Nome: Português Nº: 3º ano Tópico Modernismo-Brasil Wilton Turma: Nov/09 MODERNISMO NO BRASIL I NO VESTIBULAR Os grandes concursos vestibulares tem evitado focar suas questões em aspectos meramente teóricos e/históricos ligados aos movimentos literários. O enfoque principal tem sido dado aos textos dos escritores de cada estética. As três questões a seguir têm como base um texto de Mário de Andrade. Reveja a importância desse escritor no contexto da primeira fase do Modernismo brasileiro antes de ler o texto. Preste atenção em algumas propostas modernistas, referidas indiretamente na carta de Mário de Andrade e para alguns neologismos: “Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos ‘propositais’”; “As palavras são postas de propósito pra não gostar”; “Carece botar um pouco de insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito bem-feitinha”; “desensarado”; “trabalhandinho”. Texto para as questões de 1 a 3 S. Paulo, 13-XI-42 Murilo São 23 horas e estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno. Tomei com uma gripe na semana passada, depois, desensarado, com uma chuva, domingo último, e o resultado foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais esta semana toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze dias que não faço nada, com o desânimo de apósgripe, uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei trabalhandinho por aí. (…) Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei, gostei da sua habilidade em pegar todos os casos “propositais”. Sim senhor, seu poeta, você até está ficando escritor e estilista. Você tem toda a razão de não gostar do “nariz furão”, de “comichona”, etc. Mas lhe juro que o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente. As palavras são postas de propósito pra não gostar, devido à elevação declamatória do coral que precisa ser um bocado bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante. Carece botar um pouco de insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito bem-feitinha.(…) De todas as palavras que você recusou só uma continua me desagradando “lar fechadinho”, em que o carinhoso do diminutivo é um desfalecimento no grandioso do coral. Mário de Andrade, Cartas a Murilo Miranda. 1) “… estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão pequeno.” No trecho acima, o termo grifado indica que o autor da carta pretende a) revelar a acentuada sinceridade com que se dirige ao leitor. b) descrever o lugar onde é obrigado a ficar em razão da doença. c) demarcar o tempo em que permanece impossibilitado de sair. d) usar a doença como pretexto para sua voluntária inatividade. e) enfatizar sua forçada resignação com a permanência em casa. Alternativa E Note que o advérbio “honestissimamente” refere-se ao verbo “estou” e sugere o modo como o emissor da carta considera a sua estada em casa. A permanência dessa estada é encarada como “honesta” (e forçada) porque o emissor da carta está doente. 2) No texto, as palavras “sinusitezinha” e “trabalhandinho” exprimem, respectivamente, a) delicadeza e raiva. b) modéstia e desgosto. c) carinho e desdém. d) irritação e atenuação. e) euforia e ternura. Alernativa D O substantivo “sinusitezinha” sugere irritação do enunciador da carta. Esse diminutivo utilizado com o gerúndio “trabalhandinho”, na carta, atribui ao trabalho um ritmo mais moroso e lento do que o normal, uma vez que Mário estava gripado. 3) No trecho “…o gosto consciente aí é da gente não gostar sensitivamente”, apresenta-se um jogo de idéias contrárias, que também ocorre em a) “dores e tratamento atrozes”. b) “reservas a palavras do poema”. c) “insatisfação no prazer estético”. d) “a coisa muito bem-feitinha”. e) “o carinhoso do diminutivo”.Q Alternativa C O fragmento transcrito na questão apresenta uma antítese entre “gosto consciente” e o ato de “não gostar sensitivamente”. Essa mesma relação de oposição se dá em “insatisfação no prazer estético”, uma vez que Mário defende que, numa obra, há momentos em que as “palavras são postas de propósito para não gostar”, isto é, o escritor pode explorar efeitos estéticos mesmo a partir de uma palavra “bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante”. Aproveite o poema “O anel de vidro”, de Manuel Bandeira, para revisar a importância desse poeta para a literatura brasileira. O poema “Teresa”, releitura de Bandeira para o texto romântico de Castro Alves, serve perfeitamente a esse propósito. O ‘adeus’ de Teresa A vez primeira que eu fitei Teresa, Como as plantas que arrasta a correnteza, A valsa nos levou nos giros seus E amamos juntos E depois na sala ‘Adeus’ eu disse-lhe a tremer co'a fala E ela, corando, murmurou-me: ‘adeus’. Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . . E da alcova saía um cavaleiro Inda beijando uma mulher sem véus Era eu Era a pálida Teresa! ‘Adeus’ lhe disse conservando-a presa E ela entre beijos murmurou-me: ‘adeus!’ Passaram tempos sec'los de delírio Prazeres divinais gozos do Empíreo ... Mas um dia volvi aos lares meus. Partindo eu disse – ‘Voltarei! descansa!...’ Ela, chorando mais que uma criança, Ela em soluços murmurou-me: ‘adeus!’ Quando voltei era o palácio em festa! E a voz d'Ela e de um homem lá na orquesta Preenchiam de amor o azul dos céus. Entrei! Ela me olhou branca surpresa! Foi a última vez que eu vi Teresa! E ela arquejando murmurou-me: ‘adeus!’ (ALVES, Castro. Obra completa. 2 ed. Rio de Janeiro: Aguilar, 1966). Teresa A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas. (BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. 20 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 4) Leia o poema abaixo, “O anel de vidro”, de Manuel Bandeira. Aquele pequenino anel que tu me deste, Ai de mim — era vidro e logo se quebrou… Assim também o eterno amor que prometeste, Eterno! era bem pouco e cedo se acabou. Frágil penhor que foi do amor que me tiveste, Símbolo da afeição que o tempo aniquilou — Aquele pequenino anel que tu me deste, Ai de mim — era vidro e logo se quebrou… Não me turbou, porém, o despeito que investe Gritando maldições contra aquilo que amou. De ti conservo na alma a saudade celeste… Como também guardei o pó que me ficou Daquele pequenino anel que tu me deste. Nesse texto, A) percebemos uma ironia típica dos modernistas ao desqualificar o amor romântico. B) existe uma revisão crítica da poesia de temática amorosa vinda do Romantismo. C) a temática amorosa (o fim do amor) é tratada com frieza e distanciamento. D) há lirismo sentimental, presente em boa medida pela retomada da quadrinha popular “O anel que tu me deste / Era vidro e se quebrou […]”. E) encontra-se um poema tipicamente romântico por retomar a conhecida quadrinha popular “O anel que tu me deste / Era vidro e se quebrou […]”. Alternativa B O poema a seguir, retirado da obra Libertinagem, publicada em 1930, traz uma das marcas da poesia bandeiriana: a infância revivida no tempo presente. Leia o poema e o divida em dois tempos: o passado e o presente. Reforce a ideia de que o tempo verbal nesse poema é primordial para a construção de seu sentido: “estavam”, “dançavam”, “cantavam” etc. – fazem referência ao passado do eu lírico (momento em que os familiares estavam dormindo realmente); “estão” – faz referência ao presente do eu lírico (momento em que os familiares estão mortos). Depois, retome algumas características do Romantismo que podem ser relacionadas a “Profundamente” como o fato de o poema ser “marcadamente autobiográfico, já que apresenta referências à família do escritor” e de haver “a presença de elementos da cultura popular — festa de São João —, que são valorizados no texto”. Destaque também que “não há no poema o chamado “escapismo” romântico, nem a idealização do passado, mas sim a consciência de que este não volta mais”. As questões 5 e 6 referem-se ao poema de Manuel Bandeira a seguir. Profundamente Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam errantes Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam todos os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente **** Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. 5) Apesar de ser um poema modernista, esse texto de Bandeira apresenta alguns traços herdados do Romantismo. Sobre tais traços, considere as seguintes afirmações: I. O poema é marcadamente autobiográfico, já que apresenta referências à família do escritor. II. No poema, há a rememoração um tanto saudosista da infância do poeta, vista como um período de grande felicidade. III. No poema, há a presença de elementos da cultura popular — festa de São João —, que são valorizados no texto. Está(ão) correta(s): A) B) C) D) E) apenas I I e II I e III apenas III todas. Resposta: C 6) Esse poema, contudo, não é propriamente romântico, não só porque o autor não pertence historicamente ao Romantismo, mas, sobretudo, porque A) o poema faz uma menção ao universo urbano (“o ruído de um bonde”), o que o afasta da preferência dos românticos pela natureza. B) as pessoas de que o poeta se lembra estão mortas (“Dormindo / Profundamente”). C) não há no poema o chamado “escapismo” romântico, nem a idealização do passado, mas sim a consciência de que este não volta mais. D) o poema não possui nenhum traço emotivo explicíto, o que o afasta da poesia romântica, que é marcadamente emotiva e sentimental. E) não há, no poema de Bandeira, a presença do amor, que é um tema recorrente na poesia romântica. Resposta: C Utilize a questão proposta pela UNIFAL a seguir para revisar alguns conceitos como ode, romance burguês e elegia. O site http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/ traz um excelente dicionário de termos literários. 