UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA COMPORTAMENTO INGESTIVO E UTILIZAÇÃO DE NUTRIENTES POR CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ SUBMETIDOS A DIETAS COM DOIS NÍVEIS DE ENERGIA LÍGIA MARIA GOMES BARRETO Zootecnista AREIA – PARAÍBA MAIO DE 2008 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA COMPORTAMENTO INGESTIVO E UTILIZAÇÃO DE NUTRIENTES POR CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ SUBMETIDOS A DIETAS COM DOIS NÍVEIS DE ENERGIA LÍGIA MARIA GOMES BARRETO AREIA – PARAÍBA MAIO DE 2008 iii LÍGIA MARIA GOMES BARRETO COMPORTAMENTO INGESTIVO E UTILIZAÇÃO DE NUTRIENTES POR CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ SUBMETIDOS A DIETAS COM DOIS NÍVEIS DE ENERGIA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, como parte das exigências para a obtenção do titulo de Mestre em Zootecnia, Área de concentração: Produção Animal. Comitê de Orientação: Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros – CCA/UFPB Prof.ª Drª. Ângela Maria Vieira Batista – DZ/UFRPE Prof. Dr. Gherman Garcia Leal Araújo – Embrapa/CPATSA AREIA – PARAÍBA MAIO DE 2008 iv v Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial de Areia-PB, CCA/UFPB. Bibliotecária: Elisabete Sirino da Silva CRB. 4/905 B273c Barreto, Lígia Maria Gomes. Comportamento ingestivo e utilização de nutrientes por caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dietas com dois níveis de energia./ Lígia Maria Gomes Barreto – Areia- PB:UFPB/CCA, 2008. 107 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba - Centro de Ciências Agrárias, Areia, 2008. Bibliografia Orientador: Ariosvaldo Nunes de Medeiros 1. Caprinos nativos- nutrição 2. Caprinos nativos- alimentaçãomaniçoba 3. Caprinos-dietas-energia metabolizável I. Medeiros, Ariosvaldo Nunes de (Orientador) II. Título. CDU: 636 39:636.085(043.3) vi Cada pensamento, Cada palavra, Cada sussurro, Cada porém de estar aqui agora, Me faz acreditar, Que vivemos muito além do que pensamos. Cada amanhecer, Cada entardecer, Cada anoitecer, Me faz perceber que a vida é muito mais, Do que somos capazes de imaginar. Cada lágrima, Cada dor, Cada momento, Me faz entender que por mais Que fugimos, O acaso sempre nos encontra, Pois algumas coisas são certas E uma delas é de que Sofrer também faz parte da história de cada um. Cada vitória, Cada sorriso, Cada nova vida, Me faz amar as melhores coisas que existem, E a superar aquelas Que por mais que aparentam invencíveis, Acabam por si, Quando abraçamos a fé em DEUS. (Adaptado de Fabiana Thais Oliveira) vii A todos os Heróis Sertanejos que se mantêm firmemente em suas propriedades rurais com o honrado mérito de Criadores de Caprinos e Ovinos da Região do Cariri Paraibano. Ofereço viii Aos meus pais, alicerces da minha vida, meus tesouros José Gomes Filho e Maria de Lourdes Barreto Gomes As minhas irmãs, com todo meu carinho Esther, Jacinta e Amanda E a minha amada sobrinha, presente de Deus para nossa Família Anna Laryssa Dedico ix AGRADECIMENTOS Ao senhor de tudo, o Deus da vida e fonte da minha existência, pela companhia constante e provas de fé, por me permitir crescer mais espiritualmente a cada batalha vencida. A minha família, base emocional da minha vida, àquela que dá suporte aos momentos de intensa tensão, que me renova as forças da alma quando a carência afetiva aflora. Responsáveis pela minha educação, sempre priorizando o respeito e amor ao próximo e, deixando o legado que o esforço pelo estudo e trabalho são os valores mais dignos que podemos ter. A Jone Emanuel, pelo amor, atenção e apoio incondicional, por ser companheiro, confidente, amigo, “ouvido de todas as noites”, pela dedicação e espera constante. Por ser a outra base emocional da minha vida, fazendo-me sentir a pessoa mais especial do mundo e por compartilhar os sonhos comigo. A Universidade Federal da Paraíba, que tem me apoiado desde o período de Graduação, especialmente ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia pela oportunidade de realização do curso. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela concessão da bolsa de estudos. Ao meu orientador Prof. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, por permitir uma relação de amizade e confiança, por ser responsável pela minha formação neste período, exemplo de trabalho e dedicação, a quem tenho muita gratidão. Ao Corpo Docente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia, PPGZ/CCA pelos conhecimentos repassados, pela compreensão e incentivo na minha caminhada. Ao professor Edgard C. Pimenta Filho, pela amizade, pelo exemplo de inteligência e dedicação, por ter me orientado nos primeiros passos da minha jornada acadêmica, pelo incentivo a continuar na Pós-Graduação. A professora Ângela Maria Vieira Batista, por me receber na UFRPE e permitir que eu aprendesse um pouco do muito que sabe, por ser uma mulher inteligente e vencedora. Minha admiração e gratidão. Ao professor Severino Gonzaga Neto, pelas demonstrações de respeito, incentivo, amizade e carinho, a quem tenho muita admiração. E ao professor Dermeval de Araújo Furtado, pelas contribuições na qualificação. x Ao professor Dr. Walter Esfrain Pereira por estar sempre disposto a colaborar nas análises estatísticas, e por nos receber com tanto desvelo. A banca examinadora: Profª. Adriana Guim e Prof. Paulo Sérgio de Azevedo, pela contribuição no enriquecimento deste trabalho. As funcionárias do PPGZ Maria das Graças S. C. Medeiros, Jacilene Castro, Elizabete e D. Carmem, por todos os momentos vividos e pela disposição em ajudarmos sempre que precisamos. Aos funcionários da Estação Experimental de São João do Cariri/UFPB, e a suas famílias que me acolheram com tanto carinho e respeito. Aos funcionários do Laboratório de Nutrição Animal, Zé Alves, Charlys, Antônio (Duelo) e Antônio Costa, pela atenção e dedicação que me foram prestadas. Aos funcionários do Laboratório de Física dos Solos, Roberval, D. Sula, Sr. Pelé, Sr. Chico e ao Professor Ivandro (responsável pelo laboratório). Aos funcionários da Diretoria do CCA/UFPB, Ivandro Cândido e Lourdes Maria, e ao motorista Zé Ramos, meus amigos, com todo meu carinho. A amiga Cicília Maria Silva de Souza, pela valiosíssima e constante ajuda desde o início da minha caminhada, pela grande contribuição nesta última etapa. A grande família de “Caririzeiros temporários”: Ana Cristina e Jória (companheiras de experimento), Cicília, Luciana, Alexandre Braga, Alexandre Cortes, Erllens, Valdi, Henrique, Verônica, Leila, Kalyana, Karina, Iracema, Anaiane, Agenor, Niraldo, Ênio e Miguel, pelo auxílio, vivência e pelos momentos divertidos durante o trabalho de campo (ê saudade!!!). A todos que me auxiliaram nas exaustivas madrugadas de observações do comportamento e nas árduas coletas de urina: os “Caririzeiros temporários” e os demais, Darklê, Danieli Pereira, Tiago Araújo, Paulo Henrique, Anderson, Emannuel, Delka, Tobyas, Emerson, Robson e Claudemir. A Aldivan Rodrigues, pela grandiosa ajuda nas análises laboratoriais. E a Jacira N. C. Torreão, exemplo de inteligência, por todo incentivo, ensinamentos e amizade. Aos amigos do Mestrado, que ingressaram comigo em 2006: Aurinês, Camila, Michelle, Emannuel, Helton, Janaína, Emerson, Tiago, Cristina, Delka, Aluska, Emerson, Andréa e Denize. Aos companheiros e amigos da Pós Graduação: Darklê, Marcos Jácome, Carlo Aldrovandi, Severino, Danúsio, Marcelo, Renata, Araken, Leilson, Julicelly (prima July), Tobyas e Carol, valeu a convivência e os grandes momentos que passamos juntos. xi As companheiras e amigas da república feminina da Pós-Graduação: Juliana (Nana) Delka, Jussara, Jailma e Bárbara, pelo convívio e amizade ao longo desta caminhada. A todos da UFRPE, pela acolhida e ajuda impagável, Daniele Matos, Rinaldo, Regina, Raquel, Cleidida, Fátima Takata, Ednéia, Tatiana Neres, Claudiney, Renaldo, Valmir e Márcio Vilela. Aos meus familiares e àqueles que mesmo não tendo grau de parentesco, fazem parte da minha família: Amélia “Uma” (minha segunda mãe), minhas tias, primas (Estephânia e Gorete), primos, Rejane, Yomana, Nika, Fafá, Madrinha Lourdes e Aguinaldo, Dara, Danieli, D. Cleonides e demais componentes da família Pereira e seus agregados, pela amizade, torcida e palavras de incentivo e afeto. Ao Padre João Jorge Rietveld, homen inteligente, pesquisador nato e escritor da história do Cariri paraibano, incentivador do estudo constante aos jovens da região. Obrigada pela torcida, incentivo e amizade pela minha família. E finalmente, a todos aqueles que de alguma forma torceram por mim, criticaram, se omitiram, colaboraram ou simplesmente esperaram pela concretização de mais uma etapa em minha vida. Muito Obrigada!!! xii BIOGRAFIA DA AUTORA LÍGIA MARIA GOMES BARRETO - Filha de José Gomes Filho e Maria de Lourdes Barreto Gomes, nascida em 09 de Fevereiro de 1983, na cidade de Santo André, Paraíba, onde estudou na Escola Estadual Álvaro Gaudêncio de Queiroz desde o primário até sua conclusão do ensino médio em 2000. Em 2001 ingressou no curso de Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba. Quando acadêmica foi bolsista PIBIC/CNPq por 44 meses, participando de diversos trabalhos nas áreas de Sistemas de Produção, Reprodução e Nutrição Animal. Neste período foi orientada pelo professor Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho. Em 17 de Junho de 2006, formou-se em Zootecnia pela UFPB. Em Março de 2006 ingressou no Curso de Mestrado em Produção Animal, pela Universidade Federal da Paraíba, no qual foi bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, desenvolvendo sua pesquisa na área de Nutrição de Ruminantes, sob a orientação do professor Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, submetendo-se à defesa da Dissertação em 21 de Maio de 2008. Em 04 de Março de 2008 ingressou no Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia, por esta mesma Instituição. xiii SUMÁRIO Páginas Lista de Tabelas ......................................................................................................... xv Lista de Figuras ......................................................................................................... xvii Resumo Geral ............................................................................................................. xix Abstract …………………………………………………………………………….. xx Capítulo I - Referencial Teórico ............................................................................... 1 Os caprinos nativos do semi-árido nordestino .......................................................... 2 Importância da energia na nutrição de ruminantes .................................................. 5 Efeito do nível energético da dieta sobre o consumo e a digestibilidade .................. 7 Comportamento ingestivo e mastigação merícica ..................................................... 10 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 16 Capítulo II – Consumo e Digestibilidade Aparente de Rações com Diferentes Níveis de Energia por Caprinos Moxotó e Canindé em Confinamento ..................... 21 Resumo ....................................................................................................................... 22 Abstract …………………………………………………………………………….. 23 Introdução .................................................................................................................. 24 Material e Métodos .................................................................................................... 27 xiv Resultados e Discussão .............................................................................................. 34 Conclusões ................................................................................................................. 51 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 52 Capítulo III – Comportamento Ingestivo de Caprinos Moxotó e Canindé em Confinamento, Sob Efeito de Dois Níveis de Energia na Dieta ................................ 54 Resumo ....................................................................................................................... 55 Abstract …………………………………………………………………………….. 56 Introdução .................................................................................................................. 57 Material e Métodos .................................................................................................... 59 Resultados e Discussão .............................................................................................. 66 Conclusões ................................................................................................................. 84 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 85 xv LISTA DE TABELAS Capítulo II Página Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental com base na matéria seca ....................................................................................... 28 Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta experimental com base na matéria seca ................................................ 29 Tabela 3. Composição das dietas experimentais efetivamente consumidas pelos caprinos Moxotó e Canindé ..................................................................... 34 Tabela 4. Porcentagem do tamanho da partícula retida nas peneiras para as sobras e dietas ofertadas e coeficientes de variação (CV), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta .......................... 36 Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) dos consumos de matéria seca (CMS), matéria orgânica (CMO), proteína bruta (CPB), extrato etéreo (CEE), nutrientes digestíveis totais (CNDT) e energia metabolizável (CEM), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta ..................................................................................................... 38 Tabela 6. Médias e coeficientes de variação (CV) dos consumos de fibra em detergente neutro (CFDN), carboidratos totais (CCHOT) e carboidratos não fibrosos (CCNF), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta ..................................................... 41 Tabela 7. Médias e coeficientes de variação (CV) para o coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca (CDAMS), matéria orgânica (CDAMO), proteína bruta (CDAPB), extrato etéreo (CDAEE), fibra em detergente neutro (CDAFDN), carboidratos totais (CDACHOT) e carboidratos não fibrosos (CDCNF), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta ..................................................... 45 Tabela 8. Médias e coeficientes de variação (CV) do peso médio inicial (PMI) e peso médio final (PMF), ganho de peso total (GPT) e ganho de peso médio diário (GPMD), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta .......................................................................... 48 xvi LISTA DE TABELAS Capítulo III Página Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental com base na matéria seca ......................................................................................... 60 Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta experimental com base na matéria seca ................................................ 61 Tabela 3. Composição das dietas experimentais efetivamente consumidas pelos caprinos Moxotó e Canindé .................................................................... 66 Tabela 4. Porcentagem do tamanho da partícula retida nas peneiras para as sobras e dietas ofertadas e coeficientes de variação (CV), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta ........................... 68 Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) dos tempos despendidos em alimentação (TAL), ruminação (TRU) e ócio (TO), consumos de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN), eficiências de alimentação (EAL) e ruminação (ERU) e tempo de mastigação total (TMT), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta ...................................................... 73 Tabela 6. Médias e coeficientes de variação para o números de bolos ruminais por dia (NBR), número de mastigação merícica por dia (NMMD), números de mastigação merícica por bolo (NMMB) e tempo de mastigação merícica por bolo (TMMB/seg), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta ............................................ 78 Tabela 7. Médias, desvios padrão e coeficientes de variação (CV) das variáveis fisiológicas, urina, fezes e procura por água, expressa em número de vezes por dia e consumo de água (C. Água) em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta ...................................... 80 xvii LISTA DE FIGURAS Capítulo I Página Figura 1: Figura 1: Raças de caprinos Moxotó (A) e Canindé (B) ....................... 4 xviii LISTA DE FIGURAS Capítulo III Página Figura 1: Tempos de alimentação (TAL), ócio (TO) e ruminação (TRU) de caprinos Moxotó e Canindé, durante 24 horas, consumindo a dieta de 2,7 Mcal de EM/kg de MS .............................................................. 71 Figura 2: Tempos de alimentação (TAL), ócio (TO) e ruminação (TRU) de caprinos Moxotó e Canindé, durante 24 horas, consumindo a dieta de 2,2 Mcal de EM/kg de MS .............................................................. 71 xix COMPORTAMENTO INGESTIVO E UTILIZAÇÃO DE NUTRIENTES POR CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ SUBMETIDOS A DIETAS COM DOIS NÍVEIS DE ENERGIA RESUMO GERAL - Com a realização deste trabalho, objetivou-se avaliar o comportamento ingestivo, a seletividade, o consumo de nutrientes a digestibilidade e o desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento, sob o efeito de dois níveis de energia metabolizável na dieta. Foram utilizados 40 machos castrados, com peso médio inicial de 15,22 kg, das raças Moxotó e Canindé, sendo 20 animais para o ensaio de digestibilidade. Foram distribuídos aleatoriamente em um delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x2 (duas raças e duas dietas). As dietas experimentais utilizadas foram: D1 = dieta com menor nível energético, contendo 2,2 Mcal de EM/ kg de MS e uma relação volumoso:concentrado de 70:30, D2 = dieta com maior nível energético; 2,7 Mcal de EM/ kg de MS com relação volumoso:concentrado de 35:65. Para o comportamento ingestivo foram realizadas observações a cada cinco minutos, durante 24 horas, para determinação do tempo despendido em alimentação, ruminação e ócio. Além da determinação da mastigação merícica e número médio de defecação e micção, freqüência de ingestão de água e consumo de água. Para o consumo de nutrientes e digestibilidade os animais foram mantidos em gaiolas para ensaio de metabolismo durante um período de 15 dias. O nível de energia da dieta influencia na eficiência de alimentação, no tempo de mastigação total e no número de mastigações diárias dos animais estudados. A raça Moxotó demonstra maior freqüência urinária e menor freqüência de procura por água ao longo do dia. Entretanto, recebendo a dieta com 2,7 Mcal de EM/ kg de MS, excreta menor quantidade de urina em litros por dia. A dieta com 2,7 Mcal de EM/kg de MS proporciona maior consumo de nutrientes pelos animais e a que apresenta melhores coeficientes de digestibilidade. Caprinos da raça Moxotó e Canindé, alimentados com ração completa, têm maior preferência a tamanhos de partículas que variam de 1,0 a menos de 0,5 mm. Dietas com maior nível energético, proporcionam melhor consumo e desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento. Entretanto, a raça Canindé, embora criada sob as mesmas condições de manejo que a Moxotó, demonstra maior ganho em peso. Palavras-chaves: Caprinos nativos, energia metabolizável, maniçoba, Semi-Árido xx INGESTIVE BEHAVIOUR AND NUTRIENTS UTILIZATION BY MOXOTO AND CANINDE GOATS UNDER DIETS WITH TWO ENERGETIC LEVELS GENERAL ABSTRACT - This research was conducted with the objective to evaluate the ingestive behavior, feeding selectivity, intake and apparent digestibility of the nutrients and performance of Moxoto and Caninde goats in feedlot, under the effect of two levels of metabolizable energy in the diet. Forty males non intact, being 20 from Moxotó and 20 from Caninde breeds, with average initial weight of 15.22 kg, were used to metabolism trial. The goats were assigned a completely randomized design in a 2 x 2 factorial arrangement (two breeds and two diets). The experimental diets used were: D1= diet with lower energetic level, with 2.2 Mcal ME/kg dry matter (DM) and roughage:concentrate ratio of 70:30; D2= diet with higher energetic level, with 2.7 Mcal ME/kg DM and roughage:concentrate ratio of 35:65. It were used visual observations to each five minutes, during a period of 24 h, to measured of time spent with feeding, rumination and leisure time. In addition, the number of rumination chews, the average number of time that animals make feces and urine, the water intake and frequency, were also measured. During the metabolism trial (15 days), the animals were housed individually in metabolism pen to determine the intake and apparent digestibility of the nutrients. The energetic level of the diet influence