúde e da segurança social.
DIREITOS DAS ASSOCIAÇÕES DE MULHERES
Cria a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças
e Jovens e define as respetivas missão, atribuições, tipo de organização
interna e funcionamento.
APROVAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO PARA A MOBILIDADE
ELÉTRICA
Despacho n.º 8809/2015, DR Série II, N.º 154, de 10 de agosto
Consolidação da legislação em matéria de direitos das associações de
mulheres (revoga as Leis n.os 95/88, de 17 de agosto, 33/91, de 27 de julho,
e 10/97, de 12 de maio).
Aprova o Plano de Ação para a Mobilidade Elétrica. Este Plano deverá servir
para promover perspetivas críticas e constituir um referencial aglutinador
de vontades existente na sociedade portuguesa, em prol de um desígnio
nacional. Pretende estabelecer um conjunto de prioridades, a partir
das quais se possa acelerar, de forma sustentada, o desenvolvimento da
mobilidade elétrica em Portugal.
PROMOÇÃO DA PRODUÇÃO E APROVEITAMENTO DE
BIOMASSA FLORESTAL
APROVAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DO
LINCE-IBÉRICO EM PORTUGAL
Decreto-Lei n.º 166/2015, DR Série I, N.º 163, de 21 de agosto
Despacho n.º 8726/2015, de 07 de agosto
Procede à segunda alteração ao Decreto-Lei n.º 5/2011, de 10 de janeiro,
que estabelece as medidas destinadas a promover a produção e o
aproveitamento de biomassa florestal.
Aprova o Plano de Ação para a Conservação do Lince-Ibérico em Portugal
(PACLIP 2015-2020).
Lei n.º 107/2015, DR Série I, N.º 165, de 25 de agosto
FINANCIAMENTO DAS ASSOCIAÇÕES HUMANITÁRIAS DE
BOMBEIROS
REGIME JURÍDICO DAS MEDIDAS NECESSÁRIAS PARA
GARANTIR O BOM ESTADO AMBIENTAL DO MEIO MARINHO
ATÉ 2020
Lei n.º 94/2015, DR Série I, N.º 157, de 13 de agosto
Decreto-Lei n.º 143/2015, DR Série I, N.º 148, de 31 de julho
Regras do financiamento das associações humanitárias de bombeiros,
no continente, enquanto entidades detentoras de corpos de bombeiros
(primeira alteração à Lei n.º 32/2007, de 13 de agosto, que aprova o regime
jurídico das associações humanitárias de bombeiros).
Procede à terceira alteração ao Decreto-Lei n.º 108/2010, de 13 de outubro,
que estabelece o regime jurídico das medidas necessárias para garantir o
bom estado ambiental do meio marinho até 2020, que transpôs a Diretiva
2008/56/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de junho.
42 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
JÁ VIU?
PROGRAMA DE EMPREGO E APOIO À QUALIFICAÇÃO DAS
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E INCAPACIDADE
Despacho n.º 8376-B/2015, DR Série II, N.º 147, de 30 de julho
Aprova os regulamentos do Programa de Emprego e Apoio à Qualificação
das Pessoas com Deficiência e Incapacidade, criado pelo Decreto-Lei n.º
290/2009, de 12 de outubro.
QUADRO ESTRATÉGICO PARA A POLÍTICA CLIMÁTICA,
PROGRAMA NACIONAL PARA AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
E ESTRATÉGIA NACIONAL DE ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS
Resolução do Conselho de Ministros n.º 56/2015, DR Série I, N.º 147,
de 30 de julho
DIA NACIONAL CONTRA A HOMOFOBIA E A TRANSFOBIA
Resolução da Assembleia da República n.º 99/2015, DR Série I, N.º 141,
de 22 de julho
Consagra o dia 17 de maio como o Dia Nacional contra a Homofobia e a Transfobia.
DEFINIÇÃO DA ESTRUTURA ORGÂNICA DA REDE RURAL
NACIONAL (RRN)
Portaria n.º 212/2015, DR Série I, N.º 138, de 17 de julho
Define a estrutura orgânica da Rede Rural Nacional (RRN), criada pela alínea
h) do n.º 2 do artigo 61.º do Decreto-Lei n.º 137/2014, de 12 de setembro,
para o período de 2014-2020, no âmbito do desenvolvimento rural, bem
como a composição e competência dos seus órgãos.
