DINAMICA DA CADEIA PRODUTIVA APÍCOLA DO PARANÁ: características produtivas e relações transacionais Laércio Barbosa Pereira Professor dos Cursos de Graduação e Mestrado em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Rua Biribá, 139 88034-490 Florianópolis (SC) CPF 59153652800 E-mail: laé[email protected] Silvio Antonio Ferraz Cario Professor dos Cursos de Graduação e Mestrado em Economia da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Rua Lauro Linhares, 897 ap. 503 Bloco A Bairro Trindade 88036-001 Florianópolis (SC) CPF 72249870853 E-mail: [email protected] José Paulo Souza Professor do Curso de Administração de Empresas da Universidade Estadual de Maringá UEM Rua Guarani, 361 87013-400 Maringá (PR) CPF 464760679-19 E-mail:[email protected] Área 4 - Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Forma de Apresentação – Sessão com debatedor 1 DINAMICA DA CADEIA PRODUTIVA APÍCOLA DO PARANÁ: características produtivas e relações transacionais Resumo: Neste trabalho apresentam-se as principais características do funcionamento da cadeia produtiva apícola do Paraná, considerado o 3o. maior produtor de mel do país, a partir de pesquisa realizada junto aos seus elos produtivos. Aponta-se a existência de esforços nos campos produtivos, tecnológicos e organizacionais visando criar melhores condições competitivas, sobretudo nos segmentos de fornecedores, produtores e processadores. Entretanto, registram-se problemas que restringem a melhor performance produtiva e o atendimento do mercado consumidor, dentre os quais: falta de conhecimento, manejo incorreto, falsificação de produto, oportunismo nas relações de mercado, visão empresarial de atividade complementar, etc. As transações efetuadas entre os elos cadeia produtiva processam-se, em grande monta, sob a governança do mercado, mas há registro de construção de instâncias que possibilitam maior coordenação das relações entre os agentes. Palavras-chave: cadeia produtiva apícola, cadeias agroindustriais, competitividade agroindustrial 1. INTRODUÇÃO O entendimento da realidade econômica passa a requerer interpretações pautadas pelo ambiente sistêmico, que envolve não somente as partes, mas o todo e suas inter-relações. Nesta sentido, ressalta-se a importância dos estudos sobre cadeias produtivas, onde requer avaliações das operações técnicas e econômicas das várias etapas percorridas no processo de produção e consumo de mercadorias, considerando os segmentos responsáveis – fornecimento de insumos, produção de matéria-prima, industrialização e comercialização. Bem como, é importante considerar os ambientes (organizacional, institucional, tecnológico e competitivo) existentes em torno da cadeia produtiva e que são fundamentais na construção de suas vantagens competitivas. Nesta perspectiva, realiza-se estudo sobre a dinâmica de funcionamento da cadeia apícola do Paraná onde se encontram cerca de 30.000 apicultores distribuídos em pequenos, médios e grandes, com uma média de 25 colméias/ apicultor, com registro da produção da ordem de 2.900 ton, nos últimos anos considerados, 2000-2002. Assim como, figuram no seu tecido industrial, empresas produtoras de equipamentos e de embalagens, bem como empresas processadoras e distribuidoras que contribuem para o desenvolvimento desta atividade. Para tanto este texto está dividido em 7 seções, onde na 1a. apresenta-se esta introdução; na 2a. apresentam-se os principais elementos de sustentação teórica-analítica; na 3a. descreve-se aspectos da produção e mercado do mel; na 4a. seção relata-se o procedimento metodológico; na 5a. seção apresentam-se as características da atividade desenvolvidas pelos elos constitutivos; na 6a. seção analisa-se a governança e coordenação das transações; e por fim na 6a. seção faz-se as conclusões. 2. TRATAMENTO TEÓRICO-ANALÍTICO: ELEMENTOS BÁSICOS PARA ESTUDO DE CADEIAS PRODUTIVAS 2.1 Cadeia Produtiva: caracterização geral A cadeia produtiva refere-se a um conjunto de operações técnicas responsáveis pela transformação da matéria-prima em produto acabado seguido da distribuição e comercialização em uma sucessão linear de operações. Expressa um conjunto de ações econômicas que busca acrescer valor em cada etapa garantida pela articulação das operações realizadas. Pode-se identificar pelo 2 menos, quatro mercados com diferentes características: entre os produtores de insumo e os produtores rurais; entre os produtores rurais e a agroindústria; entre a agroindústria e os distribuidores ou outras agroindústrias; e entre os distribuidores e os consumidores finais (BATALHA, 1995). A forma de organização percebida nas diversas cadeias produtivas difere em função dos diferentes níveis tecnológicos adotados e concepções gerenciais. Porém, essas diferenciações podem ser visualizadas entre agentes situados nos mesmos segmentos e em diferentes segmentos da cadeia. No entanto, as transações típicas e a influência dos ambientes institucional e organizacional, os quais se configuram em determinantes de competitividade, são comuns a todas as cadeias, conforme a Figura 2.1. Ambiente Institucional Cultura, Tradições, Educação, Costumes Agropecuária Insumos T1 T2 Distribuição Varejo Distribuição Atacado Indústria T3 Ambiente Organizacional Informação, Associações, P&D, Finanças, Firmas T5 T4 C O N S U M I D O R T= Transações Típicas entre os elos do sistema Figura 2.1: Sistema agroindustrial e transações típicas (ZYLBERSZTAJN, 2000, p.14). Além da seqüência dos elos dos insumos à distribuição, passando pela agropecuária e indústria, para se estudar as cadeias produtivas (bem como as empresas em seu interior) é importante considerar os ambientes econômicos internos e externos a esta e que tem significativos impactos em suas formas de governança e coordenação e, portanto, em seu desempenho competitivo. Assim, os ambientes organizacional, institucional, tecnológico e competitivo condicionam, no curto prazo, as estruturas de governança e as estratégias individuais, as quais determinam o desempenho em termos de sobrevivência e comportamento nos mercados. Assim como, no longo prazo, as estratégias individuais e coletivas (organizacionais) exercem influência sobre os espaços dos ambientes citados, alterando as estruturas de governança. Ao ambiente organizacional cabe a provisão de bens públicos e coletivos, cuja oferta adequada depende da ação do Estado ou de organizações de interesse privado (institutos de pesquisa, associações de produtores, sindicatos, etc), os quais podem ser fundamentais para a competitividade, dentre os quais destacam: sistemas de informações sobre mercados, tendências de consumo, monitoramento de inovações e difusão de novas tecnologias, acompanhamento de ação estratégica de concorrentes de outras regiões ou paises, etc. Este ambiente integra, ainda, os responsáveis pela provisão de um conjunto de bens públicos e privados, sobre os quais a empresa não tem, individualmente, controle, e que influenciam e condicionam as estratégias individuais, tais como: a dependência da infra-estrutura para a logística de transporte; a necessidade de articulação 3 de ações cooperativas entre rivais, fornecedores, distribuidores, institutos de pesquisa públicos e privados para a capacidade de ações estratégicas; instituições financeiras (FARINA, 1999; 1997). O ambiente institucional agrega os sistemas legais (leis, normas) importantes na solução de disputas, tradições e costumes, políticas macroeconômicas, tarifárias, tributárias, comerciais e setoriais adotadas pelo governo e por outros países, parceiros comerciais e concorrentes. Os processos de regulação ou desregulamentação setorial e de abertura comercial representam mudanças institucionais que aumentam a pressão competitiva e alteram as estratégias concorrências. Impactam, desta forma, diretamente sobre a organização dos sistemas produtivos. O ambiente tecnológico envolve o paradigma tecnológico vigente e a fase da trajetória tecnológica. Waack e Terreran (1998) observam que a boa performance dos sistemas produtivos está apoiada em sua capacidade de gerir o desenvolvimento tecnológico de cada um de seus elos, e no sistema como um todo, sendo a inovação de produtos e processos a chave para a obtenção e manutenção de competitividade. As pressões, nas diversas instâncias e níveis, influenciam a escalada tecnológica, a qual responde alterando o padrão tecnológico vigente ou até mesmo substituindo as tecnologias tradicionais, de forma a atender as demandas em curso. Os sistemas de informação tecnológica e de monitoramento de ofertas de tecnologia despontam, no sistema produtivo, como essenciais para identificação das diversas alternativas tecnológicas que surgem, e que não são facilmente visíveis por terem suas