Territórios e Territorialidades na Amazônia: A recente história ambiental da região do baixo rio Tocantins – reflexão a propósito de um caso particular de estudo Adriana Simone do Nascimento Barata Resumo: O presente artigo pretende fazer uma abordagem sobre as novas territorialidades dinamizadas pela construção do projeto da UHT na região do baixo rio Tocantins – Sudeste paraense, direcionando o nosso olhar para a realidade socioambiental das áreas protegidas do Mosaico Tucuruí. Palavras-chave: Territorialidades; História; Amazônia. Abstract: This article intends to approach the new territorialities streamlined by the construction of the UHT project in the lower Rio Tocantins - Southeast Pará, directing our attention to the social and environmental reality of the protected areas of the Tucuruí Mosaic. Keywords: Territoriality; History; Amazon. Revista Estudos Amazônicos • vol. XI, nº 2 (2014), pp. 210-234 Relicários As memórias da infância são aquelas que nos acompanham por toda a vida, são com elas e através delas que vamos estabelecendo as conexões e experiências humanas com o mundo das coisas, da cultura, nossas territorialidades. Elas são como relicários. O universo paraense é recheado de poetas e escritores que tem tradição em contar suas memórias da infância envolvidas pela cultura do mundo Amazônico, em forma de poesias, crônicas, contos, ensaios, romances, teses, são eles: Max Martins, Ruy Barata, Benedito Nunes, Eneida de Moraes, João de Jesus Paes Loureiro, dentre tantos outros da literatura paraense. Para comunicar das nossas próprias experiências, e apesar de também termos nascido e vivido durante a infância em meio às formações florestais, caminhando desde cedo com os pés no chão pelo solo arenoso da Mesorregião Nordeste paraense e micro região do Salgado (Vigia e São Caetano de Odivelas) onde nosso avô/avó materno(a) (caboclos amazônicos) tinham pequenas propriedades de terras para agricultura de subsistência. Foram eles que desde cedo nos ensinaram o valor do trabalho, do cultivo da mandioca e sua produção na casa de farinha, da coleta dos frutos tropicais nos quintais frutíferos, da pesca do peixe nos inúmeros e emaranhados braços de rios que cortam a microrregião e da coleta dos mariscos em seus mangues. Um tempo em que o lúdico esteve consoante ao trabalho árduo dos adultos, mas como diria Eneida de Moraes,1 o banho de cheiro também nos preparava para o Círio de Nazaré em Vigia; os igarapés de águas correntes claras e límpidas de São Caetano que eram úteis ao descanso da mandioca também serviram como um primeiro ambiente onde aprendemos a nadar de forma livre. Aos poucos fomos rompendo concretamente com “aquele” mundo infantil e nos introduzindo de forma permanente à escolarização na cidade Revista Estudos Amazônicos • 211 de Belém (por volta dos sete anos de idade), uma espécie de retorno ao começo, uma vez que foi na capital que nascemos. A morte precoce e acidental de um tio2 na Usina Hidrelétrica de Tucuruí no início dos anos de 1980 se tornaria o evento que mudaria a vida da minha família de origem (e a minha também), minha avó, avô, tios e tias em 1983 retornaram para Vigia. Enfim, muito de experiências fomos acumulando ao longo das vivências por Belém e pelo interior amazônico (na fase infantil), por vezes convivendo com a riqueza, outras a conviver com a pobreza, mas como nos comunica George Agostinho Baptista – filósofo português que considera ser a Liberdade a mais importante qualidade do ser humano a pedra onde nós damos a topada, tanto serve para nos fazer cair como para pôr o pé em cima... para ver mais longe! É neste contexto que iniciamos este artigo, e teremos como foco o tema das territorialidades construídas/desconstruídas na microrregião de Tucuruí, onde realizamos um estudo de caso sobre as áreas protegidas do Mosaico Tucuruí no âmbito do nosso Mestrado acadêmico (anos 2010/2011). Introdução Alguns estudos ambientais na atualidade estão direcionados às áreas protegidas, estas constituem objeto de preocupação e interesse da parte de diversos setores acadêmicos que se voltam para as diferentes abordagens científicas e temas correlacionados à questão da criação, gestão/manejo, turismo, infraestruturas e conflitos nessas áreas. Subjacente às discussões desses territórios protegidos estão as análises voltadas à ecologia política, uma tarefa difícil de conjecturar devido a complexidade ecológica dos 212 • Revista Estudos Amazônicos sistemas naturais e sócio-político-culturais aos quais estes espaços estão inseridos. O debate acadêmico sobre as áreas protegidas evoluiu na medida em que cresceu a preocupação política internacional ambientalista com a exploração ilimitada dos recursos naturais e o uso sustentável dos mesmos, dando ênfase para a necessidade de se compatibilizar valores humanos com os ecológicos, reconhecendo a condição humana como natural evolutiva, ou seja, o homem é parte da natureza, não está dissociado desta. Esta concepção corroborou-se nos encontros políticos internacionais realizados em diversas regiões e cidades do mundo sobre a demarcação e institucionalização de territórios para fins de proteção e conservação da biodiversidade e dos ecossistemas naturais e da melhor qualidade de vida das populações residentes nessas áreas, a exemplo de Seattle (1962), Yellowstone (1972), Bali (1982), Caracas (1992) e Durban (2003). Debates que se realizaram no âmbito da IUCN – União Internacional de Conservação da Natureza. Segundo Miguel Ángel Troitiño Vinuesa3 na atualidade em contexto europeu, os países desenvolvidos estão a preocupar-se com a nova ordem ecológica que se insere nos processos de desenvolvimento, ou seja, as áreas protegidas estão a ser criadas para a