Profa. Dra. Valéria Rueda Elias Spers ELEMENTOS DA GESTÃO RESPONSÁVEL PARA A SUSTENTABILIDADE Fonte: HSM Management (2008, p. 90) QUEM SÃO OS SEUS STAKEHOLDERS? Fonte: Almeida (2003) LIGANDO OS PONTOS Criando Valor Sustentável DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Tripé da sustentabilidade empresarial Baseia-se nos princípios de transparência (Disclosure), eqüidade (Fairness), prestação de contas (accountability) e ética (Compliance). O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2001) define da seguinte forma: São as práticas e os relacionamentos entre os acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal, com a finalidade de otimizar o desempenho da empresa e facilitar o acesso ao capital. Koehn (2001): governança corporativa É a arte de governar empresas de forma que se busque os interesses de longo prazo da empresa e de seus stakeholders. Tendo em vista que as firmas não podem existir sem o suporte destes stakeholders, as empresas bem governadas consistentemente atuam no sentido de atender às demandas de seus empregados, clientes, acionistas e comunidade em geral. Dimensões-chave de valor para o acionista HART, 2004. A corporate governance é para assegurar que as empresas apresentam melhor performance, melhor monitoramento e proteção dos investidores. (MARQUES,2007) No modelo anglo-saxónico, os acionistas estão longe da empresa, mas nos Estados Unidos as administrações são dominadas pela gestão, e existe algum conflito real entre o CEO (Chief Executive Officer) e o Presidente A governança corporativa pode ser descrita como os mecanismos ou princípios que governam o processo decisório dentro de uma empresa. Governança corporativa é um conjunto de regras que visam minimizar os problemas de agência Atualmente, em grande parte das organizações, a propriedade está separada da gestão. O controlador (principal) nomeia uma diretoria profissional (agente) para gerir a firma. Este modelo de gestão acaba por criar uma assimetria informacional entre as partes, o gestor possui informações que o proprietário não. Como na maioria das vezes os interesses das partes são distintos, existe a possibilidade de uma ação oportunista por parte do administrador, configurando o chamado conflito de agência. TEORIA DA AGÊNCIA A teoria do agente principal ou da agência é uma das principais vertentes da Teoria dos Contratos, juntamente com a teoria dos custos de transação, e relaciona-se não apenas com a ocorrência de assimetria de informações entre os agentes, mas também com o direito de propriedade e os contratos. O direito de propriedade possui efeitos em termos de incentivo, ao passo que o problema do agenciamento, por exemplo, relaciona-se com a cessão de direito de decisão ao agente por parte do principal. A teoria da agência ganha importância na medida em que contém os elementos básicos, com os quais lidam os contratos inter e intra-organizações Segundo Thomsen e Pedersen (1997), a estrutura de propriedade é um dos principais determinantes da governança corporativa. Como salienta Williamson (1996), existem seis razões para tal, a saber: a) a concentração da propriedade por parte de grandes acionistas irá incentivá-los a tomar uma posição ativa, com interesse no desempenho da firma e na implementação de mecanismos de monitoramento dos administradores, isto é, farão valer sua voice, ao invés de possuírem estratégias de saída; b) o fato de os administradores deterem ações irá afetar os incentivos que estes possuem para maximizar o valor para os acionistas, ao invés de desenvolverem objetivos próprios; c) a identidade dos proprietários é um indicativo de suas prioridades, como, por exemplo, as empresas estatais que seguem, em boa medida, diretrizes políticas; Estrutura de propriedade é um dos principais determinantes da governança corporativa cont.. d) segundo a teoria de finanças, os acionistas/proprietários que possuem portfólios diversificados não serão avesos a uma postura de maior risco por parte da firma, ao passo que proprietários com uma parcela significativa de sua riqueza em uma única firma tendem a propor estratégias corporativas de baixo risco; e) liquidez da propriedade irá afetar a preferência temporal dos proprietários e o comportamento de investimentos das corporações; e f) as estruturas de propriedade integrada (hierarquias) podem reduzir os custos de coordenar transações com alto grau de especificidade dos ativos. Pilares fundamentais: Os direitos dos acionistas. O tratamento equitativo dos acionistas. O papel dos terceiros fornecedores de recursos. Acesso e transparência da informação. A responsabilidade da diretoria e do conselho de administração. A evolução de princípios é tão ampla que abarca outros temas, como os métodos alternativos de solução de conflitos, a responsabilidade social da empresa, as políticas de e-governance e o meio ambiente das empresas, etc. Boa governança corporativa nos setores público e privado