Anais do Conic-Semesp. Volume 1, 2013 - Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3. ISSN 2357-8904 TÍTULO: CUIDADORES INFORMAIS DE IDOSOS: PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NESTE CAMPO CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: TERAPIA OCUPACIONAL INSTITUIÇÃO: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS AUTOR(ES): DANIELA CHRISTOVAM, ALINE CRISTINA BENEDITO ORIENTADOR(ES): MARIA LUISA GAZABIM SIMÕES BALLARIN RESUMO O objetivo deste trabalho foi analisar a produção de conhecimento relativa aos Cuidadores Informais – CI de pacientes adultos e idosos, considerando as publicações científicas produzidas no período compreendido de 2002 a 2011. Trata-se de um estudo de natureza descritiva e quantiqualitativo, em que se realizou pesquisa bibliográfica com consulta à base de dados LILACS – Literatura Latino-Americana em Ciências de la Salud e SciELO, além de livros e outros documentos. Os seguintes descritores foram utilizados: cuidadores de adultos e idosos. Constatou-se predomínio de publicações de língua portuguesa (84%) e aumento significativo do número de publicação a partir do ano de 2007, além de concentração de publicações em periódicos da área da enfermagem (46%), seguido da medicina (34%). Evidenciou-se que os cuidadores eram na grande maioria, do sexo feminino, filhas e/ou cônjuges que desempenhavam a tarefa de cuidar muitas horas ao dia, acarretando em mudanças na própria rotina e estilo de vida. Além disso, as publicações apontavam para o fato de que a atividade de cuidar traz implicações psicossociais e estão relacionadas ao estresse, depressão, ansiedade, isolamento social, sobrecarga física e emocional do CI. Por fim, na maioria das publicações analisadas, verificou-se a importância da construção de estratégia mais efetivas que venham a ser adotadas no sentido assistir integralmente tanto os CI, como os idosos que estes acompanham. Palavras-chave: revisão, cuidadores, saúde do idoso. 1. INTRODUÇÃO O envelhecimento da população mundial e, conseqüentemente, o aumento significativo da população idosa no mundo, implica necessariamente, em refletirmos sobre a importância da constituição de Políticas Públicas que respondam as demandas crescentes que se apresentam neste campo. Especificamente no Brasil, estima-se que em 2025, a população com idade superior a 60 anos, deve chegar a 34 milhões de pessoas1. Soma-se este fato, o aumento acentuado da prevalência de doenças não transmissíveis e de evolução prolongada, que exigem cada vez mais ações de saúde dirigidas à assistência domiciliária e comunitária e, concomitantemente, a tendência para se diminuir o tempo de permanência dos indivíduos internos nas unidades de saúde, o que acarreta uma transferência de muitos cuidados, para as famílias, fazendo emergir a figura do Cuidador familiar ou Informal – CI. O CI se caracteriza como uma pessoa da família ou próxima a ela que acompanha cotidianamente a perda da autonomia decorrente do processo de envelhecimento e/ou enfermidade do seu familiar. Os cuidadores informais, na maioria das vezes, são considerados como recursos a serviço do indivíduo adoecido, mas não como um alvo de atenção da equipe de saúde. Neste sentido, faz-se necessário enfatizar a importância de seu papel, considerandoo também, como uma pessoa que pode estar necessitando de auxílio e apoio, para o desempenho de sua função de cuidar e, portanto merecedores de atenção e cuidados dos profissionais de saúde2. Por estarem expostos a essas vivências, alguns estudos3, 4 identificam que o CI deve receber suporte, não apenas para aprender a cuidar do paciente, mas, sobretudo, para enfrentar, compreender e compartilhar a situação de doença e/ou deficiência, para assim, conseguirem lidar mais adequadamente com seus próprios problemas, conflitos, medo e aumento das responsabilidades, pois como descrito anteriormente, a atribuição do CI traz impactos significativos para usa vida, predispondo-os a conflitos e alterando seu cotidiano e sua qualidade de vida, aspectos decorrentes da sobrecarga que vivenciam no ato de cuidar. Com base nos aspectos descritos relacionados aos inúmeros fatores associados à condição do CI, este trabalho tem por objetivo analisar a produção de conhecimento relativa aos CI de pacientes adultos e idosos, produzidas no período compreendido de 2002 a 2011. 