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IDENTIFICAÇÃO
Autor: Janete de Oliveira Santos
NRE: Cornélio Procópio
Escola: Colégio Estadual Barão do Rio Branco
Orientadora e Co-autora: Regina Célia Alegro
IES: Universidade Estadual de Londrina
Disciplina: Geografia e História
Conteúdo Estruturante: Construção da identidade paranaense; diferentes
grupos socioculturais e suas marcas na paisagem, no espaço urbano e rural e
no tempo
Conteúdo Específico: aspectos culturais das identidades e regionais;
memórias de trabalhadores.
Série: Ensino Médio
TÍTULO: O TRABALHO FEMININO NOS ALGODOAIS DE ASSAÍ (PR) NA
DÉCADA DE 1950.
Problematização do Conteúdo
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do
Paraná para o ensino de Geografia propõe que sejam estudados “diferentes
grupos socioculturais e suas marcas na paisagem urbana e rural” (DC-GEO, 2008,
p. 42). Isso porque o espaço geográfico é entendido como produto social,
delineado num tempo determinado, numa sociedade e num lugar específico. O
objeto material da Geografia é a superfície terrestre e seu objeto formal é
constituído pelas relações espaciais que aí se processam, num jogo múltiplo e
complexo de fatores naturais e humanos (MOREIRA, 1977).
Nesse sentido,
tornam-se fundamentais na análise do espaço geográfico o momento histórico
analisado e as características e a diversidade social produzidas num espaço
específico (DC GEO, 2008).
Por outro lado, as mesmas Diretrizes concebem que o ensino de
História, na análise das ações dos homens no tempo, deva respeitar o espaço no
qual esses feitos se constituem. Pode-se pensar, então, que tanto para a
Geografia Humanística como para a História, o lugar é um conceito chave, “dotado
de valor pelo sujeito que nele vive” (DC-GEO 2008, p. 25). Embora cada vez
menos o lugar se explica isoladamente, mas carrega consigo contradições
geradas pela relação local-global, é o espaço onde o particular, o histórico, o
cultural e a identidade permanecem presentes” (DC-GEO, 2008, p. 26).
Ainda, para o ensino de História tem-se como pressuposto que esse
campo do conhecimento privilegia “como objeto de estudo os processos históricos
relativos às ações e às relações humanas praticadas no tempo, bem como a
respectiva significação atribuída pelos sujeitos, tendo ou não consciência dessas
ações” (DC-HIS 2008, p. 13).
Para o ensino de História as mesmas Diretrizes (2008, p. 23) sugerem
abordagens, temas e questões que permitem “a introdução de novos sujeitos
pertencentes às classes trabalhadoras e novas temporalidades, novas formas de
consciência passaram a ser incorporadas pelas pesquisas historiográficas, tais
como as ligadas aos costumes, às tradições populares e às contra-hegemonias”.
Nesta perspectiva, priorizar o estudo de representações sobre o
trabalho feminino no cultivo do algodão na década de 1950, época áurea do “ouro
branco” em Assai (PR), buscando possíveis convergências que favoreçam o
diálogo no ensino da História e da Geografia, se justifica pela necessidade de
reflexão sobre o papel da mulher em diferentes tempos e lugares e de fatos
históricos que dão suporte à identidade e projetos de trabalhadores do algodão em
Assai e região.
O cotidiano dos estudantes é permeado por questões como a violência
contra a mulher, diferenças salariais, jornada dupla de trabalho, o direito à
educação, submissão feminina na família, etc. Estudar representações sobre a
catadora de algodão como personagem fundamental na construção de Assaí e
formadora das gerações atuais, pode permitir uma estrutura de conhecimentos e
uma consciência histórica que favoreça a compreensão “desse momento de
intensa circulação de informações, (...) pessoas e modos de vida” (DC-GEO, 2008,
p. 35).
Novos olhares correspondem a novas buscas de elementos pouco
discutidos ou ignorados, reinterpretação, desconstrução, numa experiência de
criar ou recontar histórias de pessoas, lugares e objetos, e de práticas de como
dar vez ao que passou despercebido tanto tempo.
Investigação Disciplinar
Sobre as catadoras e o trabalho feminino
As mulheres sempre trabalharam. Seu trabalho era da
ordem do doméstico, da reprodução, não valorizado, não
remunerado. As sociedades jamais poderiam ter vivido, terse reproduzido e desenvolvido sem o trabalho doméstico
das mulheres, que é invisível (PERROT, 2007, p. 109).
Em virtude do processo de modernização da agricultura na virada dos anos 1950
para os anos 1960, iniciou-se o êxodo dos trabalhadores residentes (colonos): “[...]
