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O CLÁSSICO EM HANS-GEORG GADAMER E ITALO CALVINO1
Bruno Brizotto2
1. O propósito deste escrito é discutir o conceito de clássico a partir das proposições de dois
importantes nomes da tradição cultural ocidental: o hermeneuta alemão Hans-Georg Gadamer
(1900-2002) e o escritor italiano Italo Calvino (1923-1985). Deve-se ao primeiro a
contestação da hegemonia da modernidade filosófica, empreendimento que se concretiza em
Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica, cuja primeira edição
data de 1960. Aqui, Gadamer “se volta para a hermenêutica, a arte da interpretação, e formula
a partir dessa prática relativamente textual, as hermenêuticas filosóficas, um profundo desafio
à maioria daquilo que teoricamente fundamenta [...] [a] „modernidade filosófica‟.” (LAWN,
2011: 65). Calvino, um dos escritores mais importantes do século XX, destaca-se no
panorama literário ocidental pela escritura de uma obra ímpar, seja na forma, seja no
conteúdo. Iniciando com uma fase neorrealista (1947-52, aprox.), da qual se destacam
produções como A trilha dos ninhos de aranha (1947) e um livro de contos, Por último vem o
corvo (1949), este ainda inédito no Brasil; passando por um período fantástico (1952-1963,
aprox.), que abarca a célebre trilogia Os nossos antepassados (O visconde partido ao meio
[1952], O barão nas árvores [1957] e O cavaleiro inexistente [1959]), e Marcovaldo (1963) e
O dia de um escrutinador (1963); e, desembocando, no final dos anos 1960 até o final de sua
vida, para uma fase combinatória, onde a escritura poderia ser definida como combinatória
porque o mesmo mecanismo que permite escrever assume um papel central no interior da
obra. São obras desse período: O castelo dos destinos cruzados (1969), Os amores difíceis
(1970), As cidades invisíveis (1972), Se um viajante numa noite de inverno (1979), Palomar
(1983).
2. Ao estabelecer os traços fundamentais de uma teoria da experiência hermenêutica,
Gadamer (2008) recoloca o descrédito sofrido pelo conceito de preconceito durante a
Aufklärung, reabilitando tal conceito, juntamente como os de autoridade e tradição. Após
discorrer sobre os referidos conceitos, Gadamer (2008: 378-385) apresenta o “exemplo do
clássico”, a fim de continuar sistematizando sobre “os preconceitos como condição da
compreensão”. Na perspectiva do hermeneuta alemão, “o conceito do clássico, que, no
pensamento histórico a partir do descobrimento do helenismo por Droysen, acabou se
reduzindo a mero conceito estilístico, obtém agora um novo direito de cidadania.”
(GADAMER, 2008: 379). Esse “novo direito de cidadania” faz-se viável pelo fato de começar
“a entrever [...] uma consciência hermenêutica que perpassa a investigação com um interesse
mais auto-reflexivo”, ocorrendo “sobretudo nas ciências do espírito que contam com uma
tradição mais antiga.” (GADAMER, 2008: 378). Portanto, “será necessária uma reflexão
hermenêutica mais aguda para compreender como é possível que um conceito normativo
como é o conceito de clássico conserve ou recupere sua legitimidade científica.”
(GADAMER, 2008: 379).
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Originalmente apresentado como comunicação na Semana Acadêmica de Filosofia 2012, promovida pelo
Curso de Filosofia da Universidade de Caxias do Sul, a 17 de novembro de 2012.
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Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras, Cultura e Regionalidade da Universidade de Caxias do
Sul. E-mail: [email protected]
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Ao contrapor o conceito antigo de clássico ao conceito contemporâneo, Gadamer (2008: 380381) assevera que aquele carece de univocidade, ao passo que “quando hoje empregamos o
conceito de „clássico‟ como conceito histórico de um estilo que ganha sua univocidade
distinguindo-se de um antes e um depois, essa formulação, embora historicamente
conseqüente, já se encontra muito distante do conceito antigo. [...] o clássico é uma verdadeira
categoria histórica por ser mais do que o conceito de uma época ou o conceito histórico de um
estilo, sem que por isso pretenda ser uma idéia de valor supra-histórico. Não designa uma
qualidade que deva ser atribuída a determinados fenômenos históricos, mas, sim, um modo
característico do próprio ser histórico, a realização histórica da conservação que, numa
confirmação constantemente renovada torna possível a existência de algo verdadeiro.”