7) O homem e a morte [...] O homem já estava acamado Dentro da noite sem cor. Ia adormecendo, e nisto À porta um golpe soou. [...] - Quem bate? ele perguntou. - Sou eu, alguém lhe respondeu. - Eu quem? torna. - A Morte sou. [...] Mas a porta, manso, manso, Se foi abrindo e deixou Ver - uma mulher ou anjo? Figura toda banhada De suave luz interior. [...] - Tu és a Morte? pergunta. E o Anjo torna: - A Morte sou! Venho trazer-te descanso Do viver que te humilhou. - Imaginava-te feia, Pensava em ti com terror... És mesmo a Morte? ele insiste. - Sim, torna o Anjo, a Morte sou, Mestra que jamais engana, A tua amiga melhor. [...] Melhores poemas de Manuel Bandeira. Manuel Bandeira. O trecho acima foi extraído do poema “O homem e a morte” que, segundo as concepções de gêneros e subgêneros literários A) é uma ode, forma poética medieval que incorpora a questão lírica ao gênero narrativo e remete a temas ligados à vida heróica. B) remete ao romance burguês, subgênero narrativo em que o herói se encontra sempre em tensão com a sociedade, que mostra as deficiências da burguesia como sistema social e econômico. C) atualiza o romance, forma literária medieval, em que a oralidade e a dramatização compõem uma poesia de caráter narrativo. D) é uma elegia, uma vez que apresenta um canto fúnebre em tom melancólico e lamentoso, que se aproxima do gênero didático-moralista. Resposta: C As questões a seguir, propostas pela UEMG, partem de um poema de Manuel Bandeira e estabelecem um diálogo do escritor modernista com outra estética literária, o Romantismo. Aproveite para comparar e revisar as principais características do Parnasianismo, Romantismo, Barroco, Classicismo e Realismo-Naturalismo, citados nas alternativas da questão 9. Leia o poema de Manuel Bandeira, a seguir, para responder às questões 8 e 9. DESENCANTO “Eu faço versos como quem chora De desalento... de desencanto... Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente ... Tristeza esparsa... remorso vão ... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração E nestes versos de angústia rouca Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. - Eu faço versos como quem morre. QUESTÃO 8 Analisando forma e conteúdo deste poema, só NÁO É CORRETO afirmar que A) o tom confessional do eu-lírico predomina em todo o texto. B) o sujeito-poético estabelece uma interlocução com um possível leitor. C) o recurso da sinestesia é um dos componentes de linguagem deste poema. D) a utilização das reticências sinaliza uma postura irônica do eu-lírico diante da vida. Resposta: D QUESTÃO 9 Sobre marcas de estilos ou tendências literárias que se apresentam nesse poema, só é pertinente o comentário da alternativa: A) Embora modernista, o texto evoca, sob a forma de um soneto, a temática amorosa idealizante, predominante no Parnasianismo. B) O texto de Bandeira reúne algumas tendências de conteúdo romântico, trazendo, também, traços modernistas, especialmente na dicção e na inovação formal do soneto. C) O poema é predominantemente marcado pelo jogo de contrários, muito próprio da tendência barroca. D) O recurso metalingüístico utilizado nos versos desse poema revela traços do Classicismo e do Realismo-Naturalismo. Resposta: B Utilize a questão 10 para verificar que, embora Bandeira seja um escritor que transgride com a idealização romântica do amor em seus textos, há em sua produção poemas em que ele dialoga com um romantismo típico dos autores do século XIX. QUESTÃO 10 Em todas as alternativas a seguir, foram citados versos que, na linguagem e no conteúdo, rompem com a tendência romântica da idealização amorosa, EXCETO em: A) “Vou-me embora pra Pasárgada (...) / Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei (...)” B) “(...) Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não.” C) “A tarde agoniza / Ao santo acalanto / Da noturna brisa / E eu, que também morro / Morro sem consolo / Se não vens, Elisa! (...)” D) “Volúpia da água e da chama... A todo momento o vejo ... Teu corpo... a única ilha No oceano do meu desejo...” Resposta: C Diferentemente do que ocorre na questão 10, a número 11, proposta pela banca da UFAC, trabalha com um poema tipicamente modernista de Manuel Bandeira. Perceba os aspectos formais que fazem desse texto uma produção que segue o “programa poético do Modernismo”: significação poética que provém da sugestão sonora (imitação do barulho do trem) e utilização de expressões comuns na fala popular (“Vige” em lugar de “Virgem”, por exemplo). 