the feeding efficiency, total time chewing and number daily chews of animals studied. The Moxoto breed showed higher urinary frequency and lower water intake frequency during the day than Caninde breed. On the other hand, when the Moxoto animals received the diet with 2.7 Mcal ME/kg DM, they outputted less urine (L/day) than Caninde breed. The diet with 2.7 Mcal ME/kg DM caused higher intake and better digestibility of the nutrients. The Moxoto and Caninde goats fed with complete rations have higher preference to feed size particles ranging from 1.0 to less 0.5 mm. The diet with higher energetic level caused better intake and performance of animals under feedlot. However, the Caninde breed reared under the same management conditions that Moxoto breed, showed higher weight gain. Key words – Indigenous goats, maniçoba, metabolizable energy, semi-arid 1 Capítulo I Referencial Teórico Comportamento Ingestivo e Utilização de Nutrientes por Caprinos Moxotó e Canindé Submetidos a Dietas com Dois Níveis de Energia 2 Referencial Teórico Os caprinos nativos do semi-árido nordestino A região Nordeste abrange uma área total de 166,2 milhões de hectares, dos quais 95,2 milhões (57%) estão inseridos na zona semi-árida, área de forte vocação pecuária, especialmente, para a exploração dos pequenos ruminantes, com população caprina de 7.109.052 animais, que corresponde a 90% do efetivo nacional (IBGE, 2006). Neste contexto, sobressaem-se os caprinos nativos em face de sua característica de adaptação a ecossistemas adversos, o que é fortemente influenciado pelos seus hábitos alimentares. Estudos sobre caprinos nativos da região Nordeste brasileira estão sendo realizados com o intuito de reunir o maior número de informações possíveis sobre suas características produtivas e reprodutivas, bem como sua capacidade adaptativa as condições climáticas do ambiente semi-árido. No entanto, ainda são insipientes as informações de características comportamentais de caprinos nativos, os quais incluem, entre outras, as raças: Marota, Graúna, Azul, Repartida, Moxotó e Canindé, estas últimas destacadas por apresentarem-se mais numerosas. Segundo Oliveira et al. (2006), a caracterização racial é conhecida como sendo o perfil fenotípico através de caracteres étnicos em um determinado local, assim como a herança genética conhecida e que são marcantes no genótipo ou na raça, pelo qual podem auxiliar a análise de uma situação de um determinado grupo genético ou raça. 3 O primeiro registro de que se tem notícia da presença dos caprinos no Nordeste data de 1535, no início do período colonial do Brasil. De acordo com revisão feita por Oliveira et al. (2004) e Ribeiro et al. (2004), na época da colonização do Brasil, os caprinos, juntamente com outros animais domésticos, foram trazidos da Península Ibérica, e introduzidos através dos três principais pólos de colonização do país: São Vicente (1534); Recife (1535) e Salvador (1550). A partir dessas áreas os caprinos foram difundidos para outras regiões do Brasil. Após centenas de anos, com o processo de seleção natural ao longo de várias gerações, estes animais adquiriram capacidade de sobrevivência as nossas condições, tornando-se também muito prolíficos. Além disto, apresentam características comuns como pequeno porte, pêlos curtos, orelhas pequenas e baixa produção de leite, diferenciando-se quase que tão somente pela cor da pelagem. O Nordeste brasileiro tornou-se berço de muitas raças de caprinos nativos, por suas características climáticas análogas as regiões de origem desses animais, que favoreceram fortemente no processo adaptativo, proporcionando aos mesmos particularidades que despertaram interesse de criadores e pesquisadores da área. A raça Moxotó apresenta a maior população comparada com outras raças nativas (Rocha, 2007). Também chamada de "Lombo-Preto" a Moxotó é a única raça de caprinos nativos reconhecida oficialmente e que tem registro genealógico. Introduzida no País pelos colonizadores, supõem-se ser descendente da raça Serpentina de Portugal, é originária do Vale do Rio Moxotó, em Ibimirim-Inajá, no Estado de Pernambuco, de onde provém o nome. Atualmente também é criada nos Estados da Bahia, Ceará, Paraíba e Piauí (Oliveira et al., 2004). É uma raça rústica, de porte pequeno e aptidão mista, para carne, leite e pele. Possui pelagem branca, com uma listra negra descendo da base dos chifres, lateralmente até a ponta do focinho e ao longo do dorso, tomando quase toda sua extensão. O ventre, 4 úbere e membros são normalmente pretos. As orelhas são pequenas e as mucosas e unhas pigmentadas. O peso médio para a raça é de 31 kg, com altura de aproximadamente 62 cm (Oliveira et al., 2004). O caprino Canindé, nativo do Nordeste brasileiro, possivelmente, é originário da raça Grisonne Negra, dos Alpes Suíços. Também existem afirmativas de que originouse da região do Rio Canindé, no Estado do Piauí. As áreas de maior ocorrência da raça encontram-se nos Estados do Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte (Oliveira et al., 2004). Apresenta a cabeça negra, com mancha baia, de tamanho variado na região do pescoço. Possui na face, uma faixa branca (“lágrima”) estreita que percorre a arcada orbitária pelo lado interno, descendo até os lacrimais, ou um pouco mais. Os pêlos da parte externa da orelha são negros e claros na parte interna. A linha branca ventral tem início na base do peito, seguindo pelas axilas, passando pela região inguinal até a base de inserção da cauda, com pêlos claros também nas extremidades dos membros. É comum encontrar animais com pelagem preta e vermelha ao invés de preta e baia. Esta raça apresenta peso corporal médio de 35 a 40 kg e altura aproximada de 55 cm (Oliveira et al., 2004). As raças de caprinos nativos descritas acima estão representadas na Figura 1. A Figura 1: Raças de caprinos Moxotó (A) e Canindé (B) B 5 6 Importância da energia na nutrição de ruminantes A alimentação é um dos principais componentes limitantes à produção de carne no nordeste do Brasil. A crescente procura pela carne de pequenos ruminantes requer melhorias que visem aumento de produtividade dos rebanhos, exigindo, dessa forma, estudos que possibilitem estabelecer quantidades de energia que atendam às necessidades desses animais, observando o tipo de alimento empregado, pois, o melhor desempenho depende das características do animal e da elaboração de dietas mais eficientes (Alves et al., 2003). A eficiente utilização dos alimentos depende de um suprimento adequado de energia, pois, a deficiência de energia retarda o crescimento, aumenta a idade à puberdade, reduz a fertilidade, diminui o ganho de peso e a produção leiteira (Resende, 1996). Segundo Oliveira (1992), no suprimento dos requerimentos nutricionais dos caprinos, assim como de outras espécies de animais, a energia, combustível celular presente em diversos nutrientes (proteínas, carboidratos e lipídios) é, quantitativamente, o mais importante. De acordo com o NRC (1981), as exigências de energia também são afetadas pelo ambiente, crescimento do pêlo, atividade muscular e a interação da energia com outros componentes da dieta. A temperatura, umidade, radiação solar, e velocidade do vento podem aumentar ou diminuir as necessidades energéticas dependendo da região. Contudo, um estresse de qualquer tipo pode aumentar exigências de energia do animal. O funcionamento dos órgãos vitais, a atividade e renovação das células, os processos de utilização dos alimentos, o tônus muscular e a atividade física espontânea são processos que consomem energia. Parte dessa energia se dissipa sob a forma de calor, sendo isso, em geral, mais que suficiente para manter constante a temperatura 7 interna dos ruminantes, quando submetidos a ambientes com baixa temperatura (Ribeiro, 1997). De acordo com revisão feita por Silva et al. (2006), quando os caprinos estão em uma zona de termoneutralidade o mínimo de energia é requerida para manter constante a temperatura corporal. Entretanto, quando esses animais são expostos a temperaturas ambientais acima ou abaixo da temperatura crítica inferior, há necessidade de energia adicional para manter o comportamento fisiológico. Portanto, em situação estressante, a energia se torna um fator limitante, devido ao seu maior requerimento e menor fornecimento, em virtude da redução na ingestão de alimentos. Os sistemas de avaliação de alimentos expressam o conteúdo energético de um alimento, bem como a exigência energética de um animal, de diversas formas: nutrientes digestíveis totais (NDT), energia bruta, energia digestível, energia metabolizável e energia líquida, sendo que, esta última considera o incremento calórico e, ainda, os estádios fisiológicos dos animais, como manutenção, crescimento, gestação e lactação (Silva & Leão, 1979; AFRC, 1993; NRC, 1996). A maximização do uso de concentrado, devido à necessidade de se elevar o teor de energia das dietas, acarreta, geralmente, aumento nos custos de produção e maior possibilidade de ocorrências de distúrbios metabólicos nos animais, entretanto permite rações com maior concentração de nutrientes, que podem ser recomendadas para animais com alto potencial para ganho em peso (Alves et al., 2003). Segundo Araújo (2005), é importante enfocar aspectos inerentes aos sistemas de produção mais utilizados, executando práticas de manejo alimentar que possam viabilizar a maior eficácia dos animais. Diante disso, o sistema de produção em confinamento pode ser uma proposta promissora, visto a possibilidade de utilização de forrageiras nativas associada à suplementação energética. 8 A caatinga, vegetação típica da Região Nordeste é responsável pelo maior aporte de recurso alimentar para os rebanhos nativos e, como se trata de uma vegetação bastante diversificada tem despertado interesse em uma série de pesquisadores, principalmente, aquelas plantas de elevado potencial forrageiro (Andrade, 2007). Não há como tratar de alimentação para caprinos nativos sem reportar a importância da utilização de forragem nativa ou naturalizada, visto que estas têm papel de destaque nos sistemas de produção do semi-árido. Dentre as forrageiras nativas, a maniçoba (Manihot pseudoglasiovii), uma planta da família Euphorbiaceae, muito difundida na região Nordeste, tem demonstrado características favoráveis para sua utilização na alimentação animal. A maniçoba na forma de feno é muito utilizada, em condições in natura possui substâncias tóxicas, como o ácido cianídrico, por exemplo, em sua composição que podem ser nocivas ao animal e, sendo eliminados com a desidratação ao sol, promovendo a volatilização destes compostos. O feno possui em sua composição química teores consideráveis de proteína bruta de 9,46 % (Araújo et al., 1996), 10,56 % (Araújo, 2005), 12,0 % (Barros et al., 1990), a 15,34 % (Castro, 2004), entre outros atributos que se assemelham aos de plantas tradicionalmente utilizadas na nutrição de ruminantes (Andrade, 2007). Assim sendo, pode representar alternativas locais para formulação de alimentos, indo de encontro a um dos principais fatores determinantes dos altos custos de produção dos produtos pecuários (Lima & Maciel, 2007). Efeito do nível energético da dieta sobre o consumo e a digestibilidade dos nutrientes As etapas do processo de aproveitamento dos alimentos pelos animais domésticos guiadas por diversas interações de fenômenos físicos, químicos e biológicos, que 9 refletem a resposta produtiva, têm o consumo como a primeira e mais importante etapa (Dias et al., 2000). O consumo é influenciado por diversos fatores, e pode variar em função do animal, pela variação no peso, estado fisiológico ou nível de produção; em função do alimento, pela capacidade de enchimento, densidade energética ou nível de FDN; das condições de alimentação, pela disponibilidade de alimento, espaço no comedouro ou freqüência de alimentação; e das condições climáticas (Mertens, 1992). A energia utilizada pelo animal provém, principalmente, da energia ingerida e eventualmente da mobilização e do catabolismo das suas reservas corporais. Sob condições de elevada temperatura ambiente, o animal desenvolve mecanismos de regulação do consumo de alimentos, para reduzir a produção de calor, que convém neste caso, aumentar a densidade energética da ração para que não haja perdas na produção (Morand-Fehr & Dureau, 2001). Entretanto, segundo Misra & Khub (2002) caprinos bem adaptados a zonas semi-áridas, não reduzem o consumo de alimentos, possivelmente devido ao reduzido impacto causado pelo estresse nesses animais, cujos efeitos não são limitantes à sua produção. Outros mecanismos de regulação do consumo atuam em situações de desequilíbrio entre a densidade energética da dieta e a concentração de fibra, como limitação pelo mecanismo fisiológico da saciedade ou efeito do enchimento controlado por fatores físicos (Mertens, 1994 e Oliveira et al., 2001). Baseados neste conceito, Bull et al., (1976) postularam que na formulação de dietas deve-se maximizar a utilização de volumosos, desde que se mantenha a densidade energética próxima ao ponto onde os fatores físicos e fisiológicos convergem na regulação do consumo de energia. A digestibilidade de um alimento é a capacidade de permitir a utilização de seus nutrientes pelo animal, como um processo de conversão de macromoléculas de um 10 alimento ou dieta, em compostos mais simples, uma vez que, esta conversão é expressa pelo coeficiente de digestibilidade de um determinado nutriente, e é uma característica do alimento e não do animal (Silva & Leão, 1979 e Van Soest,1994). Com base na digestibilidade, pode-se avaliar o valor energético de qualquer alimento, através dos nutrientes digestíveis totais (NDT) (Detmann et al., 2006). De acordo com Alves et al. (2003), diversos fatores podem influenciar a digestibilidade, desde a composição e processamento dos alimentos e da dieta, até àqueles dependentes dos animais, e concluem em seu trabalho que, o aumento no valor energético das dietas melhora os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (MS) e orgânica (MO), carboidratos totais (CHOT) e não-fibrosos (CNF) e reduz os coeficientes de digestibilidade da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA). Normalmente alimentos energéticos possuem maior coeficiente de digestibilidade da matéria seca que as forragens, de modo que o fornecimento destes geralmente melhora o coeficiente de digestibilidade da MS da dieta total (Paulino et al., 2005). Não sendo recomendável excessiva redução no nível de fibra da dieta do ruminante, uma vez que a fibra é fundamental para a manutenção das condições ótimas do rúmen (Mertens, 1992; Allen, 1997). França (2006) trabalhando com ovelhas Morada Nova no terço final de gestação, alimentadas com níveis crescentes de energia metabolizável, observou que o aumento da quantidade de energia na dieta melhorou a digestibilidade dos nutrientes, com prejuízo apenas para a digestibilidade da fibra. Os resultados encontrados a seguir demonstram o efeito entre o aumento ou diminuição dos níveis de concentrado nas dietas, sobre o consumo de energia e a digestibilidade dos nutrientes. 11 Bürger et al. (2000) verificaram que a digestibilidade aparente total da MS, MO, EE e CHOT aumentaram linearmente com o aumento do nível de concentrado nas dietas. Avaliando o efeito de cinco níveis de concentrado sobre o consumo de nutrientes e digestibilidade das dietas por novilhos, Dias et al. (2000) observaram que o consumo de NDT e digestibilidade aparente da MS, PB, CNE aumentou linearmente com o aumento nas proporções de concentrado nas dietas. Zambom et al. (2006) afirmaram que diferentes níveis de energia utilizados nas dietas de cabras leiteiras, não modificaram a ingestão de matéria seca e de nutriente, fato que proporcionou melhoria da digestibilidade. Barreto (2005) verificou que o consumo de energia e a digestibilidade diminuíram linearmente com a inclusão de feno de feijão bravo (Capparis flexuosa L.) na dieta de ovinos Santa Inês. Silva et al. (2007) trabalhando com níveis crescentes de feno de maniçoba em dietas para ovinos, observaram diminuição no consumo de NDT e na digestibilidade da dieta com 80% de feno. Comportamento ingestivo e mastigação merícica O estudo do comportamento ingestivo é um instrumento relevante para a nutrição animal, pois através deste pode-se entender os fatores que atuam na regulação da ingestão de alimentos e água, bem como estabelecer ajustes que melhorem a produção (Mendonça et al., 2004). O estudo da etologia tem, como princípios básicos, estudar os efeitos da forma de arraçoamento, assim como da quantidade e qualidade da dieta oferecida sobre o consumo e a distribuição das atividades ao longo do dia; fazer uso destes subsídios para promover melhorias no desempenho animal, possibilitando maior eficiência do sistema; 12 além de conhecer as necessidades dos animais em função do sistema de produção utilizado, possibilitando relacionamento orientado com os mesmos (Lima et al., 2003; Costa, 2005; Tavares et al., 2005). Mendes Neto et al. (2007) reuniram informações relevantes sobre os fatores determinantes do consumo e da eficiência de utilização do alimento pelo animal, dando ênfase ao estudo do comportamento ingestivo de ruminantes como peça fundamental ao entendimento dos processos de digestão dos alimentos, sua eficiência de utilização e absorção e, da manutenção das condições ruminais, sendo que cada um desses processos é resultado de uma complexa interação do metabolismo do animal com as propriedades físicas e químicas da dieta. Ressalta-se que o animal pode mudar seu comportamento para superar situações de limitação do consumo, para obter quantidade necessária de nutrientes. Segundo Bürger et al. (2000) nos estudos que envolvem o comportamento alimentar, são avaliadas as características dos alimentos, motilidade de pré-estômagos e o ambiente climático. Por este motivo, torna-se imprescindível a avaliação da composição dos alimentos na etologia animal. De acordo com Ribeiro et al. (2006), as atividades de alimentação e ruminação dependem de fatores que estão relacionados a freqüência e ao tempo de alimentação. A freqüência de alimentação e ruminação pode estar relacionada ao hábito alimentar de cada espécie. Em se tratando de tempo de alimentação e da velocidade com que esta é efetuada, podem estar ligadas a morfologia da forragem, tempo gasto na apreensão do alimento e redução do tamanho da partícula, bem como às característica inerentes ao concentrado. Fischer et al. (1998) reportam que os períodos de tempo gastos com a ingestão de alimentos são intercalados com um ou mais períodos de ruminação ou de ócio e que 13 os períodos de ruminação são cadenciados pelo fornecimento de alimento, sendo o tempo gasto em ruminação mais elevado no período noturno. Macedo et al. (2007) trabalhando com ovinos em confinamento, alimentados em duas porções diárias, às 07:30 e 17:30 horas, observaram que os animais apresentaram hábito de ingestão preferencialmente diurno e de ruminação noturno. Oshiro et al. (1996) em trabalho realizado com cabras Saanen adultas confinadas, testaram o efeito do fotoperíodo nas atividades de mastigação, ruminação e ócio, verificando que houve interferência da luz nas atividades de ruminação. Estes resultados sugerem que um relógio biológico que atua no controle da ruminação seria orientado pela luz ou pela maior quantidade de mastigação nos períodos claros. As diversas condições de alimentação podem modificar os parâmetros do comportamento ingestivo (Carvalho et al., 2006). O tempo de ruminação é influenciado pela natureza da dieta, sendo que alimentos finamente triturados tendem a reduzir o tempo de ruminação, ao passo que forragens com elevado teor de parede celular elevam este tempo (Van Soest, 1994). Ruminantes confinados, arraçoados duas vezes ao dia, apresentam duas refeições principais após o fornecimento da ração, com duração de uma a três horas, além de intervalos variáveis de pequenas refeições. Períodos de ruminação e descanso ocorrem entre as refeições, uma vez que sua duração e padrão de distribuição são influenciados pelas atividades de ingestão (Fischer et al., 1997). Gonçalves et al. (2001) trabalhando com cabras leiteiras, alimentadas com dietas contendo diferente relação volumoso:concentrado, constataram que o aumento do nível de concentrado da dieta, reduziu o tempo dedicado ao consumo e ruminação das cabras, isto porque, a diminuição do teor de fibra da dieta, provocou menor estimulo das funções ruminais, prolongando assim o período de ociosidade. Por outro lado, Carvalho 14 et al. (2004) não encontraram alteração na atividade mastigatória de cabras leiteiras com o aumento nos teores de FDN das dietas; verificando que nem o maior valor de FDN (43,42%), observado na dieta com 30% de inclusão de torta de dendê, foi capaz de promover alteração no ajuste da atividade mastigatória. Ribeiro et al. (2006) também constataram que o nível de alimentação aplicado aos animais, restrita ou à vontade, não apresenta influência sobre o comportamento ingestivo de caprinos Moxotó e Canindé, porém, pode