Portanto, pode-se afirmar que o clássico apresenta em sua essência uma postura que se projeta
“frente à crítica histórica, porque seu domínio histórico, o poder vinculante de sua validez que
se transmite e se conserva, precede toda reflexão histórica e se mantém nela.” (GADAMER,
2008: 381).
Ao assegurar que “o que nos leva a chamar algo de „clássico‟ é, antes, uma consciência do ser
permanente, uma consciência do significado imorredouro, que é independente de toda
circunstância temporal, uma espécie de presente intemporal contemporâneo de todo e
qualquer presente”, Gadamer (2008: 381) diverge da perspectiva apresentada pelo seu
discípulo H. R. Jauss (1994), que erigiu uma nova forma de ver a História da literatura a partir
dos conceitos gadamerianos. “Se clássico „é o que diz algo ao presente como se o dissesse
especialmente a ele‟, então não se teria de buscar primeiramente no texto clássico a pergunta
para a qual ele constitui uma resposta.” (JAUSS, 1994: 38). Eis o cerne da crítica do teórico
alemão em relação a seu mestre. Jauss (1994) sustenta seu argumento na medida em que
revela ter Gadamer “se apegado a um conceito de arte clássica3 que, fora de sua época de
origem – a do Humanismo –, não se sustenta como fundamento geral de uma estética da
recepção.” (JAUSS, 1994: 39). Jauss (1994) dirige suas críticas também para o esquema
platônico de obra de arte – uma vez atingida a obra de arte ideal, isto é, perfeita, só resta aos
artistas continuar a replicá-la eternamente –, chamando a atenção para o fato de as obras de
arte anteciparem caminhos da experiência futura, imaginarem modelos de pensamento e
comportamento ainda não experimentados ou apresentarem uma resposta a novas perguntas.
Enfim, na perspectiva desse autor, o clássico estaria voltado não como “uma consciência do
significado imorredouro”, mas “há de voltar nosso olhar para o fato de que, à época de sua
produção, a arte clássica ainda não se afigurava „clássica‟, mas, antes, terá outrora ela própria
aberto novas perspectivas e pré-formado novas experiências, as quais somente em função da
distância histórica – no reconhecimento do já conhecido – causam a impressão de que uma
verdade atemporal se expressa na obra de arte.” (JAUSS, 1994: 39). Como suporte para tal
argumentação, o autor cita o exemplo do efeito das grandes obras literárias do passado, que
não se mediavam a si próprias, necessitando da relação dialógica entre passado e presente:
“relação esta em decorrência da qual a obra do passado somente nos pode responder e „dizer
alguma coisa‟ se aquele que hoje a contempla houver colocado a pergunta que a traz de volta
de seu isolamento.” (JAUSS, 1994: 40).
Apesar das divergências entre Gadamer (2008) e Jauss (1994), as considerações do
hermeneuta alemão são bastante válidas, especialmente quando ele se refere ao sentido
normativo do clássico. Escreve Gadamer (2008: 382): “A norma clássica ganha destaque
frente à consciência da decadência e de distanciamento. Não é por acaso que o conceito de
clássico e de estilo clássico foi cunhado em épocas mais tardias.” Para Gadamer (2008: 382),
autores como o poeta grego Calímaco e o historiador e orador romano Públio Cornélio Tácito
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Tal conceito é o de mimesis, entendido aqui como “reconhecimento”.
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“desempenharam um papel decisivo nesse contexto.” O Dialogus de oratoribus, de Tácito é
exemplo fundamental nesse cenário: “As causas da decadência da oratória implicam o
reconhecimento de sua antiga magnitude, portanto, uma consciência normativa.”
