UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUTO VEZ DO MESTRE O LÚDICO COMO INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA. TATIANA GOMES BRANDÃO PROFESSORA ORIENTADORA: CARLY MACHADO RIO DE JANEIRO ABRIL DE 2010 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O LUDICO COMO INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA. TATIANA GOMES BRANDÃO Trabalho apresentado como requisito parcial para o título em especialista em Psicopedagogia. RIO DE JANEIRO ABRIL/2010 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por sempre me orientar em minhas escolhas; Aos meus alunos por me fazerem acreditar que estou na profissão certa; A minha mãe por sempre estar ao meu lado me fazendo acreditar que posso sempre muito mais; A minha irmã pelo seu amor e carinho; Ao meu namorado por seu amor e compreensão e por me dar todo o apoio em minhas escolhas. 4 "A inteligência se constrói. Não nascemos inteligentes, nascemos com a possibilidade de sermos inteligentes, quer dizer, de podermos eleger nosso destino.” (Alicia Fernández) 5 DEDICATÓRIA Dedico esta monografia a todos aqueles que fazem parte da minha vida. 6 RESUMO A presente monografia tem como objetivo dissertar acerca do lúdico como intervenção psicopedágogica. Visando o valor do brincar para a facilitação no processo psicopedagógico. É através da brincadeira, da fantasia, da dramatização que a criança é capaz de se entender, entender o mundo a sua volta e perceber suas dificuldades. O lúdico proporciona ao psicopedagogo investigar como o sujeito aprende, o que gosta ou não, estabelecendo uma relação mais prazerosa. A monografia, também, procura ressaltar a importância do psicopedagogo entender que cada sujeito é único e que deve ser respeitada a individualidade do sujeito. 7 METODOLOGIA Este trabalho monográfico foi realizado a partir de pesquisas bibliográficas sobre o tema. Para realizar o trabalho foram feitas leituras de textos e livros de autores pesquisadores nas áreas de psicanálise infantil, educação infantil, psicopedagogia clínica e institucional. Como elementos relevantes para o bom desenvolvimento do tema. Buscando alcançar o objetivo proposto, trabalharei com autores que abordam o lúdico como instrumento de intervenção psicopedagógica como Maria Lúcia Weiss, autores que falam da importância do brincar como Winnicott, Piaget, Vygotsky e Celso Antunes e autores que falam sobre a psicopedagogia e dificuldade de aprendizagem como Alicia Fernández. Assim os tópicos foram divididos tentando dar sentido ao desenvolvimento das ideias encaminhando para uma conclusão com uma avaliação crítica e conclusiva do trabalho. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO página .......................................................................... 09 CAPÍTULO 1 A PSICOPEDAGOGIA E O PSICOPEDAGOGO........................... 11 CAPÍTULO 2 O LÚDICO...................................................................................... 20 CAPÍTULO 3 A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ATRAVÉS DO LÚDICO.......................................................................................... 26 CONCLUSÃO ............................................................................... 31 BIBLIOGRAFIA .............................................................................. 32 9 INTRODUÇÃO Quando pensamos no brincar a primeira palavra que vem em nossas cabeças são crianças. Pois é, desde o nascimento, mesmo sem ninguém ensinar, crianças brincam. Primeiro com seu próprio corpo, descobrindo suas mãos e pés em seguida com o outro e um pouquinho depois com objetos como os móbiles presos em seus berços, e outros brinquedos oferecidos. É através do brincar que a criança constrói um espaço de experimentação e de transição entre o mundo interno e o mundo externo. Segundo Winnicott (1975, p.80): ”É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu”. A psicopedagogia é uma área que vem crescendo nos últimos anos. E hoje há algumas formas de se trabalhar neste campo. Mas baseado em muitos autores1, acredito que através do lúdico esta intervenção psicopedagógica ocorre de maneira mais rápida e eficaz. Por trabalhar como professora de Educação Infantil durante seis anos, percebo a importância do lúdico para que as crianças alcancem os objetivos traçados. E percebo também que às vezes há algumas limitações que somente com a ajuda de um psicopedagogo as crianças superam algumas barreiras para conseguir seguir em frente. É necessário haver uma parceria entre escola, família e psicopedagogo. Por isso, venho através deste trabalho monográfico fazer um estudo acerca da importância de se utilizar o lúdico2 de uma forma consciente, como intervenção psicopedagógica feita por um psicopedagogo. Para que haja uma boa intervenção e que esta dê resultados, o psicopedagogo deve entender que cada caso é um caso e que para cada criança deve ser utilizado um jogo, brincadeira, de acordo com suas limitações 1 Maria Lúcia Weiss, Celso Antunes e Winnicott. Empregarei a palavra lúdico ao longo deste trabalho monográfico no sentido do processo de “jogar” , “brincar”, “representar”, “desenhar”e “dramatizar”. 