dinamização do meio rural, em zonas que se caracterizam pelo baixo nível de desenvolvimento, ou por estarem sujeitas a fortes pressões turísticas e ainda desenvolverem relações de conflito com as demandas do Estado e seus estatutos. As premissas teóricas europeias acreditam que as áreas protegidas podem funcionar como instrumentos legais de ordenamento do território para a proteção do meio ambiente e desenvolvimento rural e devem ser entendidas na perspectiva da superação de modelos que sacralizam a natureza e satanizam toda intrusão antrópica para fins de dinamização social e econômica, embora considerando que as relações que se estabelecem entre o ambiente natural e o meio social, ainda são condicionadas pela contradição que se Revista Estudos Amazônicos • 213 apresenta de forma multifatorial e subjaz às relações homem–meio– natureza. Nos países em desenvolvimento, há um processo em curso que diz respeito às resistências referentes ao controle territorial imposto pelo Estado e a seus mecanismos limitadores dos “direitos” das comunidades residentes nas áreas protegidas. Para além das condições socioeconômicas e culturais em que as comunidades estão inseridas, existe também uma multiplicidade de fatores subjacentes ao processo de gestão e manejo das áreas, como: a limitação jurídica e os interesses da gestão não coadunados com os interesses das comunidades locais; os conflitos agrários relacionados a não regularização fundiária; o contrabando de espécies faunísticas e florísticas; a precária fiscalização e infraestrutura dos órgãos gestores; a insuficiente quantidade de técnicos para o trabalho de gestão e aplicação de projetos de manejo; a exploração ilegal dos recursos florestais; as dificuldades de formação dos Conselhos Gestores, a não aprovação e aplicação de planos de manejo. Para comunicar da história e das experiências vividas na Amazônia brasileira, fizemos a escolha de uma abordagem sobre a recente dinâmica que vem se estabelecendo na região do baixo rio Tocantins, onde podemos localizar o Mosaico de áreas protegidas demarcadas no início do século XXI (ano 2002). Estas estão na influência do lago da Usina hidrelétrica de Tucuruí e foram criadas para fins de Ordenamento do Território e controle dos conflitos sócio espaciais que se desenvolveram após a construção da barragem da UHT naquela microrregião. Onde as comunidades tradicionais de pequenos agricultores – lavradores, pescadores artesanais, caçadores, coletores e trabalhadores migrantes atingidos e não absorvidos pela construção do projeto, passaram a entrar em choque com os grupos Empresariais e Estatais que se estabeleceram na região para fins capitalistas (Mais-valia), ou seja, para a exploração e 214 • Revista Estudos Amazônicos potencialização dos recursos hídricos, planejados para subsidiar com a energia elétrica os projetos de exploração mineral, pecuários e agrícolas no âmbito do PGC – Programa Grande Carajás. A antiga e recente dinâmica socioambiental do baixo Tocantins Nos séculos XVII e XVIII a região atual do baixo Tocantins era configurada por quedas d᾿ águas (cochoeiras) chamadas de Itaboca, difíceis de serem transpostas serviram durante muito tempo de canal de ligação entre o Norte e o Centro-Oeste brasileiro, de ponto de parada para as expedições bandeirantes e dos jesuítas que desbravaram o lugar a procura do ouro, escravos fugidos e da domesticação de indígenas. Alcobaça foi primeiro nome dado àquela localidade mais tarde denominada de Tucuruí. No início do século XX o lugar serviu de entreposto comercial para dinamização da economia da borracha e da castanha-do-pará, produtos exportados à Europa e Estados Unidos. A exploração da borracha e da castanha já neste tempo estimulou o afluxo de migrantes nordestinos que se embrenhavam na floresta para o trabalho da coleta desses produtos, na região de Marabá, Itupiranga e Tucuruí.4 Na segunda metade do século XX, pesquisas apontaram o trecho da antiga Itaboca e sua potencialidade para a produção da hidroeletricidade. Desde então a localidade passou a ser alvo de intensas transformações territorial. O quadro geohistórico que se estabeleceu ao longo dos anos no âmbito da execução do projeto da Usina de Tucuruí desenhou na base espacial da superfície que restou após o enchimento da imensa albufeira (lago),5 um cenário socioambiental de deslocados ambientais e de conflitos ainda mal definidos, pouco estudados e complexos, atualmente Revista Estudos Amazônicos • 215 configuradas como Reserva Sustentáveis – Alcobaça e Pucuruí-Ararão. Onde, a partir dos anos de 1995 uma parcela da população remanescente do projeto hidráulico, de forma abrupta e precária passou a ocupá-las para fins de moradia e reprodução sociocultural, particularmente nas “ilhas” de Alcobaça, uma região acessada somente por embarcação fluvial de pequeno porte, por isso isolada do ponto de vista geográfico no contexto microrregional. A RDS Alcobaça até 2011 dividia-se em 12 comunidades chamadas de: São Pedro, São Benedito, Mocaba, Lago Azul, Piquiá, Cajazeinha, Água Fria, Cajazeira, Acapú. Esta foi objeto de estudo e pesquisa no âmbito do nosso Mestrado (anos 2010 e 2011 – tempos do trabalho de campo), onde procuramos investigar à época o fenômeno dos desmatamentos na RDS Alcobaça, embora a lei SNUC6 venha a proibir a exploração predatória de recursos naturais em Reservas Sustentáveis, o problema existia e constituía um fator de risco para a área, onde a densidade populacional aumentou a partir de 1995, quando efetivamente começou a ser ocupada.7 Sobre políticas públicas e conflitos nos espaços protegidos Os conflitos que envolvem populações e autoridades do governo nas áreas protegidas não são fenômenos recentes. Podemos citar