A comunicação visual em Ambientes Virtuais de Aprendizagem Raiane Nogueira Gama1 (UFF) Alexandre Farbiarz2 (UFF) Resumo: Nossa pesquisa parte da análise exploratória de Ambientes Virtuais de Aprendizagem - AVAs – em uso no Brasil, para discutir a relação entre o suporte eletrônico e suas implicações discursivas nos cursos de educação a distância - EaD online. Investigamos a aplicabilidade dessas plataformas, com uma descrição de sua interface, principais recursos e potencial de navegação. Refletimos sobre a experiência diferenciada que um ambiente virtual proporciona, em comparação com um curso presencial em sala de aula. Buscamos verificar se existe relação entre o design gráfico dos AVAs e a proposta didática e os objetivos pedagógicos dos cursos neles veiculados. Palavras-chave: Ambiente Virtual de Aprendizagem, Educação a Distância, Interface Gráfica. Abstract: Our research analyses Virtual Learning Environments - VLEs - used in Brazil, to discuss the relation between electronic media and its discursive implications in online distance education courses. We investigate the applicability of these platforms, with a description of its interface, main features and navigation potential. We consider the different experience provided by a virtual environment, compared to a traditional course, in the classroom. We investigate if there is some connection between VLEs graphic design and the didactic motions and pedagogical objectives of these courses. Key Words: Virtual Learning Environment, Distance Education, Graphical Interface. Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -1- Introdução Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), criados a partir de recursos das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs), são plataformas utilizadas na Internet para a realização de cursos a distância online, transpondo para o ambiente virtual o espaço de sala de aula. Em alguns casos, também são aplicados como ferramentas de apoio ao ensino presencial. Desenvolvidos por empresas ou instituições de ensino, podem ser comerciais ou open source. Os AVAs oferecem ferramentas de gerenciamento de atividades acadêmicas, permitindo a criação de turmas, inscrição de alunos, publicação e acesso a conteúdos – como textos, exercícios, avaliações, elementos multimídia, agenda dos cursos, etc. Além disso, fornecem recursos para a comunicação entre os usuários do ambiente, de forma síncrona ou assíncrona, através de email, chats ou fóruns de discussão. Alguns possuem ainda opções de personalização, que permitem alterações no layout da plataforma e o uso de elementos gráficos de acordo com as propostas didáticas dos cursos. Santos (2009) caracteriza esse tipo de plataforma: Os AVAs agregam interfaces que permitem a produção de conteúdos e canais variados de comunicação, e também o gerenciamento de bancos de dados e controle total das informações circuladas no, e pelo ambiente. Essas características permitem que um grande número de sujeitos geograficamente dispersos pelo mundo possa interagir em tempos e espaços variados. (SANTOS, 2009, p. 19) Existem diversos ambientes virtuais em uso no mundo, criados por instituições nacionais ou desenvolvidos no exterior e traduzidos. Oliveira e Mendes (2009) listam os mais conhecidos: Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -2- Quadro 1: Principais AVAs utilizados no mundo Moodle Blackboard ATutor Ilias Claroline Dokeos OLAT Sakai CLE Learn Loop Lon-Capa .LRN Site@School TelEduc WordCircle AulaNet Eureka Lotus LMS WebCT O suporte eletrônico e suas implicações em EaD Os AVAs proporcionam uma experiência distinta de um curso presencial em sala de aula. Embora nos dois ambientes os alunos possam ter acesso aos mesmos conteúdos, o suporte eletrônico apresenta características próprias, referentes aos recursos didáticos disponíveis e ao gênero discursivo utilizado. Além disso, na internet, os usuários assumem um papel ativo de navegação, escolhendo qual link clicar e em que ordem (FARBIARZ e FARBIARZ, 2008). Assim, dá-se uma nova forma de leitura, não-linear, com o estabelecimento de conexões associativas (hipertextuais) entre diferentes elementos. O uso de um AVA permite ao aluno, por exemplo, realizar atividades na plataforma e buscar informações