performances inferiores à tecnologia em uso. Por sua vez, o ambiente competitivo se relaciona ao ambiente externo à firma, onde se situam seus rivais, clientes e fornecedores, sendo constituído pela estrutura de mercado relevante, envolvendo economias de escala e escopo, grau de diferenciação dos produtos, barreiras técnicas de entrada e saída e o grau de concentração. Envolve, ainda, os padrões de concorrência vigentes cujas regras que determinam as condições para que uma empresa possa competir em um determinado mercado, tais como: preço, marca, atributos de qualidade, inovação, dentre outros. Estes padrões se alteram no tempo, como resposta a mudanças institucionais, tecnológicas, no próprio ambiente competitivo e nas estratégias individuais das empresas na busca de diferenciação, as quais, quando bem sucedidas, podem alterar o padrão de concorrência ao serem imitadas pelos concorrentes. Na definição das estratégias individuais envolvem-se as estratégias disponíveis para utilização pelas empresas particularmente, de preço/custo, diferenciação, inovação, crescimento interno e crescimento por aquisição. A efetividade dessas estratégias se traduz em desempenho econômico, considerado importante para a sobrevivência e crescimento das empresas. As estratégias presentes no sistema, os atributos presentes nas transações e os requisitos presentes nas relações sistêmicas conformam as estruturas de governança, cuja sincronia entre os elos da cadeia possibilita melhores condições competitivas. 2.2. Custos de Transação e Estrutura de Governança Destaca-se como referência teórica-analítica para o estudo de redes ou cadeias produtivas a abordagem da Teoria dos Custos de Transação (TCT) que se distingue de outras teorias, na medida em que constitui suporte analítico para a caracterização de interações inter-atividades econômicas enquanto objeto especifico de investigação. No âmbito deste referencial, compreende-se como arranjos dotados de determinadas especificidades institucionais, sob coordenação, são eficazes no desenvolvimento de atividades econômicas em determinadas circunstâncias. Nesta perspectiva, ressalta-se a importância da coordenação das atividades econômicas no exercício de organizar as relações capitalistas em busca de maiores condições competitivas (BRITTO; ALBUQUERQUE, 2000; VISCONTI, 2001 e PONDÉ, 1993). A Teoria dos Custos de Transação apresenta elementos de sustentação teórica às configurações e comportamentos presentes nas cadeias produtivas. Estes comportamentos são influenciados pelas definições de estratégias e ações de seus integrantes, bem como de outras 4 variáveis sistêmicas e da necessidade de redução de custos presentes nas transações. Este tratamento teórico parte de um conjunto de hipóteses que torna os custos de transação significativos, como: racionalidade limitada, complexidade e incerteza, oportunismo e especificidades dos ativos (WILLIAMSON, 1985). No contexto das relações econômicas, observa-se que os agentes têm intenção racional, mas agem de forma limitada. Tal fato decorre da capacidade cognitiva limitada dos agentes que reflete na impossibilidade de prever eventos futuros. Nesta perspectiva, Pondé (1993) observa que a racionalidade limitada abrange não só os aspectos e condicionantes das condutas dos agentes diante das incertezas, mas também às limitações destes de acumular e processar informações bem como as relativas à linguagem e transferência de informações, criando assim condições adequadas para comportamentos oportunistas dos agentes. Considera-se que no âmbito das transações a possibilidade dos agentes agirem intencionalmente e calculadamente de forma oportunista em seu próprio benefício, recorrendo inclusive a atitudes que se traduzem em formas dolosas de distorção, ludibrio e deturpação de informações. Neste sentido, o oportunismo estabelece o auto-interesse como guia de ações dos agentes, cuja manipulação de distorcida das informações tem como objetivo a apropriação de maior parte dos fluxos de lucros. Esta atitude associa-se às incertezas resultantes do comportamento de agentes individuais, sem as quais os custos de transação tenderiam a ser reduzidos (PONDÉ, 1993). O atributo da ocorrência da incerteza nas relações mercantis decorre da incapacidade de se prever adequadamente às condições futuras. Este requerimento está relacionado aos custos de se obter informações, bem como, ao desconhecimento e as variações dos elementos futuros relacionados às transações. Existem dificuldades em formular previsões confiáveis na medida em que é impossível prever com certeza a ocorrência de resultados futuros, conduzindo com isto a possibilidade de agentes se beneficiarem ou não do cumprimento dos compromissos assumidos. No contexto das relações mercantis entre os agentes, podem ocorrer operações em se registram a presença de ativos específicos, considerados importante para a ocorrência das transações. Tais ativos podem se manifestar de diferentes formas: especificidade geográfica cuja proximidade entre os agentes permite estágios sucessivos de transações; especificidade física expressa pela presença de máquinas e equipamentos; especificidade do capital humano considerado pelo aprendizado obtido pelo trabalhador no exercício de suas funções; especificidade de qualidade associada a padrões e marcas; especificidade temporal relacionada ao tempo em que se processam as transações etc. (WILLIAMSON, 1985). Considerando que as expectativas quanto às condições futuras do mercado e da conduta dos participantes geram incertezas e custos e na impossibilidade de prever as condições econômicas que se apresentarão no momento da transação, os participantes tentam reduzir os impactos de alterações não previstas. Para tanto, constroem governanças – formas de gestão das relações mercantis – tradicionalmente estruturado sob três formas: mercado, hierarquia e formas híbridas. De acordo com Pondé et all (2000), estas estruturas correspondem a formas institucionais particulares, as quais diferem em termos de mecanismos de monitoramento, incentivo e controle de comportamentos, com capacidades diferenciadas em termos de flexibilidade e adaptabilidade. A organização da atividade econômica via mercado é considerada a mais eficiente quando os ativos específicos não estão presentes, em que as adaptações autônomas são suficientes. Neste caso, a transação se refere às relações descontínuas no tempo e impessoais entre agentes, estabelecendo-se pela transferência de propriedade de um bem ou serviço, em troca de uma certa quantia em moeda, após uma negociação prévia de preço e das condições de pagamentos. A ocorrência de organização das atividades sob forma de hierarquia, expressa pela integração vertical das atividades, decorre quando a especificidade dos ativos é tal que os riscos em não se realizar a transação superam os custos deste tipo de organização, criando uma dependência bilateral; neste contexto, as transações são freqüentes e a identidade das partes importa (SAAB; 5 FELÍCIO, 1998). As hierarquias permitem, ainda, respostas rápidas às mudanças do ambiente, evitando comportamentos não convergentes e implementando correções de maneira mais eficaz. Por sua vez, a organização das atividades de forma híbrida é classificada por aquelas estruturas que se situam entre os extremos do mercado e hierarquia, combinando seus elementos. A funcionalidade e a justificativa para a emergência destes “mercados organizados” se sustentam na possibilidade de atenuar os efeitos da incerteza comportamental, e de algumas desvantagens da integração vertical, como as distorções burocráticas e as perdas de economias de escala e escopo. A elevação da especificidade de ativos, por outro lado, exige, em contrapartida, mais controle sobre a transação, a fim de se evitar transtornos ou atitudes oportunistas. A busca de melhor coordenação das interações no ambiente produtivo orienta a estruturação das formas institucionais. Considerando-se a interdependência entre as etapas produtivas, as cadeias mais eficientes seriam aquelas que viabilizassem a melhor coordenação, transmitindo as informações, estímulos e controle ao longo de seus segmentos (BRAGA e SAES, 1995). Neste sentido, governar a transação significa incentivar o comportamento desejado e conseguir monitorá-lo. Desta forma, a capacidade de implementar estratégias competitivas adequadas, depende de estruturas de governança apropriadas. A coordenação vertical estabelece as condições para desenvolvimento da competitividade, permitindo à empresa receber, processar, armazenar, difundir e utilizar informações de modo a definir melhores estratégias. Nessas condições, a capacidade de transformar ameaças em oportunidades depende de um sistema de coordenação capaz de transmitir informações, estímulos e controles ao longo da cadeia produtiva, para viabilizar a nova estratégia. Como esta coordenação está associada ao conjunto de estruturas de governança que interligam os segmentos componentes da cadeia, sua eficácia está associada às particularidades das transações que a estabelecem, e à adequação das combinações de diferentes arranjos em resposta à forma de interação entre os agentes (FARINA, 1997). A coordenação pode ser desempenhada por diferentes tipos de organização, como o Estado, organizações corporativas e redes de cooperação, as quais representam diferentes sistemas de incentivos que governam as atividades dos agentes econômicos (Farina, 1999). Estas formas de manifestação de governança estão sujeitas a mudanças. O caráter dinâmico e a velocidade da inovação podem exercer influência sobre os determinantes das estruturas de governança, definindo para estas uma característica sujeita a mutação, em face da necessidade de adequação para manutenção de sua capacidade de transferir eficácia competitiva à cadeia. 