requer: Uma clara identificação e articulação das definições de responsabilidade; Uma compreensão real das relações existentes entre os stakeholders (partes interessadas) da organização e outros interesses para controlar os seus recursos e dividir resultados; e Sustentação da gestão, particularmente do nível superior. Três condições necessárias se fazem presentes: a) o agente dispõe de vários comportamentos possíveis para serem adotados, ou seja, em uma corporação, por exemplo, os administradores são aqueles que, efetivamente, detêm o controle sobre os ativos da firma, podendo empregá-los de distintas maneiras; b) a ação dos agentes/administradores afetam não apenas seu próprio bem-estar (estabilidade, crescimento), mas também do principal/acionistas controladores (valorização das ações, dividendos); e c) as ações do agente dificilmente são observáveis pelo principal, havendo assimetria informacional entre as partes Para a Nova Economia Instituicional (NEI) e para a Economia das Organizações a firma é tida como uma estrutura de governança (WILLIAMSON,1996) ou mesmo um nexus de contratos (JENSEN E MECKLIN, 1976). A firma, enquanto uma estrutura de governança, tende a internalizar transações à medida que estas requerem ativos específicos. Assim, da mesma forma que as transações diferem em seus atributos (freqüência, incerteza, grau de especificidade), as estruturas de governança, variam em seus custos de operação e competências, como, por exemplo, entre a firma e o mercado. A questão, segundo Williamson, é alinhar as transações com as correspondentes estruturas de governança (hierárquica, contratual ou mercado), de modo a mitigar os custos de transação. Existe uma diferença fundamental entre a governança familiar e a corporativa, esta última exercida na administração dos negócios. Aqueles que gerem exclusivamente as empresas, executivos profissionais ou membros da família, possuem como único propósito obter resultados econômicos e financeiros positivos, com sustentabilidade, preservando o patrimônio a longo prazo. Não se trata de meta, sim de obrigação. Já a gestão da família tem como compromisso o conforto e a harmonia. O patrimônio deve servir a um bem imaterial intangível que é o conforto familiar, respeitando as individualidades de seus membros. Pode-se dividir os sistemas de Governança Corporativa no mundo em: Outsider System (acionistas pulverizados e tipicamente fora do comando diário das operações da companhia) Sistema de Governança anglo-saxão (Estados Unidos e Reino Unido): - Estrutura de propriedade dispersa nas grandes empresas; - Papel importante do mercado de ações na economia; - Ativismo e grande porte dos investidores institucionais; - Foco na maximização do retorno para os acionistas (shareholder oriented). Insider System (grandes acionistas tipicamente no comando das operações diárias diretamente ou via pessoas de sua indicação) Sistema de Governança da Europa Continental e Japão: - Estrutura de propriedade mais concentrada; - Presença de conglomerados industriais-financeiros; - Baixo ativismo e menor porte dos investidores institucionais; - Reconhecimento mais explícito e sistemático de outros stakeholders não-financeiros, principalmente funcionários (stakeholder oriented). Fonte: http://www.ibgc.org.br/CodigoMelhoresPraticas.aspx Nesse contexto, verifica-se que os princípios básicos de governança corporativa, estabelecidos pelo IBGC (transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa) podem ser aplicados às entidades públicas. Princípios de governança basilares a uma gestão pública eficiente e de resultados. São : transparência - além da obrigação de informar, a administração deve cultivar o desejo de informar. Para Slomski (2005) a LRF (Leis de Responsabilidade Fiscal) induz o gestor público à transparência de seus atos. A informação dos atos da administração evidencia o desejo da produção de simetria informacional entre o Estado e a sociedade equidade - caracteriza-se pelo tratamento justo e igualitário de todos os grupos minoritários, sejam do capital ou das demais partes interessadas (stakeholders), como colaboradores, clientes, fornecedores ou credores. A equidade na gestão pública deve pautar-se por políticas e ações dos governantes que produzam a equidade entre os habitantes que compõem a sociedade local, a fim de produzir o bem-estar social (Slomski, 2005); prestação de contas - os agentes da governança corporativa devem prestar contas de sua atuação a quem os elegeu, e responder integralmente por todos os atos que praticarem no exercício de seus mandatos. Segundo Slomski (2005), o cumprimento desse princípio na gestão pública é essencial não só com relatórios exigidos pela legislação, mas também com instrumentos que facilitem a transparência dos atos; responsabilidade corporativa - conselheiros e executivos devem zelar pela perenidade das organizações (visão de longo prazo, sustentabilidade) e, portanto, devem