complementares em outros sites simultaneamente, com múltiplas janelas de trabalho. Chartier (1994) reflete sobre essa experiência diferenciada, ressaltando a importância do suporte na produção de sentidos do discurso: É preciso levar em conta que as formas produzem sentidos e que um texto, estável por extenso, passa a investir-se de uma significação e de um status inéditos, tão logo se modifiquem os dispositivos que convidam à sua interpretação. (CHARTIER, 1994, p. 13) O ambiente virtual também inaugura uma nova relação tempo-espaço, dando mais flexibilidade para alunos – que podem acessar conteúdos a qualquer hora e em qualquer lugar – e professores – cuja orientação não fica restrita a horários fixos, pré-estabelecidos. Como destaca Daumau: Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -3- Pode-se dizer que o aluno do ensino tradicional vai à faculdade, tem 4 horas de aula por semana com o professor e depois só volta a vê-lo na próxima semana. A Educação a Distância [na qual o AVA é um importante instrumento], por sua vez, exige que o professor ministre as aulas, responda a todos os e-mails enviados pelos participantes e tenha um contato interativo constante. (DAUMAU, 2008 apud OLIVEIRA; MENDES, 2009) Os AVAs ainda dão mais liberdade para que os alunos tirem dúvidas ou manifestem opiniões sobre os conteúdos do curso. A figura do professor e o espaço de sala de aula muitas vezes intimidam os estudantes. Na discussão online, por meio de fóruns e chats, eles podem sentir-se mais à vontade para formular perguntas e respostas. Princípios educacionais em EaD Apesar de todas as vantagens que o uso das plataformas de ensino a distância online podem proporcionar, na elaboração de um curso ou material de apoio ao ensino presencial, não se deve perder de vista um fator principal: o componente pedagógico. O uso de tecnologia por si só não garante o êxito do processo de ensino-aprendizagem. Referente ao assunto, Valente (2002) aponta alguns princípios educacionais relacionados ao uso da Internet para EaD. O autor distingue três propostas de ensino-aprendizagem mediadas pelo suporte eletrônico, de acordo com o grau de interação entre alunos e professores: • Broadcast: os conteúdos são disponibilizados em pacotes para os alunos, que realizam as atividades e as enviam aos professores. Nesse caso, a comunicação é unidirecional, sem nenhum tipo de interação, o que não dá uma perspectiva real se a informação foi assimilada e convertida em conhecimento para o aluno; Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -4- • Virtualização da Sala de Aula: prevê uma interação, porém reproduz o modelo do ensino presencial. Apesar de fazer uso de recursos tecnológicos, nesse tipo de ambiente o professor é tido como o centro da informação. Não há muito espaço para a comunicação entre os alunos, que são avaliados de acordo com o somatório das atividades propostas. Desconsideram-se outros aspectos da sua participação; • Estar Junto Virtual: envolve múltiplas interações entre os participantes do curso, permitindo uma construção e reconstrução coletiva do conhecimento. Os alunos são estimulados trocar informações entre si e buscar outras fontes além do espaço do curso. O professor assume um papel de mediador, acompanhando e orientando os alunos no desenvolvimento de suas habilidades e competências. Nesse modelo, todos os elementos que compõem o curso são importantes, desde a organização e os recursos oferecidos pelo AVA até os materiais didáticos utilizados. O aluno é avaliado não só pelo conhecimento apresentado, como por sua participação e envolvimento com o grupo. Com base nos conceitos de cada abordagem e em análises exploratórias de AVAs usados no Brasil, como o Moodle e o Blackboard (FARBIARZ e FARBIARZ, 2008), percebe-se uma dificuldade dos cursos para alcançar o nível desse “Estar Junto Virtual“, com a criação de um espaço compartilhado, em que a construção do conhecimento se dá pela troca de saberes e competências entre todos os envolvidos no processo. Embora muitos ambientes ofereçam ferramentas de interatividade, permitindo o compartilhamento de informações, muitas vezes isso se torna um ato mecânico, gerando um certo distanciamento entre os usuários. Outro ponto negativo relacionado ao uso de plataformas