2 10 e seu perfil. Não há uma receita a ser seguida, o psicopedagogo deve estar muito atento as necessidades de cada um. Sendo assim, apresento este trabalho monográfico da seguinte forma: No primeiro capítulo há uma discussão teórica acerca do que é a Psicopedagogia, o que faz o psicopedagogo e como atua o psicopedagogo clínico e o institucional. As discussões se iniciam a partir dos conceitos de psicopedagogia que vieram se modificando ao longo do tempo, e junto a este processo o papel do psicopedagogo. O capítulo II é sobre o lúdico. Há uma discussão citando importantes autores que acreditam que é possível aprender brincando. Em seguida apresento algumas formas de brincadeira como o faz de conta, os brinquedos e os jogos. No terceiro capítulo apresentarei baseado no livro de Maria Lúcia Weiss, Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar, o lúdico como intervenção psicopedagógica. Quais ao matérias necessários, como apresentá-los e como avaliar as atividades lúdicas. 11 CAPÍTULO I A PSICOPEDAGOGIA E O PSICOPEDAGOGO 1.1- O que é a Psicopedagogia? Segundo o Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa (1971) Psicopedagogia é: “o estudo da atividade psíquica da criança e dos princípios que daí decorrem, para regular a ação educativa do indivíduo.” Percebemos que esta explicação é muito vaga e restrita para exemplificar o que é esta prática, mas ela já vai mais além do que alguns dicionários que acreditam que Psicopedagogia é :”a aplicação da psicologia experimental à pedagogia.” (Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa) Segundo Beauclair (2004), a Psicopedagogia é muito mais do que a junção dos conhecimentos entre Psicologia e Pedagogia. Ela é um campo do conhecimento que se propõe a integrar conhecimentos e princípios de diferentes Ciências Humanas, relacionados a aprendizagem do ser humano. Para ele, a Psicopedagogia enquanto área de conhecimento humano tem o interesse em compreender como ocorrem os processos de aprendizagem e entender as possíveis dificuldades que acontecem neste meio. Mas, para que isto ocorra, é necessária a integração e síntese de outros campos do conhecimento como: a Psicologia, Psicanálise, Pedagogia, Neurologia, Filosofia, entre outros. Segundo a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), a Psicopedagogia também é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de aprendizagem humana no seu desenvolvimento, utilizando procedimentos próprios da Psicopedagogia, tendo como principal objeto de estudo o processo de aprendizagem e suas dificuldades e/ou limitações. Confirmando as ideias acima também temos Mendes (1994) que afirma que a Psicopedagogia é um campo de atuação relativo a aprendizagem, desenvolvimento e suas distorções. 12 Outra autora e pesquisadora do assunto Alicia Fernandez, entende a Psicopedagogia como uma disciplina com um objeto próprio: a autoria do pensamento e como acionar dirigidos a sujeitos, por ela chamados de “aprendentes” e “ensinantes”. Vale ressaltar que a Psicopedagogia ainda não é regulamentada como um curso de Ensino Superior, mas ela é considerada para alguns como uma prática, para outros como um campo de investigação e até mesmo como um saber científico. Podemos resumir dizendo que a Psicopedagogia surgiu para ajudar a solucionar os problemas de aprendizagem, tentando compreender como se dá este processo, seus fatores positivos e negativos. Por isso a psicopedagogia atua de duas maneiras: preventiva ou terapêutica. Sendo seu objeto de estudo não somente os problemas de aprendizagem e sim o processo de aprendizagem, incluindo os fatores externos e internos e a influência do meio, (família, escola, sociedade). Agora que já abordamos um pouco do que é esta Ciência ou práxis, no próximo item será feito um breve histórico para que haja uma melhor compreensão de como a Psicopedagogia surgiu aqui no Brasil. 1.2- A Psicopedagogia e seu histórico de avanços. Pode-se dizer que a psicopedagogia teve seu início na Europa, por volta de 1946. J Boutonier e George Mauco foram os primeiros fundadores dos Centros Psicopedagógicos que uniam os conhecimentos entre: Pedagogia, Psicologia e Psicanálise. Nestes centros haviam tentativas de readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados e também crianças, que apesar de serem consideradas inteligentes, tinham dificuldades de aprendizagem.(MERY apud Bossa, 2000) Na literatura francesa – que, como vimos, influencia as ideias sobre psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua vez, influência a práxis brasileira) – encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mary, a psicopedagoga francesa que apresenta algumas considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas ideias na 13 Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro médico psicopedagógico na França,..., onde se percebeu as primeiras tentativas de articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia na solução dos problemas de comportamento e de aprendizagem. (BOSSA, 2000, p.37) Inicialmente a Psicopedagogia teve um caráter médico-pedagógico. Esperava-se que desta união (Psicologia, Psicanálise e Pedagogia) fosse possível conhecer mais a criança e o seu meio, para que pudesse entender o caso e consequentemente determinar a ação reeducadora. Segundo Fernández (apud Bossa, 2000) a psicopedagogia surgiu na Argentina há mais de trinta anos, influenciada por esta corrente européia. Sendo a cidade de Buenos