João Paulo II, “o passageiro ideal” Entrevista com Antonio Berardo, piloto de helicóptero de Wojtyla ROMA, quarta‐feira, 20 de abril de 2011 (ZENIT.org) ‐ João Paulo II era o passageiro ideal: "Durante os voos, ele nunca manifestou preocupações concretas ou medos", segundo relata Antonio Berardo, piloto de helicóptero do Papa Wojtyla. Ao longo de 20 anos, ele conduziu o Pontífice pelos céus, viajando por toda a Itália. "Lembro‐me de uma vez em que fomos ao aeroporto de Orio al Serio ‐ conta o comandante. Havia um temporal fortíssimo. O Papa estava sentado tranquila e serenamente; nós realizamos as nossas operações e tudo correu bem. Também quando havia turbulências, algo que acontece frequentemente com um helicóptero, nunca víamos o Papa tenso ou preocupado. Era o passageiro ideal, tranquilo." ZENIT: O que João Paulo II fazia durante o voo? Berardo: Durante a viagem, o Papa normalmente lia ou olhava atentamente e com curiosidade pela janela, sobretudo quando voávamos por regiões montanhosas, e admirava as paisagens nevadas. ZENIT: O Papa gostava de fazer excursões fora do programa? Berardo: Sim, é verdade. Durante os traslados, sobretudo os das quartas‐feiras, do Vaticano a Castel Gandolfo, ele gostava de fazer saídas não programadas. Entre a nossa equipe e o Papa havia um entendimento perfeito. Não era preciso que ele pedisse: bastava um gesto com a mão para dar a entender o "Vamos dar uma voltinha". Perguntávamos ao secretário Dziwisz aonde ele queria que o levássemos e quanto poderíamos nos afastar. O Papa adorava ir até a neve e no verão fazíamos excursões pelas montanhas, chegando inclusive ao ‘Gran Sasso'. Uma vez o levamos até o mar, às ilhas Pontinas. Depois de perguntar‐lhe várias vezes, numa ocasião ele nos disse: "Está bem, hoje vamos a Ponza". E ficava observando a paisagem. Era muito divertido. ZENIT: Como era viajar com o Papa? No fundo, você era o piloto dele... Berardo: Na primeira vez que tive a oportunidade de voar com o Papa, eu me senti muito emocionado. Sabia que levava um personagem de enorme importância. Portanto, também estava tenso. Depois, com o passar do tempo, isso foi se tornando algo mais tranquilo e rotineiro. Converteu‐se em algo automático, quase familiar. A tensão e a emoção passaram rapidamente. ZENIT: Como era a relação entre o Papa e a equipe? Berardo: De vez em quando, João Paulo II conversava um pouco conosco. Mas o que mais gostávamos dele eram os seus gestos, a saudação militar que fazia quando nos via, o sorriso, um tapinha nas costas, o abraço. Uma vez ele me abraçou porque salvei uma situação no último minuto. O Papa era muito espontâneo. Algumas vezes ele foi até a cabine, olhou para todos os equipamentos, observou, colocou os fones de ouvido e depois voltou para o seu lugar. ZENIT: Como é o lugar do Papa em seu helicóptero? Berardo: A poltrona na qual o Papa se senta é muito admirada. É uma poltrona confortável, ao lado de uma grande janela, que permite ver a paisagem, quase como uma varanda para o mundo. Depois, há uma pequena mesa em frente, muitas vezes enfeitada com flores. Em resumo, muitos me pedem para tirar uma foto nessa poltrona. ZENIT: Você poderia nos contar alguma história, alguma curiosidade? Berardo: Tornou‐se algo tão rotineiro para nós levar o Papa, que às vezes até esquecíamos de quem se tratava. Numa quarta‐feira, eu lembro que havia um eclipse solar. Tínhamos nos preparado para levá‐lo para observar o eclipse. Paramos na pista do heliporto de Castel Gandolfo. Nós não estávamos equipados para o eclipse; no entanto, a prefeitura levou para o Papa uma máscara de soldador. João Paulo II estava perto de nós, e deixou que a usássemos. Em um determinado momento, um dos tripulantes ficou tanto tempo com a máscara, que disse ao Papa, como se fosse um amigo seu: "Só um minuto, que quero olhar um pouco mais". Uma característica de João Paulo II era que, com ele, sempre fazia bom tempo, mesmo quando se previa o contrário ou quando íamos direto rumo às tempestades. Quando fizemos 10 mil horas de voo, por exemplo, organizamos uma pequena confraternização com o Papa, em Castel Gandolfo. Mas choveu muito, caiu uma incrível quantidade de água. Nós não sabíamos o que fazer. No entanto, quando chegamos ao heliporto, parou de chover. Um milagre. O Papa parecia carregar consigo o "tempo bom".