Aprova o Quadro Estratégico para a Política Climática, o Programa Nacional
para as Alterações Climáticas e a Estratégia Nacional de Adaptação às
Alterações Climáticas, determina os valores de redução das emissões
de gases com efeito de estufa para 2020 e 2030 e cria a Comissão
Interministerial do Ar e das Alterações Climáticas.
APOIO FINANCEIRO PELO ESTADO A ESTABELECIMENTOS
DE ENSINO PARTICULAR E COOPERATIVO DE NÍVEL NÃO
SUPERIOR
CONTRAPARTIDAS FINANCEIRAS DE RECOLHA E TRIAGEM
EFETUADAS PELO SISTEMAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS
URBANOS (SGRU)
Retifica a Portaria n.º 172-A/2015, de 05 de junho, dos Ministérios das
Finanças e da Educação e Ciência, que fixa as regras e procedimentos
aplicáveis à atribuição de apoio financeiro pelo Estado a estabelecimentos
de ensino particular e cooperativo de nível não superior.
Despacho n.º 8376-C/2015, DR Série II, N.º 147, de 30 de julho
Determina os valores das contrapartidas financeiras decorrentes das
operações de recolha e triagem efetuadas pelos Sistemas de Gestão de
Resíduos Urbanos (SGRU).
HOMOLOGAÇÃO DA NORMA CONTABILÍSTICA E DE RELATO
FINANCEIRO PARA ENTIDADES DO SETOR NÃO LUCRATIVO
DO SISTEMA DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA
Aviso n.º 8259/2015, DR Série II, N.º 146, de 29 de julho
Homologa da Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Entidades do
Setor não Lucrativo do Sistema de Normalização Contabilística. Esta Norma
Contabilística e de Relato Financeiro para Entidades do Setor Não Lucrativo
tem como objetivo estabelecer os principais aspetos de reconhecimento e
mensuração, com as adaptações inerentes a este tipo de entidades.
MODELO DE AUTORIZAÇÃO DE RESIDÊNCIA PROVISÓRIA
PARA REQUERENTES DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL
Portaria n.º 597/2015, DR Série II, N.º 146, de 29 de julho
Aprova o modelo de autorização de residência provisória para requerentes
de proteção internacional.
ESTATUTO DAS IPSS
Lei n.º 76/2015, DR Série I, N.º 145, de 28 de julho
Procede à primeira alteração ao Decreto-Lei n.º 172-A/2014, de 14 de novembro,
que alterou (quinta alteração) o Decreto-Lei n.º 119/83, de 25 de fevereiro, em
que aprovou o Estatuto das Instituições Particulares de Solidariedade Social
(IPSS) e procede à sexta alteração ao Estatuto das Instituições Particulares
de Solidariedade Social, por apreciação parlamentar.
Declaração de Retificação n.º 32/2015, DR Série I, N.º 133, de 10 de julho
SISTEMA DE ATRIBUIÇÃO DE PRODUTOS DE APOIO
Despacho n.º 7225/2015, de 1 de julho
Define o modo de funcionamento do Sistema de Atribuição de Produtos de
Apoio (SAPA) , que se destina a pessoas com deficiência ou incapacidade, e
comparticipa os custos com a aquisição de produtos de apoio com o fim de
compensar, atenuar ou neutralizar as limitações de atividade e restrições
de participação decorrentes da interação entre as alterações funcionais ou
estruturais de carater temporário ou permanente e as condições do meio.
MODELO ESPECÍFICO DE COOPERAÇÃO ENTRE O INSTITUTO
DA SEGURANÇA SOCIAL, I. P. (ISS, I. P.) E AS IPSS
Portaria n.º 196-A/2015, 1º Suplemento, DR Série I, N.º 126, de 1 de julho
Define os critérios, regras e formas em que assenta o modelo específico da
cooperação estabelecida entre o Instituto da Segurança Social, I. P. (ISS,
I. P.) e as instituições particulares de solidariedade social ou legalmente
equiparadas.
