UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO VÁCLAV SOUKUP FILHO O FENÔMENO BORN GLOBAL NA ECONOMIA CRIATIVA DO BRASIL: um estudo de casos no setor audiovisual RIO DE JANEIRO 2014 VÁCLAV SOUKUP FILHO O FENÔMENO BORN GLOBAL NA ECONOMIA CRIATIVA DO BRASIL: um estudo de casos no setor audiovisual Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Renato Cotta de Mello RIO DE JANEIRO 2014 Soukup Filho, Václav O fenômeno Born Global na Economia Criativa do Brasil: um estudo de casos no setor audiovisual / Václav Soukup Filho – Rio de Janeiro: UFRJ, 2014. 159 f.: il. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2014. Orientador: Renato Cotta de Mello 1. Negócios Internacionais. 2. Serviços. 3. Audiovisual. 4. Administração Teses. I. Mello, Renato Cotta de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. CDD: Václav Soukup Filho O FENÔMENO BORN GLOBAL NA ECONOMIA CRIATIVA DO BRASIL: um estudo de casos no setor audiovisual Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada em ________________________________________________________ Renato Cotta de Mello, D.Sc. - COPPEAD/UFRJ ________________________________________________________ Simone Bacellar Leal Ferreira, D.Sc. – UNITEC/UNIRIO ________________________________________________________ Luís Antônio Dib, D.Sc. - COPPEAD/UFRJ DEDICATÓRIA À memória de meu pai. Eterno amigo, exemplo, herói e inspiração. Onde quer que esteja, espero que esteja muito feliz, porque você merece! AGRADECIMENTOS Agradeço a meu orientador, professor Renato, pelo suporte e paciência durante todas as etapas do trabalho. O aprendizado de pesquisa foi muito além da dissertação em si, já que tive a oportunidade de intercambiar conhecimento com excelentes pesquisadores do NUPIN (PUC-RIO) e estudar um tema que era de interesse direto da Apex-Brasil. Essa vivência acadêmica vale ouro, e quero agradecê-lo profundamente pela oportunidade e confiança. Agradeço aos membros da banca, profs. Dib e Simone, por todas as observações pertinentes, o que certamente deixou o trabalho final mais elegante e consistente do ponto de vista acadêmico. Agradeço ao Renato Ciasca, da Drama Filmes, e ao Fernando Dias, da Grifa Filmes, por se disponibilizarem para esse trabalho, oferecendo todas as informações necessárias para sua realização. São empreendedores de sucesso da indústria criativa, que admiro por unirem coragem e competência na expansão internacional de seus negócios, cada um à sua maneira. Agradeço aos professores Victor Almeida e Maribel Suarez, pela oportunidade de trabalharmos juntos para publicar estudos em periódicos ou apresenta-los em congressos científicos. Realmente esse tipo de realização consagra e amplia o aprendizado de sala de aula, e isso não tem preço. Agradeço a todos os professores e mestrandos pela troca de conhecimento e experiência. Em particular, agradeço aos amigos Átila, André Maiocchi e Guido. Agradeço também ao mestre Marcos Ávila, que tem uma forma especial de ensinar. Alguns de seus ensinamentos vão me acompanhar pelo resto da vida. Tenho outros para citar, mas a lista seria grande! Então, obrigado a todos! Agradeço, em especial, à minha mãe. Ela soube compreender esse momento da minha vida e deu todo o suporte para que eu fizesse o mestrado sem sobressaltos. Sem ela, essa realização não teria sido possível. Muito obrigado! RESUMO SOUKUP FILHO, Václav. O fenômeno Born Global na Economia Criativa do Brasil: um estudo de casos no setor audiovisual. Rio de Janeiro, 2014. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. O Audiovisual insere-se na categoria mais ampla da Economia Criativa, que engloba setores tão diversos como: novas mídias, artes cênicas, design, editoras, artesanato, dentre outros. É considerado um segmento de grande importância estratégica para algumas nações, como Estados Unidos, França, Coréia do Sul e Argentina. No Brasil, segue acumulando déficits crescentes na sua balança comercial, ano após ano. Dessa maneira, esse trabalho investiga as características e trajetórias de internacionalização de duas produtoras brasileiras independentes, uma especializada em cinema e outra em TV, sob a ótica de quatro teorias comportamentais de Negócios Internacionais: Uppsala, Redes, Empreendedorismo Internacional e Born Globals. Na primeira parte, foi apresentado um panorama setorial da Economia Criativa no Brasil e no mundo, focando em seguida o segmento Audiovisual. Na sequência, foi realizado um estudo de casos com as empresas Drama Filmes (cinema) e Grifa Filmes (TV). Os resultados indicam que as quatro abordagens comportamentais ajudaram a explicar diferentes aspectos da expansão internacional das firmas. No entanto, uma das produtoras internacionalizou-se de forma mais rápida e eficaz que a outra, caracterizando o que a literatura chama de um fenômeno Born Global na Economia Criativa do Brasil. Palavras-chave: Internacionalização. Economia Criativa. Audiovisual. Born Globals. ABSTRACT SOUKUP FILHO, Václav. O fenômeno Born Global na Economia Criativa do Brasil: um estudo de casos no setor audiovisual. Rio de Janeiro, 2014. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. The Audiovisual is part of the broader category of Creative Economy, which includes so varied industries as: new media, performing arts, design, publishing, arts and crafts, among others. It is considered a segment of very strategic importance for some countries like the United States, France, South Korea and Argentina. In Brazil, it goes on accumulating growing deficits in its trade balance, year after year. Thus, this work investigates the characteristics and internationalization pathways of two independent Brazilian producers, specialized in movies and Pay TV. The literature review and analysis were conducted under the perspective of four behavioral theories of International Business: Uppsala, Networks, International Entrepreneurship and Born Globals. In the first part of the study, an industry overview of the Creative Economy in Brazil and worldwide was presented, focusing on the Audiovisual industry. Then, a case study with the companies Drama Filmes (movies) and Grifa Filmes (TV) was carried out. The results indicate that the four behavioral approaches were useful to explain different aspects of the companies’ international expansion. However, one of them got international faster and more efficiently than the other. It characterizes what the literature calls a Born Global phenomenon in the Creative Economy of Brazil. Keywords: Internationalization. Creative Economy. Audiovisual. Born Globals. LISTA DE SIGLAS ANCINE Agência Nacional do Cinema BG Born Globals BTVP Brazilian TV Producers EC Economia Criativa EI Empreendedorismo Internacional IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDE Investimento Direto no Estrangeiro MinC Ministério da Cultura MNE Multinational Enterprise (do inglês, Empresa Multinacional) MPI Modelo de Processo de Internacionalização M-U Modelo de Uppsala NEI Novo Empreendimento Internacional NI Negócios Internacionais P&D Pesquisa e Desenvolvimento PME Pequenas e Médias Empresas PSI Projeto Setorial Integrado RBV Resource Based View (do inglês, Visão Baseada em Recursos) SEC Secretaria da Economia Criativa do MinC VA Valor Adicionado VRIO Valiosos, Raros, Inimitáveis e Organizacionais LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro 1 - Definição de uma firma BG .................................................................... 85 Quadro 2 - Fontes de Dados Primários e Secundários ............................................ 94 Quadro 3 - Entrevistas com os Fundadores da Drama Filmes e Grifa Filmes .......... 94 Quadro 4 - Filmografia da Drama Filmes.................................................................. 98 Quadro 5 - Premiações do Filme "O Invasor" ......................................................... 100 Quadro 6 – Modos de entrada em mercados estrangeiros da Drama Filmes ........ 105 Quadro 7 - Escolha de modos de entrada em mercados estrangeiros da Grifa Filmes ................................................................................................................................ 112 Quadro 8 - Aderência da Internacionalização ao Modelo de Uppsala .................... 119 Quadro 9 - Aderência da Internacionalização à Teoria de Redes .......................... 123 Quadro 10 - Aderência da Internacionalização ao Empreendedorismo Internacional ................................................................................................................................ 126 Quadro 11 - Comparativo de Internacionalização sob a Perspectiva de BG .......... 127 Quadro 12 - Aderência da Internacionalização ao fenômeno Born Globals ........... 130 Quadro 13 - Aderência da Internacionalização às Teorias Comportamentais ........ 133 Tabela 1 - Setores Criativos no Brasil em 2010 ........................................................ 23 Tabela 2 - Emprego nos setores criativos do Brasil em 2010 ................................... 24 Tabela 3 - Empresas nos setores criativos do Brasil em 2010 ................................. 24 Tabela 4 - Exportações dos Setores Criativos brasileiros em 2008 .......................... 24 Tabela 5 - Características dos trabalhadores por área da EC em 2009 ................... 25 Tabela 6 - Principais exportadores de serviços audiovisuais (em US$ milhões) 20022011 .......................................................................................................................... 28 Tabela 7 - Principais importadores de serviços audiovisuais (em US$ Milhões) 20022011 .......................................................................................................................... 28 Tabela 8 - Principais países em receita de bilheteria (2012) .................................... 29 Tabela 9 - Lista dos 10 principais produtores mundiais de filmes (2005-2011) ........ 30 Tabela 10 – Os 10 principais mercados mundiais de TV paga em 2012 .................. 31 Tabela 11 - Longas metragens lançados no cinema brasileiro em 2013 ................ 122 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Classificação da UNCTAD para indústrias criativas ................................. 20 Figura 2 - Questões básicas do processo de internacionalização da empresa ........ 36 Figura 3 - Cadeia de Estabelecimento em Mercados Internacionais ........................ 41 Figura 4 - Mecanismo Basico da Internacionalização segundo o M-U ..................... 43 Figura 5 - Mecanismo de Interncionalização do M-U revisado ................................. 49 Figura 6 - Internacionalização e o modelo de Redes ............................................... 54 Figura 7 - Elementos necessários e suficientes para novos empreendimentos internacionais sustentáveis ....................................................................................... 65 Figura 8 - Tipos de novos empreendimentos internacionais .................................... 69 Figura 9 - Modelo de forças que influenciam a velocidade de internacionalização .. 73 Figura 10 - Modelo de pesquisa para BG ................................................................. 80 Figura 11 - Modelo conceitual de BG ....................................................................... 81 Figura 12 - Linha do tempo: Internacionalização Drama Filmes............................. 117 Figura 13 - Capital Intelectual da Drama Filmes..................................................... 125 Gráfico 1 - Share de exportação de bens criativos por grupo econômico em 2011 . 17 Gráfico 2 - Contribuição das indústrias criativas para o emprego formal ................. 21 Gráfico 3 - Contribuição das indústrias criativas para o PIB .................................... 21 Gráfico 4 - Assinantes de TV Paga no Mundo (2010 a 2013) .................................. 31 Sumário 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 13 1.1 OBJETIVOS DO ESTUDO ................................................................... 13 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ................................................................. 14 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ............................................................... 16 1.4 A ECONOMIA CRIATIVA E O SETOR AUDIOVISUAL ........................ 16 1.4.1 A Economia Criativa no Mundo ........................................................ 17 1.4.2 A Economia Criativa no Brasil .......................................................... 22 1.4.3 O Audiovisual no Mundo ................................................................... 26 1.4.4 Internacionalização do Audiovisual brasileiro ................................ 32 1.5 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ............................................................ 33 2 REVISÃO DA LITERATURA ............................................................... 35 2.1 TEORIAS COMPORTAMENTAIS ........................................................ 35 2.2 MODELO DE UPPSALA ...................................................................... 37 2.2.1 Pressupostos Teóricos..................................................................... 38 2.2.2 O Mecanismo Original do Modelo.................................................... 40 2.2.3 Críticas ao Modelo de Uppsala original .......................................... 45 2.2.4 Defesa e readaptação do Modelo de Uppsala ................................ 48 2.3 TEORIA DE REDES ............................................................................ 51 2.3.1 Base Teórica ...................................................................................... 51 2.3.2 O Modelo de Redes ........................................................................... 52 2.3.3 Limitações da Teoria de Redes ........................................................ 55 2.3.4 Redes em Países Emergentes e PMEs ............................................ 57 2.4 EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL ...................................... 62 2.4.1 Pressupostos Teóricos..................................................................... 63 2.4.2 O Mecanismo Original do Modelo.................................................... 65 2.4.3 Principais Críticas ao Modelo de EI ................................................. 70 2.4.4 Evolução da abordagem sobre EI .................................................... 71 2.5 BORN GLOBALS ................................................................................. 75 2.5.1 Origem dos estudos e do termo Born Globals................................ 75 2.5.2 A globalização como moderadora do fenômeno BG ..................... 77 2.5.3 Seleção de países e modos de entrada ........................................... 78 2.5.4 A evolução da abordagem BG e a proposição de modelos .......... 79 2.5.5 Como caracterizar uma BG? ............................................................. 83 3 MÉTODO DE PESQUISA ...................... Erro! Indicador não definido. 3.1 O PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................ 86 3.2 DEFINIÇÃO DAS PERGUNTAS DE PESQUISA ................................. 87 3.3 MÉTODO SELECIONADO ..................... Erro! Indicador não definido. 3.3.1 O Método de Estudo de Casos ........................................................ 89 3.3.2 Seleção dos Casos............................................................................ 90 3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS ................. 92 3.4.1 Fontes de Dados Primários e Secundários .................................... 93 3.4.2 Análise dos Casos ............................................................................ 94 3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO DE PESQUISA ...................................... 96 4 DESCRIÇÃO DOS CASOS ................................................................ 98 4.1 DRAMA FILMES (CINEMA) ................................................................ 98 4.1.1 Introdução.......................................................................................... 98 4.1.2 Histórico da Empresa ....................................................................... 99 4.1.3 Perfil dos Dirigentes ....................................................................... 101 4.1.4 4.1.5. Processo de Internacionalização ................................................... 102 Estratégias ligadas à Internacionalização .....................................103 4.2 GRIFA FILMES (TV) .......................................................................... 106 4.2.1 Introdução........................................................................................ 106 4.2.2 Histórico da Empresa ..................................................................... 107 4.2.3 Perfil dos Dirigentes ....................................................................... 108 4.2.4 Processo de Internacionalização ................................................... 108 4.2.5 Estratégias ligadas à Internacionalização .................................... 111 5 ANÁLISE DOS CASOS .................................................................... 116 5.1 ANÁLISE CRUZADA ......................................................................... 116 5.1.1 Na Perspectiva da Escola de Uppsala ........................................... 117 5.1.2 Na Perspectiva da Teoria de Redes ............................................... 119 5.1.3 Na Perspectiva de Empreendedorismo Internacional.................. 123 5.1.4 Na Perspectiva de Born Globals .................................................... 127 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ........................................... 131 6.1 RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS DE PESQUISA .............................. 131 6.2 RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ....................... 134 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 137 APÊNDICES .................................................................................................. 155 13 1. INTRODUÇÃO 1.1. OBJETIVOS DO ESTUDO Esse estudo tem por objetivo analisar os padrões de internacionalização de duas produtoras brasileiras independentes do setor Audiovisual, uma do segmento de Cinema e outra do de TV. Na cadeia de valor, os produtores seriam os responsáveis pela criação de obras como filmes, séries e documentários. O Audiovisual, por sua vez, estaria incluído no conjunto maior do que se convencionou chamar de Indústrias Criativas. A análise será efetuada, basicamente, à luz das Teorias Comportamentais de Negócios Internacionais. Assim, as duas perguntas principais que orientam essa dissertação são: 1. Quais as características do processo de internacionalização das duas produtoras brasileiras pesquisadas? São características distintas? 2. Como suas trajetórias de internacionalização podem ser explicadas pelas abordagens comportamentais de internacionalização, em especial o fenômeno Born Globals? A partir das perguntas principais, foram desenvolvidas seis questões mais específicas a serem exploradas durante a coleta e análise dos dados, a saber: Qual o histórico das duas empresas e de seus dirigentes antes da internacionalização? Quais as motivações para a internacionalização das duas empresas? Como ocorreu o processo de internacionalização das duas empresas? Quais as estratégias ligadas à internacionalização das duas empresas? 14 Qual o papel das alianças e parcerias para as atividades internacionais das empresas? 1.2. RELEVÂNCIA DO ESTUDO De acordo com o United Nations Development Program (do inglês, Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas), a exportação de bens e serviços criativos tem crescido de forma mais acelerada nos países em desenvolvimento do que setores mais tradicionais da economia (UNDP, 2013) e mesmo até do que alguns setores de alta tecnologia. Estudiosos como White, Gunasekaran e Roy (2014) também já proclamam que a Indústria Criativa tem se tornado uma das mais importantes forças de vantagem competitiva na economia das nações. Mesmo assim, Oliveira, Araújo e Silva (2013) dizem que o conceito de Economia Criativa, como disciplina de estudo, só ganhou relevância a partir da década de 2000. No caso do Brasil, foi apenas no ano de 2012 que o Ministério da Cultura criou a Secretaria da Economia Criativa, visando contribuir para que a cultura se tornasse um eixo estratégico das políticas públicas de desenvolvimento do país (BRASIL, 2012). Não obstante o seu potencial criativo e diversidade cultural, o Brasil não aparece nas pesquisas internacionais sequer entre os 10 primeiros países em desenvolvimento, na produção e exportação de bens e serviços criativos (MINC, 2012). E no caso do Audiovisual, a situação é ainda mais grave. Conforme dados extraídos do UnctadStat1, o instituto de estatística do United Nations Conference on Trade and Development (do inglês, Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), em 2002 o Brasil 1 Disponível em: unctadstat.unctad.org. Acesso em 10/08/2013. 15 importou U$215 milhões em serviços audiovisuais e exportou U$28 milhões. Em 2011, esse número passou para U$1.030 milhões em importações e apenas U$13 milhões em exportações. O déficit na balança comercial do audiovisual brasileiro era de U$187 milhões em 2002 e saltou 550% em apenas nove anos, chegando a U$1.030 milhões em 2011. Certamente, uma das contas mais deficitárias da balança comercial brasileira. Finalmente, embora existisse um plano com indicadores e metas para internacionalização do audiovisual brasileiro para o período de 2011 a 2020, publicado pela Agência Nacional do Cinema (ANCINE, 2012), não foram encontrados estudos que se propusessem a analisar a internacionalização do setor. Essa é uma das lacunas que o presente trabalho se propõe a preencher. Do lado acadêmico, pesquisadores admitem que ainda há poucos estudos sobre a internacionalização de empresas pequenas (RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006). No caso de pequenas e médias empresas (PME) de serviços, os estudos seriam ainda mais raros e necessários (COVIELLO; MARTIN, 1999). Por sua vez, pequenas e médias empresas (PME) exportadoras situadas em países emergentes, como é o caso do Brasil, mereceriam mais atenção dos pesquisadores. Afinal, seu padrão de internacionalização tenderia a ser diferente, já que desafios como incertezas políticas ou regulatórias imporiam desafios extras à sua expansão internacional (LAU; BRUTON, 2007). Além disso, no caso específico do Brasil, fatores como a burocracia governamental seriam considerados um dos maiores obstáculos à internacionalização (AMAL; MIRANDA; FREITAG, 2008). Assim, o estudo das trajetórias e caraterísticas de internacionalização de empresas como Drama Filmes e Grifa Filmes pode ter uma dupla função, ajudando a esclarecer perguntas do tipo: 16 a) Até que ponto fatores internos (organização) e externos (ambiente) pesam na velocidade e intensidade da trajetória de internacionalização de produtoras brasileiras do audiovisual? Quais seriam esses fatores? b) Se há empresas com características Born Globals entre as produtoras de cinema e TV brasileiras, como elas superaram as barreiras e dificuldades para serem bem sucedidas na expansão internacional de suas atividades? 1.3. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO Setorialmente, esse estudo foca unicamente a produção audiovisual para cinema e TV. Nesse sentido, é importante destacar que, em linhas gerais, a cadeia produtiva do audiovisual divide-se em três partes: produção, distribuição e exibição. Paralelamente, visando facilitar as ações de fomento e regulação do audiovisual brasileiro, a ANCINE propôs uma segmentação da cadeia em: produtoras, distribuidoras, salas de exibição (cinema), TV aberta, TV Paga (ou TV por assinatura), varejo para venda de vídeos domésticos, videolocadoras para locação de vídeo e, mais recentemente, as mídias móveis. (ANCINE, 2010). Portanto, outros estudos poderão detalhar e analisar o papel dos demais segmentos na geração de valor para o Audiovisual. Esse não é um objetivo do presente trabalho. 1.4. A ECONOMIA CRIATIVA E O SETOR AUDIOVISUAL Há uma necessidade urgente de se encontrar novas vias de desenvolvimento que fomentem a criatividade e a inovação na busca de crescimento e desenvolvimento inclusivo, equitativo e sustentável. (UNDP, 2013, p. 2) 17 1.4.1. A Economia Criativa no Mundo O comércio internacional de bens e serviços da Economia Criativa atingiu um recorde de US$ 624 bilhões em 2011. Entre 2002 e 2011 esse montante mais que dobrou, sendo que a taxa de crescimento no período foi de 8,8% ao ano. No caso dos países em desenvolvimento, a exportação de bens e serviços criativos cresceu de forma ainda mais acentuada, atingindo uma média anual de 12,1%, considerando o mesmo período, e chegando a US$ 227 bilhões em 2011 (UNDP, 2013). Entretanto, embora as economias em desenvolvimento estejam aumentando sua participação no comércio internacional da Economia Criativa, à exceção de Artesanato e Design, nos demais setores elas ainda detêm participação reduzida, se comparadas aos países desenvolvidos, como pode ser observado no Gráfico 1 a seguir: Gráfico 1 - Share de exportação de bens criativos por grupo econômico em 2011 Fonte: UNDP (2013, p. 162) 18 Igualmente, embora a criatividade esteja se tornando “uma das mais poderosas forças de vantagem competitiva na economia moderna” (WHITE; GUNASEKARAN; ROY, 2014, p. 46), “o conceito de Economia Criativa e seu estabelecimento como disciplina de estudo só ganhou expressão e relevância a partir da década de 2000” (OLIVEIRA; ARAUJO; SILVA, 2013, p. 7). Essa sistematização teria se inspirado em uma iniciativa do governo britânico, que em 1998 percebeu que os segmentos criativos responderiam por cerca de 5% do PIB do país, e criou uma força tarefa que mapeou e dividiu a indústria criativa em 13 setores (FLEW, 2013). Assim, de acordo com Howkins (2002) (apud Oliveira, Araújo e Silva, 2013, p. 7): A Economia Criativa (EC) seria composta pelo conjunto de atividades econômicas que dependeriam do conteúdo simbólico, sendo a criatividade o fator mais expressivo para a produção de bens e serviços. Produtos e serviços baseados em criatividade e conhecimento teriam, ainda, elasticidade-renda elevada e, em geral, a Economia Criativa se relacionaria de forma simbiótica com novas tecnologias de informação e comunicação. A EC teria também relações de transbordamento muito próximas ao turismo e esporte (OLIVEIRA; ARAUJO; SILVA, 2013). Ainda de acordo com White, Gunasekaran e Roy (2014), a criatividade estaria fortemente associada à inovação, de tal forma que existiria uma relação estreita entre as duas. As competências centrais da indústria criativa, a seu turno, estariam baseadas na criatividade, habilidades e talentos do indivíduo, de forma que as empresas criativas seriam catalisadoras de riquezas e oportunidades geradas por meio do trabalho criativo dessas pessoas (WHITE; GUNASEKARAN; ROY, 2014). Conceitualmente, criatividade pode ser definida como “o processo pelo qual as ideias são geradas, conectadas e transformadas em coisas que são valorizadas” (OLIVEIRA; ARAUJO; SILVA, 2013, p. 10). As manifestações ou 19 resultados dessa criatividade seriam alavancados por um modelo baseado em cinco tipos de capital: humano, cultural, social, tecnológico, estrutural e institucional (HUI et al., 2005). A criatividade, individualmente, poderia ser articulada em três grandes áreas inter-relacionadas: criatividade artística (ou cultural), expressa em texto, som ou imagem; criatividade científica, que envolve curiosidade e experimentação e criatividade econômica, que conduz à inovação em tecnologia e práticas de negócios (OLIVEIRA; ARAUJO; SILVA, 2013). As indústrias criativas, então, podem ser definidas de acordo com pelo menos cinco diferentes sistemas de classificação (UNCTAD, 2010). Sem entrar no mérito de cada um deles, no presente trabalho será adotado o sistema da UNCTAD (2010), segundo o qual as indústrias criativas lidariam com a interação de vários setores, desde aqueles enraizados na cultura tradicional (como o artesanato) até os subgrupos mais tecnológicos e orientados a serviços, como o audiovisual e as novas mídias. A classificação da UNCTAD (2010) divide as indústrias criativas em quatro grupos: patrimônio, artes, mídias e criações funcionais. Esses, por sua vez, são subdivididos em nove subgrupos, conforme esquematizado na Figura 1: 20 Figura 1 - Classificação da UNCTAD para indústrias criativas Fonte: UNCTAD (2010, p. 8) Em relação à contribuição econômica dos setores criativos para os países, os dados supostamente mais confiáveis provêm de um estudo do World Intellectual Property Organization (WIPO), do inglês, Organização Mundial de Propriedade Intelectual, realizado em 2012. O WIPO monitora os setores envolvidos direta ou indiretamente na criação, produção, distribuição e transmissão de obras protegidas por direitos autorais (OLIVEIRA; ARAUJO; SILVA, 2013). A análise foi realizada em 40 países de diferentes partes do mundo e concluiu que, em média, as indústrias criativas protegidas por direitos intelectuais colaboram com 5,20% do Produto Interno Bruto (PIB) desses países e são responsáveis por empregar, aproximadamente, 5,36% da força de trabalho formal nos mesmos (WIPO, 2013). Nos Gráficos 2 e 3 segue a participação calculada para cada um dos países analisados: 21 Gráfico 2 - Contribuição das indústrias criativas para o emprego formal Fonte: Wipo (2013, p. 3) Gráfico 3 - Contribuição das indústrias criativas para o PIB Fonte: Wipo (2013, p. 3) 22 Ainda de acordo com esse estudo, os setores criativos protegidos por direitos intelectuais que mais valor agregaram ao PIB desses países foram: imprensa, livros e outras publicações (38,6%), software e bancos de dados (25%), rádio, TV, música ao vivo, teatro, publicidade, filmes, vídeos e exibições, somando outros 25% (UNDP, 2013). Em relação à geração de empregos, 43% da mão de obra estaria empregada nos segmentos de imprensa, livros e outras publicações. As cinco indústrias principais em termos de percentual de emprego corresponderiam por 80% das vagas disponibilizadas. Software, bancos de dados, rádio e TV seriam, por sua vez, os setores mais intensivos em uso de mão de obra, de acordo com o levantamento (WIPO, 2013). Apesar da importância crescente da Economia Criativa, principalmente para as economias em desenvolvimento (UNDP, 2013), Flew (2013) e o estudo da UNCTAD (2010) consideram que o comércio intra-regional e as trocas Sul-Sul deveriam ser incentivadas e aprimoradas. A crise financeira recente dos países europeus reforçaria, adicionalmente, a necessidade de que as economias emergentes aumentassem o escopo e extensão das trocas comerciais entre si (PRATT; HUTTON, 2013). Nesse sentido, as políticas públicas desses países são de extrema importância e devem ser aprimoradas. White, Gunasekaran e Roy (2014) sugerem medidas e métricas para mensurar e alavancar as atividades dos setores criativos que deveriam levar em conta oito fatores fundamentais em nível nacional: educação, liderança, infraestrutura, cultura, políticas governamentais, inovação tecnológica, redes/clusters criativos e diversidade. 