afetar a procura por água e a freqüência de defecação e micção. Avondo et al. (2004) ressaltaram em seu trabalho que os níveis de proteína bruta da dieta apresentaram influência significativa no comportamento ingestivo dos animais, em que maiores níveis de PB na dieta diminuíram a ingestão de forragem e seletividade pelas partes mais nutritivas da planta. Com base nisto, esses mesmos autores conduziram um estudo avaliando o efeito de dois níveis de PB em dietas contendo feno de má e de boa qualidade. Os resultados encontrados demonstram que o nível de proteína bruta não modificou o consumo de FDN pelos animais que recebiam feno de baixa qualidade em ambos os tratamentos, com maior e menor nível de PB, o que foi justificado pela predominância de mecanismos de controle físicos sobre os demais mecanismos. Já no segundo período experimental, quando utilizaram feno de melhor qualidade, observaram que, por este oferecer ampla oportunidade de seletividade, o nível de PB representou um fator limitante do consumo. O processo de ruminação ocorre em duas etapas; à primeira consiste em ingerir rapidamente o alimento com pouca mastigação, permitindo apenas a deglutição. Posteriormente, esse alimento retorna de seus compartimentos fermentativos para a boca, sendo feita a segunda etapa da mastigação, mais lenta e elaborada, conhecida como mastigação merícica ou mastigação durante a ruminação. O bolo alimentar é 15 regurgitado e remastigado até atingir o tamanho adequado à fermentação ruminal (Furlan et al., 2006 e Souza, 2007). O início da ruminação ocorre entre 30 e 60 minutos após a ingestão do alimento. O número e duração dos ciclos de ruminação dependem da estrutura do alimento (teor de fibra, tamanho de partícula), número de refeições e quantidade de alimento ingerido (Furlan et al., 2006). A atividade de mastigação está associada à taxa de secreção salivar, à solubilização de componentes do alimento e à quebra de partículas, facilitando os processos de colonização dessas partículas pelos microrganismos ruminais e de digestão, o que influencia a taxa de passagem, o tempo de retenção e, conseqüentemente, a digestibilidade dos alimentos (Mendes Neto et al., 2007). De acordo com revisão feita por Silva et al. (2005), os ruminantes ajustam seu comportamento alimentar em função do nível de fibra da dieta, o que pode causar limitação de consumo, seja pelo aumento do nível de fibra ou pelo aumento do nível de concentrado, e enfatiza que é importante se avaliar esta influência da fibra, sobretudo sobre o número de mastigações por bolo ruminal. Talvez mais importante que o teor de fibra, seja o arranjo da parede celular. Tome-se, por exemplo, a cana de açúcar, em que seu percentual de FDN encontra-se próximo de 50%, entretanto, devido à baixa digestibilidade da parede celular, o efeito sobre o consumo é maior do que o observado em volumosos com porcentagem de FDN muito mais altos. No período de um dia do animal ruminante, normalmente são ruminados entre 360 e 790 bolos alimentares, que levam a ocorrência de 40 a 70 movimentos mandibulares durante a ruminação, em períodos de 45 a 60 segundos. Entre os bovinos, ovinos e caprinos existem características de ruminação muito semelhantes, com número 16 de períodos um pouco diferentes. O caprino rumina de 7 a 8 horas por dia, sendo que cerca de 75% desta atividade ocorre preferencialmente a noite (Furlan et al., 2006). O animal investe em torno de 5 a 9 h do dia para a ruminação, este tempo é a soma do tempo de regurgitação, de mastigação, salivação, deglutição e o intervalo entre os bolos. A duração dos períodos de ruminação pode variar de um minuto a superiores a uma hora. A remastigação e salivação levam 50 a 60 segundos, o tempo gasto para deglutir e regurgitar novamente percorre um tempo em torno de 7 a 9 segundos (Pereyra & Leiras, 1991). 17 Referências Bibliográficas AGRICULTURAL AND FOOD REASERCH COUNCIL - AFRC. Energy and protein requirements of ruminants. Wallingford: CAB International, 1993. 159p. ALLEN, M.S. Relationship between fermentation acid production in the rumen and the requirement for physically effective fiber. Journal Dairy Science, v.80, p.1447– 1462, 1997. ALVES, K.S.; CARVALHO, F.F.R.; VÉRAS, A.S.C. et al. Níveis de energia em dietas para ovinos Santa Inês: desempenho. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p.1937-1944, 2003 (Supl. 2). ANDRADE, M.V.M. Grupo de Pesquisa Lavouras Xarófilas, 2007. Disponível em <http://www.cca.ufpb.br/lavouraxerofila/culturas.html.> Acesso em: 09/12/2007. ARAÚJO, E.C.; SILVA, V.M.; PIMENTEL, A.L. et al. Valor nutritivo e consumo voluntário de forrageiras nativas da região Semi-árida do Estado de Pernambuco – VII Maniçoba (Manihoti epruinosa Pax & Hoffmann). In: SIMPÓSIO NORDESTINO DE ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES, 6., 1996, Natal. Anais... Natal: Simpósio Nordestino de Produção Animal/SNPA, 1996, p. 94. ARAÚJO, M.J. Feno de Maniçoba (Manihoti glasiovii Muell Arg.) em dietas para cabras da raça Moxotó em lactação. Areia: Universidade Federal da Paraíba, 2005, 84p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2005. AVONDO, M.; LUTRI, L.; PENNISI, P. Feeding behaviour of Comisana rams as affected by crude protein level of concentrate. Small Ruminant Research, v.55, Issue. 1-3, p. 135–140, 2004. BARRETO, G.P. Utilização do feno de feijão-bravo (Capparis flexuosa L.) em dietas para ovinos Santa Inês. Areia: Universidade Federal da Paraíba, 2005, 69p. Tese (Doutorado em Zootecnia), Universidade Federal da Paraíba, Areia - PB, 2005. BARROS, N.N.; SALVIANO, L.M.C.; KAWAS, J.R. Valor nutritivo de maniçoba para caprinos e ovinos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.25, n.3, p.387-392, 1990. BULL, L.S.; BAUMGARDT, B.R.; CLAURY, M. Influence of caloric density on energy intake by dairy cows. Journal of Animal Science, v.6, n.59, p.1078-1086, 1976. BÜRGUER, P. J.; PEREIRA, J.C.; QUEIROZ, A.C. et al. Comportamento ingestivo em bezerros holandeses alimentados com dietas contendo diferentes níveis de concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.1, p. 236-242, 2000. CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.V.; SILVA, F.F. et al. Comportamento ingestivo de cabras leiteiras alimentadas com farelo de cacau ou torta de dendê. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.39, n.9, p.919-925, set. 2004. 18 CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.V.; SILVA, R.R. et al. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com dietas compostas de silagem de capim-elefante amonizada ou não e subprodutos agroindustriais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.4, p.1805-1812, 2006 (supl.). CASTRO, J.M.C. Inclusão do feno de Maniçoba (Manihot glaziovii Muell. Arg.) em dietas para ovinos Santa Inês. Areia: Universidade Federal da Paraíba, 2005, 95p. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2004. COSTA, M.J.R.P. O bem-estar no ambiente de produção. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE Z0OOTECNIA, 42., 2005, Goiânia. Anais... Goiânia: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2005, p. 395-399. DETMANN, E.; VALADARES FILHO, S.C.; HENRIQUES, L.T. et al. Estimação da digestibilidade dos carboidratos não-fibrosos em bovinos utilizando-se o conceito de entidade nutricional em condições brasileiras. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.4, p.1479-1486, 2006. DIAS, H.L.C.; VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, J.F.C. et al. Consumo e digestões totais e parciais em novilhos F1 Limousin x Nelore alimentados com dietas contendo cinco níveis de concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.2, p.545-554, 2000. FISCHER, V.; DESWYSEN, A.G.; DÉSPRÉS, L. et al. Comportamento ingestivo de ovinos recebendo dieta à base de feno durante um período de seis meses. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.5, p. 1032-1038, 1997. FISCHER, V.; DESWYSEN, A.G.; DÉSPRÉS, L. et al. Padrões nictemerais do comportamento ingestivo de ovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.27, n.2, p.362-369, 1998. FRANÇA, S.R.L. Níveis de energia metabolizável para ovelhas Morada Nova, no terço final da gestação. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2006. FURLAN, R.L.; MACARI, M.; FARIA FILHO, D.E. Anatomia e fisiologia do trato gastrintestinal. In: BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. (Ed.) Nutrição de Ruminantes. 1.ed. Jaboticabal: Funep, 2006. p. 1 – 23. 583 p. GONÇALVES, A.L.; LANA, R.P.; RODRIGUES, M.T. et al. Padrão Nictemeral do pH Ruminal e Comportamento Alimentar de Cabras Leiteiras Alimentadas com Dietas Contendo Diferentes Relações Volumoso:Concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.6, p.1886-1892, 2001. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. [2006]. Censo Agropecuário 2006. Rio de Janeiro: IBGE. Disponível em: <www.ibge.gov.br/ibge/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/default.shtm. > Acesso em: 05/04/2008. LIMA, G.F.C.; MACIEL, F.C. [2007]. Conservação de Forrageiras Nativas e Introduzidas. Disponível em: <http://www.emparn.rn.gov.br/links/publicacoes/Conserva%E7ao%20de%20Forrag eira.> Acesso em: 09/12/2007. 19 LIMA, R.M.B.; FERREIRA, M.A.; BRASIL, L.H.A. et al. Substituição do milho por palma forrageira: comportamento ingestivo de vacas mestiças em lactação. Acta Scientiarum. Animal Sciences, v.25, n.2, p.347-353, 2003. MACEDO, C.A.B.; MIZUBUTI, I.Y.; MOREIRA, F.B. et al. Comportamento ingestivo de ovinos recebendo dietas com diferentes níveis de bagaço de laranja em substituição à silagem de sorgo na ração. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.6, p.1910-1916, 2007. MEDEIROS, G.R.; CARVALHO, F.F.R.; FERREIRA, M.A. et al. Efeito dos níveis de concentrado sobre o desempenho de ovinos Morada Nova em confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.4, p.1162-1171, 2007. MENDES NETO, J.; CAMPOS, J.M.S.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Comportamento ingestivo de novilhas leiteiras alimentadas com polpa cítrica em substituição ao feno de capim-tifton 85. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.3, p.618-625, 2007. MENDONÇA, S.S.; CAMPOS, J.M.S.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Comportamento Ingestivo de Vacas Leiteiras Alimentadas com Dietas à Base de cana-de-açúcar ou Silagem de Milho. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.3, p.723-728, 2004. MERTENS, D.R. Análise da fibra e sua utilização na avaliação e formulação de rações. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE RUMINANTES, 29, 1992, Lavras. Anais... Lavras: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia/SBZ, 1992. p.188-219. MERTENS, D.R. Regulation of forage intake. In: FORAGE QUALITY, EVALUATION, AND UTILIZATION, 1994, Wisconsin. Proceedings… Wisconsin: 1994. p.450-493. MISRA, A.K.; KHUB, S. Effect of water deprivation on dry matter intake, nutrient utilization and metabolic water production in goats under semi-arid zone of India. Small Ruminant Research, v.46, p.159-165, 2002. MORAND-FEHR, P.; DOREAU, M. Ingestion et digestion chez les ruminants soumis à um stress de chaleur. INRA Production Animal, v.14, p.15-27, 2001. NATIONAL.RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirement of domestics animals: nutrient requirement of goats. Washington, D.C. 1981. 91 p. NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirements of beef cattle. 7ª ed., Washington: National Academy Press, 1996. 242 p. OLIVEIRA, A.S.; VALADARES, R.F.D.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Consumo, Digestibilidade Aparente, Produção e Composição do Leite em Vacas Alimentadas com Quatro Níveis de Compostos Nitrogenados Não-Protéicos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.4, p.1358-1366, 2001. OLIVEIRA, E.P. Nutrição de caprinos. In: ABEAS, Curso de caprinocultura: nutrição de caprinos. Brasília: ABEAS, 1992, 64 p. (módulo 7). OLIVEIRA, J.C.V.; ROCHA, L.L.; MENEZES, M.P.C. et al. Recursos genéticos existentes e suas características. In: RIBEIRO, M.N.; GOMES FILHO, M.A.; DELGADO BERMEJO, J.V. et al. Conservação de raças caprinas nativas do 20 Brasil: histórico, situação atual e perspectivas. Recife: UFRPE, Imprensa Universitária, 2004. 62 p.: ill. OLIVEIRA, J.C.V.; ROCHA, L.L.; RIBEIRO, M.N. et al. Caracterização e perfil genético visível de caprinos nativos no estado de Pernambuco. Archivos de Zootecnia, v.55, n.209, p.63-73. 2006. OSHIRO, S.; NAKAMAE, H.; HIRAYAMA, T. Effects of duration of photoperiod on the rumination behavior of goats. Small Ruminant Research, v.22, Issue.2, p. 97102, 1996. PAULINO, M.F.; MORAES, E.H.B.K.; ZERVOUDAKIS, J.T. et al. Fontes de energia em suplementos múltiplos de auto-regulação de consumo na recria de novilhos mestiços em pastagens de Brachiaria decumbens durante o período das águas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.3, 2005. PEREYRA, H.; LEIRAS, M.A. Comportamento Bovino de Alimentación, Rumia y Bebida. Fleckvieh-Simental, Buenos Aires, v. 9, n. 51, p. 24-27,1991. RESENDE, K.T., RIBEIRO, S.D.A., DORIGAN, C.J. et al. Nutrição de caprinos: Novos Sistemas e Exigências Nutricionais In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNICA, 33., SEMANA DA CAPRINOCULTURA E DA OVINOCULTURA TROPICAL.BRASILEIRA, 2., 1996, Fortaleza. Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1996. p. 7799. RIBEIRO, S.D. de A. Caprinocultura; criação racional de caprinos. São Paulo: Nobel, 1997. 318 p. RIBEIRO, M.N.; OLIVEIRA, J.C.V.; GOMES FILHO, M.A. Antecedentes Históricos. In: RIBEIRO, M.N.; GOMES FILHO, M.A.; DELGADO BERMEJO, J.V. et al. Conservação de raças caprinas nativas do Brasil: histórico, situação atual e perspectivas. Recife: UFRPE, Imprensa Universitária, 2004. 62 p.: ill. RIBEIRO, V.L.; BATISTA, A.M.V.; CARVALHO, F.F.R. et al. Comportamento ingestivo de caprinos Moxotó e Canindé submetidos à alimentação à vontade e restrita Acta Scientiarum Animal Sciences,, v. 28, n. 3, p. 331-337, 2006. ROCHA D. Caprinocultura: Raça Moxotó: importância e critérios para conservação. 2007. Disponível em: <http://www.zootecniabrasil.com.br/sistema/modules/wfsection/article.php?articleid =13.> Acesso em: 09/12/2007. SILVA, D.S.; CASTRO, J.M.C.; MEDEIROS, A.N. et al. Feno de maniçoba em dietas para ovinos: consumo de nutrientes, digestibilidade aparente e balanço nitrogenado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, p.1685-1690, 2007 (supl.). SILVA, G.A.; SOUZA, B.B.; ALFARO, C.E.P. et al. Influência da dieta com diferentes níveis de lipídeo e proteína na resposta fisiológica e hematológica de reprodutores caprinos sob estresse térmico. Ciência e Agrotecnologia, v. 30, n. 1, p. 154-161, 2006. SILVA, J.F.C.; LEÃO, M.I. Fundamentos de nutrição dos ruminantes. São Paulo: livroceres, 1979. 380 p. 21 SILVA, R.R.; SILVA, F.F.; CARVALHO, G.G.P. et al. Comportamento Ingestivo de Novilhas Mestiças de Holandês x Zebu Confinadas. Archivos de Zootecnia, v.54, n. 205, p.75-85. 2005. SOUZA, C.M.S. Desempenho e Comportamento Ingestivo de Ovelhas Nativas do Semi-árido Nordestino, em Confinamento. Areia: Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, 2007, 79p. Dissertação de mestrado (Zootecnia). Universidade Federal da Paraíba. Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, 2007. TAVARES, A.M.A.; VÉRAS, A.S.C.; BATISTA, A.M.V. et al. Níveis crescentes de feno em dietas à base de palma forrageira para caprinos em confinamento:comportamento ingestivo. Acta Scientarium. Animal Sciences. v.27, n.4, p.497-504, 2005. VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2º ed. Ilhaca Cornell University Press, 1994, 476p. ZAMBOM, M.A.; ALCALDE, C.R.; MACEDO, F.A.F. et al. Ingestão, digestibilidade das rações e parâmetros sangüíneos em cabras Saanen durante o pré-parto recebendo rações com diferentes níveis de energia. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.4, p.1866-1871, 2006. 22 Capítulo II Consumo e Digestibilidade Aparente de Rações com Diferentes Níveis de Energia por Caprinos Moxotó e Canindé em Confinamento 23 CONSUMO E DIGESTIBILIDADE APARENTE DE RAÇÕES COM DIFERENTES NÍVEIS DE ENERGIA POR CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ EM CONFINAMENTO RESUMO - Com a realização deste trabalho, objetivou-se avaliar o consumo, a seletividade, a digestibilidade dos nutrientes e o desempenho em ganho de peso por caprinos Moxotó e Canindé em confinamento, sob o efeito de dois níveis de energia metabolizável na dieta. Foram utilizados 40 machos castrados, 20 da raça Moxotó e 20 Canindé, com peso médio inicial de 15,3 kg, distribuídos aleatoriamente em um delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x2 (duas raças e duas dietas). As dietas experimentais utilizadas foram: D1 = dieta com menor nível energético, contendo 2,2 Mcal de EM/ kg de matéria seca (MS) e uma relação volumoso:concentrado de 70:30, D2 = dieta com maior nível energético; 2,7 Mcal de EM/ kg de MS com relação volumoso:concentrado de 35:65. Para a determinação do consumo de nutrientes e da digestibilidade, os animais foram mantidos em gaiolas para ensaio de metabolismo durante um período de 15 dias, no final do experimento. O acompanhamento do desempenho foi realizado semanalmente, durante um período de 90 dias. A dieta com 2,7 Mcal de EM/kg de MS proporciona maior consumo de nutrientes pelos animais e a que apresenta melhores coeficientes de digestibilidade. Caprinos da raça Moxotó e Canindé, alimentados com ração completa, têm maior preferência a tamanhos de partículas que variam de 1,0 a menos de 0,5 mm. Dietas com maior nível energético, proporcionam melhor consumo e desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento. Entretanto, a raça Canindé, embora criada sob as mesmas condições de manejo que a Moxotó, demonstra maior ganho em peso. Palavras-chaves: Caprinos nativos, feno de maniçoba, Semi-Árido, valor nutritivo 24 INTAKE AND APPARENT DIGESTIBILITY OF RATIONS WITH DIFFERENT LEVELS OF ENERGY BY MOXOTO AND CANINDÉ GOATS IN FEEDLOT ABSTRACT - This research was conducted with the objective to evaluate the intake, feeding selectivity and apparent digestibility of the nutrients and the weight gain of Moxoto and Caninde goats in feedlot, under the effect of two levels of metabolizable energy in the diet. Forty males non intact, being 20 from Moxotó and 20 from Caninde breeds, with average initial weight of 15.3 kg, were used. The goats were assigned a completely randomized design in a 2 x 2 factorial arrangement (two breeds and two diets). The experimental diets used were: D1= diet with lower energetic level, with 2.2 Mcal ME/kg dry matter (DM) and roughage:concentrate ratio of 70:30; D2= diet with higher energetic level, with 2.7 Mcal ME/kg DM and roughage:concentrate ratio of 35:65. During the metabolism trial (15 days), the animals were housed individually in metabolism pen to determine the intake and apparent digestibility of the nutrients. The goats were weighed weekly, during the period of 90 days. The diet with 2.7 Mcal ME/kg DM caused higher intake and better digestibility of the nutrients. The Moxoto and Caninde goats fed with complete rations have higher preference to feed size particles ranging from 1.0 to less 0.5 mm. The diet with higher energetic level caused better intake and performance of animals under feedlot. However, the Caninde breed reared under the same management conditions that Moxoto breed, showed higher weight gain. Key words – Indigenous goats, maniçoba hay, nutritive value, semi-arid 25 Introdução A determinação do consumo dos animais é uma ferramenta importante, uma vez que possibilita estabelecer o aporte de nutrientes necessários para atender aos requisitos de manutenção da saúde e da produção animal. O uso eficiente de rações só é possível quando se tem por base o conhecimento do consumo de matéria seca, seja ele real ou estimado, de cada categoria animal, para evitar subalimentação, através da restrição de alguns nutrientes, bem como superalimentação, que irá influenciar nos custos de produção. O estudo dos alimentos na nutrição animal é imprescindível dentro de um sistema de produção. Para a obtenção do potencial máximo dos animais, é importante conhecer o valor nutritivo dos alimentos, que pode ser definido como a capacidade de fornecer os nutrientes necessários aos animais, para satisfazer suas exigências, a fim de permitir que realizem as atividades fisiológicas do organismo. Este conhecimento possibilita uma melhor utilização das forragens e o correto balanceamento das rações, sendo a composição química um ponto básico na predição do valor nutritivo de um alimento. O consumo é parte da equação utilizada pelos nutricionistas para determinação deste valor nutritivo, de acordo com Van Soest (1994), baseia-se em três componentes principais: consumo, digestibilidade e eficiência de utilização da energia. Para tanto, o consumo à vontade normalmente deve ser medido utilizando-se animais estabulados concomitantemente com ensaios de digestibilidade, para que haja uma avaliação mais completa quanto à utilização dos nutrientes. Pelo fato de a digestibilidade ser uma característica do alimento e não do animal, assume-se que ela seja pouco alterada, mesmo se tratando de animais de diferentes 26 categorias, sexo, idade ou espécie. O consumo, no entanto, é influenciado por diversos aspectos, que compreendem desde aqueles de ordem climática, como temperatura e umidade, como das características físicas e químicas do alimento, e fatores fisiológicos referentes ao próprio animal, que pode ser diferente mesmo dentro de grupos homogêneos, de mesmo sexo ou raça. Portanto, o consumo é determinante do desempenho produtivo do animal e pode ser considerado o principal componente do valor nutritivo de uma dieta. Outro aspecto a ser considerado na avaliação de uma dieta, é a característica seletiva dos ruminantes, que se apresenta mais intensivamente nos caprinos. Oferta excessiva de forragem estimula o consumo, devido à seleção das frações mais nutritivas do alimento (Johnson & Van Eys, 1987), o que resulta em uma ração consumida diferente daquela ofertada (Silva et al., 1999). Algumas medidas podem ser utilizadas para evitar este efeito da seleção, como, por exemplo, fornecimento da ração na forma completa, características morfológicas do volumoso utilizado e redução do tamanho das partículas com trituração dos ingredientes, sendo esta, no caso de animais confinados, o fator de maior relevância. A eficiência de ingestão e de digestão entre caprinos e ovinos alimentados com feno em três diferentes tamanhos de partícula, e observaram que os caprinos apresentaram uma maior eficiência mastigatória, tanto nos processos de ingestão como de ruminação, desenvolvendo mecanismos de respostas diferentes para cada comprimento de partícula, não alterando sua ingestão, digestibilidade ou tempo de retenção ruminal das mesmas (Hadjigeorgiou et al., 2003). Caprinos Moxotó e Canindé possuem hábitos seletivos bem próximos em relação ao tamanho da partícula, enfatizando que o nível de alimentação influencia o consumo e a capacidade seletiva destes animais (Ribeiro et al., 2006a). Existem na literatura variados trabalhos 27 referenciando as características seletivas, de consumo, de digestibilidade dos nutrientes, entre outros aspectos inerentes ao comportamento alimentar e de desempenho de caprinos. Entretanto, há uma necessidade cada vez maior de se estudar os caprinos nativos da Região Nordeste brasileira, uma vez que existe uma grande escassez trabalhos referentes às estas raças, que são comprovadamente importantes para as esferas culturais e econômicas desta região. Portanto, este trabalho teve como objetivo avaliar o consumo, a seletividade e a digestibilidade dos nutrientes por caprinos Moxotó e Canindé em confinamento, sob o efeito de dois níveis de energia metabolizável na dieta. 