COOPERAÇÃO ENTRE O ESTADO E O SETOR SOCIAL E
SOLIDÁRIO
Decreto-Lei n.º 120/2015, DR Série I, N.º 125, de 30 de junho
Estabelece os princípios orientadores e o enquadramento a que deve obedecer a
cooperação entre o Estado e as entidades do setor social e solidário.
AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NESTA SECÇÃO BASEIAM-SE NOS TEXTOS
LEGAIS, MAS NÃO DISPENSAM A CONSULTA DOS DIPLOMAS ORIGINAIS.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 43
ARTIGO TÉCNICO
A solução das alterações
climáticas está nas
nossas terras
Por GRAIN e Via Campesina
É essencial reconhecer aos camponeses e às comunidades
indígenas o controlo sobre os seus territórios. Só assim
poderemos enfrentar a crise climática e alimentar crescente
que vive a população mundial.
No momento em que os governos convergiam na Conferência
sobre Alterações Climáticas da ONU em Lima, no Perú, o
brutal assassinato do ativista indígena peruano Edwin Chota
e de outros três homens do povo ashanika no passado mês de
setembro realçaram a relação entre deflorestação e direitos
indígenas. A verdade é muito clara e está à vista: a maneira mais
eficaz de prevenir a deflorestação e os impactos climáticos é
reconhecer e respeitar a soberania dos povos indígenas sobre
os seus territórios.
Os violentos conflitos agrários no Perú também fazem
sobressair outro assunto de igual importância para a crise
climática e que já não se pode ignorar: a concentração de terra
nas mãos de umas quantas pessoas.
É imprescindível reconhecer aos camponeses e às comunidades
indígenas o controlo sobre os seus territórios. Só assim
poderemos enfrentar a crise climática e alimentar face à
crescente população mundial.
No Perú, as pequenas quintas, com menos de 5 hectares,
representam 78% de todas as quintas no país, mas ocupam
menos de 6% das terras agrícolas. Esta figura perturbadora
reflete a situação global. Globalmente, as pequenas
propriedades representam 90% de todas as quintas, mas
ocupam menos de um quarto das terras agrícolas. Isto são más
notícias para a crise climática.
A expropriação dos territórios aos povos indígenas levou a uma
extração insustentável e destrutiva e a expropriação de terras
44 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
agrícolas está na base de um sistema alimentar industrial que,
entre muitos outros efeitos negativos, é responsável por entre 44
e 57 por cento das emissões de gases com efeito de estufa.
A alimentação podia não ter o peso excessivo que tem na crise
climática. O GRAIN calcula que uma redistribuição mundial
de terras aos agricultores e aos povos indígenas, articulada
com políticas que fomentem o comércio local e que cortem
o uso de químicos, podem reduzir para metade as emissões
globais de gases com efeito de estua em poucas décadas e travar
significativamente a deflorestação.
Apenas com a reconstrução da matéria orgânica que foi sendo
extraída do solo graças a décadas de agricultura industrial, os
agricultores poderiam devolver ao solo um quarto de todo o
dióxido de carbono excedente que está agora na atmosfera.
Restituir a terra às comunidades indígenas e agrícolas é
também o modo mais eficaz de enfrentar o desafio de alimentar
uma população mundial em crescimento numa época de
caos climático. Os dados globais disponíveis mostram que
os pequenos produtores são mais eficientes na produção de
alimentos que as grandes plantações. Nas frações de terra
que ainda têm, os agricultores e as comunidades indígenas
ARTIGO TÉCNICO
Cultivo: 11 a 15%
É reconhecido de uma forma geral que o próprio cultivo contribui
11 a 15% para todos os gases com efeitos de estufa produzidos
globalmente. A maioria dessas emissões resultam do uso de
atributos industriais, como fertilizantes químicos e gasolina
para pôr a funcionar tratores e sistemas de irrigação, bem como o
excesso de dejetos gerados pela criação de gado intensiva.
Transporte: 5 a 6%
Como o sistema alimentar industrial contribui para a crise climática
continuam a produzir a maior parte dos alimentos do mundo
- 80% da comida nos países "em desenvolvimento"., segundo a
FAO. Mesmo no Brasil, uma potência da agricultura industrial,
as pequenas quintas ocupam um quarto das terras agrícolas,
mas produzem 87% da mandioca do país, 69% dos grãos (ou
feijão), 59% dos suínos, 58% dos produtos lácteos, 50% das
galinhas, 33,8% do arroz e 30% do gado.