Morar nas cidades significou para o trabalhador a perda da roça de subsistência
[...] o aumento dos gastos com a própria sobrevivência, tais como: água, luz,
gás...” (PRIORE, 1997, p. 562).
Com a passagem do regime de colonato para o assalariamento,
as mulheres ganharam ainda a dupla jornada de trabalho. No
espaço da casa, as mulheres continuaram arcando com todo o
trabalho doméstico, realizado durante uma jornada extensa e
intensíssima. Suas vidas, especialmente se mães, resumem-se
ao trabalho. Levantam-se, em geral, às 4h da manhã, preparam a
comida para elas e os demais membros da família que trabalham
fora e os que ficam em casa. As 6h, “pegam” o caminhão ou
ônibus para uma jornada de trabalho de nove ou dez horas,
inclusive aos sábados. Ao chegarem a casa, por volta das 18h ou
19h, ainda vão preparar o jantar, lavar roupa, limpar a casa e
cuidar dos filhos (...) a participação masculina no trabalho
doméstico é muito rara (PRIORE, 1997, p. 564).
Embora a modernização tenha levado ao agravamento das
condições de existência da trabalhadora rural, as pesquisas mostram que essa
mulher nem sempre reconhece a dupla jornada que vivencia.
“Com tudo isso, quando chegava uma pessoa fazendo pesquisa,
a mulher dizia que não fazia nada. E assim foi ficando mais difícil
o reconhecimento do trabalho como profissão. Assim todas as
mulheres eram consideradas do lar ou domésticas”
(WOORTMAN; MENACHO; HEREDIA, 2006, p. 25).
Em Assaí, na década de 1950, não foi muito diferente: “O
trabalho familiar predominava nos algodoais, [...] Mulheres e crianças, além do
cuidado com a casa, a horta, os animais e alimentação dos camaradas, iam para a
roça e compartilhavam das tarefas no cultivo do algodão” (ALEGRO;
GONÇALVES; GASPAR; SANTOS, 2007, p.31). Embora o silêncio sobre o seu
trabalho para além das obrigações domésticas, é possível constatar que a mulher
exerceu um papel fundamental na produção e, portanto, na história local.
Espera-se que essa proposta de trabalho contribua para uma
reflexão sobre o ensino de História e Geografia, sobre a importância do trabalho
feminino nas lavouras de algodão em Assai, e sobre a exploração de documentos
em sala de aula, como tais e não como meras ilustrações.
Perspectiva Interdisciplinar
Nas Diretrizes Curriculares para a Educação Básica do Paraná
(2008) propõe-se que as relações entre Geografia e cultura sejam abordadas do
ponto de vista das relações políticas e de resistência.
Usar as aulas de geografia para produzir conhecimentos
principalmente em relação ao espaço local ou regional em que o aluno está
inserido é uma necessidade premente uma vez que não há materiais específicos
na área da geografia ou história para que os estudos partam da realidade local de
Assai.
Buscar na metodologia da disciplina de história, argumentos que
embasem a produção de material de estudo na área de geografia foi a estratégia
encontrada, pois dessa forma não só é possível produzir documentos, preservar a
memória, reconstruir a memória e identidades como também é possível constatar
e praticar a interdisciplinaridade tão necessária em nossas práticas pedagógicas
Desenvolvidas por grupos subordinados para contestar a
hegemonia daqueles que detêm o poder [...] exploram uma vasta
gama de subculturas populares, interpretando seus significados
contemporâneos em termos dos contextos materiais específicos
[...] Parafraseando Hall, a cultura é o meio pelo qual as pessoas
transformam o fenômeno cotidiano do mundo material num
mundo de símbolos significativos, ao qual dão sentido e atrelam
valores [...] o trabalho de Hall e seu grupo tem o mérito de nos
lembrar das implicações políticas dos estudos culturais e da
necessidade de focalizar a análise da cultura em termos mais
adequados de um subcapitalismo (COSGROVE; JACKSON
APUD DCE GEO, 2006, p. 40).
Uma possível definição dessa ‘nova’ geografia cultural seria:
contemporânea e histórica [...]; social e espacial [...]; urbana e
rural; atenta à natureza contingente da cultura, às ideologias
dominantes e às formas de resistência. Para essa ‘nova’
geografia, a cultura não é uma categoria residual, mas o meio
pelo qual a mudança social é experienciada, contestada e
constituída (COSGROVE; JACKSON apud DCE GEO, 2006, p.
40).
O tema aqui proposto e sua abordagem estão vinculados ao
conteúdo estruturante “Dinâmica Cultural” (DC-GEO 2008), pois permite a análise
do espaço geográfico sob a ótica das relações sociais e culturais. A abordagem
cultural do espaço geográfico como um campo de estudo da Geografia é
importante área de pesquisa acadêmica, embora esteja pouco presente como
conteúdo de ensino na escola básica. “Os objetos que interessam à geografia não
são apenas objetos imóveis, mas também aqueles próprios do domínio do que se
chama a Geografia Humana e através da história desses objetos, isto é, como
foram produzidos e mudam, a geografia Física e a Geografia Humana se
encontram” (SANTOS apud DCE-GEO, 2006, p. 23).