Aires, a primeira a oferecer o curso de Psicopedagogia. Na Argentina os psicopedagogos atuavam nos Centros de Saúde Mental3, fazendo diagnóstico e tratamento. Mas após um período de tratamento os psicopedagogos perceberam que os problemas de aprendizagem tinham sido solucionados, mas havia ocorrido um deslocamento de sintoma e seus pacientes foram diagnosticados com distúrbios de personalidade. Perceberam então, que era também necessário incluir um olhar e uma escuta psicanalítica para sanar estes problemas. E assim, até hoje, os psicopedagogos argentinos atuam seguindo este perfil. O Brasil recebeu muitas influências de autores e pesquisadores argentinos para o desenvolvimento da área psicopedagógica. São alguns deles: Sara Paín, Jorge Visca, Alicia Fernandez, Ana Maria Muniz, entre outros. Segundo Visca (apud Bossa, 2000), inicialmente a Psicopedagogia, aqui no Brasil, também era vista como uma junção da Medicina com a Psicologia. Somente alguns anos depois que passou a ser vista como um conhecimento independente e complementar. Jorge Visca pode ser considerado como um dos maiores contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil. Ele implantou CEPs no Rio de Janeiro, 3 Os primeiros Centros de Saúde Mental,com atuação de psicopedagogos ,surgiram na cidade de Buenos Aires na década de 70. 14 São Paulo, Salvador e Curitiba. Deu aulas em Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e em muitas outras cidades, sempre difundindo seu trabalho. Sua teoria que é baseada na integração de três linhas da Psicologia: Psicogenética de Piaget, Escola Psicanalítica (Freud) e a Escola de Psicologia Social (Enrique Pichon Rivière). Visca propõe o trabalho com a aprendizagem utilizandose de uma confluência dos achados teóricos da escola de Genebra, em que o principal objeto de estudo são os níveis de inteligência, com as teorizações da psicanálise sobre as manifestações emocionais que representam seu interesse predominante. A esta confluência, junta, também, as proposições da psicologia social de Pichon Rivière, mormente porque a aprendizagem escolar, além do lidar com o cognitivo e com o emocional, lida também com relações interpessoais vivenciadas em grupos sociais específicos. (França apud Sisto, 2002, p.101) Já no Brasil, a Psicopedagogia chegou na década de 70, influenciada pela Argentina. Porém aqui a Psicopedagogia foi baseada nos modelos médicos. As dificuldades de aprendizagem, nesta época, no Brasil, eram relacionadas a uma disfunção neurológica, chamada disfunção cerebral mínima (DCM). Segundo Bossa (2000), isto serviu para esconder os problemas sociopedagógicos da época, sistemas educacionais desiguais e de má qualidade. Os primeiros cursos de formação de especialistas em Psicopedagogia no Brasil foram na década de 70, na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, e tinham a duração de dois anos. Mas há registros que na década de 50 alguns grupos isolados já estudavam e atuavam em cima da problemática da aprendizagem, anteriormente aos cursos de especialização. Somente na década de 80 que o fracasso escolar e o problema de aprendizagem passaram a ser vistos como fatores sócio-políticos. Muitos autores discutiram este descaso do governo com a educação, a precariedade em que se encontravam as escolas e estas sendo vista como um espaço da promoção de status quo da desigualdade social. Patto (1996) foi uma desses autores que discutiu este fato. “Devemos continuar falando em fracasso escolar 15 como até hoje se tem feito ou assumi-lo como problema social e politicamente produzido?” Talvez por ter se tornado uma questão maior, o problema de aprendizagem, que em 1984 foi organizado o 1º Encontro de Psicopedagogos, em São Paulo. Este encontro abordava medidas preventivas e terapêuticas do trabalho psicopedagógico. Encontro este que pode ser considerado um marco na história da Psicopedagogia. Ao longo dos anos, muitos cursos de Psicopedagogia foram surgindo no país, mas até hoje, a sociedade ainda não consegue reconhecer e até mesmo entender esta área: a Psicopedagogia. A luta para regulamentar o curso de Psicopedagogia aqui no Brasil existe, mas o Estado acredita ser onerosa e não tão necessária esta regulamentação já que segundo o Art. 5º da Constituição Brasileira prevê “livre exercício profissional”, exceto quando há risco eminente para a sociedade. Por enquanto a Psicopedagogia não pode ser considerada uma Ciência, segundo a ABPp, ela ainda é uma práxis, prática fundamentada em referenciais teóricos. Porém tem sido aceita e reconhecida como especialização pelo Inep/Mec. Várias famílias que tem crianças com dificuldades de aprendizagem ainda levam seus filhos primeiramente a um médico procurando solucionar esta dificuldade e só depois que algumas entendem o trabalho do psicopedagogo e resolvem mudar de estratégia. Na prática do psicopedagogo, ainda hoje é comum perceber no consultório crianças que já foram examinadas por um médico, por indicação da escola ou mesmo por iniciativa da família, devido aos problemas que está apresentando na escola. (Bossa, 2000, p.50) Mas para que esta realidade mude e para que as pessoas passem a entender e a confiar mais no trabalho dos psicopedagogos é necessário que haja um entendimento mínimo do que é o psicopedagogo e como ele atua. 16 Neste sentido, na próxima seção, apresento segundo alguns teóricos e estudiosos, qual o papel do psicopedagogo e sua atuação no campo pedagógico. 