GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL DE TEATRO MARTINS PENA THE 2° semestre de 2013 – Monólogos para mulheres Tio Vânia Anton Tchekov Sonia – Sou feia. As pessoas dizem “tens cabelos tão bonitos”. Não! É o que sempre dizem das mulheres que são feias: “Você tem olhos admiráveis, tem cabelos lindos!...” Há seis anos que gosto dele, gosto mais dele que de minha mãe. Parece que estou sempre a ouvir-lhe a voz, a apertar-lhe a mão! Olho para a porta e fico esperando: parece-me que vai chegar de um momento para outro. Não vês que a todo instante eu te procuro, para falar sobre ele? Todo dia está aqui e, agora não me vê mais nem me nota... Que sofrimento! Não tenho mais nenhuma esperança, nenhuma esperança! Oh! Meu Deus, dá-me forças... Rezei a noite inteira... Muitas vezes me aproximo dele, dirijo-lhe a palavra, procuro seu olhar... Já perdi o amor próprio, não sei mais conter-me. Ontem, confessei meu amor a tio Vânia... Até os criados sabem. Todo mundo sabe. Só ele não percebe... Navalha na Carne Plínio Marcos Neusa Sueli – Pará com isso! Pará! Por favor, Pará! Poxa, será que você não se manca? Será que você não é capaz de lembrar que venho da zona cansada para chuchu? Ainda mais hoje. Hoje foi um dia de lascar. Andei pra baixo e pra cima, mais de mil vezes. Só peguei um trouxa na noite inteira. Um miserável que parecia um porco. Pesava mais de mil quilos. Contou toda a história da puta da vida dele, da puta da mulher dele, da puta da filha dele, da puta que o pariu. Tudo gente bem instalada na puta da vida. O desgraçado ficou em cima de mim mais de duas horas. Bufou, bufou,babou, babou, bufou mais pra pagar, reclamou pacas. Desgraçado, filho da puta. É isso que acaba a gente... Isso que cansa a gente. A gente só quer chegar em casa, encontrar o homem da gente de cara legal, tirar aquele sarro e se apagar, pra desforrar de toda sacanagem do mundo de merda que está aí. Resultado: Você está de saco cheio por qualquer coisinha, então apronta. Bate na gente, goza a minha cara e na hora do bem-bom, sai fora. Poxa, isso arreia qualquer uma. Ás vezes chego a pensar: Poxa, será que sou gente? Será que eu, você, o Veludo, somos gente? Chego até a duvidar. Duvido que gente de verdade viva assim, um aporrinhando o outro, um se servindo do outro. Isso não pode ser coisa direita. Isso é uma bosta. Uma bosta! Um monte de bosta! Fedida! Fedida! Fedida! GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA FUNDAÇÃO DE APOIO À ESCOLA TÉCNICA ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL DE TEATRO MARTINS PENA THE 2° semestre de 2013 – Monólogos para homens Tio Vânia Anton Tchekov Astrov – Eu mudei muito, Marina. Pois é... Estes dez anos me fizeram outro homem. A causa? Eu trabalho muitíssimo, Marina. Fico de pé de manhã à noite, nem um minuto de descanso. E mesmo durante à noite, na cama, fico apavorado só de pensar que posso ser chamado junto a um doente. Desde que você me conhece, não tive sequer um dia livre. Como fazer para evitar a velhice? E depois, que vida triste, vazia, inútil. A gente se afunda nela. Por todos os lados estamos cercados de criaturas estranhas, de pessoas exóticas. É só de viver dois ou três anos com eles, a gente termina ficando igualzinho. É inevitável.Este bigode que deixei crescer é simplesmente ridículo.Pois é... Marina, acabei tornando-me, eu também, um tipo exótico. Não que eu seja hoje mais tolo, não, Deus me livre. Tenho os parafusos no lugar. Entretanto, perdi aquela vivacidade de outrora, não desejo nada, nada me interessa, não me afeiçôo a ninguém... Talvez seja você a única pessoa a quem prezo realmente. Navalha na Carne Plínio Marcos VADO – Só estou falando a verdade. Você está velha. Outra noite, cheguei aqui, você estava dormindo aí, de boca aberta. Roncava como uma velha. Puta troço asqueiroso! Mas o pior foi quando cheguei perto pra te fechar a boca. Queria ver se você parava com aquele ronco miserável. Daí, te vi bem de perto. Quase vomitei. Porra, nunca vi coisa mais nojenta. Essa pintura que você usa aí pra esconder a velhice estava saindo e ficava entre as rugas, que apareciam bem. Juro, juro por Deus, que nunca tinha visto nada mais desgraçado. Senti uma puta pena de mim. Um cara novo, boa pinta, que se veste legal, que tem papo certinho, que agrada, preso a um bagulho antigo. Fiquei bronqueado. Porra, ainda tentei quebrar o galho. Pensei comigo: mas de corpo ainda é uma coisa que se pode aproveitar. E sem te acordar, tirei a coberta, tirei tua camisola, tirei tua calcinha e teu sutian. As pelancas caíram pra todo lado. Puta coisa porca! Acho que até um cara que saísse de cana, depois de um cacetão de tempo, passava nesse lance.Pombas, que negocio ruim era você ali dormindo. Juro por Deus, nunca vi nada pior. Se não fosse o desgraçado do ronco de porca velha, eu tinha mandado te enterrar. Porra, e não se perdia nada. Me larguei. Não agüentava.