A dupla urgência de alimentar o mundo e arrefecer o planeta
pode ser enfrentada. Mas nada será cumprido se os governos
continuarem a ignorar e a reprimir com violência as lutas dos
povos indígenas e agricultores pela posse dos seus territórios.
O sistema alimentar industrial funciona como uma agência de
viagens global. Cultura de alimentos para animais podem ser
cultivadas na Argentina e alimentar galinhas no Chile, que são
exportados para a China para processamento e eventualmente
comidos num McDonald's nos Estados Unidos. Grande parte
da nossa comida, cresceu sob condições industriais de lugares
distantes, viajou milhares de quilómetros antes de chegar aos
nossos pratos. Podemos estimar de uma forma conservadora
que o transporte de comida contribui para um quarto das
emissões de gases com efeitos de estufa globais relacionados
com transportes, ou 5 a 6% de todas as emissões globais de
gases com efeitos de estufa.
Congelamento e Revenda: 2 a 4%
COMO O SISTEMA ALIMENTAR INDUSTRIAL CONTRIBUI
PARA A CRISE CLIMÁTICA
A refrigeração é o eixo de vastos sistemas de compra globais de
modernos supermercados e cadeias de fast food. Onde quer que
o sistema alimentar industriar vá, as cadeias de refrigeração
também vão. Tendo em consideração que a refrigeração é
responsável por 15% de toda a eletricidade consumida no mundo
inteiro, e que os esvaziamentos de refrigerantes químicos são
uma grande fonte de gases com efeitos de estufa, podemos dizer
com confiança que a refrigeração de alimentos representa cerca
de 1,2% de todas as emissões de gases com efeitos de estuda. A
revenda de alimentos corresponde entre 1 e 2%.
Deflorestação: 15 a 18%
Resíduos: 3 a 4%
Antes de se começar a plantar, os bulldozers fazem o seu
trabalho. No mundo inteiro, a agricultura industrial é empurrada
para savanas, terras húmidas e florestas, lavrando sob enormes
quantidades de terra. A FAO diz que a expansão da fronteira
agrícola contribui para 70 a 90% da deflorestação global, sendo
pelo menos metade dessa percentagem para a produção de algumas
matérias-primas agrícolas para exportação. A contribuição da
agricultura para a deflorestação é assim responsável por 15 a 18%
das emissões globais de gases com efeitos de estufa.
O Sistema alimentar industrial desperdiça até metade de todos
os alimentos que produz, deitando-os fora na longa viagem entre
os agricultores e os vendedores, passando pelos processadores de
alimentos, e eventualmente pelos revendedores e restaurantes.
Uma grande parte deste desperdício apodrece em montes lixo e
aterros sanitários, produzindo quantidades substanciais de gases
com efeitos de estufa. Entre 3,5 e 4,5% do total das emissões de
gases com efeitos de estufa vêm do lixo, e mais de 90% destes são
produzidos por materiais originados dentro do sistema alimentar.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 45
ARTIGO TÉCNICO
Revolução na gestão
dos resíduos
Por Luís Veiga Martins, Diretor Geral da Sociedade Ponto Verde
Ao longo dos últimos 20 anos, Portugal foi palco de
uma revolução na área dos resíduos urbanos. O sucesso
conquistado, tanto na operacionalização de estratégias como
na criação de infraestruturas e de modelos de intervenção
mais profissionalizados, veio trazer inegáveis benefícios
ambientais, mas também económicos e sociais.
A par de uma significativa diminuição das emissões de gases
com efeito de estufa, tem-se verificado um grande crescimento
económico e criação de emprego. Hoje, sabe-se que o impacte
económico direto global das atividades de gestão de resíduos
urbanos é já de 357 milhões de euros (podendo crescer mais
26% no horizonte de 2020). Simultaneamente, a gestão de
resíduos urbanos, que gera hoje mais de 15.000 empregos
diretos e indiretos, permitirá, em 2020, um aumento de 22%
dos postos de trabalho.
