Primeiro relatório de intercâmbio de longa duração. Marcus Vinícius Rodrigues Garcia. Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil. –Liège, Belgica. Bom, agora já faz quase três meses que eu estou aqui na Bélgica e eu posso falar com todo certeza do mundo que o tempo longe de casa passa muito rápido. Então... Minha última semana no Brasil foi bem agitada e estressante: Malas pra fazer, visto atrasado, coisas pra comprar e muitas outras coisas. Faltavam quatro dias pra minha viagem e o meu visto ainda não tinha chegado. Isso me deixava inquieto demais. Enfim, depois de muita aflição eu recebi uma ligação falando que estava tudo em ordem e que o mesmo estaria em pouco tempo nas minhas mãos. Essa, sem dúvida foi uma ótima notícia. Eu pulava, sorria, cantava, dançava e ao mesmo tempo me senti triste. Pois naquele momento parece que a minha "ficha" começava a cair. A partir dai comecei a arrumar os preparativos pra viagem e mesmo assim acabei deixando quase tudo pra última hora. No dia da viagem ainda não tinha feito as malas e era muita coisa pra fazer em pouco tempo. Mas apesar do corre e corre, tudo deu certo e eu cheguei no horário certo ao aeroporto. A caminho do aeroporto eu tentava enviar mensagens a todos os meus amigos e ao mesmo tempo sorria pra minha família, sabendo que depois de alguns instantes eu não teria mais eles perto de mim. A pior parte pra mim foi ter que despedir da minha família. Eu sentia saudade mesmo antes de partir. As lágrimas escorriam dos meus olhos numa frequência rápida e fazia com que eu me sentia sem força. Eu tinha a sensação de estar deixando minha vida pra trás. Na hora de passar pela enorme porta preta de vidro foi tenso. Aquela porta era tudo o que eu mais detestava naquele momento, pois a partir dali eu já não via mais a minha família. Mesmo estando chorando muito respirei fundo e fui. Depois de andar uns 10 metros, me deparei com uma menina que estava chorando muito, como eu. Automaticamente eu a abracei e ali choramos juntos. Depois de um tempo ela me contou que estava indo pra Londres fazer um estágio universitário durante dois anos. Eu a consolei e ela me consolou. Eu estava nervoso, falava sem parar e mal tinha tempo pra respirar. O momento de entrar no avião e deixar meu país pra trás estava próximo. Por fim embarquei e por sorte, ao meu lado tinha um padre e do outro lado tinha um menino que também estava indo pra Bélgica. Ele ficou comigo o tempo todo. Ajudou-me e tranquilizou-me muito. O meu voo foi muito engraçado, pois as duas pessoas que estavam sentadas do meu lado estavam cansadas e queria dormir, mas eu só queria falar e fui falando do “Brasil até a Bélgica.” Quando eles dormiam eu fazia barulho pra acorda-los e se eles não despertassem em falava comigo mesmo. Passamos por algumas tribulações e isso me deixava ainda mais nervoso. Fiz conexão em Londres e cheguei a Bruxelas mais ou menos 18h30min. Na hora de passar pela imigração uma moça me ajudou, porque o senhor falava comigo em francês e eu não entendia nada do que ele estava querendo dizer. Ela me ajudou e tudo deu certo. Eu estava extremamente ansioso pra ver a minha família e fui correndo pegar as minhas malas. Com muito estresse, fui encontrar-los. Lá estava a minha host mother, meu host brother, minha host sister e meu host dog. O primeiro contato foi difícil. Eu tentava falar francês e nada saia. Eles conversavam entre eles e eu não compreendia nada, somente sorria, pra tentar causar uma boa aparência. Fomos jantar na casa da irmã da minha host mother. Comemos um prato tipicamente belga: Batata-frita, “boulet” (como um bolinho de carne moída), “tomate crevette” (tomate recheado com camarão). A comida estava uma delícia. Comi bastante e também tentei falar um pouco, mas não sabia falar muito. Finalmente chegamos em casa e o que eu mais queria era dormir. Fiquei em casa durante duas semanas (sem escola). Isso foi bom, pois me ajudou a me adaptar melhor ao país. Nesse tempo eu conheci vários lugares: Mini Europa, Holanda etc, e tudo era mágico pra mim. Eu tirava foto de tudo, sorria pra tudo e me sentia num filme. As pessoas que estavam perto de mim riam e