As duas disciplinas buscam, no tempo e no espaço, o afirmado
por Claval:
Por que os indivíduos e os grupos não vivem os lugares do
mesmo modo, não os percebem da mesma maneira, não
recortam o real segundo as mesmas perspectivas e em função
dos mesmos critérios, não descobrem nele as mesmas vantagens
e os mesmos riscos, não associam a ele os mesmos sonhos e as
mesmas aspirações, não investem nele os mesmos sentimentos
e mesma afetividade? (CLAVAL apud DCE-GEO, 2006, p. 39).
Neste sentido, Geografia e História, espaço e tempo se
encontram. E, neste projeto, esse encontro é fundamental para o tratamento do
tema aqui proposto. Estudar e monumentalizar ou documentar o trabalho feminino
e a sua contribuição para o desenvolvimento no contexto da cultura do algodão
no município de Assaí na década de 1950, compatibilizando a temática e uma
metodologia comum ao campo da Geografia e da História, e do seu ensino na
educação básica, no qual os conteúdos escolares se apresentam de forma
integrada, pode contribuir para a caracterização do trabalho feminino nas lavouras,
a construção de uma memória sobre estas trabalhadoras, e como suporte para a
formação do aluno do ensino básico como pessoa e cidadão.
Para Carvalhal (2005, p. 112), pesquisadora do campo da
geografia,
a Geografia busca entender as diferentes relações sociais
configuradas no espaço, sendo esse espaço criado através das
relações do homem com a natureza, que se dá pelo trabalho e o
trabalho é realizado pela sociedade dividida em classes sociais,
que por sua vez também é dividida em sexos, nos dizeres de
Souza-Lobo (1991): ‘a classe operária tem dois sexos’.
Priore, pesquisadora no campo da história, afirma que:
As mulheres são beneficiárias dos avanços e conquistas da
cidadania. Entretanto, elas merecem um capítulo específico
devido às particularidades de sua própria história. Em
determinados momentos de ampliação de direitos e progressos
democráticos, as mulheres não foram favorecidas do mesmo
modo que os homens (1997, p. 265).
As questões acima podem ser tratadas a partir de um tema que
privilegie o local. O recorte aqui proposto tem como foco temático o trabalho das
mulheres nas lavouras de algodão, o “ouro branco”, em Assai (PR), na década de
1950, o auge da cultura e da cidade. A cultura do algodão em Assai, no período
em referência, baseava-se no trabalho familiar, mas, também contava com o
trabalho de peões (diaristas sem vínculos de emprego). E, embora menos
freqüente, praticava-se um sistema de remuneração por tarefa ou produção. O
colono recebia um salário anual para cuidar de determinadas tarefas e morava na
propriedade. Além do salário, tinha a sua disposição terras onde cultivava
alimentos para si.
Nesse contexto, o trabalho feminino era muito solicitado, tanto na
lavoura do algodão, quanto na criação dos filhos e nas atividades complementares
como a lida na casa, a criação de animais, plantio para a alimentação, entre outras
tantas. Do trabalho da mulher dependia o ciclo vital da família, como constatou
Priore (1997, p. 558) relativamente a outros espaços e tempos.
Algumas obras, como de Wachowicz (2001, p. 207) e de Padis
(1981, p. 91), trazem referências a respeito do interesse de produzir algodão no
Brasil. A idéia inicial teve base nos estudos de Lord Lovat, um dos membros de
um grupo de economistas ingleses que faziam parte da Missão Montagu em 1924.
Conforme
aponta
Padis
(1981,
p.106),
“os
acontecimentos
internacionais relativos à crise do algodão a partir de 1.932 criaram condições
para que os colonos recém-instalados desenvolvessem a cultura dessa fibra que,
na época apresentava ao Brasil excelentes condições” .
Aos imigrantes que vinham do Japão era exigida a viagem em
família com pelo menos quatro membros com mais de 12 anos de idade e em
condições de trabalho. Também a maior parte dos migrantes brasileiros veio para
Assai com suas famílias. Assim, o cultivo do algodão não foi apenas uma ação
dos homens, mas de mulheres e crianças, personagens silenciosos nos discursos
sobre a cidade. É preciso criar espaços para as suas vozes nas lembranças dos
seus moradores. Imagina-se que isso possa ser realizado também na sala de aula
de História e de Geografia.