No que diz respeito especificamente ao fluxo de embalagens, a
reciclagem de embalagens emprega diretamente quase 2.400
pessoas, é responsável por 71 milhões de euros no PIB e contribui
para diminuir as emissões de dióxido de carbono equivalente às
emissões geradas por mais de 15.000 voltas ao mundo de avião.
Mas tudo isto apenas é possível graças ao empenho de toda a
população. Num mundo com uma população em crescimento e
em que os recursos são escassos, é necessário limitar o impacto
ambiental, melhorando, simultaneamente, o bem-estar
económico e social. As pessoas estão cada vez mais conscientes
dessas mais-valias, o que se tem traduzido no aumento das
quantidades de resíduos separados e enviados para reciclagem.
Nas últimas duas décadas, mais de 6 milhões de toneladas de
resíduos de embalagens - o equivalente ao peso de 3 pontes
Vasco da Gama - foram encaminhadas para reciclagem
no âmbito do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de
Embalagens (SIGRE), também conhecido como Sistema Ponto
Verde, que existe para garantir a organização e gestão de
um circuito que assegura a retoma, valorização e reciclagem
dos resíduos de embalagens não-reutilizáveis, assim como a
diminuição do volume de resíduos depositados em aterro. Em
2014, por exemplo, as embalagens enviadas para reciclagem
no âmbito do SIGRE atingiram o valor mais elevado de sempre,
tendo sido encaminhadas 419 mil toneladas de embalagens
usadas recuperadas no fluxo urbano.
46 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
71% DA POPULAÇÃO SEPARA RESÍDUOS DE EMBALAGENS
As campanhas e os projetos desenvolvidos ao longo dos
últimos 20 anos foram determinantes para o aumento da
consciência ambiental da população portuguesa e tornaram a
reciclagem num hábito diário para 71% dos lares portugueses.
Atualmente, 7 em cada 10 lares fazem diariamente a separação
doméstica de embalagens usadas para reciclagem. Este é o
valor mais elevado desde que, em 2006, a Sociedade Ponto
Verde iniciou o estudo ”Hábitos e atitudes dos portugueses em
relação à separação de resíduos domésticos”. O mais recente
estudo, realizado em 2014 e 2015 através de observação
direta e de questionários, indica que 59% dos inquiridos faz
a separação doméstica de todas as tipologias de materiais
passíveis de serem separadas (separadores totais) e que 12%
dos lares separam alguns materiais (separadores parciais).
Pelo contrário, 29% ainda não tem qualquer prática atual de
separação de embalagens usadas. A maior adesão ao processo
de separação de embalagens usadas verificou-se no distrito
de Lisboa (79%), seguido do de Leiria (75%).
Estes números traduzem um aumento dos separadores
em Portugal, um crescimento que resulta do empenho
da Sociedade Ponto Verde e de todos os seus parceiros,
nomeadamente os Sistemas Municipais e os Municípios, que ao
longo dos anos têm vindo a informar os Portugueses sobre a
importância social, económica e ambiental da reciclagem. A
Sociedade Ponto Verde entende como fundamental atuar junto
do consumidor, despertando neste uma consciência de que as
suas atitudes individuais são imprescindíveis para se atingir a
sustentabilidade. Neste sentido, tem vindo a dotar a população
da informação necessária, motivando-a para incluir, nas suas
rotinas diárias, gestos ambientalmente corretos.
Esta informação é transmitida através de campanhas de
sucesso, como o “Recicla Mitos” que contou com caras
bem conhecidas do público, ou através de campanhas de
proximidade, como a Missão Reciclar, que contactou com 1,6
milhões de portugueses de Norte a Sul.
Fruto de todo este trabalho, atualmente, constatamos que
quase 60% das famílias portuguesas separa a totalidade dos
ARTIGO TÉCNICO
“7 em cada 10 lares fazem
diariamente a separação
doméstica de embalagens usadas
para reciclagem.”
seus resíduos de embalagens. Quando olhamos para a evolução
registada desde 2006, altura em que só cerca de 11% da
população o fazia, isso deixa-nos extremamente orgulhosos
do percurso realizado e dos resultados alcançados.
TRABALHO AINDA POR FAZER
Temos consciência de que o trabalho nunca está concluído,
pelo que iremos prosseguir com as ações de sensibilização.
