Sexta-feira e fim de semana 22, 23 e 24 de maio de 2015 Jornal do Comércio - Porto Alegre 21 Política Palácio Piratini ‘Não tinha a ambição de ser governador’ Sartori encara com naturalidade a chefia do Executivo, mas revela que não aspirava ao cargo máximo do Estado FREDY VIEIRA/JC Guilherme Kolling [email protected] “Nunca pensei que um dia eu ia acabar estudando para (ser) padre, nunca pensei que eu ia ser professor e as circunstâncias me fizeram ser professor, nunca pensei que ia ser vereador e de repente eu virei vereador, porque era dirigente estudantil.” Há quase cinco meses no cargo máximo do Estado, o governador José Ivo Sartori (PMDB) diz que encara com tranquilidade e naturalidade a função, mas confidencia que, assim como outras atividades que teve ao longo de sua trajetória, não aspirava ser o titular do Palácio Piratini. Em política, sempre se está pensando lá na frente, na eleição seguinte, às vezes em um pleito que vai ser disputado em oito anos. Se obtêm algum destaque, não raro deputados, prefeitos e senadores planejam como meta, em um determinado momento, disputar e vencer a eleição ao governo do Estado. Esse não é o caso de Sartori, segundo o próprio. “Quem me conhece já sabe que eu não sou uma pessoa de aspirações, de pretensões ou ambições. Sou ‘Quem me conhece sabe que não sou de pretensões, o que não é normal na política’, admite José Ivo Sartori uma pessoa que não é normal na política. A pessoa que está na política normalmente acha que tem que fazer isso para conquistar aquilo”, observa o peemedebista. “Mas não tinha pretensão, não tinha ambição (de ser governador). Por isso, estou tranquilo. E não vou perder a alegria, mesmo com todos os pepinos que tenho pela frente. Devo dizer que não me falta coragem e determinação de cumprir o papel que me cabe nesse momento histórico da vida do nosso Estado e do nosso País.” As afirmações foram feitas pelo governador no Palácio Piratini durante entrevista exclusiva Tribunal de Justiça Lei que cria área de interesse social é inconstitucional O Órgão Especial do Tribunal de Justiça (TJ) julgou inválida a Lei Complementar Municipal 663/2010, que institui as áreas especiais de interesse social em Porto Alegre. Segundo a decisão, a lei que alterou o plano diretor da Capital autorizou construções habitacionais em áreas de preservação ambiental. A Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) foi proposta pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo da Lima Veiga, que afirma que as áreas especiais de interesse social em questão correspondem a empreendimentos aprovados no Programa Minha Casa Minha Vida, da Caixa Econômica Federal, e a novos empreendimentos habitacionais na Capital. Porém, segundo o Ministério Público (MP), a lei que estabeleceu essas áreas especiais é inconstitucional, pois não houve participação popular, principalmente no que diz respeito à transformação de áreas de ocupação rarefeita (AOR) em áreas especiais de interesse social (Aeis). Com a mudança, foi possível a aprovação de habitações populares sobre áreas de proteção ambiental natural, no meio de corredores ecológicos e no entorno de unidades de conservação de proteção integral. Na ação, o procurador cita que a Procuradoria-Geral do Município admitiu que não houve ampla consulta popular e que esta participação se deu através da consulta ao Conselho Municipal do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental. Também foi informado que estão em andamento, na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, diversos processos administrativos para elaboração de estudo de impacto ambiental para implantação de empreendimentos habitacionais nestas áreas. Assim, uma liminar foi requerida para suspensão da lei até o julgamento do mérito. A liminar foi concedida em julho de 2013. Segundo o relator do processo, desembargador João Barcelos de Souza Júnior, a Constituição Federal exige a participação da população dos municípios na elaboração de normas referentes ao desenvolvimento urbano municipal. Também a Constituição Estadual, no artigo 177, determina que os municípios devem assegurar a participação das entidades comunitárias legalmente constituídas na definição do plano diretor. No caso em questão, o desembargador afirmou que a manifestação do conselho não supre a participação popular, exigida constitucionalmente. “Afora a questão ambiental, a ofensa ao direito da população de tomar conhecimento e discutir o projeto se mostra incontestável”, afirmou o relator. Por maioria, os desembargadores acompanharam o voto do relator. Assim, a lei foi declarada inconstitucional. ao Jornal do Comércio para o Dia da Indústria, caderno especial que será publicado na segunda-feira. Depois de mais de uma hora de conversa sobre a economia do Rio Grande do Sul, o governador aceitou falar de um tema mais pessoal, no caso, sua trajetória e as circunstâncias de sua vida até vencer a eleição do ano passado. “Eu fui fundador de grêmio estudantil com 13 anos de idade, participei do primeiro congresso de estudantes (pós-golpe militar) em 1965, quando tinha 17 anos em Santa Maria, pela Uges (União Gaúcha de Estudantes Secundários). E a vida continuou...” Vereador, deputado estadual por cinco mandatos, secretário de Estado, deputado federal e duas vezes prefeito de Caxias do Sul, Sartori lembra o incentivo de diversos setores do PMDB no Rio Grande do Sul e cita a influência do ex-senador Pedro Simon (PMDB) para disputar o Piratini em 2014. Meses antes, a imprensa começou a questioná-lo sobre a candidatura. “É jornal, é rádio, é televisão, é partido, é deputado estadual, é deputado federal, é diretório estadual, diretório regional, diretório municipal, é o Simon — com quem sempre tive uma relação muito afetiva, muito próxima, pela liderança e pelo que representou para todos nós como símbolo da luta democrática no nosso País, grande líder do MDB no Rio Grande do Sul… Aí não tive como não aceitar o desafio”, lembra o governador.