3. PRODUÇÃO E MERCADO APÍCOLA EM NÍVEIS INTERNACIONAL, NACIONAL E PARANAENSE 3.1 Contexto Mundial A produção mundial de mel apresenta volume próximo de 800 mil ton., no ano de 2003, cuja trajetória evolutiva mostra-se ascendente ao longo dos últimos anos, segundo a tabela 3.1 A evolução da produção mundial de mel indica, no período de 1991/2003, a taxa média de crescimento da produção mundial em torno de 2,42 % ao ano. Dentre os principais produtores, destacam-se três grupos: o primeiro com a presença da China, cujo volume atual de produção superior a 250.000 ton; o segundo composto pelos Estados Unidos, Argentina e México, apresentando volume de produção entre 60.000 e 100.000 ton; e o terceiro incluindo o Canadá, Brasil e Alemanha, conta com volume de produção entre pouco mais de 20.000 e 30.000 ton. Segundo USDA-FAO, a China, maior produtor mundial de mel também é o país com maior número de colméias instaladas, chegando próximo a 7 milhões de unidades, seguido pela Turquia com mais de 4 milhões de unidades, no ano 2000. A Argentina, o terceiro maior produtor mundial, 6 aparece como o 6° país em número de colméias; os Estados Unidos, segundo maior produtor, é o 8° em número de colméias; e o México, quarto produtor, é o 11° em número de colméias. O Brasil conta com cerca de 2.500.000 colméias, colocando o país entre os principais produtores mundiais. Tabela 3.1: Produção de mel: mundo, segundo principais países produtores, 1990 a 2002 em ton. Países Ano China Estados Unidos Argentina México Canadá Alemanha Brasil Volume Indice Volume Indice Volume Indice Volume Indice Volume Indice Volume 90 193.000 - 88.900 - 45.636 - 51.000 - 32.115 - 23.000 - 16.181 - 91 206.000 103 99.414 106 50.500 105 58.770 107 31.606 99 25.000 104 18.667 107 92 178.000 89 100.055 106 61.000 127 48.852 89 30.339 95 24.677 103 18.841 108 93 176.000 88 104.620 111 59.000 123 48.000 87 30.758 97 26.357 110 18.367 105 94 177.000 89 98.500 105 64.000 133 41.500 76 34.245 107 22.233 93 17.514 101 95 178.000 89 95.490 101 70.000 146 49.228 90 30.575 96 36.685 153 18.122 104 96 184.000 92 89.850 95 57.000 119 47.997 87 26.977 85 14.674 61 21.172 122 97 207.000 104 89.148 95 70.000 146 53.681 98 30.021 94 15.069 63 19.061 109 98 155.000 78 99.932 106 75.000 156 56.061 102 42.456 133 16.306 68 18.308 105 99 180.000 90 90.000 96 98.000 204 57.500 105 34.000 107 13.000 54 19.751 113 00 253.000 127 101.000 107 90.000 187 56.000 102 32.000 100 18.000 75 21.865 125 01 245.000 123 94.000 100 80.000 166 59.000 107 32.000 100 nd nd 22.219 128 258.000 129 100.000 106 85.000 177 61.000 111 32.000 100 nd nd 23.995 138 02 IndiIndiVolume ce ce Fonte: USDA - FAO - SAGPyA ( Argentina ) - IBGE * Os índices de crescimento foram calculados com base no volume de produção médio dos anos de 1990 e 1991 A produtividade média por colméia em nível mundial, indica com maiores índices, 70 e 65 kg/colméia/ano respectivamente, Austrália e Canadá. Com valores bem inferiores, estão os maiores produtores mundiais: Argentina, China, Estados Unidos, com produtividade de 30 Kg/colméia e México, com 25 Kg/colméia. A Alemanha e Brasil apresentam as menores produtividades dentre os países selecionados: 15 Kg/colméia. Em nível mundial, as exportações alcançam a cifra de 375 mil ton, sendo que os países China, Argentina e México são considerados os principais exportadores no período de 1991-2000. O quadro da participação percentual média dos principais exportadores mundiais de mel, neste período, aponta a China como responsável por cerca de 32%, a Argentina por 26% e o México com 24% das exportações no período. Somando-se estas participações, tem-se que cerca de 80% das exportações mundiais de mel provêm destes três países. No geral, as importações dos países não têm aumentado significativamente, ficando em torno de 320 a 350 mil ton./ano, enquanto constata-se que houve uma mudança no quadro de exportadores mundiais de 270 a 370 mil ton./ano, nos últimos quatro anos, 1996 a 1999. Em média, a União Européia tem sido o principal destino do mel, com a compra de 43% do mel de origem de outros países e mais 10% dos países que compõem o bloco europeu. Em seguida, estão os Estados Unidos e o Japão, sendo que os demais países importadores absorveram cerca de 16% do mel no período. 7 3.2 Produção Brasileira e Paranaense de Mel A produção brasileira de mel situa-se, em 1990, em 16.181 ton crescendo para um volume em 2002, de 23.995 ton., apresentando taxa média de crescimento no período de 3,64% ao ano. Os estados da região Sul são os principais produtores nacionais de mel, com um volume, em 2002 de mais de 12 mil t, cerca de 50% da produção do país. O principal estado brasileiro produtor de mel é o Rio Grande do Sul onde a produção, desde 1996, tem-se situado entre um volume próximo a 5.500 ton e pouco mais de 6.000 ton, segundo a Tabela 3.2. No período de 1990 a 2002, o estado de Santa Catarina apresenta-se como o segundo produtor nacional, com um volume de produção médio no período superior a 4.000 ton de mel e com participação que esteve no início do período entre 25 e 29%, reduzindo-se a partir de 1994 até chegar em 2002 com participação na produção nacional inferior a 16%. O estado do Paraná apresenta-se como o terceiro maior produtor nacional de mel, com uma produção média próxima a 3.000 ton no período analisado. A produção apícola paranaense participava, no início do período, com um volume de cerca de 19% na produção nacional, vindo a cair a partir de 1997 chegando, no ano de 2002, a participação inferior à 12%. Tabela 3.2: Produção nacional de mel: Brasil e principais estados produtores, 1990 a 2002 Rio Grande Santa Paraná do Sul Catarina Ano Volu Volu Volu % BR % BR % BR me me me 90 3.275 20,24 4.043 24,99 3.037 18,77 em ton Minas São Paulo Piauí Subtotal Outros Gerais Brasil Volu Volu Volu Volum % Volu % % BR % BR % BR me me me e BR me BR 2.116 13,08 1.016 6,28 437 2,70 13.924 86,05 2.257 13,95 16.181 91 3.435 18,40 5.349 28,65 3.528 18,90 2.096 11,23 1.206 6,46 480 2,57 16.094 86,21 2.574 13,79 18.668 92 3.833 20,34 5.093 27,03 3.578 18,99 2.305 12,23 1.411 7,49 406 2,15 16.626 88,24 2.215 11,76 18.841 93 3.892 21,19 4.824 26,26 3.259 17,74 2.515 13,69 1.536 8,36 333 1,81 16.359 89,07 2.008 10,93 18.367 94 3.196 18,25 3.992 22,79 2.919 16,67 2.672 15,26 1.515 8,65 792 4,52 15.086 86,14 2.428 13,86 17.514 95 3.608 19,91 3.838 21,18 2.752 15,19 2.698 14,89 1.597 8,81 1.019 5,62 15.512 85,59 2.611 14,41 18.123 96 6.155 29,07 4.261 20,13 2.478 11,70 2.983 14,09 1.235 5,83 1.137 5,37 18.249 86,19 2.924 13,81 21.173 97 5.440 28,54 3.432 18,00 2.418 12,68 2.350 12,33 1.278 6,70 1.720 9,02 16.638 87,28 2.424 12,72 19.062 98 5.717 31,23 3.474 18,98 2.208 12,06 1.955 10,68 1.573 8,59 1.127 6,16 16.054 87,69 2.254 12,31 18.308 99 5.985 30,30 3.344 16,93 2.540 12,86 1.805 9,14 1.885 9,54 1.586 8,03 17.145 86,81 2.606 13,19 19.751 00 5.815 26,60 3.984 18,22 2.870 13,13 1.830 8,37 2.100 9,60 1.863 8,52 18.462 84,44 3.403 15,56 21.865 01 6.045 27,21 3.775 16,99 2.925 13,16 2.053 9,24 2.068 9,31 1.741 7,84 18.607 83,74 3.612 16,26 22.219 02 5.605 23,36 3.829 15,96 2.844 11,85 2.057 8,57 2.408 10,04 2.221 9,26 18.964 79,03 5.031 20,97 23.995 Fonte: IBGE A evolução da produção de mel e outros produtos da apicultura paranaense mostra, além do crescimento das quantidades produzidas de mel, de 1.939,824 kg em 1997/98 para 3.826,422 kg em 2001/02, um crescimento de 97,25% num intervalo de apenas cinco anos, conforme a Tabela 3.3. Dos produtos além do mel provenientes da apicultura registra-se a evolução na produção de própolis, de 22.528 kg em 1997/98 para 74.954 kg em 2001/02 perfazendo um acréscimo