Tutoria sedutora em EAD
Por: OLIVEIRA, Marcos Moreira de – Instituto EADVIRTUAL. Curso de Tutoria
e Docência em EAD. 11ª Turma. Módulo 03 - Atividade Final.
Dominar a arte da tutoria em EAD é um trabalho que exige
dedicação, capacitação e competências. A notável relevância e complexidade
do papel do tutor nos programas de Educação a Distância, demonstram a
necessidade de um perfil profissional com habilidades e competências quase
paradigmáticas. Espera-se que o tutor, além de possuir domínio da política
educativa da instituição onde está inserido e conhecimento atualizado das
disciplinas sob sua responsabilidade, exerça uma sedução pedagógica
adequada no processo educativo.
No cenário da Educação a Distância, o papel do tutor extrapola os
limites conceituais, impostos na sua nomenclatura, já que ele, em sua missão
precípua, é educador como os demais envolvidos no processo de gestão,
acompanhamento e avaliação dos programas. É o tutor, o tênue fio de ligação
entre os extremos do sistema instituição-aluno. O contato a distância, impõe
um aprimoramento e fortalecimento permanente desse elo, sem o que, perderia
sua essência.
O segredo está em não deixar que o aluno sinta-se
desestimulado ou desinteressado. Tem-se por certo que no modelo tradicional
de ensino com a presença viva dos professores, o carisma acentuado de
alguns, reduz o desprazer e dificuldades encontradas por alunos menos
empolgados na aquisição do saber. No passado, presente e provavelmente no
futuro, a regra comum deve ser a de gostar-se das disciplinas quando o
professor-tutor desperta simpatia, quer inovando seus métodos de ensino, quer
seja pela utilização de seus recursos persuasivos naturais ou trabalhados. O
professor-tutor investe na construção de uma relação de respeito e confiança
buscando despertar o interesse para o conteúdo, visando à superação dos
obstáculos encontrados pelo aprendiz.
Ao estreitar-se os laços afetivos o processo de aprendizagem se
efetiva, a relação do aluno com o tutor muda, se aprofunda, propiciando a
permeabilidade educativa, uma vez que a educação deve ser vista sempre
como uma prática social ligada à formação de valores e práticas do indivíduo
para a vida social, com possibilidade de ir em direção a uma maior autonomia,
liberdade e diferenciação, com "a valorização da experiência vivida como base
da relação educativa e a idéia de autogestão pedagógica" (LUCKESI, 1993, p.
64).
É incontestável a alegria de uma criança ou adulto ao receber
publicamente do mestre, um elogio sincero pelo trabalho entregue no prazo,
pela avaliação acima da média ou mesmo pelo simples esforço e dedicação
aos
estudos.
Tal
recompensa
propiciará
o
reforço
da
auto-estima,
encaminhando o aprendiz na direção da sua autonomia, que no entender de
Piaget, significa estar apto a cooperativamente construir o sistema de regras
morais e operatórias necessárias à manutenção de relações permeadas pelo
respeito mútuo. Ele também caracterizava autonomia “como a capacidade de
coordenação de diferentes perspectivas sociais com o pressuposto do respeito
recíproco". (Kesselring T. Jean Piaget. Petrópolis: Vozes, 1993:173-189).
Não esqueça, a tutoria deve ter um enfoque voltado para captar
a atenção do aluno. É importante que o tutor demonstre competência individual
e de equipe para analisar realidades, formulando planos de ação coerentes
com os resultados de análises e de avaliação, mantendo deste modo uma
atitude reflexiva e crítica sobre a teoria e a própria prática educativa envolvida
no processo.
Verifica-se dentro de uma abordagem humanista que, para
Rogers, “as experiências de vida, o clima psicológico da sala de aula, a
integração professor/tutor-aluno são fatores importantes para a aprendizagem”.
(ROGERS, Carl, Belo Horizonte, Interlivros: 1977:73-76). Rogers enfatiza os
aspectos dinâmicos e ativos do ensino que reforçam o processo de interação
na aprendizagem e considera o aluno capaz de auto-direcionar-se, desde que
em ambiente propício e interessante. Sendo portanto, fundamental que o tutor
seja capaz de utilizar estratégias psicopedagógicas e técnicas diversificadas,
bem como alternativas de previsão, conhecimento e intervenção nos âmbitos e
locais adequados.
Para exercer o fascínio dos aprendizes e mantê-los atentos,
motivados e orientados é necessário captar a atenção dos mesmos,
demonstrando domínio das ferramentas de trabalho que irá utilizar na tutoria. O
tutor sedutor impressiona pela capacidade de demonstrar os atalhos, o manejo
eficaz das ferramentas que estão à sua disposição para o exercício da tutoria.
Para tanto é imprescindível gostar do que faz e fazê-lo com amor e dedicação.
É vital que demonstre interesse pela melhoria do processo ensinoaprendizagem e esteja com disponibilidade para o contato com o aluno,
sobretudo quando solicitado. O tutor, tal qual um pai, deve dentro das suas
limitações temporais, estar pronto para ouvir, apoiar e orientar o filho
quando este solicitar. Sem essa disponibilidade, o elo se rompe, tornando-se
difícil à retomada da relação pedagógica em níveis satisfatórios. A falta de
confiança no tutor, o desamparo sofrido pelo aprendiz num determinado
momento da sua jornada, em geral, leva à evasão irreversível e ao
desapontamento indesejável para os envolvidos no sistema educacional. É o
mesmo que o sentimento sofrido por uma criança quando se atira sem
medo nos braços do pai-protetor e este a deixa cair indesculpavelmente.