o exemplo emblemático do Parque Yellowstone, que final do século XIX, foi palco de tensos conflitos entre indígenas e o Estado. Essas populações tradicionais depois de terem vivido em harmonia com a natureza durante alguns séculos entraram em choque com os militares do governo que passaram a utilizar a força para a desocupação do Parque, uma vez que a wilderness dotada de exuberância (e a bem da verdade ainda é) deveria ser preservada e proibida da intrusão humana para fins de permanência como 216 • Revista Estudos Amazônicos previa o estatuto. Um paradigma que se estendeu para o imaginário futuro dos processos de criação de áreas e parques no mundo. Segundo Miguel Ángel Troitiño Vinuesa alguns pontos precisam ser considerados em relação aos problemas que imobilizam as ações do governo e o processo de desenvolvimento das áreas protegidas, pois há uma dificuldade irrefutável de que não é fácil compatibilizar a proteção com a promoção das áreas rurais debilitadas. Podemos resumir alguns importantes pontos de nossa concordância, discutidos pela autora como: Há uma multiplicidade de opiniões, quase sempre divergentes voltados aos próprios interesses dos grupos, acerca de como esses territórios devem ser geridos e desenvolvidos, sejam: grupos de ecologistas, sindicatos agrários, associações culturais, promotores de iniciativas turísticas, caçadores, empresas exploradoras de recursos naturais, universidades. Existe muito de resistências aos estatutos de proibição e limitação aos residentes, com frequência inútil que parte da lógica de quem não entende o funcionamento social do território. Os agentes do governo acabam por confundir participação popular com informação acerca dos estatutos, a real participação cidadã quase sempre é negligenciado, fato que colabora para os fracassos nos acordos de uso e exploração dos recursos. Se reclama às autoridades as ajudas, as responsabilidades, indenizações, e planos que concretizem o desenvolvimento socioeconômico. Pois a cultura da desassistência que penetrou profundamente o espaço rural acaba por se projetar para a gestão dos atuais espaços “protegidos”. Existe da parte dos residentes um medo da perda de seus territórios a troco de muito pouco ou de nada, reticências que vão Revista Estudos Amazônicos • 217 se corroborando, muito em função dos descréditos em relação às ações da gestão. Território e territorialidades nas Reservas Sustentáveis do Mosaico Tucuruí As duas RDSs Alcobaça e Pucuruí-Ararão criadas por lei Estadual nº 6451/02 localizam-se nos limites dos dois municípios de maior pressão antrópica e abrangência territorial administrativa na região do lago: Tucuruí e Novo Repartimento. Durante o tempo em que estivemos em contato com a realidade das áreas, observamos que ao longo dos anos o processo de gestão das áreas do Mosaico do lago de Tucuruí limitava-se aos POA (Planos Operacionais Anuais) que se configuravam como alternativas de intervenção do Estado nas áreas através dos trabalhos de Educação ambiental, organização de infraestruturas, comunicação com a comunidade residente, levantamentos demográfico, etc. Uma vez, que as áreas não contavam com o Plano de Manejo, e onde havia um Conselho Gestor deliberativo que atuava de improviso, sem a aprovação oficial do órgão gestor – a SEMA (atual Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade). Problemas que moviam os conflitos entre os residentes das áreas e o órgão Gestor. No tempo de contato com a realidade, entendemos que as novas territorialidades que estavam a se desenvolver nas reservas sustentáveis de Alcobaça e Pucuruí-Ararão, manifestavam-se como resistências sociocultural, sociopolítica, socioeconômica, e também ecológica. Construídas e reproduzidas num jogo de poder e correlação de forças constantes, dinamizadas pelos processos de dominação e controle do espaço, que para além do visto estava o vivido, ou seja, teias 218 • Revista Estudos Amazônicos (territorialidades), que diferenciavam os interesses da população e/ou grupos capitalistas, estabelecendo no imaginário popular daquela gente o conceito do outro – os intrusos, os estranhos àquela realidade, que se apresentava como contraditória a todo um processo de desenvolvimento trazido e introduzido de fora para dentro, e que havia despertado naquela população (pelo menos num primeiro momento) a perspectiva de mudanças em sua qualidade de vida, assistindo ao longo dos anos a inserção dos processos produtivos em seu meio, entretanto a ficaram marginalizadas, alheias aos benefícios do projeto e a conviver com os danos ambientais e sociais, desapropriadas das condições de que necessitavam para alcançar o desenvolvimento social das comunidades envolvidas e de suas futuras gerações. Para António Gama8 o Território manifesta-se através das territorialidades construídas historicamente pelos homens, que podem interagir de forma concordante ou contraditória, revelando os conflitos e tensões expressas nas relações de poder presentes no quotidiano e nos lugares. Neste sentido o autor concebe o Território como uma inscrição do poder (representação do poder em um espaço) à maneira de um palimpsesto, ou seja, sobreposições, temporalidades e condicionantes de futuros jogos sociais. Assim, o Território pode ser (re) produzido e representado, revelador da articulação de signos da natureza com a cultura em diferentes lugares, expressando a estrutura peculiar e idêntica de uma determinada sociedade. Thomas Dixon9 problematiza a questão da privação relativa relacionada à escassez dos recursos naturais geram os chamados déficits ambientais. Problemas estes, coadunados às externalidades locais, aos grupos étnicos/religiosos/políticos e que dizem respeito aos conflitos e