28 Material e Métodos Este experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisa em Pequenos Ruminantes, do Centro de Ciências Agrárias da UFPB, localizada no município de São João do Cariri, PB, com duração de 90 dias, ocorridos entre os meses de agosto a outubro de 2007. A cidade de São João do Cariri está localizada na microrregião do Cariri Oriental da Paraíba, entre as coordenadas 7º 23’ 27” de Latitude Sul e 36º 31’ 58” de Longitude Oeste. O clima do local classifica-se como Bsh (semi-árido quente) segundo classificação de Köppen. Durante o período experimental foram registradas temperaturas médias diárias de 28,1 ºC, temperaturas máximas de 28,5º C e mínimas de 21,2º C, com umidade relativa média de 57,4% e precipitação acumulada de 33,81 mm concentrados nos meses de agosto e setembro (Dados fornecidos pela Estação Meteorológica da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, instalada no local de realização do experimento). Foram utilizados 40 caprinos com idade média de 4 meses, 20 da raça Moxotó e 20 Canindé, com peso vivo médio inicial de 15,29 ± 1,76 kg e 15,31 ± 1,94 kg, respectivamente. Estes animais foram everminados, distribuídos aleatoriamente de acordo com raça e o nível de energia da dieta e alojados em 4 galpões abertos dispostos no sentido leste-oeste, cobertos com telhas de cerâmica, piso em chão batido, compostos por 10 baias individuais cada galpão, medindo uma área de 3,75 m2 por baia, providas de comedouro e bebedouro. A maniçoba utilizada para a confecção do feno foi colhida em áreas de ocorrência natural da Caatinga. As plantas encontravam-se em estágio vegetativo de floração e frutificação, entre os meses de maio e junho de 2007. Foi colhido material composto de 29 folhas e galhos com diâmetro entre 1 e 2 cm, o qual foi triturado em máquina forrageira e espalhado em lonas plásticas, sendo revirado freqüentemente, para que ocorresse desidratação até o ponto de feno. Após fenação, todo o material foi moído em uma máquina tipo “DPM” (desintegrador, picador e moedor), utilizando-se peneira de 10 mm, para em seguida ser misturado aos outros ingredientes da ração experimental, na forma de ração completa. A ração fornecida aos animais foi composta por feno de maniçoba e concentrado à base de farelo de milho, farelo de soja, melaço de cana-de-açúcar e suplemento mineral. A composição química dos ingredientes é apresentada na Tabela 1 e a participação dos ingredientes e a composição química da dieta experimental encontram-se na Tabela 2. Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental com base na matéria seca Farelo Feno de Farelo Melaço Nutrientes 1 maniçoba de Milho de soja Matéria seca (MS) 3 85,81 86,13 90,40 86,82 4 Proteína bruta (PB) 10,39 44,22 2,96 7,56 Energia metabolizável (Mcal/kg MS) 3,30 3,18 3,10 1,83 Extrato etéreo (EE) 4 11,61 1,57 0,91 3,30 Carboidratos totais (CHOT) 4 74,11 47,46 70,59 80,81 4 Carboidratos não fibrosos (CNF) 37,00 30,90 70,59 15,56 Fibra em detergente neutro cp2 (FDN) 4 37,11 16,55 0,0 65,25 Fibra em detergente ácido (FDA) 10,44 10,48 0,0 54,77 1 Sub-produto da fabricação de flocos de milho Corrigida para cinzas e proteína 3 % da matéria natural 4 % da matéria seca 2 A dieta foi formulada com base no NRC (1981) de forma a proporcionar ganho diário de 120 gramas com a dieta de baixa energia (2,2 Mcal de EM/kg de MS) e 165 gramas com a dieta de alta energia (2,7 Mcal de EM/kg de MS), para animais de 15 kg de peso vivo. 30 Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta experimental com base na matéria seca Ingredientes (%) Farelo de milho Farelo de soja Melaço 1 Suplemento mineral2 Calcário Feno de maniçoba Dieta 1 21 6 1 Dieta 2 57 5 1 1 1 70 1 1 35 Composição Química (%) Matéria seca Proteína bruta Energia metabolizável (Mcal)3 86,81 10,15 2,24 86,45 10,81 2,70 Extrato etéreo Fibra em detergente neutro cp4 4,85 7,86 54,46 41,16 75,68 21,22 44,82 25,64 73,61 28,79 Fibra em detergente ácido Carboidratos totais Carboidratos não fibrosos 1 Sub-produto da fabricação de flocos de milho Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00 U.I.; vitamina E 450,00 U.I.; cálcio 240 g; fósforo 71 g; potássio 28,2 g; enxofre 20 g; magnésio 20 g; cobre 400 mg; cobalto 30 mg; cromo 10 mg; ferro 2500 mg; iodo 40 mg; manganês 1350 mg; selênio 15 mg; zinco 1700 mg; flúor máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo(P)emÁcido Cítrico a 2% (min.). 3 Estimada a partir dos nutrientes digestíveis totais ( NDT) 4 Corrigida para cinzas e proteína 2 O arraçoamento dos animais foi realizado à vontade, duas vezes ao dia, às 8h00 e às 16h00. A relação volumoso:concentrado utilizada foi de 35:65 na dieta com maior nível de energia na dieta e 70:30 na dieta com menor nível energético. A quantidade de ração fornecida diariamente foi ajustada de acordo com o consumo do dia anterior de modo que houvesse sobras em torno de 20% do total fornecido. A água foi fornecida à vontade, sendo o consumo quantificado diariamente durante o período de coleta. Foi verificada também a taxa diária de evaporação, através da distribuição de baldes em diferentes pontos do galpão, para que no dia seguinte fosse 31 verificada a quantidade de água perdida por evaporação e, com isto, descontar estas perdas do consumo dos animais. O ensaio de digestibilidade foi realizado no final do experimento, em que foram utilizados 20 animais, com idade média de 6 meses, 10 da raça Moxotó e 10 da raça Canindé, com peso vivo médio inicial de 18,26 ± 2,74 kg e 20,33 ± 3,64 kg, respectivamente. Este teve duração de 15 dias, sendo 12 para adaptação dos animais às gaiolas e 3 para coleta de material. Todos os animais foram pesados antes e após o término do ensaio de digestibilidade, no período da manhã antes do arraçoamento. Os animais foram distribuídos aleatoriamente em gaiolas para ensaio de metabolismo, providas de dispositivo para coletas separadas de fezes e urina, comedouro e bebedouro. As gaiolas foram colocadas dentro da baia de cada animal avaliado e distribuídas nos 4 galpões, de modo que fossem atendidos animais que compunham todos os tratamentos.. As amostras das rações completas, dos ingredientes que compunham as rações experimentais e das sobras deixadas pelos animais, foram colhidas e acondicionadas em sacos plásticos e armazenadas em freezer para posteriores análises físicas e químicas. A coleta total de fezes também foi procedida nesta mesma ocasião, feita uma amostra composta dos três dias de coleta e armazenadas da mesma forma que as sobras. A determinação granulométrica da dieta ofertada e das sobras deixadas pelos animais, foi realizada no Laboratório de Física do Solo do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba (CCA/UFPB). As amostras foram colocadas em estufa a 55ºC para a retirada da umidade do material, posteriormente foi pesada em média 100 g do material, posto em um conjunto de peneiras com diâmetros 2,00; 1,00 e 0,50 milímetros, sobrepostas uma sobre a outra, de forma decrescente, e acopladas ao fundo (0,000mm), onde se alojavam as partículas em forma de pó. O material permaneceu no aparelho vibratório por 10 minutos, após este tempo, o material retido 32 nas peneiras foi colocado em bandejas de pesos conhecidos, sendo pesados individualmente o material retido em cada peneira. As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do CCA/UFPB. Os ingredientes, sobras e fezes foram analisados para quantificação dos teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) segundo a AOAC (2005). Para determinação da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), utilizou-se a metodologia determinada pelo fabricante do aparelho ANKON, da Ankon Tecnology Corporation, com modificações relacionadas aos sacos, uma vez que foram utilizados sacos de TNT (tecido não tecido) gramatura 100 mm, confeccionados no Laboratório de Nutrição Animal. Para a determinação de lignina, foi utilizada a metodologia proposta por Van Soest (1967), com a utilização de ácido sulfúrico a 72%. As amostras de FDN e FDA foram corrigidas para cinzas e proteína segundo Van Soest (1967). Para a estimativa dos carboidratos totais (CHOT), utilizou-se a seguinte equação propostas por Sniffen et al. (1992), CHOT (%) = 100 – (%PB + %EE + %Cinzas). Os carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados de acordo com Weiss (1999) como: CNF (%) = 100 – (%FDNcp + %PB + %EE + %Cinzas). Os nutrientes digestíveis totais (NDT) foram calculados segundo Sniffen et al. (1992), em que utilizaram a seguinte equação: NDT = PBD + 2,25 EED + CHOTD Em que: PBD = proteína bruta digestível; CNFD = carboidratos não fibrosos digestível; e CHOTD = carboidratos totais digestíveis. O consumo de nutrientes foi calculado pela média das diferenças entre a quantidade total do nutriente contida na dieta oferecida e a quantidade deste contida nas sobras dos respectivos dias de coleta. Para a determinação da dieta efetivamente 33 consumida pelos animais, utilizou-se o seguinte cálculo: Matéria seca efetivamente consumida = (CMS (kg)/CMN (kg))*100; consumo efetivo de cada nutriente = consumo do nutriente (kg)/CMS (kg). Onde CMN corresponde ao consumo de material natural. Para o consumo de NDT (CNDT), utilizou-se a equação de Sniffen et al. (1992), obtido através do ensaio de digestibilidade in vivo, onde: CNDT = (PB ingerida – PB fecal) + 2,25 * (EE ingerido – EE fecal) + (CHOT ingerido – CHOT fecal) Para o cálculo da energia digestível, considerou-se que 1 kg de NDT equivale a 4,409 Mcal de ED e, para a transformação em energia metabolizável, multiplicou-se o valor de ED por 76%, que corresponde a eficiência de utilização da ED, conforme Resende (1989). Para a determinação dos coeficientes de digestibilidade da MS, MO, PB, EE, FDN, CHOT e CNF, foi efetuada coleta total das fezes, registrando-se a quantidade excretada por cada animal durante três dias. Posteriormente, o material coletado (de cada dia) foi homogeneizado, retirando-se uma alíquota de 30% para confecção de uma amostra composta por animal (de todos os dias de coleta), que em seguida foram colocadas em sacos plásticos devidamente identificados e armazenados a -15ºC, até o processamento das análises laboratoriais. Para o cálculo do coeficiente de digestibilidade (CD), foi utilizada a seguinte equação: CD (%) = (nutriente consumido – nutriente excretado nas fezes) * 100 nutriente consumido O controle de peso dos animais foi realizado semanalmente antes do arraçoamento matinal, durante todo o período experimental a pesagem foi feita utilizando-se balança digital para que se obtivesse maior precisão nas pesagens. 34 O delineamento experimental utilizado foi o Inteiramente Casualizado com arranjo fatorial 2 x 2, (duas raças e dois níveis de energia na dieta), com 10 repetições por tratamento, totalizando 40 parcelas para avaliação do consumo e desempenho e, 5 repetições por tratamento, com 20 parcelas para o ensaio de digestibilidade. Os dados foram avaliados por meio de análise de variância e as médias comparadas pelo Teste de F, a 5% de probabilidade, seguindo o modelo matemático: Yijk = µ + ri + nj + rnij + eijk Em que:Yijk = valor observado; µ = média geral; ri = efeito da raça i; nj = efeito do nível de energia j; rnij = efeito da interação entre a raça e o níveis de energia; eijk = erro aleatório associado a cada observação. 35 Resultados e Discussão Os resultados referentes à composição das dietas efetivamente consumidas pelos animais, expressos como percentagem da MS, encontram-se na Tabela 3. Não houve efeito (P>0,05) de raça e nem interação entre raça e dieta sobre a composição da dieta consumida, exceto para o percentual de CHOT, que foi mais alto nas dietas selecionadas pelos animais Moxotó (78,50 x 77,25), independentemente do nível energético. Houve efeito (P<0,01) para o percentual de MS efetivamente consumido, as médias observadas para as dietas de baixa e alta energia foram, respectivamente, 86,99 e 86,15%, estando estes percentuais 1,51 e 1,71% acima daqueles verificados na dieta ofertada, que foram de 85,70 e 84,70%, para menor e maior nível energético, nesta ordem. Estes resultados demonstram que houve pouca diferença em relação à dieta ofertada, esta sensível diferença deve-se ao baixo CV encontrado para esta variável. Tabela 3. Composição das dietas experimentais efetivamente consumidas pelos caprinos Moxotó e Canindé Moxotó Canindé P>F CV Variável 2,2 2,7 2,2 2,7 (%) Raça Dieta R x D Mcal Mcal Mcal Mcal MS % 86,8 86,4 86,8 86,4 0,002 ** ** ** PB (% MS) 12,0 12,0 12,0 12,0 6,34 ns ns ns EE (% MS) 6,0 10,0 7,0 10,0 9,72 ns ** ns FDN (% MS) 62,0 54,0 60,0 53,0 5,22 ns ** ns CHOT (% MS) 85,0 84,0 84,0 85,0 2,17 ns ns ns CNF (% MS) 24,0 30,0 24,0 31,0 7,34 ns ** ns ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05 O valor nutritivo da dieta ingerida pelos animais, via de regra, apresenta-se diferente daquele que foi ofertado. De acordo com Van Soest (1994), a seleção é um fator determinante do consumo, destacando que as porções mais palatáveis são 36 consumidas primeiro. Esta seleção reflete em diferenças na composição bromatológica das sobras. Outro fator preponderante na determinação da seleção é o próprio animal, uma vez que a habilidade seletiva varia com a espécie e com o desejo, que é regulado pela fome e pela disponibilidade de alimentos. Não houve diferença (P>0,05) para o percentual de PB efetivamente consumido entre os animais em ambas as dietas, nota-se que o consumo foi maior (12%) quando comparado a dieta ofertada que foi de 10,5% em média. Isto pode ter ocorrido devido a maior seleção feita para que fossem atendidos seus requerimentos protéicos. Para o EE houve também aumento no consumo para ambas as dietas. No entanto, os animais submetidos à dieta com maior nível energético (2,7 Mcal/kg MS) atingiram um nível de ingestão de lipídeos maior do que o considerado limite para ruminantes que é de 7% da MS total, o que denota uma capacidade de ingestão superior ao preconizado, mostrando que estes animais possuem mecanismos digestivos distintos quando comparado a raças amplamente estudadas. Para a porcentagem de FDN, nota-se que os animais também atingiram consumos maiores que o ofertado na ração, mesmo para a dieta com 2,2 Mcal de EM, que continha uma maior relação volumoso:concentrado e 54,46% de FDN. Para CHOT e CNE o comportamento foi semelhante, o que indica uma elevada capacidade de ingestão de fibra por estes animais alimentados com dietas diferentes. Na tabela 4 pode-se visualizar a seletividade feita pelos animais em função do tamanho de partícula mais consumido, que foi determinado através da análise granulométrica das dietas e das sobras. Não houve influência (p>0,05) da raça sobre as variáveis analisadas e nem da interação entre raça e dieta. No entanto, a dieta influenciou a seletividade dos animais, exceto para os tamanhos de partícula entre 1,0 – 0,50 mm. 37 Tabela 4. Porcentagem do tamanho da partícula retida nas peneiras para as sobras e dietas ofertadas e coeficientes de variação (CV), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta Tamanho de partícula (mm) Moxotó Canindé CV (%) P>F 2,2 Mcal 2,7 Mcal 2,2 Mcal 2,7 Mcal ≥ 2,00 11,53 6,68 16,41 6,58 63,48 ns * ns 2,00 - 1,00 32,68 26,11 38,16 27,54 28,00 ns * ns 1,00 – 0,50 25,52 27,49 23,50 26,39 18,11 ns ns ns < 0,50 30,27 39,71 21,93 39,50 32,70 ns * ns Raça Dieta Rx D Dieta com 2,2 Mcal de EM Dieta com 2,7 Mcal de EM ≥ 2,00 16,61 4,66 2,00 - 1,00 27,68 25,09 1,00 – 0,50 31,79 27,44 < 0,50 23,92 42,81 ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. A diferença na seletividade constatada em função das dietas é previsível, uma vez que apresentavam proporções granulométricas diferentes, em razão da diferente relação volumoso:concentrado constatada entre ambas. Analisando-se as porcentagens deixadas para cada tamanho de partícula que compunha as sobras, nota-se que para a dieta com 2,2 Mcal de EM, houve um consumo médio de 15,89 % a mais do que foi oferecido, para o tamanho de partícula maior que 2,00 mm. O contrário ocorreu para os animais que consumiram a dieta com 2,7 Mcal de EM, em que os mesmos deixaram 42,27% retidos na peneira maior que 2,00 mm, com relação a dieta oferecida. Para as quantidades retidas na peneira de crivo entre 2,00 – 1,00 mm, houve uma maior rejeição por este tamanho de partícula pelos animais que consumiam a dieta de menor nível energético, deixando cerca de 27,96% a mais do que lhes foi ofertado. Para a dieta de maior nível energético, a rejeição foi menos expressiva, com média 6,91% a mais que lhes foi ofertado. 38 A preferência mais relevante para os animais que consumiam a dieta de menor aporte energético foi para os tamanhos de partículas que variam de 1,00 – 0,50 mm, representada pela menor quantidade retida nesta peneira, com seleção média de 22,90% a mais do que dispunha a dieta oferecida. Já para os animais que consumiam a dieta de maior nível energético, a maior preferência foi para o tamanho menor que 0,50 mm, com seleção média maior que 7,49%, em relação à dieta fornecida. Estes resultados demonstram que, de maneira geral, os caprinos Moxotó e Canindé apresentam hábitos seletivos semelhantes, quando avaliados em sistema confinado, com fornecimento de ração completa. E que, a maior preferência destes encontra-se nas partículas do alimento que variam de 1,00 a menos de 0,50 mm. Podese inferir que este fato favorece uma maior área de exposição do alimento ingerido, ao ataque enzimático microbiano ruminal, consequentemente, melhorando a digestão dos nutrientes. Ribeiro et al. (2006a), também não encontraram diferença significativa para a seletividade entre as raças Moxotó e Canindé. No entanto, seus resultados divergem dos encontrados nesta pesquisa com relação ao tamanho preferencial da partícula por estes animais. Estes autores revelam que as raças Moxotó e Canindé deram maior preferência ao tamanho de partículas maiores 1,7 mm, com médias de 9,17 % e 17,60 % para as raças Canindé e Moxotó, respectivamente. Constataram ainda que, a maior percentagem de rejeição entre as raças, foi para as partículas cujo tamanho foi inferior a 0,6 mm, registrando médias de 29,64 %, para ambas as raças. Na Tabela 5 estão apresentados os valores médios para os consumos de matéria seca (CMS), matéria orgânica (CMO), proteína bruta (CPB), extrato etéreo (CEE), nutrientes digestíveis totais (CNDT) e energia metabolizável (CEM) em quilograma por dia (kg/dia), porcentagem do peso vivo (%PV) e gramas por unidade de tamanho 39 metabólico (g/UTM) por caprinos Moxotó e Canindé, recebendo dietas com dois níveis de energia. Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) dos consumos de matéria seca (CMS), matéria orgânica (CMO), proteína bruta (CPB), extrato etéreo (CEE), nutrientes digestíveis totais (CNDT) e energia metabolizável (CEM), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta Moxotó Canindé P>F CV Variável 2,2 2,7 2,2 2,7 (%) Raça Dieta R x D Mcal Mcal Mcal Mcal CMS (kg/dia) 0,55 0,61 0,65 0,73 18,25 ** ns ns CMS (% PV) 3,44 3,43 3,84 3,78 12,61 * ns ns CMS (g/UTM) 68,84 70,45 77,94 79,22 13,39 ** ns ns CMO (kg/dia) 0,45 0,52 0,54 0,63 20,11 ** * ns CPB (kg/dia) 0,07 0,08 0,08 0,09 20,41 ** * ns CPB (% PV) 0,41 0,43 0,47 0,47 15,79 * ns ns CPB (g/UTM) 8,17 8,78 9,44 9,91 16,51 * ns ns CEE (kg/dia) 0,04 0,06 0,04 0,07 18,03 ** ** ns CEE (% PV) 0,22 0,35 0,26 0,38 16,15 ** ** ns CNDT (kg/dia) 0,34 0,45 0,40 0,54 18,12 ** ** ns CNDT (% PV) 2,08 2,54 2,33 2,79 12,64 * ** ns CNDT (g/UTM) 41,66 52,11 47,19 58,59 13,46 CEM (Mcal/dia) 1,24 1,65 1,47 1,98 18,24 ** ** ** ** ns ns CEM (% PV) 7,70 9,27 8,60 10,20 12,64 * ** ns 154,15 190,22 174,59 213,91 13,45 ** ** ns CEM (g/UTM) ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. Os resultados referentes ao consumo de matéria seca (kg, %PV e g/UTM), apontam efeito significativo apenas para raça, independente da dieta consumida. Notase que os animais da raça Canindé consumiram, em média, 0,69kg de MS, quantidade superior a ingerida pela Moxotó 0,58kg. Para o consumo expresso em % do PV, estes animais consumiram 3,81% e 3,44%, mesma tendência apresentada para o consumo em 40 g/UTM que foi de 78,58g e 69,64g para as raça Canindé e Moxotó, respectivamente. Estas diferenças no consumo de MS refletem o maior peso corporal apresentado pela Canindé em relação a Moxotó. Segundo Chizzotti et al. (2005), é essencialmente importante determinar o nível de ingestão pelo animal, estabelecendo a quantidade de nutrientes disponibilizados para mantença e produção destes. Destacam ainda que os alimentos volumosos por terem características de baixa taxa de degradação ruminal, lentas taxas de passagem e de desaparecimento, que levam a um maior enchimento ruminal, tendem a reduzir o consumo de matéria seca. No entanto, nesta pesquisa, mesmo sendo alimentados com dietas compostas por diferente relação volumoso:concentrado, não foi verificado efeito significativo no consumo, o que leva-nos a inferir que estes animais possuem elevada capacidade digestiva para dietas com maiores quantidades de alimentos volumosos. Deve-se destacar ainda que, estes animais apresentaram maior preferência por partículas de tamanhos entre 1,0 e 0,50 mm, o que pode ter facilitado a taxa de escape ruminal (aumentado taxa de passagem), permitindo um maior consumo de MS. Ribeiro et al. (2006b), trabalhando com estas mesmas raças, com idade e peso semelhantes, constataram consumos de 0,70kg de MS/dia e que correspondeu a 3,56% do PV para os animais que recebiam dieta à vontade, mostrando-se próximos ao resultados desta pesquisa. As médias de consumo observadas neste trabalho foram maiores que o preconizado pelo NRC (1981) para animais com PV médio de 15 kg e ganho de 100 g/dia, que foi de 0,48kg de MS. Já o NRC (2007), preconiza que animais nativos em crescimento, com 15kg de PV ganhando 100g/dia, necessitam ingerir 0,54kg de MS e 3,59% do PV, para àqueles que com 20kg de PV e o mesmo ganho, a ingestão 41 diária deve ser de 0,62kg e 3,10% do PV, que encontram-se próximos aos nossos resultados. Os consumos de MO e PB em kg/dia diferiram quanto à raça e dieta oferecida, mas não houve efeito da interação entre eles. Como relatado para a MS, a raça Canindé apresentou as maiores médias de consumo, em que a dieta com maior oferta de energia metabolizável foi a mais consumida para ambas as raças. As médias de CPB para as raças foram de 7,5g para a Moxotó e 8,5g para a Canindé, quando comparamos as dietas, verifica-se um consumo de 7,5g para a dietas de menor aporte energético e 8,5g para a de maior aporte energético. As dietas foram formuladas com quantidades semelhantes de PB, no entanto, os animais que consumiram a dieta mais energética, selecionaram maior quantidade de PB em função da menor relação volumoso:concentrado, que possibilitou uma maior ingestão de alimentos mais protéicos. As quantidades de PB ingeridas por estes animais atendem as exigências preconizadas pelos NRCs (1981 e 2007), que recomendam uma ingestão de 66g e 86g diária de PB, respectivamente, para animais em crescimento, com 20kg de PV e ganho de 100g/dia. Quanto ao consumo de PB em % do PV e g/UTM, houve efeito da raça (P<0,05), reforçando mais uma vez o resultado obtido para o CMS, em que a raça Canindé apresentou as maiores médias. Os consumos de EE e NDT (kg/dia, %PV e g/UTM), bem como de EM (Mcal/dia, %PV e g/UTM), foram influenciados significativamente pela raça e pela dieta consumida. Para todos estes parâmetros, verificou-se que a raça Canindé apresentou as maiores médias de consumo, enquanto que a dieta de maior oferta energética foi a consumida em maior quantidade para ambas as raças. Estes resultados reforçam a afirmativa feita por Chizzotti et al. (2005), em que o consumo de alimentos 42 volumosos, por terem características de baixa taxa de degradação ruminal, lentas taxas de passagem e de desaparecimento, levam a um maior enchimento ruminal e, redução do consumo de matéria seca. Os resultados referentes aos consumos de fibra em detergente neutro (CFDN), carboidratos totais (CCHOT) e carboidratos não fibrosos (CCNF), expressos em kg/dia, % do PV e g/UTM, bem como o consumo de água (L/dia) e eficiência no consumo de água (L/kg de MS), em função das raças e do nível energético da dieta, encontram-se apresentados na Tabela 6. Tabela 6. Médias e coeficientes de variação (CV) dos consumos de fibra em detergente neutro (CFDN), carboidratos totais (CCHOT) e carboidratos não fibrosos (CCNF), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta Moxotó Canindé P>F CV Variável 2,2 2,7 2,2 2,7 (%) Raça Dieta R x D Mcal Mcal Mcal Mcal CFDN (kg/dia) 0,34 0,33 0,39 0,39 17,00 ** ns ns CFDN (% PV) 2,11 1,83 2,31 2,00 11,68 * ** ns CFDN (g/UTM) 42,28 37,63 46,82 41,88 12,35 * ** ns CCHOT (kg/dia) 0,47 0,51 0,55 0,62 18,02 ** ns ns CCHOT (% PV) 2,93 2,88 3,23 3,19 12,70 * ns ns CCHOT (g/UTM) 58,64 59,16 65,55 66,97 13,45 ** ns ns CCNF (kg/dia) 0,13 0,19 0,16 0,23 22,49 ** ** ns CCNF (% PV) 0,82 1,05 0,92 1,20 17,71 * ** ns CCNF (g/UTM) 16,36 21,53 18,73 25,08 20,45 * ** ns ÁGUA (L) 1,57 1,55 1,48 1,55 25,84 ns ns ns 2,90 2,57 2,24 2,12 28,67 * ns ns ÁGUA MS) (L/kg de ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. 43 Houve efeito (P<0,01) do CFDN (kg/dia) para raças, evidenciando o maior consumo pela Canindé, da mesma forma como ocorreu para os consumos apresentados na Tabela anterior. Para o CFDN (% do PV e g/UTM), verificou-se efeito da raça (P<0,05) e da dieta (P<0,01), com médias de 1,97% do PV para a Moxotó e 2,15% do PV para a Canindé e, 2,21% e 1,92% do PV para as dietas de menor e maior aporte energético, respectivamente. O que pode ser justificado em função da maior percentagem de FDN contida na dieta de menor aporte energético, o que levou a um maior consumo desta fração, aliado aos efeitos de distensão ruminal provocados por esta dieta. Além disso, de acordo com Araújo et al. (2004), a ingestão é, também, controlada pela habilidade do animal na redução do tamanho das partículas, que facilitam a digestão e, assim, ocorre uma correlação entre o consumo de matéria seca e FDN, pela relação que esta fração fibrosa possui com a ruminação. Além disso, com o processo de seleção natural pelo qual passou esta espécie ao longo de cinco séculos desde sua chegada ao Brasil, pode-se inferir que estes animais desenvolveram mecanismos adaptativos que lhes confere uma elevada capacidade de seleção alimentar, aliada a boa eficiência digestiva. Allen (1996), compilando dados de vários autores em seu trabalho, destaca que a fermentação e taxa de passagem da FDN são mais lentas que de outros constituintes dietéticos, e tem um maior efeito sobre o tempo de enchimento que os demais componentes não fibrosos, sendo por isso, indicado como prognóstico químico para o CMS. Allen (1996) enfatiza que diversos autores como (Balch e Champling, 1962; Van Soest, 1965; e Waldo, 1986), sugerem que a relação da FDN com o CMS para ruminantes são inversamente proporcionais, ou seja, há diminuição do CMS com o 44 aumento da porcentagem de FDN na dieta, que estes resultados estão coerentes com a teoria que essa massa fibrosa no rúmen-retículo, atua como inibidor do CMS. Os resultados desta pesquisa demonstram que o CMS não foi diferente entre as dietas oferecidas, em todas as formas em que foi expresso (kg/dia, % do PV ou g/UTM), apesar das médias serem menores para as dietas com menor nível energético. Do mesmo modo, a ingestão de FDN em kg/dia, que foi igual para as duas dietas avaliadas. Contudo, a raça Canindé consumiu mais MS e mais FDN que a Moxotó, independente da dieta ofertada, em função do maior peso corporal. É possível que este fato esteja relacionado às particularidades dos animais nativos que, pela escassez de pesquisas com os mesmos, ainda não se pode afirmar como ocorre o comportamento da interação CMS/FDN, sugerindo estudos mais aprofundados a este respeito. Para o CCHOT (kg/dia, % do PV e g/UTM), ocorreu efeito apenas para as raças, as médias obtidas foram de 0,49 e 0,58 kg/dia; 2,91% e 3,21% do PV; e 58,90g e 66,26g/UTM para as raças Moxotó e Canindé, respectivamente. As médias registradas para estas variáveis seguem a mesmas tendências dos demais consumos, em que a raça Canindé apresentou as maiores médias. O consumo de CNF (kg/dia, % do PV e g/UTM), apresentou diferença significativa para raça e para a dieta, as médias registradas foram de 0,16 e 0,19kg/dia; 0,93 e 1,06% do PV; 18,95 e 21,91g/UTM para as raças Moxotó e Canindé, respectivamente. Para as dietas os valores foram de 0,14 e 0,21kg/dia; 0,87 e 1,12% do PV; e 17,55 e 23,31g/UTM para o menor e maior nível de energia, nesta ordem. As médias de consumo de água (L) não apresentaram diferença (P>0,05) para raça ou dieta, já para a eficiência do consumo de água (L água/kg de MS), verificou-se efeito da raça, onde a Moxotó apresentou as maiores médias 2,74 L/kg de MS, enquanto 45 a Canindé consumiu 2,18L/kg de MS. Estes resultados refletem o maior consumo de MS demonstrado pela Canindé e mesmo consumo de água que a Moxotó, o que levou esta última a ser menos eficiente no consumo de água. Sheridan et al. (2000) avaliando o efeito de dois níveis de energia na dieta de caprinos Bôer na África do Sul, verificaram que o consumo de água dos mesmos foi de 2,44 e 1,97 L, bem como a eficiência do consumo de água (L/kg de MS), que foi de 1,82 e 1,71, para as dietas de baixa e alta energia, respectivamente. Comparativamente com os animais utilizados neste estudo, que consumiram em média 1,54 L de água/dia e 2,57 e 2,35 L de água/kg de MS para as dietas de menor e maior nível de energia. Entretanto, no caso desta pesquisa, percebe-se que ingestão de água não apresentou influência da dieta consumida. Estes resultados do consumo de água divergem dos relatos feitos por Herdt (1993), em que dietas com maior proporção de volumosos estimulam maiores taxas de ruminação e salivação, havendo com isto, maior diluição do conteúdo ruminal, sendo exigidas menores quantidades de água ingerida. Ao contrário, dietas baseadas em maior proporção de concentrado, por não promoverem ruminação extensa, requerem maior ingestãode água. De modo geral, os consumos expressos em kg/dia foram superiores aos preconizados pelo NRC (1981) para caprinos desta categoria. Este fato pode ser justificado pelo que relatam Misra & Khub (2002), que caprinos bem adaptados a zonas semi-áridas não reduzem o consumo de alimentos, podendo isto ser devido ao menor impacto causado pelo estresse climático nestes animais, uma vez que estes efeitos não limitam sua produção. As médias referentes aos coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca (CDAMS), matéria orgânica (CDAMO), proteína bruta (CDAPB), extrato etéreo 46 (CDAEE), fibra em detergente neutro (CDAFDN), carboidratos totais (CDACHOT) e carboidratos não fibrosos (CDCNF), em função das raças e do nível energético da dieta, encontram-se demonstrados na Tabela 7. Tabela 7. Médias e coeficientes de variação (CV) para o coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca (CDAMS), matéria orgânica (CDAMO), proteína bruta (CDAPB), extrato etéreo (CDAEE), fibra em detergente neutro (CDAFDN), carboidratos totais (CDACHOT) e carboidratos não fibrosos (CDCNF), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta Moxotó Canindé P>F CV Variável 2,2 2,7 (%) Raça Dieta R x D 2,2 Mcal 2,7 Mcal Mcal Mcal CDAMS 55,15 67,66 60,36 70,65 10,25 ns ** ns CDAMO 59,56 69,83 65,05 72,22 9,06 ns ** ns CDAPB 63,30 63,10 66,23 69,89 10,87 ns ns ns CDAEE 59,78 81,20 60,66 85,30 9,35 ns ** ns CDAFDN 46,74 50,60 58,05 55,91 15,95 ns ns ns CDACHOT 60,40 69,90 65,70 71,45 9,31 ns * ns CDACNF 85,75 89,24 84,58 90,13 4,39 ns * ns ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. Não houve efeito da raça nem da interação raça x dieta para nenhum dos coeficientes de digestibilidade aparente (P>0,05) avaliados. No entanto, a dieta demonstrou influência (P<0,01) para CDAMS, CDAMO e CDAEE; e para CDACHOT e CDCNF (P<0,05). Observou-se que com o aumento da energia da dieta, aumentou-se também a digestibilidade dos nutrientes, com exceção dos coeficientes de digestibilidade aparente da proteína bruta (CDAPB) e da FDN (CDAFDN), que não apresentaram diferença (P>0,05) em relação ao nível energético da dieta. Os valores médios obtidos para os coeficientes de digestibilidade aparente da MS foram de 57,75 % e 69,15 %, para as dietas de baixa e alta energia, 47 respectivamente. Isto pode ser conseqüência da menor concentração de carboidratos não estruturais, que são mais digestíveis e estão presentes em maior quantidade na dieta de alta energia. Corroborando estes resultados, Silva et al. (2007), trabalhando com níveis de inclusão de feno de maniçoba em dietas para ovinos em recria, encontraram médias de 57,51 % e 65,16 % para os níveis de 60 % e 40 % de feno na dieta, respectivamente. No entanto, Araújo (2005) em trabalho com cabras leiteiras alimentadas com esta mesma fonte volumosa, encontrou resultados inferiores, com médias que variaram de 59,57 a 50,79 % de DAMS, para os níveis de 30 e 60 % de inclusão de feno na dieta, nesta ordem. Alves et al. (2003), constataram por meio de equações que as concentrações de FDN das dietas são inversamente correlacionados com os níveis de energia e com a digestibilidade aparente da MS. Podendo-se inferir que o valor energético das rações pode ser estimado, com segurança, a partir das concentrações de FDN, procedimentos este que é mais simples e menos oneroso. Este fato foi evidenciado nesta pesquisa, pois a CDAMS aumentou à medida que diminuiu o nível de energia da dieta, que está diretamente relacionado ao maior nível de FDN. As médias do coeficiente de digestibilidade aparente da MO foram de 62,30 % e 71,02 %, para as dietas de baixa e alta energia, respectivamente. Da mesma forma, Araújo (2005), mesmo utilizando metodologia diferente para estimativa da digestibilidade, também encontrou resultados inferiores para a DAMO para dietas com menor nível energético, com valor médio de 53,31 % para a dieta com 60 % de feno de maniçoba e 2,45 Mcal de EM, inferior ao resultado encontrada neste estudo. Este autor, evidência que o valor da DAMO está relacionada com o valor energético da dieta (NDT), sendo que este decréscimo na digestibilidade pode ser atribuído ao menor valor 48 energético encontrado nas dietas com maior participação do feno. Estes resultados corroborados com os encontrados nesta pesquisa. Este comportamento foi observado por Silva et al. (2007), verificando que o aumento do nível de maniçoba e, consequentemente redução do nível energético da dieta, promoveu diminuição nos coeficientes de digestibilidade dos nutrientes, com exceção do EE. Comparando-se aos resultados obtidos nesta pesquisa, observa-se que apenas o CDAMS foi semelhante aos relatados por estes autores, os demais coeficientes de digestibilidade foram superiores aos encontrados por estes. França (2006), em trabalho realizado com ovelhas Morada Nova no final da gestação, avaliou os efeitos de níveis crescentes de energia da dieta e, aponta que a DAPB diminuiu de 72,81 para 69,84 % e a DAEE aumentou de 81,59 para 92,26 % nas dietas com 2,29 e 2,51 Mcal de EM, respectivamente. Observa-se que estes resultados são superiores aos encontrados nesta pesquisa, com médias de DAPB de 64,77 % e 66,49 % DAEE de 60,22 e 83,2%5, do menor para o maior nível energético da dieta, nesta ordem. Isto pode ser justificado pela diferença na base volumosa utilizada nas dietas de França (2006), além da inclusão de palma forrageira, que apresenta maior digestibilidade. A DAFDN não sofreu influência do nível energético da dieta (P>0,05), da mesma forma que relatado por Araújo (2005) e França (2006), diferentemente do que foi encontrado por Alves et al. (2003) e Silva et al. (2007), que verificaram redução da DAFDN com o aumento do nível energético da dieta, destacando que níveis elevados de amido nas dietas mais energéticas, promovem depressão da digestibilidade ruminal da fibra. O coeficiente de digestibilidade aparente dos CHOT e CNF aumentaram com o acréscimo da energia na dieta, considerações semelhantes foram feitas por Araújo 49 (2005) e Silva et al. (2007), enfatizando que tal fato pode ser atribuído a maior concentração de carboidratos fibrosos nas dietas de baixa energia, sendo estes menos digestíveis. Corroborando com as conclusões de Alves et al. (2003), que o aumento no valor energético das dietas melhora os CDCHOT e CDCNF. Na Tabela 8, pode-se verificar as médias de peso vivo inicial (PVI), peso vivo final (PVF), ganho de peso total (GPT) e ganho de peso diário (GPD), em função das raças e do nível energético da dieta. Como esperado, não houve efeito significativo do PVI para nenhum dos fatores analisados. Entretanto, as demais variáveis foram influenciadas pela raça (P<0,05) e pelo nível energético da dieta (P<0,01), porém não houve efeito significativo para as interações entre os fatores. Tabela 8. Médias e coeficientes de variação (CV) do peso médio inicial (PMI) e peso médio final (PMF), ganho de peso total (GPT) e ganho de peso médio diário (GPMD), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta Moxotó Canindé P>F CV Variável 2,2 2,7 2,2 2,7 (%) Raça Dieta R x D Mcal Mcal Mcal Mcal PVI (kg) 14,95 15,28 14,98 15,65 12,02 ns ns ns PVF (kg) 18,01 21,91 19,46 23,85 11,49 * ** ns GPT (kg) 3,07 6,63 4,48 8,20 33,90 * ** ns GPD (g/dia) 34,47 74,49 50,29 92,17 33,90 * ** ns ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. De maneira geral os resultados sugerem um melhor desempenho para a raça Canindé, evidenciado para àqueles que consumiram a dieta de maior aporte energético. Os animais iniciaram o experimento pesando em média 15,22 ± 1,78 kg de peso vivo, chegando a 20,06 e 21,65 kg de PV para as raças Moxotó e Canindé, respectivamente. 50 No que se refere às dietas ofertadas, observa-se um PVF de 18,77 e 22,88 kg de PV para os animais submetidos às dietas de baixa e alta energia, nesta ordem. Analisando o ganho em peso total (GPT), observa-se que houve a mesma tendência verificada para o PF, com diferença significativa tanto para as raças como para as dietas. As médias das raças foram de 4,94 kg para a Moxotó e 6,34 kg para a Canindé. Para as dietas foram de 3,81 kg na dieta de menor nível energético contra 7,42 kg para a dieta de maior nível de energia. Estes dados representam um aumento de 28,34 % do GPT para a raça Canindé e de 94,75 % para àqueles que consumiram a dieta de alta energia. O ganho de peso diário (GPD) segue mesmo comportamento das demais variáveis, observando-se médias de 55,54 e 71,23 g/dia para Moxotó e Canindé, respectivamente, e 42,80 e 83,33 g/dia para as dietas de baixa e alta energia, nesta ordem. Representando o mesmo percentual de acréscimo encontrado para o GPT. Como esperado, os resultados demonstram que o aumento da energia da dieta melhorou o ganho em peso, no entanto, os animais não atingiram o GPD preconizado pelo NRC (1981) consumindo dietas com 2,2 e 2,7 Mcal de EM/kg de MS. Os animais não atingiram o ganho em peso proposto com a formulação das dietas, o que pode ser atribuído à sensibilidade apresentada por estes animais ao manejo no confinamento, a qual foi percebida no decorrer do experimento, o que pode ter refletido no desempenho dos mesmos. Araújo et al. (2004) não encontraram efeito significativo para os ganhos em peso de ovinos com peso inicial médio de 16,0kg, em função dos níveis de maniçoba da dieta, em geral, a média correspondeu a um valor aproximado de 44g de ganho diárioValores estes inferiores aos encontrados nesta pesquisa para os menores ganhos, apesar de se tratarem de espécies diferentes. Entretanto, Castro (2004) também 51 trabalhando com ovinos em recria com PMI de 16,02 kg, encontrou efeito dos níveis de maniçoba na dieta, verificando um GPMD de 261,0 g/dia. Segundo Sheridan et al. (2000), caprinos da raça Boer não demonstraram diferença significativa quando alimentados com dietas de baixa (2,14 Mcal de EM/kg de MS) e alta (2,60 Mcal de EM/ kg de MS) energia, com médias de 0,152 e 0,162 kg/dia. Mahgoub et al. (2005) trabalhando com níveis de energia na dieta de caprinos das raças nativas da região Semi-Árida do Sudão, encontraram diferenças significativas no GPMD em função das dietas ofertadas, as médias verificadas foram de 48; 66,5 e 74,5 g/dia, para as dietas com 2,07; 2,38 e 2,68 Mcal de EM/kg de MS. Ganhos estes semelhantes aos encontrados para as o níveis de energia avaliados neste trabalho. 