Contextualização
A lista abaixo foi extraída de um estudo desenvolvido pela autora acerca de 21
entrevistas de mulheres e 8 entrevistas de homens que na década de 1950
exerceram a profissão de catadores de algodão na cidade de Assai (PR). O
algodão significou para Assai o que o café representou para o norte do Paraná em
geral. Buscou-se nessa entrevistas delinear como essas mulheres conjugavam
seus afazeres,o que eram para elas as “obrigações” femininas, como era
percebido o seu trabalho na roça e dentro de casa. As entrevistas indicaram:
Lista dos afazeres
Afazeres que as mulheres descrevem
Levantava cedo e fazia o almoço
Arrumavam as crianças
Iam pra roça trabalhavam o dia todo
Voltavam iam catar lenha para cozinhar
Carregavam água
Cuidavam das criações
Faziam a janta
Davam banho nas crianças
Arrumava a casa, a cozinha
Lavavam roupas (algumas)
Levavam comida na roça
Varriam o terreiro (aos domingos)
Areavam as panelas
Arrumavam a casa, barreavam a casa e o
fogão
Faziam fubá
Socavam o milho para fazer a canjica
Torravam o café
Matavam o porco e o preparavam
Faziam doces, pães
Lavavam, ferviam e passavam roupas
Costuravam, pra família , pra casa, e outros
Colhiam e batiam o feijão
Colhiam amendoim, milho
Afazeres que os homens descrevem
Fazia comida e levava pra roça
Trabalhava na roça
Carregava água
Cuidava das criações
Fazia janta
Arrumava a casa
Arrumava a cozinha
Lavavam roupas
1)-Discussão
como a mulher descreve seu trabalho
Os homens entrevistados tinham lembrança de como era o trabalho feminino e o
que lembravam dele, mas de forma genérica, como se aquilo não fizesse parte do
seu cotidiano; lembraram que elas lavavam roupas, faziam comida e cuidavam da
casa e dos filhos.
Já a mulher catadora de algodão descreve seu trabalho na roça como uma
contribuição, um complemento ao trabalho do homem. Em nenhum momento ela
descreve seu trabalho na roça com detalhes, de como retiravam as maçãs dos
pés de algodão, de como capinavam, como era o método de raleação do algodão
e nem mencionaram quantidade ou dinheiro ganho com a lida na roça. Mas, ao
descrever suas atividades cotidianas em relação à casa, elas nos fornecem ricos
detalhes de como e de onde carregavam a água, como davam banho nas
crianças, como dividiam o tempo depois do trabalho na roça, qual era o trabalho a
ser feito imediatamente, e qual podia esperar pelo final semana. Elas também
descrevem como arrumavam a comida nas vasilhas para levar à roça, como
carregavam essas vasilhas, e aproveitavam as mãos para aparar uma criança
presa às costas.
Ainda nos fornecem detalhes dos cuidados com suas roupas: como eram
compradas, feitas, lavadas, guardadas. De suas casas, de como faziam para lhes
dar um aspecto de lar aconchegante, os detalhes dos móveis. De como
aproveitavam tudo que lhes caía as mãos, de como criavam, adaptavam os parcos
recursos para transformar tudo em comida ou em produtos de limpeza.
Enfim, essa mulheres selecionaram em suas memórias tudo o que lhes era
atribuído como obrigatório: as obrigações femininas. E as obrigações femininas
referiam-se ao trabalho doméstico e cuidado com os filhos.
Mesmo com a lida na roça, as mulheres davam conta de tudo, mesmo que
tivessem que entrar madrugada afora, sem um só dia de descanso na semana,
cumpriam sua missão de ótimas donas de casa. Afinal o que está implícito para a
mulher, é que mesmo sendo necessária sua atuação na roça e ela trabalhando
como os homens trabalhavam, o que se destaca na sua lembrança é aquilo que a
sociedade lhe atribuía como “obrigação”: o cuidado da casa e dos filhos.
2) Os homens dizem que ficavam "forgados" e que as mulheres trabalhavam
mais. Mas, qual ajuda era oferecida à mulher?
Os homens reconhecem que as mulheres trabalhavam mais que eles, pois após
com o trabalho executado na roça as mulheres tinham uma nova jornada de
trabalho a cumprir, como afirma o Sr José Delois Matins: “[...] as muié trabaiava
mais do que os homem, que os homem chegava a noite, ficava quieto
parado...forgado, i as muié , ó [...]”. Com um gesto confirma que as mulheres
trabalhavam à noite e eles assistiam, pois nenhuma ajuda lhes era oferecida. Não
se concebia um homem fazer um trabalho doméstico e a própria mulher encarava
essa nova jornada sua como uma obrigação, não como trabalho.
3) A mulher e o homem sempre encararam o trabalho feminino na roça como
uma contribuição para a renda familiar, mas não uma profissão da mulher
com direito a rendimento próprio.