1.4.2. A Economia Criativa no Brasil As iniciativas para reconhecer a EC como parte integrante da estratégia de desenvolvimento do Brasil surgiram em 2004. Nesse ano, o Ministério da Cultura (MinC), através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23 decidiu mapear o tamanho do setor cultural do país. Por meio da coleta de dados em mais de 320 mil negócios culturais, concluiu-se que as indústrias culturais foram responsáveis por 1,6 milhão de empregos, cerca de 4% da mão de obra do país de 2003 a 2005, e por 5,7% do total de negócios nesse período (IBGE, 2006). No entanto, foi apenas em 2012 que o MinC instituiu a Secretaria da Economia Criativa (SEC), criada por meio do Decreto 7743, de 1º de junho de 2012, cuja missão e objetivos são: Conduzir a formulação, a implantação e o monitoramento de políticas públicas para o desenvolvimento local e regional, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos brasileiros. O objetivo é contribuir para que a cultura se torne um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do Estado brasileiro (BRASIL, 2012). O primeiro grande desafio da SEC seria o levantamento de informações e dados da Economia Criativa no Brasil. Para isso, basearam-se no relatório da UNCTAD (2010), estudos realizados pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, nos parâmetros da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e da quantidade de empreendimentos considerados criativos, de acordo com a Classificação Nacional de Atividades Econômicas do IBGE (MINC, 2012). Contudo, as estimativas e tendências apresentadas nas Tabelas 1 a 4 não representam a importância e dimensão reais dos setores criativos nacionais, caracterizados por elevado grau de informalidade (OLIVEIRA; ARAUJO; SILVA, 2013). Assim, “boa parte da produção e circulação doméstica de bens e serviços criativos não é incorporada às estatísticas” (MINC, 2012, p. 31). Tabela 1 - Setores Criativos no Brasil em 2010 Descrição Contribuição dos setores criativos ao PIB do Brasil (2010) Dado R$ 104,37 bilhões 2,84% do PIB do Brasil Análise Econômica Trata-se de setores de grande dinamismo econômico, cuja participação no PIB supera alguns subsetores tradicionais de atividade econômica como a indústria extrativa (R$78,77 bilhões) e a produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana (R$ 103,24 bilhões). 24 Crescimento anual do setor criativo nos últimos 5 anos (relativo ao PIB) Há uma tendência do núcleo dos setores criativos de ganhar maior robustez econômica no Produto Interno Bruto (PIB) com possibilidades reais de ampliar futuramente sua participação. O crescimento médio anual dos últimos 5 anos do núcleo dos setores criativos (6,13%) foi superior ao crescimento médio anual do PIB brasileiro (4,3%) 6,13% a.a. Fonte: MinC (2012, p. 31) Tabela 2 - Emprego nos setores criativos do Brasil em 2010 Descrição Dado Análise Econômica Pessoas exercendo ocupações formais relacionadas aos setores criativos 3.763.271 (8,54% do total de empregados formais no Brasil) Pessoas exercendo ocupações formais no núcleo dos setores criativos 865.881 (1,96% do total de empregados formais do Brasil) Renda Média dos trabalhadores formais no núcleo dos setores criativos R$ 2.293,64 Nota-se que, para cada emprego gerado no núcleo dos setores criativos, há um efeito multiplicador para os outros segmentos econômicos da cadeia produtiva. Para cada emprego gerado no núcleo, há quatro empregos em atividades relacionadas ao setor. No entanto este efeito pode ser ainda maior caso se considere o setor informal que não entra no cômputo destas estatísticas. A renda média dos trabalhadores formais do núcleo dos setores criativos é 44% superior à média da renda dos trabalhadores formais do Brasil (R$1.588,42) Fonte: MinC (2012, p. 32) Tabela 3 - Empresas nos setores criativos do Brasil em 2010 Descrição Dado Análise Econômica Empresas atuando nos núcleos dos setores criativos 63.373 O núcleo dos setores criativos corresponde a 1,86% do total de 3.403.448 empreendimentos do país. Número médio de empregados por empresa dos setores criativos 13,7 Nota-se que os setores criativos se caracterizam pela prevalência de empreendimentos de pequeno porte. Assim, o apoio de instituições como o Sebrae é de grande importância para seu desenvolvimento Fonte: MinC (2012, p. 32) Tabela 4 - Exportações dos Setores Criativos brasileiros em 2008 Descrição Exportações brasileiras de bens criativos Dado US$ 1.222 milhões Análise Econômica Ainda há grande espaço para o Brasil ampliar suas exportações de bens criativos para o resto do mundo. Segundo a UNCTAD, as exportações brasileiras representam apenas 0,30% do valor global exportado pelo resto do mundo (US$ 406,992 bilhões) 25 Exportações brasileiras de serviços criativos US$ 6.331 milhões O mesmo acontece para exportações de serviços criativos para o resto do mundo. Segundo dados da UNCTAD, as exportações brasileiras representam apenas 3,42% do valor global exportado (US$ 185 bilhões) Fonte: MinC (2012, p. 32) Apesar de não aparecer no relatório do MinC (2012), em 2008 o Brasil importou US$ 4.089 milhões em serviços criativos (UNCTAD, 2010, p. 321), o que deixou a balança dessa conta positiva em US$ 2.242 milhões. No mesmo ano, o país importou US$ 1.718 em produtos criativos (UNCTAD, 2010, p. 305), o que deixa a balança da conta ligeiramente negativa, em US$496 milhões. No saldo geral, a balança comercial da Economia Criativa do Brasil, em 2008, ficou positiva em US$ 1.746 milhões. Em relação ao valor adicionado (VA) gerado pelas indústrias criativas brasileiras, em 2009, Oliveira, Araújo e Silva (2013) salientam que o setor audiovisual (áudio, cinema, rádio, TV e vídeo) respondeu por 31,3% do VA gerado, seguido por publicações e mídias impressas, com 25%, novas mídias (publicidade e geração de conteúdo na internet), com 23%, e serviços criativos (arquitetura, ensino, recreação, P&D criativo e outros), com 10,7% do VA gerado nesse ano. Em relação ao peso da informalidade para a EC, o estudo de Oliveira, Araújo e Silva (2013) tentou extrapolar alguns dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios) para estimar a força de trabalho criativa. Eles sugeriram que o número de profissionais exercendo ocupações nos núcleos dos setores criativos saltaria de 1,96% para 3% da força de trabalho brasileira e cerca de 6% da massa salarial. Além disso, as características dos trabalhadores por setor estariam representadas conforme a Tabela 5: Tabela 5 - Características dos trabalhadores por área da EC em 2009 Núm. de trabalhadores Salário médio mensal (R$) Anos de estudo Locais culturais 43.267 1.283,37 11,30 Artes performáticas 504.616 1.189,93 10,07 Área 26 Publicação e mídia impressa 709.146 1.253,61 10,36 Audiovisual 186.595 1.571,82 11,49 1.355.411 676,99 8,49 Novas Mídias 274.287 3.043,08 11,76 Serviços Criativos 927.997 1.785,38 11,20 Design Fonte: Oliveira, Araújo e Silva (2013, p. 45) Embora a balança comercial estivesse positiva em 2008, os desafios são muitos. Enquanto no mundo a EC representa, em média, mais de 5% do PIB das nações (WIPO, 2013), no Brasil ela contribui com apenas 2,86% (MINC, 2012). O crescimento de 6,13% ao ano dos setores criativos nacionais (MINC, 2012) pode ser considerado tímido se comparado ao crescimento anual de 12,1% das exportações de bens e serviços criativos dos países em desenvolvimento (UNDP, 2013). Alguns setores, por sua vez, precisam de bastante fomento e incentivo para se profissionalizarem e adquirirem condições de competir internacionalmente. Um deles é o Audiovisual (Cinema e TV). Em 2003, os EUA empregavam 142 mil pessoas nesse setor, quase 12 vezes o número de 12 mil trabalhadores formais empregados no Brasil, em 2010 (OLIVEIRA; ARAUJO; SILVA, 2013). 1.4.3. O Audiovisual no Mundo Como acontece com outros setores da Economia Criativa, quando se refere ao comércio internacional, o Audiovisual é tratado de forma distinta da maioria dos produtos e serviços. Por ser reconhecido como expressão cultural relevante, normalmente foge das regras gerais aplicáveis ao comércio entre países (OLIVEIRA; ARAUJO; SILVA, 2013). Para o segmento de Salas de Exibição, do ponto de vista de mercado, as produções cinematográficas de Hollywood dominam cerca de 80% do comércio mundial de filmes (UNCTAD, 2010). A fim de fazer frente a essa potência do Audiovisual, os governos dos países criaram mecanismos para proteger a produção nacional, por meio de cotas de tela para os filmes nacionais ou 27 subsídios diversos. A Europa, com destaque à França, o Canadá e a Coréia do Sul são exemplos de regiões que têm mecanismos para proteger e fomentar fortemente sua produção audiovisual (DALTON, 2013; SOUSA, 2013). Em outros países, além de barreiras institucionais à livre entrada de produções estrangeiras, existe uma forte identificação cultural com os filmes nacionais. É o caso de Nollywood na Nigéria, com uma produção doméstica de mais de 900 filmes no formato de vídeo por ano, desde 2008, e de Bollywood na Índia, cuja produção anual ultrapassa os 1.200 filmes ao ano e a venda de ingressos para cinema já chega à casa de três bilhões de unidades anuais, desde 2008 (UNCTAD, 2010; UNESCO, 2013). No segmento de TV Paga, as séries e documentários produzidos nos EUA, Canadá e Europa também continuaram a dominar o mercado internacional. Principalmente no caso dos EUA, a indústria audiovisual consegue diluir os custos de produção em um mercado doméstico grande e caracterizado pela homogeneidade linguística e cultural, fatores que contribuem para a sua competitividade global (UNCTAD, 2010). Com isso, os produtores da América do Norte e europeus conseguem vender seus produtos em todo o mundo a preços muito atraentes para os canais de TV Paga. Exploram diversas janelas de exibição ao mesmo tempo e dificultam a concorrência da produção independente local desses países (RANGEL, 2011). Balança Comercial do Audiovisual no Mundo Essa liderança do Audiovisual dos EUA reflete-se na exportação de serviços do setor, onde ocupam posição de absoluto destaque, seguidos por Reino Unido, Canadá e França. Entre as economias em desenvolvimento, o Brasil ocupa um modesto 6º lugar, num bloco liderado pela Argentina. Mesmo assim, o somatório das economias em desenvolvimento representa apenas 10% das exportações mundiais de serviços audiovisuais (UNCTAD, 28 2010). No caso da Rússia, deve-se destacar o forte crescimento das exportações entre 2002 e 2010, de acordo com a Tabela 6: Tabela 6 - Principais exportadores de serviços audiovisuais (em US$ milhões) 2002-2011 Fonte: Unctad (2010, p. 339-340) e UnctadStat (unctadstat.unctad.org). Dados de 2011 dos EUA de MPAA (2012) O ranking dos importadores de serviços audiovisuais é liderado pela Alemanha, seguido por Canadá, França e EUA. No período de 2006 a 2011 verifica-se forte crescimento da importação audiovisual pelos Estados Unidos. No caso dos países em desenvolvimento, constata-se que o Brasil é o maior importador, superando em ampla margem os demais. A Rússia é o segundo país, entre os BRICS, em valor importado de audiovisual, como se verifica na Tabela 7: Tabela 7 - Principais importadores de serviços audiovisuais (em US$ Milhões) 2002-2011 Fonte: Unctad (2010, p. 341-342) e UnctadStat (unctadstat.unctad.org) 29 Salas de Exibição (Cinema) Em 2012, a receita de bilheteria mundial dos cinemas foi de US$ 34,7 bilhões, ampliando-se 6% em relação a 2011. Entre 2008 e 2012, o crescimento mundial do valor das receitas de bilheteria de cinema foi de 25,3%. A região do Pacífico Asiático cresceu 53% no período e a América Latina cresceu 73%. A China foi o país com a maior taxa de crescimento em 2012, com 36% (MPAA, 2013). A Tabela 8 mostra os principais países e a posição do Brasil em termos de bilheteria em 2012, sendo que os dados para EUA e Canadá estão agrupados: Tabela 8 - Principais países em receita de bilheteria (2012) País US$ bilhões EUA/Canadá 10,8 China 2,7 Japão 2,4 Reino Unido 1,7 França 1,7 Índia 1,4 Alemanha 1,3 Coréia do Sul 1,3 Rússia 1,2 Austrália 1,2 Brasil 0,8 Fonte: MPAA (MPAA, 2013, p. 5) Sem contar com a Nigéria, que lança cerca de 1.000 filmes por ano no formato de vídeo (UNCTAD, 2010), a produção mundial de filmes para cinema oscila em torno de 6.500 títulos desde 2008 (UNESCO, 2013). Os 10 principais produtores foram responsáveis por quase 70% da produção mundial de filmes em 2011. Embora EUA e Índia liderem a lista, no período de 2005 a 2011 houve crescimento substancial em outros países de fora da lista, como Vietnam (525%), Irã (192%), Turquia (150%) e Brasil (136%). Os dados são mostrados na Tabela 9: 30 Tabela 9 - Lista dos 10 principais produtores mundiais de filmes (2005-2011) Fonte: Unesco (2013, p. 11) TV Paga De acordo com a ABI Research, uma renomada consultoria norte americana de inteligência competitiva, o mercado de TV Paga chegou a 903 milhões de assinantes em 2013, gerando próximo de US$ 250 bilhões em receitas de serviços (ABI, 2014). Isso representa mais de sete vezes o valor de S$34,7 bilhões do cinema em 2011, segundo a Motion Picture Association of America (MPAA, 2013). As operadoras de IPTV (TV paga pela Internet) obtiveram crescimento de 18,5% em relação a 2012, totalizando 92 milhões de assinantes e receitas de US$ 37 bilhões em serviços em 2013 (ABI, 2014). A TV Paga compõe um segmento de extrema importância para o audiovisual no mundo, em termos de clientes potenciais para filmes, séries, documentários, notícias, variedades e programas esportivos. De acordo com Paxton (2013), das 1,46 bilhões de residências com TV no planeta em 2012, aproximadamente 55% eram assinantes de algum tipo de serviço de TV Paga. Com 585 milhões de assinantes no mundo em 2008 (MURRAY, 2013), o crescimento acumulado no período entre 2008 e 2013 foi de 54%. Se entre 2010 e 2012 o crescimento médio anual foi da ordem de 8%, entre 2012 e 2013 ele saltou para 12%, conforme o Gráfico 4 abaixo: 31 Gráfico 4 - Assinantes de TV Paga no Mundo (2010 a 2013) Fonte: Adaptado de Paxton (2013, p. 4) e ABI (2014) Regionalmente, a área do Pacífico Asiático foi responsável pela maior parte desse crescimento. Entre 2008 e 2012, foram 126 milhões de novos assinantes, ou quase dois terços dos acréscimos globais no período, chegando a 433 milhões de assinantes na região em 2012 (MURRAY, 2013). O segundo lugar fica para a América do Norte, com 112 milhões de assinantes em 2012 (MURRAY, 2013), embora a base de assinantes esteja estagnada e tenha inclusive sofrido um leve declínio de 1,5% entre 2012 e 2013 no serviço de TV a cabo (ABI, 2014). A base de assinantes de TV a cabo também sofreu declínio de 1% na Europa Ocidental em 2013. Espanha e Itália também puxaram a queda de cerca de 5% dos assinantes de TV Paga via satélite na região (ABI, 2014). Segue abaixo a Tabela 10, listando os 10 principais países com assinantes de TV paga e a penetração desse tipo de serviço por país em 2012: Tabela 10 – Os 10 principais mercados mundiais de TV paga em 2012 Residências (milhões) Penetração (%) China 232,8 Holanda Índia 116,7 Dinamarca 97 EUA 100,2 Bélgica 96 Hong Kong 96 Japão 25,1 100 32 Rússia 23,6 Noruega 95 Alemanha 21,8 Coréia do Sul 95 Brasil 16,2 Suécia 92 Coréia do Sul 16,1 Suíça 86 Reino Unido 14,4 Canadá 86 México 13,0 EUA 86 Fonte: Murray (2013) Importante destacar que, embora a base de assinantes de TV a cabo ainda represente o maior percentual do faturamento mundial da TV Paga, a TV Paga via satélite deve ultrapassar o sistema a cabo nos próximos anos (MURRAY, 2013) e a IPTV (TV Paga via Internet) deve chegar a 161 milhões de assinantes até 2019, impulsionada pelo acesso oferecido pelas operadoras de telefonia móvel, e abocanhar até 15% do mercado mundial de TV por assinatura (ABI, 2014). Regionalmente, a TV a cabo ainda deve contribuir para o crescimento de mercado no Pacífico Asiático e América Latina, cuja base de assinantes do serviço deve chegar a 635 milhões até 2019. África, com 2,1 milhões de assinantes de TV via satélite em 2013, deve chegar a 2019 com 4,8 milhões de assinantes nesse sistema (ABI, 2014). Globalmente, estima-se que o mercado de TV Paga deva chegar a 1,1 bilhão de assinantes de assinantes e US$ 320 bilhões em receitas até 2019 (ABI, 2014). Deve-se frisar, também, a importância crescente da TV Digital, cuja penetração mundial passou de 28,6% em 2008 para 54,7% no fim de 2012, chegando a 786 milhões de residências com aparelhos de TV, nos 97 países onde o sistema digital estava disponível em 2012 (MURRAY, 2013). Através dessa tecnologia, é possível oferecer muito mais canais e serviços agregados do que por meio da TV analógica convencional. 1.4.4. Internacionalização do Audiovisual brasileiro Embora existisse um plano com indicadores e metas para internacionalização do audiovisual brasileiro para o período de 2011 a 2020 (ANCINE, 2012), não 33 foram encontrados estudos que se propusessem a analisar a internacionalização do setor. Todavia, existem alguns programas de apoio à internacionalização do Audiovisual brasileiro apoiados pela Apex, dentre os quais se destacam: Brazilian TV Producers (BTVP) – Parceria da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPITV) com a Apex-Brasil e o Ministério da Cultura (Minc). As principais linhas de ação envolvem apoio a parcerias, rodadas de negócios e eventos de capacitação. FilmBrazil – Criado em 2002 pela Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (APRO). Em parceria com a Apex-Brasil, o programa apoia a participação de produtores do audiovisual brasileiro em eventos internacionais. Cinema do Brasil – Criado em 2006, é um programa de promoção do cinema brasileiro, em particular de incentivo à coprodução, valorização da imagem do cinema brasileiro no exterior e prospecção de mercados externos, por meio de parceria entre o Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo (SIAESP), a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura e a Apex-Brasil. 1.5. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO Este estudo está organizado em seis capítulos, a saber: 1) Introdução: os objetivos deste estudo são apresentados, bem como sua relevância, sua delimitação e o panorama setorial resumido das Indústrias Criativas e do Audiovisual em particular. 2) Revisão da Literatura: traz a revisão teórica relevante ao estudo, com a abordagem das quatro teorias comportamentais de internacionalização, das 34 características do processo de internacionalização em relação empresas de serviço em economias emergentes e apresentado um modelo teórico, testado pela primeira vez nesse trabalho, para estudar firmas Born Globals brasileiras. 3) Métodos aplicados à pesquisa: os métodos escolhidos para a realização da coleta e análise de dados da pesquisa são apresentados e justificados, bem como suas limitações; 4) Descrição dos casos: é feita a descrição das empresas estudadas, baseadas nos dados coletados em campo; 5) Análise dos casos: é feita a interpretação e análise dos casos descritos no capítulo anterior, a fim de entender como as quatro teorias comportamentais se aplicam aos achados empíricos. São apontados, também, semelhanças e diferenças nos processos de internacionalização das empresas estudadas; 6) Conclusão: onde são dadas as respostas às perguntas de pesquisa, de acordo com uma abordagem integrada das quatro teorias comportamentais apresentadas, e feitas as recomendações para estudos futuros. 35 2. REVISÃO DA LITERATURA Metáforas e símbolos são excelentes para transmitir complexidade, e é por isso que são usados para descrever conceitos abstratos e multifacetados. (IRWIN; DUNN; MICHAUD, 2013, p. 61) Os modelos e teorias de internacionalização de empresas buscam compreender e, por vezes, explicar os processos e motivadores por trás da internacionalização das empresas. O modo ou as razões pelas quais as firmas resolvem aventurar-se além das fronteiras de seus países de origem são complexas e multifacetadas. Por isso, acredita-se que tais modelos possam funcionar como metáforas que ajudam a compreender uma realidade difícil de explicar, tal como o acreditam os estudiosos da filosofia. Portanto, sem prejuízo de outras abordagens, traremos os principais modelos da corrente comportamental de internacionalização de empresas, na esperança de compreender as decisões que permearam a internacionalização das duas empresas pesquisadas no presente trabalho, em conformidade com o arcabouço teórico construído pelos principais pesquisadores sobre o assunto, especialmente aquele que compõe a chamada corrente comportamental. 2.1. TEORIAS COMPORTAMENTAIS As abordagens comportamentais sobre internacionalização de empresas, mais recentes do que as vertentes econômicas, surgiram na universidade sueca de Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1977; JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975), na década de 1970, como uma proposta de linha de pesquisa paralela às teorias econômicas em negócios internacionais, predominantes para 36 explicar o fenômeno da internacionalização até então (MACHADO-DA-SILVA; SEIFERT JR, 2004). No entanto, as teorias comportamentais explicam melhor os estágios iniciais do processo de internacionalização de pequenas e médias empresas (PME), enquanto as teorias econômicas se adequam melhor às decisões tomadas por empresas multinacionais já estabelecidas (JOHANSON; VAHLNE, 1990; MELÉN; NORDMAN, 2009; MELLO, 2009, p. 22; VEIGA; ROCHA, 2001). A novidade trazida por essa corrente teórica foi adicionar um novo olhar sobre os estudos de negócios internacionais, cujo processo passa a ser analisado, também, à luz das teorias do comportamento organizacional (HILAL; HEMAIS, 2003). Assim, essa nova abordagem busca analisar o processo de internacionalização das organizações por meio da observação de fatores comportamentais que, a princípio, influenciariam o julgamento e tomada de decisão dos dirigentes dessas empresas, no sentido de estenderem suas atividades para além das fronteiras nacionais (GALLINDO, 2012). Ainda de acordo com Mello (2009, p. 15), “as questões fundamentais sobre as operações internacionais da firma são simplesmente: por que e como as empresas investem em operações internacionais?” Dib e Carneiro (2007) complementam essa noção, indicando que haveria cinco questões básicas a responder sobre a internacionalização da empresa: por que, o quê, quando, onde e como; representadas na Figura 2: Figura 2 - Questões básicas do processo de internacionalização da empresa Fonte: (DIB; CARNEIRO, 2007, p. 7) 37 Visando abordar tais questões, o presente trabalho foca na vertente comportamental de internacionalização, utilizando especificamente o Modelo de Uppsala, a Teoria das Redes e duas de suas mais recentes proposições teóricas – Empreendedorismo Internacional (EI) e Born Globals (BG). Em todo o capítulo sobre revisão de literatura, antes de entrar nas contribuições mais recentes ou mesmo críticas aos modelos propostos, será feita uma breve análise do artigo seminal, academicamente reconhecido como tal, e os pressupostos teóricos que deram origem a cada uma das abordagens supracitadas. Afinal, como disse Sir Isaac Newton, “se eu posso enxergar além, é porque me apoio em ombros de gigantes”. Como salientam ainda Vom Brocke et al. (2009), “o objetivo de escrever uma revisão de literatura é reconstruir o gigantesco conhecimento acumulado em um domínio específico do saber humano”. Para isso, entender as bases, os fundamentos que deram origem às novas teorias em internacionalização é imprescindível para melhor compreender sua evolução e desdobramentos ao longo do tempo. Na sequência, serão tratadas brevemente as críticas e considerações sobre cada um dos modelos e como eles evoluíram no decorrer dos anos. 2.2. MODELO DE UPPSALA A chamada escola nórdica compõe-se, basicamente, de duas abordagens que buscam explicar os movimentos de internacionalização das empresas: o Modelo de Uppsala (M-U), ou Modelo de Processo de Internacionalização (MPI) e a Teoria de Redes ou Networks (ROCHA et al., 2006, p. 17). Será tratado nessa seção o modelo de Uppsala, e na seguinte será abordada a perspectiva de Redes. Cabe salientar que uma questão pouco explorada nas revisões de literatura é a explanação do motivo pelo qual o Modelo de Uppsala (M-U) é também chamado de Modelo de Processo de Internacionalização (MPI). 38 Dentro das questões fundamentais sobre as operações internacionais da firma, elencadas por Mello (2009, p. 15), o M-U ou MPI não se voltaria muito aos motivadores, ou os porquês da internacionalização, bastante explorados pelas correntes econômicas, como o paradigma eclético de Dunning, e mesmo por outras abordagens comportamentais. Dunning procurou explicar principalmente decisões motivacionais relativas a produzir ou não em um mercado externo (DIB, 2008, pp. 36–37; DUNNING, 1980, pp. 9–11, 1988; IETTO-GILLES, 2005). A maior preocupação dos teóricos de Uppsala, portanto, seria tentar compreender o processo e forças que atuam nos movimentos de internacionalização das empresas. Em outras palavras, como, ou de que forma, as organizações investem em operações internacionais (FORSGREN, 2002, pp. 259–261; JOHANSON; VAHLNE, 1977, 1990, p. 13, 2009, p. 1412; ROCHA et al., 2006, p. 25). 2.2.1. Pressupostos Teóricos As bases conceituais do Modelo de Uppsala aludem à visão comportamental da organização (AHARONI, 1966; CYERT; MARCH, 1963) e à teoria do crescimento da firma de Penrose como bases conceituais para fundamentar seu modelo de internacionalização. Johanson e Vahlne fizeram uso também de estudos empíricos anteriores, a fim de apoiar a ideia de que a internacionalização ocorreria como um processo incremental, no qual as empresas aumentariam suas atividades internacionais de forma gradual (JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975). As contribuições de Cyert e March (1963) foram no sentido de estudar como o comportamento, estrutura e práticas cotidianas da organização impactam no estabelecimento de metas, tomada de decisão e execução das escolhas em uma empresa (ARGOTE; GREVE, 2007). Aharoni (1966) acrescentaria a ideia de que “as companhias fazem ajustes incrementais para adaptar-se às mudanças nas condições da firma e de seu ambiente externo” (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 35). Isso traria uma mudança de paradigma no estudo de negócios internacionais: 39 Essa nova maneira de enxergar a firma per se como locus de pesquisa impactaria profundamente no M-U, já que até meados de 1960 poucos economistas se importavam com o que acontecia dentro da empresa, debruçando-se mais sobre os aspectos macro, relacionados principalmente ao comércio internacional. (DIB, 2008, p. 43) Penrose, por sua vez, já havia introduzido quase duas décadas antes do advento do M-U a firma como unidade de análise. Porém, sua maior contribuição para o arcabouço teórico do modelo em questão foi o conceito sobre dois tipos de conhecimentos distintos: o conhecimento objetivo, que pode ser ensinado e transmitido, e o experimental (ou conhecimento tácito), que pode ser apenas aprendido por meio da experiência individual. Esse é um elemento chave do MPI: A aprendizagem é considerada a força motriz do processo, porque reduz a incerteza e torna a firma mais apta a explorar oportunidades nos mercados externos. Posteriormente, Johanson e Vahlne (1990) acrescentaram à visão de aprendizagem no modelo a possibilidade de as empresas aprenderem umas com as outras. (MELLO, 2009, p. 27) Adicionalmente, é importante destacar que “a Teoria Comportamental da Firma tenta ir além das limitações das abordagens econômicas de internacionalização, em especial no que se refere a organizações de pequeno e médio porte” (D´OLIVEIRA; SERTÃ, 2012, p. 36). Os desdobramentos dessa corrente deram origem, ainda, a dois modelos comportamentais para analisar a internacionalização de empresas: o modelo de Uppsala (M-U) e o Modelo de Inovação, esse último desenvolvido fora da escola nórdica, a partir dos trabalhos seminais de Bilkey e Tesar (1977) e Cavusgil (1980). No presente trabalho será tratado apenas o M-U, mais conhecido e referenciado pelos estudiosos da área de negócios internacionais e, também, mais adequado aos objetivos dessa pesquisa. Os dois modelos defendem que a internacionalização das empresas é um processo gradual e incremental, que segue uma série de etapas sucessivas. Mesmo assim, vale comentar brevemente as sutis diferenças no enfoque de ambas as correntes: 40 No Modelo de Uppsala, destaca-se a aquisição, integração e uso da experiência e do conhecimento sobre o mercado estrangeiro, condicionando a alocação de recursos e o comprometimento da firma com o mercado. No Modelo de Inovação, a internacionalização representa uma inovação da empresa, em que a justificativa primordial para sua implantação lenta é a aversão da direção da companhia ao risco e ao baixo conhecimento sobre o mercado internacional. (D´OLIVEIRA; SERTÃ, 2012, p. 36) 2.2.2. O Mecanismo Original do Modelo Concebido originalmente na escola Sueca de Uppsala, na década de 1970, o M-U passou por algumas alterações ao longo dos anos. Isso decorreu principalmente em função de drásticas mudanças no ambiente global de negócios durante as últimas décadas, além das críticas e ponderações formuladas pelo meio acadêmico (Cf. ANDERSEN, 1993; ARENIUS, 2005; FORSGREN, 2002; HAGEN; HENNART, 2004; OVIATT; MCDOUGALL, 1997; PEDERSEN; SHAVER, 2000). Some-se a isso a influência das considerações de pesquisas em torno da Teoria de Redes, a partir de 1988 (JOHANSON; MATTSSON, 1993; JOHANSON; VAHLNE, 2003, 2011, 1990). Entretanto, nessa seção será dado foco aos pressupostos que deram origem ao mecanismo original do M-U. A premissa básica do modelo, de acordo com o artigo seminal de Johanson e Vahlne, é que: A falta de conhecimento é um importante obstáculo ao desenvolvimento de operações internacionais e que o conhecimento