O Mercado de Luxo O MERCADO DE LUXO NO BRASIL M 68 REVISTA DA ESPM–JANEIRO/FEVEREIRO DE 2005 aria Lúcia Cucci dirige o setor de mídia da Publicis Salles Norton e foi a principal responsável pelo estudo que mereceu ser um dos finalistas do prêmio de mídia de O Estado de S. Paulo sobre o tema luxo. A idéia surgiu de um convite recebido da Câmara Americana para uma palestra, em 2003, sobre o tema. Pela primeira vez, realizava-se, Maria Lúcia Cucci RETRATO DAS FAMÍLIAS RICAS DO BRASIL ❖ 2000 – 1.162.164 famílias com renda média mensal de R$ 10.982 (set/03) 2,4% DO TOTAL ❖ 1980 – 507.600 famílias 1,8% DO TOTAL ❖ para os 1% mais ricos, a renda mensal é de R$ 23.388, contra R$ 1.608 da média da população ❖ 10 cidades mais abastadas concentram 60% e, as 100 cidades com mais ricos 84% ❖ 5.000 famílias “muito ricas” – 0,001% do total do país = 40% do PIB (patrimônio) ❖ 4 cidades concentram 50% das famílias mais ricas SÃO PAULO RIO DE JANEIRO BRASÍLIA BELO HORIZONTE Há, entretanto, um aspecto sobre o qual Maria Lúcia não se recusa a falar, mas que é de difícil constatação: a faixa populacional de rendimento superior, no Brasil, é discreta a respeito do assunto. “Pode-se considerar que o número de famílias que não declaram IR, mas têm alto rendimento mensal, pode ser até 50% maior do que os números da pesquisa...” As regiões Norte e Nordeste apresentam concentração de riqueza nas capitais – 66,8% e 68,5%. Nas demais regiões, o percentual é, significativamente, mais baixo – Sudeste, 53,5%; Sul, 38,3% e Centro-Oeste, 46,6%. PERFIL DOS RICOS 2/3 no Brasil, um estudo com informações concretas, dando a demografia do mercado e acrescentando dados qualitativos. O trabalho está servindo como referência para alunos e professores de cursos especializados. O grupo Publicis, a que pertence a agência, atende a diversos clientes do setor, como Armani e L´Oreal. “O estudo que fizemos”, diz Maria Lucia, “mostra, em 2000, 1,162 milhão de famílias com renda média de R$ 10 mil – 2,4% do total de famílias brasileiras. Em vinte anos subiu de 1,8 para 2,4%. Se formos trabalhar com 1% mais rico dessa faixa, a média mensal é R$ 23 mil contra R$ 1,6 mil da população. A concentração é grande”. 40% 60% POSSUEM CURSO SUPERIOR COMPLETO ALTOS DIRIGENTES DO SETOR PRIVADO SÃO HOMENS 18% 12,8% 28,5% PROFISSIONAIS LIBERAIS ALTOS DIRIGENTES DO SETOR PÚBLICO EMPREGADORES JANEIRO No que se refere à definição do conceito, usou-se, na pesquisa uma divisão básica em luxo intangível – “que, no Brasil, não existe. É o luxo que dificilmente se consegue alcançar – o exclusivo, o histórico, iate, objetos de arte. Depois, o luxo ‘intermediário’ que é o da Porsche, Ferrari, Armani que – para uma camada maior da população – surge como objeto de desejo”. Finalmente, conclui ML, “há o luxo acessível que é a porta de entrada para o /FEVEREIRO DE 2005–REVISTA DA ESPM 69 O Mercado de Luxo SÃO PAULO ❖ Das 100 cidades mais ricas – S. Paulo (Estado) tem 47. Destaque para S. Bernardo (5o), S. André (8o) e Guarulhos (9o) ❖ 443.462 famílias ricas que correspondem a 75,7% do Estado e 38% do país. Em 1980, a participação era de 23%. ❖ 76.738 famílias têm renda média superior a R$ 36.600 ❖ 10 distritos concentram 51,1% das famílias que movimentam mensalmente R$ 1,5 bilhão JARDIM PAULISTA – 5.813 (2º metro quadrado + caro do país) MOEMA – 5.757 V. MARIANA – 4.652 CONSOLAÇÃO – 2.945 ITAIM BIBI – 4.472 ALTO DE PINHEIROS – 2.694 PERDIZES – 4.296 MORUMBI – 2.594 PINHEIROS – 3.484 S. AMARO – 2.472 mercado do luxo – artigos de couro, perfumes, camisetas – luxos menores”. Quanto à distribuição geográfica, a maior concentração é mesmo em São Paulo e Rio de Janeiro. Brasília é um grande pólo. Porto Alegre tem sua importância. “O resto do Brasil vem comprar em São Paulo. Campo Grande, por exemplo, tem um crescimento grande no número de ricos pelo agribusiness. Há outros lugares que estão despontando com essa característica”, afirma Maria Lúcia. Para a vice-presidente de mídia da Publicis Salles Norton, o mercado brasileiro vai conhecer, ainda, uma grande expansão, a começar pelo mercado joalheiro, com empresas como a H. Stern. Mas trata-se ainda de um mercado em que prevalecem as marcas internacionais. Diz Maria Lúcia: “Luxo é referência. Há serviços de luxo, no Brasil, que são brasileiros – hotéis, restaurantes de luxo. Mas precisa de muito tempo e dinheiro investido”. Foto: Corbis/Stockphotos Maria Lúcia critica, também, o atendimento. “Falta, no Brasil, atendimento personalizado, um CRM bem feito para que as marcas se aproximem do consumidor e transformem essa experiência de comprar em algo diferente. Nas lojas mais modernas, nem lhe dão atenção, se você não estiver dentro do que julgam ser o seu consumidor-padrão. Quando, lá fora, recebe-se um tratamento de rei. O mercado brasileiro ainda tem muitas dificuldades de atendimento. O pós-venda, simplesmente não existe.” ESPM 70 REVISTA DA ESPM–JANEIRO/FEVEREIRO DE 2005 Maria Lúcia Cucci SEUS GASTOS AUMENTO DO ATIVO Habitação Impostos Alimentação Manutenção do Lar Vestuário Transporte Higiene/Cuidados Pessoais Saúde Educação Recreação Cabeleireiros Outros 23,1% 17,8 % 15,0 % 10,3 % 3,8 % 3,9 % 8,9 % 0,9 % 5,8 % 3,9 % 2,7 % 1,1 % 3,1 % (56% veículos / 4% imóvel) (imposto + contribuição trabalhista) (36,2% fora do domicílio) (46% eletroeletrônicos) (31% roupas femininas / 8% jóias) (combustível e manutenção) (32% seg. saúde / 17% remédios) NOVO CONSUMIDOR DO LUXO São segmentos da população que buscam produtos de qualidade, que traduzam status e estilo de vida. Compram como forma de gratificação. Acima do luxo, eles querem experiências únicas, capazes de reproduzir estilos de vida sonhados. Na maioria das vezes compram esse sonho a prazo. MULHERES SOLTEIRAS QUE TRABALHAM Executivas com 25 a 35 anos, que moram com os pais. Salário é destinado a compras de produtos pessoais, lazer e viagens. Compram produtos de qualidade que reforcem a posição profissional (bolsas, pastas, óculos, perfumes e maquiagem) DIVORCIADO SEM FILHOS Homens e mulheres de 35 à 49 anos, sem filhos. As mulheres tendem a consumir jóias, produtos de cuidados pessoais e sapatos. Os homens consomem relógios, produtos para cozinha e eletrônicos. Ambos guardam uma parte para a compra de carro novo e uma casa maior. HOMENS SOLTEIROS Executivos de 29 a 39 anos, que moram com os pais. Salário é destinado a restaurantes, roupas e entretenimento. CASAIS QUE TRABALHAM, COM FILHOS ADULTOS Entre 45 e 65 anos, a soma dos rendimentos os colocam em boa situação financeira, mas consomem os produtos de qualidade com cuidado. Investem em viagens, produtos tecnológicos, carros e na casa. CASAIS QUE TRABALHAM, SEM FILHOS E ntre 30 e 40 anos. Consomem produtos para casa, principalmente para a cozinha e entretenimento. Viagens e restaurantes também são prioridades. JANEIRO /FEVEREIRO DE 2005–REVISTA DA ESPM 71