1.3- O psicopedagogo: quem é e o que faz? O psicopedagogo, de acordo com a síntese do projeto de Lei nº 3124/97, encontrada no site da ABPp, é aquele que auxilia na identificação e resolução dos problemas no processo de aprendizagem. Para exercer esta profissão no Brasil, é necessário ter o certificado de conclusão do curso de especialização em Psicopedagogia, em nível de pós-graduação. Este profissional, no entanto, pode trabalhar em duas áreas segundo o código de ética da ABPp (1992): em clínicas ou em instituições. Na primeira o psicopedagogo intervém geralmente após uma queixa. Esta intervenção ocorre através de uma relação terapêutica podendo ser curativa ou preventiva, na maioria dos casos é curativa. Nas instituições o psicopedagogo atua juntamente com a equipe pedagógica, sendo funcionário ou não da escola (muitas vezes o psicopedagogo presta serviços, sendo um funcionário terceirizado). Atuando diretamente no processo de aprendizagem, estabelecendo uma relação direta com os professores e em alguns casos com os alunos. Para o trabalho do psicopedagogo é fundamental que ele estabeleça uma relação, um vínculo com o aprendiz. Este vínculo, é o primeiro passo para que ele desperte ou resgate no aprendiz o prazer em aprender. Porém o psicopedagogo deve visualizar o aprendiz como um todo, incluindo o meio no qual ele vive e respeitando suas limitações. De acordo com o Conselho Nacional da Associação Brasileira de psicopedagogia (1997) o psicopedagogo: § Possibilita a intervenção visando a solução dos problemas de aprendizagem tendo como enfoque o aprendiz ou a instituição de ensino público ou privado; 17 § Realiza diagnóstico e intervenção psicopedagógica, utilizando métodos, instrumentos e técnicas próprias da Psicopedagogia; § § Atua na prevenção dos problemas de aprendizagem; Desenvolve pesquisas e estudos científicos relacionados ao processo de aprendizagem e seus problemas; § Oferece assessoria psicopedagógica aos trabalhos realizados em espaços institucionais; § Orienta, coordena e supervisiona cursos de especialização de Psicopedagogia, em nível de pós-graduação, expedidos por instituições ou escolas devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da legislação vigente. Para Beauclair (1994) o psicopedagogo é aquele que deve ser o mediador do processo de transmissão para apropriação do conhecimento. Ele deve atuar de forma preventiva ou terapêutica. Segundo Mendes (1994) o psicopedagogo deve atuar comprometido com a melhoria das condições de aprendizagem. Ele deve realizar o trabalho através de estratégias que levem em consideração a individualidade do aprendiz, levando em consideração o contexto educacional. Enfim, o psicopedagogo dever ser imparcial, não deve ter preconceitos, tem que ter uma escuta atenta e um olhar amplo. 1.3.1 O psicopedagogo clínico. Para se tornar um psicopedagogo clínico, no Brasil, é necessário ter a formação em cursos de pós-graduação, ter feito clínica e ter uma supervisão psicopedagógica4, pelo menos no início. O psicopedagogo clínico atua em consultório, fazendo um trabalho terapêutico. Ele busca compreender o que está implícito na dificuldade 4 O psicopedagogo deve ter sempre com que trocar suas experiências, tirar suas dúvidas, por isso a necessidade da supervisão. Esta supervisão pode ser feita por um outro psicopedagogo, com mais experiência. 18 processo de ensino aprendizagem, visualizando o indivíduo, o meio em que vive, sua história e contexto sócio-cultural. Para Sampaio (s/d) primeiramente deve ser feito um diagnóstico, do paciente, caso haja mesmo um problema de aprendizagem diagnosticado o psicopedagogo inicia o tratamento através de alguns recursos como jogos, brinquedos, contos de histórias e o que mais lhe for oportuno. O psicopedagogo não é um professor particular ele não ensinará a “matéria” para o seu paciente. Através dos jogos, fará com que a criança obtenha maturidade, responsabilidade, desenvolva o raciocínio, entre outros e assim alcançar seus objetivos escolares. Percebendo seus possíveis erros e tentando compreende-los. O psicopedagogo deve aguçar os sentidos e percepções para que seus pacientes possam entender os conceitos. Ele deve dar as ferramentas para a criança solidificar seus conhecimentos. 1.3.2 O psicopedagogo institucional. O psicopedagogo institucional atua em Instituições como escolas, empresas e até mesmo em hospitais. Como o psicopedagogo clínico, para atuar nesta profissão aqui no Brasil, é necessário o curso de pós-graduação em Psicopedagogia, mas não é necessário o estágio e a supervisão (sendo importante sempre a troca com outros profissionais e o estudo continuado). O psicopedagogo institucional também não atua como professor particular, salvo quando este atua em hospitais5. O trabalho dele é atuar diretamente na prevenção, mostrando aos professores6 como isso é possível. Nas empresas ele pode trabalhar de forma estratégica, com a direção; de forma tática com a gerência, podendo atuar diretamente com o planejamento; ou no operacional. Mas em qualquer destas relações ele deve valorizar o conhecimento e fomentar as relações interpessoais. Segundo Sampaio o psicopedagogo na instituição escolar poderá: 5 Neste caso, o psicopedagogo ensina sim o conteúdo porque as crianças e/ou adolescentes estão fora da escola por um tempo. 