52 Conclusões Caprinos da raça Moxotó e Canindé, alimentados com ração completa, têm maior preferência a tamanhos de partículas que variam de 1,0 a menos de 0,5 mm. A dieta com 2,7 Mcal de EM/kg de MS proporciona maior consumo de nutrientes pelos animais e a que apresenta melhores coeficientes de digestibilidade. Dietas com maior nível energético proporcionam melhor consumo e desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento. Entretanto, a raça Canindé, embora criada sob as mesmas condições de manejo que a Moxotó, demonstra maior ganho em peso. 53 Referências Bibliográficas ALLEN. M.S. Physical Constraints on Voluntary Intake of Forages by Ruminants. Journal of Animal Science, v. 74, p. 3063–3075, 1996. ALVES, K.S.; CARVALHO, F.F.R.; VÉRAS, A.S.C. et al. Níveis de energia em dietas para ovinos Santa Inês: Digestibilidade aparente. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p.1962-1968, 2003 (Supl. 2). ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS - AOAC. Official methods of analysis of the association analytical chemists. 18.ed. Maryland: AOAC, 2005. ARAÚJO, G.G.L.; MOREIRA, J.N.; FERREIRA, M.A. et al. Consumo voluntário e desempenho de ovinos submetidos a dietas contendo diferentes níveis de feno de maniçoba. Revista Ciência Agronômica, v. 35, n.1, p. 123–130, 2004. ARAÚJO, M.J. Feno de Maniçoba (Manihoti glasiovii Muell Arg.) em dietas para cabras da raça Moxotó em lactação. Areia: Universidade Federal da Paraíba, 2005, 84p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2005. CASTRO, J.M.C. Inclusão do feno de Maniçoba (Manihot glaziovii Muell. Arg.) em dietas para ovinos Santa Inês. Areia: Universidade Federal da Paraíba, 2005, 95p. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2004. COZZI, G.; GOTTARDO, F. Feeding behaviour and diet selection of finishing Limousin bulls under intensive rearing system. Applied Animal Behaviour Science, v. 91, p. 181–192, 2005. CHIZZOTTI, M.L.; VALADARES FILHO, S.C.; LEÃO, M.I. et al. Casca de algodão em substituição parcial à silagem de capim-elefante para novilhos. 1. Consumo, Degradabilidade e Digestibilidade Total e Parcial. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 6, p. 2093-2102, 2005. FRANÇA, S.R.L. Níveis de energia metabolizável para ovelhas Morada Nova, no terço final da gestação. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2006. HADJIGEORGIOU, I.E.; GORDON, I.J.; MILNE, J.A. Intake, digestion and selection of roughage with different staple lengths by sheep and goats. Small Ruminant Research, v. 47, p. 117–132, 2003. HERDT. T. Digestão: Processos fermentativos. In: CUNNINGHAM, J.C. (Ed). Tratado de Fisiologia Veterinária. Guanabara Koogan S. A. Rio de Janeiro, 1993. p. 222-241. JOHNSON, W.L., VAN EYS, J.E. Recent concepts in tropical forage utilization by goats. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON GOATS, 4., 1987, Brasília. Proceedings... Brasília: EMBRAPA, 1987, v.2, 1063-1076. 54 MAHGOUB, O.; LU, C.D.; HAMEED, M.S. et al. Performance of Omani goats fed diets containing various metabolizable energy densities. Small Ruminant Research, v. 58, p. 175–180, 2005. MISRA, A.K.; KHUB, S. Effect of water deprivation on dry matter intake, nutrient utilization and metabolic water production in goats under semi-arid zone of India. Small Ruminant Research, v.46, p.159-165, 2002. NATIONAL.RESEARCH COUNCIL – NRC. Nutrient requirement of domestics animals: nutrient requirement of goats. Washington, D.C. 1981. 91 p. RESENDE, K. T. Métodos de estimativa da composição corporal e exigências nutricionais de proteína, energia e macroelementos inorgânicos de caprinos em crescimento. Viçosa : Universidade Federal de Viçosa, 1989. 130 p. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa, 1989. RIBEIRO, V.L.; BATISTA, A.M.V.; CARVALHO, F.F.R. et al. Avaliação do hábito seletivo de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento através da granulometria do alimento. In: CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL, 4., 2006, Petrolina. Anais... Petrolina: Sociedade Nordestina de Produção Animal, 2006a. (CD ROM). RIBEIRO, V.L.; BATISTA, A.M.V.; CARVALHO, F.F.R. et al. Comportamento ingestivo de caprinos Moxotó e Canindé submetidos à alimentação à vontade e restrita Acta Scientiarum Animal Sciences,, v. 28, n. 3, p. 331-337, 2006b. SHERIDAN, R.; FERREIRA, A.V.; HOFFMAN, L.C. et al. Effect of dietary energy level on efficiency of SA Mutton Merino lambs and Boer goat kids under feedlot conditions. South African Journal of Animal Science, v. 30, p. 122-123, 2000 (Supplement 1). SILVA, J.H.V.; RODRIGUES, M.T.; CAMPOS, J. Influência da seleção sobre a qualidade da dieta ingerida por caprinos com feno oferecido em excesso. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.6, p.1419-1423, 1999. SILVA, D.S.; CASTRO, J.M.C.; MEDEIROS, A.N. et al. Feno de maniçoba em dietas para ovinos: consumo de nutrientes, digestibilidade aparente e balanço nitrogenado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.5, p.1685-1690, 2007 (supl.). SNIFFEN, C.J.; O’CONNOR, J.D.; VAN SOEST, P.J.; et al. A net carbohydrate and protein system for evaluating cattle diets: II. Carbohydrate and protein availability. Journal of Animal Science. v.70, n.3, p.3562-3577, 1992. VAN SOEST, P.J. Development of a comprehensive system of feeds analysis and its applications to forages. Journal of Animal Science, v.26, n.1, p.119-128, 1967. VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2º ed. Ithaca Cornell University Press, 1994, 476p. WEISS, W.P. Energy prediction equations for ruminant feeds. In: CORNELL NUTRITION CONFERENCE FOR FEED MANUFACTURERS, 61., 1999, Ithaca. Proceedings… Ithaca: Cornell University, 1999. p. 176-185. 55 Capítulo III Comportamento Ingestivo de Caprinos Moxotó e Canindé em Confinamento, Sob Efeito de Dois Níveis de Energia na Dieta 56 COMPORTAMENTO INGESTIVO DE CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ EM CONFINAMENTO, SOB EFEITO DE DOIS NÍVEIS DE ENERGIA NA DIETA RESUMO - Com a realização deste trabalho, objetivou-se avaliar o comportamento ingestivo de caprinos nativos do semi-árido nordestino, mantidos em confinamento. Foram utilizados 40 machos castrados, 20 da raça Moxotó e 20 Canindé, com peso médio inicial de 15,22 kg, distribuídos aleatoriamente em um delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x2 (duas raças e duas dietas). As dietas experimentais utilizadas foram: D1 = dieta com menor nível energético, contendo 2,2 Mcal de EM/kg de MS e uma relação volumoso:concentrado de 70:30, D2 = dieta com maior nível energético, 2,7 Mcal de EM/ kg de MS com relação volumoso:concentrado de 35:65. Para o comportamento ingestivo foram realizadas observações a cada cinco minutos, durante 24 horas, para determinação do tempo despendido em alimentação, ruminação e ócio. Determinou-se a mastigação merícica de 32 animais, além do número médio de defecação e micção, freqüência de ingestão de água e consumo médio de água. Houve diferença significativa entre as raças para as variáveis: consumo de matéria seca (CMS), número de bolos ruminados (NBR/dia), número de mastigações merícicas por dia (NMMD), tempo de mastigação merícica por bolo (TMMB/seg), freqüência urinária e freqüência de procura por água, além do consumo de água (L/kg de MS ingerido). A dieta com menor nível energético proporciona menor tempo de ócio e maior tempo ruminação, diminuindo a eficiência alimentar de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento. A raça Moxotó demonstra maior frequência urinária e menor frequência de procura por água ao longo do dia. Entretanto, recebendo a dieta com 2,7 Mcal de EM/ kg de MS, excreta menor quantidade de urina em litros por dia. A dieta com maior nível energético melhora o desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento. Palavras-chaves: etologia, caprino nativo, alimentação, ruminação 57 INGESTIVE BEHAVIOUR OF MOXOTO AND CANINDE GOATS IN FEEDLOT, UNDER EFFECT OF TWO ENERGETIC LEVELS IN THE DIET ABSTRACT - This research was conducted with the objective to evaluate the ingestive behavior of indigenous goats in the semi-arid region of Brazil, reared in feedlot. Forty males non intact, being 20 from Moxotó and 20 from Caninde breeds, with average initial weight of 15.22 kg, were used. The goats were assigned a completely randomized design in a 2 x 2 factorial arrangement (two breeds and two diets). The experimental diets used were: D1= diet with lower energetic level, with 2.2 Mcal ME/kg dry matter (DM) and roughage:concentrate ratio of 70:30; D2= diet with higher energetic level, with 2.7 Mcal ME/kg DM and roughage:concentrate ratio of 35:65. It were used visual observations to each five minutes, during a period of 24 h, to measured of time spent with feeding, rumination and leisure time. It was measured the number of rumination chews in 32 goats, moreover, the average number of time that animals make feces and urine, the water intake and frequency, were also measured. There was difference (P<0.05) between breeds to variables: dry matter intake (DMI), number of ruminal boli (NRB/day), number of rumination chews (NRC/day), time of rumination chews by boli (TRCB/s), urinary frequency and water intake (L/kg DM intake) and frequency. The diet with 2.2 Mcal ME/kg DM caused lower leisure time and higher rumination time, decreasing the feeding efficiency of Moxoto and Caninde goats in feedlot. The Moxoto breed showed higher urinary frequency and lower water intake frequency during the day than Caninde breed. On the other hand, when the Moxoto animals received the diet with 2.7 Mcal ME/kg DM, they outputted less urine (L/day) than Caninde breed. The diet with 2.7 Mcal ME/kg DM improve the performance of Moxoto and Caninde goats in feedlot. Key words – Feeding, indigenous goats, rumination 58 Introdução A caprinocultura tem se desenvolvido rapidamente nos últimos anos, todavia, as pesquisas têm sido direcionadas quase que estritamente às áreas de nutrição, melhoramento genético e reprodução. Apesar das abordagens contribuírem muito, trazendo inúmeros benefícios para os setores de produção de carne e leite, torna-se necessário o entendimento do comportamento ingestivo dos caprinos, no intuito de ajustar seu manejo para obtenção de melhor desempenho (Carvalho et al., 2007). Pesquisas envolvendo a produção animal brasileira vêm tentando descobrir a cada ano novos mecanismos que possibilitem um manejo adequado dos animais, sem que para isto tenha que se alterar a interação destes com o meio ambiente, uma vez que o desempenho produtivo está diretamente relacionado ao comportamento alimentar e as outras atividades comportamentais que englobam desde as necessidades fisiológicas até os processos metabólicos (França, 2006). Esse tipo de estudo no Nordeste merece atenção, principalmente quando se trata de animais nativos, por fornecer subsídios para ajustar as interações entre as praticas de arraçoamento, manejo e as condições edafoclimáticas (Souza, 2007). De acordo com Pires et al. (2001) é importante para os sistemas de produção que se tenha conhecimento dos hábitos alimentares dos animais, para que se possa detectar problemas de manejo, alimentação ou saúde, através de alterações nos padrões comportamentais. Qualquer alteração que promova estresse, seja ele provocado por fatores técnicos, sociais ou ambientais, pode influenciar no comportamento ingestivo. Os ruminantes possuem a capacidade de adaptarem-se às mais diversas condições de alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento ingestivo para alcançar e manter determinado nível de consumo, compatível com as 59 exigências nutricionais, o qual depende de outras variáveis, como a qualidade dos ingredientes da ração, em particular as forragens, envolvendo teores de fibra, a qual está associada ao estímulo da mastigação, produção de saliva, motilidade do rúmen e manutenção ruminal (Silanikove, 1992; Cardoso et al., 2006). Além disso, se a densidade energética da ração for alta, isto é, com baixa concentração de fibra, em relação às exigências do animal, o consumo será limitado pela demanda energética e o animal poderá deixar de ingerir alimentos, mesmo que o rúmen não esteja repleto. Por outro lado, se a dieta tiver baixa densidade energética, o consumo será limitado pela repleção ruminal (Ítavo et al., 2002). Dessa forma, estudos de etologia têm sido largamente utilizados no desenvolvimento de modelos para suporte às pesquisas e às formas de manejo dos animais de interesse zootécnico, sobretudo para as raças nativas do Nordeste, como é o caso das raças Moxotó e Canindé. Portanto, este trabalho foi conduzido com o intuito de avaliar parâmetros do comportamento ingestivo, a seletividade e o desempenho em ganho de peso de caprinos nativos em confinamento, na região semi-árida paraibana, sob o efeito de dois níveis de energia metabolizável na dieta. 60 Material e Métodos Este experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisa em Pequenos Ruminantes, do Centro de Ciências Agrárias da UFPB, localizada no município de São João do Cariri, PB, com duração de 90 dias, sendo 21 dias de adaptação e 71 de colheita de dados, durante os meses de agosto a novembro de 2007. A cidade de São João do Cariri está localizada na microrregião do Cariri Oriental da Paraíba, entre as coordenadas 7º 23’ 27” de Latitude Sul e 36º 31’ 58” de Longitude Oeste. O clima do local classifica-se como Bsh (semi-árido quente) segundo classificação de Köppen. Durante o período experimental foram registradas temperaturas médias diárias de 28,1 ºC, temperaturas máximas de 28,5º C e mínimas de 21,2º C, com umidade relativa média de 57,4% e precipitação acumulada de 33,81 mm concentrados nos meses de agosto e setembro (Dados fornecidos pela Estação Meteorológica da UFCG, instalada no local de realização do experimento). Foram utilizados 40 caprinos com idade média de 4 meses, 20 da raça Moxotó e 20 Canindé, com peso vivo médio inicial de 15,29 ± 1,76 kg e 15,31 ± 1,94 kg, respectivamente.. Estes animais foram everminados, distribuídos aleatoriamente de acordo com raça e o nível de energia da dieta e alojados em 4 galpões abertos dispostos no sentido leste-oeste, cobertos com telhas de cerâmica, piso em chão batido, compostos por 10 baias individuais cada galpão, medindo uma área de 3,75 m2 por baia, providas de comedouro e bebedouro. A ração fornecida aos animais foi composta por feno de maniçoba e concentrado à base de farelo de milho, farelo de soja, melaço de cana-de-açúcar e suplemento mineral. A maniçoba utilizada para a confecção do feno foi colhida em áreas de ocorrência natural da Caatinga. As plantas encontravam-se em estágio vegetativo de floração e 61 frutificação, entre os meses de maio e junho de 2007. Foi colhido material composto de folhas e galhos com diâmetro entre 1 e 2 cm, o qual foi triturado em máquina forrageira e espalhado em lonas plásticas, sendo revirado freqüentemente, para que ocorresse desidratação até o ponto de feno. Após fenação, todo o material foi moído em uma máquina tipo “DPM” (desintegrador, picador e moedor), utilizando-se peneira de 10 mm, para em seguida ser misturado aos outros ingredientes da ração experimental, na forma de ração completa. A composição química dos ingredientes é apresentada na Tabela 1 e a participação dos ingredientes e a composição química da dieta experimental encontramse na Tabela 2. Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental com base na matéria seca Farelo Farelo Feno de Nutrientes Melaço 1 de Milho de soja maniçoba Matéria seca (MS) 86,10 86,17 90,08 87,18 Proteína bruta (PB) 10,35 43,99 2,94 9,82 Energia metabolizável (Mcal/kg MS) 3,30 3,18 3,10 1,83 Extrato etéreo (EE) 11,42 1,68 0,78 3,42 Carboidratos totais (CHOT) 73,81 47,46 72,17 79,54 Carboidratos não fibrosos (CNF) 35,39 32,38 72,17 15,67 38,43 15,08 0,0 63,88 Fibra em detergente neutro cp2 (FDN) Fibra em detergente ácido (FDA) 11,17 10,23 0,0 55,11 1 2 Sub-produto da fabricação de flocos de milho Corrigida para cinzas e proteína A dieta foi formulada com base no NRC (1981) de forma a proporcionar um ganho diário de 120 gramas com a dieta (1) de baixa energia (2,2 Mcal de EM/kg de MS) e 165 gramas com a dieta (2) de alta energia (2,7 Mcal de EM/kg de MS) para animais de 15 kg de peso vivo. 62 Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta experimental com base na matéria seca Ingredientes (%) Farelo de milho Farelo de soja Melaço 1 Suplemento mineral2 Calcário Feno de maniçoba Dieta 1 21 6 1 Dieta 2 57 5 1 1 1 70 1 1 35 Composição Química (%) Matéria seca Proteína bruta Energia metabolizável (Mcal)3 87,13 11,72 2,20 86,74 11,56 2,71 Extrato etéreo Fibra em detergente neutro cp4 4,90 7,79 53,69 41,54 74,75 21,07 45,02 26,17 73,01 28,00 Fibra em detergente ácido Carboidratos totais Carboidratos não fibrosos 1 Sub-produto da fabricação de flocos de milho Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00 U.I.; vitamina E 450,00 U.I.; cálcio 240 g; fósforo 71 g; potássio 28,2 g; enxofre 20 g; magnésio 20 g; cobre 400 mg; cobalto 30 mg; cromo 10 mg; ferro 2500 mg; iodo 40 mg; manganês 1350 mg; selênio 15 mg; zinco 1700 mg; flúor máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo(P)emÁcido Cítrico a 2% (min.). 3 Estimada 4 Corrigida para cinzas e proteína 2 O arraçoamento dos animais foi realizado a vontade, duas vezes ao dia, às 8h00 e às 16h00. A relação volumoso:concentrado utilizada foi de 70:30 na dieta com menor nível de energia (dieta 1) e 35:65 na dieta com maior nível energético (dieta 2). A quantidade de ração fornecida diariamente foi ajustada de acordo com o consumo do dia anterior de modo que houvesse sobras em torno de 20% do total fornecido, para que fosse garantido consumo à vontade. A água foi fornecida à vontade, sendo o consumo quantificado diariamente durante o período de observação. Foi verificada também a taxa diária de evaporação, 63 através da distribuição de baldes em diferentes pontos do galpão, para que no dia seguinte fosse verificada a quantidade de água perdida por evaporação e, com isto, descontar estas perdas do consumo dos animais. As amostras das rações completas, dos ingredientes que compunham as rações experimentais e das sobras deixadas pelos animais, foram colhidas durante três dias antecedentes as observações, e acondicionadas em sacos plásticos e armazenadas em congelador a -20°C para posteriores análises químicas. As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal do CCA/UFPB. Foi feita a pré-secagem do material em estufa com ventilação forçada a 55 °C por 72 horas e moídas em moinho de facas tipo Willey. Posteriormente foram analisados para a determinação da matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) segundo a AOAC (2005). Para determinação da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), utilizou-se a metodologia determinada pelo fabricante do aparelho ANKON, da Ankon Tecnology Corporation, com modificações relacionadas aos sacos, uma vez que foram utilizados sacos de TNT (tecido não tecido) gramatura 100 mm, confeccionados no Laboratório de Nutrição Animal. As amostras de FDN foram corrigidas para cinzas e proteína, os resíduos da digestão em detergente neutro foram incinerados em mufla a 600ºC por 4 horas para determinação de cinzas, a correção para proteína foi realizada através da proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN). Para a estimativa dos carboidratos totais (CHOT), utilizou-se a seguinte equação propostas por Sniffen et al. (1992), CHOT (%) = 100 – (%PB + %EE + %Cinzas). Os carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados de acordo com Weiss (1999) como: CNF (%) = 100 – (%FDNcp + %PB + %EE + %Cinzas). 