As mulheres iam pra roça para complementar o orçamento doméstico, mas esse
trabalho jamais foi visto por homens e mulheres como trabalho. Ambos
enxergavam como uma contribuição. Isso se observa quando elas afirmam que
quem recebia o dinheiro era o chefe da casa, o pai ou o marido. Portanto, se a
mulher com seu trabalho na roça não era vista como uma trabalhadora com direito
a receber pelo que havia feito, e na casa o trabalho desempenhado também não
era observado, essa mulher, apesar de ter uma jornada de trabalho de até 16
horas ou mais, não era vista como uma trabalhadora, somente como
colaboradora, sem direito a renda, que estatisticamente não aparecia, não
contava.
Proposta de Atividades
Análise de fragmentos de entrevistas utilizadas que resultaram nas afirmações
acima, destacando convergências e divergências entre o relatado sobre o
cotidiano das trabalhadoras da roça nos anos 1950 e aquilo que os alunos sabem
sobre a vida dessas trabalhadoras nos dias atuais. Ainda é possível comparar
exemplares de falas masculinas com as femininas e explorar a linguagem
regional.
Lavagem da roupa
“A roupa só lavava dia que chuvia. E ai argudão tava moiado dai dava pra lavar a
roupa até da um ventinho assim seca pra vorta pra roça, e intão no dia de
domingo só, minha mãe memo só lavava roupa só no dia de domingo só, parece
que era uma coisa.” (Maria Virginia)
“[...] É... a gente trabaiava o dia intero na roça dipois chegava im casa, inda tinha
que busca água na mina pra todo mundo tomá banho. A famia era grande, era
difícil... num tinha água encanada, num tinha nada.” (Maria A. Trindade)
“[...] É... a gente trabaiava o dia inteiro na roça....inda tinha que busca água na
mina pra todo mundo toma banho...era apurado [...]” (Maria A Trindade)
“[...] naquele tempo, se carregava água nas lata, da mina, né? Ia lá, mina longe lá.
Trazia lata d’água na cabeça, tanto pa tomá banho como pa fazê a a comida.
Então, a gente enchia aqueles barriozão d’água, assim de, pa, gastava o dia
intero, era assim [...]” (Terezinha L. dos Santos).
“Quando saia pa roça, já dexava o varal cheio de ropa... num tinha muita ropa,
então tinha que chega da roça, lava aquela ropa, dexa no varal pa no outro dia
cata, vesti de novo, pa ir pode trabalha de novo. Era difícil.” (Maria J. Correa)
“[...] naquele tempo o pessoal usava, passá goma na ropa sabe. Então engomou e
o ferro era de… brasa enchia o ferro de brasa, passava tudinho assim, engomava
[...]” (Maria J. Correa)
“[...] no rio, na mina... Andava uns 2 km para lavar a roupa, em um outro rio, num
outro sítio... a gente lavava roupa para ela, ela ia estender: tinha que ser do jeito
dela. [...] lavá ropa, então, da casa da gente pra baixo, a gente morava num
altozinho assim tinha uma bica que é um jato de água eu ia naquela bica tinha
uma taba assim comprida e eu lavava roupa ali, ali já tomava um banho porque
me molhava dos pé a cabeça que era uma bica muito grande [...]” (Maria de L.
Barros).
“[...] pegava a cinza também fazia um barro com aquela cinza e barreava a casa
barreava a casa barreava as paredes, barreava o fugãozinho que ela cozinhava
ficava tudo branquinho o chão branquinho tudo batido [...]” (Maria de Lourdes)
“[...] nóis começô trabaiá” já em... desde...eu tinha seis “ano” aí uma vez eu cortei
minha mão... aqui abriu esse pedaço... entre os dedos polegar e indicador da mão
direita... Aí ia lá colocava “ropa ferveno... e o medo de “apanhá” quando a mãe
chegasse... lavei todinha aquela roupa com essa mão daqui, essa mão esquerda...
senão quando (a mãe) chegasse, Deus me livre!...era muito brava demais, era só
trabalho [...]” (Olinda de J. Masson)
Cuidados com a casa
“[...] na mina... com bucha.. .essa que planta até hoje... as panelas eram areadas...
fazia o pó de tijolo e deixava numa vasilha... pegava a bucha... no sabão e no pó...
