PAPA FRANCISCO O ENVIADO DE DEUS Sábado - 03/08/2013 Cláudio Pighin* Francisco é um papa que ama estar perto das pessoas. “Eu não tenho medo”, disse ele, numa entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo. Para sentir as pessoas de perto, Francisco sempre quebra protocolos de segurança e até litúrgicos. Por que o santo padre faz isso? Porque ele, qual enviado de Deus, não pode exaltar a estética ou a estrutura do cerimonial em detrimento do ser humano. Ser próximo das pessoas significa querer conhecê-las, ouvi-las e, a partir daí, servi-las. Papa Francisco não tem dúvida de que sua missão é servir ao ser humano, sobretudo o mais pobre. Esse jeito espontâneo, improvisado e simples revela a urgência desse serviço. O povo tem sede dessa proximidade. Por isso, Mário Bergoglio tem coragem não somente de distribuir carinhos, simpatias, sorrisos, mas também de denunciar tudo que ameaça a vida das pessoas. Para essa atitude, o tom das suas palavras se torna mais enfático e caloroso. No encontro mundial dos jovens, no Rio, chegou dizer: “Com a cruz, Jesus se une aos muitos jovens que perderam sua confiança nas instituições políticas porque veem nelas egoísmo e corrupção; ou que perderam sua fé na Igreja, inclusive em Deus, pela incoerência dos cristãos e dos ministros do Evangelho”. Essa proximidade com as pessoas permite ao papa ser uma pessoa transparente da Palavra de Deus; dizer a verdade, custe o que custar, e não ser diplomático. Por isso, sua linguagem é simples, entendida por todos. Nesse sentido, levanta mais a voz: “Pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício”, declarou Francisco. O Pontífice pede, portanto, que as classes politicas e os mais ricos sejam mais solidários, fraternos e menos egoístas para mudar a nossa sociedade. “Lembremonos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica”, afirmou o santo padre. Uma sociedade, segundo o papa, se torna respeitável quando se preocupa, sobretudo, com quem menos tem, com quem mais necessita. Assim sendo, é urgente promover uma cultura que combata o egoísmo e o individualismo. Para o papa, precisamos da “cultura da solidariedade: ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão”. Para tanto, ele garante que a Igreja de Roma é fundada sobre o martírio e não sobre o poder, porque quando a lógica do poder prevalece não se deixa mais conduzir por Deus e pela fé. Resgatando a história da Igreja de Roma, ele diz: “Que se tornou logo, espontaneamente, ponto de referência para todas as Igrejas espalhadas no mundo inteiro, não pelo poder do império romano, mas pela força do martírio, do testemunho a Jesus.” Francisco não tem dúvida de que é o amor de Cristo que gera a fé e sustenta a Igreja. Por isso, sua mensagem é bem clara quando nos convida a viver o amor de Cristo com todos “sem diferenças, limites e barreiras”. Com isso, Francisco criou uma grande empatia com o povo, não somente da América Latina, mas do mundo todo. Existem pesquisas realizadas em vários países, nesses tempos, que confirmam a grande confiança do povo ao novo papa. Nós estamos vendo nesses dias como os brasileiros ficaram atraídos por ele. Só para ter uma ideia, o papa Francisco retornou ao Vaticano, porém, aqui no Brasil, continua presente na boca de todos. É o que mais se fala. O povo se sentiu fortemente fascinado pelos gestos e linguagens simples do ‘Enviado de Deus’. Quantas pessoas me disseram que ficaram emocionadas ao ver o papa, que beijava as crianças, que recebia algo do mesmo povo, que carregava a sua própria bolsa e, às vezes, mandava parar o papamóvel para se encontrar com alguém ou andar com um carro bem modesto e sem nenhuma segurança. É o papa que ama as pessoas e não as burocracias. No final, ele nos confirma que a presença de Deus passa por essa grandiosa obra que é o ser humano. Estar com os filhos e filhas de Deus é estar com Deus. Para isso, o papa Bergoglio elimina tudo o que lhe for possível, qualquer formalidade que lhe possa ser de obstáculo para servir a Deus pelas suas criaturas. *Cláudio Pighin, sacerdote, jornalista italiano naturalizado brasileiro, doutor em teologia, mestre em missiologia e comunicação. E-mail: [email protected]