incorporar considerações de ordem social e ambiental na definição dos negócios e operações. Responsabilidade corporativa é uma visão mais ampla da estratégia empresarial, contemplando todos os relacionamentos com a comunidade em que a sociedade atua Segundo Barret (2003) por se tratar de recurso público as informações devem ser exibidas amplamente, demonstrando as ações que estão sendo tomadas pelos gestores públicos. Para o autor, a transparência é essencial para uma boa governança; Integridade - segundo Marques (2007) integridade tem a ver com honestidade e objetividade, essenciais para a gestão dos recursos públicos. Logo, depende da eficácia dos controles estabelecidos e dos padrões pessoais e profissionalismo dos indivíduos dentro da organização pública; Compromisso - as melhores práticas de governança pública requerem um forte compromisso de todos os participantes para poder implementar os princípios da boa governança. Isso exige boa comunicação, conduta ética, gestão de riscos, relacionamento com o cidadão e prestação de serviço de qualidade (MARQUES, 2007). Modelo de Formação de Reputação Corporativa Fonte: Pinheiro Machado e Zylbersztajn, 2004, adaptado de Frombrun,1996. Em essência, o capital reputacional de uma empresa é formado por várias dimensões que moldam a imagem de uma determinada corporação. Algumas mais evidentes são: a própria qualidade dos produtos que a empresa oferece; os seus serviços agregados, as práticas comerciais com clientes, fornecedores, instituições de crédito; práticas internas de recursos humanos,; capacidade de inovação tecnológica, entre outras. São os fatores que tradicionalmente conferem boa reputação e trazem vantagens competitivas sustentáveis às empresas no longo prazo. Na visão de Brickley et. al. (2000, p.2): ... a reputação da empresa para o comportamento ético, incluindo sua integridade percebida em lidar com clientes, fornecedores e outras partes, é parte do valor de seu nome (brand name capital); desta forma, isto é refletido em sua avaliação (assim como o capital humano individual é baseado em parte em sua reputação para o comportamento ético). Neste sentido, incentivos mercados privados propiciam potencialmente importantes para o comportamento ético, ao imporem custos em organizações e indivíduos que rompem padrões éticos estabelecidos Fombrun (op.cit.) define a reputação corporativa como a “reação afetiva ou emocional líquida” (boa ou má, fraca ou forte) de clientes investidores,fornecedores, empregados e o público em geral diante do nome da empresa. A identidade corporativa é definida como o conjunto de princípios e valores dos gestores e funcionários da empresa. Os fatores que levam à construção da reputação, de acordo com Fombrun (op.cit.), podem ser agrupados em 4 constituintes: credibilidade, qualidade, responsabilidade e confiança. O autor associa qualidade/confiabilidade aos consumidores/clientes, isto é, à percepção sobre os produtos e serviços oferecidos pela empresa. A credibilidade está associada aos investidores e fornecedores, no cumprimento de contratos. A confiança está relacionada com o público interno constituinte da empresa, ou seja, com a sua percepção da solidez e integridade da empresa. A responsabilidade, finalmente, associa-se ao papel da empresa na comunidade em sentido mais amplo. Butler (1999) defende que nas entidades públicas a aplicação prática da governança corporativa envolve os seguintes aspectos: Separação dos papéis do Presidente e do Diretor Executivo; Um conselho que tenha a maioria de diretores não-executivos; Criação de um comitê de auditoria com membros não-executivos; Proteção da independência dos auditores externos; Manutenção de padrões de relatórios financeiros; Adoção de códigos de ética da organização; Instruções para conduta dos diretores, que particularmente prevejam a inexistência de conflitos e divulguem os benefícios; Identificação do risco e gestão do risco. O processo de governança corporativa pode ser pensado como tendo quatro atividades principais. Assim: Ação executiva – envolvimento em decisões executivas cruciais; Direção – Formulação da direção estratégica para o futuro da organização a longo prazo; Supervisão – Monitoramento e vigilância da performance da gerência; e Accountability – Reconhecimento das responsabilidades daqueles que legitimamente procuram pela responsabilidade. Referências Bibliográficas ALMEIDA, F. Gestão do Desenvolvimento Sustentável na Indústria Eletroeletrônica http://www.tec.abinee.org.br/2003/arquivos/s902.pdf - 10/2003. Acesso em 08 mai 2010. BARRET, P. (2003). Achieving Better Practice Corporate Governance in the Public Sector. AM Auditor General for Australia. Recuperado em 27 October, 2003, de http://www.anao.gov.au/uploads/documents/ BUTLER, B. (1999).Corporate Governance in the Public Sector. Annual Public Sector Symposium – Queensland, Australia, 4. 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