Desde logo, é fundamental sensibilizar a população para que
não deixe de fazer aquilo que habitualmente já faz em casa,
ou seja, separar os seus resíduos de embalagem. Este gesto
é algo que todos poderemos fazer, tanto em nossas casas,
como fora do lar, no nosso local de trabalho ou em férias. E
as soluções estão disponíveis. Neste momento, são mais de
41.000 ecopontos espalhados por todo o País - o triplo das
caixas multibanco -, havendo uma cobertura de 100% do
território nacional. Por outro lado, nos últimos anos surgiram
novas soluções de ecopontos domésticos, de vários formatos
e cada vez mais acessíveis. Seja através da utilização de
ecopontos domésticos, de ecobags, da reutilização de caixas,
de recipientes, ou de sacos coloridos, o mais importante
é levar todas as embalagens usadas até ao ecoponto mais
próximo. É também necessário continuar a trabalhar para
eliminar algumas dúvidas que ainda possam subsistir. Por
exemplo, poucos consumidores sabem que as embalagens de
óleo de fritura, latas de atum e conservas, aerossóis, pacotes
de bebidas, champôs ou detergentes líquidos são totalmente
recicláveis desde que depositadas no contentor amarelo. No
caso do ecoponto verde, para além das embalagens de bebidas
de vidro, os frascos de compotas e de perfume também podem
ir para o ecoponto verde.
Por outro lado, para tornar o processo de reciclagem ainda
mais fácil e simples, a SPV e diferentes parceiros do SIGRE têm
vindo a trabalhar em conjunto. A harmonização da sinalética
para os 308 municípios portugueses é um projeto que está em
curso, tendo resultado de um trabalho desenvolvido por uma
equipa formada pela EGF, EGSRA - Associação de Empresas
Gestoras de Sistemas de Resíduos e a Sociedade Ponto Verde.
Esta iniciativa, agora concluída, é única a nível europeu e
um passo essencial para o esclarecimento do consumidor,
tornando o ato de separação mais simples e a informação
mais clara. Na sinalética atual ainda se identificam por
vezes regras contraditórias e terminologias diferentes.
Tendo consciência desta situação, foi desenvolvida uma nova
sinalética com o objetivo de mitigar as possíveis situações
geradoras de dúvidas e erros na separação dos resíduos e sua
deposição nos ecopontos quando nos referimos a diferentes
sistemas municipais. Com este projeto, Portugal afirma-
se como um exemplo na implementação de uma sinalética
universal nos ecopontos, independentemente do município
em que cada pessoa reside ou da fonte de informação
consultada. Ao longo dos próximos anos, esta nova sinalética
será progressivamente implementada em todos os ecopontos
espalhados pelo território nacional e nos diversos suportes de
comunicação, através dos sistemas de gestão de resíduos.
Este é apenas um dos exemplos de iniciativas que têm estado
em curso para contribuir para que em Portugal se possa
reciclar cada vez mais e melhor. A Sociedade Ponto Verde
continua firmemente comprometida com o desenvolvimento
de uma “sociedade de reciclagem” e acredita que, com o
apoio dos municípios, dos sistemas municipais e da sociedade
em geral, é possível alcançar os desafios do novo Plano
Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU) 2020.
COMO FUNCIONA O SIGRE (SISTEMA INTEGRADO DE
GESTÃO DE RESÍDUOS DE EMBALAGENS)?
O SIGRE aplica-se a todas as embalagens não reutilizáveis
colocadas no mercado nacional e todos os resíduos de
embalagens, com o objetivo de lhes dar um destino adequado:
reciclagem ou valorização energética.
As empresas embaladoras e importadoras que colocam as
suas embalagens no mercado são obrigadas por lei a assegurar
o destino final dos resíduos em que as suas embalagens se
transformam após o consumo. Para esse efeito, podem fazê-lo de
modo próprio – organizando um sistema individual que assegure
a recolha e a reciclagem – ou através de um sistema integrado
(onde se reúnem os mais diversos stakeholders com um papel
no ciclo de vida das embalagens), cuja gestão é confiada a uma
Entidade Gestora, de natureza privada e sem fins lucrativos,
à qual o Estado atribui uma licença para esse efeito, de que é
exemplo a Sociedade Ponto Verde (SPV). Assim, as empresas
que são clientes da SPV pagam um ecovalor, com o objetivo de
financiar a recolha e a triagem de resíduos de embalagem, uma
tarefa efetuada pelos Municípios diretamente ou através dos
Sistemas Municipais. Enquanto entidade sem fins lucrativos, os
recursos financeiros, obtidos essencialmente através do ecovalor,
destinam-se a apoiar as operações de recolha seletiva e triagem
dos resíduos de embalagens, através do Valor de Contrapartida
pago aos Sistemas Municipais.