às relações entre estes e que por vezes desencadeiam os conflitos ambientas gerando a insegurança, provocando, por exemplo, fenômenos como os Revista Estudos Amazônicos • 219 deslocados ambientais, estes estão relacionados à interação entre o aumento populacional, a degradação do ambiente e a escassez de recursos e que pode gerar a Resource capture, ou seja, a apropriação de recursos (no caso os hídricos) por grupos dominantes deixando em desconforto ambiental grande parte das populações, como foi evidenciado, por exemplo, em seus estudos de caso pelo território da Palestina.10 Deste modo e segundo este autor pode se desenvolver fenômenos a partir da Ecological marginalization, aonde o intelectual acredita que o crescimento populacional combinado com o desigual acesso a recursos pode motivar o deslocamento de populações carentes para áreas de maior fragilidade ambiental, como em alguns domínios de florestas tropicais. Foi o que ocorreu na região do lago de Tucuruí nas décadas de 1980 e 1990, onde o afluxo populacional de migrantes no ponto de chegada na cidade de Tucuruí a partir do final dos anos de 1980 ocasionou o aumento da densidade populacional e posteriormente os deslocamentos para as áreas impróprias, atingidas pelo lago – topos de morros e colinas, atual Reservas de Desenvolvimento Sustentável, ocasionando os desequilíbrios ecológicos e socioambientais. Neste contexto, o processo de desenvolvimento, caracterizado pela sociedade tecnológica moderna, que se expressa através do discurso antropocêntrico de dominação da natureza e negação do “outro” (aqui no caso das populações tradicionais), se deslocara para fronteiras de regiões débeis como o meio rural Amazônico, afetando suas comunidades já empobrecidas e carentes, submetidas a condições ecológicas adversas e que acabaram por ficar à margem assistindo como expectadores inconvenientes a espoliação dos recursos naturais existentes na região sem lograr a melhoria da qualidade de vida no lugar, que mesmo antes de serem demarcadas para conservação já haviam sido ocupadas, em função da dinâmica da implantação do projeto hidroelétrico envolvido em muitas polêmicas e choques com a população, problemas que se projetaram para 220 • Revista Estudos Amazônicos o futuro contexto da gestão das áreas. Durante o nosso trabalho de campo constatamos que nas Reservas de Alcobaça e Pucuruí-Ararão não havia energia elétrica, apesar da UHT se localizar a 7 km das áreas, não era fornecida para as comunidades, por isso conservavam alimentos em caixas de isopor com gelo ou de forma “rudimentar” salgavam o peixe para o consumo diário. Não havia atendimento básico de saúde, nem escolas, havia, entretanto, habitações insalubres e precárias sem as condições sanitárias adequadas, como se pode mostrar nas imagens abaixo: Alcobaça. Fotografia do acervo da autora (2011) RDS Alcobaça. Fotografia do acervo da autora (2011) Actas: a mobilidade política popular local O empreendimento da usina de Tucuruí ocupou um imenso espaço, que anterior a todo o processo era território de reprodução social de pescadores artesanais à jusante e montante do lago, reservas indígenas (dos paracanãs e pucuruís), posseiros e milhares de colonos (lavradores) que foram assentados em lotes bem menores do que os anteriores ocupados.11 Estes segmentos sociais ao longo dos anos passaram a se mobilizar politicamente para auferir acesso aos Royalties destinados à mitigação dos Revista Estudos Amazônicos • 221 impactos ambientais, assim como, passaram a exigir do Governo e da Eletronorte o ressarcimento aos danos sofridos durante e no pós-processo de expropriação e assentamentos mal planejados e indenizados. O exemplo cita abaixo o registro referente a uma reunião do Conselho Gestor das Unidades de Conservação e representantes Comunitários das várias localidades circundantes do lago Tucuruí, organizada pelo órgão gestor do Mosaico: Ata da Reunião do Conselho Gestor da Apa/Tucuruí No dia 05 de novembro do ano 2010, às 10:31 na Associação Comercial e Industrial de Jacundá foi dado início à reunião do Conselho deliberativo da APA do lago Tucuruí, com a presença dos Técnicos da SEMA Sr. Horácio Câncio Lemos Neto (Técnico superior), Sr. Gleidson da Silva Souza (Técnico superior), Srª Adriana Simone do Nascimento Barata (Técnica superior), Srª Mara Fernandes Rodrigues (Assistente Social) e o Srº. Augusto Ferreira Filho (Gerente da APA) que coordenou a reunião. O Srº. Augusto Filho começou a reunião agradecendo a todos pela presença identificando todos os representantes do Conselho em nº oficial de 11 pessoas, tendo o Srº. Samuel Pereira (gerente anterior da APA) interrompido e se colocado sobre a lista de representantes que segundo ele não estava de acordo com o nº legal, o Srº. Augusto Filho argumentou que «.. a portaria precisa ser revogada para que saia a lista dos novos conselheiros» «o Srº. Samuel Pereira novamente colocou que se os nomes oficiais não estão mais, como vão aprovar o regimento interno?» «O Srº. Augusto Filho mostrou a lista recente enviada a SEMA» «Srº. Esmael (CEAPCentro Agroecológico de assessoria de Educação Popular – Tucuruí) não há lista oficial» houve questionamentos generalizados, falas sobre 222 • Revista Estudos Amazônicos a lista oficial e os presentes o que foi pedido pela Técnica da SEMA Srª Adriana para que se ordenassem as falas «Srº. Esmael, nomes indicados pelas prefeituras estão publicados no Diário Oficial? O quadro de conselheiros não está completo, isso é ilegal» «Srº. Sérgio (Novo Repartimento), o erro é da nova coordenação que nos convocou para aprovar o regimento sem os conselheiros da lista oficial» «Srº. Augusto Filho: os conselheiros não mudaram no total, se hoje não podemos