Ao asseverar que tanto para a consciência histórica, quanto para Palladio ou Corneille, já não
se trata de adotar imediatamente o modelo clássico, mas, sim, “conhecê-lo como um
fenômeno histórico que somente se compreende a partir de sua própria época” (GADAMER,
2008: 384), o hermeneuta alemão está expressando o quanto é fundamental o contexto
original de produção da obra clássica. No momento em que determinado indivíduo estiver
lendo uma obra clássica, como Dom Quixote, de Cervantes, o horizonte de expectativas do
leitor estará em constante diálogo com o horizonte de expectativa da obra. É nesse diálogo
que se efetivará “a reconstrução histórica do „mundo‟ passado a que a obra pertenceu.”
(GADAMER, 2008: 384). Pode-se lembrar aqui da fusão dos horizontes (da obra e do leitor),
quando Gadamer (2008: 384) afirma que “nossa compreensão há de conter sempre, ao mesmo
tempo, a consciência da própria filiação da obra ao nosso próprio tempo. A isso corresponde
uma co-pertença da obra ao nosso mundo.”
Importa considerar também o sentido fundamental da palavra clássico: “a sobrevivência da
força de expressão imediata de uma obra é fundamentalmente ilimitada.” (GADAMER, 2008:
384). É por isso que as obras literárias, sejam elas clássicas ou não, continuam a ser estudadas
e discutidas com tanta profusão nos mais diversos meios acadêmicos, em clubes de leitura,
seminários, palestras, oficinas, aulas, etc. Não precisamos ir longe para encontrar um exemplo
de autor e obra clássicos: a própria Literatura Brasileira fornece um excelente exemplo:
Machado de Assis. É costume ouvir pelas universidades, especialmente nos Programas de
Pós-Graduação em Letras, que a obra de Machado já foi muito estudada, que muito já se
produziu sobre o Bruxo do Cosme Velho. Erro crasso. Há muito ainda para ser explorado na
obra machadiana, como em qualquer outra obra de arte literária. Exemplo disso é o mais novo
livro de Regina Zilberman, Brás Cubas Autor, Machado de Assis Leitor (2012), que apresenta
ao leitor 10 ensaios que perscrutam com muita perspicácia obras como Memórias póstumas de
Brás Cubas, Confissões de uma Viúva Moça, Helena, Caso da Vara, Dom Casmurro e
Memorial de Aires. É interessante que os ensaios que compõem o livro “foram produzidos e
publicados anteriormente em diversos periódicos e coletâneas, desde 1989 até 2009,
concentrando-se principalmente em 2008. O novo livro de Zilberman resulta, então, de
trabalho e pesquisa de anos, de uma convivência de longo período com a obra machadiana.”
(SANSEVERINO, 2012: 6). Esse trabalho da Professora Regina Zilberman atesta o caráter
aberto que a obra literária apresenta em seu bojo, na medida em que as indeterminações que a
constituem implicam a participação ativa do leitor, que as concretizará, perfazendo aí a
verdadeira interação texto/leitor, como propõem Wolfgang Iser e Umberto Eco. É Friedrich
Schlegel (apud GADAMER, 2008: 384) quem tira a consequência hermenêutica: “um escrito
clássico jamais poderá ser compreendido totalmente. Mas quem é culto e cultiva o saber deve
querer aprender dele cada vez mais.”
3. Escrevendo para um veículo de comunicação mais “aberto”, Italo Calvino redige o artigo
“Perché leggere i classici”, sendo publicado pela revista italiana L‟espresso, em 28 de junho
de 1981. O título deste artigo dá nome à obra que apresenta uma compilação de “grande parte
dos ensaios e artigos de Calvino sobre „seus‟ clássicos: os escritores, os poetas, os cientistas
que mais contaram para ele em diversos períodos de sua vida.”, explica Esther Calvino,
esposa de Calvino, em nota à edição italiana.