julho/agosto 2015 | impulso positivo n. 28| 47
AGENDA
BOOTCAMP EM EMPREENDEDORISMO SOCIAL
Data: 26 a 28 de setembro; 16 a 18 de setembro
Local: Cascais; Porto
Organização: IES Social Business School
Info: O Bootcamp é uma formação intensiva de 48 horas que
oferece a possibilidade aos participantes de desenvolverem,
em equipa, o conceito e desenho de novas iniciativas de
Empreendedorismo Social, definirem os seus modelos
de negócio e planos de implementação e prepararem
comunicações fortes. Poderão candidatar-se todos aqueles
que desejam transformar uma ideia num projeto sustentável
e com impacto social, que resolva de raiz problemas
negligenciados da sociedade. As candidaturas devem ser
feitas através do site www.ies-sbs.org
“LISBOA CORRE PELA PAZ”
Data: 27 de setembro, 2015
Organização: Bimbo, Câmara Municipal de Lisboa, ADFA e a
Liga dos Combatentes
Local: Auditório do Montepio, na Rua do Ouro em Lisboa
Info: Chega a Portugal pela primeira vez a Bimbo Global
Energy Race. O primeiro evento desportivo da marca em
Portugal ocorre em Lisboa, em simultâneo com outras 21
cidades do mundo de 19 países diferentes, e tem como
objetivo promover o sentimento de bem-estar, o gosto pela
prática desportiva e os hábitos de consumo saudáveis. Por
cada participante inscrito, a Bimbo doa um kit de produtos
alimentares à Re-food, associação que visa eliminar
o desperdício alimentar. Mais informações em http://
globalenergyrace.com/.
48 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
VII ENCONTRO NACIONAL DO VOLUNTARIADO
EM SAÚDE
Data: 10 de outubro, 2015
Local: Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz
Organização: Federação Nacional de Voluntariado em
Saúde (FNVS)
Info: Dedicado ao tema "O voluntariado, promotor de
desenvolvimento", o Encontro tem como objetivo reunir
os voluntários que atuam no campo da saúde e similar,
"em prol da humanização, do bem-estar dos utentes, da
qualidade de vida e do desenvolvimento", bem como divulgar
projetos e organizações "que se revelem sérios contributos
de cidadania e de solidariedade". Inscrições até dia 25 de
setembro no site www.voluntariadoemsaude.org.
3ª CORRIDA MONTEPIO “CORREMOS UNS
PELOS OUTROS”
Data: 25 de outubro, 2015
Local: Terreiro do Paço, Lisboa
Organização: Montepio
Info: A 3ª Corrida Montepio pretende proporcionar um dia
especial, marcado pelo convívio e pela animação pensada
para todas as idades, com música ao longo dos percursos,
diversões para os mais pequenos e muita alegria. Estarão
disponíveis três categorias de percursos: a Corrida de 10
quilómetros, a Caminhada de 5 quilómetros e a Corrida
Pelicas, dedica às crianças. O valor das inscrições é de 5
euros até dia 30 de setembro, 8 euros até dia 22 de outubro
e na véspera e dia do evento será de 15 euros. O valor das
inscrições reverte para a Liga Portuguesa Contra o Cancro.
Mais informações em www.corridamontepio.pt.
© Cláudia Costa
FOTOFILANTROPIA
A Srª de Vila Chã que carrega às costas a comida para os seus burros, representa através deste acto irónico
a importância e responsabilidade do ser humano na manutenção do meio que o rodeia. Neste caso o Burro de
Miranda que se encontra em perigo de extinção.
Cláudia Costa
50 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
52 | impulso positivo n.28 julho/agosto 2015
Download

fotofilantropia - Impulso Positivo