de 232,71%. Da mesma forma, constata-se o crescimento da produção de cera de 47.821 kg em 1997/98 para 101.995 kg em 2001/02 apontando variação positiva de 113,28%. De exposto, observa-se que nos últimos anos a apicultura paranaense passa por transformação na pauta de seus produtos, com o crescimento na produção de própolis e de cera, indicando com isso esforços dos produtos em inserção em mercados com maior valor agregado. O crescimento da produção de mel e de seus principais outros produtos, própolis e cera, decorre da vários motivos, dentre os quais se destacam: a) para o mel, o aquecimento da demanda externa provocado pelas restrições ao mel da China e da Argentina por problemas sanitários 8 estimulou a produção doméstica; b) para o própolis e a cera, a utilização crescente destes produtos pelas indústrias farmacêuticas e de cosméticos, para atendimento não só do mercado interno mas também para o mercado externo. As exportações brasileiras de mel apresentam crescimento significativo nos últimos anos. Após uma acentuada queda no volume das exportações brasileiras de mel em 1994, o qual situavam-se em um patamar próximo de 1.000 ton anuais, houve uma retomada do crescimento a partir de 1995, sendo destaque 2003, quando as exportações brasileiras de mel atingem um volume superior a 10.000 ton. As exportações paranaense de mel seguem esta trajetória, alcançando neste último ano, 2.000 ton e os principais mercados consumidores são o alemão e estado-unidense Tabela 3.3: Evolução da produção e da participação do Valor Bruto da Produção da apicultura do Paraná, 1997/98 a 20001/02 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 2001/02 Partici% do pação VBP média total no VBP Kg % do VBP total Kg % do VBP total Kg % do VBP total Kg % do VBP total Kg 1.939.824 74,90 3.024.264 79,46 3.335.155 78,52 3.719.676 69,71 3.826.422 82,78 78,29 Geléia Real 1.580 5,25 2.378 5,91 2.447 5,73 2.690 5,52 310 0,50 3,83 Pólen 4.765 0,74 6.970 0,65 6.335 0,55 6.555 0,55 7.620 0,62 0,52 Apitoxina 1,30 0,30 0,3 0,05 0,50 0,00 400,50 0,05 - 0,02 0,14 Cera 47.821 8,58 55.083 6,38 58.588 6,83 90.506 10,64 101.995 3,94 7,82 Própolis 22.528 10,23 25.930 7,55 31.859 8,37 57.846 13,54 74.954 12,13 9,40 Produto Mel Total 2.016.519,30 100,00 3.114.625,30 100,00 3.434.384,50 100,00 3.877.673,50 100,00 4.011.301,00 100,00 Fonte: SEAB/DERAL/DEB Por sua vez, os principais países de origem do mel importado pelo Brasil são a Argentina e o Uruguai, com um volume que representam mais de 90% do total das importações de mel. Registrase trajetória descendente de importação de mel, que em 2000 chegara a 287, 254 em 2001, 49 em 2002 e 17 ton em 2003. Os principais estados brasileiros de destino do mel importado têm sido o Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Ainda que as quantidades de mel importado sejam pequenas, cabe destacar que o volume das importações do Paraná de mel tem aumentado a sua participação sobre as importações brasileiras, chegando a ser, em 2003, responsável por mais da metade das importações brasileiras de mel. 4. METODOLOGIA Para identificar os fatores que envolvem a dinâmica competitiva da cadeia produtiva apícola paranaense são coletados dados primários para: a) análise da estrutura competitiva de cada segmento da cadeia produtiva e as relações entre os seus integrantes; e b) caracterização da estrutura de governança baseada na coordenação entre os elos constitutivos. Para o desenvolvimento do trabalho de campo são elaborados questionários e roteiro de entrevistas. O questionário contem questões relacionadas a captar aspectos referentes a identificação 9 100,00 da empresa, perfil do empresário, características técnico-produtivas, aspectos tecnológicos e elementos referentes a transações entre as empresa. Enquanto o roteiro de entrevistas contém questões voltadas a explicação qualitativa das condições de produção, esforços tecnológicos, atuação das instituições de apoio, os problemas existentes e oportunidades de investimentos. O trabalho de campo realiza-se através de: a) aplicação de questionário face-a-face com apicultores; b) aplicação de questionários por telefone, com apicultores; c) entrevistas “em profundidade” (ou qualificadas) face-a-face com apicultores, fornecedores de insumos, dirigentes de empresas processadoras, de distribuidoras e comerciantes de produtos apícolas. Para escolha dos atores, nos diversos segmentos investigados, são obtidas informações junto a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento do Paraná (SEAB), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Associações de Apicultures do Estado. No total são aplicados 84 questionários e realizadas 13 entrevistas qualificadas. 5. DINAMICA COMPETITIVA DOS SEGMENTOS DA CADEIA PRODUTIVA APICOLA DO PARANÁ 5.1 Identificação do Número de Empresas e Produtores da Cadeia Produtiva Apícola Paranaense A cadeia produtiva apícola do Paraná é composta por representantes em todos os segmentos existentes – empresas de insumos e máquinas e equipamentos, produtores apícolas em nível de propriedade agrícola, empresas de processamento e de atacadistas, distribuição e comercialização, ainda que registre, em alguns segmentos, a inexistência de empresas ofertantes de determinados produtos. A matriz das principais empresas e de produtores apícolas, segundo a Tabela 5.1 e Figura 5.1, apresenta no Paraná no segmento de insumos e equipamentos 32 empresas distribuídas em embalagens, equipamentos, vestimenta, fumigador, telas e outros; no segmento produtor apicultor existe, atualmente, segundo estimativas, cerca de 30.000 apicultores; no segmento processador registram-se cerca de 42 empresas; no segmento de atacado, existem na distribuição, 9 empresas e na comercialização, 27 empresas. Tabela 5.1: Levantamento das empresas e produtores apícolas atuantes nos segmentos da cadeia produtiva apícola do Paraná, 2004. Itens Curitiba União da Vitória Paraná Prudentópolis Demais Total SP SC RS Outros INSUMOS Embalagens Equipamentos Vestimentas Fumigador, telas Outros INTERMEDIÁRIOS 6 1 3 1 5 2 1 1 2 1 2 4 6 5 4 2 8 4 1 2 1 2 1 PRODUÇÃO APÍCOLA Censo 1995/96 23.809 Estimativa 2004 30.000 IND. PROCESSAMENTO 11 1 4 26 DISTRIBUIÇÃO 5 4 9 COMERCIALIZAÇÃO 11 3 13 Fonte: Pesquisa de Campo, 2004. * IBGE – Censo Agropecuário, 1995/96 e ** SEAB – Estimativa, 2004. Total 32 9 5 5 2 11 4 23.809 30.000 42 9 27 10 Figura 5.1: Cadeia produtiva apícola do Paraná: principais atores Insumos Máquinas e Equipamentos = 5 Embalagens = 9 Vestimenta = 5 Outros = 11 T5 T1 Ambiente Organizacional Associação dos Apicultores Federação dos Apicultores Secretaria do Estado de Agricultura e Abastecimento, etc. Produção Produtos Apícolas Censo Agro. 1665/96 = 23.809 Estimativa APA = 27.900 até 30 colméias 1.150 até 31 a 200 colméias 600 acima de 201 colméias T8 T2 Intermediá rios = 4 Ambiente Institucional Legislação Sanitária Regulação de Mercado Cultura/custumes, etc Processamento Empresas processadoras = 42 T3 Ambiente Tecnológico Tecnologia Embrapa Universidades T9 T6 Distribuição Atacado = 9 Varejo = 27 T4 Consumidor T7 11 5.2 Análise das Condições Competitivas do Segmento Produtor de Insumos A produção dos fornecedores de caixas para colméias, rótulos e embalagens plásticas destina-se tanto para o produtor de mel como para o processador de mel, porém sendo em maior proporção para o produtor de mel, em particular 80% das caixas e 60% dos rótulos e caixas produzidas, segundo dados da pesquisa de campo. No desenvolvimento das atividades produtivas correspondentes, as empresas consideram que a mão-de-obra é de boa a excelente qualidade, constituindo assim em importante elemento para a construção de vantagens competitivas. Na escolha de seus fornecedores, destacam como critérios relevantes à prática de preço adequado e oferta de produtos com qualidade. As empresas, por sua vez, elegem vários fatores que são determinantes para manter a capacidade competitiva em seu principal produto, destacando pelo número de incidência de respostas, a capacidade de introdução de novos equipamentos no processo produtivo e produzir com qualidade seus produtos. Dentre os valores relevantes atribuídos destaca-se a importância das modificações no processo produtivo a partir da incorporação de equipamentos, que por seu turno tende a resultar em maior produtividade e em redução de custos. A principal dificuldade atual para se desenvolver a atividade produtiva do fornecedor de caixas para a colméia é obtenção de matéria-prima, considerando que a madeira de pinheiro necessária para a produção está escassa. Para a empresa produtora de plásticos a dificuldade centrase na falta de capital para compra de máquinas e equipamentos levando em conta que este segmento depara com