6 Neste caso atuando em Escolas. 19 § Ajudar os professores, auxiliando-nos na melhor forma de elaborar um plano de aula para que os alunos possam entender melhor as aulas; § Ajudar na elaboração do projeto pedagógico; § Orientar os professores na melhor forma de ajudar, em sala de aula, aquele aluno com dificuldades de aprendizagem; § Realizar um diagnóstico institucional para averiguar possíveis problemas pedagógicos que possam estar prejudicando o processo ensinoaprendizagem; § Encaminhar o aluno para um profissional (psicopedagogo, psicólogo, fonoaudiólogo), a partir de avaliações psicopedagógicos; § Conversar com os pais para fornecer orientações; § Auxiliar a direção da escola para que os profissionais da Instituição possam ter um bom relacionamento entre si; § Conversar com a criança ou adolescente quando precisar de orientação. Cabe ao psicopedagogo não parar de estudar, estar sempre atualizado, comprometido com seu trabalho, estar preparado para reações adversas e principalmente escutar e olhar. 20 CAPÍTULO II O LÚDICO 2.1 – Brincar para a aprender. O ato do brincar existe desde os primórdios. Se pararmos para pensar todos, de crianças a adultos, até mesmo os idosos em algum momento ainda brincam. E isso ocorre de forma tão natural que às vezes nem percebemos. O primeiro a demonstrar interesse por estudos sobre o lúdico foi Platão que acreditava na importância dos jogos no desenvolvimento da aprendizagem das crianças, principalmente na Matemática. Desde então, passando pelos séculos XVII, XVIIII onde foi feita uma diferenciação entre as fases da infância e a adulta7 o conceito de infância vem sendo modificado, respeitando cada vez mais as características infantis. Hoje, todo profissional que trabalha com crianças, já deve ter percebido que quando se introduz uma brincadeira, elas correspondem, afinal, brincar faz parte da infância, ninguém precisa ensinar as crianças a brincarem, elas já fazem isso sozinhas. Há tempos atrás se acreditava que o brincar e o aprender não poderiam ser trabalhados juntos. Cada qual tinha o seu momento, havia um abismo entre os dois, e os momentos deveriam ser bem diferenciados, “não se concebia que fosse possível aprender quando se brincava.” (Antunes, 2007, p.30) Porém esta ideia aos poucos foi sendo substituída por outra que acreditava que existiam dois tipos de brincadeiras: a lúdica, que tinham por finalidade animar e distrair e as brincadeiras que poderiam sim ensinar algum conceito, desenvolver habilidades. Ainda hoje há pessoas que acreditam na primeira ou na segunda ideia. Porém estes dois conceitos foram literalmente superados, acreditando-se que o brincar e o aprender estão unidos em tempo integral. 7 Nestes séculos o conceito de infância foi se modificando, valorizando as características essenciais da infância. 21 ... é no ato de brincar que toda criança se apropria da realidade imediata, atribuindo-lhe significado. (...) jamais se brinca sem aprender e, caso se insista em uma separação, esta seria a de organizar o que se busca organizar o que se busca ensinar, escolhendo brincadeiras adequadas para que melhor se aprenda. (idem, p.31) Para Vygotsky (2007) a importância do brincar para o desenvolvimento infantil está no fato desta atividade contribuir para a mudança na relação da criança com os objetos. “A criança vê um objeto mas age de maneira diferente em relação ao que vê. Assim é alcançada uma condição que começa a agir independentemente daquilo que vê.” (p.110) Podemos perceber que a brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento do sujeito na medida em que com os mesmos objetos ele pode transformar e produzir novos significados. Piaget (1998) afirma que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo assim indispensável à prática educativa. Segundo Weiss (2008) para se trabalhar com crianças é indispensável haver um tempo e um espaço para que as crianças possam brincar. É através do brincar que a criança se comunica melhor, se revela. Então para o trabalho psicopedagógico não pode ser diferente. Desde o diagnóstico e durante todo o tratamento o trabalho deve ser desenvolvido através de jogos, dramatizações, brincadeiras, enfim, de uma maneira lúdica. Brincando, as crianças constroem seus próprios mundos e dos mesmos fazem o vínculo essencial para compreender o mundo adulto, ressignificam e reelaboram acontecimentos que estruturam seus esquemas de vivências, sua diversidade de pensamentos e a gama diversificada de sentimentos. (Antunes, 2007, p.32) Segundo Winnicott (1975) “É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação.” (p.79) Para ele o brincar é essencial para que a criança possa construir um espaço de experimentação entre os dois mundos: o interno e o externo. Ele acredita que é somente 22 através do brincar que qualquer indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo, e sendo criativo é que o indivíduo descobre o seu eu. Autores mais novos como Weiss (2008) também acredita que o processo lúdico é muito importante no trabalho psicopedagógico, pois é através deste processo transicional: “criança-outro, indivíduo-meio” que se dá a aprendizagem. Com crianças de até aproximadamente 7 anos, costumo