achavam a forma como eu me expressava super diferente e engraçada, pois pra eles, tudo era normal, mas pra mim, era tudo novo, diferente e surpreendente: As casas, os carros, as estradas, o clima, as estrelas, a língua, as lojas, TUDO. Como a Bélgica é um país pequeno, todos os jovens do Rotary se conhecem aqui. Não é difícil pra isso, pois a facilidade de pegar um trem e viajar de uma cidade pra outra é enorme. Por conta disso, fiz amizade com pessoas de todo o mundo, inclusive com os brasileiros. Tenho bastantes amigos e com eles eu saio, brinco, rio e me divirto bastante. (Passeio de barco em Namur.) (Passeio com amigos no centro da cidade.) O primeiro dia de escola foi bem estranho pra mim. Eu não conhecia ninguém e não sabia falar a língua muito bem. As pessoas vinham falar comigo, mas eu não conseguia me expressar totalmente como eu queria. Entretanto não foi muito difícil pra fazer amigos. Eu ia me integrando no grupo e falando mesmo sabendo que estava tudo errado. Aqui todas as escolas são públicas. Afinal, o serviço público aqui é ótimo (você pode ir ao hospital, escola e outros serviços com muita facilidade e sem pagar nada). Na hora dos cursos, ninguém fala nada, todo mundo tem respeito pelo professor e as matérias são diferentes também. Eu faço todas as matérias que no Brasil e a minha opção é arte de expressão (teatro, cinema, filme, fotografia...). Eu tenho aula das 08:15 até às 16:30, quase todo dia. É muito mais difícil e cansativo, pois passamos a maior parte do dia estudando. A comida e os horários das refeições são bem diferentes. Normalmente comemos pão com nutella/cereal/leite... no café da manhã (07:00). No almoço comemos pão com queijo, presunto, frango... (12h30min). E no jantar comemos sopa, legumes, carne, macarrão... (18h00min). No Brasil comemos várias coisas ao mesmo tempo, mas aqui não. Ou você come uma coisa, outra. Um dia eu fiz mexido para o meu conselheiro e ele amou. Ele disse que o prato é bem diferente pelo fato de ter muita coisa no mesmo prato, mas ele comeu e repetiu três vezes. O meu clube quer que eu faça um jantar pra eles brasileiro e em breve, eu farei. Na minha primeira família eu tive problemas. Eu não tinha liberdade. Não tinha diálogo. Eles não tinham higiene. Eu não comia muito bem. Por exemplo, certa vez que eu fiquei até 19h00min sem comer nada. Eu aguentei isso durante um mês, até certo dia que eu decidi falar com o Rotary e pedir pra trocar de família. Todos foram muito gentis e me entenderam super bem. Por conta disso, fiquei duas semanas na casa do meu conselheiro, mas não pude ficar muito tempo lá (pois é contra regra habitar na casa do seu próprio conselheiro) e por isso fui pra casa de uma rotariana que me acolheu muito bem também e lá eu fiquei durante três semanas e semana passada vim pra minha segunda família (que no caso já é a quarta). Estou gostando muito deles, pois são simpáticos, alegres e me tratam verdadeiramente como membro da família. Já viajei pra vários lugares aqui: Bruxelas, Bruges, Antuérpia, Mastrich (Holanda), Tongres e também Paris (com o Rotary) que eu amei. Foi uma viagem linda. Andamos de barco, visitamos a Torre Eiffel à noite e de dia. Fomos no Castelo e no Jardim de Versalhes. Fomos também em várias muséus, como por exemplo um dos mais conhecidos do mundo: Museu de Louvre. Foi incrível, sem dúvida. Nesse tempo que eu estou aqui na Bélgica já pude aprender muitas coisas. Uma delas é dar valor às pessoas que me amam. Saber lidar com as diferenças. Errar e saber que qualquer um pode errar também. Respeitar e ser respeitado. Enfim, em dois meses eu tive que fazer minhas malas quatro vezes. Já tive que me adaptar a várias famílias com gêneros opostos ao meu. Já tive que comer coisas que não gostava. Já tive que ficar quieto quando queria gritar. Já tive que sorrir quando tive vontade de chorar. Já tive que dizer adeus quando queria ficar. Enfim, já tive que passar por vários momentos, mas eu não arrependo de nada. Eu jamais vou desistir de mim, e o que eu nunca vou perder é a vontade de ser feliz. Eu só tenho a agradecer ao Rotary por essa enorme experiência que eu tô tendo de ser intercambista.