freqüentes mudanças tecnológicas, seja em produto e seja em processo. Enquanto o fornecedor de rótulos e caixas de embalagem aponta que o pagamento de juros de empréstimos e o excesso de impostos limitam sua expansão. No âmbito dos esforços realizados para capacitação tecnológica, registra-se que tais empresas valem, sobretudo, de esforços individuais para tomar conhecimento do estado em que se encontra a tecnologia em uso nas respectivas atividades econômicas, visitando feiras ou adquirindo revistas especializadas. As relações interativas ocorrem fundamentalmente com clientes acerca solução de problemas tecnológicos em produtos. Por sua vez, a maioria das empresas fornecedoras entrevistadas procura introduzir inovações no propósito de melhorar as condições competitivas nos sub-segmentos em que atuam. As inovações introduzidas pelas empresas produtoras de rótulos e caixa de embalagem e de caixa para colméia figuram no âmbito da tecnologia de processo na primeira e tecnologia de produto na segunda empresa, porém tais inovações são novas para as empresas, mas já existentes no mercado. No campo das embalagens, registra-se segundo entrevistas qualificadas a inexistência no Estado de empresa embalagem de vidro específica para o setor apícola. Há várias empresas de embalagem de plástico que apresentam substanciais avanços em tamanho e design, porém existem consumidores que exigem como condição para demanda que o mel e outros da apicultura estejam disponíveis em embalagem de vidro. As empresas processadoras, para atendimento de determinada faixa do mercado consumidor recorrem a fornecedores externos, em particular, de empresas dos Estados de Santa Catarina e São Paulo. Registra-se no estado do Paraná a presença de empresa fornecedora de máquina e equipamento para atividade econômica apícola. Segundo as entrevistas qualificadas com empresários processadores, a empresa fornecedora de máquinas e equipamentos tem provocado, de forma positiva, mudanças na estrutura de produção apícola do Estado. A fabricação dos produtos citados e a existência de estrutura de venda têm possibilitado o processador ter acesso a equipamentos modernos e em constante informação sobre as inovações de processo que podem ser introduzidas no âmbito da produção. Como muitos produtos oferecidos são feitos sob encomendas em face de atendimento da dimensão produtiva, da especificidade do design desejado, etc., de cada processador, firmam-se relações interativas entre esta empresa e seus clientes. 12 5.3 Apreciação da Estrutura Produtiva do Segmento da Produção Apícola A atividade apícola no Paraná concentra-se fortemente no triângulo envolvendo os municípios de Curitiba, União da Vitória e Prudentópolis, com extensões para Ponta Grossa, Pitanga, Marechal Cândido Rondon, Pato Branco, Laranjeiras do Sul e Cerro Azul, em muito explicada por duas razões, primeira pela existência de vegetação de cobertura nativa, e segunda por decorrência de fatores sócio-culturais de sua população. Existe uma faixa de vegetação da mata nativa que percorre da faixa litorânea para o interior da região sudeste, no limite da divisa com o estado de Santa Catarina. Assim como, nesta faixa se constituiu historicamente núcleo rural e urbano de pessoas de origem européia – polonês, alemães, austríacos – que incorporaram esta atividade entre seus afazeres em correspondência ao padrão cultural de consumo pessoal de mel. No âmbito do processo produtivo, constata-se, segundo pesquisa de campo, a existência de práticas importantes adotadas pelos produtores apícolas como: a) a apicultura migratória realizada por 14,70% dos apicultores; b) o baixo uso de produtos químicos para tratamento de doenças das abelhas, neste sentido 97,06% dos entrevistados indicam não usar estes produtos; c) reduzida assistência técnica do governo, onde 83,82% responderam não existir; d) em relação ao acesso à tecnologia e introdução de inovações, respectivamente, 60,29% e 52,97% consideram que estas têm provocado resultados positivos nos processos produtivos. Em relação aos principais avanços tecnológicos introduzidos na atividade apicultura, os produtores entrevistados indicaram que esses ocorreram fundamente no item manejo das colméias, indicado por 51,47% dos entrevistados. Para os que introduzem inovações as conseqüências ou resultados mais importantes foram o aumento da produtividade, indicado por 41,18% dos entrevistados o aumento da qualidade indicado por 27,94% dos entrevistados. Tais resultados expressam que para os apicultores que se esforçam em introduzir mudança técnica, os resultados apontam em aumento da produção e em melhoria qualidade dos seus produtos. Entretanto, constata-se desconsideração do apicultor aos procedimentos técnicos de instalação do apiário, segundo representantes de associação de apicultores. Nem todos os produtores apícolas respeitam as indicações técnicas em relação a localização do apiário, espaçamento entre colméia, limite máximo de colméia por apiário, instalação em locais de sombreamento; proximidade de fonte de água e capacidade de suporte da região. Tais ocorrências contribuem para instigar a agressividade da abelha, aumentar a sua migração, elevar a temperatura na colméia e aumentar a mortalidade, que por conseqüência se traduzem na diminuição da produtividade. Registra-se no âmbito do processamento na propriedade rural um conjunto de procedimentos irregulares que se traduz em perda da qualidade e geração de desconfiança dos consumidores. Constata-se no processamento do mel a ocorrência de extração por esmagamento por falta de equipamentos padronizados; inexistência de local adequado; problema de abastecimento de água; não utilização de luvas, máscaras e tocas; e colocação do mel em recipientes inadequados. Assim como, existe ainda que de forma residual ocorrência de falsificação de mel pautado pela agregação de açúcar e de outros teores de glicose em sua textura original estimulado pelo ganho monetário por kilograma vendido no mercado, tanto em termos de venda para o consumidor final como para empresas utilizarem em seus processos transformadores. As constatações de prática de apicultura migratória demonstram esforços dos produtores de buscar novas fontes de matérias-primas. Esta prática tem possibilitado o crescimento da produção de mel e produtos decorrentes, bem como diversificado a qualidade dos produtos, considerando a importância da planta para a qualidade dos produtos decorrentes. Registra, segundo entrevista qualificada, a prática de apicultura migratória pelos produtores de Prudentópolis na cultura da laranja no interior paulista, alcançando de 30 a 50 ks de mel de elevada qualidade por colméia. A despeito dos limites à expansão produtiva da apicultura, tem-se constatado na apicultura paranaense, esforços de substituição correta de rainha nas colméias, que ocorre em nível de propriedade e em laboratório de empresas processadoras que buscam fazer melhoramento genético. 13 A partir da pesquisa de campo, constata-se em algumas propriedades a criação de rainha pelo desenvolvimento natural de realeiras onde as melhores são colocadas nas colméias ruins fazendo a renovação da rainha dentro de um curto espaço de tempo – 30 dias. No mesmo sentido, as maiores empresas de processamento fazem melhoramento genético de rainhas e comercializam junto aos seus produtores apícolas. No mesmo sentido, se observam avanços na área do manejo em particular pela disposição de equipamentos aos apicultores pela industria fornecedora. A produção das empresas produtoras de equipamentos no Paraná e em Santa Catarina tem disponibilizado para aquisição, equipamentos inoxidáveis em substituição as de folhas de flanders, cujo óxido de ferro, chumbo e outros elementos passavam para o produto deteriorando sua qualidade. Os avanços tecnológicos citados são localizados e ocorrem, particularmente, entre os médios e grandes produtores que possuem estrutura de produção mais organizada e com ligações mais densas com os elos de processamento, distribuição e comercialização da cadeia produtiva apícola. Constata-se em várias regiões produtoras a figura do intermediário que percorre as propriedades rurais adquirindo mel e outros produtos, aproveitando das dificuldades do próprio produtor apícola negociar condições de venda com as empresas processadoras por não disponibilizar de embalagens adequadas, dificuldades de acesso às empresas em face da baixa quantidade produzida, rigor no controle sanitário de determinadas empresas, etc. Tais intermediários repassam para empresas que processam em termos industriais, nas condições recebidas que lhe fornece padrão comercial para alcançar o consumidor final. Por outro lado existe avanço no sistema produtivo apícola expresso pela forma de quase integração presente no sul do Estado onde se praticam fortes relações entre produtor apicultorempresa processadora. Esta forma de organização distingue-se das demais praticadas no Estado, posto que está sendo desenvolvido um programa de desenvolvimento da produção de mel orgânico destinado à exportação com participação efetiva da empresa no fornecimento de insumo, assistência técnica, financiamento dos custos e garantia de compra se o apicultor desejar. 