discutir o regimento outras pautas podem entrar na reunião» «Sr. Edilson (Prefeitura de Tucuruí) eu não estou como palhaço para aprovar o regimento precisa de ordem e diário oficial, mas se há maioria é uma questão de ordem para discutir a Comissão, a questão de ordem existe pendência legal, mas não pode acontecer e nem “turbar” a reunião» « Srº. Alexandre (Nova Ipixuna) não foi direito a voto?» «Srº. Cláudio (IBAMA) vamos contribuir de forma positiva à ideia, peço para a mesa proibir o uso do celular para evitar... temos que ter os pés no chão e seriedade, quando se trata de um Conselho que necessariamente precisa de diário é aconselhável tomar decisões para que mais na frente não haja situações judiciais devido a resistência de vários outros conselheiros, mesmo que se tenha a maioria aqui, qualquer um pode entrar no Ministério Público e a reunião pode acabar com problemas. É importante a discussão e que se encaminhe provável data...nomes para sair no diário...é preciso bom senso para o entendimento» «Srº. Esmael 1º lugar falamos muito de respeito...que nos subestimam agente e muitas vezes é mais burro e a lei que nos protege. Estamos esperando a legalidade deste Conselho a quatro anos. A SEMA não foi capaz de legalizar o conselho» «Srº. Augusto, esta não é a primeira reunião» « Srº. Esmael, as reuniões anteriores foram todas ilegais, a única reunião que saiu no diário foi a que ocorreu na SEMA a quatro paredes. Tá claro a incompetência, já propomos na Comissão a socialização e democratização para o Revista Estudos Amazônicos • 223 regimento interno. Estamos criando uma lei que é dos moradores. Eu estou me considerando um palhaço – e nesse fato da incompetência os condicionantes da ELETRONORTE que já cobrados .. o aeroclube, tudo foi legalizado .. o pescador não pode pescar, dez ilhas desmatadas .. isso é palhaçada – trabalho foi a criação da Unidade, a comunidade não tem envolvimento, se tornou casa de todo mundo .. propor criar essa comissão comunitária para aprovar o regimento interno, num processo organizativo do Conselho Gestor – parece um bicho de sete cabeças – tu sabes o Estado me ameaçou – o que eu passei para criar esta UC, não podes estou sendo queimado, o secretário não tem agente de meio Ambiente» «Srº. Samuel Pereira vou tentar resumir, acabamos de sair do processo democrático onde foi eleito o presidente .. aqui temos uma Unidade atípica que foi criada a partir de um crime Ambiental, da Barragem de Tucuruí .. estamos perdendo tempo discutindo o regimento interno .. a cada conselho o prazo é 90 dias para implantar o regimento interno .. é mesma coisa que querer dar ordem dentro da minha casa. Cadê os Conselheiros? Cadê o plano de manejo? O regime interno que está se querendo colocar é que o povo não tem direito a nada – o Cláudio não veio não participou, se não haver participação da sociedade .. o Conselheiro não é absoluto» «Srº. Leonilson (Jacundá) 1º enquanto tiver um impasse dessa natureza, não pensando na legalidade, na prática .. é retomar as responsabilidades das bases, no cotidiano, na vida das comunidades, das famílias, que está à frente ... tomar posicionamento que represente a base, ou acabar tendo esforço em vão, a base não terá aplicação na íntegra e não se chega a lugar nenhum, estamos deixando de tocar projetos e outras questões, perda de tempo, precisa intensificar a questão, fundamental é o compromisso, responsabilidade para representar a base. Muita discussão, queremos um tratamento à altura 224 • Revista Estudos Amazônicos que a área precisa» «srº. Jailton (BASA-Tucuruí) ... a questão dos conselheiros, quantos tem no diário oficial? E quantos não tem? Os que não estão não terem conhecimento? O que foi essa luta? A eclusa vai atingir Itupiranga, Ipixuna, Nova Goianésia, Tucuruí e Breu Branco, que não foi chamado na audiência sobre a navegação e os Conselhos não foram convidados, os conselheiros precisam estar cientes do seu papel, tão porque estão num cargo público para assumir a carga dos prefeitos. Estou para representar o banco, 70% querem financiamento, a questão do parque aquícola por quem aprovou o projeto, assumir nossas responsabilidades ., eu nem vi que sou da APA se posso ou não plantar. Se o conselho não se reúne como vai construir para fazer alguma coisa para orientar, substituição de identidade, aqueles que estão no diário a FAEPA nunca vieram numa reunião. Qto à comissão é importante levar aos Conselheiros para saberem o que é o povo da APA, nos últimos anos a APA é só RDS e Tucuruí, todos os outros municípios a APA não atingiu como um todo, todos devem participar» «Srº. Augusto Filho todos nós já participamos de alguma reunião. Isso não é um “cavalo de batalha”, não é ordenador, o plano de manejo é que vai orientar, nós temos que garantir às comunidades participação no plano de manejo, que está atrasado mais de dois anos, o Sr. Samuel sabe das dificuldades, eu não nasci Gerente, mas, sou trabalhador e sou democrata .. o Sr. Samuel disse que só vai entrar Gerente, eu tive que tirar meu pessoal da sala, tive que evitar conflitos, não tem nada de anti-democrático, estou a escrever um trabalho, tenho 55 anos, tenho uma história, tenho uma participação na comissão paritária que criou o MOSAICO – outra coisa na semana passada várias notificações..» «Srº. Joãozinho (Colónia de pescadores de Novo Repartimento) vou dizer uma coisa trabalho oito anos, assumi como presidente ano passado, chega um momento que dá desânimo, tenho preocupação com aquele setor, mas nunca é como .. por mais que se Revista Estudos Amazônicos • 225 tenha sensibilidade, você não sabe. Existe uma desunião muito grande de pessoas, que para terem entendimento...,situações difíceis até envergonham a pessoa