de EaD online diz respeito à ênfase dada à produção de conteúdos verbais, a despeito de aspectos referentes à interface gráfica e ao potencial de navegação do ambiente. Normalmente, o que se tem é a reprodução no ambiente virtual de uma linguagem linear, estrutura discursiva característica de materiais didáticos impressos, adotados no ensino presencial. O resultado são cursos desinteressantes, cansativos, Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -5- sem elementos que prendam a atenção dos alunos. Desconsidera-se que suportes diferentes produzem sentidos diferentes. É necessário trabalhar de forma conjunta o design gráfico dos AVAs e a proposta didática e os objetivos pedagógicos dos cursos neles veiculados. Acreditamos que, no discurso mediado pelo suporte eletrônico, aspectos gráficos potencializam a recepção e o desenvolvimento das habilidades e competências dos alunos, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem. Como destacam Farbiarz e Farbiarz (2008): O aluno-usuário não somente acompanha o projeto didático de um curso EaD online pelo verbal como pode ser levado a uma imersão virtual através dos elementos gráficos que compõem o sistema de navegação e ambientação do curso (...). (Farbiarz e Farbiarz, 2008, p. 13) Considerações finais Na elaboração de um curso a distância ou material de apoio online, desvencilhar-se de técnicas e metodologias adotadas tradicionalmente no ensino presencial é um grande desafio. Porém, deve-se ter em mente que o uso de NTICs aplicadas à educação pressupõe a adoção de novas práticas. Além do investimento em tecnologia, é necessária uma atenção especial ao fator pedagógico. Dados do CensoEAD.br (2010), da Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), indicam que problemas referentes ao estranhamento do método de cursos de EaD falta de adaptação e falsa ideia de que é mais fácil - ainda motivam muitos alunos a desistirem da modalidade. Segundo o relatório, referente a amostra feita em 2008, o índice de evasão da modalidade no Brasil é de 18,5%. Diante desse contexto, é de extrema importância o uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem funcionais, que atendam às necessidades dos cursos online, explorando toda a potencialidade da Internet, com o uso de hipertextos e recursos multimídia; oferecendo ferramentas que possibilitem uma interação efetiva entre os usuários; e permitindo uma adaptação do AVA de acordo com as Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -6- diferentes propostas didáticas desses cursos, integrando o sentido do texto. Assim, os alunos poderão ser estimulados a buscar os conteúdos e realizar as atividades disponibilizadas nessas plataformas, não só pelo seu caráter acadêmico, mas também por proporcionar um espaço de lazer. Referências Bibliográficas ABED, Associação Brasileira de Educação a Distância (Org.). Censo EAD.br: relatório analítico da aprendizagem a distância no Brasil. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010. CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. São Paulo: Editora Universidade de Brasília, 1994. FARBIARZ, Alexandre; FARBIARZ Jackeline. A educação a distância online: a dicotomia no ciberespaço. In: II Simpósio ABCiber – Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP. São Paulo, 2008. OLIVEIRA, Gustavo Magno de; MENDES, Thiago Manoel de Oliveira. Sistema Interativo da Aprendizagem em Sala de Aula Utilizando a Plataforma Moodle – um caso de uso. Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Ciência da Computação. Universidade Federal Fluminense, UFF. Rio de Janeiro, 2009. SANTOS, Edméa Oliveira dos. Tendências na Educação. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009. VALENTE, J. A. A espiral da aprendizagem e as tecnologias da informação e comunicação: repensando conceitos. In: JOLY, Maria Cristina (Ed.) Tecnologia no ensino: implicações para a aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002, p. 15-37. 1 Raiane Nogueira GAMA, graduanda Universidade Federal Fluminense (UFF) Departamento de Comunicação Social [email protected] 2 Alexandre FARBIARZ, professor-doutor Universidade Federal Fluminense (UFF) Departamento de Comunicação Social [email protected] Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação -7-