5.4 Avaliação Competitiva do Segmento Processador Industrial Apícola Existe, no Paraná, reduzido número de empresas processadoras de mel, cujas características empresariais para 7 das empresas selecionadas mostram que as atividades desenvolvem-se em sua grande totalidade, com mais de um sócio-proprietário, a criação das empresas ocorre em sua maioria a partir da segunda metade dos anos 90 e a origem do capital é totalmente nacional, No âmbito das relações com os fornecedores, as empresas processadoras consideram os fatores tradição no fornecimento e a qualidade dos produtos ofertados como critérios de escolha. O preço geralmente considerado relevante em face de seu impacto na estrutura de custos não é priorizado como fator determinante. O processo de compra desta principal matéria-prima ocorre de forma direta do produtor apícola, de atacadista, de integrado e de outras formas como de intermediários, associações e cooperativas. Observa-se, por sua vez, que a maior ocorrência de compra e com percentuais expressivos situa-se diretamente dos produtores apícolas, considerando que muitas empresas possuem sistema de transporte para captação do mel nas propriedades e recebem mel direto do produtor na empresas. A distribuição das vendas por mercado consumidor, segundo as empresas entrevistadas, se concentra no mercado nacional, em maior proporção no estado do Paraná e em menor em São Paulo, tanto em número de ocorrências de empresas como em percentuais atribuídos. As razões desta ocorrência pautam-se pela proximidade do mercado, número de consumidores, nível de renda, sistema de logística existente, entre os principais atributos. 14 No campo da dimensão tecnológica, as empresas recorrem a fontes de informações externas para desenvolvimento de processos inovativos, destacando como principais feiras e eventos e livros, revistas e sites especializados para 57,14% e fornecedores e clientes para 28,57% das empresas entrevistadas, conforme pesquisa de campo. As empresas elegem as feiras, eventos e publicações como forma de se tomar conhecimento do estado das artes no setor de atividade em termos de aprimoramento técnico produtivo e desenvolvimento tecnológico de produto e processo. Enquanto ass relações com fornecedores e clientes apresentam sua importância, sobretudo pelas relações firmadas no contexto do desenvolvimento da atividade produtiva, tanto no âmbito da produção como no mercado. Um número significativo de empresas desenvolve ações inovativas nos últimos três anos nos campos de produto, processo e organizacional, expresso em termos percentuais por 57,14%, 71,43% e 57,14% respectivamente do total de empresas pesquisadas. Neste particular, se destaca a transformação industrial em outros produtos apícolas como pólem, própolis e geléia real, bem como em derivados como shampoo e sabonete. Segue-se, também, a aquisição de novas máquinas e equipamentos com melhores condições técnicas de processamento e introdução a novas técnicas organizacionais. No âmbito das empresas organizadas e com maior poder econômico, novas práticas imperam buscando garantir a oferta da matéria-prima principal. Registra-se em diálogo com produtores apícolas a ocorrência de empresas fornecendo determinados insumos tais como vestimentas, colméias, rainhas, etc, sem vínculo posto por contratos formais que atrele compromissos futuros. Da mesma forma, no intuito de contrapor a falta de conhecimento sobre a atividade apícola que se traduz em baixa produtividade kg/colméia, muitas empresas realizam cursos e treinamento para seus produtores. 5.5 Aspectos Competitivos do Segmento de Distribuição: atacadista e varejista No campo do segmento atacadista observa-se que as operações de compra do mel e de outros produtos apícola junto as empresas fornecedoras se processam em compras livre no mercado e sem realização de contratos, indistintamente, para todas as empresas. A freqüência de compra concentra-se no intervalo de 15 a 30 dias para 83,33% das empresas pesquisadas. As empresas, 83,33% das pesquisada, avaliam que os consumidores consideram no momento de adquirir o mel, própolis, geléia real, etc. a qualidade antes do preço como maior atributo relevante levado em consideração pelos consumidores. Neste aspecto, estão dando destaque à marca, uma vez que a construção de uma determinada referência no mercado depende em muito da qualidade dos produtos da empresa processadora. Os pagamentos referentes as compras junto aos fornecedores dos produtos de natureza apícola são feitos nas forma a prazo e à vista, porém com percentuais distintos. Para algumas o crédito estende-se a 100%das empresas, enquanto para outras a percentagem para pagamento a vista é superior ao prazo. Na dinâmica das transações comerciais ocorrem negociações de preço entre as empresas atacadistas e varejistas e os fornecedores de mel e de outros produtos apícola. As negociações de preços mostram-se restritas e limitada, em muito, ditada pelo grau de concorrência entre as empresas fornecedoras. A concorrência, por seu turno, depende da conjuntura econômica e da estratégia de vendas das empresas, que em determinados momentos são mais suscetíveis a alterações e em outros, mantém os preços estabelecidos, independente da demanda das empresas atacadistas e varejistas. Por sua vez, constata-se que em situação de realização de acordo comercial, as empresas situadas nos mercados atacadista e varejista dedicam mais atenção para a melhor comercialização 15 dos produtos das empresas que realizam acordos comerciais. Neste sentido, cria-se maior vínculo entre as partes envolvidas, cujas condições oferecidas seja em prazo de pagamento, em menor preço do produto, etc, por determinada empresa, se reproduz em esforços de venda no mercado consumidor por outra. Em pesquisa realizada recentemente pelo SEBRAE/PR e a SEAB (2001), tomou-se conhecimento do mercado consumidor de mel e outros produtos apícola no Paraná. Esta pesquisa teve como objetivos específicos, conhecer o tamanho do mercado consumidor, a quantidade percapita de consumo, o hábito do consumidor e as potencialidades de produção e consumo. O mel e outros produtos da apicultura foram avaliados juntamente com mais 21 grupos de produtos em pesquisa realizada em 23 cidades relevantes. Dentre os grupos de produtos estudados, o mel situa-se em 14o. lugar em índice de consumo, com 58,9% das preferências dos consumidores, superando o doce de corte, cremoso e geléias, frutas em caldas, conservas (hortaliças), doce de leite, polpa de frutas e frutas cristalizadas. Destaca-se nesta pesquisa, o resultado do local de compra dos produtos, sendo que o mel apresenta dentre todos os grupos de produtos o maior percentual adquirido junto aos produtores rurais, para 47,6% dos entrevistados. Além deste, o segundo principal local é o supermercado local com 28,9% e o terceiro maior é o supermercado estadual com 13,9%. Os consumidores questionados acerca dos 3 fatores que determinam a compra do mel, em nível estadual, apontaram em primeiro lugar, a qualidade; em segundo, o preço e em terceiro, a aparência. Os consumidores, por sua vez, mostram-se preocupados com as impurezas, teor açucarado e qualidade baixa que o mel pode apresentar no mercado. 