necessário pode ser adquirido principalmente por meio de operações no exterior. (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 31) Portanto, a falta de conhecimento aumentaria o risco e a incerteza de investir em atividades internacionais. Dessa maneira, para reduzir a incerteza, a firma deveria programar uma estratégia gradual de expansão no estrangeiro, em etapas incrementais. Outro fator que dificultaria a saída dos mercados domésticos seria a distância psíquica entre o país sede da companhia e os mercados internacionais. Conforme os autores, a distância psíquica seria “a soma dos fatores que dificulta o fluxo de informações entre os diferentes mercados”. Alguns desses fatores seriam “diferenças de idioma, educação, 41 práticas de negócios, aspectos culturais e desenvolvimento industrial” (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 33). Assim, a fim de reduzir o risco inerente a tais incertezas, e consoante com as observações de seus estudos empíricos, Johanson e Vahlne (1977) sugerem que os modos de entrada e expansão em mercados estrangeiros deveriam seguir o que eles denominaram cadeia de estabelecimento. Inicialmente os negócios internacionais ocorreriam por meio de exportações irregulares, seguida por representantes autônomos, pela abertura de escritórios de vendas no exterior e, finalmente, via filiais para produção no estrangeiro. Cada mudança de estágio acarretaria em maior comprometimento de recursos, porém significaria mais experiência internacional para a firma (YUAN, 2010, p. 21), supostamente reduzindo risco e incerteza. A Figura 3 esquematiza a cadeia de estabelecimento em mercados internacionais, ou os modos de entrada e expansão sequenciais sugeridos pelo M-U original: Figura 3 - Cadeia de Estabelecimento em Mercados Internacionais Fonte: Adaptando de Johanson e Vahlne (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 34) A cadeia de estabelecimento explica as formas de entrada em mercados internacionais. Porém, como se daria seleção desses mercados? Segundo Johanson e Vahlne (1990), e respeitando o conceito de distância psíquica, “as empresas buscariam abordar primeiro aqueles mercados sobre os quais têm mais conhecimento ou que julgam ter maiores semelhanças com o doméstico” (FERREIRA, 2013a, p. 36), para só depois abordar países cuja distância psíquica fosse maior. A fim de entender não os porquês, mas principalmente como ocorriam esses processos, Johanson e Vahlne (1977) desenvolveram o mecanismo básico do 42 M-U, reunindo todos os pressupostos teóricos e contribuição dos estudos empíricos efetuados com empresas suecas. Eles consideraram que “um modelo dinâmico seria mais adequado a esse fim” (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 36), desenvolvendo um framework de ciclos causais, em que o resultado de uma decisão constituiria a base para as próximas, num processo incremental e contínuo. (ANDERSEN, 1993, p. 221) Esse mecanismo, que explicaria a forma pela qual as empresas ingressam nos mercados estrangeiros, seria composto de dois conjuntos de elementos: O primeiro seria constituído pelos aspectos de estado (comprometimento com o mercado e conhecimento do mercado) e o segundo pelos aspectos de mudança (decisões de comprometimento de recursos com os mercados externos e a forma pela qual seriam desempenhadas as atividades comerciais) (MELLO, 2009, p. 25) Ainda de acordo com Mello: À medida que aumentasse o conhecimento do mercado, as empresas tenderiam a aumentar o comprometimento de recursos, o que levaria a decisões de aumentar o nível de recursos investidos naquele mercado. Estas decisões, por sua vez, levariam ao aprofundamento do comprometimento com aquele mercado. (MELLO, 2009, p. 26) Cabe salientar que, conforme Johanson e Vahlne (1977), a premissa básica do modelo é a de que “a firma lutaria para aumentar sua lucratividade no longo prazo, o que equivaleria a uma estratégia de crescimento”; além disso, “a empresa também lutaria para manter o risco na tomada de decisão em níveis aceitáveis” (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 36) ao analisar oportunidades potenciais de negócios fora de seus países de origem. Dessa maneira, pode-se dizer que os aspectos de estado influenciam os aspectos de mudança e viceversa, conforme a representação gráfica proposta pelos autores e exposta na Figura 4: 43 Figura 4 - Mecanismo Basico da Internacionalização segundo o M-U Fonte: Adaptado de Johanson e Vahlne (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 37) Os aspectos de estado ainda podem ser subdivididos. No caso do conhecimento do mercado, ele pode ser desmembrado em conhecimento objetivo e o experiencial. Esse último seria crítico segundo o modelo, pois permitiria o reconhecimento e formulação de oportunidades concretas de negócio, enquanto que o objetivo permitiria apenas a proposição de oportunidades teóricas. Assim, de acordo com Carvalho e Dib (2013): O conhecimento experiencial seria uma importante força impulsionadora para a internacionalização e a principal maneira para reduzir a incerteza de mercado. (CARVALHO; DIB, 2013, p. 40) O conhecimento de mercado ainda se subdividiria em conhecimento geral de marketing e conhecimento específico do mercado-alvo. Ambos seriam importantes para as atividades internacionais. No entanto, de acordo com Johanson e Vahlne, “o conhecimento específico é adquirido primariamente por meio da experiência no mercado, enquanto que o geral pode ser transferido de um país a outro” (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 39). Ainda de acordo com Forsgren (2002, p. 268), “a aquisição de conhecimento partiria de uma perspectiva bottom-up” (de baixo para cima), ou seja, os 44 funcionários de uma subsidiária, em contato direto com a realidade de um determinado mercado, teriam mais condições de aprender sobre seus problemas e oportunidades, para só então repassá-los aos níveis superiores da organização. O comprometimento com o mercado, por sua vez, pode ser separado em grau de compromisso e em quantidade de recursos comprometidos. Enquanto o segundo é fácil de mensurar, o grau de comprometimento refere-se à “especialização dos recursos para servir a um mercado específico” (MELLO, 2009, p. 26). Em outras palavras, de acordo com Andersen (1993, p. 211) esse grau de compromisso se “assemelharia ao conceito de custo afundado”, uma vez que seria difícil encontrar usos alternativos para tais recursos específicos ou transferi-los para outros países. Sobre os aspectos de mudança, cabe ressaltar que as decisões de comprometimento são tomadas “em resposta a problemas ou oportunidades percebidas no mercado-alvo” e que tais percepções “dependeriam da experiência, principalmente daqueles que trabalham diretamente nesses mercados” (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 39). Apesar de em 1977 ainda não ter sido elaborada a Teoria de Redes, que só seria formalmente desenvolvida a partir de 1988, Johanson e Vahlne já começavam a tecer algumas considerações sobre a importância do relacionamento entre empresas: Oportunidades são também vislumbradas por indivíduos de organizações com as quais a firma interage. Esses indivíduos podem propor soluções alternativas para a firma na forma de ofertas ou demandas. (JOHANSON; VAHLNE, 1977, p. 40) Acerca das atividades atuais de uma empresa, é importante destacar que pode haver uma defasagem de tempo entre a execução da atividade e suas consequências para a organização. Investimentos em marketing, por exemplo, só costumam trazer ganhos no longo prazo, sem repercussões significativas no curto prazo. Portanto, de acordo com Gallindo (2012, p. 19): 45 As ações da firma em um mercado podem ser traduzidas em comprometimento; então, quanto maior a defasagem [de tempo], maior o comprometimento da empresa [com esse mercado]. Assim, de acordo com o modelo, o ciclo de experiência, aprendizagem e comprometimento deveria ocorrer de forma gradual, o que indicaria a necessidade de um processo incremental de internacionalização, em consonância com os estágios definidos na cadeia de estabelecimento. Com isso, para os autores seria possível reduzir o risco percebido a níveis aceitáveis pela organização (JOHANSON; VAHLNE, 1977). Embora alguns fatores permitissem acelerar o processo de internacionalização, como a abundância de recursos, condições estáveis e homogêneas de um mercado ou a experiência prévia em mercados similares (JOHANSON; VAHLNE, 1990), na maior parte do tempo ele seguiria esse caminho prédeterminado pela cadeia de estabelecimento. Tal determinismo sugerido pelo modelo, a gradualidade na expansão internacional, aversão ao risco e a pouca importância dada à figura do empreendedor no processo de tomada de decisão foram alguns dos pontos mais criticados no M-U original por outros estudiosos de negócios internacionais. 2.2.3. Críticas ao Modelo de Uppsala original Treze anos após a publicação do artigo seminal, Johanson e Vahlne (1990) citam estudos empíricos de internacionalização em empresas de diversos países, além das pesquisas originais na Suécia, “uma nação pequena e altamente industrializada” (JOHANSON; VAHLNE, 1990, p. 13), cujos resultados corroboram a validade do modelo. Mesmo assim, reconhecem algumas das críticas direcionadas ao modelo original, expondo os comentários pertinentes. Na crítica ao determinismo da cadeia de estabelecimento, argumentam que ela fugiria ao escopo proposto pelo modelo, que “se dedica a explicar internacionalização de empresas que buscam apenas novos mercados, e não recursos ou competição no estrangeiro” (CARVALHO; DIB, 2013, p. 41). 46 Admitem também que o MPI é mais adequado aos estágios iniciais de internacionalização da empresa, quando “a falta de recursos ou de conhecimento de um mercado ainda são fatores limitantes à internacionalização” (JOHANSON; VAHLNE, 1990, p. 14). Adicionalmente, apontam que teorias econômicas, como o Paradigma Eclético de Dunning (1980, 1988), trariam importantes elementos complementares a fim de compreender a expansão no estrangeiro de empresas grandes e já estabelecidas internacionalmente. Na questão da distância psíquica, o poder explicativo do M-U original teria diminuído, uma vez que “o mundo está ficando muito mais homogêneo” (JOHANSON; VAHLNE, 1990, p. 15) e globalizado. Por sua vez, o conceito tradicional de distância psíquica seria a de um construto subjetivo, inerente aos vieses perceptuais dos tomadores de decisão em uma firma (HILAL; HEMAIS, 2003; SILVA; ROCHA; FIGUEIREDO, 2007). Assim, uma menor percepção de distância psíquica não estaria necessariamente associada à maior probabilidade de sucesso, como demonstram, por exemplo, estudos de empresas brasileiras que fracassaram nas primeiras tentativas de internacionalização para Portugal, um país com relativa proximidade cultural, mesmo idioma e, em muitos casos, considerado uma porta de entrada para a Europa (Cf. FREIRE, 2001; JONES; DE PINHO, 2007; JUNIOR; ROCHA; MELLO, 2013; SILVA; ROCHA; FIGUEIREDO, 2007). Para Arenius (2005), embora a distância psíquica ainda possa exercer influência na seleção de países e na velocidade de penetração em novos mercados, a experiência prévia do empreendedor e o capital social da firma agiriam como poderosos moderadores desse processo. O capital social seria “a quantidade e qualidade de relações externas de uma firma e de seus indivíduos” (ARENIUS, 2005, p. 116), o que a beneficiaria em termos de acesso a fontes de informações confiáveis em outros países, bem como na identificação de clientes potenciais e alianças estratégicas no 47 estrangeiro. Seria também um recurso valioso para inovação e renovação estratégica, principalmente em novos negócios internacionais (PRASHANTHAM, 2008). O artigo de Andersen (1993), por outro lado, observa que foram feitos poucos esforços para testes e aprimoramentos dos aspectos teóricos do M-U. Classificado pelo autor como um modelo do tipo “genético ou históricoexplicativo” (ANDERSEN, 1993, p. 216), o mesmo não elucidaria como ou porque se inicia o processo de internacionalização de uma empresa. Ademais, segundo esse mesmo autor, uma vez iniciada a internacionalização, os proponentes do M-U assumiriam que ela prossegue numa escala crescente indefinidamente, de acordo com os ciclos causais do modelo. Assim, seria desconsiderada no processo a importância de fatores como a economia, oportunidades presentes e tamanho dos mercados-alvo, ciclo de vida dos produtos ou serviços ofertados e decisões estratégicas dos gestores. (ANDERSEN, 1993; HAGEN; HENNART, 2004; OVIATT; MCDOUGALL, 1994, 1997) Em relação ao ciclo experiência, aprendizado e comprometimento, Johanson e Vahlne (1977, 1990) deixam claro que aprendizado é um aspecto crucial do modelo, para a superação de incertezas e riscos na internacionalização. Porém, Forsgren (2002) afirma que o conceito apresentado pelo M-U original é incompleto, pois só consideraria uma de suas dimensões: o aprendizado pela experiência. Por conseguinte, o modelo, a princípio, desconsideraria o aprendizado pela imitação, via aquisição de empresas ou capital intelectual, ou mesmo a pesquisa pró-ativa de mercado para embasar a tomada de decisões em atividades internacionais. A incorporação de novas dimensões de aprendizado poderia, assim, ter impactos profundos no comportamento e velocidade da expansão internacional da organização. (FORSGREN, 2002; PEDERSEN; SHAVER, 2000; SOARES, 2013) 48 Um ponto interessante para o presente trabalho, de acordo com Johanson e Vahlne (1990), é que alguns estudos empíricos concluíram que o MPI não seria totalmente válido para empresas de serviços. Como serão pesquisados os casos de duas firmas brasileiras do setor audiovisual, é importante entender até que ponto o modelo ajuda a explicar (ou não) a expansão internacional de empresas de serviços. Por sua vez, Johanson (1986) pondera que o M-U original não levaria em conta a interdependência entre mercados de diferentes países. Reconhece que esse seria um problema tanto conceitual quanto explicativo: O problema conceitual é que parece ser razoável considerar uma firma mais internacionalizada quando ela enxerga e lida com mercados de diferentes países como interdependentes, do que quando ela os vê como entidades completamente distintas. O problema explicativo é que essas interdependências entre mercados podem potencialmente ter um forte impacto na internacionalização da empresa. (JOHANSON; VAHLNE, 1990, p. 15) No entanto, mesmo com a aceitação de algumas críticas por parte dos criadores do MPI, nesse artigo de 1990 Johanson e Vahlne não propuseram efetivamente nenhuma evolução do M-U original, a não ser reconhecer a importância das redes de relacionamento para os aspectos de estado e mudança. Entretanto recordam que, se o modelo não é perfeito, é porque “devemos nos lembrar de que a internacionalização de empresas é um fenômeno inserido em um mundo em constantes mudanças e evolução” (JOHANSON; VAHLNE, 1990, p. 22). 2.2.4. Defesa e readaptação do Modelo de Uppsala As críticas recebidas, o desenvolvimento da Teoria de Redes, a constatação de uma maior competição global e o avanço tecnológico fizeram com que Johanson e Vahlne aperfeiçoassem o modelo original, incorporando diversos aspectos de Networks (CARVALHO; DIB, 2013; JOHANSON; VAHLNE, 2003, 1990, 2009; ROCHA et al., 2012). Incluindo elementos como relacionamento, confiança, reputação (ou posição na rede), novas formas de aprendizado e 49 construção de conhecimento, Johanson e Vahlne apresentaram o M-U revisado (JOHANSON; VAHLNE, 2009, p. 1424), conforme esquematizado na Figura 5: Figura 5 - Mecanismo de Interncionalização do M-U revisado Fonte: Adaptado de Johanson e Vahlne (2009, p. 1424) Assim, de acordo com o M-U revisado, a firma deixa de ser uma unidade de análise isolada para fazer parte de uma rede de relacionamentos formada por clientes, fornecedores, mercados e demais stakeholders interligados. Os compromissos passam a ser assumidos com os membros dessas redes, e não mais com mercados de países específicos. Baseando-se no modelo original, o mecanismo revisado descreve processos dinâmicos de aprendizado, construção de compromisso e, principalmente, de confiança entre as partes (JOHANSON; VAHLNE, 2003, 2009). Dessa maneira, algumas mudanças sutis ocorrem nos aspectos de estado e mudança em relação ao modelo original. Nos aspectos de estado, conhecimento de mercado é ampliado para conhecimento e oportunidades, ressaltando que a criação ou descoberta de oportunidades são o mais importante elemento a nortear o processo de internacionalização. Comprometimento com o mercado é substituído por posição na rede, já que a internacionalização ocorre dentro das redes de relacionamento, caracterizadas 50 por seus níveis de conhecimento, confiança e compromisso (CARVALHO; DIB, 2013; JOHANSON; VAHLNE, 2009). Um ponto interessante destacado por Johanson e Vahlne (2003, 2009) é que a construção de confiança é um processo complexo que requer tempo, consome recursos e tem “uma forte dimensão afetiva e emocional que é crítica para o modelo” (FERREIRA, 2013a, p. 42). Assim, posição na rede poderia ser entendida como reputação ou credibilidade de uma firma dentro de uma ou várias redes de negócios. Em relação aos aspectos de mudança, as firmas geram conhecimento não apenas por meio de suas próprias atividades, mas também interagindo com os parceiros em sua rede, o que abrange e diversifica as formas possíveis de aprendizado (FORSGREN, 2002; JOHANSON; VAHLNE, 2009). Por conseguinte, o que era colocado como atividades atuais no modelo original dá lugar a aprendizado, criação de conhecimento e construção de confiança. Nesse cenário “o aumento do conhecimento pode ter impactos não apenas positivos, mas negativos sobre confiança e compromisso” (FERREIRA, 2013a, p. 42), o que levaria à redução de comprometimento ou, em casos extremos ao desinvestimento em um mercado (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Dessa maneira, existe uma redução na importância das etapas da cadeia de estabelecimento, já que outros mecanismos, como joint ventures e alianças estratégicas, ou ainda a eliminação de certas etapas, é possível dentro do M-U revisado, que passa a incorporar elementos essenciais da Teoria de Redes (CARVALHO; DIB, 2013; JOHANSON; VAHLNE, 2003). Finalmente, as decisões de compromisso do modelo original são agora decisões de compromisso com os relacionamentos e não apenas com mercados ou com investimento de recursos. Com isso, a questão da distância psíquica tem sua importância reavaliada. A não participação em redes estratégicas de relacionamentos seria o verdadeiro impeditivo para aumentar o conhecimento sobre dado mercado, reduzindo a importância de diferenças 51 culturais ou institucionais (CARVALHO; DIB, 2013; JOHANSON; VAHLNE, 2003, 2009). Assim, na tentativa de conciliar o Modelo de Redes com MPI, o novo modelo ficaria mais complexo que o original. Entretanto adquiriria mais robustez teórica e, portanto, mais condições de ser aplicado às firmas no ambiente globalizado de negócios internacionais (ANDERSEN, 1993; CARVALHO; DIB, 2013; JOHANSON; VAHLNE, 2003). Isso enfraqueceria os argumentos de que o modelo estaria obsoleto e, por conseguinte, restrito a explicar o processo de internacionalização de determinados tipos de empresas, conforme salientam alguns críticos do M-U (Cf. OVIATT; MCDOUGALL, 1994, 1997). A partir de então, guardadas as devidas limitações inerentes a quaisquer modelos, ele serviria para ajudar a compreender a internacionalização de pequenas ou grandes empresas (JOHANSON; VAHLNE, 2013), com processos mais ou menos acelerados de expansão no estrangeiro (CARVALHO; DIB, 2013). 2.3. TEORIA DE REDES 2.3.1. Base Teórica A Teoria de Redes, ou Networks, pode ser considerada uma evolução natural da Escola Nórdica (CARVALHO; DIB, 2013; FERREIRA, 2013a, 2013b; HILAL; HEMAIS, 2003; MAIS et al., 2010). Em um cenário de globalização e evolução das empresas, a abordagem gradualista do M-U original não mais explicaria toda a realidade em que as organizações estariam inseridas (AMAL; MIRANDA; FREITAG, 2008; HILAL; HEMAIS, 2003; JOHANSON; VAHLNE, 2003). Além disso, de acordo com a Teoria de Redes, as firmas não deveriam mais ser analisadas como unidades isoladas interagindo com o mercado, e sim como parte integrante de uma rede de relacionamentos com fornecedores, 52 clientes, concorrentes, distribuidores, governo e outras instituições (FERREIRA, 2013a; JOHANSON; MATTSSON, 1993; JOHANSON; VAHLNE, 2011). Em suma, a rede seria o próprio mercado e as interconexões entre seus atores (JOHANSON; VAHLNE, 2011). Inicialmente, a Teoria de Redes surgiu entre os pesquisadores suecos no contexto do marketing industrial e estudos de canais de distribuição, e não visava explicar especificamente os mecanismos de internacionalização (JOHANSON; MATTSSON, 1993; MELLO, 2009). Por sua vez, as bases conceituais que deram origem à Teoria de Redes em negócios internacionais teriam muitos pontos em comum com os precedentes do M-U original, acrescentando a contribuição de interdependência de recursos entre membros de uma rede e coalizão de grupos de interesse, como já sugerido em 1978 por Pfeffer e Sallancik (ROCHA et al., 2006; WEISFELDER, 2001). 2.3.2. O Modelo de Redes Um dos motivadores para o estudo de Redes foi a constatação de que os consumidores costumam ser resistentes às mudanças em suas fontes de suprimentos. Inclusive haveria certa estabilidade e durabilidade em suas relações com seus fornecedores (TURNBULL; FORD; CUNNINGHAM, 1996). Uma das noções que apoiam essa observação é a de que os custos de troca tenderiam a ser elevados nessas redes estáveis de relacionamento (PORTER, 1985, 1986, 1990). Portanto: Uma rede de relacionamentos seria formada por relações de longo prazo, desenvolvidas e mantidas entre diferentes agentes econômicos atuantes em um mercado (ROCHA et al., 2006, p. 28) Ainda de acordo com Johanson e Mattsson (1993), é preciso que as firmas conheçam-se muito bem a fim de estabelecer negócios importantes entre si. Elas devem confiar nas habilidades e disposição uma das outras para cumprir os compromissos assumidos. Essas relações envolvem elos que podem variar de institucionais (entre empresas) a pessoais (entre colaboradores), abrangendo ainda níveis hierárquicos e departamentais diversos entre as 53 firmas (JOHANSON; MATTSSON, 1993; ROCHA et al., 2006). Portanto, devido à complexidade, tais relacionamentos demandariam muitos recursos, incluindo considerável tempo dos envolvidos, para serem construídos e principalmente fortalecidos (JOHANSON; MATTSSON, 1993; ROCHA et al., 2012; RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006). Participar de uma rede permitiria o acesso a recursos externos valiosos para a estratégia da firma e “sua disponibilidade influenciaria o modo como a empresa reage às oportunidades, bem como afetaria seu desempenho na internacionalização” (FERREIRA, 2013a, p. 44). Portanto, a posição numa rede determinaria o grau em que uma empresa acessa esses recursos e, consequentemente, seu leque de opções estratégicas (JOHANSON; MATTSSON, 1993; ROCHA et al., 2006). A vantagem competitiva, nesse caso, viria da capacidade de a empresa coordenar e mobilizar seus relacionamentos, a fim de alavancar sua posição na rede, ampliar sua eficiência nos mercados externos e garantir seu crescimento no longo prazo (JOHANSON; MATTSSON, 1993; TURNBULL; FORD; CUNNINGHAM, 1996). Tais posições seriam alcançadas basicamente de três maneiras: por meio de extensão internacional, isto é, a conquista de novos mercados estrangeiros; penetração, ou seja, ampliar o comprometimento nos mercados atuais e integração internacional, que seria o aumento da coordenação em diferentes redes internacionais (JOHANSON; MATTSSON, 1993; RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006). Dessa maneira, Madsen e Servais (1997) observam que a internacionalização não pode ser tratada como o movimento isolado de uma empresa. É preciso compreender as condições do ambiente externo e os laços estratégicos existentes nas redes às quais a empresa está inserida. Assim, de acordo com o grau de internacionalização da firma e do mercado, Johanson e Mattsson (1993) identificaram quatro estágios de internacionalização na abordagem de networks, conforme a Figura 6: 54 Figura 6 - Internacionalização e o modelo de Redes Fonte: Johanson e Mattson (JOHANSON; MATTSSON, 1993, p. 310) As empresas classificadas como Pioneiras teriam poucas relações internacionais, assim como seus concorrentes. O aprendizado acaba sendo experiencial e o padrão de internacionalização lento e gradual, aproximando-se das premissas do M-U original (JOHANSON; VAHLNE, 1977). Empresas de pequeno porte poderiam usar agentes para entrar nos mercados externos, a fim de superar riscos e incertezas. IDE (investimento direto no estrangeiro) via aquisições ou o estabelecimento de subsidiárias seriam opções mais adequadas para uma MNE (multinational enterprises, do inglês, empresas multinacionais), uma vez que requereriam mais investimentos no curto prazo, porém, podem potencialmente fortalecer sua posição em redes internacionais no longo prazo. A Internacional Solitária é a firma que adquire conhecimento e experiência em um mercado estrangeiro pouco internacionalizado, o que lhe confere vantagem competitiva (FERREIRA, 2013a). É o caso típico das multinacionais que buscam mercados nacionais fechados. Nesse caso, a empresa pode promover 55 a internacionalização de seus parceiros locais ou criar barreiras de entrada para concorrentes. As Entrantes Tardias são firmas com pouca (ou nenhuma) experiência em mercados estrangeiros em um setor altamente internacionalizado. É estimulada a se internacionalizar pelos membros de sua rede de relacionamentos, principalmente clientes. Como nesse caso a internacionalização depende menos de recursos próprios e exige mais rapidez e adaptabilidade das empresas, elas costumam ser menores e mais especializadas (MADSEN; SERVAIS, 1997). A Internacional entre Outras é a empresa com vasta experiência internacional, atuando em um ambiente muito internacionalizado. As experiências anteriores e o acesso a várias redes internacionais tornariam mais fácil o investimento em novos mercados. Assim, seu papel estratégico seria o de integrar e coordenar diferentes redes de negócios no estrangeiro (CARVALHO; DIB, 2013). Outros autores alegam ainda que os relacionamentos estabelecidos entre as empresas influenciariam na seleção e modos de entrada em novos mercados (COVIELLO; MARTIN, 1999; COVIELLO; MUNRO, 1997; JOHANSON; VAHLNE, 2009). Assim, a estratégia adotada seria limitada pelas características, profundidade e a quantidade dos relacionamentos existentes (MUSTEEN; DATTA; BUTTS, 2013). Portanto, as redes podem atuar ampliando ou mesmo inibindo as possibilidades estratégicas de expansão internacional da empresa (ROCHA et al., 2006). Assim, o timing da internacionalização, embora seja uma variável difícil de controlar, também seria um fator crítico de sucesso para a internacionalização da empresa (GALLINDO, 2012; JOHANSON; MATTSSON, 1993; JUNIOR; ROCHA; MELLO, 2013; OVIATT; MCDOUGALL, 1994). 2.3.3. Limitações da Teoria de Redes Como as Redes são consideradas por alguns autores como instáveis e difíceis de controlar, e muitos relacionamentos originam-se ao acaso, os gestores 56 deveriam integrar o desenvolvimento das redes ao planejamento estratégico da empresa (GALLINDO, 2012; WELCH; WELCH, 1996) Porém, o modelo desenvolvido por Johanson e Mattsson em 1988 não seria completo para essa análise, como os próprios autores reconheceram à época. Assim, por exemplo, nem sempre a estratégia deliberada (intencional) da organização promove os resultados desejados, o que levam estudiosos como Santangelo e Meyer (2011) e Andersson (2011) a destacarem a importância de saber lidar com estratégias emergentes (não intencionais) ao interagir com as redes, principalmente as institucionais. Johanson e Vahlne (2013) ressaltam ainda a importância do desenvolvimento de competências dinâmicas, visando maximizar o aproveitamento de oportunidades e geração de conhecimento para uma empresa, em relação à sua rede de relacionamentos. Além disso, o modelo concebido na Escola Nórdica não reconheceria ainda a importância do empreendedor, o que seria uma limitação. “É a troca de informações interpessoais que gera a oportunidade, e não as trocas entre organizações” (GALLINDO, 2012, p. 44). Portanto, as redes sociais teriam grande influência no processo e, consequentemente, necessitariam de análises mais aprofundadas (ELLIS, 2011; FERREIRA; SANTOS; SERRA, 2010). Adicionalmente, o modelo de Johanson e Mattson (1993) não seria adequado à análise de redes de negócios em empresas de serviços, pois foi desenvolvido em cima de pesquisas de redes em organizações industriais (COVIELLO; MARTIN, 1999; COVIELLO; MUNRO, 1997). Outra limitação da abordagem de redes seria “a falta de um núcleo teórico” (MELLO, 2009, p. 30). Em outras palavras, as pesquisas sobre redes seriam influenciadas por conceitos da antropologia, sociologia, psicologia e até da matemática. Isso resultaria numa potencial perda de enfoque para os pesquisadores da área de negócios internacionais, que desperdiçariam muito tempo tentando compreender como esses conceitos seriam operacionalizados (HOANG; ANTONCIC, 2003). 57 Uma questão que também seria negligenciada é a relação entre empresas e as agências não comerciais, ou seja, as redes de relacionamentos institucionais, como governos, agências reguladoras e de fomento, entre outros. Principalmente no caso de economias emergentes e empresas de pequeno porte, o relacionamento com as entidades institucionais pode ser de fundamental importância para compreender a internacionalização dessas organizações (PETTERSEN; TOBIASSEN, 2010; YIU; LAU; BRUTON, 2007; ZEN et al., 2013). 