que quer trabalhar de forma correta. Que se tenha a sensibilidade – as ZPVS quando foram criadas o povo já estava, houve junto à ELETRONORTE ... o povo continua sofrendo, a APA continua explorada pelos fazendeiros, o pequeno produtor não tem legalidade, fazendeiro tem dinheiro e faz o que quer, 60 alqueires foram derrubados no chão .. se houver meios legais para o planejamento, se não houver que se tente de forma que se tenha debate para dar encaminhamento, tenho diploma da SEMA de membro titular da RDS, acredito que quem foi indicado, tem suficiente para dar indicação para este conselho – todo mundo aqui é trabalhador» «Sr. Samuel vou aproveitar a fala do Augusto o regimento interno é o coração da Gestão ... eu discordo e até lamento, nós não temos gestão, a boa é o plano anual, 600 mil em 2010 , ficou 800 mil e nesse período gerou de royalties 200 milhões para o Estado, não tiveram 800 mil para fazer gestão, mas quantas vezes o conselho chamou para fazer gestão? Meu irmão se eu ficar aqui em Jacundá e a esposa bonita lá em Tucuruí ... para fazer gestão tem que ficar aqui no lago, a gente vai fazer gestão em dez reuniões no lago? Isso tem que constar no regimento, os recursos tem que ser aplicados, o povo é o mais pobre, e a região mais rica – 1 milhão que tirasse para fazer gestão estaríamos resolvidos. A lei foi criada e não podemos alterar. Precisa do plano de manejo, precisa do gelo .. ninguém pode liberar .. a vida do lago .. eu moro aqui, qualquer discernimento o escritório resolve, a cada três meses a coisa pára, terça feira as eclusas vão ser inauguradas pelo Lula» .. O Srº. Augusto propôs um intervalo as 12 hs. «Sr. António (ouvinte) realmente há uma preocupação enorme no setor da pesca, o conselho está “capenga”, todas as reuniões vieram das entidades mãe, a questão 226 • Revista Estudos Amazônicos social perdia, perde, a gente tem que compor o conselho por causa da legalidade. A lei é clara: coordenar as ações no lago, e isso as vezes, a gente que acompanha sente na pele. A comissão tem duas coisas, quantos conselheiros estão legalizados? Quantos estão no diário? Os conselheiros podem ser a própria Comissão? Janeiro é outro governo, outra moda de conversa. Em Itupiranga maior preocupação abrirem os canais os resíduos, balsas de 180 metros, os pescadores vão pescar onde? Tudo isso é preocupante. Onde está a SEMA? Aqui a discussão é compor um conselho e depois voltar, eu represento uma categoria .. temos que legalizar, estamos discutindo a APA e dizer o que sente, tenho compromisso com a APA» «Srº. Augusto, eu vou só fazer a dos que estão presentes» O Srº. Augusto fez a leitura dos conselheiros da lista oficial e fez a contagem dos que se encontram na sala, num total de 11 conselheiros, tendo a Srª Mara (Assistente Social) se colocado no sentido de mostrar de que há condições para dar prosseguimento com o nº de representantes oficiais presentes, «Sr. Edenilton (Jacundá) a mesma situação se deslocar e não resolver nada, o conselho tem uma importância muito grande, precisa do aval do conselho, você é uma falha, vamos encaminhar nomes para o conselho, você tá atrapalhando ao invés de contribuir – o parque aquícola tá atrapalhando, se o conselho existisse a licença já havia saído, vamos encaminhar» «Srª Celenice (Sindicato de Tucuruí) a FETAGRI vai ter substituição? Eu queria que ficasse a Virgínia» «Srº. Augusto, as organizações se propuseram a participar do conselho, estamos num trabalho com a entidade, queremos ser representados pela organização dos trabalhadores, eu só quero compartilhar meio de 2007 a 2010, não houve nenhuma reunião do conselho, não tinha isso, estamos encaminhando, eu não posso discutir com o secretário, mas posso discutir com uma comissão a questão da assistência, Royalties, impostos, até hoje a depredação do escritório ... eu penso isso sou Revista Estudos Amazônicos • 227 hierarquicamente menor, as organizações são independentes as representações da prefeitura, sexta feira vamos publicar a portaria ... nas Ucs todos são representantes, levam isso as suas comunidades» «Srº. Esmael, a gente já percebeu ... a nossa intenção é não ter gestão, passa mais dois anos e não fazem nada, até hj ainda precisa ser publicado no diário oficial, 1º qual é a função do conselho? 2º movimento entre partite entre o poema e a ELETRONORTE, ninguém sabe a prestação de contas, isso tá no Ministério Público, o recurso tá com a SEMA, se nossa posição é deliberativa temos que fazer ... a SEMA deve a prestação de contas para a ELETRONORTE. Nós não vamos formar comissão....Então companheiro a comissão tem uma função saí e reunir e chamar o Ministério Público, o povo da ilha tá abandonado, hoje não tem peixe nem farinha, estado de miséria, esperando que a vida seja discutida, eu nós movimento tamos “pagando o pato” nós não temos voadeira e nem combustível .. temos que mostrar à comunidade o poder que eles tem» «Srº. Edenilton(Jacundá) essa comissão teria poder? E .. parar com esse negócio de estar vindo lá de Belém e ganhar “diária gorda” pra que o prefeito entenda...o que o conselho gestor a SEMA entendimento com o poder público e até agora não fizeram. É necessário discutir o Seguro Defeso, tem o cadastramento dos moradores .. sempre aparece alguma coisa para atrapalhar o que nós criamos .. não tem nada até hoje, é a Unidade mais rica, além das riquezas patrimônio natural, para passar as balsas, tudo isso com anuência da SEMA, agora quem busca recursos? Não tem mais gerência, temos a função de construir um nome, só assim vamos descentralizar .. não tem prestação de contas, estamos só para assinar» «Srº Augusto Filho, não aceita a ordem cristã que o estado.. 