2. MÉTODO Trata-se de um estudo de natureza descritiva, quantiqualitativa, realizado a partir da revisão da produção científica relacionada aos CI de pacientes adultos e idosos, considerando as publicações científicas produzidas no período compreendido de 2002 a 2011. A investigação contemplou consulta às bases de dados LILACS - Literatura Latino-americana en Ciencias de La Salud e SciELO, tendo sido utilizados os seguintes descritores: cuidadores de adultos e idosos. A coleta de dados ocorreu no período de outubro de 2012 a março de 2013, sendo que os critérios de inclusão adotados para seleção e análise das publicações foram: textos escritos em português, espanhol e inglês, publicados no período estabelecido de 2002 a 2011 e que abordassem a temática relativa à cuidadores informais de adultos e idosos. Em seguida procedeu-se a leitura dos resumos das publicações identificadas. Inicialmente, foram identificadas 346 publicações, destas 173 não atendiam aos critérios de inclusão estabelecidos, pois tratavam da saúde do cuidador formal ou abordavam aspectos específicos pertinentes à atenção clínica e/ou a saúde do idoso5,6,7. Também foram excluídos outros trabalhos que embora, abordassem a temática investigada não foram publicados no período estabelecido8,9,10. Outros trabalhos foram excluídos, pois o acesso sua versão na íntegra não foi possível realizar11,12,13. Após a seleção das publicações procedeu-se sucessivas leituras dos resumos para identificar as seguintes variáveis: título, ano de publicação, periódico (fonte), tipo de publicação, metodologia do estudo, problemática do paciente acompanhado pelo CI, bem como caracterização dos cuidadores. A identificação de tais variáveis resultou na elaboração de um banco de dados (Excel), facilitando assim, o tratamento e a análise dos resultados obtidos, os quais serão descritos a seguir. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos foram sistematizados considerando-se duas categorias, quais sejam: aquelas relacionadas à caracterização das publicações e aquelas relativas aos principais conteúdos abordados no diferentes estudos. 3.1. Caracterização das Publicações A análise dos 173 trabalhos publicados entre os anos de 2002 – 2011 evidenciou diferentes aspectos em relação ao: ano de publicação, principais fontes, tipo de publicação, objetivos, metodologia e tipos de estudo. Constatouse predomínio de publicações em língua portuguesa (84%), seguidas do espanhol (16%). Quanto ao tipo de trabalho, constatou-se que a maioria caracterizava-se como artigo resultado de pesquisa e uma minoria de dissertação de mestrado e tese de doutorado. Com relação ao ano de publicação, destaca-se que os resultados foram agrupados considerando-se cinco biênios, conforme ilustra Gráfico 1. Gráfico 1. Distribuição das publicações analisadas por biênio (2002-211) Observa-se que no período estudado houve aumento do número de publicações, sendo que a partir do terceiro biênio o aumento foi significativo. Com relação às fontes das publicações, constatou-se que as mesmas eram originárias de 05 periódicos distintos, dos quais (46%) eram da área da enfermagem, (34%) da área das ciências médicas, (20%) da área da reabilitação que envolvia a psicologia, a terapia ocupacional, a fonoaudiologia e a fisioterapia, conforme se observa na Tabela 1. Tabela1. Distribuição percentual das publicações por periódicos Periódicos Enfermagem Ciências Médicas Reabilitação Total N (%) 79 58 36 173 46 34 20 100 Esses dados coincidem com os descritos em outro estudo14 de revisão integrativa da literatura que analisou trabalhos publicados em âmbito nacional e internacional, no período de janeiro de 2005 a setembro de 2010 e também constatou maior número de publicações na área de enfermagem. 