11) Trem de ferro “Café com pão Café com pão Café com pão Vige Maria que foi isto maquinista?” (Manuel Bandeira) I – A significação do trecho provém da sugestão sonora. II – O poeta utiliza expressões da fala popular. III – A temática e a estrutura do poema contrariam o programa poético do Modernismo. Marque as associações corretas. (A) Se I e II forem corretas. (B) Se I, II e III forem corretas. (C) Se I, II e III forem incorretas. (D) Se I for incorreta e II e III corretas. (E) Se I e II forem incorretas e apenas a III correta. Resposta: A A questão 12 retoma vários aspectos que marcaram a primeira fase do Modernismo brasileiro (com exceção da alternativa “e”). Revise algumas das principais características desse movimento: • Atitude crítica dos artistas em relação às verdades estabelecidas pela arte produzida até então, sobretudo pelos românticos e pelos parnasianos. • • • • • • • • • Liberdade formal (versos livres e brancos, coloquialismos, menor uso de formas fixas poéticas, incorporação do “erro” nas produções, entre outros). Incorporação de elementos prosaicos e “não-elevados” à literatura. Metalinguagem. Intertextualidade, com ênfase na paródia. Predomínio da poesia. Tentativa da criação de uma arte brasileira genuína. Fusão entre prosa e poesia. “Devoração” da cultura européia. Rompimento com a cultura tradicional.. Não se esqueça de relembrar que o regionalismo brasileiro não surgiu no Modernismo. Essa tendência surgiu durante o Romantismo. 12) A afirmativa incorreta deve ser assinalada: (A) A primeira fase do nosso Modernismo caracterizou-se por um aspecto demolidor e combativo. (B) O movimento modernista brasileiro tem a Semana de Arte Moderna como marco cronológico. (C) A Semana de Arte Moderna aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo. (D) Um dos objetivos do Modernismo brasileiro foi a formação da consciência criadora nacional. (E) A literatura regionalista surgiu com o Modernismo. Resposta: E A questão proposta a seguir trata do capítulo IX de Macunaíma, a “Carta pras Icamiabas”. Muitos especialistas já abordaram essa importante passagem da obra de Mário de Andrade. A professora Telê P. Ancona Lopez afirma que ela é “ponto alto do texto e da prosa modernista”; o professor e crítico Alfredo Bosi defende que a “carta” parodia o estilo parnasiano de escrever: “A ‘Carta pras Icamiabas’, tão longa e pontilhada de intenções paródicas, é a expressão complexa dessa irrisão do academicismo bandeirante, de suas prosápias e sestros, fingindo o autor uma percepção selvagem, de fora; e aqui o modelo dos cronistas vernáculos é, ao mesmo tempo, imitado e invertido.”(ANDRADE, Mário de. Macunaíma/Mário de Andrade; edição crítica, Telê Porto Ancona Lopez. (1996), S. Paulo: Scipione Cultural, p. 179). Leia com atenção o fragmento apresentado na questão e retome uma das defesas dos modernistas da fase heróica: o uso de uma língua escrita que não fosse tão distante da falada ou, como escreveu Manuel Bandeira, “língua errada do povo/ Língua certa do povo/ Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil”. 13) Leia a passagem da Carta pras Icamiabas da obra Macunaíma de Mário de Andrade (cap. IX) . Às mui queridas súbditas nossas, Senhoras Amazonas. Trinta de maio de Mil Novecentos e Vinte e Seis, São Paulo. Senhoras: Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura dessa missiva. Cumprenos, entretanto, iniciar estas linhas de saudade muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo – a maior do universo, no dizer de seus prolixos habitantes – não sois conhecidas por “ icamiabas”, voz espúria, sinão que pelo apelativo de Amazonas; e de vós, se afirma, cavalgardes ginetes belígeros e virdes da Hélida Clássica; e assim sois chamada. Considerando-se esse excerto do romance de Mário de Andrade, Macunaíma – o herói sem nenhum caráter, pode-se afirmar que: (A) A linguagem utilizada no capítulo IX, em que consta a carta, é a mesma utilizada nos demais capítulos. (B) A linguagem reverencia elementos linguísticos da fala Portuguesa, característica referendada ideologicamente pelo Movimento Modernista, do qual o autor é um dos representantes. (C) A linguagem retoma aspectos discursivos e ideológicos da crônica de viagem A Carta do Achamento, de Pero Vaz de Caminha. (D) Inserida no interior do romance, a linguagem utilizada na Carta pras Icamiabas reveste-se de intenções irônicas sobre o distanciamento entre a língua escrita e a língua falada. (E) Inserida no interior do romance, a linguagem utilizada retoma aspectos estilísticos da estética barroca. Resposta: D 14) A variedade folclórica descrita em Macunaíma propõe o reconhecimento de um Brasil ainda em formação, por meio de um personagem que se tornará símbolo, em nossa literatura, de um processo do qual: a) induzirá a uma compreensão reduzida de nossas potencialidades continentais. b) nos diminuirá eternamente diante das nações que nos colonizaram. c) apenas reforçará a pobreza das nossas fontes culturais mestiças. d) nos mergulhará num campo de possibilidades impressionantes de composição étnica e cultural. e) reforçará todos os preconceitos que herdamos dos colonizadores. Resposta: C Leia o texto a seguir responda às questões 15 e 16. Máquina-de-escrever1 B D G Z, Remintom. Pra todas as cartas da gente. Eco mecânico. De sentimentos rápidos batidos. Pressa, muita pressa. Duma feita surrupiaram a máquina-de-escrever do meu mano. Isso também entra na poesia Porque ele não tinha dinheiro para comprar outra. (...) (ANDRADE, Mário. Poesias completas. 