64 O consumo de nutrientes foi calculado pela diferença entre a quantidade total do nutriente contida na dieta oferecida e a quantidade deste contida nas sobras. Para a determinação da dieta efetivamente consumida pelos animais, utilizou-se o seguinte cálculo: Matéria seca efetivamente consumida = (CMS (kg)/CMN (kg))*100; consumo efetivo de cada nutriente = consumo do nutriente (kg)/CMS (kg). Onde CMN corresponde ao consumo de material natural. A determinação granulométrica da dieta ofertada e das sobras deixadas pelos animais, foi realizada no Laboratório de Física do Solo do CCA/UFPB. As amostras foram retiradas do congelador e em seguida colocadas em estufa a 55ºC para a retirada da umidade do material. Posteriormente foi pesada em média 100 g do material, posto em um conjunto de peneiras com diâmetros 2,00; 1,00 e 0,50 milímetros, sobrepostas uma sobre a outra, de forma decrescente, e acopladas ao fundo (0,000mm), onde se alojavam as partículas em forma de pó. O material permaneceu no aparelho vibratório por 10 minutos, após este tempo, o material retido nas peneiras foi colocado em bandejas de pesos conhecidos, sendo pesados individualmente o material retido em cada peneira. As observações referentes ao comportamento ingestivo dos animais foram feitas em três períodos distintos com intervalos de sete dias, iniciaram sempre às 06h00 perfazendo um período de 24 horas ininterruptas, de forma visual, pelo método de varredura instantânea, a intervalos de cinco minutos, por observadores previamente treinados, sendo registradas em formulários antecipadamente elaborados. As variáveis comportamentais observadas e registradas foram: ócio em pé (OEP), ócio deitado (OD), em pé comendo (EPC), em pé ruminando (EPR) e deitado ruminando (DR). Analisaram-se, a partir desses dados, os tempos médios despendidos em alimentação, ruminação e ócio, observando-se também de forma contínua, o número de vezes em que 65 o animal defecou, urinou e procurou água. A procura pela água foi registrada como sendo o número de vezes que o animal procurava o bebedouro e ingeria água. Para a avaliação da mastigação merícica foram utilizados cinco animais de cada tratamento, procedendo-se um rodízio de animais nos módulos a cada observação, avaliando dois tempos ruminais, das 22h00 às 24h00 e das 4h00 às 6h00, determinandose o número de mastigações merícicas e o tempo despendido na ruminação de cada bolo ruminal (segundos/bolo), com a utilização de cronômetro digital. Essa mastigação foi calculada através de três tempos de 15 segundos, sendo a média multiplicada por quatro para a obtenção do tempo de mastigação/minuto. Os resultados referentes aos fatores do comportamento ingestivo foram obtidos pelas relações: EAL = CMS/TAL (g MS/h) ERU = CMS/TRU (g MS/h) TMT = TAL+TRU (h /dia) NBR = TRU/TMMB (nº/ dia) NMMD = NBR x NMMB (nº /dia) Em que, Polli et al. (1996) descreve como: EAL (g MS/h) = eficiência de alimentação; CMS (g MS/dia) = consumo de matéria seca; TAL (h/dia) = tempo de alimentação; ERU (g MS/h) = eficiência de ruminação; TRU (h/dia) = tempo de ruminação; TMT (h/dia) = tempo de mastigação total; NBR (nº/dia) = número de bolos ruminais; TRU (s/dia) = tempo de ruminação; TMMB (s/bolo) = tempo de mastigações merícicas por bolo ruminal; segundo Bürger et al. (2000), NMMD (nº/dia) = número de mastigações merícicas; e NMMB (nº/bolo) = número de mastigações merícicas por bolo. 66 Não só durante as observações noturnas, mas em todo o experimento o ambiente foi mantido com iluminação artificial. O delineamento experimental utilizado foi o Inteiramente Casualizado com arranjo fatorial 2 x 2, (duas raças e dois níveis de energia na dieta), com 10 repetições por tratamento, totalizando 40 parcelas. Os dados foram avaliados por meio de análise de variância e as médias comparadas pelo Teste de F, a 5% de probabilidade, seguindo o modelo matemático: Yijk = µ + ri + nj + rnij + eijk Em que: Yijk = valor observado; µ = média geral; ri = efeito da raça i; nj = efeito do nível de energia j; rnij = efeito da interação entre a raça e o níveis de energia; eijk = erro aleatório associado a cada observação. 67 Resultados e Discussão Os resultados referentes à composição das dietas efetivamente consumidas pelos animais, expressos como percentagem da MS, encontram-se na Tabela 3. Não houve efeito (P>0,05) de raça e nem interação entre raça e dieta sobre a composição da dieta efetivamente consumida, exceto para o percentual de MS, em que o desdobramento da interação mostra que foi mais alto na dieta de maior nível energético selecionada pelos animais Moxotó. As dietas ofertadas continham 87,13 e 86,74% de MS para a de menor e maior nível energético, respectivamente. Com a seleção, observa-se que os animais da raça Moxotó consumiram 82,81% da dieta de baixa energia, que corresponde a uma redução de 4,96% comparada ao oferecido. Para a dieta de alta energia, esta raça consumiu 2,96% a mais do que lhe foi ofertado. A raça Canindé consumiu 6,19 e 5,81% menos MS do que lhes foi ofertado nas dietas de menor e maior nível energético, respectivamente. Tabela 3. Composição das dietas experimentais efetivamente consumidas pelos caprinos Moxotó e Canindé Variável Moxotó 2,2 Mcal MS % PB (% MS) EE (% MS) FDN (% MS) CHOT (% MS) CNF (% MS) 2,7 Mcal Canindé 2,2 Mcal CV (%) Raça Dieta RxD 2,91 ** ** ** 11,24 9,25 9,36 ns ** ns ns ** ns ns ** ns 2,7 Mcal 82,81Ab 89,31Aa 81,74Bb 81,70Bb 13,0 12,0 12,0 11,0 5,0 8,0 5,0 8,0 53,0 47,0 54,0 48,0 P>F 73,0 74,0 74,0 74,0 3,43 ns ns ns 20,0 26,0 20,0 26,0 11,55 ns ** ns Médias seguidas de letras diferentes maiúsculas para raça e minúsculas para nível energético diferem pelo teste F a 5% de probabilidade. ns = não significativo; ** P<0,01. 68 De modo geral, não houve diferença estatística para a dieta efetivamente consumida em função da raça, havendo influência da dieta apenas para os consumos de PB, EE, FDN e CNF. Normalmente, o valor nutritivo da dieta ingerida pelos animais, apresenta-se diferente daquele que foi ofertado. Não houve diferença (P>0,05) para a PB efetivamente consumida entre as raças, apenas quando comparadas às dietas (P<0,01). Verificou-se uma diferença de 8% no consumo de PB entre as dietas, os animais selecionaram mais PB na dieta de menor aporte energético, o que demonstra a elevada capacidade seletiva dos caprinos Moxotó e Canindé, por ingredientes específicos da ração, mesmo quando os alimentos são fornecidos na forma de ração completa. Para o EE, os animais de ambas as raças, assim como de ambas as dietas, consumiram entre 2,04 % e 2,70 % a mais de EE para as dietas com menor e maior aporte energético. Este fato apresenta-se semelhante ao relatado por Morand-Fer & Doreau (2001), em que caprinos nativos de regiões áridas, em atividade de pastejo e expostos ao aumento de calor, alteram o comportamento seletivo de forragem, dando preferência as porções mais protéicas e energéticas da planta. Houve diferença para os consumos de FDN e CNF entre as dietas avaliadas (P<0,01), com maiores médias de FDN para a dieta de menor aporte energético e de CNF para a dieta de maior aporte energético. Este diferença encontra-se de acordo com a dieta formulada para estes animais durante o período experimental. Para o consumo efetivo de CHOT não foi constatada diferença (P>0,05) para raça ou dietas, a média geral verificada foi de 73,75%, percentual semelhante ao que foi formulado, 74,75 e 73,01% para a dieta de menor e maior aporte energético. 69 Na Tabela 4, encontram-se os valores relacionados ao alimento retido no conjunto de peneiras usadas para a análise granulométrica, a qual expressa o hábito seletivo dos animais, em função das dietas consumidas, em que a dieta ofertada influenciou na seleção dos animais pelas partes mais ou menos grosseiras dos alimentos, não sendo constatada diferença estatística entre as raças estudadas. Tabela 4. Porcentagem do tamanho da partícula retida nas peneiras para as sobras e dietas ofertadas e coeficientes de variação (CV), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta Tamanho de partícula (mm) ≥2,00 Moxotó Canindé P>F 2,2 Mcal 2,7 Mcal 2,2 Mcal 2,7 Mcal CV (%) 23,15 8,68 27,49 9,85 68,99 ns ** ns 2,00 - 1,00 28,67 29,2 27,75 29,09 23,38 ns ns ns 1,00 – 0,50 22,81 25,37 22,30 25,96 15,62 ns * ns < 0,50 25,37 36,94 22,46 35,10 24,89 ns ** ns Raça Dieta RxD Dieta com 2,2 Mcal de EM Dieta com 2,7 Mcal de EM ≥2,00 21,60 6,70 2,00 - 1,00 24,36 31,69 1,00 – 0,50 29,44 30,57 < 0,50 24,61 31,04 ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. Não houve efeito da raça nem da interação raça x dieta (P>0,05), sobre as variáveis analisadas. Os animais de ambas as raças apresentaram comportamento semelhante quanto à seletividade da dieta ofertada, não diferindo estatisticamente. Entretanto, quando comparadas às dietas oferecidas, houve diferença (P<0,01) quanto ao tamanho de partícula selecionado, exceto para o tamanho entre 2,0-1,0 mm. A dieta ofertada com maior nível energético (2,7 Mcal) apresentou 31 % a menos de partículas menores que 2,0 mm, no entanto, houve uma tendência para ambas as raças, em deixar maior quantidade nas sobras para este tamanho de partícula, do que 70 lhes foi oferecida. Entretanto, como já era esperado, os animais que consumiram a dieta de menor oferta de energia, deixaram uma maior quantidade de partículas > 2,0 mm. Exceto para o tamanho de partícula entre 2,0 e 1,0 mm, para todos os demais, houve diferença (P<0,05) entre as dietas oferecidas. De maneira geral, nota-se que na dieta de menor aporte energético, os animais deram maior preferência aos tamanhos de partículas que variaram de 1,0 a 0,50 mm, uma vez que na dieta oferecida este tamanho encontrava-se em maior quantidade, sendo o que apresentou menor porcentagem nas sobras, o mesmo foi demonstrado para a dieta de maior oferta de energia. No entanto, as partículas > 2,0 mm foram deixadas em maior proporção para ambas as dietas, quando comparados ao que foi ofertado. Ribeiro et al. (2006a), também não encontraram diferença significativa para a seletividade entre as raças Moxotó e Canindé. No entanto, seus resultados divergem dos encontrados nesta pesquisa com relação ao tamanho preferencial da partícula por estes animais. Estes autores revelam que as raças Moxotó e Canindé deram maior preferência ao tamanho de partículas maiores 1,7 mm, com médias de 9,17 % e 17,60 % para as raças Canindé e Moxotó, respectivamente. Constataram ainda que, a maior percentagem de rejeição entre as raças, foi para as partículas cujo tamanho foi inferior a 0,6 mm, registrando médias de 29,64 %, para ambas as raças. Hadjigeorgiou et al. (2003) trabalharam com o objetivo de testar a eficiência de ingestão e de digestão entre caprinos e ovinos fornecendo feno com 3 diferentes tamanhos de partícula: longo (13,29 mm), médio (7,26 mm) e curto (0,69 mm). E observaram que os ovinos aumentaram a ingestão de matéria seca (IMS) com diminuição do tamanho da partícula, porém a digestibilidade e o tempo de retenção foi menor. Enquanto que os caprinos não apresentaram diferença significativa para IMS, digestibilidade e tempo retenção para os variados tamanhos de partícula. Estes 71 resultados levaram os autores a concluir que os caprinos apresentam uma maior eficiência mastigatória, tanto nos processos de ingestão como de ruminação, desenvolvendo mecanismos de respostas diferentes para cada comprimento de partícula, não alterando sua ingestão, digestibilidade ou tempo de retenção ruminal das mesmas. Cozzi & Gottardo (2005), trabalhando com o objetivo de avaliar a atividade seletiva de bovinos em terminação, recebendo alimentação à vontade na forma de ração completa, observaram que não existe seleção feita no momento em que a ração é disponibilizada aos animais. No entanto, no intervalo entre 0 e 8 horas após o arraçoamento, há um aumento na preferência por tamanhos de partículas maiores que 8,00 mm, sendo que com o passar do tempo, no intervalo entre 8 e 16 horas após o arraçoamento, a preferência por tamanhos maiores aumenta, chegando a um tamanho superior a 19,0 mm. Não há como fazer um comparativo entre o tamanho de partícula preferencialmente selecionado por bovinos com os caprinos, uma vez que o hábito seletivo dos mesmos é completamente diferente, a intenção de mostrar os resultados obtidos por Cozzi & Gottardo (2005) é demonstrar que, com o passar do tempo, há uma tendência de procura por partículas de tamanhos maiores no alimento, no entanto, não é possível inferir se o comportamento seria o mesmo com os caprinos. De acordo com revisão feita por Allen (1996), grande parte da redução no tamanho de partículas grandes ocorre no reticulo-rúmen, ocasionada por uma combinação de resultados decorrentes da mastigação primária e da ruminação, com redução relativamente baixa promovida pela digestão (fermentação). A fermentação não tem efeito direto sobre a redução, porém aumenta fragilidade dos tecidos, facilitando a mastigação dos mesmos. Entretanto, pouca ou nenhuma redução ocorrerá depois que as partículas deixarem o retículo-rúmen, pela ausência de enzimas capazes de degradar 72 celulose no abomaso ou intestino delgado. Dados da literatura encontrados por este autor indicam que o conceito de tamanho de partícula é usado para descrever o fluxo retículo-ruminal, mas que pode ser dependente da forma física do alimento e da ingestão de matéria seca. Nas Figura 1 e 2 estão apresentados os tempos despendidos nas atividades de alimentação, ócio e ruminação, ao longo das 24 horas diárias, em função da dieta oferecidas. Figura 1. Tempos de alimentação (TAL), ócio (TO) e ruminação (TRU) de caprinos Moxotó e Canindé, durante 24 horas, consumindo a dieta de 2,7 Mcal de EM/kg de MS Figura 2. Tempos de alimentação (TAL), ócio (TO) e ruminação (TRU) de caprinos Moxotó e Canindé, durante 24 horas, consumindo a dieta de 2,2 Mcal de EM/kg de MS Não houve efeito significativo para os tempos despendidos nestas atividades em função das raças, havendo diferença (P<0,05) apenas para dietas ofertadas. Pode-se 73 observar que a dieta com maior nível energético proporcionou um maior tempo em ócio, principalmente no período que compreende das 10h00 às 18h00, notadamente pela quantidade de volumoso contido na dieta de menor oferta energética, o que proporciona maior atividade mastigatória. Diferentemente do comportamento dos animais submetidos a dieta de menor aporte energético, em que o maior tempo em ócio compreende o período das 16h00 às 19h00, corroborando com os resultados encontrados por Ribeiro et al. (2006b). Das três atividades observadas, o tempo de ócio foi a que manteve-se mais constante ao longo do dia. Durante a noite, a atividade ruminação foi mais freqüente, começando por volta das 22h00, continuando de forma crescente até às 07h00, quando obteve seu maior pico, para ambas as dietas ofertadas. Diferentemente dos relatos de Fischer et al. (1998); Tavares et al. (2005) e Ribeiro et al. (2006b), que encontraram dois picos diferentes, o primeiro das 22:00 às 00:00 horas e o segundo das 04:00 às 06:00 da manhã. É evidente que a ruminação diminui ao longo do dia, período em que é fornecida a alimentação dos animais. Na Tabela 5 estão apresentados os valores médios dos tempos despendidos em alimentação, ruminação e ócio expressos em horas/dia, consumos de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB) e fibra em detergente neutro (CFDN), a eficiência de alimentação (EAL) e ruminação da MS (ERU), e o tempo de mastigação total (TMT) expresso em h/dia, em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta. 74 Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) dos tempos despendidos em alimentação (TAL), ruminação (TRU) e ócio (TO), consumos de matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN), eficiências de alimentação (EAL) e ruminação (ERU) e tempo de mastigação total (TMT), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta Moxotó Canindé P>F 2,2 Mcal 2,7 Mcal 2,2 Mcal 2,7 Mcal CV (%) TAL (h/dia) 5,5 5,1 5,9 5,1 25,20 ns ns ns TRU (h/dia) 8,8 6,9 8,0 6,9 13,94 ns ** ns TO (h/dia) CMS (kg/dia) CMS (% PV) CMS (g/UTM) CPB (kg/dia) 9,8 12,0 10,1 12,1 16,76 ns ** ns 0,54 0,66 0,65 0,72 23.87 ns ns ns 3,36 3,61 3,74 3,56 18,58 ns ns ns 67,32 74,77 76,39 75,21 19,44 ns ns ns 0,07 0,08 0,08 0,09 27,82 ns ns ns 0,43 0,41 0,46 0,41 21,78 ns ns ns 0,29 0,31 0,35 0,33 20,02 * ns ns 1,75 1,68 2,01 1,65 14,53 ns ** ns 35,16 34,90 41,05 34,91 15,33 ns ns ns 0,11 0,15 0,12 0,18 36,85 ns ** ns 0,10 0,10 0,09 0,13 57,57 ns ns ns 14,24 12,03 13,90 11,94 14,11 ns ** ns Variável CPB (% PV) CFDN (kg/dia) CFDN (% PV) CFDN (g/UTM) EAL (kgMS/h) ERUms (kgMS/h) TMT(h/dia) Raça Dieta RxD ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. Observa-se que não houve efeito para as variáveis analisadas em função das raças (P>0,05), exceto para o CFDN (kg/dia), contudo, houve efeito (P<0,05) para variáveis TRU, TO, CFDN (% PV), EAL e TMT, em função do nível energético da dieta. Estes resultados demonstram semelhança entre as raças, as quais, de acordo com Ribeiro et al. (2006b), Caprinos Moxotó e Canindé atingem, na idade adulta, tamanho corporal muito próximo e possuem velocidade de crescimento semelhante, além de 75 serem animais que foram submetidos às mesmas condições ambientais no processo de adaptação quando trazidas ao semi-árido nordestino. Outro fato que pode ter contribuído para tal semelhança é que as raças foram submetidas às mesmas condições de manejo, além disto, os animais estavam dentro da zona de conforto térmico para caprinos adultos que está entre 20 e 30º C de acordo com Baeta & Souza (1997). Com relação à dieta oferecida aos animais, pode-se verificar que não houve efeito (P>0,05) para o TAL, resultado este que se encontra de acordo com o observado por Tavares et al. (2005) trabalhando com caprinos mestiços sob confinamento, alimentados com diferentes níveis de feno na dieta, obtendo-se médias de 5,1 e 5,47 h/dia, nas dietas com inclusão de 25 e 35% de feno. Ribeiro et al. (2006b) observaram resultados inferiores a estes, com médias que variaram de 2,95 e 3,83 h/dia, para caprinos Canindé e Moxotó alimentados com dieta restrita e à vontade, respectivamente. A dieta com menor nível energético (2,2 Mcal/kg de MS) proporcionou um maior tempo de ruminação (TRU), uma vez que a mesma continha maior proporção de feno, com 8,37 h/dia que representa 34,88% do dia e, um menor tempo ocioso de 9,93 h/dia correspondente a 41,38% do dia, quando comparados ao tempo despendido para estas atividades na dieta com maior nível energético (2,7 Mcal/kg de MS), que foi de 6,90 h/dia e 28,75% das 24 h e 12,01 h/dia referente a 50,04% do dia, para ruminação e ócio, respectivamente. Pode-se inferir que a quantidade de 70% de feno de maniçoba utilizado na dieta com menor nível de energia, foi um dos fatores a influenciar nestes resultados, devido ao maior nível de FDN na ração que proporciona maior tempo de retenção da digesta no rúmen. Van Soest (1994) relatou que para animais estabulados, o tempo gasto com alimentação é de aproximadamente uma hora, isto para alimentos com alta proporção de grãos, e até mais de seis horas para fontes com alto teor de volumoso. De modo que, o 76 tempo despendido em ruminação é influenciado pela natureza da dieta e, provavelmente, é proporcional a quantidade de parede celular dos volumosos, ou seja, quanto maior o teor de fibra na dieta, maior o tempo despendido em ruminação. No entanto, de acordo com Fischer et al. (1998), existem diferenças entre indivíduos quanto à duração e à repartição das atividades de ingestão e ruminação, que parecem estar relacionadas ao apetite dos animais, as diferenças anatômicas e ao suprimento das exigências energéticas ou repleção ruminal, que seriam influenciadas pela relação volumoso:concentrado. Segundo Pereyra & Leiras (1991) a ruminação depende da qualidade do alimento, quanto melhor a qualidade, menor será o tempo de ruminação e vice-versa. O animal investe em torno de 5 a 9 h do dia para a ruminação, semelhante aos resultados encontrados neste trabalho. Ribeiro et al. (2006b) trabalhando com caprinos Moxotó e Canindé em confinamento, submetidos a alimentação restrita e à vontade, não encontraram diferença significativa entre raças, dietas ou interação entre elas, para nenhuma das variáveis analisadas. No entanto, mesmo não havendo efeito significativo, os resultados encontrados por estes autores, para tempo de ruminação (8,03 e 7,92 h/dia) e ócio (12,00 e 13,43 h/dia) para animais que recebiam alimentação à vontade e restrita, respectivamente, são muito semelhantes aos encontrados neste trabalho. Tavares et al. (2005), ao trabalharem com diferentes níveis de inclusão de feno em dieta a base de palma forrageira para caprinos mestiços, obtiveram resultados de 5,58 e 6,67 h/dia para o tempo despendido em ruminação e 12,97 e 11,38 h/dia para o tempo ocioso, para as dietas com 35% e 45% de inclusão de feno, valores estes semelhantes aos encontrados neste estudo para os animais que se alimentaram da dieta com maior 77 energia. Estes resultados corroboram com os relatados por Bürger et al. (2000) e Souza et al. (2007). O aumento do nível de carboidratos não fibrosos e a conseqüente diminuição da fibra em detergente neutro da dieta podem ocasionar menores períodos de alimentação e ruminação e, por conseqüência, elevar o tempo total diário do animal em ócio (Silva et al., 2005). De acordo com Carvalho et al. (2006), os tempos de ruminação e de ócio encontrados com ovinos consumindo dietas a base de capim elefante como