conduzir o diagnóstico de forma lúdica. (...) Com crianças até 10-11 anos utilizo o jogo de modo muito flexível. Proporciono espaços lúdicos nas diferentes sessões, alternando com situações formalizadas de testagem e de avaliação pedagógica. (idem, p.74) Para Weiss, quando trabalhamos com o brincar estamos no caminho certo para a cura, pois o “brincar é universal e saudável” e através da brincadeira ambos, o paciente e o profissional brincam juntos, rompendo com qualquer tipo de barreiras. Confirmando este mesmo pensamento temos Winnicott (1975): A psicoterapia se efetua na sobreposição de duas áreas do brincar, a do paciente e a do terapeuta. A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas. (p.75) O brincar é fundamental para o processo de aprendizagem das crianças, pois é através do brincar que a criança elabora conflitos e ansiedades, demonstra sentimentos que não sabe como explicar como sofrimentos e angústias. A brincadeira também estimula a memória, desenvolve linguagem interior e até mesmo a exterior, trabalha a atenção, explora a criatividade, favorece a auto-estima, interação com seus pares, propiciam situações de aprendizagem que desafiam seus saberes. 23 2.2 - Algumas brincadeiras. A criança segundo Kishimoto (2002) brinca desde seu nascimento, e continua a brincar com seus pares, porém inicialmente este brincar não tem o objetivo educativo ou de aprendizagem pré-definido. Alguns autores afirmam que a brincadeira por algum tempo não passa de uma recreação, um prazer, mas também faz com que a criança interaja com seus pais, familiares e explore assim o meio em que vive. Ao longo do seu desenvolvimento elas são capazes de começarem a estruturar suas brincadeiras. Aos poucos vão construindo novas e diferentes competências no contexto das práticas sociais, que irão lhe permitir compreender e atuar e forma mais ampla no mundo. Assim neste capítulo irei apresentar algumas brincadeiras e seus objetivos. 2.2.1- O faz de conta Para muitos pesquisadores, as brincadeiras de faz-de-conta são de extrema importância para o desenvolvimento da criança. Pois enquanto ”faz de conta”, ela finge estar vivendo a realidade. É uma brincadeira complexa que faz a criança se colocar no lugar do outro, desenvolvendo assim sua imaginação. A criança amplia sua capacidade de ver o mundo, consegue resolver questões conflitantes do dia-a-dia, aprende a cooperar com os outros, desenvolve sua criatividade, autonomia, ajuda a entender e conviver com as regras, e principalmente ajuda a conhecer e a desenvolver sua capacidade. Segundo a teoria dos estágios de desenvolvimento de Piaget a brincadeira do faz de conta ocorre no período pré-operacional, entre os 2 e 7 anos. Neste período o desenvolvimento do pensamento e o planejamento da ação ocorrem antes da ação. É comum presenciarmos crianças nesta idade narrando tudo o que irá fazer e só depois de fato concretiza o seu pensamento, sua fala. Neste estágio há um grande desenvolvimento da fala, organizando as palavras em frases e a linguagem juntamente a ação passa a ser uma possibilidade de expressar ideias, sentimentos, emoções. 24 2.2.2 – Brinquedos Os brinquedos são os objetos que ajudam a estimular a criatividade das crianças. Não se pode negar sua importância, pois com eles as crianças e até mesmo adolescentes e adultos interpretam muitas ações das mais variadas formas e inúmeras vezes. Os brinquedos são modificados de acordo com a cultura e com o tempo, mas o objetivo de orientar a brincadeira permanece. Eles são um convite ao brincar, facilitando e enriquecendo as brincadeiras, proporcionando desafios e motivação. Porém convém ressaltar que para ser significativo para criança, o brinquedo deve fazer sentido em sua realidade. Assim que a criança vê o brinquedo automaticamente ela é estimulada , é tocada pela sua proposta, reconhece seu objetivo, inventa outras formas de brincar com o mesmo objeto, experimenta, reinventa, analisa, compara, cria. Desenvolvendo sua imaginação e habilidade, enriquecendo seu mundo interior. O brinquedo ajuda a traduzir o real para a realidade infantil, suavizando o impacto do mundo real adulto para o infantil, diminuindo o sentimento de impotência da criança. Também ajuda a estimular a inteligência, possibilita a concentração, atenção e distrai oferecendo uma saída a esta tensão provocada pelo mundo adulto. Uma boneca pode ser uma boa companhia. Uma bola, uma corda convida para trabalhar a coordenação motora além de fazer o sujeito exercitarse. Os quebra-cabeças desafiam, os jogos trabalham a socialização, além de outras coisas mais. O carrinho faz muitos chegarem a lugares que só a imaginação é capaz. Enfim os brinquedos são importantes, pois servem de intermediários para o sujeito consiga se integrar e compreender melhor a realidade. 