2.3.4. Redes em Países Emergentes e PMEs Diversos pesquisadores sobre negócios internacionais afirmam que ainda há poucos estudos sobre a internacionalização de empresas pequenas (COVIELLO; MARTIN, 1999; COVIELLO; MUNRO, 1997; PETTERSEN; TOBIASSEN, 2010; RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006), embora nos últimos anos as PMEs tenham recebido mais atenção dos acadêmicos (RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005; SCHULZ; BORGHOFF; KRAUS, 2009). No caso de firmas sediadas em países emergentes ou economias em transição, as pesquisas seriam ainda mais raras (JONES; COVIELLO; TANG, 2011; KEUPP; GASSMANN, 2009; MUSTEEN; DATTA; BUTTS, 2013; YIU; LAU; BRUTON, 2007). O mesmo vale para a internacionalização de organizações brasileiras, um fenômeno que só passou a ser pesquisado em profundidade a partir da abertura comercial do Brasil, iniciada na década de 1990 (AMAL; MIRANDA; FREITAG, 2008; MACHADO et al., 2010; MAIS et al., 2010; ROCHA et al., 2007, 2012; ZEN et al., 2013). A importância das redes para a PME Para Coviello e Munro (1997), a internacionalização de pequenas empresas de software refletiria a o padrão acelerado proposto no M-U revisado. Ela seria “influenciada, direcionada, facilitada, e até inibida por um conjunto de redes de relacionamento formais e informais”, as quais poderiam “impactar a escolha de países, modos de entrada, bem como P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e 58 estratégias de diversificação de mercados” (COVIELLO; MUNRO, 1997, p. 361). Para esses autores, normalmente as PMEs sofrem com escassez de recursos financeiros e gerenciais se comparadas às MNEs e, portanto, deveriam buscálos em suas redes de relacionamento internacionais (JONES; COVIELLO; TANG, 2011; OVIATT; MCDOUGALL, 1994) a fim de auferir vantagens competitivas sustentáveis (BARNEY, 1991; PORTER; FULLER, 1986). Os resultados encontrados evidenciam a importância das redes e, notadamente, a forte influência das redes sociais, ou as interações pessoais entre os empreendedores das companhias nos diferentes países. Elas agiriam como poderosos moderadores da estratégia internacional em PMEs (FERREIRA; SANTOS; SERRA, 2010; MELLO, 2009). No caso de PMEs de serviços, os estudos empíricos seriam ainda mais raros (COVIELLO; MARTIN, 1999). As autoras destacam que a internacionalização de empresas de serviços é um fenômeno muito complexo para ser explicado apenas por uma única abordagem teórica, como as teorias de IDE, MPI ou Networks, o que levaria a conclusões parciais. Assim, uma análise integrada ofereceria mais subsídios para compreender a expansão internacional dessas organizações. Além disso, os padrões de internacionalização de empresas de serviços não refletiriam os modelos derivados da investigação de firmas industriais (COVIELLO; MARTIN, 1999; ROCHA; MELLO; SILVA, 2010; SACRAMENTO; ALMEIDA; SILVA, 2002). Por sua vez, os laços formais e informais com clientes, competidores, governo e até amizades ou ex-colaboradores influenciariam a internacionalização, inclusive a escolha de mercado inicial e o modo de entrada. Em sua pesquisa com PMEs norueguesas de alta tecnologia operando no setor de óleo e gás, Pettersen e Tobiassen (2010) destacam o papel de redes de relacionamento regionais, nacionais e globais como recursos críticos para o 59 crescimento internacional. Eles também sugerem que uma abordagem integrativa é mais adequada para entender o fenômeno, uma vez que “os insights de Born globals podem complementar a teoria de estágios” (PETTERSEN; TOBIASSEN, 2010, p. 3), ao invés de invalidá-la. Nesse artigo, os autores defendem ainda que a experiência prévia do empreendedor e as redes estabelecidas no estrangeiro pré-internacionalização seriam fatores críticos de sucesso nesse processo (ANDERSSON, 2011; COVIELLO, 2006; MADSEN; SERVAIS, 1997), especialmente para PMEs de economias em transição (MUSTEEN; DATTA; BUTTS, 2013). Além disso, no período precedente ou inicial da expansão internacional as redes de relacionamento seriam mais informais, baseadas em contatos pessoais e servindo para construir reputação internacional. Conforme a firma avançasse no processo, elas passariam a ser mais formais, utilizando-se de contratos comerciais, a fim de oficializar alianças de marketing e permitir arranjos colaborativos no estrangeiro (HITE; HESTERLY, 2001; LECHNER; DOWLING, 2003). Em relação aos objetivos, Pettersen e Tobiassen (2010) classificam as redes em três tipos, de acordo com seus papéis na geração de recursos para a firma: financeiras, de marketing e de conhecimento. Referente à amplitude geográfica elas podem ser nacionais, regionais ou globais. Quanto à natureza dos agentes, elas podem se formar com concorrentes, na forma de arranjos colaborativos, clientes, parceiros ou entidades governamentais. Coordenar eficazmente a miríade de alianças que podem se formar entre os diferentes tipos de rede, suas múltiplas utilidades e papéis, é essencial para as PMEs alavancarem oportunidades no estrangeiro. Por exemplo, uma aliança estratégica com centros de pesquisa, pode alavancar recursos financeiros, de conhecimento (principalmente em P&D) e até de marketing. É o caso de um artigo científico publicado sobre determinada tecnologia (conhecimento), que serve como propaganda técnica do produto para novos clientes (marketing) e 60 mesmo uma forma de obter mais verba para P&D (recursos financeiros) (PETTERSEN; TOBIASSEN, 2010). Num levantamento sobre artigos de internacionalização de PMEs, Ruzzier, Hisrich e Antoncic (2006) ressaltam que nos estudos sobre a internacionalização dessas empresas, “não se pode negligenciar a importância do empreendedor” (RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006, p. 489). Ele é o recurso mais valioso a considerar na expansão internacional de pequenos negócios, a verdadeira fonte de vantagem competitiva sustentável (BARNEY, 1991; MELLO, 2009). Assim, propuseram um modelo para entendimento do empreendedorismo internacional, no qual as principais variáveis que impactariam na condução e desempenho das atividades internacionais da PME seriam (RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006, p. 491): Capital humano, internacionais, desmembrado propensão à em habilidades internacionalização, para negócios percepção do macroambiente, know-how gerencial. Capital social, composto de todas as redes de relacionamento. Características da firma, como número de empregados e faturamento. Características do ambiente doméstico e internacional O papel das redes para empresas de economias emergentes Se as PMEs já mereciam mais destaque nos estudos de negócios internacionais, as PMEs situadas em economias emergentes merecem ainda mais atenção. Yiu, Lau e Bruton (2007) mencionaram que em economias emergentes como a China, o ambiente institucional imporia desafios, como as incertezas políticas ou regulatórias. Além disso, a abertura econômica, observada em diferentes países a partir do final do século XX, trouxe a entrada de MNEs estrangeiras, mais preparadas e capazes para a competição de mercado. 61 Com o acirramento da concorrência estrangeira, a internacionalização seria uma das estratégias viáveis de crescimento e mesmo de sobrevivência. Assim, uma das formas de mitigar essa desvantagem seria por meio de alianças para a expansão internacional. Essas poderiam se dar com empresas domésticas e, principalmente, com agências reguladoras e de fomento, bancos, e outras entidades governamentais (YIU; LAU; BRUTON, 2007), algo que seria ainda pouco explorado por PMEs em países emergentes, como no caso do Brasil (MACHADO et al., 2010). Embora o estudo de You, Lau e Bruton (2007) tenha sido feito com empresas chinesas de grande porte, Musteen, Data e Butts (2013) trazem uma pesquisa do tipo survey com 169 PMEs da República Tcheca, uma economia em transição. O principal achado de sua pesquisa é que redes, sociais ou de negócios, estabelecidas pelos gestores antes da internacionalização teriam um impacto positivo no seu desenvolvimento. As redes serviriam também para compensar os chamados “vazios institucionais”, ou seja, situações em que o governo não consegue criar ou fortalecer suas instituições de apoio às PMEs locais, fazendo com que elas percam oportunidades potenciais de negócios no estrangeiro (MUSTEEN; DATTA; BUTTS, 2013; SANTANGELO; MEYER, 2011). Redes e a Internacionalização de Empresas Brasileiras No caso de empresas brasileiras, estudos apontam que a burocracia governamental é um dos maiores entraves à exportação (AMAL; MIRANDA; FREITAG, 2008; DIB, 2008). Além disso, a existência de um grande mercado doméstico e a proteção de mercado até meados da década de 1990 fizeram com que as empresas brasileiras se tornassem entrantes tardias no mercado global (ROCHA et al., 2007, 2012). Nesse contexto, a fim de superar a falta de conhecimento e experiência nos mercados externos, as redes de relacionamentos tornam-se um recurso fundamental para essas empresas, particularmente as pequenas (JOHANSON; 62 VAHLNE, 2003, 2009; MADSEN; SERVAIS, 1997; MAIS et al., 2010; OVIATT; MCDOUGALL, 1994; ZEN et al., 2013). Além disso, geograficamente, boa parte das atividades internacionais das firmas brasileiras ainda concentra-se na América Latina (AMAL; MIRANDA; FREITAG, 2008; ROCHA et al., 2007), o que potencialmente torna ainda mais difícil a inserção em mercados de outras regiões do globo. Afinal, sob a perspectiva da Teoria de Redes, o grau de internacionalização da rede em que as empresas brasileiras estariam inseridas pode ser considerado baixo (HILAL; HEMAIS, 2003; JOHANSON; VAHLNE, 2011). Dado esse quadro, visando facilitar a inserção de empresas brasileiras no exterior, estudos apontam a importância das redes institucionais (AMAL; MIRANDA; FREITAG, 2008; MACHADO; NIQUE; FEHSE, 2011; MACHADO et al., 2010; MAIS et al., 2010). Em relação aos programas oficiais de apoio à exportação, Machado et. al (2010) comentam que, no Brasil, eles seriam dedicados a “empresas que estão iniciando sua exportação, mas que já têm uma posição sólida no mercado doméstico” (MACHADO et al., 2010, p. 15). Assim, eles seriam inadequados para empresas de rápida internacionalização. Tais programas se dividiriam em duas frentes: aqueles que ensinariam a exportar, como seminários, consultorias e manuais, e os programas de desenvolvimento de mercado, como as feiras internacionais, cujo objetivo é auxiliar as empresas na formação e fortalecimento de suas redes de negócios no exterior (MACHADO et al., 2010). 2.4. EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL O estudo de negócios internacionais, até a década de 1980, focou basicamente MNEs grandes e já estabelecidas. Historicamente, a maior parte das 63 multinacionais se desenvolvia gradualmente a partir de firmas domésticas experientes e de grande porte (CHANDLER, 1986). Desde então, o avanço tecnológico e a presença crescente de profissionais com experiência em negócios internacionais estabeleceria novas bases para a compreensão da formação e expansão das empresas. Tecnologias de comunicação de baixo custo e rapidez no transporte intercontinental permitiriam que novos empreendedores, com recursos mais escassos, pudessem também descobrir e explorar oportunidades de negócios em múltiplos países. Essa não era mais uma exclusividade das companhias grandes e maduras. (AUTIO, 2005; OVIATT; MCDOUGALL, 2005, 1994; RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005; RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006; ZAHRA; GEORGE, 2002). Assim, começaram a surgir entre os estudiosos de empreendedorismo diversos estudos de caso sobre novos empreendimentos internacionais. Porém, o artigo seminal de Oviatt e McDougall (1994) formou a base sobre a qual a teoria de empreendedorismo internacional (EI) pôde se estabelecer e florescer. Eles trouxeram um novo olhar sobre os empreendedores internacionais, novos empreendimentos internacionais, e sua crescente importância na economia mundial globalizada (AUTIO, 2005). 2.4.1. Pressupostos Teóricos Oviatt e McDougall (1994) apresentaram uma primeira tentativa de conceituação formal para o termo “novos empreendimentos internacionais”, que buscava abranger um tipo de organização que já nasce com uma estratégia proativa de internacionalização (Cf. KNIGHT; CAVUSGIL, 1996; MCDOUGALL; OVIATT; SHRADER, 2003): “Nós definimos um novo empreendimento internacional (NEI) como uma organização de negócios que, desde sua concepção, pretende inferir vantagem competitiva significativa por meio do uso de recursos e a venda de seus produtos em diversos países” (OVIATT; MCDOUGALL, 1994, p. 49). 64 O que distinguiria essas novas organizações daquelas que evoluem gradualmente a partir de uma base doméstica seria o comprometimento de significativos recursos (humanos, financeiros, materiais ou de tempo) desde seus primeiros anos de funcionamento. Assim, se há assimetrias na base internacional de recursos, ou seja, se os recursos que geram valor para as organizações estão desigualmente distribuídos entre os países (OVIATT; MCDOUGALL, 1994; WERNERFELT, 1984; WILLIAMSON, 1985), então as firmas que se internacionalizam desde cedo podem obter vantagem competitiva sustentável por meio do acesso, seleção e combinação de recursos valiosos, raros e inimitáveis, além de recursos organizacionais (VRIO), visando à criação de valor para si e seus clientes (BARNEY, 1991; CUERVO-CAZURRA; UN, 2004; GABRIELSSON; KIRPALANI, 2004; PRAHALAD; HAMEL, 1990; RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006; SOUKUP FILHO; MAIOCCHI, 2013). Claro que essa vantagem não é limitada aos NEI. Todavia, os pioneiros em mercados internacionais emergentes podem antecipar-se à competição, sendo os primeiros a estabelecer e explorar tais vantagens (AUTIO, 2005; MCDOUGALL; OVIATT; SHRADER, 2003; OVIATT; MCDOUGALL, 2005). Para Oviatt e McDougall (1994), o uso de tais recursos não pressupõe sua posse, ou seja, o investimento direto internacional não é a única alternativa viável. Alianças estratégicas podem ser formadas para o compartilhamento de recursos estrangeiros como, por exemplo, capacidade de produção ou estratégias de marketing (COVIELLO, 2006; JONES; COVIELLO; TANG, 2011; KONTINEN; OJALA, 2011; PETTERSEN; TOBIASSEN, 2010). Portanto, nesse novo cenário é o controle de recursos VRIO (BARNEY, 1991; PRAHALAD; HAMEL, 1990) que viabilizaria a criação de vantagem competitiva sustentável. Essa crença é consoante com as considerações de Young, Dimitratos e Dana (2003), de que a área de EI parece ser influenciada, dentre outros, pela Teoria de resource-based view (RBV), que busca identificar como a gestão competente dos recursos acessíveis podem ajudar a explicar o desempenho superior e rápida internacionalização das empresas 65 empreendedoras (JOHANSON; VAHLNE, 2009; ROCHA et al., 2012; RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006; YUAN, 2010). Além da RBV, a base conceitual dos NEI é composta pelas teorias de negócios internacionais, empreendedorismo e estratégia (ANDERSSON, 2011; COVIELLO; MCDOUGALL; OVIATT, 2011; MCDOUGALL; OVIATT, 2000; OVIATT; MCDOUGALL, 1994; ROCHA et al., 2010). 2.4.2. O Mecanismo Original do Modelo Oviatt e McDougall (1994) propuseram um modelo teórico no qual quatro elementos seriam necessários e suficientes para que um NEI seja sustentável, conforme esquematizado na Figura 7: Figura 7 - Elementos necessários e suficientes para novos empreendimentos internacionais sustentáveis Fonte: Adaptado de Oviatt e McDougall (1994, p. 54) Segundo Oviatt e McDougall (1994) o modelo tem suas bases nas teorias de análise do custo de transação, imperfeições de mercado e a internalização de transações essenciais (IETTO-GILLES, 2005; RUGMAN, 1980) para explicar a existência de NEI. Porém, as maiores contribuições trazidas pelo modelo 66 proposto foram incorporar elementos da Teoria de Empreendedorismo e das Teorias de Estratégia Organizacional. De acordo com Mello (2009), o que se pode se depreender da contribuição de Oviatt e McDougall é que novos empreendimentos têm a possibilidade de se internacionalizar agressivamente graças às competências de seus empreendedores, que têm a visão necessária para vislumbrar oportunidades de mercado além do crescimento doméstico. Assim, o Elemento 1 (Internalização de algumas transações) distingue transações que se realizam internamente na firma daquelas que são governadas pelos mercados. Aliás, a premissa para a existência da organização está condicionada à presença de imperfeições de mercado (COASE, 1937; WILLIAMSON, 1985). Assim, a internalização de algumas transações comerciais que gerem valor na troca é necessária. Isso, porém, não significa inevitavelmente a posse de ativos estrangeiros, o que leva ao elemento seguinte. O Elemento 2 (estruturas alternativas de governança) distingue os novos empreendimentos de organizações já estabelecidas, uma vez que eles normalmente não têm recursos suficientes para controlar todos os ativos de que necessitam por meio de sua propriedade. Assim, internalizam apenas uma pequena porcentagem de recursos indispensáveis à sua sobrevivência e partem para estruturas híbridas, como licenciamento, franchising, dentre outros (SOUKUP FILHO; MAIOCCHI, 2013; VESPER, 1990; WILLIAMSON, 1991; ZEN et al., 2013). Essas estruturas híbridas não são perfeitas e, portanto, existe o risco de expropriação de ativos valiosos devido a possíveis atitudes oportunistas na relação entre as partes e quebra de contratos formais estabelecidos (DIB; CARNEIRO, 2007; KANTER, 1989; PORTER; FULLER, 1986). Portanto, uma alternativa viável de estrutura alternativa de governança é o uso de redes de relacionamento. Segundo Oviatt e McDougall (1994), essas redes baseiam-se numa relação de controle informal do comportamento por meio de laços de confiança e obrigação moral, e não por contratos formais. A cooperação 67 prevalece ao oportunismo, pois a reputação pessoal e a profissional estão em jogo, em detrimento de ganhos de curto prazo (COVIELLO, 2006). O Elemento 3 (vantagem de localização no estrangeiro) distingue organizações multinacionais das locais, devido às possíveis vantagens de se transferir ou combinar recursos para além das fronteiras nacionais. No entanto, a internacionalização pode trazer algumas desvantagens em relação às empresas nativas, como barreiras alfandegárias e culturais. Por conseguinte, as multinacionais costumam apoiar-se em vantagens de escala para ganhar algum tipo de vantagem em relação às empresas nativas, enquanto que os NEI geralmente se apoiam em conhecimento (COVIELLO; MARTIN, 1999; DUNNING, 1988; KEUPP; GASSMANN, 2009; MUSTEEN; DATTA; BUTTS, 2013; OVIATT; MCDOUGALL, 1994). Ainda de acordo com Oviatt e McDougall (1994), a mobilidade do conhecimento permite que os NEI possam combiná-lo com recursos menos móveis em múltiplos países (por exemplo, fábricas que precisam de um novo software ou mapeamento de processo). Assim, aparentemente negócios intensivos em uso de conhecimento parecem expandir-se mais rápido internacionalmente (COVIELLO; MUNRO, 1997; REICH, 1991; ROCHA et al., 2010). Dessa forma, a prevalência de NEI deveria, em tese, acompanhar a eficiência crescente dos mercados globais (OVIATT; MCDOUGALL, 1994). Os três primeiros elementos seriam necessários, porém não suficientes para definir um NEI. Assim, o Elemento 4 (recursos únicos) é o que permitiria ao NEI obter vantagem competitiva sustentável, já que o conhecimento, por si só, pode ser copiado após sua disseminação. Assim, o NEI deveria limitar o uso indiscriminado desse conhecimento por terceiros nos países onde atua para que ele conserve seu valor comercial (OVIATT; MCDOUGALL, 1994). Isso poderia ser feito de quatro formas: a) conhecimento proprietário, protegido por meio de patente, contratos de confidencialidade, dentre outros. A melhor forma de proteger o conhecimento, porém, seria encontrar uma maneira de 68 mantê-lo em segredo sem, no entanto, impedir o seu uso; b) imitabilidade imperfeita (BARNEY, 1991; SCHOEMAKER, 1990), ou seja, o estilo gerencial ou a cultura organizacional única de um NEI poderia evitar a imitação por possíveis concorrentes; c) licenciamento seria a terceira forma, buscando equilibrar estratégias de preço versus ciclo de vida do produto para maximizar o valor do conhecimento da empresa, algo que empresas de tecnologia como a Apple parecem fazer muito bem. E, finalmente, d) o uso das estruturas alternativas de governança, notadamente as redes de relacionamento, ajudaria a reduzir o risco de expropriação de conhecimento proprietário em um NEI (ANDERSSON, 2000; OVIATT; MCDOUGALL, 2005). Por sua vez, como seria possível diferenciar um NEI de empresas mais maduras, que se internacionalizaram gradualmente após muitos anos de atividade? De acordo com Oviatt e McDougall (1994), um NEI poderia ser definido como aquela empresa que começa a receber receitas de suas atividades internacionais em até, no máximo, seis anos após sua fundação (MCDOUGALL; OVIATT; SHRADER, 2003). Ademais, que pelo menos 25% de suas receitas sejam provenientes de suas atividades no estrangeiro (KNIGHT; CAVUSGIL, 1996). Na sequência, Oviatt e McDougall (1994) enumeram quatro tipos de básicos de NEI de acordo com número de atividades da cadeia de valor que são coordenadas internacionalmente (PORTER, 1986) e a quantidade de países em que atuam. Os autores reconhecem que existe um continuum de tipologias dentre os extremos estabelecidos, e que os NEI podem deslocar-se entre os diferentes quadrantes conforme evoluem no seu processo de internacionalização. A Figura 8 apresenta as tipologias enumeradas por Oviatt e McDougall (1994): 69 Figura 8 - Tipos de novos empreendimentos internacionais Fonte: Adaptado de Oviatt e McDougall (1994, p. 59) Os quadrantes i e ii estão reservados aos chamados novos criadores de mercados internacionais. Esse é um tipo convencional de empresa, formado basicamente por importadores e exportadores de produtos, que lucram movendo bens e serviços dos países de onde eles são ofertados para as nações que os demandem. As atividades de cadeia de valor mais prováveis de serem internalizadas são os sistemas e conhecimento em logística de importação e exportação. Start-up de importação/exportação foca em atender a poucos países, muitas vezes familiares ao empreendedor, enquanto que o comerciante multinacional serve a uma miríade de nações e está constantemente buscando por novas oportunidades comerciais, nas quais uma rede de relacionamentos está estabelecida ou pode ser rapidamente criada. (OVIATT; MCDOUGALL, 1994). A Start-up focada geograficamente ocupa o quadrante iii, servindo às necessidades de regiões específicas com o uso de recursos estrangeiros. Sua vantagem competitiva reside no fato de saber coordenar múltiplas atividades da cadeia de valor (PORTER, 1990). Tal coordenação é difícil de imitar porque envolve conhecimento tácito ou é socialmente complexa, por meio de uma rede 70 de relacionamentos de alianças exclusivas nas áreas atendidas. (OVIATT; MCDOUGALL, 1994; RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006). A Start-up global ocupa o quadrante iv e é a manifestação mais radical dos NEI, que consegue reunir recursos VRIO para atuar com eficiência na coordenação de múltiplas atividades da cadeia de valor em diversos países ou continentes simultaneamente. Apesar da elevada complexidade do negócio, uma vez estabelecido, esse tipo de NEI desenvolve uma rápida curva de aprendizado, o que pode criar vantagem competitiva sustentável por meio de uma combinação de fatores únicos na geração de valor para a empresa. (OVIATT; MCDOUGALL, 2005, 1994). Esse é talvez o tipo de NEI que mais se aproximaria do conceito contemporâneo de BG (COVIELLO; MCDOUGALL; OVIATT, 2011). 2.4.3. Principais Críticas ao Modelo de EI Por sua vez, o modelo de NEI proposto por Oviatt e McDougall (1994) recebeu algumas críticas de estudiosos (Cf. GAMBOA; BROUTHERS, 2008; KEUPP; GASSMANN, 2009), por afirmar que reúne elementos necessários e suficientes para entender a dinâmica de formação e evolução de NEI, e pela abordagem fenomenológica e a suposta carência teórica dos estudos de EI publicados no meio acadêmico (JONES; COVIELLO; TANG, 2011). Gamboa e Brouthers (2008) teceram algumas restrições ao posicionamento do EI como uma interseção de Empreendedorismo e Negócios Internacionais (NI). Porém, McDougall e Oviatt (2000) já haviam reconhecido que não há uma direção teórica e metodológica clara para a definição de EI. O próprio termo empreendedorismo sugere uma miríade de construtos e a sobreposição de domínios, como inovação, gerenciamento da mudança e estratégia (O’CASS; WEERAWARDENA, 2009). Assim, a construção de um paradigma unificador do EI só seria possível por meio de um significativo esforço colaborativo de pesquisa, envolvendo estudiosos de múltiplos países e múltiplas áreas do saber, incluindo, mas não 71 se limitando à antropologia, economia, psicologia, finanças, marketing e sociologia (COVIELLO; MCDOUGALL; OVIATT, 2011; JONES; COVIELLO; TANG, 2011; MCDOUGALL; OVIATT, 2000; OVIATT; MCDOUGALL, 2005). Keupp and Gassmann (2009) basicamente criticaram a falta de um paradigma teórico único e consistente para o desenvolvimento das pesquisas em EI. Os trabalhos publicados teriam se concentrado em basicamente em observações empíricas de PME. Isso poderia, em sua opinião, atrapalhar o progresso da área. Andersson, no entanto, afirma que “uma maneira frutífera de expandir o conhecimento em uma área do saber é estudá-la sob diversos prismas” (ANDERSSON, 2011, p. 632). Rialp, Rialp e Knight também apoiam uma abordagem multidisciplinar para o estudo de NEI ou Born Globals, já que o uso de um único framework teórico “parece ser um tanto reducionista” (RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005, p. 155) Outro aspecto criticado foi a suposta oposição criada por Oviatt e McDougall entre o EI e o a teoria de estágios do MPI (OVIATT; MCDOUGALL, 1997). Assim, em um trabalho que buscou comparar e destacar similaridades, complementaridades e os pontos conflitantes entre a lógica do MPI de Uppsala e da proposta de NEI, Autio (2005) considerou as duas correntes mais complementares do que contraditórias. Assim, enquanto a NEI buscaria explicar quão cedo e rápida a internacionalização de novos empreendimentos era possível, a MPI procura elucidar o processo de internacionalização em si, após o seu início. 2.4.4. Evolução da abordagem sobre EI Diante das críticas, diversos autores revisaram os conceitos relativos a EI (Cf. DALMORO, 2010; JONES; COVIELLO; TANG, 2011; KEUPP; GASSMANN, 2009; RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005; ZAHRA; GEORGE, 2002). Alguns foram respostas às questões de pesquisa levantadas pelo fórum de EI lançado por Coviello, McDougall e Oviatt em 2000 (COVIELLO; MCDOUGALL; OVIATT, 72 2011; KISS; DANIS; CAVUSGIL, 2012; TERJESEN; HESSELS; LI, 2013). Um paper brasileiro chegou mesmo a propor um quadro teórico geral para análise do fenômeno de EI (LEITE; MORAES, 2012). Reconhecendo que o campo de estudos de EI é recente e está em pleno processo de evolução, McDougall e Oviatt propõem um aprimoramento do conceito originalmente apresentado em 1997 (OVIATT; MCDOUGALL, 1997): EI é uma combinação de comportamentos inovadores, proativos e propensos ao risco que cruzam fonteiras nacionais com a intenção de criar valor nas organizações. (MCDOUGALL; OVIATT, 2000, p. 903) Numa tentativa de ampliar a definição do conceito, e explicitando a importância da criatividade no reconhecimento de oportunidades de negócios, Zahra e George (2002) afirmam que: EI é o processo de usar a criatividade para descobrir ou explorar oportunidades de negócios, que se situam fora do mercado doméstico da firma, a fim de auferir vantagem competitiva (ZAHRA; GEORGE, 2002, p. 262) Consequentemente, em 2005 Oviatt e McDougall ofereceram uma definição refinada de EI, incorporando o conceito de oportunidade explicitado por Zahra e George (2002) e depois incorporado ao M-U por Johanson e Vahlne (2009): EI é a descoberta, adoção, avaliação e exploração de oportunidades – através de fronteiras nacionais – para a criação de bens e serviços futuros (OVIATT; MCDOUGALL, 2005, p. 540) A definição acima, segundo os autores, não requer a formação de novas empresas, o que permite o reconhecimento de iniciativas empreendedoras e proatividade internacional mesmo dentro de organizações já estabelecidas (KEUPP; GASSMANN, 2009). Além disso, não restringe a unidade de análise em EI, já que as oportunidades podem ser reconhecidas por um indivíduo (empreendedor ou gestor), pelo grupo (ex: time de P&D ou marketing) ou pela própria organização, no chamado empreendedorismo corporativo (OVIATT; MCDOUGALL, 2005). 73 Ainda considerando que a rápida internacionalização seria um fator crítico de sucesso para NEI (MCDOUGALL; OVIATT; SHRADER, 2003; OVIATT; MCDOUGALL, 1994), que ajudaria a reduzir o liabitlity of outsidership (JOHANSON; VAHLNE, 2009), por meio da formação de redes no estrangeiro, e que teria um efeito positivo no crescimento e aprendizado internacional (AUTIO, 2005), Oviatt e McDougall (2005) propuseram um modelo de forças influenciando a velocidade de internacionalização, conforme a Figura 9: Figura 9 - Modelo de forças que influenciam a velocidade de internacionalização FONTE: (OVIATT; MCDOUGALL, 2005, p. 541) Novas tecnologias de transporte e comunicação viabilizam a rápida exploração de uma oportunidade de negócio (OVIATT; MCDOUGALL, 1994). A motivação é representada pela pressão da concorrência, doméstica ou internacional, que pode forçar a empresa a buscar oportunidades em mercados estrangeiros (BOHRER; DIB, 2011; PORTER, 1990). A mediação refere-se à forma como o empreendedor percebe uma determinada oportunidade, de acordo com suas características pessoais e psicológicas (COVIELLO; MARTIN, 1999; KISS; DANIS; CAVUSGIL, 2012; TERJESEN; HESSELS; LI, 2013). 