2º, há um contrato com da ELETRONORTE - Poema e SEMA, temos recursos para o gelo e para comprar o peixe ... glosas .. glosar 228 • Revista Estudos Amazônicos despesas .. a SEMA não recebe recurso .. entregamos à ele .. a SEMA fez sua parte...se tem alguém é quem tem o recurso para executar e a ELETRONORTE não aceitou as glosas, várias organizações tem problemas...o orçamento .. se temos que planejar vai para dentro da APA, não adianta guardar e não poder executar .. me proponho formar um grupo de trabalho, outra é que não deu certo outra vez essa comissão dos municípios, cada município dá apoio para que a comissão possa avançar» «Jailton (Novo Repartimento) proponho duas comissões uma com a SEMA e outra onde a SEMA não esteja junta, se é de comum acordo .. o conselheiro decide isso, até o momento na intromissão do Samuel, Sérgio, na Unidade todas as pendências, temos sede, desejo, são pendências para serem discutidas no Conselho, já temos uma parte e a outra não, se não há, não querem discutir o regimento, vamos deixar para discutir quando todos estiverem substituídos, agora não faz sentido que a Comissão não pode incluir a SEMA .. isso é manipulação, não pode “descambar” para desvirtuar .. é uma questão legal...temos que aglutinar as duas propostas .. a SEMA tem a estrutura e não tá fazendo, isso é absurdo» «Srª. Sérgio, sem ele na base, a comissão tem que fazer o trabalho de base, 1º organizar, arrumar o regimento interno .. a comissão tem que ser criada, se existe uma ação do Ministério Público contra a SMEA não é legalista» «Srº. Esmael, ... até preocupado, eu vejo aeroclube lá na frente, eu vejo resíduo de lixo e o dentro da área, isso é legalidade pra ti? Se existe Ditadura .. que não consulta, agora existe isso» «Srº. António, não há regimento não pode ser aprovado» O sr. Cláudio do IBAMA pediu a palavra e não foi atendido. «Srº. Sérgio, tem que discutir a pauta, tu é o presidente, seu dever é perguntar se é a favor ou não da votação da comissão» « Srº Edilson colocou na pauta criação da Comissão» «Sr. Cláudio outras pessoas não são conselheiros e não podem votar .. o processo de construção ... quando começamos a Revista Estudos Amazônicos • 229 discussão de criação da APA que era para ser uma área federal, tivemos a resistência do Estado e das Prefeituras, nós construímos outra alternativa que era Estadual e fizemos o trabalho, não é só lutar vamos nos atropelar com 11 ... vamos convocar todo mundo .. não é justo, não pensem quem o próximo governo vai dar colher de chá, se temos que construir um conselho tem que ser agora .. temos reunião de fôlego como fazíamos antes .. vamos dar um pontapé positivo .. 11 pessoas não adianta» «Srº. Ilson (Breu Branco) vamos colocar, publicar no diário e voltar daqui a 15 dias ... eu sei lhe conheço, nós não estamos satisfeitos com a sede, não temos acesso, não temos sala do conselho, não estamos satisfeitos com a gestão, que o conselho não engula, só queremos a gestão do nosso meio, que o conselho tenho voz e voto» «Srº Augusto. .. a sede é em Tucuruí e a reunião aqui em Jacundá» «Srº. Esmael, durante o Defeso é primordial para o pescador, se também não se discute o defeso é sacanagem, os caras não tem seguro defeso que é uma coisa e a lei é outra. Isso é humanidade? E aí? Vamos só em cima da lei, assim como também na questão do MOSAICO, não se vai implementar a questão do canal, assim como também ...não se pode acabar com alevinos» «srº. Ilson me dos ou nº, mas o IBAMA .. na verdade fica prejudicado de tomar a decisão .. os órgãos tem as premissas legais. Como vai liberar? Isso é prevaricação se não se faz o que manda a lei .. eu posso ser penalizado se não fazer .. se não tem plano de manejo que seja levado ao Ministério Público .. eu sou a favor que chegue ao Ministério público para se ter uma agenda moderada de fiscalização» «Srº. Esmael, eu me preocupo .. mas to falando! To falando! Meu amigo “peraí”, uns privilegiados outros não? Pra isso pros ricos ajuste de conduta pra pobre ”taca”» «Srº. Joãozinho ( Colónia de Novo Repartimento) somos civilizados ou não, o defeso já foi discutido em Belém, no Ministério Público, no Ministério do Trabalho 230 • Revista Estudos Amazônicos .. não vão ter conhecimento os presidentes de colônia eu vejo o Sérgio brigar, isso é insignificante para avançar, eu estou com vontade de ir embora» «srº. Cledenilton, a gente tá aí adiando o regimento ... 90 dias para aprovar, temos que ter pauta para resolver os assuntos .. trás todos e não delibera nenhum, a comissão já é os conselheiros, temos que colocar a pauta na próxima reunião para começar deliberar» «Srº António ouvi...todas as investigações .. as colônias tinham que receber as diárias gordas ... o que o Ministério vai fazer com o pescador? ... defeso vem antes de seguro .. não tinha defeso .. uma lei .. defeso vem depois ... provar pra poder chegar o defeso ... receber é outra coisa .. não só a pesca, mas agricultura familiar,...todo mundo mesmo, todos no mesmo barco .. o seguro defeso não foi .. mas todo mundo vai assinar, receber não, o que compete é finalizar o barco, a fiscalização tem que ser séria, honesta sem aviso» «Srº. Claudio, esclarecido a questão do defeso, na verdade tomado providência nesse sentido chamamos as colônias, dia 1º começou o defeso, mas foi ponto facultativo, quando vi a declaração do estoque 4ª e 5ª era pra convidar os proprietários de geleiras dentro da APA, a SEMA .. eu não conheço nenhum conselho que não defende o direito dos pescadores. Dia 09/11 lá na ELETRONORTE as 15 hs reunião com o Ministério Público» «Srº. Leonilson acho mais interessante o entendimento com a efetivação na APA, é entender como as coisas estão acontecendo, todos os que estão no entorno o negócio é o mesmo .. o tempo e a forma