4.ed. São Paulo: Martins, 1974,p.70-71. In: Maia, João Domingues. Literatura: textos & técnicas. São Paulo: Ática, 1995, p.170.) Questão 15 Explique por que o conteúdo dos três últimos versos do poema exemplifica a proposta modernista de dessacralização da arte. Porque a arte, para os modernistas, deveria contemplar também os elementos mais prosaicos e banais da vida, os elementos do cotidiano. Além disso, com base nas influências que os artistas modernistas receberam das vanguardas européias, a arte deveria admitir em sua composição a inserção de elementos que não são controlados racionalmente pelo poeta. Questão 16 Destaque o verso que possui palavras pertencentes ao registro coloquial e reescreva-o, substituindo essas palavras por outras pertencentes ao padrão culto da língua. “Duma feita surrupiaram a máquina-de-escrever do meu mano”. Em uma ocasião, roubaram a máquina de escrever de meu irmão. Antes de iniciar a questão 17, retome as principais características da obra de Oswald de Andrade, um dos primeiros artistas a introduzir no Brasil as idéias propostas pelas vanguardas européias. Retome também o conceito de “vanguarda” – do francês avant-garde (“aquele que marcha na frente) – as vanguardas foram um conjunto de tendências artísticas que expressaram as visões de artistas inovadores antes, durante e depois da I Guerra Mundial (1914-1918). As correntes que tiveram mais expressão na Europa foram: o Futurismo, Cubismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo. Artistas modernistas brasileiros como Anita Malfatti e Oswald de Andrade contribuíram para que essas correntes artísticas tivessem forte influência sobre a arte que se formava no Brasil no início do século XX. Brasil O Zé Pereira chegou de caravela E preguntou pro guarani da mata virgem - Sois cristão? - Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte Teterê tetê Quizá Quizá Quecê! Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha Tomou a palavra e respondeu - Sim pela graça de Deus Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum! E fizeram o Carnaval ANDRADE, Oswald de. Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade. São Paulo: Globo, 1991, .41. Questão 17 O elemento do texto que apresenta a mesma função sintática do termo "zonzo" (verso 07) é A) B) C) D) E) de caravela (verso 1). pro guarani (verso 2). da mata virgem (verso 2). da fornalha (verso 7). pela graça Deus (verso 9) . Resposta: C Questão 18 Como o nos permite compreender, a relação do europeu com as populações nativas do Novo Mundo se pautou, dentre outros fatores, em critérios de natureza religiosa. Nesse sentido, a empresa colonial implicou a ampla conversão dos indígenas à fé cristã, o que basicamente se deu por intermédio A) B) C) D) F) dos cabildos. das mitas. das missões. das encomiendas. dos ayllus. Resposta: C Questão 19 O poema de Oswald de Andrade encena a base da formação social brasileira, referindose ao carnaval como símbolo da miscigenação e marca da nacionalidade. Com base em tal proposição e no poema, é CORRETO afirmar que A) a construção da identidade nacional brasileira foi um projeto das elites coloniais para garantir a unidade do território, indicado pela caravela portuguesa, no primeiro verso, e pela rima em A/B/A/B. B) a miscigenação não teve importância ideológica, a partir do século XX, para a explicação da convivência harmônica do povo brasileiro, chamada de democracia racial, cantada no poema pelas onomatopéias do sexto verso. C) o verso sete aponta para o trabalho escravo, no qual se origina a inserção precária de grande parte da população negra na economia e na sociedade atuais. D) o desmatamento da Amazônia, ocorrido nos dias atuais, é denunciado no poema ao referir-se à mata virgem e aos guaranis, com o seu canto de morte retirado do poema indianista de Castro Alves. E) a extensão do território nacional foi fixada pelo carnaval, preconizado pela miscigenação e interpretado no poema como a razão da conquista e cristianização dos indígenas pelos portugueses. Resposta: C