a panela de ferro.. .ficava brilhando [...] Era um rancho, mas era bem limpa, as
camas com aquele colchão de palha; lençol limpinho; as prateleiras com toalinha
[...]” (Lídia M. Duarte)
“[...] era tudo esburacada...era um pau aqui...outro ali então todos via que você
tava fazendo lá dentro [...]” (Maria de L. Barros)
“[...] pra guardar roupa também, por pobrezinha que fosse, não colocava uma
roupa no baú se não estivesse passada; era muito caprichosa... passava com
ferro de brasa, sabe? Aqueles ferrinho preto que tinha, não é aquele aberto dos
lados não, era aquele fechado inteiro, pesado, aí você colocava um pau de lenha,
bom no fogo, para fazer brasa e passava a roupa e era de noite ainda [...]” (Lídia
M. Duarte)
“[...] então ela socava um pilão de milho pra fazer canjica [...]” (Lídia M. Duarte)
“[...] minha mãe fazia sabão (era feito de cinza) sabonete (não tinha) usava sabão
de cinza prá tudo...tomá banho; lava a cabeça [...]” ( Geny)
“[...] a gente pegava o milho ralava penerava fazia aquela fubá [...]” (Maria de L.
Barros)
“[...] a Miltinha com 4 anos tava pondo fogo no feijão... era caldeirão, aquilo a
menina atiava fogo... lenha... fogão... pegava o barde... água e jogava na parede,
senão a casa pegava fogo [...]” (Leomar D. da Silva)
“[...] era muito caprichosa... ela cuidava bem da gente... era muito trabalhadeira...
a gente pode trabalhar o tanto que quiser, que não chega aos pés dela.....era
muito limpa [...]” (Lídia M. Duarte)
“[...] tinha que trabalhá...não podia ficar ninguém parado...Pra mulhé era
sofrimento, pra homem amanhece o dia vai pra roça...só vem dormi...e a
mulher....Vim enganada...não sabia que era assim..muito difícil [...]” (Maria de L.
Barros)
Costura
“[...] eu custurava à noite, paquelas criança, né? Remendava ou, se tinha pano
novo, eu fa-..., cortava e fazia. Tinha dia que eu trabaiava até 2 hora da
madrugada na máquina [...]” (Terezinha L. dos Santos)
“[...] esse saco de açúca, então minha mãe comprava esse saco de açúca e
custurava à mão e a gente vestia, calcinha também era feito de saco de açúca
[...]” (Maria J. Correa)
“[...] ela fazia lençol, fronha, minha mãe sabia fazer as coisas, ás vezes ela
bordava e tinha aquelas prateleiras, tudo com toalinhas, tudo bordadinhas...(Lídia
Marcelino Duarte)
“[...] paninhos sabe bem fraquinho, aquelas chitinhas, aqueles paninhos de
bolinhas, aqueles xadrez, era aquele que meu pai comprava pra nóis. [...] Nóis
usava o comi-quieto, comi-quieto marrom, comiquieto vermelho, comi-quieto azul,
pá mulherada era comi-quieto vermelho, azul, agora os homens usava aqueles
comi-quietos marrom [...]” (Maria José Correa)
A lida na roça
“[...] tampava bem tampado pra não cai a tampa ponhava os prato e as colhe num
emborná e a minha mãe ponhava no pescoço do mais grandinho pra i cumigo, ai
ele levava a concha de tira cumida as colhe e os pratos naquele emborná e eu
fazia uma rudia ponhava na cabeça e marava, o mais piquinininho que mamava
nu peito marava que nem japoneis mara nas costa travessado e ponhava o
carderão na cabeça e la vou eu com o carderão na cabeça eu tinha que leva o
carderão sem segura porque eu tinha que apoiá o minino também que tava nas
costa [...]” (Maria Virginia).
“[...] as crianças, as mulhé, os velhinho, os velho, todo mundo tava trabaiando [...]”
(Leomar D. da Silva)
“[...] ia com as 4 crianças, nenezinho de 15 dias...deste tamainho assim, 3 anos já
tava lá [...]” (Maria J. Correa)
“[...] fazia torda...o algodão era bem alto...fazia aquelas casinhas assim coberta de
pano...ponhava a criancinha deitadinha ali debaixo...os mais grandes cuidavam
dos pequenos [...]” (Maria A Lajarim)
“[...] nóis levo as crianças num...fez uma caminha de fardo, assim no chão...meu
marido levava eis dendum balaio, queis era piqueninho...chegava lá, eis ia durmi e
nóis ia coiê argodão [...]” (Terezinha L dos Santos)
“[...] desde seis anos...minha mãe já largava cãs minha conta [...]” (Olinda de J.
Masson)
“[...] Era a mesma coisa, levantava de manhã...de madrugada...fazia
comida......ficava o dia inteiro...à noite...fazia a janta...tomar banho e ia dormi [...]”
(Eurides F. Pelati)
“[...] Nenezinho nascia, dali 15 dias, minha mãe tava no meio do algodão [...]”