2.2.3 – Jogos com regras Os jogos com regras começam a aparecer progressivamente na vida das crianças, à medida que estas vão crescendo. Há uma necessidade de 25 interagir com o outro, ocorrendo um processo de socialização. Estes jogos pressupõe relações sociais ou inter-individuais. As regras passam a ser uma regularidade imposta pelo grupo. Em alguns jogos tem de haver uma cooperação entre os participantes, daí a necessidade de se socializar. O jogo com regras é considerado uma atividade lúdica do ser socializado, por isso é difícil para uma criança antes dos 5 anos entender e participar deste tipo de atividade. É necessário que a criança entenda e obedeça as regras que deverão ser estabelecidas anteriormente. Para que haja um entendimento durante o jogo, as crianças deverão se submeter a estas regras préestabelecidas e pré – elaboradas pelo grupo. Para Piaget (1971) o jogo favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, moral e social. Por isso não deve ser visto apenas como um divertimento ou apenas para gastar energia. Através do jogo, principalmente as crianças que estão no período sensório-motor e no pré-operatório, processam a construção do conhecimento. Os jogos fazem com que as crianças queiram superar os obstáculos, elevando a motivação delas e consequentemente mais motivadas a usar a inteligência. 26 CAPÍTULO III A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ATRAVÉS DO LÚDICO. 3.1 – Como intervir utilizando o lúdico. Neste capítulo terei como base o livro Psicopedagogia Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar da autora Maria Lúcia Lemme Weiss. Escolhi utilizar este livro por se tratar de um livro que nos ajudará a entender como ocorre a intervenção através do lúdico. Que todas as crianças brincam todos nós sabemos. O que busco mostrar neste trabalho monográfico é que, como foi dito no capítulo anterior, as crianças brincando, se desenvolvem, se tornam criativas, elevam a autoestima, enfim aprendem. Segundo Weiss (2008) quando se adiciona o lúdico a terapia ou até mesmo durante o diagnóstico o resultado se torna muito mais eficaz e verdadeiro, pois a criança não apenas reproduz no consultório o que faz na escola. Quando no diagnóstico propúnhamos situações lúdicas ou de vida real, elas eram capazes de compreender e de responder com acerto. Mas quando era utilizado um “texto escolar oficial” elas se confundiam, perdiam a seqüência lógica, ficavam ansiosas. (p.101) A sessão lúdica diagnóstica distingue-se da terapêutica, porque nessa o processo do brincar ocorre espontaneamente, enquanto que na diagnóstica há limites mais definidos. Nesta última podem ser feitas intervenções provocadoras e limitadoras para se observar a reação da criança: se aceita ou não as propostas, se revela como quer ou pode brincar naquela situação, como resiste as frustrações,... (idem, p.75) A autora citada mudou sua forma de atender após trabalhar muitos anos utilizando a técnica da EOCA (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem). Apesar de acreditar na necessidade da EOCA, Weiss sentia 27 falta de um diagnóstico mais completo, informal e eficaz e aos poucos foi adicionando um ar lúdico, que rapidamente começou a surtir efeito. Senti que para algumas crianças a EOCA ficava excessivamente formal, tocando de saída seu “ponto fraco” escolar... o produto inicial era de pior qualidade do que o apresentado no final do diagnóstico, quando eu repetia algumas das atividades feitas na EOCA. Ficou claro que no final já havia uma diminuição da ansiedade inicial, e a construção de uma melhor relação comigo. Fiz algumas modificações na forma de apresentar a EOCA dando um “ar lúdico”... e concluí que a produção do paciente era melhor, sentindo-se ele mais à vontade, até mesmo para recusar mostrar o que sabia. (ibidem, p.76) A partir do momento no qual Weiss começa a integrar os dois instrumentos, Hora do Jogo e a EOCA, ela percebe que ocorre no paciente um brincar mais espontâneo, passando adotar esta forma nas sessões. Assim acredita que os resultados passam a ser mais satisfatórios e com dados mais precisos para ajudar na compreensão do sujeito. Apesar de acreditar que nem sempre é preciso a aplicação de testes e provas para chegar a conclusões diagnósticas, a autora também não descarta a importância destas avaliações durante o diagnóstico. Mas desde que seja apenas mais um meio auxiliar, sendo avaliado todo o processo. O uso de teste e provas não é indispensável... Ele representa um recurso a mais a ser explorado pelo terapeuta em alguns casos. É uma complementação que funciona com situações estimuladoras que provocam reações variadas... Um levantamento apenas psicométrico dos testes, de acordo com suas escalas, pode conduzir a uma visão parcial, com possíveis distorções; é preciso sempre fazer uma avaliação qualitativa durante todo o processo de testagem. (Weiss, 2008, p.104) 3.2. – O material. A escolha do material para atividades lúdicas, feitas dentro ou não de um consultório, deve ser cuidadosa. O psicopedagogo deve estar atento ao seu objetivo, tempo disponível e a idade do paciente. O material deve ser atrativo, 28 mas principalmente pelo seu possível uso e não por ser diferente do utilizado no dia-a-dia do paciente. O psicopedagogo deve ter também um cuidado ao apresentar o material. Há muitas possibilidades de organização: colocar todo o material dentro de uma caixa; arrumá-lo todo em cima de alguma mesa ou móvel de fácil acesso ao paciente; separar os materiais colocando em alguns lugares como estantes, em caixas, sobre a mesa. O importante é deixar o paciente livre para escolher o material que ele quer utilizar, mas vale sempre a pena orientá-lo, ter uma explicação inicial conversando que ele pode utilizar todo o material para fazer o que quiser ou o que for pedido. Exemplos de materiais: - folhas de papel de vários tamanhos e texturas; - lápis de cor, apontador, pilot, cola, tintas - material para possíveis construções: madeiras, pregos, ferramentas; - sucatas; - fantoches, bonecos, animais; - jogos comerciais estruturados. 