74 As forças de moderação, por sua vez, dividem-se em dois grupos: o conhecimento (interno e sobre os mercados) disponível para explorar uma dada oportunidade (JOHANSON; VAHLNE, 1977, 2009) e as características da rede de relacionamentos dos empreendedores, com destaque à força dos laços existentes (COVIELLO, 2006; ELLIS, 2011; KONTINEN; OJALA, 2011), tamanho, isto é, alcance da rede e sua densidade, ou seja, número de alianças envolvidas (KISS; DANIS; CAVUSGIL, 2012; YUAN, 2010). Com isso, o modelo explicita o papel das redes e reconhece a importância do ciclo de conhecimento, aprendizado e comprometimento da Escola Nórdica na expansão internacional. Em outras palavras, “em ambientes hiper competitivos, talvez o mais importante não seja saber como fazer, mas sim, aprender mais rapidamente” (MELLO, 2009, p. 41). Mais recentemente, pesquisadores brasileiros deram sua contribuição na tentativa de propor um paradigma teórico unificado de EI. Dalmoro (2010) buscou integrar as abordagens de Negócios Internacionais com as do Empreendedorismo. Assim, os fatores que envolveriam os negócios internacionais seriam divididos em ambientais, como concorrência internacional ou tipo de indústria, e estratégicos, tais como vantagens competitivas e estratégias de marketing. O empreendedorismo contribuiria com os fatores organizacionais, como cultura da empresa e recursos humanos e financeiros, e rede de contatos, tais como relacionamentos pessoais ou empresariais (DALMORO, 2010). Leite e Moraes (2012), por sua vez, propuseram um framework com características que eles consideraram essenciais para promover o EI. Por meio de um levantamento bibliográfico com diversos artigos de EI publicados dentro e fora do Brasil, chegaram às seis dimensões PROCAD, que seriam: Propensão à adaptação Redes de relacionamento Oportunidades internacionais 75 Capacidade de inovar Atitude face ao risco Desenvolvimento de recursos competitivos 2.5. BORN GLOBALS 2.5.1. Origem dos estudos e do termo Born Globals Paralelo ao desenvolvimento dos NEI, a segunda abordagem a tratar do Empreendedorismo Internacional foi a perspectiva de Born Globals (BG). Ela surgiu na Austrália em 1993, “quando Rennie propôs o termo Born Global referindo-se a empresas que têm visão de mercado global desde seu nascimento” (FERREIRA, 2013a, p. 49). A principal diferença entre as abordagens EI e BG é sua origem. Enquanto o EI nasceu no meio acadêmico, a perspectiva BG originou-se de estudos empíricos de uma empresa de consultoria (MELLO, 2009). No entanto, ambas são abordagens complementares empreendedorismo que internacional tratam moderno do mesmo (COVIELLO; fenômeno, o MCDOUGALL; OVIATT, 2011). Segundo Rennie (1993), as BG de uma amostra de 310 firmas australianas pesquisadas, aproximadamente 25% constituíam-se de PME que se internacionalizaram em até dois anos após sua fundação, com percentual médio de 75% das receitas totais provenientes de exportações e taxa média de crescimento de 14% ao ano. Caracterizavam-se como empresas flexíveis, inovadoras, que normalmente buscavam oportunidades em nichos, adaptandose rapidamente às necessidades dos mercados e, principalmente, de seus clientes (CHETTY; CAMPBELL-HUNT, 2004; KNIGHT; CAVUSGIL, 1996; KNIGHT; BELL; MCNAUGHTON, 2001). Por isso, para elas “é possível ter sucesso em mercados estrangeiros mesmo sem uma base doméstica de clientes estabelecidos” (RENNIE, 1993, p. 45). 76 Por sua vez, Knight e Cavusgil (1996) ressaltam que o fenômeno BG não estaria restrito às empresas australianas, sendo observado também em estudos de companhias provenientes de outras economias desenvolvidas, como os EUA, Europa e Japão. Em relação ao porte, seriam majoritariamente PME com até 500 empregados e faturamento anual inferior a U$100 milhões. No entanto, pesquisas mais recentes sugerem que as BG estariam surgindo em diversas regiões do mundo, envolvendo desde MNE até PME (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005). Em relação aos setores estudados, embora tenha se sugerido que o fenômeno BG não se restringiria a setores específicos (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; MADSEN; SERVAIS, 1997; MCDOUGALL; OVIATT; SHRADER, 2003), a maioria das pesquisas acadêmicas têm se concentrado em empresas de alta tecnologia (RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005), mesmo no caso do Brasil (FERREIRA, 2013a; MELLO, 2009; RIBEIRO; JUNIOR; BORINI, 2012; ROCHA et al., 2010). No entanto, é possível observar inúmeros casos de BG em setores os mais diversos, como moda, consultoria, indústria de bens de capitais (TAYLOR; JACK, 2012), serviços (LOANE; BELL, 2006), manufatura de borracha (ANDERSSON; WICTOR, 2003), de calçados (MACHADO et al., 2010), de pescado (KNIGHT; BELL; MCNAUGHTON, 2001), de metais e plásticos (MADSEN, 2012) e mesmo na Economia Criativa, como no caso do audiovisual irlandês (SMITH; RYAN, 2014). Por sua vez, independente do setor, de acordo com Knight e Cavusgil (1996) o elemento chave de sucesso na internacionalização parece ser uma orientação genuína ao cliente, à criação de valor e uma estratégia clara e comprometida dos gestores em atender aos mercados internacionais. Em outras palavras, “BG tendem a ser companhias gerenciadas por empreendedores visionários, que veem o mundo como um mercado único, sem fronteiras, desde a fundação do negócio” (KNIGHT; CAVUSGIL, 1996, p. 12). Para Coviello, McDougall e Oviatt (2011) os acadêmicos da Teoria de Negócios Internacionais distinguiriam o termo “internacional” de “global”, com 77 internacional referindo-se à internacionalização em poucos países, enquanto que global reserva-se àquelas empresas internacionalizadas em muitos países ou continentes. Pode-se dizer que apenas um dos quatro tipos apresentados por Oviatt e McDougall em 1994, a Start-up global, seria razoavelmente equiparada a uma BG. Além disso, enquanto o NEI é fundado com a intenção de se internacionalizar rapidamente, as BG seriam definidas inicialmente pelo “timing” e velocidade da expansão internacional (COVIELLO; MCDOUGALL; OVIATT, 2011; JONES; COVIELLO; TANG, 2011). 2.5.2. A globalização como moderadora do fenômeno BG Em relação aos fatores externos que levariam as empresas a se internacionalizar, um dos mais importantes seria a globalização dos mercados (ABDELAL; TEDLOW, 2003). Ela estaria associada a uma crescente homogeneização na preferência dos consumidores no planeta, o que facilitaria a expansão internacional dos negócios (MADSEN; SERVAIS, 1997; SOUKUP FILHO; MAIOCCHI, 2013). Além disso, facilitaria alianças internacionais para o desenvolvimento e distribuição de produtos e serviços (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004). Portanto, em termos práticos a globalização poderia ser caracterizada como a ausência de fronteiras ou barreiras para o comércio internacional (SMITH; RYAN, 2014), a qual advém da “interdependência crescente entre as economias das nações, envolvendo consumidores, produtores, fornecedores e governos nos diferentes países” (KNIGHT, 2000, p. 12). Em relação à firma, globalização poderia ser entendida como o estágio em que suas operações estendem-se em escala global, e não apenas em poucos países (RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006). Por outro lado, justamente devido à globalização dos mercados e ao consequente acirramento da competitividade com MNE em escala mundial, as PME não teriam outra escolha senão especializar-se para suprir a demanda de produtos e serviços em pequenos nichos globais (KNIGHT; CAVUSGIL, 1996; 78 KNIGHT; BELL; MCNAUGHTON, 2001). Adicionalmente, para melhor direcionar suas estratégias de internacionalização, as PME deveriam compreender as três forças externas que direcionam a globalização crescente dos negócios (RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006): A primeira seria o crescimento explosivo de novas tecnologias de comunicação e informação, que conectam pessoas, lugares e tornam as oportunidades internacionais mais acessíveis às empresas. A queda de barreiras comerciais e desregulamentação financeira entre países, permitindo, em tese, a livre concorrência. A abertura comercial em países emergentes, como é o caso dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Assim, não obstante o imperativo da globalização traga oportunidades, também representa desafios, principalmente às PME. Com a concorrência global, a fim de diferenciarem-se perante o cliente, os novos negócios deveriam adicionar valor às suas ofertas continuamente, o que em geral significa mais investimentos em P&D. Paralelamente, atender mercados globais significaria, a princípio, desenvolver produtos e serviços que atendam às exigências regulamentares e de consumidores em vários países simultaneamente (KNIGHT, 2000). 2.5.3. Seleção de países e modos de entrada Em sua pesquisa sobre PME de software, Bell (1995) notou que embora a seleção de países às vezes possa evidenciar o conceito de distância psíquica, ele estaria mais sujeito a outros fatores, como a tendência a seguir o cliente, o direcionamento setorial ou mesmo a ocorrência de oportunidades de negócio, independente de fronteiras nacionais (ROCHA et al., 2010). Assim, mais importante do que distância psíquica ou geográfica, é a distribuição de clientes no mercado global que dita quais mercados selecionar. Um bom exemplo é o setor de óleo e gás, cuja base de clientes encontra-se fortemente concentrada nos poucos países produtores (PETTERSEN; TOBIASSEN, 2010). 79 Por sua vez, escolhas referentes ao modo de entrada estariam mais sujeitas a decisões estratégicas conscientes do empreendedor do que a um modelo gradual de redução de risco e incerteza. Assim, a fim de aproveitar janelas de oportunidade estreitas e ciclos de produto cada vez mais curtos (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; MCDOUGALL; OVIATT; SHRADER, 2003; PERSINGER; CIVI; VOSTINA, 2007), os novos negócios deveriam internacionalizar-se rapidamente. Para isso, precisariam empreender múltiplos modos de entrada simultaneamente nos diferentes países, o que costuma ser facilitado pelas redes de relacionamento existentes (ANDERSSON; WICTOR, 2003; BELL, 1995; JOHANSON; VAHLNE, 2009) ou que poderiam ser rapidamente construídas (LOANE; BELL, 2006). 2.5.4. A evolução da abordagem BG e a proposição de modelos Como ocorreu no caso do EI, alguns artigos publicados após o estudo de Rennie (1993) colocam o fenômeno BG como um desafio às teorias de estágios do M-U ou do Modelo de Inovação (ANDERSSON; WICTOR, 2003; BELL, 1995; CHETTY; CAMPBELL-HUNT, 2004; KNIGHT; CAVUSGIL, 1996; KUIVALAINEN; SAARENKETO; PUUMALAINEN, 2012; MOEN; SERVAIS, 2002; OVIATT; MCDOUGALL, 1997). Madsen e Servais (1997) chegam mesmo a criar uma metáfora do MPI com a propagação de “anéis na água”, salientando, porém, que firmas genuinamente BG em geral não seguiriam o padrão lento, gradual e sucessivo em relação à escolha de países, modos de entrada e estratégias de expansão internacional. No entanto, cedo ou tarde mesmo os críticos da Escola Nórdica reconheceriam a importância das redes de relacionamento, aquisição de conhecimento e acúmulo de experiência no processo de internacionalização dos novos negócios (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; LOANE; BELL, 2006; RASMUSSAN; MADSEN; EVANGELISTA, 2001; ROCHA et al., 2010; SMITH; RYAN, 2014; WEERAWARDENA et al., 2007; WICTOR, 2012). 80 Por sua vez, embora até a presente data não haja um paradigma teórico consagrado para explicar o fenômeno de BG (RIALP; RIALP; KNIGHT, 2005), Madsen e Servais (1997) propuseram um modelo que busca unificar as contribuições de diversas teorias sobre negócios internacionais, com destaque à Escola Nórdica e EI, e que cobre aspectos básicos sobre os antecedentes, nascimento e crescimento de Born Globals. A Figura 10 detalha o framework proposto, que acabou servindo de inspiração para modelos sugeridos posteriormente na literatura de BG: Figura 10 - Modelo de pesquisa para BG Fonte: Adaptado de Madsen e Servais (1997, p. 581) Inspirado no framework da Figura 10 e acrescentando contribuições posteriores à literatura, Andersson e Wictor (2003) propõem um modelo conceitual dos principais fatores que influenciariam a emergência de BG. Notadamente, reafirmam o papel do empreendedor, como força motriz de todo o processo (Cf. ROCHA et al., 2010), e as características da indústria, ou o microambiente. Incluem e reforçam, também, a importância das redes de relacionamento, formais e informais, já existentes ou a construir (LOANE; BELL, 2006; ROCHA et al., 2010) e os efeitos supramencionados da globalização no processo de internacionalização dos negócios, conforme a Figura 11: 81 Figura 11 - Modelo conceitual de BG Fonte: Andersson e Wictor (2003, p. 254) Os fatores ambientais (indústria e globalização) podem motivar ou até forçar a internacionalização de uma empresa. É o caso em que a companhia precisa construir reputação internacional para tornar seu produto vendável, mesmo dentro de seu mercado doméstico, ou quando a demanda doméstica é muito reduzida ou limitada (KNIGHT; BELL; MCNAUGHTON, 2001; RASMUSSAN; MADSEN; EVANGELISTA, 2001; ROCHA et al., 2010). No caso dos fatores internos, mais controláveis pelo empreendedor e sua rede, existem também desafios a superar. Para inovar e criar valor ao cliente, por exemplo, ele deve saber aliar suas competências centrais a um olhar atento para o mercado, a fim de entender suas reais necessidades antes de desenvolver uma nova oferta (KNIGHT; CAVUSGIL, 2004; RASMUSSAN; MADSEN; EVANGELISTA, 2001). Ainda sobre o impacto de fatores internos e externos nas BG, Efrat e Shoham (2012) discorreram sobre as diferenças entre os indicadores de desempenho de curto e longo prazo. De acordo com os autores: O desempenho de curto prazo de BG seria mais impactado por fatores externos (ambientais). Por outro lado, no longo prazo, fatores internos à firma (competências centrais) seriam cruciais para sua sobrevivência e crescimento (EFRAT; SHOHAM, 2012, p. 675) Dessa forma, analisando mais de perto os empreendedores e suas organizações (fatores internos), Knight e Cavusgil (2004) associaram o desempenho em mercados internacionais à cultura organizacional e estratégias 82 de negócios. Mais especificamente, o desempenho superior estaria aliado a uma orientação internacional de empreendedorismo e marketing. Adicionalmente, essas estariam correlacionadas a estratégias com foco em competências tecnológicas, desenvolvimento de produtos únicos e de alta qualidade (ou seja, inovadores) e alavancagem das competências da rede de distribuidores no estrangeiro. Portanto, empresas que soubessem explorar tais recursos VRIO poderiam se internacionalizar rápido e em larga escala. Especialmente no caso de PME, essas competências ajudariam a reduzir desvantagens como a falta de recursos financeiros e humanos, e mesmo a falta de experiência ou o pouco tempo de existência do negócio, se comparado às MNE já estabelecidas (GABRIELSSON; KIRPALANI, 2004; KNIGHT; CAVUSGIL, 2004). Ao considerar a rede de distribuidores no estrangeiro, Gabrielsson e Kirpalani (2004) sugerem que uma maneira eficaz para PME expandirem-se rápido para novos mercados seria o uso de canais alternativos de marketing. Em outras palavras, alavancar os recursos de canais de seus parceiros, em especial as redes de MNE e a própria Internet (LOANE, 2005; ROCHA et al., 2010), a fim de obter receita e fluxo de caixa mais rapidamente. Embora por um lado tal estratégia possa prover aprendizado e crescimento acelerado à PME, por outro cria uma perigosa relação de dependência no canal de distribuição, principalmente em relação às MNE (COUGHLAN et al., 2006; FRAZIER; ANTIA, 1995; FRAZIER, 1999). Finalmente, em um trabalho que procurou sintetizar 10 anos de pesquisas acerca de BG, Rialp, Rialp e Knight (2005) enumeraram 10 fatores que facilitam ou permitem o surgimento de negócios de rápida internacionalização. Dentre os já citados até aqui, vale destacar: forte uso de redes de relacionamento (pessoais e de negócios); conhecimento e comprometimento crescente com mercados, relembrando os pressupostos da Escola Nórdica (MACHADO; NIQUE; FEHSE, 2011; ROCHA et al., 2010); inovação como meio eficaz para criar ofertas de alto valor agregado; forte orientação ao cliente; 83 estratégia de nicho, principalmente no caso de PME e alta flexibilidade, para se adaptar rapidamente às mudanças do ambiente global. 2.5.5. Como caracterizar uma BG? O artigo seminal de Rennie (1993) sugere que 25% das empresas de sua amostra seriam BG, que passaram a exportar em até dois anos após sua fundação e que tinham, em média, 75% da receita proveniente de atividades internacionais. Embora seja uma medida válida, ela estaria sujeita à realidade de uma nação desenvolvida e de dimensões continentais, a Austrália, e aos vieses da amostra especificamente selecionada para o estudo da McKinsey. Além disso, consideraria só duas dimensões da atividade internacional: velocidade e extensão (MADSEN, 2012) Zahra e George (2002) argumentam que o fenômeno BG deveria considerar pelo menos três dimensões ao caracterizar uma firma, a saber: extensão (percentual de vendas proveniente do exterior), velocidade (tempo entre fundação da empresa e suas primeiras vendas internacionais) e escopo (número de países estrangeiros para os quais a empresa vende). Os pesquisadores de BG normalmente se preocupariam apenas com as dimensões de velocidade e extensão, enquanto que a literatura de NEI, com velocidade e escopo. Ao não considerar as três dimensões propostas por Zahra e George, torna-se difícil traçar comparativos entre as empresas estudadas sob as diferentes abordagens (MADSEN, 2012). Em relação à extensão, Knight e Cavusgil (2004) sugerem que BG seriam empresas com faturamento mínimo de 25% das vendas no estrangeiro, enquanto Chetty e Campbell-Hunt (2004) falam em mais de 75% das vendas. Sobre a velocidade, ou início das atividades internacionais, Moen e Servais (2002) salientam que elas deveriam ocorrer em menos de dois anos após a fundação, Knight (1997) sugeriu até três anos, enquanto McDougall, Oviatt e Shrader (2003) aceitariam até seis anos. 84 O ano de fundação da empresa também seria uma informação importante, já que antes de 1989 os fatores ambientais não teriam aparecido de forma relevante no cenário global (SILVA, 2010). O timing de exportação também parece ser relevante, já que firmas antigas que tentam exportar muitas décadas após sua fundação tenderiam a seguir um padrão mais lento e incremental de internacionalização (MOEN; SERVAIS, 2002). Para Knight (1996), BG geralmente são PME, com menos de 500 funcionários e faturamento anual de até U$100 milhões. No entanto, essa definição parece fazer mais sentido para economias grandes e desenvolvidas, como o caso dos EUA, de onde seus estudos se originaram. Para o contexto de economias emergentes, como é o caso do Brasil, Persinger e Vostina (2007) sugerem um “modelo menos agressivo” (p. 74), a saber: Uma BG no contexto de economias emergentes teria vendas anuais de até U$50 milhões, menos de 500 empregados e atingiria pelo menos 25% de suas receitas com exportações em até quatro anos após sua fundação. (PERSINGER; CIVI; VOSTINA, 2007, p. 74) No caso específico do Brasil, Silva (2010) propõe que esse timing poderia ser estendido a até cinco anos após a fundação, “levando em consideração aspectos do país, como barreiras à exportação (impostos e custos) e também o tamanho do Brasil e seu grande mercado doméstico” (p. 55). Além disso, sobre o porte (número de empregados) será adotado o critério do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) brasileiro, de que PME seriam empresas com até 200 empregados (DECOS, 2013, p. 101). Além disso, empresas que se internacionalizam rapidamente, como sugeriram vários autores, usualmente têm foco em nichos de mercado. Moen, Sorheim e Erikson (2008) definem BG como “um negócio com foco em mercados globais de nicho desde sua concepção” (p. 536). Agregando a dimensão escopo da literatura de NEI, Oviatt e McDougall (1994) inferem que Global Startups deveriam exercer atividades internacionais em diversos países e coordenar várias atividades da cadeia de valor, como 85 vendas, marketing, produção e serviços, além das fronteiras nacionais. Como eles não definem o número de países em seu artigo, o presente trabalho considerará BG empresas que vendam para cinco ou mais países estrangeiros, conforme sugerido por Kuivalainen, Saarenketo e Puumalainen (2012). Cumprindo todas as demais exigências para se enquadrar como Born Globals, em relação às atividades da cadeia de valor, empresas que tenham apenas vendido seus produtos ou serviços no exterior seriam classificadas como Born International Sellers. Por sua vez, apenas aquelas que tenham efetivamente internacionalizado outras atividades da cadeia (como produção), poderão ser classificadas como Born Global Firms (MADSEN, 2012). Assim, baseado nos critérios acima, segue um Quadro com os parâmetros que serão usados para definir uma firma BG na presente pesquisa de dissertação: Quadro 1 - Definição de uma firma BG Parâmetro Autores Critérios Data de criação da firma Moen e Servais (2002) Após 1989 Faturamento Anual Persinger e Vostina (2007) PME <$50milhões Número de empregados Decos (2013) Até 200 Início das atividades internacionais Silva (2010) Até 5 anos após a fundação Percentual de receitas internacionais Persinger e Vostina (2007) Acima de 25% Abrangência da Internacionalização Kuivalanen et. al (2012) >5 países Atividades internacionalizadas da cadeia de valor Madsen (2012) Vendas e outras Foco de mercado Moen et. al (2008) Nicho Além desses, outros critérios qualitativos já mencionados serão considerados na análise dos casos, como orientação internacional do dirigente, sua experiência internacional anterior à fundação, grau de tolerância ao risco, inovatividade, uso de parcerias e networks, dentre outros (ROCHA et al., 2010). 86 3. MÉTODO DE PESQUISA A pesquisa é um processo de tentar ganhar uma melhor compreensão sobre as complexidades da experiência humana e, em alguns casos, sugerir ações baseadas nessa compreensão. Porém, ao contrário da impressão de linearidade que os papers costumam passar, a pesquisa real tende a ser um processo um tanto confuso, desorganizado, às vezes frustrante e essencialmente não linear. (MARSHALL; ROSSMAN, 1999, p. 21) A escolha dos métodos de pesquisa mais adequados é etapa de fundamental importância no trabalho de dissertação. Trata-se de determinar com que ferramentas e procedimentos o pesquisador pretende abordar o problema de pesquisa, bem como tentar responder às perguntas derivadas das hipóteses ou suposições levantadas durante a revisão de literatura (DIAS; SILVA, 2009; MATIAS; ALEXANDRE, 2006). Por sua vez, os dados disponíveis, nível de conhecimento sobre o tema e, não menos importante, os custos envolvidos e o tempo disponível para a execução do estudo também ajudam a definir o método de pesquisa mais apropriado. Após a escolha da metodologia, devidamente justificada, faz-se necessário compreender a implicação dessa escolha nas etapas de coleta e análise de dados e nas limitações inerentes ao procedimento selecionado (DIAS; SILVA, 2009; MATIAS; ALEXANDRE, 2006). Considerando-se as ponderações acima, que serão detalhadas na sequência, para o presente trabalho foi escolhido o método de pesquisa exploratória qualitativa, mais especificamente, o levantamento bibliográfico combinado com estudo de casos. 3.1. O PROBLEMA DE PESQUISA De acordo com Matias e Alexandre (2006): 87 Um problema bem formulado transforma-se em bússola para o trabalho monográfico, oferecendo condições de racionalização e, consequentemente, melhor aproveitamento de tempo e de seleção de material para as leituras (MATIAS; ALEXANDRE, 2006, p. 63). Para essa dissertação, o objetivo principal é analisar o processo de internacionalização de duas produtoras brasileiras independentes do setor audiovisual, que está incluído no segmento maior das indústrias criativas, à luz das Teorias Comportamentais de Negócios Internacionais apresentadas no capítulo 2, com destaque para a perspectiva das Born Globals. Ademais, conforme visto no subcapítulo 1.4, o comércio internacional de bens e serviços da Economia Criativa estaria crescendo mais rapidamente do que os setores mais tradicionais, tornando-se uma fonte de vantagem competitiva para a economia das nações, em especial para os países em desenvolvimento. No entanto, o Audiovisual brasileiro seguiria extremamente deficitário em sua balança comercial. 3.2. DEFINIÇÃO DAS PERGUNTAS DE PESQUISA Eisenhardt (2007; 1989) ressalta a necessidade de definir perguntas de pesquisa desde o início do trabalho, mesmo que elas precisem ser aprimoradas ou até reformuladas depois. (MARSHALL; ROSSMAN, 1999; YIN, 1994) Particularmente para o método de estudo de casos, um foco bem definido pode evitar que o pesquisador fique sobrecarregado pelo volume de dados levantados, muitos dos quais poderiam ser de pouca relevância para os objetivos do estudo. (DIAS; SILVA, 2009) Portanto, os questionamentos levantados na seção 1.1 e a pesquisa bibliográfica serviram de base para elaboração do roteiro semiestruturado das entrevistas que foram, posteriormente, aplicadas aos dirigentes das duas empresas. Além disso, em relação às unidades de análise consideradas (DIAS; SILVA, 2009), os estudos qualitativos tipicamente “focam em indivíduos, duplas, 88 grupos, processos ou organizações” (MARSHALL; ROSSMAN, 1999, p. 34). Nesse trabalho, o foco será nos empreendedores (indivíduos), nos processos de internacionalização e nas produtoras (organizações) em si. Tais premissas foram também consideradas ao elaborar as perguntas do roteiro que se encontra no Apêndice 1 deste trabalho. 3.3. MÉTODO SELECIONADO O método escolhido para essa dissertação foi o da pesquisa qualitativa do tipo exploratória, já que não foram localizados estudos que tivessem analisado a internacionalização do audiovisual brasileiro (CRESWELL, 2003). Além disso, o método qualitativo se mostra mais adequado do que o quantitativo quando o fenômeno observado está inserido num contexto social e institucional complexo (DIAS; SILVA, 2009), como é o caso dos negócios internacionais (BIRKINSHAW; BRANNEN; TUNG, 2011). Acerca da perspectiva filosófica adotada, elas são classicamente divididas entre positivismo ou interpretativismo (DIAS; SILVA, 2009). Os positivistas normalmente buscariam o teste de teorias, enquanto que os interpretativistas tentariam compreender fenômenos dentro do contexto no qual eles emergem (DIAS; SILVA, 2009). Para Ghauri (2004) a pesquisa qualitativa seria fundamentalmente interpretativa, enquanto que Yin (1994) sugere uma abordagem positivista. Como as questões aqui levantadas têm por objetivo testar teorias e compreender fenômenos complexos dentro de seus contextos, será adotada uma abordagem mista, conforme sugerido por Coviello e Jones (2004) para estudos de empreendedorismo internacional. Quanto aos procedimentos, será adotada uma metodologia que combina a pesquisa bibliográfica com estudo de casos (EISENHARDT, 1989; MATIAS; ALEXANDRE, 2006). Alguém poderia sugerir que há outros métodos 89 qualitativos consagrados que poderiam ser considerados, como a etnografia, teoria fundamentada (do inglês, grounded theory), fenomenologia ou biografia (CRESWELL, 2003). Porém, a etnografia tem como foco interpretar um grupo sociocultural, o que não é o objetivo desse trabalho. Tampouco existe a pretensão de se desenvolver um novo modelo teórico, o que descarta a teoria fundamentada. A fenomenologia seria adequada para entender a essência da experiência em internacionalização, mas não seu processo. E a biografia seria útil para compreender a história dos empreendedores, mas não as motivações e processos por meios dos quais suas organizações se internacionalizaram. O estudo de casos, por sua vez, tem como foco a análise em profundidade de um caso simples ou múltiplos casos (CRESWELL, 2003). Adicionalmente, o tema “internacionalização do audiovisual brasileiro” foi pouco abordado em estudos anteriores e, também, pretende-se gerar proposições a partir de evidências extraídas dos casos. Em tais situações, Eisenhardt (1989) e Eisenhardt e Graebner (2007) sugerem o estudo de casos como método mais apropriado de pesquisa. 3.3.1. O Método de Estudo de Casos Um estudo de caso pode ter vários significados. Pode ser “usado simplesmente para descrever uma unidade específica de análise, como uma organização” (DIAS; SILVA, 2009, p. 33), pode ser uma ferramenta de ensino, como os famosos teaching cases da Harvard Business School (PERRY, 1998) ou pode, enfim, ser um método estruturado para pesquisa qualitativa (YIN, 1994), suficientemente robusto, inclusive, para a proposição de modelos teóricos (EISENHARDT, 1989), se este for um dos objetivos da pesquisa. Todavia, a escolha do estudo de casos como metodologia, em detrimento de outros procedimentos como experimento, pesquisa documental ou levantamento estatístico de dados, estaria condicionada a alguns fatores. Para Yin (1994) as vantagens e desvantagens de cada método estariam 90 relacionados a: (i) o tipo de pergunta de pesquisa; (ii) o controle do investigador sobre os eventos observados e (iii) o foco em fenômenos contemporâneos ou históricos. Portanto, a metodologia de estudo de caso é recomendada se (YIN, 1994): As perguntas são do tipo “por que” ou “como” ou mesmo “o quê” (GHAURI, 2004), especialmente em estudos exploratórios; O pesquisador tem pouco controle sobre os eventos observados, como ocorre com uma organização e seu ambiente de negócios; O foco do estudo recai sobre fenômenos contemporâneos dentro do contexto da vida real (DUBOIS; GADDE, 2002). Ademais, estudos em Negócios Internacionais envolvem múltiplas disciplinas e variáveis complexas, como diferenças culturais, globalização, aprendizado tácito, redes de relacionamento, entre outras. (ANDERSSON; WICTOR, 2003; GHAURI, 2004; JOHANSON; VAHLNE, 2009) Nesse contexto, os métodos qualitativos, em especial estudos de casos, são a abordagem mais recomendada (BIRKINSHAW; BRANNEN; TUNG, 2011), já que os métodos quantitativos não ofereceriam o aprofundamento desejado. (GILMORE; COVIELLO, 1999) Entretanto, tão importante quanto a escolha da metodologia, são os critérios utilizados para a seleção dos casos em si (EISENHARDT, 1989; YIN, 1994), o que será explicitado a seguir. 3.3.2. Seleção dos Casos A seleção de casos deve seguir uma lógica de replicação, e não a lógica de amostragem dos procedimentos estatísticos, permitindo chegar ao que Yin (1994) denominou de generalização analítica. A generalização analítica ocorre quando os resultados empíricos, de um ou de vários casos, podem ser sistematicamente comparados a uma ou mais correntes teóricas (YIN, 1994). 91 Quanto à seleção de casos únicos ou múltiplos, Yin (1994) e Ghauri (2004) sugerem que o caso único é preferível quando a situação estudada é excepcional ou, então, crítica o suficiente para desafiar uma teoria. No entanto, quando se deseja comparar situações contrastantes ou mesmo elaborar proposições mais consistentes, então os casos múltiplos são a melhor alternativa (EISENHARDT; GRAEBNER, 2007; PERRY, 1998). Assim, baseado na revisão de literatura e consoante com os objetivos dessa pesquisa, os critérios básicos adotados para a seleção foram: Empresas brasileiras; Pertencentes ao setor audiovisual; Apresentando grau e foco significativo na internacionalização de suas atividades, conforme declarado pelo gestor contatado. Cabe destacar, no entanto, que outro filtro muito importante para a seleção dos casos é o da facilidade de acesso (CRESWELL, 2003; GHAURI, 2004), motivo pelo qual não se utilizaram todos os critérios de definição de uma firma BG (Cf. Quadro 1) no primeiro contato. Afinal, se o pesquisador não tem acesso a uma empresa, encontra dificuldade em marcar entrevistas ou mesmo em obter aprovação para publicar seu trabalho, de nada adiantará todo o seu esforço. Uma vez que existiam centenas de pequenas produtoras brasileiras de audiovisual, era necessário recorrer a algum tipo de suporte para facilitar a etapa de seleção. Assim, para o segmento de cinema, foi feito contato com o Projeto Setorial Integrado (PSI) de exportação Cinema do Brasil. Solicitou-se a indicação de pelo menos duas empresas que se interessassem por participar da pesquisa. O mesmo foi feito por meio do PSI Brazilian TV Producers (BTVP) para o segmento de TV por assinatura. Após um primeiro contato por e-mail, uma das produtoras de cinema não demonstrou interesse no estudo. Na verdade, seus gestores estariam envolvidos em um grande projeto internacional e não teriam tempo para conceder entrevistas. Uma das produtoras de conteúdo para TV, apesar de 92 fazer parte do PSI BTVP, não se enquadrava nos critérios de seleção desse trabalho. No fim, para o segmento de cinema foram selecionadas a produtora Drama Filmes, e para o de TV paga, a Grifa Filmes, ambas sediadas no estado de São Paulo. 