(Maria J. Correa)
“[...] Era muito trabalho...muito sofrido...era bão todo mundo era feliz...todo mundo
unido...num tinha diferença as pessoas era tudo igual [...]” (Maria A Lajarin)
Fala dos homens em relação ao trabalho das mulheres
“[...] chegava ...da roça ...de tarde...dia as veis lavá ropa ainda di noite...era tudo
difícil [...]” (José D. Martins)
“[...] elas iam na frente...punha o fejão nu fogo quando o marido chegava na casa
o frango a carne tava tudo pronto [...]” (Jerônimo J. dos Santos).
“[...] ia pra casa...e fazer comida e fazer comida pra hoje e amanhã cedo [...]”
(Pedro Maciel)
“[...] amarravam as crianças com pano em forma de cruz nas costas, aquelas
crianças...durmia na costa da mãe... I elas só catando argudão [...]” (José Pupo)
“[...] quando chegava da roça...de tarde...dá banho nas criança [...] quando
chegava da roça...tinha que eis arruma cozinha...co a lamparina [...]” (José D.
Martins)
Ah! Era cuidá da casa [...]” (José Pupo)
“[...] Elas catavam mais que os homens... toda vida perdi para minhas irmãs [...]”
(André Lajarin)
“[...] O dia das mulheres que catavam argudão...o povo di antigamente agüentava
mais...as muié ia pra roça cuia argudão [...]” (Jerônimo J. dos Santos)
“[...] as muié trabaiava mais do que os homem, que os homem chegava a noite,
ficava quieto parado...forgado, i as muié , ó [...]” (José D. Martins)
“[...] e nu oto dia era a mesma coisa labuta i ninguém sintia cansera, nada eu fico
besta, cum isso viu minha mãe fazia isso todo dia [...]” (Jerônimo J. dos Santos)
“[...] Aquelas mãe sofriam barbaridade...eu cansava de vê...era tão apurada...a
colheta. Que aquelas mulher marrava as criança na costa e trabalhava o
dintero....cumué qui essas dona güenta trabalha cum...fio nas costas...puis lá
guenta [...]” (José Pupo)
“[...] Coitada das mulheres, trabalhava mais que os homens... bem cedo já de
serviço. A mulher sofria mais [...]” (Pedro Maciel)
“[...] um dia...eu tava fazendo a bóia...fervendo o feijão... você ta sofrendo
muito...você tem que casá...e eu realmente eu e eu realmente eu tava
desacorsoado...trabaiava de dia e de noite [...]” (Luiz Bizarria)
LIVROS
PRIORE, Mary Del.(org); BASSANEZI, Carla (coord. de textos) História das
Mulheres no Brasil. 2ª ed., São Paulo, Ed.Contexto 1997, p.256.
Mary Del Priore destaca em seu livro a história das mulheres desde o período
colonial até os nossos dias. É uma obra escrita por vários pesquisadores, entre
eles Ronald Raminelli que escreve sobre o cotidiano das mulheres indígenas;
Emanuel Araújo que discute a questão da sexualidade no período colonial;
Claudia Fonseca que escreve sobre a mulher, mãe e pobre; Margareth Rago que
faz uma reflexão sobre trabalho feminino e sexualidade e Maria Aparecida Morais
Silva que relata o cotidiano das mulheres bóias frias. As histórias narradas
destacam diversas realidades: campo e a cidade; a fábrica, a escola, o sindicato:
mulheres negras, brancas pobres, indígenas. “Enfoca as mulheres através das
tensões e das contradições que se estabeleceram em diferentes épocas, entre
elas e seu tempo, entre elas e as sociedades nas quais estavam inseridas.”
(PRIORE, 2006, p. 9). A perspectiva pressupõe uma indagação: as mulheres têm
uma história?
PERROT, Michelle Minha história das mulheres. (trad. Ângela M. S. Côrrea).
São Paulo: Contexto, 2007.
Michelle Perrot relata a trajetória das mulheres ao longo da história e discute
várias questões relacionadas ao universo feminino. Sobre o trabalho das
mulheres, destaca como foram se inserindo no mercado de trabalho, como as
mudanças aconteceram, quais foram as dificuldades e os problemas enfrentados,
a desvalorização. Destaca o trabalho das camponesas, operárias, vendedoras,
secretárias, enfermeiras, professoras, atrizes e o trabalho doméstico (dona-decasa dos meios operários, dona-de-casa burguesa e empregadas domésticas).
Segundo Perrot (2007, p.110) “as camponesas são as mais silenciosas das
mulheres. Imersas na hierarquia de sociedades patriarcais, são poucas as que
emergem do grupo, pois se fundem com a família, com os trabalhos e os dias de
uma vida rural que parece escapar da história.”
ALEGRO, Regina C; GONÇALVES, Cátia Rocha; GASPAR, Edna de Souza;
SANTOS, Janete de Oliveira. Trabalhadores do Ouro Branco no Norte do
Paraná. Conselho de Editoração da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná.