6. ELEMENTOS DE COORDENAÇÃO E DE FORMA DE GOVERNANÇA 6.1 Coordenação e relações transacionais Observam-se esforços, em especial, por parte das empresas processadoras melhor organizadas e com maior poder econômico no sentido de se criar melhores vinculações e compromissos entre as partes visando garantir a oferta de sua matéria-prima principal, quais sejam: 1) Experiência de uma empresa processadora com o que chama de “relação de parceria” onde os produtores apícolas receberiam orientações e alguns apoios para sob contratos formais, porém sem a obrigação de vender o produto ao parceiro; 2) Empresas processadora realizando arrendamento em áreas apropriadas para a colocação de colméias e fazendo o pagamento, ao final, em mel; 3) Empresas fornecendo aos produtores apícolas insumos como vestimentas, colméias, rainhas, etc, sem vínculos contratuais formais, mais criando reputações e compromissos futuros; 4) Algumas empresas maiores estão investindo no desenvolvimento de rainhas em laboratórios. A troca da rainha, no momento certo, é considerada problema central do manejo, e contribuiria de forma significativa para melhorar a produtividade das colméias; 5) Algumas empresas começam a realizar cursos de treinamento para os produtores mais próximos, procurando reduzir a falta de conhecimento em relação à atividade apícola que se traduz em baixa produtividade das colméias; 6) Existem empresas procurando firmar a sua marca e reputação junto mercado consumidor. Esforço extremamente importante dada à realidade de falsificações e de desconfiança dos consumidores; Entretanto dificuldades estão presentes, na construção desta melhor vinculação, como: 16 1) Baixo percentual de produtores especializados, o que significa tratar-se em grande parte de uma atividade apenas complementar as demais, na propriedade agrícola; 2) Alto percentual de informalidade na atividade; 3) Existem vínculos formais, porém localizados e sem serem abrangentes; 4) Presença de intermediários, inclusive de outros Estados, nos momentos de grande procura, expõe as transações a toda sorte de oportunismo; 5) A presença de intermediários sem maiores compromissos com a constituição de um padrão de qualidade da matéria-prima, finda prejudicando as relações com os importadores e consumidores internos; 6.2 Governança nas Transações: 1. Transações (T1) entre empresas do segmento de insumos, máquinas e equipamentos e produtores apícolas. a) As transações entre as empresas produtoras de insumos, assim como, as varejistas fornecedoras destes com os produtores apícolas são essencialmente de mercado. Não existe contrato, parceria ou fidelidade a disputa ocorre fundamentalmente via preço; b) Não existe troca significativa de informações tecnológicas entre as empresas destes dois segmentos da cadeia produtiva; c) Falta de fonte de financiamento (privado e público) para a compra de insumos, máquinas e equipamentos por parte dos produtores apícolas; 2. Transações (T2) entre Produtores Apícolas e Empresas processadoras. a) As transações entre as empresas destes dois segmentos ocorrem reduzidas e localizadas de forma híbridas, porém grande parte das transações acontece através de relações de mercado. Nas relações via preço existem atitudes oportunistas em situação de assimetria de informações; b) Não existe troca significativa de informações tecnológicas entre a Industria Processadora e os Produtores Apícolas; c) Falta de fonte de financiamento (privado e público) para que o produtor possa investir na melhora de qualidade de seus produtos; d) As empresas processadoras compram o mel diretamente dos produtores apícolas, de atacadistas, de intermediários, associações e cooperativas. A maior ocorrência de compra é feita diretamente dos produtores apícolas, nas propriedades e as relações são fundamentalmente de mercado; 3. Transações (T3) entre empresas processadoras e distribuidores. a) No curso das transações com empresas processadoras existem rompimentos da parte do distribuidor, sobretudo quando este considera que o produto mel não é puro; b) Nas relações transacionais mais duradouras entre empresas processadoras e distribuidores figuram a facilidade de negociação, prioridade para a compra garantia de fornecimento e descontos nas negociações; c) A maioria das empresas distribuidoras considera-se a parte mais dependente nas relações coma a empresas processadoras e outros fornecedores, pois são obrigadas a praticar o preço que estas lhe impõem, afetando, por conseqüência a margem de lucro; 17 4. Transações (T4) entre distribuidores e consumidores. a) Empresas procuram atender o requisito de qualidade do produto exigido pelos consumidores, a despeito de práticas de preço mais elevado cobrado pela empresa processadora; b) Nas transações entre os elos de distribuição e de consumo observam-se ações consideradas oportunistas pelos consumidores principalmente utilizando-se do argumento de mel falsificado para se barganhar preço. 5. Transações (T5) entre empresas processadoras e fornecedores de insumos, máquinas e equipamentos. a) As empresas processadoras têm sido beneficiadas pelos avanços tecnológicos no segmento produtor de máquinas e equipamentos e demais insumos específicos para esta atividade. As empresas melhoraram os seus produtos a partir da introdução de máquinas e equipamentos mais adequados ao processo produtivo; b) Estas máquinas e equipamentos, normalmente feitas sob encomendas, têm gerado avanços tecnológicos, a partir das trocas de informações na busca de soluções para os problemas; c) Nas transações entre empresas destes dois segmentos, observa-se que as empresas processadoras consideram a tradição no fornecimento e a qualidade dos produtos ofertados como critérios de escolha, o que significa que as transações não ocorrem apenas via mercado; d) Natureza das transações entre os segmentos acima exige contrato; e) Finalmente, as informações obtidas tanto em nível dos atores da cadeia produtiva, quanto da bibliografia consultada, indicam tratar-se de uma cadeia desarticulada, onde não existe contratos firmados ou atitudes cooperativas. Predominam relações apenas de mercado, permeadas de atitudes oportunistas o que significa que as interações, os fluxos de informações e coordenação em busca do maior dinamismo da cadeia e de vantagens competitivas, são ainda bastante embrionárias. 6. Transações (T6) entre produtores apícolas e distribuidores. a) Relações firmadas entre produtores apícolas e distribuidores através de feiras, verdurarias, frutarias e mercadinhos para a venda do mel; b) Ocorrência de discussões sobre falsificação do mel. 7. Transações (T7) entre distribuidores e consumidores. a) Fatores que determinam a compra do mel são qualidade, preço e aparência; b) Itens que mais desagradam o consumidor na aquisição de mel junto aos distribuidores: impurezas, cristalizado, qualidade baixa e preços altos. 8. Transações (T8) entre produtor apícola a agentes intermediários. a) Relações são essencialmente mercantis, onde está presente a disputa por preço; b) Relações permeadas de assimetria de informações o oportunismo; c) Presença de preocupação em relação a possibilidade de falsificação do produto. 9. Transações (T9) entre agentes intermediários e processadores. a) Relações são essencialmente mercantis, onde está presente a disputa por preço; b) Presença de preocupação em relação a possibilidade de falsificação do produto. 18 6.3 Ambiente Organizacional Existe no Brasil e, especificamente, no Paraná uma serie de organizações importantes para a dinâmica das cadeias produtivas agroindustriais. Considerando algumas destas organizações, Passos (1999) destaca a atuação, no Estado, das agências financiadoras de investimentos como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Banco Regional de Desenvolvimento Econômico (BRDE), bem como: − Sistema de Ensino, Pesquisa e Extensão: o Paraná conta com 45 entidades públicas (federais, estaduais e municipais) e privadas desenvolvendo pesquisa, extensão e fomento, e 56 instituições de ensino superior, que atendem cerca de 110.000 alunos (PASSOS, 1999). − Diversas entidades de representação de segmentos de interesses na sociedade são, também, destacadas por Passos (1999). Essas instituições desenvolvem tarefas e programas de estímulo, divulgação e indução a comportamentos inovadores, com diferentes graus de liderança efetiva. Entre essas se destacam: o Instituto “Euvaldo Lodi” do Paraná (IEL/PR-Fiep); o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae/PR); a Associação Paranaense das Empresas de Biotecnologia (Apebi); o Centro de Integração de Tecnologia do Paraná (Citpar); o Centro Internacional de Tecnologia de Software (Cits); a Associação de Produtores de Informática (Assespro-PR). − Secretaria do Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab): órgão responsável pelo acompanhamento e desempenho das atividades agropecuárias no Estado. − Empresa Paranaense de Classificação de Produtos (Claspar): tem como objetivo a classificação dos produtos agropecuários, com base na padronização oficial e apoiar diretamente o departamento de fiscalização da Seab, na área de defesa sanitária animal e vegetal, nos postos de fronteiras do Estado. − Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Paraná): que tem como missão contribuir para a modernização da agricultura, para o desenvolvimento rural sustentável e para a promoção da cidadania e qualidade de vida da população rural. − Instituto Agronômico do Paraná (Iapar): instituição de pesquisa agropecuária cuja missão é gerar e difundir conhecimentos científicos e tecnológicos para o desenvolvimento sustentando da agropecuária paranaense. Assim, embora existem, no Paraná, várias organizações importantes na definição das vantagens competitivas de suas cadeias produtivas agroindustriais os impactos destas junto à cadeia produtiva apícola parece ter sido bastante reduzido, pelo menos, até o momento. Neste sentido, de forma especifica, Silva (2003) fez um levantamento da situação do associativismo apícola no Estado, chegando a identificar os principais problemas e reivindicações, apontados pelas lideranças apícolas deste, quais sejam: Dentre os principais problemas encontrados, citam-se: a) Meio ambiente: uso indiscriminado de agrotóxicos; destruindo os ecossistemas e, por outro lado, a falta de fiscalização dos órgãos governamentais. b) Organização dos produtores: falta de recursos para o funcionamento das Associações; fechamento de muitas destas; baixo nível de consciência associativa dos apicultores. c) Assistência técnica, extensão rural: falta de cursos/treinamento/orientação de técnicos especializados em apicultura; falta de atualização/capacitação/profissionalização dos apicultores para o desenvolvimento da apicultura orgânica, tecnificada e racional; baixa especialização dos apicultores; falta de difusão de novas tecnologias, melhoramento genético (seleção das rainhas), manejo e requisitos para o mel orgânico. 