3.2. Principais conteúdos abordados nas publicações analisadas Com relação ao conteúdo dos trabalhos publicados no período compreendido 2002 a 2011 constatou-se diversidade quanto aos aspectos abordados. Assim, conteúdos como perfil, tarefas de cuidado, qualidade de vida, sobrecarga, implicações psicossociais, relação entre estresse, depressão e ansiedade, significado do cuidado e efeitos de programas educativos voltados ao CI caracterizaram as principais temáticas abordadas nas publicações, conforme se pode verificar a seguir. Com relação ao cotidiano e as tarefas desempenhadas pelos CI junto ao idoso dependente, as publicações evidenciaram que: ajudar a sair da cama, levantarse da cadeira, locomover-se, ajudar nos cuidados de higiene (cabelos, unhas, pele, barba, banho, higiene íntima), ajudar na alimentação; promover a comunicação e a socialização; estimular a memória, auxiliar na manutenção da limpeza e da ordem da casa ou quarto do idoso, além de acompanhá-lo às consultas e serviços de saúde foram apontadas como desgastantes 15,16. Constata-se que as tarefas indicadas como desgastantes estão relacionadas basicamente aos cuidados pessoais e no suporte diário às necessidades humanas básicas, ou seja, as Atividades de Vida Diária – AVD e Atividades Instrumentais de Vida Diária – AIVD. Neste estudo, constatou-se que a mudança na rotina e estilo de vida dos CI, decorrente das atividades de cuidado desempenhadas junto ao idoso, com conseqüente alteração na realização de atividades de lazer, restrição do convívio social, falta de tempo para si, para os cuidados consigo próprio e a sensação de terem que viver em torno de outra pessoa foram descritos como fatores estressantes que interferiram na QV dos CI. Demandas de apoio emocional, de rede social, de orientações pertinentes aos procedimentos para a prestação do cuidado, além de apoio práticoinstrumental, entre outras, figuraram, em algumas das publicações, como questões relevantes relacionadas aos CI17. Entretanto, ainda que se tenha avançado em relação aos estudos e discussões, até mesmo, no que se refere às políticas públicas voltadas aos idosos e seus cuidadores, ainda são inúmeros os desafios da sociedade, dos gestores dos serviços e profissionais de saúde, para de fato conseguir responder algumas dessas demandas. Neste sentido, algumas publicações apontaram caminhos a serem percorridos a fim de minimizar os impactos negativo que por vezes o CI vivencia no seu cotidiano e, conseqüentemente em sua QV. Descansar, praticar atividade física e de lazer, buscar espaços e/ou grupos para trocar de experiências, ampliar rede social no território, cuidar-se, receber apoio dos profissionais de saúde, participar de programas de treinamento, ter acesso a grupos e/ou serviços da comunidade e de saúde foram descritos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta revisão buscou analisar os aspectos quantitativos das publicações conjuntamente com suas características qualitativas. Posterior à análise minuciosa, compreendeu-se a necessidade de políticas de saúde pública e redes de suporte social, eficazes que auxiliem essa população. Observa-se a crescente manifestação de interesse pela temática nos últimos dois biênios, entretanto não se nota a melhora na qualidade de serviços direcionados a atenção, saúde e cuidado de cuidadores informais. Espera-se que esta revisão contribua, aflore e desperte o interesse pela qualidade de vida dessa população em profissionais e também em representantes do sistema de saúde pública para que se estabeleçam serviços assistenciais efetivos e dinâmicos que transformem esses indivíduos como sujeitos das intervenções de saúde. 5. REFERÊNCIAS 1. Mello, M. A. F. Terapia Ocupacional Gerontológica. (2007). In: Cavalcanti, A.; Galvão, C.Terapia ocupacional: fundamentação & prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 367-381. 2. Araújo, L. Z. S.; Araújo, C. Z. S.; Souto, A. K. B. A.; Oliveira, MS. (2009). Cuidador principal de paciente oncológico fora de possibilidade de cura, repercussões deste encargo. Rev. Bras. Enferm., Brasília, vol. 62, n. 1, p. 32-37. 3. Floriani, C. 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