volumoso e 40 % farelo de cacau e torta de dendê no concentrado, com 47,13; 52,37; e 57,85 % de FDN, respectivamente. Estes autores ressaltam que a semelhança nos tempos de ruminação e ócio provavelmente resultou do pequeno tamanho das partículas desses alimentos (semelhante ao do concentrado). Entretanto, em trabalho conduzido por Carvalho et al. (2007) com cabras lactantes alimentadas com silagem de milho e dois níveis de farelo de cacau e torta de dendê, também não encontraram diferença para tempos de alimentação, ruminação e ócio, em função das dietas, bem como nos diferentes intervalos de observação utilizados de 5, 10, 15 e 20 minutos. Estes autores observaram tempos médios de alimentação, ruminação e ócio de 4,96; 7,56; e 11,45 horas por dia, respectivamente, próximos aos encontrados para os caprinos Moxotó e Canindé, desta pesquisa. Não foi constatada diferença significativa para os consumos de MS e PB expressos em kg/dia, % do PV e g/UTM, para a s raças, dietas ou interação entre elas (Tabela 5). De acordo com Mertens (1994), o consumo não é expresso na mesma base para os mecanismos físicos e fisiológicos de controle, em rações de baixa qualidade, em que a ingestão é limitada pelo enchimento do rúmen, sugerindo expressá-la em percentagem do peso vivo, pois está mais relacionado ao tamanho e a capacidade do 78 trato digestivo. Por outro lado, quando o consumo é limitado pela demanda fisiológica de energia, a melhor forma de expressá-la é com base no peso metabólico. Entretanto, no caso deste estudo, esta afirmativa não se aplica, pelo fato de não haver diferença para estas variáveis analisadas. As variáveis eficiência de alimentação de matéria seca (EALms), eficiência de ruminação de matéria seca (ERUms) e tempo de mastigação total (TMT), não foram influenciadas (P>0,05) pela raça, demonstrando mais uma vez que os animais apresentam comportamento semelhante (Tabela 5). Os animais que consumiram a dieta com maior oferta de energia (2,7 Mcal de EM/kg de MS), demonstraram maior eficiência de alimentação, ou seja, consumiram maior quantidade de MS por unidade de tempo, que foi 160 g versus 120 g de MS por hora para os animais em que era ofertada menor quantidade de energia na dieta, o que representa um tempo gasto de 22,5 e 30 segundos por grama de alimento consumido, respectivamente. Foi observado no decorrer do experimento que no momento em que era disponibilizada a ração, os animais submetidos a dieta de maior oferta energética consumiam com maior avidez quando comparado com aqueles em que era ofertada menor quantidade de energia. Este fato provavelmente ocorreu em função da maior quantidade de volumoso na dieta com 2,2 Mcal de EM/kg de MS, o que levou o animal a despender mais tempo selecionando os ingredientes da ração. Justificando-se com isto, seleção feita por estes pelas partículas menores que 2 mm, uma vez que proporcionalmente esta dieta continha maior quantidade desta, diferentemente da dieta maior nível energético (Tabela 2). Carvalho et al. (2006), não observaram diferença significativa na eficiência de alimentação, havendo diferença para ERU de MS por hora, para ovinos consumindo dietas a base de capim elefante, farelo de cacau e torta de dendê. Diferentemente deste 79 estudo com caprinos nativos, que foi verificada influência das dietas na EAL, enquanto que não houve influência na ERU (g MS/h). Os animais que receberam a dieta de menor nível energético tiveram um tempo de mastigação total (TMT) superior àqueles que consumiram a dieta de maior nível energético. Isto pode ter ocorrido em função da maior relação volumoso:concentrado (70:30) da dieta de menor nível energético, consequentemente, pelo maior teor de FDN (53,09 %) que levou os animais a passarem mais tempo ruminando, proporcionando aumento no TMT (Tabela 5). De acordo com Ramos et al. (2006), a necessidade de mastigação está relacionada com a quantidade de material indigestível, ou pouco digestível consumido, e com a resistência do material à redução do tamanho de partículas, pois alimentos com alto teor de FDN necessitam ser mastigados e, principalmente, ruminados por um período mais longo. Na Tabela 6 estão apresentadas às médias e coeficientes de variação para o número de bolos ruminais por dia (NBR), número de mastigação merícica por dia (NMMD), números de mastigação merícica por bolo (NMMB) e tempo de mastigação merícica por bolo (TMMB/seg), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta. 80 Tabela 6. Médias e coeficientes de variação para o números de bolos ruminais por dia (NBR), número de mastigação merícica por dia (NMMD), números de mastigação merícica por bolo (NMMB) e tempo de mastigação merícica por bolo (TMMB/seg), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta Moxotó Canindé P>F CV Atividades 2,2 2,7 2,2 2,7 (%) Raça Dieta R x D Mcal Mcal Mcal Mcal 140,12 153,54 152,03 NBR 176,73Aa ns ** 14,26 ** Bb Bb Bb NMMD 15261,29 14451,35 17115,56 14932,50 14,13 ns * ns NMMB 108,91 94,12 96,84 98,22 27,52 ns ns ns TMMB 90,01 64,82 65,00 65,25 28,77 ns ns ns Médias seguidas de letras diferentes maiúsculas para raça e minúsculas para nível energético diferem pelo teste F a 5% de probabilidade. ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. Houve efeito da raça (P<0,01) e da interação raça vs dieta (P<0,01) para o NBR, com o desdobramento da interação verificou-se que para raças dentro de dietas, houve efeito (P<0,05) apenas para a raça Canindé. Entretanto, para o efeito das dietas dentro das raças, observou-se que apenas a dieta de menor nível energético demonstrou efeito (P<0,01). Para o número de mastigação merícica por dia, os resultados demonstram a mesma tendência do NBR, onde não houve efeito significativo para a raça Moxotó em função da dieta, ao passo que a Canindé mastigou mais vezes por dia. Esta ocorrência é aceitável, uma vez que o NMMD é diretamente proporcional ao NBR, ou seja, quanto maior o número de bolos ruminais por dia, maior será o número de mastigações diárias. Por outro lado, o tempo de mastigação merícica por bolo (TMMB) apresentou uma relação inversamente proporcional às demais variáveis. Por esta razão, a Canindé despendeu menos tempo mastigando cada bolo ruminal. Isto demonstra que a raça Moxotó é mais lenta nestas atividades, gastando um maior tempo na mastigação por bolo ruminal, levando a um menor NBR e NMMD. 81 Segundo Mertens (2001), o tempo de mastigação está relacionado com o consumo de MS, concentração de FDN da dieta e tamanho da partícula. Neste sentido, embora o consumo de MS tenha sido mais elevado para a dieta 2,7 Mcal de EM que, por sua vez, continha menor concentração de FDN (45,02%), a dieta de 2,2 Mcal de EM proporcionou um tempo de mastigação superior, associada também a maior relação volumoso:concentrado (70:30) com maior percentual de FDN (53,69%). Outro fator que pode ter influenciado neste resultado está relacionado a uma maior quantidade de concentrado na dieta de 2,7 Mcal que, de acordo com Paulino et al. (2005) alimentos energéticos possuem maior coeficiente de digestibilidade e, desta forma, o tempo de mastigação necessário para esta dieta foi menor. Os resultados encontrados neste trabalho foram inferiores aos relatados por Ribeiro et al. (2006b) trabalhando com estas mesmas raças caprinas, com valores de 34.587 e 31.518 NMMD para animais alimentados com dieta contendo 40% de feno de tiffton fornecida à vontade e com 30% de restrição, respectivamente. No entanto, corroboram com àqueles evidenciados por Carvalho et al. (2004), trabalhando com cabras em lactação. Observam-se na Tabela 7 as médias e os coeficientes de variação (CV) das variáveis fisiológicas, urina, fezes e procura por água, expressa em mL/dia (urina), g/dia (fezes) e número de vezes por dia (para urina e fezes), além do consumo de água (L/dia) e L/kg de matéria seca consumida, em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta. 82 Tabela 7. Médias, desvios padrão e coeficientes de variação (CV) das variáveis fisiológicas, urina, fezes e procura por água, expressa em número de vezes por dia e consumo de água (C. Água) em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta Canindé 2,2 2,7 Mcal Mcal 6,70 6,17 CV (%) Raça Dieta RxD Fezes (nº/dia) Moxotó 2,2 2,7 Mcal Mcal 6,87 6,30 31,99 ns ns ns Fezes (g/dia) 489,0 214,0b 405,0 269,0b 31,74 ns ** ns Urina (nº/dia) 6,00 6,00 4,70 4,57 38,95 * ns ns 495,6Aa 215,8Bb 372,6Bb 279,7Bb 36,12 ns ** * 2,80 2,90 4,97 4,43 71,63 * ns ns 1,57 1,55 1,48 1,55 30,40 ns ns ns 2,99 2,39 2,22 2,28 29,47 ns ns ns Atividades Urina (mL / dia) Água (nº/dia) C. Água (L /dia) C. Água (L /kg MS) P>F Médias seguidas de letras diferentes maiúsculas para raça e minúsculas para nível energético diferem pelo teste F a 5% de probabilidade. ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05. Não houve efeito (P>0,05) para freqüência de defecação em função da raça nem da dieta, as médias encontradas variaram de 6,17 e 6,87 com maior freqüência para os animais que recebiam a dieta de menor nível de energia. Ribeiro et al. (2006b), trabalhando com estas mesmas raças constataram não haver diferença para esta variável, encontrando médias de 5,13 para a raça Moxotó e 5,60 para a Canindé. Souza (2007), trabalhando com ovelhas nativas encontrou efeito da raça para defecação, onde as médias variaram de 10,65; 9,10; 7,09 e 7,73 vezes por dia para as raças Cariri, Barriga Preta, Morada Nova e Cara Curta, respectivamente. Com relação à freqüência de defecação, França (2006) também não verificou diferença significativa para ovelhas Morada Nova no final da gestação recebendo dietas com níveis crescentes de energia. Tavares (2005), ao avaliar o efeito da inclusão de feno em substituição à palma na dieta de caprinos mestiços, não encontrou diferença significativa (P>0,05) para as variáveis fisiológicas, fezes e urina. 83 No que se refere à quantidade de fezes excretadas diariamente, houve efeito (P<0,01) desta variável em função da dieta oferecida, em que a dieta com menor nível energético favoreceu maior quantidade de fezes excretadas, com médias de 489,0 e 405,0 g/dia, para as raças Moxotó e Canindé, nesta ordem. Foi constatada diferença (P<0,05) para as variáveis fisiológicas, frequência urinária e frequência de procura por água em função da raça, mas não houve com relação à dieta (P>0,05). No entanto, verifica-se que a dieta influenciou na quantidade de urina excretada (P<0,01), uma vez que a dieta com menor nível energético proporcionou maior quantidade, com médias de 495,6 mL/dia e 372,6 mL/dia, para Moxotó e Canindé, respectivamente. Enquanto que os animais que receberam a dieta de maior oferta de energia, apresentaram médias de 215,8 mL/dia e 279,7 mL/dia, para Moxotó e Canindé, nesta ordem. Mesmo ocorrendo diferença na frequência de procura por água, não houve efeito (P>0,05) para o consumo de água L/dia, bem como L/kg de MS consumida. Os animais da raça Moxotó urinaram mais que os da raça Canindé, em número de vezes ao dia e em L/dia, enquanto que a procura por água foi maior para a raça Canindé. Apesar de não ter havido diferença entre as raças para o consumo em litros de água, os resultados apontam que os animais Canindé ingeriram menos por vez, porém em maior freqüência (Tabela 7). De acordo com Pereyra & Leiras (1991) os fatores que afetam o consumo de água são: calor, que promove aumento mais efetivo no consumo de água; CMS, que mantém uma relação direta com o consumo de água; suplementação mineral, que aumenta o consumo principalmente em fêmeas gestantes e lactantes; e confinamento, animais estabulados tendem ao aumentar o consumo em relação aos que estão em pastejo. Outro fato que pode ter influenciado na maior procura por água pela raça Canindé, é coloração escura da pelagem destes caprinos, que promove uma maior absorção de 84 calor do ambiente, levando-os a procurarem água com maior freqüência, com isto, a dissipação do calor ocorrerá pela conversão da água em forma de vapor, tanto pelo suor secretado pelas glândulas da pele quanto pela umidade do trato respiratório (Baeta & Souza, 1997), justificando-se com isto, a menor freqüência urinária. Por outro lado, segundo revisão feita por Morand-Fehr & Dureau (2001), uma redução no consumo de água não reduz sua excreção através da urina. Lisboa (2007), trabalhando com as carcaças destes mesmos animais encontrou diferença (P<0,05) para o peso do pulmão, em que a raça Canindé superou a Moxotó. Este dado reforça a afirmativa descrita acima, que estes podem ter adquirido ao longo do tempo uma maior eficiência respiratória, facilitando as trocas de calor através da respiração. De acordo com relatos encontrados por Silva (2006) a ingestão de água esta relacionada com o metabolismo energético e, conseqüentemente com o consumo de oxigênio. Para que ocorra a utilização do alimento pelo corpo, a água é inicialmente necessária para mastigar e engolir o alimento, bem como para os processos de digestão, que requerem homogeneização e translocação da digesta e fluidos dentro do lúmen gastrintestinal. Contudo, a estreita relação entre ingestão de água e de alimento, reflete as múltiplas interações de água e trocas energéticas em nível de tecidos e células. Para complementar a afirmativa feita por Silva (2006), Ferreira et al. (2002) postulam que os caprinos necessitam de menos água que os ovinos para ganhar um quilo de peso vivo e, pontuam que dietas com mais energia requerem mais água que as dietas com baixa energia. Torreão (2007) enfatiza que tal informação dá suporte à idéia de que o aumento da densidade energética da dieta pode ser um eficiente caminho para amenizar o estresse pelo calor, levando em consideração que nessa situação aumentaria 85 o consumo de água. Entretanto, no presente estudo, o nível energético da dieta não influenciou na ingestão de água. 86 Conclusões Os caprinos Moxotó e Canindé são muito seletivos, mesmo sendo alimentados com ração completa, com maior preferência para pequenos tamanhos de partícula, independente do nível energético da dieta. A dieta com menor nível energético proporciona menor tempo de ócio e maior tempo ruminação, diminuindo a eficiência alimentar de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento. A raça Moxotó demonstra maior freqüência urinária e menor freqüência de procura por água ao longo do dia. Entretanto, recebendo a dieta com 2,7 Mcal de EM/ kg de MS, excreta menor quantidade de urina em litros por dia. 87 Referências Bibliográficas ALLEN. M.S. Physical Constraints on Voluntary Intake of Forages by Ruminants. Journal of Animal Science, v. 74, p. 3063–3075, 1996. BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. Viçosa: UFV, 1997. 246 p. BÜRGER, P.J.; PEREIRA, J.C.; QUEIROZ, A.C. et al. Comportamento ingestivo em bezerros holandeses alimentados com dietas contendo diferentes níveis de concentrado. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.1, p.236-242, 2000. CARDOSO, A.R.; CARVALHO, S.; GALVANI, D.B. et al. Comportamento ingestivo de cordeiros alimentados com dietas contendo diferentes níveis de fibra em detergente neutro. Ciência Rural, v.36, n.2, p. 2006. CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.V.; SILVA, R.R. et al. Comportamento ingestivo de ovinos alimentados com dietas compostas de silagem de capim-elefante amonizada ou não e subprodutos agroindustriais. Revista Brasileira de Zootecnia, v.35, n.4, p.1805-1812, 2006. CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.V.; SILVA, F.F. et al. Comportamento ingestivo de cabras leiteiras alimentadas com farelo de cacau ou torta de dendê. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.39, n.9, p.919-925, set. 2004. CARVALHO, G.G.P.; PIRES, A.J.V.; SILVA, H.G.O. et al. Aspectos metodológicos do comportamento ingestivo de cabras lactantes alimentadas com farelo de cacau e torta de dendê. Revista Brasileira de Zootecnia, v.36, n.1, p.103-110, 2007 COZZI, G.; GOTTARDO, F. Feeding behaviour and diet selection of finishing Limousin bulls under intensive rearing system. Applied Animal Behaviour Science, v. 91, p. 181–192, 2005. FERREIRA, A.V.; HOFFMAN, L.C.; SCHOEMAN, S.J. Water intake of Boer goats and mutton merinos receiving either a low of high energy feedlot diet. Small Ruminant Research, v.43, p.245-248, 2002. FISCHER, V.; DESWYSEN, A.G.; DÉSPRÉS, L.; et al. Padrões Nectemerais do comportamento ingestivo de ovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.27, n.2, p.362-369, 1998. FRANÇA, S.R.L. Níveis de energia metabolizável para ovelhas Morada Nova, no terço final da gestação. Areia: Universidade Federal da Paraíba, 2006, 55p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2006. HADJIGEORGIOU, I.E.; GORDON, I.J.; MILNE, J.A. Intake, digestion and selection of roughage with different staple lengths by sheep and goats. Small Ruminant Research, v. 47, p. 117–132, 2003. ÍTAVO, L.C.V.; VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, F.F. et al. Níveis de concentrado e proteína bruta na dieta de bovinos Nelore nas fases de recria e terminação: Consumo e digestibilidade. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.2, p.10331041, 2002. 88 LISBOA, A.C.C. Dados não publicados, 2007. MERTENS, D. R. FDN fisicamente efetivo e seu uso na formulação de ração para vacas leiteiras In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE BOVINOCULTURA DE LEITE: Novos conceitos em Nutrição, 2., 2001. Lavras. Anais....Lavras: Universidade Federal de lavras, p.38, 2001. MERTENS, D.R. Regulation of forage intake. EVALUATION, AND UTILIZATION, 1994, Wisconsin: 1994. p.450-493. In: FORAGE QUALITY, Wisconsin. Proceedings… MORAND-FEHR, P.; DOREAU, M. Ingestion et digestion chez les ruminants soumis à um stress de chaleur. INRA Production Animal, v.14, p.15-27, 2001. NATIONAL.RESEARCH COUNCIL – (NRC). Nutrient requirement of domestics animals: nutrient requirement of goats. Washington, D.C. 1981. 91 p. PAULINO, M.F.; MORAES, E.H.B.K.; ZERVOUDAKIS, J.T. et al. Fontes de energia em suplementos múltiplos de auto-regulação de consumo na recria de novilhos mestiços em pastagens de Brachiaria decumbens durante o período das águas. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.3, 2005. PEREYRA, H.; LEIRAS, M.A. Comportamento Bovino de Alimentación, Rumia y Bebida. Fleckvieh-Simental, v. 9, n. 51, p. 24-27,1991. PIRES, M.F.A.; VERNEQUE, R. S.; VILELA, D. Ambiente e comportamento animal na produção de leite. Informativo Agropecuário, v. 22, n.211, p. 11-22, 2001. POLLI, V.A.; RESTLE, J.; SENNA, D.B. et al. Aspectos relativos à ruminação de bovinos e bubalinos em regime de confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.25, p.987-993, 1996. RAMOS, A.O.; VERAS, A.S.C.; FERREIRA, M.A. et al. Comportamento ingestivo de vacas holandesas em lactação consumindo palma com diferentes tipos de volumosos. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE DE ZOOTECNIA, 43., 2006. Anais... João Pessoa: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2006. CD-ROM. RIBEIRO, V.L.; BATISTA, A.M.V.; CARVALHO, F.F.R. et al. Avaliação do hábito seletivo de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento através da granulometria do alimento. In: CONGRESSO NORDESTINO DE PRODUÇÃO ANIMAL, 4., 2006, Petrolina. Anais... Petrolina: Sociedade Nordestina de Produção Animal, 2006a. (CD ROM). RIBEIRO, V.L.; BATISTA, A.M.V.; CARVALHO, F.F.R. et al. Comportamento ingestivo de caprinos Moxotó e Canindé submetidos à alimentação à vontade e restrita Acta Scientarium Animal Sciences, v. 28, n. 3, p. 331-337, 2006b. SILANIKOVE, N. Effects of water scarcity and hot environment on appetite and digestion in ruminants: a review. Livestock Production Science, v.30, p.175-194, 1992. SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de Alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa/MG: UFV, 2002, 235 p. SILVA, R.R.; SILVA, F.F.; CARVALHO, G.G.P. et al. Comportamento ingestivo de novilhas mestiças de Holandês x Zebu confinadas. Archivos de Zootecnia, v. 54, p. 75-85, 2005. 89 SILVA, J. F. C. Mecanismos reguladores de consumo. In: BERCHIELLI, T.T.; PIRES, A.V.; OLIVEIRA, S.G. (Ed.) Nutrição de Ruminantes. Jaboticabal: Funepe, 2006. p. 57-77. SOUZA, C.M.S. Desempenho e Comportamento Ingestivo de Ovelhas Nativas do Semi-árido Nordestino, em Confinamento. Areia: Universidade Federal da Paraíba, 2007, 79p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2007. SOUZA, S.R.M.B.O.; ÍTAVO, L.C.V.; RIMOLI, J. et al. Comportamento ingestivo diurno de bovinos em confinamento e em pastagens. Archivos de Zootecnia, v. 56, p. 67-70, 2007. TAVARES, A.M.A.; VÉRAS, A.S.C.; BATISTA, A.M.V. et al. Níveis crescentes de feno em dietas à base de palma forrageira para caprinos em confinamento: Comportamento ingestivo. Acta Scientarium Animal Sciences, v.27, n.4, p.497504, 2005. TORREÃO, J. N. C. Níveis de energia em ovelhas Morada Nova no terço final da gestação e no pós-parto. Areia: Universidade Federal da Paraíba, 2007, 160p.Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal da Paraíba, 2007. VAN SOEST, P.J. Nutritiond ecology of the ruminant. 2.ed. Ithaca Cornell University Press, 1994, 476p.