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O propósito de “Por que ler os clássicos” consiste na sistematização e discussão de algumas
propostas de definição para os clássicos, isto é, obras consideradas como clássicas. Ao total
são catorze sugestões de definição que o autor apresenta, indo da mais simples até a mais
elaborada. Não discutiremos todas, abordando apenas as mais prementes para esta
comunicação.
A primeira proposta, “Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer:
„Estou relendo...‟ e nunca „Estou lendo...‟”. (CALVINO, 2007: 9). Geralmente, quem pensa
assim, na opinião de Calvino, são as pessoas que se consideram “grandes leitores”. Além
disso, a leitura de um clássico não é atividade para a juventude, “idade em que o encontro
com o mundo e com os clássicos como parte do mundo vale exatamente enquanto primeiro
encontro.” (CALVINO, 2007: 9). Ora, se na juventude um leitor ler Ulysses, de Joyce, não
desfrutará do verdadeiro deleite que uma leitura como essa pode proporcionar se feita na
maturidade. Escreve Calvino (2007: 10): “Isso confirma que ler pela primeira vez um grande
livro na idade madura é um prazer extraordinário: diferente (mas não se pode dizer maior ou
menor) se comparado a uma leitura da juventude. A juventude comunica ao ato de ler como a
qualquer outra experiência um sabor e uma importância particulares; ao passo que na
maturidade apreciam-se (deveriam ser apreciados) muitos detalhes, níveis e significados a
mais.” Não esqueçamos o prefixo reiterativo antes do verbo ler. De acordo com Calvino
(2007: 9), tal prefixo representa “uma pequena hipocrisia por parte dos que se envergonham
de admitir não ter lido um livro famoso.” Todavia, para tranquilizar esse tipo de leitor,
“bastará observar que, por maiores que possam ser as leituras „de formação‟ de um indivíduo,
resta sempre um número enorme de obras que ele não leu.” (CALVINO, 2007: 9). E
poderíamos completar a sentença “e nem lerá”, pois é impossível ler todas as obras
produzidas pelos(as) escritores(as). O mesmo se dá no plano da leitura crítica. Harold Bloom
no seu O cânone ocidental, editado em 1994, apresenta uma magnífica apreciação crítica de
vinte e seis escritores canônicos. Pode parecer uma escolha arbitrária, mas o leitor que
conheça Bloom saberá que não o é. Escreve Bloom (2010: 12) no “Prefácio e Prelúdio”: “é
possível escrever um livro sobre vinte e seis escritores, mas não sobre quatrocentos.”
A proposta seis vai ao encontro do sentido fundamental do conceito de clássico, conforme
exposto por Gadamer (2008) e explanado por nós acerca da obra machadiana: “Um clássico é
um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.” (CALVINO, 2007: 11).
Tal proposição pode ser vista com nova nuance na nona proposta: “Os clássicos são livros
que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se
revelam novos, inesperados, inéditos.” (CALVINO, 2007: 12). No entanto, para que tal
ineditismo ocorra faz-se necessária “uma relação pessoal com quem o lê.” (CALVINO, 2007:
12). A leitura dos clássicos não pode ser feita “por dever ou por respeito mas só por amor.”
(CALVINO, 2007: 12-13). Querem uma exceção: basta pensar na escola.
A sétima permite que façamos uma ponte com a Estética da recepção de Jauss: “Os clássicos
são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que
precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que
atravessaram (ou mais simplesmente na linguagem ou nos costumes).” (CALVINO, 2007:
11). Afirma Jauss que uma teoria da recepção deve estar ancorada nos juízos históricos dos
leitores, portanto, deve levar em conta as diferentes formas pela qual uma obra foi recebida
nos diversos contextos em que circulou. Isso vale tanto para os clássicos antigos quanto para
os modernos. Calvino (2007: 11) dá o exemplo da Odisseia, asseverando que se “leio o texto
de Homero, [...] não posso esquecer tudo aquilo que as aventuras de Ulisses passaram a
significar durante os séculos e não posso deixar de perguntar-me se tais significados estavam
implícitos no texto ou se são incrustações, deformações ou dilatações.” O mesmo poderia ser
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dito se pegássemos obras dos clássicos modernos, tais como Kafka, Tolstoi, Dostoievski,
Turgueniev, Pessoa, Proust... Aproveitando a deixa da Odisseia, podemos afirmar que
Leopold Bloom também desempenha ações análogas a de Ulisses, portanto, as aventuras do
anti-herói de Joyce também apresentam seus significados durante os anos que vieram após a
publicação da obra, em 1922.