3.4. PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DE DADOS Primeiramente, é importante destacar a diferença entre pesquisa qualitativa e dados qualitativos, um equívoco muito comum. De acordo com Eisenhardt (2007) e Yin (1994) a pesquisa qualitativa pode usar tanto dados qualitativos, como os depoimentos de uma entrevista, quanto quantitativos, como o faturamento e crescimento anual em vendas de determinada empresa ou setor. O tratamento desses dados, e as análises extraídas deles, é que vai determinar se a pesquisa é do tipo quantitativa ou qualitativa (MALHOTRA, 2011). Alguns autores, inclusive, como Baxter e Jack (2008), Creswell (2003) e Gilmore e Coviello (1999), recomendam o uso de métodos combinados, que permitam a coleta e análise sistemática e cruzada tanto de dados qualitativos quanto quantitativos, o que viabilizaria resultados mais robustos ou até generalizáveis, do ponto de vista teórico. (PERRY, 1998) No presente estudo, para a coleta de dados foram utilizadas múltiplas fontes, primárias e secundárias, como será detalhado no subitem 3.4.1. O uso de múltiplas fontes permite a triangulação dos dados obtidos, possibilitando assim análises e validações mais consistentes para o estudo qualitativo (CRESWELL; MILLER, 2000; EISENHARDT, 1989; GHAURI, 2004; YIN, 1994). Na pesquisa qualitativa pura, Creswell (2003) recomenda seis procedimentos diferentes para coleta de informações: entrevistas, observação direta, observação participativa, registro textuais e audiovisuais em arquivos, documentos e objetos físicos. Por diversas razões, incluindo restrições de acesso, tempo e orçamento, no presente trabalho foram usados basicamente três procedimentos: entrevistas, registros em arquivos e documentos. 93 Embora esse estudo tenha se iniciado com a coleta de dados secundários em registros e documentos diversos, “eles não costumam ser suficientes para ganhar um entendimento mais aprofundado acerca da internacionalização das organizações pesquisadas” (ANDERSSON, 2011, p. 633). No entanto, eles permitiram aprimorar os questionamentos que seriam conduzidos posteriormente durante a etapa de entrevistas, principalmente no que concerne a especificidades do setor audiovisual (DUBOIS; GADDE, 2002; GHAURI, 2004). Assim, a coleta subsequente de dados primários através de entrevistas semiestruturadas e em profundidade foi essencial para a condução do trabalho (Cf. YEUNG, 1995), por permitir elaborar perguntas diretamente relacionadas aos tópicos da pesquisa e, adicionalmente, observar os vieses perceptuais dos entrevistados (YIN, 1994). Tais vieses, muito provavelmente, influenciam na tomada de decisões estratégicas em seus negócios (MAX; MOORE, 2009). A entrevista semiestruturada, a seu torno, caracteriza-se pelo “discurso livre orientado por algumas perguntas-chave” (MATIAS; ALEXANDRE, 2006, p. 54). Por meio dessa técnica, é possível cobrir o leque de questões inicialmente levantadas no roteiro (YIN, 1994) e, através das opiniões emitidas pelo próprio empreendedor, abordar outros tópicos importantes ao longo da entrevista que, por ventura, não tenham sido planejados a priori (MELLO, 2009). 3.4.1. Fontes de Dados Primários e Secundários Em relação ao estudo setorial (subcapítulo 1.4) e às duas empresas pesquisadas, as evidências foram coletadas de fontes primárias e secundárias, conforme o Quadro 2 adiante: 94 Quadro 2 - Fontes de Dados Primários e Secundários Objetivo Estudo setorial Fontes de dados Exemplos Secundárias Artigos, sites de notícias e relatórios de consultorias, entidades governamentais e de classe, como: ABI, Ancine, Apex-Brasil, IBGE, MPAA, MinC, Nações Unidas, Unesco, etc. Primárias Entrevistas em profundidade com os fundadores das empresas Secundárias Sites das empresas, institucionais, de notícias, blogs e redes sociais, como: Valor, Folha de São Paulo, O Globo, Ancine, Facebook, Nupin, SibiSite, etc. Estudos de Casos As entrevistas em profundidade foram realizadas com os sócios fundadores das empresas, conforme detalhado no Quadro 3 a seguir, e foram complementadas posteriormente por contatos telefônicos ou por e-mail, para dirimir eventuais dúvidas que tenham surgido durante a etapa de transcrição. Aliás, ambas as entrevistas foram gravadas em áudio, com a devida anuência dos entrevistados, e posteriormente transcritas para texto. Quadro 3 - Entrevistas com os Fundadores da Drama Filmes e Grifa Filmes Empresa Data Duração Entrevistado Posição Tipo de entrevista Drama Filmes 12/07/2013 4h10min Renato Ciasca Sócio Pessoal Grifa Filmes 16/07/2013 1h51min Fernando Dias Sócio Via Skype 3.4.2. Análise dos Casos De acordo com Eisenhardt (1989) e Yin (1994), a análise de casos múltiplos divide-se em dois estágios básicos: a análise individual e a análise cruzada. Além disso, estrategicamente, Yin (1994) sugere que a análise dos dados pode ser baseada tanto na descrição do caso como em proposições teóricas. Para o presente estudo, a fim de compreender de forma mais abrangente o fenômeno pesquisado, foram seguidas ambas as estratégias. 95 Numa primeira etapa, os casos foram redigidos individualmente. Buscou-se seguir uma ordem cronológica dos fatos e do processo de internacionalização, o que permitiu uma visão holística de cada empresa dentro do contexto analisado (GHAURI, 2004), sem inverter relações de causa e efeito (COVIELLO; MARTIN, 1999). Com isso, foi incorporada, também, a variável tempo como uma dimensão chave na análise das evidências levantadas (COVIELLO; JONES, 2004). Em seguida as informações foram organizadas por grandes temas, a fim de buscar sistematizar o processo analítico (DUBOIS; GADDE, 2002). Posteriormente, os casos individuais foram submetidos às empresas para aprovação. Para minimizar possíveis vieses de percepções individuais (MAX; MOORE, 2009), sugeriu-se às produtoras que a revisão ficasse a cargo de um segundo sócio ou gestor, que não o entrevistado. Assim, cada uma das produtoras entrevistadas teve uma última oportunidade de analisar informações incorretas ou incompletas antes da publicação. Interessante notar que algumas alterações foram propostas pelos revisores, na redação final dos casos. Aliás, segundo Creswell (2000), essa checagem pelos membros que participaram do estudo é uma etapa crucial a fim de validar a credibilidade da pesquisa. Finalmente, a quarta etapa consistiu na análise cruzada dos casos, em que se buscaram similaridades e diferenças entre os processos de internacionalização das duas empresas, Drama Filmes e Grifa Filmes, de acordo com as categorias ou dimensões levantadas no estudo (GHAURI, 2004). Ressalta-se que não foi feita a análise individual recomendada por Yin (1994) por se tratar apenas de dois casos, para os quais a riqueza analítica consiste justamente em comparar ao outro. (EISENHARDT; GRAEBNER, 2007; EISENHARDT, 1989) Essa técnica, combinada com a triangulação das evidências de diversas fontes Eisenhardt (1989), permite chegar ao que Yin (1994) denominou coincidência de padrões (ou pattern-matching, do inglês). Trata-se de relacionar as diversas 96 evidências dos casos com as abordagens teóricas propostas, a fim de gerar proposições testáveis que as confirmem ou desafiem-nas em algum aspecto (GHAURI, 2004). 3.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO DE PESQUISA Mesmo com todos os cuidados na coleta e análise de dados, existem algumas limitações inerentes à própria metodologia de pesquisa escolhida (DIAS; SILVA, 2009) ou ao contexto em que o estudo é realizado (MELLO, 2009). Na pesquisa qualitativa, as pressuposições do pesquisador tenderiam a afetar a coleta de dados, uma vez que “as perguntas feitas aos informantes podem, muitas vezes, determinar o que eles responderão”. (DIAS; SILVA, 2009, p. 47) Adicionalmente, as análises e resultados poderiam ser influenciados por vieses perceptuais tanto do entrevistado quanto do entrevistador, embora Yin (1994) argumente que vieses possam ocorrer até em métodos de coleta com foco mais quantitativo, como os questionários. A propósito, a entrevista, um dos principais métodos de coleta de dados para o presente estudo, contém suas próprias limitações. O entrevistado pode não estar motivado ou mesmo preparado para responder às perguntas (MATIAS; ALEXANDRE, 2006). Além disso, ele pode se sentir inclinado a não dizer a verdade, caso perceba que suas respostas possam “ter consequências sociais, pessoais ou até profissionais” (DIAS; SILVA, 2009, p. 40). Em relação às perguntas mais abertas do roteiro, as desvantagens são ainda maiores, já que dois pesquisadores diferentes poderiam entrevistar uma mesma pessoa e obter resultados sensivelmente distintos. (DIAS; SILVA, 2009) Como se entrevistou apenas um sócio de cada empresa, é possível que alguns resultados estejam carregados de vieses de opinião individual (EISENHARDT; GRAEBNER, 2007; MAX; MOORE, 2009). Procurou-se minimizar essa 97 limitação sugerindo que a revisão do caso fosse efetuada por outro sócio ou gestor da empresa, que não aquele previamente entrevistado (CRESWELL; MILLER, 2000). Ademais, os resultados de estudos de casos específicos não poderiam ser generalizados para outras empresas, mesmo dentro de determinado setor (GHAURI, 2004). Porém, Yin (1994) ressalta que a pesquisa qualitativa busca uma generalização analítica, e não estatística. Em outras palavras, mesmo que não seja viável generalizar para outras empresas do mesmo setor, é possível chegar a proposições que possam servir de base para estudos empíricos futuros. 98 4. DESCRIÇÃO DOS CASOS A seguir são descritos os casos das empresas Drama Filmes, uma produtora independente do segmento de Cinema, e Grifa Filmes, uma produtora focada no mercado de TV paga2. 4.1. DRAMA FILMES (CINEMA) 4.1.1. Introdução Fundada em São Paulo no ano de 1998 por Beto Brant, Renato Ciasca e Bianca Villar, a Drama Filmes nasceu com o propósito de lançar sua primeira produção independente, o longa metragem “O Invasor”. De lá para cá produziu outros filmes, participou de festivais renomados e angariou diversos prêmios dentro e fora do Brasil. O Quadro 4 lista a filmografia até 2013: Quadro 4 - Filmografia da Drama Filmes 2 Ano Título Direção 2001 O Invasor Beto Brant 2005 Crime Delicado Beto Brant 2005 Corrida de Aventura – Perrengue na Chapada Renato Ciasca e Eduardo Quintino 2007 Cão sem Dono Beto Brant e Renato Ciasca 2009 O Amor Segundo B. Schianberg Beto Brant 2011 Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios Beto Brant e Renato Ciasca 2013 A Nave – Uma Viagem com a Jazz Sinfônica de São Paulo Luiz Otavio de Santi Casos preparados pelo mestrando Václav Soukup Filho e pelo Prof. Renato Cotta de Mello, do Instituto Coppead de Administração da UFRJ, como parte de projeto de pesquisa sobre Internacionalização de Empresas de Serviços realizado pela PUC-Rio com o patrocínio da Apex-Brasil. 99 Em 2014 estava em fase final de comercialização, via edital, o projeto de ficção “Sangue Azul”, que começou a ser filmado em novembro de 2012, com direção de Lírio Ferreira. A obra, orçada em cerca de U$2 milhões, é toda narrada em locações da ilha de Fernando de Noronha. 4.1.2. Histórico da Empresa Beto Brant e Renato Ciasca começaram a trabalhar juntos em 1982, quando se conheceram no curso de cinema da FAAP. Ainda na faculdade, roteirizaram, dirigiram e produziram juntos o curta “Aurora” (1986), sua primeira criação em parceria, que foi premiada no Festival de Brasília de curta-metragem e no Festival de Gramado (RS) nas categorias melhor fotografia e montagem. A fundação da produtora Drama Filmes, no entanto, só ocorreu em 1998, para a produção do filme “O Invasor”, por Beto Brant, Renato Ciasca e Bianca Villar. Bianca, porém, saiu da sociedade em 2012 para fundar sua própria produtora, a Biônica Filmes. De acordo com Renato Ciasca, o que motivou os sócios a abrir a empresa foi a possibilidade de prescindirem dos serviços de outras produtoras, e serem, eles mesmos, os produtores de seus filmes. A Drama Filmes é uma típica produtora independente de conteúdo para o cinema: uma empresa pequena em que os sócios são responsáveis diretamente por grande parte das atividades. Quando perguntado sobre seu cargo na firma, Renato explicou: “É uma empresa bem pequena, eu sou diretor de cinema, sou produtor, sou roteirista, sou boy, secretário, sou tudo”. A empresa dispõe apenas de um funcionário fixo, que cuida da parte financeira da produtora e uma assistente de produção freelancer. Além disso, conta com o apoio de um contador e de um advogado, ambos terceirizados. No exterior, a empresa não tem funcionários fixos ou freelancers. Renato afirma que costuma trabalhar por meio de alianças, a maioria formada a partir de redes de contatos pessoais, para conduzir suas atividades internacionais. 100 O produtor diz que o faturamento anual não passa dos R$500 mil, dentro e fora do país, sendo que quase 30% das receitas seriam provenientes das vendas internacionais. Os principais serviços comercializados pela empresa, em ordem decrescente de importância, são a produção e venda de seus filmes, participação em premiações de festivais, nacionais e internacionais, e palestras que Renato e Beto ministram no Brasil e no estrangeiro. Em relação ao capital intelectual, Ciasca destaca o tripé criativo da Drama Filmes composto por Beto, normalmente na direção dos filmes, Renato, como produtor e roteirista, e Marçal Aquino, como escritor e co-roteirista. Aliás, vários livros escritos por Marçal foram adaptados para o cinema e são a base de parte dos filmes produzidos pela empresa. Em relação à concepção de produto, carregada de crenças e convicções dos sócios Beto e Renato, um ponto considerado fundamental é o final aberto. Eles querem induzir o espectador a uma reflexão sobre cada obra que constroem. “Queremos criar uma dúvida, um sentimento vivo que caminha com você para fora da sala escura”, pontua o produtor. O primeiro longa-metragem produzido pela empresa, “O Invasor”, foi lançado em 2001 e distribuído comercialmente na França, Reino Unido, Argentina, Polônia, Espanha, Austrália, Israel, conquistando diversos prêmios nacionais e internacionais, conforme o Quadro 5: Quadro 5 - Premiações do Filme "O Invasor" Ano Prêmio 2001 Festival de Brasília (2001): melhor diretor, melhor trilha-sonora e ator. 2002 Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano de La Habana: 3º lugar para melhor diretor. 2002 Festival de Cine de Bogotá: indicação para melhor filme. 2002 Miami Brazilian Film Festival: melhor fotografia, melhor sonoplastia, melhor diretor, melhor trilha sonora, melhor atriz coadjuvante. 2003 Grande Prêmio Cinema Brasil: melhor trilha sonora, melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante. 2003 Troféu APCA (Associação de Produtores de Cinema e Audiovisual): melhor filme. 101 Os filmes “Crime Delicado”, “Cão sem Dono” e “Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios” também receberam diversos prêmios no Brasil e no estrangeiro. Além disso, Brant e Ciasca receberam inúmeros prêmios e troféus no decorrer de suas carreiras como cineastas. 4.1.3. Perfil dos Dirigentes Beto Brant nasceu em 1964, em Jundiaí, interior do estado de São Paulo, tendo se graduado em cinema pela FAAP (1987). É diretor de cinema. Faz parte do que se convencionou chamar “geração anos 90”, cineastas que iniciaram suas trajetórias no formato de curta duração como Eliane Caffé, Tata Amaral, Lírio Ferreira, Paulo Caldas, Cao Hamburguer, entre outros e, apenas posteriormente fizeram suas estreias no longa-metragem. Antes de fundar a Drama Filmes já havia dirigido vários curta-metragens e dois longa-metragens (“Os Matadores” e “Ação entre Amigos”), além de diversos videoclipes. Renato Ciasca é produtor e roteirista. Nascido em 1961, graduou-se em cinema pela FAAP. Começou a carreira em 1982, quando ainda estava na faculdade, estagiando em produtoras de filmes para propaganda. Sua filmografia inclui tanto filmes de curta quanto de longa-metragem, nos quais se dividiu nas funções de diretor, roteirista, produtor e diretor de produção. Paralelamente à sua atuação na área cinematográfica, também atuou na área de publicidade, produzindo comerciais e dirigindo videoclipes. Dentro da Drama Filmes, Renato é quem costuma viajar pelo mundo, trazendo ideias e inspirações para suas criações. Fez cursos de idiomas no exterior e fala com fluência inglês e espanhol. O cineasta acrescenta: Comecei a perceber que, quanto mais eu viajava, mais as pessoas gostavam de mim e do meu trabalho [como produtor]. Porque eu voltava, obviamente, mais maduro, com o conhecimento de uma nova língua, da cultura de outro país, o que realmente deixa as pessoas mais interessantes, não é? Comecei em 88 nos EUA, mas, depois, fui para Austrália, Tailândia, Índia, África do Sul, França e Itália. 102 4.1.4. Processo de Internacionalização Vários motivos levaram a Drama Filmes a se internacionalizar: desejo dos sócios, influências de suas redes de relacionamento, experiências anteriores com curta-metragem e sucesso de público e crítica de seu filme “O Invasor”. Haveria também um desejo de promover o Brasil no exterior, conhecer novas plateias, interagir com o espectador estrangeiro, trocar experiências: Nós vamos lá defender o Brasil. Nossos filmes tratam do Brasil. Eu lembro com [o filme] “O Invasor”, em Los Angeles, fiquei 45 minutos falando para uma plateia de quase 900 pessoas que não saiu da sala. Em termos de influências, a produtora Sara Silveira parece ter sido alguém que pode ter inspirado a Drama no seu processo de internacionalização: Sara Silveira tem um histórico de exterior muito avançado. Como ela morou muitos anos na França, conheceu pessoas importantes ligadas à área na Europa e assim levou muitos filmes de jovens artistas para fora, principalmente para Cannes. Ela nos incentivou muito. A experiência que Beto e Renato adquiriram nas décadas de 1980 e 1990, com a produção de curta-metragem, foi também uma fase importante, no que se refere a sua preparação para atuar em mercados estrangeiros. O segundo curta que fizemos, “Dovè Meneguetti”, nos levou a participar de festivais internacionais. Beto viajou com o filme para vários lugares. “Jó”, nosso terceiro curta, também participou de vários festivais. Isso foi no final da década de 80, comecinho de 90. E quando fizemos “Os Matadores” 3, o primeiro longa, estávamos totalmente prontos pra encarar qualquer plateia. Tanto que, a partir daí, acabamos viajando bastante com os filmes. O sucesso nacional e principalmente internacional do filme “O Invasor” – já com a Drama Filmes – sedimentou, de vez, a vocação dos dois cineastas para o mercado internacional. De acordo com Renato, “o sucesso do filme foi muito maior no exterior do que no Brasil”, tendo sido vendido para França e para vários outros países da Europa, além de Argentina e Israel. 3 Obra realizada antes da criação da Drama Filmes, em 1997, pela mesma dupla de cineastas. 103 Em Berlim, “O Invasor” serviu como um chamariz da Drama, para que a empresa conseguisse vender outros filmes de seu portfólio. Nos EUA, a empresa vendeu os direitos da obra para que a produtora Lucky Monkey pudesse fazer uma refilmagem da trama. Questionado, Renato disse que os filmes da produtora já foram comercializados em mais de 15 países. Finalmente, foi após o sucesso mundial de “O Invasor” que Beto Brant foi convidado pela primeira vez para Cannes, em 2003, pelos organizadores do evento, conforme relata Renato Ciasca: E nesse momento o Beto Brant, como diretor-artístico, foi convidado para ir para Cannes. Pegaram 20 jovens diretores do mundo e disseram: ‘Fica aí. Não precisa fazer nada, mas assista aos filmes’. 4.1.5. Estratégias ligadas à Internacionalização No entender dos sócios da Drama, o modo mais importante para promover e distribuir suas obras no estrangeiro é por meio da participação em Festivais Internacionais de Cinema. É uma forma pela qual distribuidores do mercado externo buscam novidades para seus catálogos de filmes e para outros festivais. Esses eventos também são uma oportunidade para estabelecer alianças fora do Brasil, como explicou Renato: Normalmente os donos dos festivais convidam colegas, que são donos ou “olheiros” de outros festivais, para virem ao seu festival e pagam passagem. Na América Latina, tem uma colombiana ligada ao festival de Toronto que fica rodando, é uma menina super gente boa. Então ela vê um monte de filme e faz uma seleção. Se o seu filme está dentro do perfil daquele festival, eles lhe convidam. Fomos muitas vezes para Toronto assim. Ainda de acordo com Ciasca, apesar de haver milhares de festivais de cinema pelo mundo, existem alguns que são vitrines importantes para a exposição de obras inéditas para o mundo. Em ordem decrescente de importância, seriam eles os festivais de Cannes (França), do qual a Drama Filmes ainda não concorreu com longas de sua filmografia, o de Berlim (Alemanha), para o qual levaram o filme “O Invasor” e o de Sundance (EUA), no qual receberam o prêmio de melhor filme latino-americano para “O Invasor”. 104 Os festivais de médio porte também oferecem uma janela interessante para a exibição de obras inéditas. Embora não tenham a mesma visibilidade dos grandes festivais, gozam de relativo prestígio no mercado mundial de cinema. Já fomos pra festivais tipo B, como os de Locarno (Suíça), San Sebástian (Espanha), Toronto (Canadá) e Rotterdam (Holanda). E quando você vai para um festival desses, tem muita gente vendo. A comunicação da Drama, para promoção de seus filmes no exterior, está fortemente relacionada à participação em festivais internacionais e nos eventos viabilizados pela Apex e pelo programa Cinema do Brasil. Um dos diferenciaischave que a empresa construiu para sua promoção está calcado no prestígio do diretor Beto Brant, desenvolvido ao longo dos anos dentro e fora do Brasil. Renato comenta que “nos festivais internacionais e rodadas de negócios, são procurados para fazer negócios graças à reputação de Beto Brant”. Por outro lado, embora a Drama faça uso frequente de alianças na forma de coproduções nacionais, a fim de viabilizar seu trabalho no Brasil, ela nunca participou de coproduções internacionais. A produtora já recebeu propostas e tentou algumas vezes firmar alianças no estrangeiro, mas essas tentativas nunca foram adiante. Renato argumenta ainda que a Drama não participa de coproduções internacionais porque, a seu ver, trata-se de “um processo demorado e trabalhoso”. São geradas complexidades contratuais e de trabalho, por serem equipes multiculturais e que falam dois, às vezes três idiomas diferentes, dentre outras dificuldades. Ele reconhece as vantagens de uma aliança com produtores de outros países, em relação aos recursos financeiros que podem ser levantados e “por a obra se tornar uma produção binacional, ou até multinacional”. Porém, destaca as dificuldades burocráticas impostas pela Ancine, à hora de analisar um contrato de coprodução internacional, como um desmotivador para usar este tipo de mecanismo em suas criações. 105 O outro modo de entrada no mercado internacional mencionado por Renato Ciasca foi a opção de venda (option), como ocorreu no caso do filme “O Invasor” para a produtora norte americana Lucky Filmes em 2003. A opção de venda basicamente gera um direito ao comprador de refilmar a produção adquirida. Assim, os principais modos de entrada usados pela Drama Filmes para divulgar suas obras internacionalmente são descritos no Quadro 6: Quadro 6 – Modos de entrada em mercados estrangeiros da Drama Filmes Objetivo Modo de entrada usado Promoção e distribuição de filmes Festivais Internacionais de Cinema Venda de direitos autorais para refilmagem Option Sempre que possível, a Drama prefere trabalhar junto com o distribuidor, discutindo a elaboração do pacote de ações montado para promover o filme junto aos exibidores em potencial, como cartaz do filme, artes gráficas, cópias, trailers, entre outros. A produtora gosta de participar desse processo para que o material promocional reflita a realidade do filme, e não sirva apenas como chamariz de vendas para salas de cinema ou para atrair espectadores. Vale destacar, em relação ao crescimento no mercado externo, que a Drama Filmes não pensa em abrir escritório no exterior, conforme afirmou Ciasca: Eu não quero abrir um escritório no exterior. Nem aumentar o daqui de São Paulo. Não que não possamos ser como a Gullane, a Conspiração, a O2. Podemos ser iguais a qualquer uma, mas nós nunca quisemos. Queremos ficar assim. Quanto ao aprendizado da empresa obtido em suas incursões internacionais, Renato considera que o maior aprendizado foi o amadurecimento da empresa e dos sócios. No seu entender, a internacionalização reforçou o posicionamento da empresa, de dialogar com o público em diversos países, e trouxe profundo enriquecimento pessoal, por meio do contato com culturas, festivais, filmes e realidades diversas. 106 Em sua opinião, erros e acertos têm valor no processo de aprendizado da produtora. O único erro que não cometeria novamente seria levar um filme sem estar completamente pronto, só para não perder o prazo de inscrição da obra em um festival, como relembra abaixo: Você tem até o dia 30 do mês para mandar, então o som que você pretendia fazer com qualidade 5.1 surround não está pronto ainda. E você manda o filme com som mono. Aí o cara vê e diz: ‘Que horror de filme’. E se o som estivesse perfeito diria: ‘Nossa, que filme bom!’. 4.1.6. GRIFA FILMES (TV) 4.1.7. Introdução A Grifa Filmes tem como foco a produção de documentários para o mercado de televisão doméstico e internacional. Especialista em grandes projetos e séries mundiais, tem seus títulos distribuídos nas mais importantes emissoras de televisão do mundo, como Discovery, National Geographic, Fox, NHK, Arte, France 3 e 5, CBC, Record, TV Brasil, Multishow, GNT, entre outras. O sucesso alcançado com suas produções colocou a empresa como a produtora de documentários mais premiada do Brasil, que continua desenvolvendo e produzindo grandes filmes para o mercado internacional. Por exemplo, a aventura “No caminho da Expedição Langsdorff” ganhou o Pitching International do canal Discovery e foi distribuída pela Discovery International e France 3 para mais de 100 países; a série wildlife “Animais do Brasil’, produzida para o canal National Geographic, foi campeã de audiência desse canal durante sua primeira semana de exibição. A mais recente distinção então recebida pela Grifa Filmes foi o prêmio do Júri Popular de Melhor Longa Documentário no Washington D.C. International Film Festival de 2013. Com o título “Quem se Importa”, é um documentário de longa metragem sobre empreendedores sociais no Brasil e ao redor do mundo. 107 4.1.8. Histórico da Empresa A Grifa Filmes foi fundada em 1996 pelos irmãos Fernando e Maurício Dias. Desde seu início, a empresa teve um posicionamento muito bem definido, como uma produtora de documentários que retratem aspectos diversos do Brasil para o mundo, para serem exibidos em grandes canais de TV internacional, principalmente TV por assinatura. Nas palavras de Fernando: Meu irmão e eu fizemos a produtora pensando muito na área de documentário e na área internacional. E aí tem algumas coisas que foram importantes como, por exemplo, termos sido uma das primeiras produtoras brasileiras nos mercados internacionais. Além de terem claro o que gostariam que sua empresa fosse, os irmãos Dias sabiam exatamente o que não gostariam que o empreendimento se tornasse: Nós não planejamos ser uma produtora muito grande. Preferimos ser mais uma boutique de grandes projetos do que ter uma produtora que faça [muitos] projetos no varejo. Preferimos ter grandes projetos de alto valor agregado do que fazer uma produtora muito grande. Temos medo de perder o controle da qualidade de produção. De forma consistente com este posicionamento, em relação ao número de funcionários, a empresa dispõe de apenas seis colaboradores diretos, recorrendo, com muita frequência, aos serviços de freelancers, que são alocados aos diversos projetos em várias partes do país e do mundo. Há ainda a figura dos “freexos” (um meio termo entre freelancers e fixos), que são funcionários temporários alocados em projetos mais longos, podendo ficar até dois anos na empresa. Nas gravações, e dependendo do porte do projeto, pode haver mais de 10 colaboradores envolvidos diretamente com a produção no set de filmagem e bastidores. A empresa não tem funcionários no exterior. Quando a Grifa realiza projetos fora do Brasil, conta com o apoio de colaboradores das produtoras internacionais, com as quais fecha contratos para a coprodução de suas obras. 108 4.1.9. Perfil dos Dirigentes Diretor e Produtor Executivo da Grifa Filmes, Maurício de Souza Dias é formado em cinema pela FAAP e iniciou a carreira trabalhando no SBT. Em seu currículo consta a produção e a direção de mais de 60 filmes. Seu documentário “No caminho da Expedição Langsdorff” foi distribuído pela Discovery International e France 3 para mais de 100 países. Parte de sua filmografia inclui o documentário “Baleias em Abrolhos” para Animal Planet, a série “Animais do Brasil’ para National Geographic e o documentário “O Brasil da Pré-História”, este último sendo exibido em mais de 50 países. Entre seus últimos trabalhos como Diretor estão a série internacional Extinções - Onça Pintada, uma coprodução Brasil/França/Cingapura e Canadá com grande audiência na TV France 5 e o especial de Natal 2010 da TV Record "Nascemos Para Cantar”. Fernando Dias, seu irmão, sempre atuou como produtor executivo dos projetos realizados. Nascido em 1969, é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo, e começou sua carreira no Jornal da Tarde de SP. Foi presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPITV) por oito anos, tendo sido responsável pela criação da área internacional e pelo desenvolvimento do projeto internacional da associação. Tem papel ativo no desenvolvimento da exportação da produção independente brasileira para o mercado internacional. Tem sido frequentemente convidado a proferir palestras em feiras e festivais internacionais do setor. 