Entrevista com a psicóloga Clystine Abram Oliveira Gomes (CRP 05/15048)
1) Quando se deu a regulamentação do uso da hipnose por psicólogos? Qual a sua
importância?
A hipnose foi regulamentada no dia 20 de dezembro de 2000 por um trabalho das
pessoas aqui do Rio de Janeiro. Quando a hipnose foi regulamentada, foi regulamentada
como instrumento. É uma ferramenta que o psicólogo pode usar em atividades clínicas,
no hospital, na educação, na empresa, na psicologia organizacional. Pode ser usada em
varias áreas da Psicologia além de, dentro da psicologia clínica, poder ser utilizada
como uma ferramenta-instrumento em qualquer linha de psicoterapia. Isso é muito
importante colocar, porque, às vezes, o próprio profissional acha que a hipnose foi
regulamentada como uma terapia específica, e ela não é isso. Ela tem instrumentos que
podem ser usados em várias abordagens e em várias áreas de Psicologia.
Ela é importante porque é uma facilitadora para entrar em contato com os conteúdos que
estão guardados dentro da nossa mente inconsciente - como a hipnose chama -, dentro
da nossa parte cognitiva, nos nossos pensamentos. É um acesso mais rápido a esses
pensamentos, para que a gente possa também acessar os nossos recursos internos, os
potenciais que cada ser humano tem dentro de si mesmo. A demanda do paciente
geralmente é por algo mais breve, mais rápido, e a hipnose consegue fazer isso,
consegue abreviar o tratamento, seja ele dentro da parte clínica seja dentro de um
hospital. Eu sou psicóloga com especialização em Psicologia Clínica, mas trabalhei oito
anos em psicologia hospitalar, e a gente usava a hipnose para os pacientes que tinham
dor e aqueles que tinham fobia.
Dentro da psicologia organizacional, ela também é uma facilitadora, porque a gente
pode trabalhar com técnicas de hipnose nos processos de treinamento. Hoje em dia, a
gente fala em qualidade de vida dentro do trabalho, é possível utilizar a hipnose para
que esse empregado se sinta mais calmo, mais tranqüilo, mais relaxado, para que ele
consiga administrar e gerenciar conflitos, entrar em contato com seus recursos internos
e, então, produzir mais, com mais eficiência, eficácia e qualidade. É um cuidado que a
gente tem que ter, um olhar para o recurso humano que a empresa tem.
2) Existe uma crítica de que, durante esse processo, existe uma perda de
autonomia. Como você vê isso?
Quando Freud trabalhou com hipnose, ele levava o paciente a transe profundo
inconsciente. Quando ele fazia isso, era apenas para serem dadas sugestões diretas à
pessoa. Por exemplo, se a pessoa era depressiva, ele falava: “Agora você está feliz,
contente, e vai se sentir bem”. Então, geralmente esse trabalho que ele fazia era para dar
sugestões diretas para esse paciente.
Houve uma grande transformação da hipnose, que é a passagem dessa hipnose clássica,
inconsciente, que Freud usava, para a hipnose moderna. Uma das pessoas que
contribuíram para isso foi o Milton Erickson. Ele contribuiu para a transformação da
hipnose e, a partir dele, em meados dos anos 1960, essa hipnose foi passada para uma
hipnose em que o paciente está em transe médio, fica consciente e é participativo.
Então, ele deixou de ser aquele que apenas recebia instruções para vivenciar o processo
da hipnose, tirar o que estava na mente inconsciente dele – traumas, aprendizados
inadequados, ressentimentos marcantes, coisas que estão reprimidas – para que ele
possa entrar em contato com aquilo e então reestruturar, re-significar, ter um outro olhar
para aquilo, mas de uma forma consciente. Além disso, nessa nova hipnose, o próprio
paciente entra em contato com tudo que ele tem de ferramentas de recursos para
transformar aquilo que ele esta vivendo, aquele sentimento de algo que não está
resolvido, de algo que está inadequado na vida dele. Então, ele entra em contato, hoje,
de forma consciente. Ele é um agente de transformação na hipnose moderna.
3) Existem regras no uso dessa ferramenta por parte dos psicólogos?
O psicólogo tem que ter qualificação para isso. Eu acho que é necessário fazer um
curso, porque isso não é aprendido na faculdade, na graduação. É fundamental que esse
psicólogo faça um curso que o capacite para usar a técnica.
4) Existe algum risco do uso inadequado da hipnose?
Existe um mito sobre a hipnose, de que o paciente vai ficar subjugado ao hipnólogo.
Porém, a pessoa só vai fazer o que ela desejar, o que ela estiver com vontade. Ela só faz
o que tem vontade de fazer. Por exemplo: se ela quer ficar bem porque tem síndrome do
pânico e está sofrendo, então, através da hipnose, ela tem o desejo de se tratar e ter uma
melhora. Porém, se por acaso o hipnólogo pedir para ela assinar um cheque em branco,
ela não vai fazer, porque não tem esse desejo. Então, não existe o risco da pessoa ir e
não voltar – ela está aqui, não vai a lugar nenhum - ou de fazer algo que ela não deseje.
É um mito.
O que existe é um profissional não qualificado trabalhar com uma técnica que exige um
treinamento. Porém, em qualquer área da Psicologia é assim. A pessoa tem que estar
qualificada para trabalhar. Então, a hipnose realmente não traz nenhum risco. Pelo
contrário, ela traz benefícios, porque, quando a pessoa faz o transe, ela vai respirar mais
profundamente, a pressão arterial e os batimentos cardíacos vão diminuir, ela vai entrar
em homeostase – o próprio transe faz com que ela sinta-se bem. Isso já produz um
efeito de paz, de tranqüilidade e bem-estar para o corpo dela.
5) Quais são os objetivos do I Congresso Brasileiro de Hipnose Clínica e
Hospitalar?
Esse congresso, que tem apoio do CRP-RJ, vai ser o primeiro congresso brasileiro de
hipnose clínica e hospitalar - nunca houve nenhum outro. O nosso objetivo é, primeiro,
divulgar a hipnose como uma prática regulamentada, uma prática que o psicólogo
realmente pode utilizar. Segundo, mostrar os profissionais que já trabalham há tantos
anos com essa técnica na sua atividade diária, demonstrando esse trabalho. Vamos ter
pessoas que vão falar sobre a indução da hipnose, sobre tratamentos de pacientes com
transtorno de ansiedade e com transtorno de depressão, sobre pacientes com obesidade.
Vamos falar sobre várias formas de hipnose, como a clássica, a ericksoniana e uma
hipnose que está bem ampla nos Estados Unidos e que no Brasil poucas pessoas fazem,
que é a hipnose cognitiva, um pouco associada à terapia cognitiva comportamental.
Também serão tratados temas relacionados à psicologia hospitalar, tais como doenças
psicossomáticas, pacientes com transplante renal – o papel do psicólogo que trabalha
com hipnose nos pacientes transplantados – e com câncer – a hipnose na psicooncologia.
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