Ao chegar à décima segunda proposta, “Um clássico é um livro que vem antes de outros
clássicos; mas quem leu antes os outros e depois lê aquele, reconhece logo o seu lugar na
genealogia”, Calvino (2007: 14) enfrenta “o problema decisivo de como relacionar a leitura
dos clássicos com todas as outras leituras que não sejam clássicas.” Realmente, não é tarefa
fácil ler os clássicos selecionados ao lado de outras tantas leituras ditas não clássicas. O autor
formula a hipótese de “uma pessoa feliz que [dedica] o „tempo leitura‟ de seus dias
exclusivamente a ler Lucrécio, Luciano, Montaigne, Erasmo, Quevedo, Marlowe, o Discours
de la méthode, Wilhelm Meister, Coleridge, Ruskin, Proust e Valéry, com algumas divagações
para Murasaki ou para as sagas islandesas.” (CALVINO, 2007: 14). Ora, isso só seria viável
se o indivíduo não levasse em conta todas as atribuições profissionais e familiares que precisa
dar conta. Apesar de “o dia de hoje [poder] ser banal e mortificante, [...] é sempre um ponto
em que nos situamos para olhar para frente ou para trás.” (CALVINO, 2007: 14). A fim de
que possamos atender à exigência proferida nessa décima segunda definição, é fundamental
termos em mente “„de onde‟ os clássicos estão sendo lidos, caso contrário, tanto o livro
quanto o leitor se perdem numa nuvem atemporal.” (CALVINO, 2007: 14-15). Eis a
importância dos contextos de produção e recepção das obras para uma melhor compreensão
destas.
4. Mas qual seria então a solução para o leitor das obras clássicas e daquelas não-clássicas
neste século XXI? A sugestão que Calvino (2007: 15) oferece é a mais aconselhável e
possível nesses tempos pós-modernos: “Assim, o rendimento máximo da leitura dos clássicos
advém para aquele que sabe alterná-las com a leitura de atualidades numa sábia dosagem. E
isso não presume necessariamente uma equilibrada calma interior: pode ser também o fruto de
um nervosismo impaciente, de uma insatisfação trepidante.” Enfim, cada leitor tem a sua
forma de ver o ato da leitura, como sugerem os leitores das páginas finais de Se um viajante
numa noite de inverno. Ainda poderíamos perguntar: Por que ler os clássicos? Bem, “a única
razão que se pode apresentar”, sugere Calvino (2007: 16), é que ler os clássicos é melhor do
que não ler os clássicos. E se alguém objetar que não vale a pena tanto esforço, citarei Cioran
[...]: „Enquanto era preparada a cicuta, Sócrates estava aprendendo uma ária com a flauta.
„Para que lhe servirá?‟, perguntaram-lhe. „Para aprender esta ária antes de morrer.‟”. Enfim,
as questões colocados pelo conceito de clássico, seja em Gadamer (2008) ou em Calvino
(2007) são instigantes e levam o indivíduo a perguntar mais e mais, numa incessante busca
pelas respostas.
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Referências
BLOOM, Harold. O cânone ocidental. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2010.
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Tradução de Nilson Moulin. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica
filosófica. Tradução de Flávio Paulo Meurer. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008, v. 1.
JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução
de Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994.
LAWN, Chris. Compreender Gadamer. Tradução de Hélio Magri Filho. 3. ed. Petrópolis:
Vozes, 2011.
SANSEVERINO, Antônio Marcos Vieira. Uma nova leitura de Machado de Assis. Zero Hora,
Porto Alegre, p. 6, 15 set. 2012. (Cultura).
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