A indiferença machuca e afasta.
Apesar do tutor não ser um terapeuta, é fundamental que ele seja
continente, controlando as angústias e necessidades que possam emergir do
grupo tutorado, assim como, por outro lado, conter as suas próprias angústias
frente aos sentimentos, dúvidas e outros fenômenos emergentes do processo
dinâmico do processo ensino-aprendizagem.
E finalmente, é essencial, portanto, que o profissional atuando
como professor/tutor possua, entre outras qualidades, a facilidade de
comunicação, dinamismo, criatividade, liderança e iniciativa para realizar com
eficácia o trabalho de facilitador, junto ao grupo de alunos sob sua tutoria.
A capacidade para atuar como mediador e conhecer a realidade
de seus alunos em todas as dimensões (pessoal, social, familiar e escolar) é de
fundamental importância para que, de algum modo, ele ofereça possibilidade
permanente de diálogo, sabendo ouvir, sendo empático e mantendo uma
atitude de cooperação e possa oferecer experiências de melhorias de
qualidade de vida, de participação, de tomada de consciência e de elaboração
dos próprios projetos de vida. (Souza 2004).
O tutor estará aplicando coerentemente todo o poder de uma
pedagogia sedutora, ao identificar suas próprias capacidades e limitações para
atuar de forma realista com visão de superação. Tal percepção possibilitará
uma efetiva comunicação entre os diferentes níveis, quer institucional ou no
corpo dos alunos tutorados.
Uma vez que, segundo Roger (op, cit) o ser humano tem uma
propensão para aprender, o papel do tutor também será o de facilitar a
apreensão do saber estimulando o interesse do aprendiz pela discussão de
suas expectativas e auxiliando-os a superar os obstáculos transitórios.
É fundamental que o tutor seja capaz de auxiliar os seus alunos
no planejamento das atividades programadas, promovendo e provocando a
intercomunicação de modo a atingirem os objetivos da formação e
desenvolvam a capacidade de analisar problemas e a raciocinar criticamente.
Dentre as várias habilidades de um bom tutor, a empatia que
resulta da capacidade de se colocar no lugar do outro, propiciando uma
sintonia afetiva e a capacidade de comunicação, expressa na escuta atenta e
respeitosa, são elementos componentes vitais no exercício da tutoria sedutora.
No papel de mediador entre o saber e o aprendiz, o tutor sedutor
tem a perfeita consciência de que não é ele o detentor exclusivo do
conhecimento, mas antes de tudo, é uma ponte para a fluência dos saberes em
construção. O mestre sapientíssimo, Paulo Freire aponta o papel crucial que o
professor deverá desempenhar diz que “se a educação é dialógica, é óbvio que
o papel do professor, em qualquer situação, é importante. Na medida em que
ele dialoga com os educandos, deve chamar a atenção destes para um ou
outro ponto menos claro, mais ingênuo, problematizando-os sempre. O papel
do educador não é o de «encher» o educando com ‘conhecimento’, de ordem
técnica ou não, mas sim o de proporcionar, através da relação dialógica
educador-educando, a organização do pensamento correto de ambos”. (Freire,
1992).
Concluindo, como bem afirma o mestre Anísio Teixeira, vale
ressaltar que “o mais perfeito método de aquisição, de uma habilidade, não
poderá ser aplicado rigidamente. O educador terá de levar em conta que o
aluno não aprende nunca uma habilidade isolada; que, simultaneamente,
estará aprendendo outras coisas no gênero de gostos, aversões, desejos,
inibições, inabilidades, enfim que toda a situação é um complexo de radiações,
expansões e contrações", (TEIXEIRA, Ciência e arte de educar. Educação e
Ciências Sociais. v.2, n.5, ago. 1957. p.5-22), o que implica que não se deve
permitir um comportamento uniforme ou rígido.
É importante ousar na arte de educar, buscando conhecer todos
os métodos e recursos já experimentados e provados. Torna-se imperativo a
todos envolvidos na tutoria em Educação a Distância, romper velhos
paradigmas e abraçar a missão de educar sem medo. Sem o receio de se
aproximar demais, de estreitar os laços de afeto e, sobretudo sem o excessivo
pudor de exercer por amor a sutil arte de seduzir pedagogicamente os que
esperam com avidez pelo saber libertador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
SOUZA, M, G. A Arte da Sedução Pedagógica na Tutoria em Educação a
Distância, In: 11º Congresso Internacional de Educação a Distância, 2004,
Salvador. Anais do 11º Congresso Internacional de Educação a Distância.
Salvador: ABED, 2004.
AZEVEDO, W. Capacitação de Recursos Humanos para Educação a Distância.
Disponível http://www.aquifolium.com.br/educacional/artigos/crub.html. Acesso
em 17/01/2004.
HERRLEIN, M. B. P. et al. Capacitação Docente em EAD como implantação de
uma Cultura Virtual.
Disponível<http:www.pesquisa.ead.pucrs.br/artigos/publicados/2001/Aveiro>
Acesso em 15/01/2009.
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