4.1.10. Processo de Internacionalização As atividades internacionais da Grifa tiveram início na América Latina em 1997, por meio de solicitações de conteúdo regional do canal Discovery, que estava entrando no segmento de TV por assinatura da região. Em seguida, a Grifa teve oportunidade de participar de uma concorrência internacional para uma produção mundial do Discovery, sobre os 500 anos de descobrimento do 109 Brasil. Ganhou a concorrência e, então, teve a chance de produzir seu primeiro documentário com exibição global. Em seguida, começou a conquistar os mercados europeus, com destaque para França, Alemanha, Inglaterra, e posteriormente Canadá e Japão. A França é o principal mercado da Grifa Filmes, tanto em volume de vendas, quanto de parcerias para coproduções internacionais. Em seguida vêm outros países da Europa, Canadá, Japão e países da América Latina. Regionalmente, a América Latina continua sendo um mercado muito importante para a Grifa. Entre os motivos que levaram os dirigentes da Grifa à internacionalização estava a percepção do tamanho do mercado internacional. Neste sentido, Fernando Dias declarou: É um mercado enorme e não tinha a participação de brasileiros. Existiam apenas duas produtoras brasileiras. Para você ter uma ideia, já devia ter umas sete mil produtoras internacionais, e só duas brasileiras. Mesmo entre as TVs abertas, só a Globo estava presente, as outras emissoras não. E nós começamos a ter um relacionamento com os canais [estrangeiros], que estavam vindo para o Brasil. Além disso, algumas pessoas importantes ajudaram a impulsionar o processo de internacionalização da Grifa Filmes: Eu considero que houve uma pessoa importante na época, para nós, a Beth Carmona, que foi diretora da TV Cultura e foi uma das diretoras da Discovery. Ela nos incentivou muito a buscar esse mercado. Algumas pessoas do mercado internacional também foram importantes: o Yves Genault, que é um francês. Naquela época, a França fazia muitos eventos na América Latina, e eles nos convidaram para alguns, para tentar aproximar a América Latina da Europa. Então, o Yves foi muito importante na época. Havia também uma janela de oportunidade com a abertura do Brasil à concorrência de emissoras estrangeiras durante a década de 1990. Mesmo que a Grifa não tivesse ainda muita experiência com o mercado externo, os dirigentes julgaram que deveriam apostar na internacionalização: Acho que foi isso na época em que realmente não se tinha apoio, foi meio “com a cara e a coragem”. Mas foi um momento oportuno para o mercado. Foi um momento em que o Brasil estava abrindo a TV a cabo também para o mercado internacional. 110 Fatores internos desfavoráveis ao crescimento de produtoras independentes, no âmbito do mercado doméstico, também pesaram na decisão de internacionalização da Grifa, como relatou Fernando Dias: Fazer documentários no Brasil não tinha, à época, muito futuro. Não se tinha para quem vender. A Globo, a Record, o SBT não compravam, ninguém comprava. Estava começando a TV a cabo e nós vimos uma oportunidade de poder mostrar outra realidade lá fora. Esta “outra realidade lá fora” também casava muito bem com o posicionamento que os dirigentes da Grifa tinham em mente para seu negócio: A gente até brinca! Foi uma questão um pouco nacionalista mesmo. Falava-se de tanta coisa do mundo afora, tantos filmes sobre a África, tantos filmes sobre a Europa, tantos filmes sobre a Ásia, e tinha pouca coisa sobre o Brasil. O Brasil era muito pouco conhecido lá fora. E até hoje, você chega para uma criança de sete anos e pede para ela falar o nome de cinco animais, e ela fala de cinco animais africanos, é difícil ela falar de algum animal brasileiro. Então ela vai falar da girafa, vai falar do elefante, vai falar do leão... com sorte ela fala também da onça, mas o resto não fala... Então, tínhamos esse objetivo, de também mostrar um pouquinho do Brasil lá fora. Em relação ao mercado doméstico, o próprio ambiente político-legal não era tão favorável ao crescimento das produtoras independentes, mesmo com as novas leis de proteção e fomento ao audiovisual, em vigor desde 2011 no país. Além da implementação tardia das regras no Brasil, há muitos anos o cenário internacional era diferente nesse sentido. Como observou Fernando Dias: Os países têm suas regras, a União Europeia tem as suas, o Canadá, os Estados Unidos, e agora o Brasil, com essa nova lei4, pela primeira vez também criou as suas cotas para conteúdo brasileiro. Apesar de terem feito todo esse alvoroço aqui no Brasil, isso já existe no resto do mundo há mais de trinta anos, e muito mais rígido do que no Brasil. Porque aqui é restrita à TV a cabo, e, no resto do mundo, é para TV aberta também. E o percentual de exibição de conteúdo nacional em outros países é muito maior do que aqui no Brasil. 4 Lei 12.485/2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011- 2014/2011/Lei/L12485.htm. 111 Por fim, ao mirar mercados estrangeiros, a empresa estaria viabilizando uma demanda potencial muito maior do que se ficasse restrita ao Brasil: Quando você entra em um processo que é distribuir filme mundialmente em um canal desses [Discovery, France 3], estamos falando de um público de, sei lá, 600 milhões de pessoas. É muita gente! É um numero de espectadores muito maior do que você teria com a exibição só no Brasil, maior até do que qualquer longa metragem ou qualquer coisa que passa na rede Globo, no Brasil. Além disso, a concorrência, em um mercado tão gigantesco, não incomoda: Os concorrentes são poucos, na verdade. O mercado é muito grande, então talvez nem se possa falar de concorrentes. O nosso segmento é bastante colaborativo, diferente do cinema, onde o ambiente é mais competitivo. As outras produtoras brasileiras [de conteúdo para TV] que fazem algumas coisas lá para fora são a Giros, a Conspiração e a Cinevideo. 4.1.11. Estratégias ligadas à Internacionalização Para a Grifa Filmes a estratégia de entrada mais importante em mercados internacionais é a coprodução internacional. Aliás, Fernando destaca as vantagens desse modo de entrada, inclusive como um meio de promoção do Brasil no exterior: As coproduções internacionais de filmes documentários criam a oportunidade de expor a imagem do país no mundo. O valor desse conteúdo vale milhões de vezes mais que um anúncio que a Embratur possa comprar [em uma TV no exterior]. Para exportação de conteúdo pronto, Dias comenta que basicamente terceiriza a venda para distribuidoras internacionais, que repassam o direito de exibição das obras a canais de TV estrangeiros, mediante o pagamento de uma comissão à Grifa, negociada previamente. Como ainda não haveria formas transparentes de acompanhar o desempenho das vendas internacionais, acaba sendo uma relação em que a confiança desempenha papel importante. Outro ponto destacado foi a diferença entre feiras e festivais internacionais do audiovisual. A participação em feiras internacionais, ao menos para a Grifa Filmes, é mais importante do que em festivais: “Na verdade o mais importante para nós é feira, mais do que festival; porque festival é ‘oba-oba’, feira é 112 negócio.” Para o dirigente, os festivais são mais focados na exibição de novos filmes, para o público, mas sem a intenção direta de venda. Já as feiras são eventos com características business to business (B2B), focadas na negociação entre empresas do setor. A empresa utiliza ainda um modo de entrada particular no mercado internacional, denominado pitch. Seria uma espécie de concorrência internacional para angariar recursos financeiros, com o propósito de viabilizar a produção de uma obra audiovisual. Segundo Dias, este processo é resultado da iniciativa do cliente, que deseja selecionar prestadores de serviços para realizar um projeto audiovisual específico. O Quadro 6 resume a estratégia adotada pela Grifa Filmes para a escolha de modos de entrada em mercados estrangeiros, em função dos objetivos visados pela empresa. Quadro 7 - Escolha de modos de entrada em mercados estrangeiros da Grifa Filmes Objetivo Modo de entrada usado Produção de conteúdo para o mercado internacional Coprodução internacional Venda de filmes prontos para o mercado internacional Distribuidores internacionais Atender a pedidos de clientes (emissoras de TV internacionais) Pitching Os principais serviços comercializados pela empresa, tanto fora quanto dentro do Brasil, em ordem decrescente de importância no faturamento, são coproduções, com retenção de direitos autorais e patrimoniais, e produção de obras audiovisuais para terceiros, com retenção apenas de direitos autorais. Aliás, o foco em coproduções internacionais serve não apenas como modo de entrada e expansão em mercados internacionais, é também um mecanismo para contornar dificuldades para a obtenção de recursos financeiros oficiais para custear os projetos. No que se refere ao rateio dos recursos para coproduções, Fernando Dias esclareceu: “O método que o mercado utiliza é 113 geralmente 50% aqui, 50% lá fora. Porém, eu tenho projetos em que já alavanquei 70% do recurso fora do Brasil, e 30% no Brasil...” Enquanto a coprodução é um movimento recente no Brasil, já seria praticado há bastante tempo em outros países: Quando você vai para um país pequeno, quando você vai para a Dinamarca, para a Polônia, etc., tem que ter parceiros para produzir o conteúdo, porque não tem dinheiro suficiente para produzir sozinho. Então fora do Brasil já existia uma cultura de coprodução muito mais forte do que no Brasil, principalmente entre os pequenos [países]. No que diz respeito à distribuição, a Grifa Filmes adota diferentes estratégias para diferentes mercados. No caso da América Latina, a empresa acredita não valer a pena fazer uma distribuição país a país, canal por canal. Neste caso, ela prefere vender para canais que tenham atuação regional. Já para a Europa e Canadá, a venda é feita país a país, já que é muito difícil vender para um canal que vá exibir em toda a Europa. Mesmo assim, a realização de vendas segmentadas por canal, no caso desses países, é considerada rentável. A fim de lograr uma boa distribuição para seus produtos, sejam coproduções ou licenciamento de conteúdos prontos, a Grifa tenta, sempre que possível, negociar com grandes canais mundiais. Eles seriam uma espécie de porta de entrada para vários outros canais menores, funcionando como uma espécie de certificado de qualidade do conteúdo oferecido pela produtora: Você tem alguns canais que são os grandes canais mundiais. Tem a BBC [Inglaterra], os canais franceses, como France 3, France 2, France 5, A&E TV (EUA), NHK (Japão), Discovery... esses canais são meio como se fossem cabeças de chave. Se um canal desses entra em um projeto, vários canais menores entram quase que automaticamente, porque eles não são tão criteriosos na seleção dos projetos. Aí a pessoa da TV da Finlândia vem e fala, ‘esse projeto é da NHK’? Ele nem vê o projeto e já compra. Paralelamente, a coprodução internacional é vista como meio para que o conteúdo brasileiro seja exibido em TVs de outros países sem a resistência que as produções internacionais eventualmente enfrentam em determinados mercados, por causa de políticas de cotas e proteção ao conteúdo doméstico (barreiras não tarifárias). Potencialmente, quanto mais países estiverem 114 envolvidos em uma produção, maior será o número de espectadores potenciais a que o conteúdo estará exposto, como salientou Fernando Dias: Na França, há um percentual de conteúdo francês que tem que ser exibido na França, depois tem um percentual de conteúdo europeu que tem que ser exibido no canal francês, depois eles vão aos países com que eles têm acordo de coprodução – e eles não têm com o Brasil. O principal acordo de coprodução deles é com o Canadá, que também tem uma cota de conteúdo canadense que deve ser exibido na TV francesa, e depois é o resto do mundo. Então quando você entra nesta fórmula matemática, o resto do mundo fica insignificante. E como que você deixa de ser insignificante para ser alguma coisa nesses territórios? Fazendo a coprodução. Porque quando eu faço coprodução com a França, o conteúdo que eu fiz se torna também conteúdo francês. Outra característica da Grifa é pensar não apenas no produto em si, filme ou série para a TV, mas nas necessidades do cliente. Em outras palavras, ela não tenta fazer uma venda empurrada de seu produto – produzir um filme e depois sair à caça de possíveis clientes no mercado externo. Nos principais eventos internacionais do setor, ela assiste às palestras dos commissioning editors, responsáveis pelo slot de um canal, que expõem ao mercado o que estão procurando. Você tem uma figura na televisão que chama commissioning editor, e ele comanda o slot de um canal. Fazendo um paralelo, é como quem comanda o Globo Repórter. Ele sabe que durante 52 semanas ao ano ele tem que ter conteúdo. E ele já faz o planejamento. Então, nós temos que adequar nossos conteúdos às necessidades dos canais, porque senão eu vou perder meu tempo, certo? [...] O pessoal do canal fala: ‘Queremos filme de natureza, mas sem a presença humana’, ou ‘filme de natureza com a presença humana’... Nesse sentido, é muito importante estar “antenado” ao mercado, para não perder tempo em um projeto que ninguém vai querer. Não é porque o projeto ficou ruim, mas é porque ele foi feito no momento errado. No entanto, na visão do dirigente da Grifa, é comum não haver muito planejamento de atividades internacionais no segmento das produtoras independentes brasileiras, devido ao pequeno porte ou à falta de informações sobre os mercados externos. Normalmente, estas atividades acontecem ad hoc ou quando surgem oportunidades esporádicas. Em sua opinião, este é um diferencial da Grifa Filmes em relação a suas concorrentes brasileiras, já que busca um planejamento mínimo de suas 115 atividades no exterior. A empresa tenta fechar pelo menos um grande projeto por ano no mercado internacional, o chamado “Blue Chip”, cujo custo de produção situa-se acima de um milhão de euros. Assim, embora não especifique valores, Dias admite que o faturamento anual da produtora esteja bem acima de um milhão de dólares ao ano, porém abaixo de U$50 milhões. Além disso, o produtor afirma que atualmente cerca de 50% das receitas seriam provenientes das atividades comerciais no exterior. Em relação à presença em eventos internacionais, a Grifa participa anualmente das feiras internacionais MipTV e MipCOM, uma em abril e a outra em outubro, que acontece em Cannes na França. Participa também de uma feira focada em documentários, o Sunny Side of the Doc, em Rochelle, também na França. Há diversas outras feiras, mas essas são as principais, das quais a Grifa Filmes participa com mais assiduidade. Os Mips são mercados abertos, os maiores mercados do mundo para televisão. Nesses, segundo Fernando Dias, não há muito espaço para amadores ou novos entrantes do mercado: Nos Mips tem 16 mil pessoas. Lá você encontra todas as televisões, do mundo inteiro. Mas é um mercado para iniciados. Um mercado que é difícil ir para fazer os primeiros contatos. As pessoas vão lá para fechar negócios. Para iniciantes no processo de internacionalização, existem feiras menores, mas não menos importantes, como o Sunny Side (Rochelle), Real Stream (EUA), IDFA (Holanda), focado também em documentários, Annecy (França), focado em animações, dentre outros. Para promover seu conteúdo junto ao grande público, por sua vez, a Grifa utiliza um serviço de assessoria de imprensa, que divulga notas nos jornais e revistas de grande circulação sobre a exibição de novos filmes. Há ainda o site da empresa, com todos os projetos já executados, e, não menos importante, a propaganda boca a boca de quem assiste a seus filmes e séries e recomenda a outras pessoas. 116 5. ANÁLISE DOS CASOS Vivemos em um mundo no qual nossos objetivos e metas são planos altamente elaborados diante do incerto e, de fato, nossa vida está à mercê do acaso e de contingências inescrutáveis. Neste mundo onde nós fazemos os planos, é o destino que decide, e o resultado de várias de nossas ações depende de circunstâncias além de nosso controle. Portanto, a sorte está destinada a ter papel principal no teatro da vida humana. (IRWIN; DUNN; MICHAUD, 2013, p. 75) A Administração não é, ainda, uma ciência exata. Ela lida com o acaso e com as contingências de um mundo globalizado, em constante mudança e evolução (ABDELAL; TEDLOW, 2003; ANDERSSON; WICTOR, 2003). Por isso, as análises que serão feitas adiante são tentativas de compreender os processos de internacionalização da Grifa e Drama Filmes, à luz das metáforas e modelos trazidos pelas abordagens comportamentais de negócios internacionais. 5.1. ANÁLISE CRUZADA Apesar de algumas críticas que ainda persistem sobre uma ou outra abordagem, com o passar dos anos alguns autores verificaram que as Teorias Comportamentais são mais complementares do que contraditórias entre si. Nesse sentido, Autio (2005) destaca que há mais semelhanças do que divergências entre o Modelo de Uppsala e o Empreendedorismo Internacional, e que ambos se completariam. Johanson e Vahlne (2009) fizeram o mesmo ao incorporar os conceitos da Teoria de Redes ao M-U. Pettersen e Tobiassen (2010), por sua vez, buscaram conciliar supostas divergências que poderiam existir entre o M-U e a perspectiva Born Globals. Por fim, Coviello, McDougall e Oviatt (2011) selaram a união entre BG e o EI. Portanto segue adiante, em primeiro lugar, uma análise comparando os dois casos com cada abordagem teórica. Posteriormente, os paradigmas serão 117 conciliados, no capítulo de Conclusão, com o intuito de responder às perguntas de pesquisa. 5.1.1. Na Perspectiva da Escola de Uppsala O histórico das duas produtoras reflete a importância do conhecimento experiencial (JOHANSON; VAHLNE, 1977) dos empreendedores na trajetória e características de suas expansões para o estrangeiro. No entanto, há evidências, no transcorrer da entrevista, de que a Drama Filmes passou por um ciclo mais lento de amadurecimento antes de iniciar suas primeiras incursões internacionais. Ela levou 19 anos para amadurecer esse processo, desde os tempos da faculdade de cinema em 1982, quando Beto e Renato se conheceram, até a fundação da firma, em 1998 e a exportação de seu primeiro longa metragem, “O Invasor”, em 2001. As obras de curta metragem, como o filme “Jó”, também serviram como uma etapa intermediária nesse aprendizado gradual no início da década de 1990 (FORSGREN, 2002). A linha do tempo na Figura 12 esquematiza visualmente o processo: Figura 12 - Linha do tempo: Internacionalização Drama Filmes Então, em relação ao ciclo causal de conhecimento de mercado e comprometimento, a Drama parece respeitar os preceitos do Modelo de Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 1990), embora tenha feito o uso de redes de 118 relacionamento no processo (JOHANSON, 1986). A Grifa Filmes, por outro lado, foi fundada em 1996 e em 1997 já iniciou sua internacionalização para a América Latina, seguindo uma trajetória mais típica de Born Globals ou Empreendedorismo Internacional, em termos de velocidade da sua expansão para o exterior. (OVIATT; MCDOUGALL, 2005) Acerca do construto tradicional de distância psíquica, ambas as empresas parecem não segui-lo à risca na seleção de mercados, pois incorporaram suas redes de relacionamento pessoal ou profissional nesse processo, como preconiza o M-U revisado (JOHANSON; VAHLNE, 2009). Porém, a Grifa começou sua expansão pela América Latina para só depois chegar aos mercados europeus. Mesmo que essa proximidade geográfica na seleção inicial de mercados pudesse sugerir que a produtora estivesse seguindo um padrão regiocêntrico (ROCHA et al., 2007), na verdade ela estava adotando uma estratégia de acompanhar o cliente, nesse caso, a Discovery América Latina (BELL, 1995). A Drama, a seu turno, selecionou seus mercados conforme oportunidades que surgiram aleatoriamente durante os Festivais Internacionais de Cinema, seu principal modo de entrada em novos mercados estrangeiros. Finalmente, acerca da cadeia de estabelecimento, um conceito fortemente ligado à distância psíquica e ao comprometimento no M-U tradicional (JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975), a Drama Filmes parece estar mais sujeita a ela. Isso decorre do fato que a produtora de cinema, embora use modos de entrada diversificados no exterior (ROCHA et al., 2006), basicamente exporta suas obras prontas. Até a conclusão do caso a firma não havia conseguido firmar um contrato de coprodução no exterior. Como lembrou Renato Ciasca: Uma vez fomos a um evento de coprodução latino-americano na Argentina... Tinha um filme paraguaio que custaria uns 100 mil dólares. Era bom o case e deu vontade de entrar. Mas estávamos ocupados com outras coisas e não entramos. Hoje o filme ficou pronto, ganhou muitos festivais, foi pra Cannes e tudo mais. Na hora 119 podíamos ter entrado com 20% do orçamento, 20 mil dólares apenas, e estaríamos ganhando dinheiro agora. Mas não fizemos... A Grifa Filmes, por outro lado, além de vender conteúdo pronto participa de coproduções internacionais, um modo de entrada com alto comprometimento de recursos com seus parceiros estrangeiros (ARENIUS, 2005). O Quadro 7 resume a aderência das características e trajetórias de internacionalização das duas empresas à perspectiva do Modelo de Uppsala: Quadro 8 - Aderência da Internacionalização ao Modelo de Uppsala Parâmetro ou construto Drama Filmes Grifa Filmes Aprendizado gradual Alto Baixo Distância Psíquica Baixo Baixo Cadeia de estabelecimento Médio Baixo Portanto, conforme as evidências acima, a princípio a produtora Drama Filmes teria características do Modelo de Uppsala mais evidentes na sua trajetória internacional do que a Drama Filmes. 5.1.2. Na Perspectiva da Teoria de Redes Tanto no caso da produtora Drama Filmes quanto da Grifa Filmes, as alianças e parcerias foram fundamentais para viabilizar as atividades internacionais (OVIATT; MCDOUGALL, 1994). Antes mesmo de a internacionalização ocorrer, é possível observar que as redes de relacionamento pessoais motivaram os sócios a expandirem suas operações para além das fronteiras brasileiras (ELLIS, 2011; MUSTEEN; DATTA; BUTTS, 2013). Como destaca Renato Ciasca, no caso da Drama Filmes: Sara Silveira tem um histórico de exterior muito avançado. Como ela morou muitos anos na França, conheceu pessoas importantes ligadas à área na Europa e assim levou muitos filmes de jovens artistas para fora, principalmente para Cannes. Ela nos incentivou muito [no processo de internacionalização]. 120 Fernando, diretor da Grifa, também relembra as pessoas mais marcantes nesse processo: Eu considero que houve uma pessoa importante na época, para nós, a Beth Carmona, que foi diretora da TV Cultura e foi uma das diretoras da Discovery. Ela nos incentivou muito a buscar esse mercado [internacional]. Algumas pessoas do mercado internacional também foram importantes: o Yves Genault, que é um francês. Naquela época, a França fazia muitos eventos na América Latina, e eles nos convidaram para alguns, para tentar aproximar a América Latina da Europa. Então, o Yves foi muito importante na época. Assim, para as duas produtoras, a experiência prévia do empreendedor e as redes estabelecidas no estrangeiro pré-internacionalização foram fatores críticos de sucesso e até motivacionais para a atividade internacional. (ANDERSSON, 2011; COVIELLO, 2006; MADSEN; SERVAIS, 1997) Na Drama Filmes, Renato é o interlocutor dos negócios internacionais, com o papel de viajar e trazer conhecimento (inspiração) para as criações da firma e tratar dos assuntos comerciais no exterior (PETTERSEN; TOBIASSEN, 2010). Já Beto Brant é o cineasta internacionalmente famoso, que representaria valioso recurso de marketing nos negócios internacionais da empresa (OVIATT; MCDOUGALL, 1994), atestando a qualidade e credibilidade de suas produções cinematográficas no estrangeiro. (ARENIUS, 2005) A Grifa Filmes, por sua vez, explora todos os possíveis papéis de sua rede de relacionamentos pessoais e comerciais, inclusive utilizando-a para obter recursos financeiros, por meio das coproduções internacionais. Adicionalmente, a produtora sabe alavancar sua rede de maneira a facilitar a distribuição de seu produto e até superar barreiras não tarifárias, como as políticas de cotas nacionais de tela nos principais mercados. Fernando explica como a coprodução é essencial e necessária para isso: Na França, há um percentual de conteúdo francês que tem que ser exibido na França, depois tem um percentual de conteúdo europeu que tem que ser exibido no canal francês, depois eles vão aos países com que eles têm acordo de coprodução – e eles não têm com o Brasil. O principal acordo de coprodução deles é com o Canadá, que também tem uma cota de conteúdo canadense que deve ser exibido na TV francesa, e depois é o resto do mundo. Então quando você 121 entra nesta fórmula matemática, o resto do mundo fica insignificante. E como que você deixa de ser insignificante para ser alguma coisa nesses territórios? Fazendo a coprodução. Porque quando eu faço coprodução com a França, o conteúdo que eu fiz se torna também conteúdo francês. Assim, mais do que meramente aproveitar oportunidades emergentes que possam surgir em sua rede (SANTANGELO; MEYER, 2011), a Grifa Filmes integra efetivamente o desenvolvimento das redes ao planejamento estratégico da companhia (WELCH; WELCH, 1996) e sabe aproveitá-las, também, para superar vazios institucionais (MUSTEEN; DATTA; BUTTS, 2013), como a falta de acordos oficiais de coprodução do Brasil com importantes mercados no exterior. Assim, pode-se dizer que para a Drama as redes têm um papel estratégico mais emergente do que deliberado (ANDERSSON, 2011). A Grifa Filmes, em contraste, sabe explorar bem como criar oportunidades por meio de sua rede de relacionamento internacional (SANTANGELO; MEYER, 2011), principalmente por meio das coproduções internacionais. Em relação ao paradigma original de redes (JOHANSON; MATTSSON, 1993), embora ele tenha sido criado pensando em firmas industriais (Cf. COVIELLO; MARTIN, 1999), pode ser usado na tentativa de posicionar as duas produtoras em relação ao mercado internacional. No caso da Grifa Filmes, ela parece se situar quase como uma “Pioneira” (JOHANSON; MATTSSON, 1993), por ter se aventurado além das fronteiras nacionais antes de outras empresas brasileiras do segmento audiovisual, inclusive algumas grandes emissoras de televisão. Como relembra Fernando: É um mercado enorme [o estrangeiro] e não tinha a participação de brasileiros. Existiam apenas duas produtoras brasileiras. Para você ter uma ideia, já devia ter umas sete mil produtoras internacionais, e só duas brasileiras. Mesmo entre as TVs abertas, só a Globo estava presente, as outras emissoras não. E nós começamos a ter um relacionamento com os canais que estavam vindo para o Brasil. Já a Drama Filmes se internacionalizou mais em decorrência de sua participação em festivais internacionais de cinema do que por uma estratégia 122 previamente deliberada de seus sócios. Se for somado o período préinternacionalização, a produtora teria se preparado por quase 20 anos, como visto no tópico anterior, para entrar tardiamente em um mercado que já era altamente internacionalizado, caracterizando-se como, portanto, uma “Entrante Tardia” (JOHANSON; MATTSSON, 1993) na arena internacional. Alguém, no entanto, poderia questionar o porquê de a Drama Filmes ser uma entrante tardia, uma vez que se internacionalizou em 2001 com o filme “O Invasor” e a Grifa Filmes, por outro lado, se internacionalizou em 1997, produzindo conteúdo regional para o canal Discovery na América Latina. Para responder a tal questionamento, torna-se necessário destacar que a Drama Filmes atua no segmento de cinema e a Grifa Filmes no de TV por assinatura, e que há diferenças de mercados sutis entre os dois (DALMORO, 2010). O mercado mundial de cinema é internacionalizado há mais tempo que o das TVs por assinaturas, por força da concorrência dos blockbusters de Hollywood no mercado mundial que, até nos dias de hoje, ainda recebe mais espaço para exibição no circuito de salas comerciais do que os filmes brasileiros. Essa constatação fica evidente na Tabela 11: Tabela 11 - Longas metragens lançados no cinema brasileiro em 2013 # Título País Salas no Lançamento Público Renda (R$) 1 Homem de ferro 3 EUA 1.253 7.633.472 96.488.326 2 Meu malvado favorito 2 EUA 923 6.989.217 80.603.472 3 Thor 2 - O Mundo Sombrio EUA 1.072 4.823.275 61.569.435 4 Minha mãe é uma peça Brasil 407 4.600.145 49.533.218 5 Velozes e furiosos 6 EUA 1.030 4.521.808 49.148.215 6 Wolverine Imortal EUA 1.126 3.955.379 49.173.173 7 João e Maria: Caçadores de Bruxas EUA 509 3.716.154 48.663.644 8 Detona Ralph EUA 756 3.636.679 42.979.840 9 Jogos Vorazes: em Chamas EUA 1.216 3.533.536 39.711.677 EUA 842 3.290.880 36.949.825 10 Universidade Monstros Fonte: Ancine (2014) 123 O segmento de TV Paga no Brasil, a seu turno, só começou a concorrer com as TVs de outros países a partir da abertura comercial na década de 1990 (AMAL; MIRANDA; FREITAG, 2008), quando as emissoras estrangeiras começaram a atuar no país. Interessante notar que Fernando, da Grifa Filmes, ao invés de destacar as ameaças dessa abertura, enxerga o momento como oportuno para arriscar e mirar o mercado internacional: Acho que foi isso na época em que realmente não se tinha apoio [década de 1990], foi meio “com a cara e a coragem”. Mas foi um momento oportuno para o mercado. Foi um momento em que o Brasil estava abrindo a TV a cabo também para o mercado internacional. Finalmente, segue o Quadro 11 resumindo a aderência das características e trajetórias de internacionalização das duas empresas à Teoria de Redes: Quadro 9- Aderência da Internacionalização à Teoria de Redes Parâmetro ou construto Drama Filmes Grifa Filmes Uso estratégico das redes Aproveita oportunidades Aproveita e cria oportunidades Grau de internacionalização em relação ao mercado Entrante tardia Pioneira Por conseguinte, mesmo que para ambas as empresas as alianças e parcerias tenham tido fundamental importância nas atividades internacionais, as caraterísticas e trajetórias das duas empresas, nas maneiras como enxergavam e aproveitavam suas redes, podem ser consideradas ligeiramente diferentes. 