Curitiba: Imprensa Oficial, 2007.
Esse livro é o resultado de um projeto que busca contribuir para a conservação da
memória dos trabalhadores locais, por meio de levantamento, organização e
análise de fontes para a memória dos trabalhadores de Assai (PR). Traz
fragmentos de 46 entrevistas colhidas junto a antigos catadores de algodão que
trabalharam em Assaí na década de 1950. Esses fragmentos acompanham as
fotografias oferecidas pelos entrevistados. As fotografias foram aparecendo nas
entrevistas, primeiramente com a intenção de servir como testemunhos de suas
narrativas, e funcionaram como articuladoras das lembranças narradas. Constam
do livro aquelas cujos temas são os mais comuns entre os antigos catadores de
algodão. O livro conta de maneira singela, o fascínio que a produção do "Ouro
Branco" provocava nos personagens que viveram nesse período.
FILMES
Acorda, Raimundo... Acorda
Ficha técnica:
Ano: 1990
Direção: Alfredo Alves
Duração: 16 minutos
Realização: Ibase e Iservídeo
Sinopse: aborda as relações de gênero no Brasil. “um dono de casa, grávido, que
vive oprimido por sua mulher. Ela trabalha fora enquanto ele toma conta das
crianças e da casa. Reproduzindo a relação machista comum entre as famílias de
trabalhadores brasileiros, o filme – baseado na rádio novela de José Ignácio Lopez
Vigil – mostra apresenta a realidade cotidiana de forma invertida entre os sexos”
(http://jc.uol.com.br/cbnrecife/2008/03/07/not_81205.php).
Indicações de uso: para atividades de ensino que tenham como tema as
relações de gênero no Brasil.
Mulheres do Brasil
Ficha Técnica
Ano: 2006.
Direção: Malu de Martino.
Duração: 113 min.
Realização: EHFILMES; PLAYARTE.
Gênero: Documentário/drama
Sinopse
Oferece cinco relatos sobre mulheres de várias regiões do país mesclando ficção
e documentário. Por exemplo: depoimentos das artesãs de Alagoas; entrevistas
com as prostitutas de Curitiba; mostra a transformação de uma jovem de família
na Bahia e, depois, a saga da porta-bandeira no Carnaval do Rio.
Indicações de uso: para construção de um painel de leituras possíveis da alma
feminina brasileira.
Mulheres da Terra
Ficha Técnica
Ano: 1985
Direção: Marlene França
Duração: 25 minutos
Produção: Andrea Ippolito, Ângelo Matarazzo Ippolito, Beth Ganymedes, Maria A.
Neves, MF Produções Artísticas
Gênero: Documentário
Sinopse: O cotidiano penoso das mulheres que trabalham nos canaviais,
registrado através de seus depoimentos em que transmitem, de forma comovente,
a dureza do seu trabalho, na maioria das vezes combinada com uma vida afetiva
quase frustrada. As mais destemidas já participam de reuniões do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais, convencidas de poder um dia influir na mudança desse
estado de coisas.
Indicações de uso: para tratamento dos temas: a Questão da Terra: Reforma
Agrária, Invasões e Assentamentos, Minorias e a Exclusão Social, Trabalho,
Sindicalismo e Luta de Classes na hegemonia do Capital
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALEGRO, Regina C.; GONÇALVES, Cátia R.; GASPAR, Edna de S.; SANTOS, Janete de
O. Trabalhadores do Ouro Branco no Norte do Paraná. Conselho de Editoração da
Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial, 2007.
CARVALHAL, T. B. A inserção da mulher no mercado de trabalho e sindicato. Uma
contribuição aos Estudos de Gênero na Geografia. Ciência Geográfica, v. XI, n.XI, p. 11121, 2005.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO (PARANÁ). Diretrizes Curriculares da
Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná. Curitiba: Imprensa Oficial.
2006.
MOREIRA, Igor A Gomes. O Espaço Geográfico: geografia geral e do Brasil. São
Paulo: Ed. Àtica, 1977, p.9.
PERROT, Michelle. Minha história das mulheres. (trad. Ângela M. S. Côrrea). São
Paulo: Contexto, 2007.
PRIORE, Mary Del. (org.); BASSANEZI, Carla (coord. de textos). História das Mulheres
no Brasil. 2ª ed., São Paulo, Ed.Contexto, 1997.
SOUZA-LOBO, Elisabeth. A classe operária tem dois sexos. São Paulo: Brasiliense,
1991.
WOORTMAN, Ellen F.;. MENACHO, Renata; HEREDIA, Beatriz (org.) Nead Especial.
BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Agrário. Brasília. 2006.
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IDENTIFICAÇÃO Autor: Janete de Oliveira Santos NRE: Cornélio