G.5.1 - História.
Relatos sertanejos: a educação preterida ao trabalho no médio sertão maranhense nas
décadas de 30 e 40.
Fabiane P. de Sousa¹, José O. da Silva Filho², Elisangela T. da Silva³.
1. Estudante de Administração do IFMA Campus São João dos Patos; *[email protected]
2. Professor Msc. do IFMA Campus São João dos Patos;
3. Professora Esp. do IFMA Campus São João dos Patos.
Palavras Chave: Trabalho, memória, educação.
Introdução
A educação é o alicerce fundamental dos países
desenvolvidos. No entanto, o Brasil, país de grande
dimensão territorial e de economia emergente, possui
uma segregação cultural e diferentes níveis de
desenvolvimento, conforme demonstram suas regiões.
A pesquisa expõe, por meio de trabalhadores com idade
igual ou superior a setenta e cinco anos da cidade de São
João dos Patos/MA, como ocorreu o processo de
distanciamento da educação em prol do trabalho e buscou
entendê-lo.
Através da memória oral dos entrevistados o leitor
consegue visualizar os acontecidos de outrora e
compreender a realidade. Segundo Ecléa Bosi (1998), a
memória pessoal integra as recordações sociais,
familiares e grupais, ou seja, não existem lembranças de
forma isolada ou individual.
“Um mundo social que possui uma riqueza e uma
diversidade que não conhecemos pode chegar-nos pela
memória dos velhos. Momentos deste mundo perdido
podem ser compreendidos por quem não os viveu e até
humanizar o presente.” (Id. Ibid.)
coco babaçu, a gente ficava por lá. A professora quase
não ia lá, a casa dela era assim mais afastada, ela não ia,
fazia o que queria.”
É possível perceber como se desenvolveu a vida
profissional das pessoas da região na época. Buscando
meios de uma vida mais digna eles seguiram seus
caminhos através da aprendizagem de alguns ofícios.
“Não pensei em estudar nada não, conversa... Eu estava
caçando meio era de ter dinheiro para vestir uma roupa,
isso já querendo namorar. Quando a gente cresce a gente
quer andar arrumado, né? [...] Eu entrei numa oficina e
aprendi a profissão de marceneiro.” (Entrevistado 3)
“Naquela época a gente ia para a oficina para aprender e
não ganhava nada. Fazia a peça todinha, o mestre
recebia, vendia e não dava um centavo. Era desse jeito.”
(Entrevistado 6)
Por meio da riqueza de detalhes obtidos com as
entrevistas foi possível uma maior compreensão sobre
como era a vida dos nordestinos do sertão maranhense.
Suas dificuldades na maior parte dos relatos eram devido
à falta de infraestrutura, informação e perspectiva de vida.
As profissões escolhidas eram impostas muitas vezes
como único meio de sobrevivência.
Resultados e Discussão
Os treze entrevistados fizeram parte de um cenário social
e cultural em que a infância foi marcada por trabalhos
árduos, como relatou a entrevistada 4, por exemplo: “[...] o
mais horrível que eu achava era pisar arroz. Eu tenho calo
que nunca acabou na minha mão.”
As crianças ajudavam efetivamente no sustento das
famílias, que eram numerosas e com poucos recursos
financeiros.
“Papai e mamãe tiveram 15 filhos. É muita gente, né? E
meu pai era lavrador, nós batalhávamos com as roças. A
gente produzia o milho, o arroz e o feijão. Dava um
dinheiro bom. O papai fazia umas roças grandes,
enormes.” (Entrevistado 12)
“[...] Eles tiveram 10 filhos, quase toda casa era desse
jeito. E meus pais trabalhavam na roça [...] sempre que
eles iam pra roça, levavam a gente. Passava o dia por lá,
distante, a roça era muito distante” (Entrevistado 10)
No que diz respeito à educação escolar, todos os
recordadores passaram dificuldades, além de alguns pais
e jovens acharem que ler e escrever era suficiente, existia
também a falta de escolas e profissionais qualificados. O
entrevistado 10 descreve bem esta situação.
“E a gente ia era pra roça mesmo. “Não, não pode ir pra
escola hoje não, que hoje temos um serviço pra fazer lá na
roça. Não pode ir pra escola hoje não, a escola não bota
ninguém pra frente. Nós precisa é de ter coisa na roça pra
comer...”
“Eu fui lá nessa escola, lá eu aprendi a ler. A escola era
boa, tinha a sala, era um salão velho coberto de palha de
Conclusões
A pesquisa apresenta histórias, experiências, dificuldades
enfrentadas e conquistas alcançadas pelos recordadores.
Vários assuntos importantes foram expostos como o
trabalho infantil, a falta de educação escolar e a
impiedosa luta diária diante da precária infraestrutura.
Fica nítido que o contexto é diferente do senso comum,
que está associado ao conhecimento irrefletido sobre o
universo nordestino. O trabalho não foi uma opção, foi
uma imposição diante dos costumes e necessidades da
época, ou seja, a valorização do trabalho, preterindo a
educação a este, é relacionada com o fato das famílias
serem numerosas e de baixa renda, onde o número de
filhos era visto como acréscimo à mão-de-obra para
subsistência do núcleo familiar.
Agradecimentos
Esta pesquisa foi financiada com recursos da FAPEMA.
Processo Número: BIC-02585/13.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade – lembranças de velhos. 3ed. São Paulo: Cia
das Letras, 1994.
67ª Reunião Anual da SBPC
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