3.3 – O que deve se avaliar Segundo Weiss (2008, p.79-81) as atividades lúdicas revelam de forma espontânea a personalidade do homem, por isso o psicopedagogo deve estar atento a todo o processo do paciente. Os seus conhecimentos prévios, o caminho utilizado para resolver problemas, o que o paciente quer ou precisa esconder, o que ele já aprendeu o que não quer aprender, enfim cabe ao psicopedagogo um olhar mais preciso fixado na aprendizagem. 1- A escolha do material e da brincadeira o Atividade e material que repetem a situação escolar sem criatividade o Selecionar material figurativo e fazer guerras, fazendas, lojas, etc 29 o Buscar tintas, massa plástica, pinos e blocos e tentar criar alguma coisa o Escolher material de sucata e transformá-lo imaginando novas coisas 2- O modo de brincar Alguns parâmetros a serem avaliados são se a criança: o Usa o material mais ao alcance da mão, não explorando os restantes o Explora todo o material e depois se fixa em alguma coisa o Escolhe materiais planejando uma brincadeira o Faz estimativas, faz medidas e cálculos ou não o Estrutura uma brincadeira com começo, meio e fim o Tem flexibilidade no uso dos objetos, modificando-o conforme a necessidade o Faz brincadeiras criativas ou repete situações convencionais o Começa uma atividade e a interrompe, passando a outra, sem nunca concluir a primeira o Permanece concentrada durante a brincadeira o Faz na brincadeira mais ações de desmanchar, separar, dividir e cortar ou de reunir, construir, colar e juntar o Faz, num jogo dramático os vários papéis ou se solicita que o terapeuta participe o Se resolve as situações problemáticas que surgem e como faz o Usa o corpo na medida do necessário, movimentando-se, ocupando bem o espaço 3- A relação com o terapeuta o Se brinca sozinha, concentrado e ignorando o terapeuta o Se brinca sozinha, mas olhando constantemente o terapeuta o Se fica dependendo do terapeuta para brincar pedindo sempre a sua ajuda 30 o Se pede eventualmente a ajuda do terapeuta e quando esta parece necessária o Se só escolhe brincadeiras que necessitam da participação do terapeuta como parceiro Como foi visto, há muitas formas de avaliar as atividades lúdicas. Mas não podemos esquecer de relacionar à avaliação a queixa, investigar todo o processo e principalmente relacionar o observado aos dados obtidos nos testes e na anamnese. 31 CONCLUSÃO Ao fazer um estudo sobre o lúdico como intervenção psicopedagógica, pretendi chamar atenção daqueles que ainda acreditam que o brincar deve ser visto apenas como recreação, que quando se brinca não se aprende, apenas se diverte. As diversas formas, maneiras de brincar são fontes de pesquisas de muitos autores e estudiosos principalmente das áreas de Psicologia, Pedagogia, enfim áreas que lidam com a educação, com o desenvolvimento infantil e com o processo de aprendizagem. Como professora de Educação Infantil, acredito que as escolas devem trabalhar junto ao psicopedagogo e incentivar as brincadeiras não só para crianças de maternal e sim por toda a vida. Quando a escola não sabe lidar com uma criança e suas dificuldades ela é capaz de agravar a situação, bloqueando o funcionamento intelectual em relação à aprendizagem. O brincar faz parte do ser humano, nós aprendemos brincando, é através do brincar, do fantasiar, que conseguimos realizar muitos planos na fase adulta. Mas vale ressaltar também que as brincadeiras devem ser forem utilizadas com propósitos, objetivos, semi-planejadas. Considerando sempre a realidade vivida do paciente, sua individualidade, seu contexto histórico e cultural. Para que assim, os resultados possam ser mais eficazes. Ao término deste trabalho ficou evidente a importância de resgatar a ideia do brincar para aprender, do quanto é importante o lúdico para a intervenção do psicopedagogo. Pois, partindo das psicopedagogo tem uma ferramenta muito valiosa nas mãos. brincadeiras o 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, Celso. Educação Infantil: prioridade imprescindível. 5ª ed. Petrópolis,RJ: Editora Vozes, 2007. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA. Site<www.abpp.com.br> Acessado em 12/02/2010. BEAUCLAIR, João. O que é Psicopedagogia? Site<www.psicopedagogia. com.br/entrevista.asp> Publicado em 29/06/2004. Acessado em 16/12/2009. BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. KISHIMOTO, T.M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 2002. MENDES, Mônica H. A práxis psicopedagógica, seu campo de atuação e sua identidade. In: SARGO, Claudete; WEINBERG Cybelle; MENDES Mônica; SOUZA Sonia; MOREIRA Suely (org). A práxis psicopedagógica brasileira. São Paulo: ABPp, 1994. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. SAMPAIO. Simaia. Sobre a psicopedagogia. Site <www. psicopedagogiabrasil.com.br> Acessado em 12/02/2010. SISTO, F.F. Aprendizagem e mudanças cognitivas em crianças. Petrópolis: Vozes, 1997. VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 13 ed.Rio de Janeiro: Lamparina, 2008. WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA, 1975.