5.1.3. Na Perspectiva de Empreendedorismo Internacional Na concepção de Oviatt e McDougall (1994) novos empreendimentos internacionais são negócios criados com a intenção clara de se internacionalizar desde sua fundação. Isso é algo bem explícito na declaração de Fernando sobre a motivação para ele e seu irmão Maurício fundarem a Grifa Filmes: 124 Meu irmão e eu fizemos a produtora pensando muito na área de documentário e na área internacional. E aí tem algumas coisas que foram importantes como, por exemplo, termos sido uma das primeiras produtoras brasileiras nos mercados internacionais. Além da orientação internacional, os dirigentes da Grifa compreendem as vantagens do pioneirismo em mercados internacionais, já que isso lhes permitiu antecipar-se à competição (MCDOUGALL; OVIATT; SHRADER, 2003) e explorar primeiro as oportunidades potenciais além das fronteiras nacionais (ZAHRA; GEORGE, 2002). A Drama Filmes, por sua vez, foi fundada com o objetivo de tornar-se independente de outras produtoras e lançar conteúdo audiovisual de sua própria autoria. A internacionalização não era um objetivo, mas consequência de sua participação em festivais internacionais de cinema. Como disse Renato: E foi quando resolvemos abrir [a Drama Filmes] e não fazer o outro filme – “O Invasor” – com a Sara Silveira [da produtora Dezenove Som e Imagens]. Abrimos nossa empresa, e a Bianca [Villar], que nos foi apresentada pela Sara, virou nossa amiga, veio junto e ficou esse tempo todo, e saiu no ano passado [2012]. Em outras palavras, é possível dizer que uma das motivações para a Drama Filmes se internacionalizar foi o reconhecimento de seu trabalho, o endosso de sua arte por especialistas no estrangeiro, e não por uma decisão comercial deliberada. O comentário abaixo ilustra bem esse ponto: Nossos filmes tratam do Brasil. Eu lembro com [o filme] “O Invasor”, em Los Angeles, fiquei 45 minutos falando para uma plateia de quase 900 pessoas que não saiu da sala. Além da intenção explícita de se internacionalizar desde a fundação, outra característica típica de empreendedores internacionais ou orientados pela perspectiva Born Globals é a proatividade e propensão ao risco (MCDOUGALL; OVIATT, 2000). O testemunho da Grifa exemplifica esse ponto, já que decidiu se internacionalizar justo quando o mercado brasileiro de TV por assinatura abria-se à concorrência estrangeira. O que alguns enxergam como desafio, Fernando enxergou como oportunidade (COVIELLO; MARTIN, 1999): 125 Acho que foi isso na época em que realmente não se tinha apoio, foi meio “com a cara e a coragem”. Mas foi um momento oportuno para o mercado. Foi um momento em que o Brasil estava abrindo a TV a cabo também para o mercado internacional. Outras motivações mencionadas pela Grifa Filmes para se internacionalizar foram a constatação de uma demanda doméstica limitada para documentários (ANDERSSON; WICTOR, 2003) a pressão dos novos competidores estrangeiros (OVIATT; MCDOUGALL, 2005) e a elevada demanda potencial no estrangeiro (KNIGHT, 1996). Talvez as diferentes motivações para se internacionalizar tenham influenciado no ritmo de internacionalização mais lento da Drama Filmes se comparado à Grifa Filmes, como mencionado na análise sob a perspectiva do M-U e que será detalhada na perspectiva Born Globals (BG), na seção seguinte. De qualquer forma, é inegável que a Drama também conseguiu expandir suas atividades para além das fronteiras nacionais com razoável grau de sucesso. Oviatt e McDougall (1994) afirmam que para competir de forma sustentável na arena internacional é necessário ter ou controlar recursos VRIO (BARNEY, 1991). No seu caso, o tripé criativo comporia o capital intelectual diferenciado que a Drama dispõe para tal fim (RUZZIER; HISRICH; ANTONCIC, 2006), como esquematizado na Figura 13: Figura 13 - Capital Intelectual da Drama Filmes 126 Já no caso da Grifa Filmes, os irmãos Fernando e Maurício são os empreendedores cuja experiência e trajetória os qualificam para conduzir seu negócio internacionalmente (MADSEN; SERVAIS, 1997). Maurício cuida da parte artística e Fernando do planejamento estratégico e gerenciamento das redes internacionais de relacionamento da firma. Além de velocidade, o modelo teórico de Oviatt e McDougall (1994) cria algumas tipologias para classificar novos empreendimentos internacionais (NEI), de acordo com as atividades da cadeia de valor coordenadas entre os países e o número de países (escopo) das atividades internacionais. Pelos elementos dos casos, ambas as produtoras exportam para uma quantidade substancial de países. Por outro lado, a Drama Filmes exporta apenas conteúdo pronto, diretamente ou via distribuidores. A Grifa Filmes, por sua vez, coordena atividades além de vendas, como produção de conteúdo, através dos contratos de coprodução internacional. Assim, em termos de características do processo de internacionalização, sob a perspectiva de EI a Drama Filmes seria uma comerciante multinacional e a Grifa Filmes uma startup global, a manifestação mais radical de NEI (OVIATT; MCDOUGALL, 1994). Assim o Quadro 9 sugere um esquema para qualificar a aderência das características e trajetórias de internacionalização das duas empresas à perspectiva de Empreendedorismo Internacional: Quadro 10 - Aderência da Internacionalização ao Empreendedorismo Internacional Parâmetro ou construto Drama Filmes Grifa Filmes Tipo de NEI Comerciante Multinacional Global Startup Velocidade de internacionalização Média Alta Decisão de internacionalizar Reativa Proativa Planejamento estratégico das atividades no estrangeiro Baixo Alto 127 Assim, aparentemente as características e trajetórias de internacionalização da Grifa Filmes são mais aderentes às premissas de EI do que no caso da Drama Filmes. Essa visão será complementada com a abordagem Born Globals, na sequência. 5.1.4. Na Perspectiva de Born Globals A fim de facilitar a análise cruzada de acordo com o fenômeno Born Globals, será trazido o modelo apresentado no quadro 1 da revisão de literatura comparando os casos Drama Filmes e Grifa Filmes: Quadro 11 - Comparativo de Internacionalização sob a Perspectiva de BG Parâmetro Critérios Drama Filmes Grifa Filmes Data de criação da firma Após 1989 1998 1996 Faturamento Anual PME <U$50milhões <U$250mil <U$50milhões Número de empregados Até 200 4 8-12 Início das atividades internacionais Até 5 anos após a fundação 3 anos 1 ano Percentual de receitas internacionais Acima de 25% 30% 50% Abrangência da Internacionalização >5 países >15 >100 Atividades internacionalizadas da cadeia de valor Vendas e outras Vendas Vendas e produção Foco de mercado Nicho Obras de ficção e nãoficção Documentários e séries Observando com atenção os dados acima, é justo dizer que as duas produtoras têm características compatíveis com o fenômeno BG, porém em graus distintos. Entretanto, deve-se destacar o penúltimo parâmetro: atividades internacionalizadas da cadeia de valor. Nesse sentido, Madsen (2012) sugere que empreendimentos verdadeiramente BG são apenas aqueles que conseguem internacionalizar outras atividades da cadeia de valor, além da venda pura e simples (exportação) de seus produtos ou serviços. 128 No entanto, pode-se argumentar que as atividades das duas empresas são desempenhadas em um setor em que o chamado “efeito made in” é um forte elemento de diferenciação e de inserção das mesmas no mercado internacional (BILKEY; NES, 1982). Assim, não faria sentido internacionalizar as outras atividades da cadeia de valor, que não a comercialização. Entretanto, esse é o caso da Grifa Filmes, que além de comercializar suas obras em diversos países, também já celebrou contatos de coprodução com cineastas estrangeiros. Inclusive, Fernando Dias admite que a coprodução seria o arranjo contratual alternativo (OVIATT; MCDOUGALL, 1994) mais usado por sua empresa para expandir suas atividades além das fronteiras nacionais. Já no caso da Drama Filmes, embora tenha tentado, a empresa nunca conseguiu emplacar um contrato de coprodução internacional. De acordo com Renato, isso se deve à dificuldade em se trabalhar com equipes multiculturais e, principalmente, às barreiras burocráticas impostas pelo órgão regulador, em particular a ANCINE (AMAL; MIRANDA; FREITAG, 2008; MUSTEEN; DATTA; BUTTS, 2013; YIU; LAU; BRUTON, 2007). Adicionalmente, ao contrário da Grifa que tem um foco de mercado bem definido nos nichos audiovisuais de documentários e séries (MADSEN; SERVAIS, 1997; RENNIE, 1993), a Drama Filmes diz não atuar em nenhum nicho específico do setor. Nas palavras de Renato: A gente não faz filme pra um festival, não faz filme direcionado pra um tipo de plateia. Por enquanto os nossos filmes não têm um nicho. A gente até pensa de fazer filmes sobre medo, filmes sobre o público GLS, e por aí vai. Porém, acima de tudo, nossos filmes vêm de uma vontade de falar aquilo que a gente está pensando naquele momento. De acordo com Moen et al. (2008), pequenas empresas que não foquem um nicho específico de mercado teriam mais dificuldades para competir na arena global com empresas maiores já bem estabelecidas e posicionadas (BUCKLEY; GHAURI, 2004). Nesse aspecto, a Grifa Filmes sabe muito bem 129 definir e defender seu posicionamento (KOTLER; KELLER, 2000), como destaca Fernando: Preferimos ser mais uma boutique de grandes projetos do que ter uma produtora que faça [muitos] projetos no varejo. Preferimos ter grandes projetos de alto valor agregado do que fazer uma produtora muito grande. Além disso, Knight e Cavusgil (2004) e Rialp, Rialp e Knight (2005) mencionam uma visão orientada ao mercado e ao cliente como condições básicas para empresas que queiram se internacionalizar rapidamente. Enquanto a Drama enxerga seu produto como uma obra de arte, cujo objetivo não é simplesmente agradar aos espectadores, a Grifa Filmes primeiro procura escutar as necessidades do mercado antes de iniciar um novo projeto. Como ilustra Fernando: O pessoal do canal fala: ‘Queremos filme de natureza, mas de natureza sem a presença humana’, ou ‘filme de natureza com a presença humana’... Nesse sentido, é muito importante estar “antenado” ao mercado, para não perder tempo em um projeto que ninguém vai querer. Não é porque o projeto ficou ruim, mas é porque ele foi feito no momento errado. Portanto, aparentemente a estratégia de internacionalização da Grifa Filmes tem contornos mais proativos e deliberados que a da Drama Filmes. E de acordo com Efrat e Shoham (2012), no longo prazo os fatores internos à firma, como suas competências centrais e estratégia deliberada, têm impactos mais evidentes no desempenho internacional do que os fatores ambientais, que seriam mais determinantes no curto prazo. Isso demonstra a importância do planejamento estratégico na competitividade e crescimento sustentável do negócio. Por outro lado, na questão já mencionada das atividades internacionalizadas da cadeia de valor, o ponto destacado no artigo de Madsen (2012), pode-se dizer que a Grifa é uma firma realmente Born Global, enquanto que a Drama seria o que o autor caracterizou como Born International Seller. Em outras palavras, uma empresa que se internacionaliza rapidamente, porém apenas exporta seus produtos ou serviços prontos para o estrangeiro. 130 Assim o Quadro 11 sugere um esquema para qualificar a aderência das características e trajetórias de internacionalização das duas empresas à perspectiva Born Globals: Quadro 12 - Aderência da Internacionalização ao fenômeno Born Globals Parâmetro ou construto Drama Filmes Grifa Filmes Característica Born International Seller Born Global Firm Trajetória Média Alta Portanto, de acordo com as evidências acima, aparentemente a produtora Grifa Filmes tem características do fenômeno Born Globals mais evidenciadas na sua trajetória internacional que a Drama Filmes. E isso vale para todas as três dimensões explicitadas por Zhara e George (2002): extensão (percentual de vendas proveniente do exterior), velocidade (tempo entre fundação da empresa e suas primeiras vendas internacionais) e escopo (número de países estrangeiros para os quais a empresa vende). 131 6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 6.1. RESPOSTAS ÀS PERGUNTAS DE PESQUISA Como apresentado na Metodologia, as duas perguntas principais que nortearam a condução desse estudo serão discutidas à luz das análises efetuadas. 1) Quais as características do processo de internacionalização das duas produtoras brasileiras pesquisadas? São características distintas? Sim, de acordo com a análise cruzada, as características do processo de internacionalização da Drama Filmes (Cinema) e da Grifa Filmes (TV) são distintas, embora encerrem algumas similaridades. No quesito das semelhanças, ambas fizeram intenso uso de alianças e parcerias na expansão internacional de suas atividades. A experiência préinternacionalização de seus fundadores, incluindo as redes de relacionamento, também tiveram papel preponderante em viabilizar e até estimular a esse processo para as produtoras. No entanto, as motivações para internacionalização das duas firmas parecem ser distintas, o que teve impactos significativos na trajetória de crescimento internacional. No caso da Drama Filmes, o desejo mais aparente dos sócios era levar suas obras para serem exibidas no mundo inteiro, recebendo o reconhecimento de especialistas por meio das premiações recebidas em festivais internacionais. Nas palavras de Renato Ciasca, “bilheteria não é importante, e sim mostrar aquilo que estávamos sentindo naquele momento”, por meio de seus filmes de curta ou longa metragem. Assim, não havia uma ambição de se internacionalizar e crescer rapidamente no estrangeiro, como preconiza a abordagem Born Globals. Tanto que o objetivo primário da fundação da Drama 132 Filmes não era a internacionalização, e sim tornar-se independente de outras produtoras, a fim de criar seus próprios filmes. A Grifa Filmes, por sua vez, tinha clara a orientação internacional de seus dirigentes desde a fundação e um nicho de mercado bem definido. “Fizemos a produtora pensando muito na área de documentários e na área internacional”, afirma Fernando Dias. Os sócios também tinham um planejamento estratégico bem definido e sabiam exatamente o que queriam e o que não queriam ser, e até onde queriam chegar. Além disso, a Grifa era orientada ao mercado, às necessidades de seus clientes. Antes de entrar em um novo projeto, eles participavam de concorrências internacionais, para saber o que os canais mundiais estavam buscando. Não faziam pura e simplesmente uma venda empurrada de suas criações já prontas. Tudo isso teve impacto significativo na maior velocidade de expansão internacional, se comparado à Drama Filmes. Em suma, é lícito dizer que a internacionalização da Grifa Filmes pode ser caracterizada, realmente, como um fenômeno Born Global (MADSEN, 2012) da Indústria Criativa brasileira. A Drama Filmes, embora tenha obtido razoável sucesso na arena internacional, teria características mais similares ao modelo revisado de Uppsala (JOHANSON; VAHLNE, 2009): comprometimento internacional crescente de acordo com acúmulo gradual de experiência e o uso de redes de relacionamento no processo. 2) Como suas trajetórias de internacionalização podem ser explicadas pelas abordagens comportamentais de internacionalização, em especial a perspectiva Born Globals? Como visto no capítulo anterior, as abordagens comportamentais foram complementares entre si para explicar as trajetórias internacionais das duas produtoras independentes (MELLO, 2009). Isoladamente, elas não explicavam na totalidade esses processos, mesmo no caso da Grifa Filmes, com traços marcantes de Born Global. 133 Assim, o Quadro 12 que concilia as diferentes perspectivas na análise da expansão das duas companhias além das fronteiras brasileiras: Quadro 13- Aderência da Internacionalização às Teorias Comportamentais Teoria Modelo de Uppsala Teoria de Redes Empreendedorismo Internacional Parâmetro ou Construto Drama Filmes (Cinema) Grifa Filmes (TV) Aprendizado gradual Alto Baixo Distância Psíquica Cadeia de estabelecimento Baixo Baixo Médio Baixo Uso estratégico das redes Aproveita oportunidades Aproveita e cria oportunidades Grau de internacionalização em relação ao mercado Entrante tardia Pioneira Tipo de NEI Comerciante Multinacional Global Startup Velocidade de internacionalização Média Alta Decisão de internacionalizar Reativa Proativa Planejamento estratégico Baixo Alto Característica Born International Seller Born Global Firm Trajetória Média Alta Born Globals Portanto, verifica-se que o Modelo de Uppsala ajuda a explicar alguns aspectos da trajetória de internacionalização da Drama Filmes. O mesmo não ocorre com a mesma intensidade para a Grifa Filmes. Já no caso da Teoria de Redes, como foi dito, as alianças internacionais tiveram papel fundamental na internacionalização das duas produtoras, viabilizando e até incentivando o processo. No entanto, a Grifa Filmes não só aproveita como cria oportunidades, por exemplo, com o uso de coproduções. Tal mecanismo permite ampliar a distribuição internacional de suas obras e 134 reduzir barreiras de entrada nos países com cujos cineastas dividem as tarefas criativas. A diferença de Entrante Tardia para a Drama Filmes e Pioneira para a Grifa Filmes se deve, além do amadurecimento do processo, mais lento e gradual para a primeira, pelo fato de haver diferenças entre os segmentos internacionais de Cinema e TV. O primeiro já era internacionalizado há muitos anos, principalmente devido à concorrência com Hollywood. O segmento de TV brasileiro, em contrapartida, só se abriu para a concorrência internacional a partir da década de 1990. Na visão do Empreendedorismo Internacional, há algumas divergências nas trajetórias das duas firmas. Aparentemente, no entanto, a Grifa teve uma internacionalização mais acelerada porque se decidiu e planejou-se para isso, a princípio, de forma mais proativa que a Drama Filmes. Finalmente, o fenômeno Born Globals é mais evidente para a Grifa Filmes do que para a produtora de cinema. Esse talvez seja o resultado mais evidente do presente estudo. 6.2. RECOMENDAÇÕES PARA PESQUISAS FUTURAS Como discutido anteriormente, verificou-se que, tanto para a Grifa Filmes (TV) quanto para a Drama Filmes (Cinema), o processo de internacionalização contou com o forte apoio das redes de relacionamento. Assim, uma pergunta interessante para trabalhos futuros pode ser: É possível dizer que, para as produtoras independentes do audiovisual, o papel das alianças e parcerias é fundamental para suas atividades internacionais? E para outros segmentos da Indústria Criativa? Por quê? Da mesma forma, para os dois casos estudados percebeu-se uma nítida diferença na motivação para a internacionalização. No caso da Grifa Filmes, 135 existia um desejo de tornar-se internacional desde sua concepção, e uma forte orientação ao mercado, às necessidades do cliente. No caso da Drama Filmes, essa orientação era voltada ao produto, ao fruto de sua arte, e a internacionalização foi uma consequência de sua participação em festivais internacionais de cinema. Portanto, uma boa pergunta de pesquisa poderia ser: Produtores de cinema com orientação ao mercado tenderiam a ter mais sucesso na internacionalização do que produtores focados no valor artístico intrínseco de suas obras? E para outros segmentos da Indústria Criativa? Na abordagem de Redes viu-se que a Drama Filmes era uma Entrante Tardia em seu mercado, e a Grifa Filmes uma pioneira. Porém, a primeira se internacionalizou em 2001 e a segunda em 1997, uma diferença de apenas quatro anos. Peculiaridades setoriais foram, em parte, responsáveis por essa divergência. Nesse caso, um questionamento para estudos futuros poderia perguntar: Até que ponto as diferenças setoriais entre as indústrias do Cinema e da TV podem impactar a internacionalização de produtoras brasileiras independentes? E para outros segmentos da Indústria Criativa? Como seria esse impacto? Também é possível, e assim se espera, que estudos longitudinais com as mesmas ou outras firmas do setor audiovisual ajudem a explicar, com maior precisão, o processo de internacionalização de produtoras independentes brasileiras. Servirá, assim, de referencial útil a estudiosos, gestores e agências de fomento interessadas em compreender a internacionalização de empresas brasileiras da Economia Criativa, em particular do setor audiovisual. Por fim, as análises aqui efetuadas não esgotam o assunto. Desse mesmo trabalho, muitos outros achados interessantes poderiam ser discutidos. No entanto, o objetivo da pesquisa não foi encerrar as discussões, e sim abrir caminho para que estudiosos de Negócios Internacionais começassem a se 136 interessar mais pela internacionalização de empresas brasileiras criativas, um fenômeno até então bem pouco discutido pela academia. 137 REFERÊNCIAS ABDELAL, R.; TEDLOW, R. Theodore Levitt’s' The Globalization of Markets': An Evaluation after Two Decades. Harvard Business School Working Paper No. 03-082, 03-082. v. Fevereiro, n. 03, p. 1–30, 2003. ABI, R. Worldwide pay-TV Subscribers to Exceed 1.1 Billion in 2019 with Increasing IPTV Market Share. New York: ABI Research, 2014. Disponível em: <https://www.abiresearch.com/press/worldwide-pay-tv-subscribers-toexceed-11-billion->. Acesso em 10 set. 2013. AHARONI, Y. The foreign investment decision process. Boston, MA: Harvard Business School Press, 1966. AMAL, M.; MIRANDA, C.; FREITAG, A. R. F. 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Ano de fundação: _______ 2.2. Ramo de atividade: _____________________ 2.3. Número de funcionários no Brasil:________ 2.4. No exterior:________ 2.5. Percentagem do faturamento proveniente de serviços prestados para fora do Brasil: _____ % 2.6. Principais serviços comercializados pela empresa: Serviços (por ordem de importância no faturamento) 1. 2. No Brasil No Exterior 157 3. HISTÓRICO DA EMPRESA E DO ENTREVISTADO 3.1. Você poderia nos dar um breve histórico de sua empresa? Quais os fatos e momentos mais marcantes? Quais as pessoas mais relevantes no desenvolvimento da empresa e que contribuição deram? 3.2. Agora fale um pouco de você e de sua experiência profissional anterior à atuação na empresa. 3.3. Que aspectos de sua experiência profissional anterior você considera que foram importantes para suas experiências atuais? 3.4. Em suas experiências anteriores, você estabeleceu contatos com pessoas ou empresas no exterior? Quais? 3.5. Na sua avaliação, qual a importância de suas experiências anteriores para a internacionalização da empresa? 4. HISTÓRICO DAS OPERAÇÕES NO EXTERIOR 4.1. Por que a empresa resolveu atuar no exterior? (Motivação geral para a internacionalização) 4.2. Por favor, faça um relato histórico da experiência internacional de sua empresa, indicando países em que atua ou já atuou, pela ordem em que ocorreu, que tipo de atividade foi ou é realizada e o que motivou a entrada nesse país. Ordem País Ano Lista de motivações: no país estrangeiro Tipo de atividade (exportação, licenciamento, franquia, parceria, escritório etc.) Motivações (ver lista a seguir; colocar a(s) letra(s) e/ou escrever) A - Solicitação de um cliente da empresa no Brasil que estava atuando B – Solicitação de um cliente potencial no país estrangeiro. C – Porque executivos da empresa já conheciam esse país estrangeiro – De que forma? a. por ter relações familiares ou visitar com freqüência b. por ter estudado nesse país c. por ter trabalhado anteriormente nesse país d. por dispor de relações profissionais estabelecidas anteriormente com pessoas no país 158 4.3. SE A EMPRESA DISPUSER DE INSTALAÇÕES FÍSICAS NO EXTERIOR: Estas instalações que a empresa tem são próprias ou alugadas? Pertencem totalmente à empresa ou são em parceria com terceiros? 4.4. Qual é hoje o mercado estrangeiro mais importante para a empresa? Como as percepções e opiniões dos executivos da empresa foram se modificando desde o início das atividades neste mercado? Como a empresa foi aprendendo sobre o mercado? Pedir exemplos. 4.5. A atitude da empresa com relação ao primeiro mercado, por ocasião da decisão de atuar naquele mercado, era vista como definitiva ou como exploratória? E hoje, para o conjunto de mercados? 4.6. Em que momento percebeu que a empresa estava pronta para entrar em um novo mercado? Que fatores levaram a essa decisão? E nos mercados seguintes? A empresa adotou uma estratégia passo a passo, ou uma estratégia mais agressiva? 4.7. Quem são as pessoas responsáveis por dirigir as atividades internacionais (nome, cargo, há quanto tempo estão na empresa, se já tinham experiência internacional prévia e como a adquiriram). 5. ALIANÇAS E PARCERIAS PARA AS ATIVIDADES INTERNACIONAIS 5.1. A empresa estabeleceu alguma parceria com outras empresas em suas atividades internacionais? (INSISTA SOBRE QUALQUER TIPO DE PARCERIA, SEJA COM EMPRESAS BRASILEIRAS OU EMPRESAS DO PAÍS, OU MULTINACIONAIS, OU ATÉ MESMO INDIVÍDUOS). Sim Não (PULE PARA PARTE 6, MAS SÓ DEPOIS DE SE ASSEGURAR DA RESPOSTA NEGATIVA) Parceiro (nome e/ou país, caso Tipo (indivíduo, empresa Período de duração não queira fornecer o nome) brasileira, no exterior, MN, governo etc.) AS QUESTÕES SEGUINTES TRATAM DE APROFUNDAR COMO DECORREU A PARCERIA. SE A EMPRESA TIVER MAIS DE 3 PARCERIAS, ESCOLHA A PRIMEIRA, A QUE FUNCIONOU MELHOR E A QUE FUNCIONOU PIOR PARA APROFUNDAR. 5.2. A iniciativa para a formação dessa parceria foi da sua empresa ou da empresa no exterior? 5.3. Existia algum relacionamento prévio de sua empresa com esse parceiro antes de estabelecer alguma relação comercial com o mesmo? Que tipo de relacionamento? (pessoal, profissional, comercial etc.) 159 5.4. Que benefícios essa parceria trouxe para a sua empresa? (VEJA EXEMPLOS A SEGUIR, MAS SÓ FAÇA SUGESTÕES DEPOIS DE O ENTREVISTADO HAVER RESPONDIDO PLENAMENTE). - adicionou tecnologia ao produto/serviço da empresa - trouxe conhecimento sobre as práticas comerciais naquele mercado - trouxe clientes potenciais - permitiu à empresa ultrapassar barreiras legais para atuar naquele mercado 5.5. E que benefícios sua empresa trouxe para a parceria? (VEJA EXEMPLOS A SEGUIR, MAS SÓ FAÇA SUGESTÕES DEPOIS DE O ENTREVISTADO HAVER RESPONDIDO PLENAMENTE). - adicionou tecnologia ao produto/serviço do parceiro - permitiu à parceira oferecer outro produto/serviço aos seus clientes já existentes - permitiu à parceira aumentar a sua competitividade, oferecendo um produto/serviço equivalente por preço menor 5.6. Essa parceria se restringiu ao desenvolvimento de mercado no exterior ou também para o mercado brasileiro? 5.7. A parceria foi estabelecida por meio de um documento formal (contrato) ou os negócios aconteceram de maneira informal? Por favor, explique como funcionava, na prática, a relação com o parceiro no exterior. 5.8. O que aconteceu? A parceria continua ou foi terminada? 5.9. Como você avalia os resultados da parceria? Se fosse começar de novo, o que faria diferente? 5.10. Como você sintetizaria o aprendizado obtido com essas alianças e parcerias? 6. PLANEJAMENTO E ESTRATÉGIAS LIGADAS À INTERNACIONALIZAÇÃO 6.1. A sua empresa busca os clientes no exterior ou costuma ser procurada por clientes de fora do Brasil? (EXEMPLOS). 6.2. A empresa faz algum tipo de planejamento, formal ou informal, para as atividades internacionais? Poderia descrever em que consiste? 6.3. Há algum planejamento de visitas ao exterior por ano? 6.4. A empresa faz algum tipo de estudo de mercado, formal ou informal? Qual a principal fonte de informação utilizada para a atuação no exterior? 6.5. É difícil para a empresa obter as informações de que necessita para sua atuação no exterior? (APROFUNDAR TIPOS DE INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS E NATUREZA DA DIFICULDADE) 6.6. Quais os diferenciais da empresa que permitem vender seus produtos/serviços fora do Brasil? (POR EXEMPLO, PREÇO, QUALIDADE, CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS ETC. APROFUNDAR, DE MODO A ENTENDER BEM AS VANTAGENS COMPETITIVAS.) 6.7. Como a empresa faz a divulgação de seus produtos/serviços no exterior? (POR EXEMPLO, BOCA A BOCA, PARCEIROS, PROPAGANDA, INTERNET ETC. NÃO SUGERIR, MAS APROFUNDAR.) 160 6.8. Que canais de distribuição a empresa utiliza? (PODEM SER PARCEIROS, LOJAS, INTERNET ETC. NÃO SUGERIR, MAS APROFUNDAR.) 6.9. A empresa está ligada a algum consórcio de exportação, ou realiza atividades de promoção conjuntas com outras empresas no exterior? 6.10. Quais os principais concorrentes brasileiros da empresa no exterior? (VERIFICAR QUAIS SÃO E COMO SE COMPARAM EM TERMOS DE TAMANHO E SERVIÇOS OFERECIDOS). 7. O PROCESSO DE NEGÓCIO 7.1. Como sua empresa identifica/identificou oportunidades no mercado internacional? (EXEMPLOS) 7.2. Como foi feita a negociação com clientes de outros países? 7.3. De que forma são definidos os preços? Ou seja, como é o processo de precificação? 7.4. Como são fechados os contratos? 7.5. Como é feita a entrega do serviço exportado? 7.6. A empresa faz algum tipo de atividades pós-venda? Quais? Como essas atividades são estruturadas para atender clientes no exterior? 8. PERSPECTIVAS 8.1. Como vê a importância, para a empresa, de ter atuação no exterior? Sua percepção quanto a esta importância mudou desde o início da atuação internacional até agora? Como? 8.2. Em sua percepção, a rentabilidade que a empresa obtém no exterior é maior ou menor do que no Brasil? 8.3. A empresa planeja crescer no exterior? (APROFUNDAR MOTIVOS A FAVOR E CONTRA) 8.4. EM CASO POSITIVO: Quais as principais diretrizes que devem orientar esse crescimento? (POR EXEMPLO, APROFUNDAMENTO DA PRESENÇA NO(S) PAÍS(ES) EM QUE JÁ TEM PRESENÇA ATUALMENTE, EXPANSÃO PARA OUTROS PAÍSES, OFERTA DE NOVOS SERVIÇOS ETC.) 8.5. Quais os principais aprendizados obtidos pela empresa como resultado de sua experiência internacional? 8.6. Quais os principais benefícios da internacionalização para a empresa? Você acha que os benefícios obtidos são maiores do que as dificuldades, e vale a pena prosseguir? (APROFUNDAR). 8.7. Há algum tópico que não tenha sido abordado, mas que você considera muito importante para que nós possamos entender a experiência de sua empresa com a internacionalização? OBRIGADO PELO TEMPO E ATENÇÃO. É POSSÍVEL QUE VENHAM A SURGIR ALGUMAS DÚVIDAS POSTERIORMENTE. NESTE CASO PODERÍAMOS ENTRAR EM CONTATO POR TELEFONE OU SKYPE? ENVIAREMOS UMA CÓPIA DO CASE FINAL PARA SUA APROVAÇÃO.