19 d) Programa estadual de desenvolvimento da apicultura: falta de um programa de desenvolvimento da apicultura que coordene as ações em nível estadual e contemple as necessidades da atividade apícola. 6.4 Ambiente Institucional Compreendem a regulamentação para o setor, o sistema legal, normas, tradições e costumes, políticas setoriais governamentais e macroeconômicas (tarifárias, tributárias, comerciais e setoriais adotadas pelo governo, assim como por governos de outros países, parceiros comerciais e concorrentes). Em respostas aos sinais das instituições, a cadeia se movimenta buscando adequar-se aos novos requisitos. Destacam-se os principais problemas: a) Inspeção higiênica sanitária (SIM/SIP/SIF): falta de padronização do mel e dificuldades de comercialização; ação de falsificadores, concorrência desleal e falta de fiscalização governamental; dificuldades de obtenção de registro junto a serviço de inspeção governamental, seja pela demora ou pela falta de definições acerca das atribuições nas três esferas (municipal, estadual e federal); falta de apoio e informações para a padronização e melhoria da qualidade dos produtos e obtenção de registro nos serviços de inspeção higiênicosanitário (SIM/SIP/SIF). b) Falta de organização da cadeia produtiva apícola em decorrência das relações serem fundamentalmente mercantis; c) Acesso a recursos financeiros (crédito): falta de financiamento para investimentos, custeio, capital de giro e organização dos apicultores; falta de financiamentos para estruturação das associações e auxilio aos produtores descapitalizados. 6.5 Ambiente Tecnológico Envolve o paradigma tecnológico vigente e a fase da trajetória tecnológica. A boa performance das cadeias produtivas está apoiada em sua capacidade de gerir o desenvolvimento tecnológico de cada um de seus elos, e na cadeia como um todo, sendo a inovação de produtos e processos a chave da competitividade. Citam-se os problemas relevantes: a) Falta de apoio ao desenvolvimento de pesquisas visando o melhoramento genético (seleção de rainha), manejo dos apiários, produção do mel orgânico. b) Falta de apoio institucional para a difusão e adoção das inovações existentes; c) Falta de pessoal qualificado para fazer avançar as pesquisas na área. 7.CONCLUSÃO As condições competitivas dos produtores de insumos fundamentam-se na capacidade de introduzir novos equipamentos e produzir com qualidade os produtos. As empresas pertencentes a este segmento têm realizado esforços inovativos, tanto de inovações de processo como de produtos, ainda que estes sejam novos para as empresas, mas já existentes no mercado. A importância deste segmento na cadeia produtiva eleva-se com a participação crescente da oferta de equipamentos por empresa localizada no Estado, cuja produção de inúmeros produtos destinado ao melhoramento da performance produtiva têm provocado impactos positivos nesta atividade. 20 No segmento de produção apícola constata-se que esta atividade é considerada complementar para a grande maioria dos produtores, ou seja, para 60% dos entrevistados esta participa com apenas até 20% da renda gerada na propriedade. Assim como em nível de propriedade, o conhecimento técnico para o manejo adequado da atividade é ainda bastante restrito contribuindo, de forma significativa, para a baixa produtividade por colméia. Todavia, se observam esforços de melhoramento do processo produtivo por parte de um segmento de apicultores com a introdução de melhorias em técnicas de produção e de acesso as tecnologias. Em tal segmento, apicultores participam de feiras e eventos, recorre a revistas especializadas e as associações para se informarem sobre tecnologias a serem utilizadas na atividade. Entretanto, registra-se ocorrência de vinculações formais sob parcerias e outros vínculos entre produtores apícolas e empresas processadoras, o que indica o surgimento de nova dinâmica relacional neste segmento. No âmbito das empresas processadoras observa-se que grande parte da matéria-prima adquirida decorre de compra direta de produtores, ainda que comprem de atacadistas/intermediários, associações e integrados, e que procedem, sobretudo, das regiões Sudoeste e Metropolitana de Curitiba. Os principais determinantes da competitividade listados são: qualidade da matéria-prima, da mão-de-obra, do produto e capacidade de atendimento. Tais empresas têm introduzido inovações importantes de processo, produto e organizacional, estimuladas pela maior concorrência setorial e novas oportunidades de negócios que estão surgindo, sobretudo as direcionadas para especialização e diversificação produtiva. Nos segmentos de atacado e varejo observam-se que estes se pautam por preocupações voltadas a qualidade do produto adquirido de seus fornecedores, considerando que o mel é factível de falsificação existe a persistente desconfiança do consumidor acerca da qualidade existente. Por sua vez, apontam que relações confiáveis firmadas com estes têm produzido melhores preços e formas de pagamento, que por sua vez se traduzem em esforços internos para venda dos produtos procedentes destes fornecedores. No campo do consumidor, pesquisa realizada destaca que próximo de 50% do mel consumido provém de compras direto do produtor. No âmbito da coordenação e relações transacionais entre os segmentos da cadeia produtiva destacam-se: a) as transações entre segmentos de insumos e equipamentos e produtores apícolas se processam essencialmente através de relações de mercado; b) entre produtores apícolas e empresas processadoras as transações ocorrem através de relações mercantis, porém verificam-se reduzidas e localizadas formas híbridas de governança; c) entre empresas processadoras e distribuidores as relações firmam-se através do mercado porém existem relações mais duradouras que garantem melhores condições aos distribuidores; d) entre distribuidores e consumidores as relações firmadas se pautam pelos mecanismos concorrenciais de preço e qualidade e ocorrência de ações oportunistas em processos de barganhas de preço; e) entre empresas processadoras e fornecedores de equipamentos se constatam avanços nas transações em decorrência dos equipamentos serem feitos sob encomenda e exigirem contratos entre as partes; f) entre produtores e distribuidores a dinâmica transacional ocorre via mercado, assim como em g) entre distribuidores e consumidores; h) entre produtor apícola a agentes intermediários; e f) entre agentes intermediários e processadores. Por fim, a análise dos ambientes organizacional, institucional e tecnológicos existentes em apoio à cadeia produtiva apícola aponta a existência de uma estrutura organizacional importante no Paraná, composta de vários órgãos com funções definidas, mas que em face do inúmeros problemas que cercam esta atividade produtiva, carecem de melhor utilização. Dentre os problemas listados apontam os relacionados ao meio ambiente, organização dos produtores, assistência técnica, normas e regras claras em procedimentos competitivos, acesso a recursos financeiros, falta de apoio a pesquisa tecnológica, entre os principais. BIBLIOGRAFIA BRAGA, Márcio B., SAES, Maria S. M. As novas tendências do agribusiness brasileiro. Revista de Economia de Empresas, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 22-30, jul./set. 1995. 21 FARINA, Elizabeth M. M. Q. Abordagem sistêmica dos negócios agroindustriais e a economia de custos de transação. In: FARINA, Elizabeth M. M. Q. (Org.). Competitividade: mercado, estado e organização. 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