de discutir, na prática nem nós mesmos temos o consenso dos trabalhos – tentar ver as propostas para entender as necessidades .. ter um posicionamento ... legalmente ter toda a estrutura, na prática as coisas não são implementadas .. o Município nenhuma ação articulada com o IBAMA .. o conselho poder estar unindo isso, o grande compromisso é tentar sair com uma proposta, onde se vê o andamento das ações, nós temos o compromisso de deliberar as decisões» «Srº. Revista Estudos Amazônicos • 231 Esmael, é o seguinte é pela última vez que a SEMA está com a gente, não queremos mais falhas da parte da SEMA ... precisamos de voadeira, de hotel, no cronograma vamos chegar com o Conselheiro, vamos botar, vamos incluir a SEMA, que a comissão seja constituída aqui...precisamos constituir esse Conselho, daqui a 15 dias já trazer publicado no diário oficial .. e uma porrada de coisas, desbloquear os recursos, precisamos trabalhar» «Srº. Augusto Filho, em quinze dias vamos ver se teremos a portaria para acionar o Ministério Público» «Srº. Sérgio em 15 dias os representantes das prefeituras já tem que ir com o prefeito e passar o documento» «Srº. Esmael, é uma comissão agora é nós, tem que fazer o orçamento precisamos encaminhar demandas» «Srº. Cláudio, existe alguma discordância, precisamos votar, não vamos excluir A, B ou C e sim ajudar» «Srº Cláudio, que acontece, no máximo saí no diário ... só um passe, o que precisamos é dar resposta para a sociedade, prestar contas, nenhum dia a mais, o que precisa ser feito, o que ainda pode ser custeado de apoio. Outra é o plano de Manejo» «Srº. Cláudio pode alterar a indicação da pauta» «Srº. Joãozinho (Novo Repartimento) Hidrovia» «Srº. Augusto, vamos chamar alguém do licenciamento ambiental» «Sr. Esmael até lá já arrebentaram esse negócio todo» « Srº Cledenilton, pauta .. Defeso» neste momento o Sr. Augusto interrompeu para chamar a lista da comissão que ficou: Augusto, Ceronice, Andrelina, Esmael, Leonilson, Cledenilton e Valdeci. E já a pauta da próxima reunião: Defeso, Hidrovia, prestação de contas, detalhamento da execução financeira, Licenciamento das atividades no lago. A próxima reunião será realizada em Tucuruí/ELETRONORTE, dia 22 e 23 de novembro de 2010. Sem nada mais o Srº. Augusto Finalizou a reunião às 13h50min.. 232 • Revista Estudos Amazônicos Em Conclusão... Enfim, as inquietações que se configuram como mecanismos geradores de desequilíbrios ecológicos e socioambientais, vêm exponencialmente fomentar o debate ecopolítico na atualidade, no sentido de subsidiar a reflexão acerca do modelo de desenvolvimento em curso e das relações entre homem – sociedade – natureza – recursos. Logo, essa politização das questões ambientais traz para o debate a crítica sobre a apropriação da natureza e a valoração monetária que se atribui à natureza e seus recursos da parte de grupos capitalistas em detrimento de comunidades empobrecidas. Deste modo, a questão territorial vai adquirindo centralidade no debate teórico-político no contexto das áreas protegidas. Artigo recebido em dezembro de 2014 Aprovado em fevereiro de 2015 NOTAS A autora é graduada em Serviço Social e em Geografia pela UFPa, é Mestre em Geografia Física pela UC – Universidade de Coimbra (Portugal) e Doutoranda em Geografia Humana pela mesma Universidade. E-mail: [email protected] 1 Eneida de Moraes (escritora paraense) era comunista e teve a liberdade cerceada, foi presa e sob a custódia do Estado tortura pelos nazi-facistas da ditadura no Brasil (Ver: MORAES, Eneida. Banho de Cheiro. Civilização Brasileira, 1962). Revista Estudos Amazônicos • 233 O meu tio tinha 23 anos à época de sua morte, ele trabalhava na Usina de Tucuruí como eletrecista pela Camargo Corrêa, num final de tarde ao fazer reparos numa das linhas foi eletrecutado, outro funcionário acidentalmente havia acionado a chave de transmissão. 3 VINUESA, Miguel Ángel Troitiño. Espacios Naturales protegidos y Desarrollo Rural: Uma relación Territorial Conflitiva. Boletin de la A. G. E. n° 20. Universidad Complutense de Madri, 1995. 4 BARATA. Adriana Simone do Nascimento Barata. Ambiente e Ordenamento do Território: A Questão Ambiental dos Desmatamentos em Áreas Protegidas na Amazônia. Estudo de caso na RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) Alcobaça, Tucuruí-Pará-Brasil. Orientador: Dr. António Campar de Almeida. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras (FLUC), Instituto de Estudos Geográficos. Coimbra, 2011. 5 Geosítio à montante à margem esquerda da Barragem, configurada em topos de morros e colinas de diferentes cotas altimétricas vulgarmente chamados de “ilhas” localizadas a oeste do município de Tucuruí – RDS Alcobaça. 6 Lei SNUC nº 9985-00. 7ª Edição. Nov. 2007. 7 BARATA, Adriana Simone do Nascimento. Risco ambiental decorrente de desmatamentos e potencialidades para um desenvolvimento sustentável em espaços de micro zoneamento ecológico amazônico. O caso da Reserva de Alcobaça na região do Lago de Tucuruí – Pará. Cadernos de Geografia nº 30/31 - 2011/12. Coimbra, FLUC - pp. 17-23. 8 MENDES António Manuel Gama. O Território como inscrição do poder. Revista Locus. Coimbra nº 2-3, 1988. 9DIXON, Thomas F. Homer. Environment, Scarcity and Violence. Princeton University Press, 1999. 10 FERNANDES. João Luis Jesus. Degradação Ambiental e mobilidade Espacial das populações: Um tema geográfico no início do século XXI. Alguns comentários a propósito de um evento científico. Cadernos de Geografia n° 20. Instituto de Estudos Geográficos, Universidade de Coimbra, FLUC. 2001. pp. 125-135. 11 Boletim da Associação Brasileira de Reforma Agrária – ABRA. Reforma Agrária. Campinas. SP. V. 14 n° 4. 1984. 2 234 • Revista Estudos Amazônicos