UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
COMPORTAMENTO INGESTIVO E UTILIZAÇÃO DE
NUTRIENTES POR CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ
SUBMETIDOS A DIETAS COM DOIS NÍVEIS DE ENERGIA
LÍGIA MARIA GOMES BARRETO
Zootecnista
AREIA – PARAÍBA
MAIO DE 2008
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA
COMPORTAMENTO INGESTIVO E UTILIZAÇÃO DE NUTRIENTES
POR CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ SUBMETIDOS A DIETAS
COM DOIS NÍVEIS DE ENERGIA
LÍGIA MARIA GOMES BARRETO
AREIA – PARAÍBA
MAIO DE 2008
iii
LÍGIA MARIA GOMES BARRETO
COMPORTAMENTO INGESTIVO E UTILIZAÇÃO DE NUTRIENTES POR
CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ SUBMETIDOS A DIETAS COM DOIS
NÍVEIS DE ENERGIA
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Zootecnia, do Centro
de Ciências Agrárias, da Universidade
Federal da Paraíba, como parte das
exigências para a obtenção do titulo de
Mestre
em
Zootecnia,
Área
de
concentração: Produção Animal.
Comitê de Orientação:
Prof. Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros – CCA/UFPB
Prof.ª Drª. Ângela Maria Vieira Batista – DZ/UFRPE
Prof. Dr. Gherman Garcia Leal Araújo – Embrapa/CPATSA
AREIA – PARAÍBA
MAIO DE 2008
iv
v
Ficha Catalográfica Elaborada na Seção de Processos Técnicos da
Biblioteca Setorial de Areia-PB, CCA/UFPB.
Bibliotecária: Elisabete Sirino da Silva CRB. 4/905
B273c
Barreto, Lígia Maria Gomes.
Comportamento ingestivo e utilização de nutrientes por caprinos
Moxotó e Canindé submetidos a dietas com dois níveis de energia./ Lígia
Maria Gomes Barreto – Areia- PB:UFPB/CCA, 2008.
107 f.
Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal da
Paraíba - Centro de Ciências Agrárias, Areia, 2008.
Bibliografia
Orientador: Ariosvaldo Nunes de Medeiros
1. Caprinos nativos- nutrição 2. Caprinos nativos- alimentaçãomaniçoba 3. Caprinos-dietas-energia metabolizável I. Medeiros, Ariosvaldo
Nunes de (Orientador) II. Título.
CDU: 636 39:636.085(043.3)
vi
Cada pensamento,
Cada palavra,
Cada sussurro,
Cada porém de estar aqui agora,
Me faz acreditar,
Que vivemos muito além do que pensamos.
Cada amanhecer,
Cada entardecer,
Cada anoitecer,
Me faz perceber que a vida é muito mais,
Do que somos capazes de imaginar.
Cada lágrima,
Cada dor,
Cada momento,
Me faz entender que por mais
Que fugimos,
O acaso sempre nos encontra,
Pois algumas coisas são certas
E uma delas é de que
Sofrer também faz parte da história de cada um.
Cada vitória,
Cada sorriso,
Cada nova vida,
Me faz amar as melhores coisas que existem,
E a superar aquelas
Que por mais que aparentam invencíveis,
Acabam por si,
Quando abraçamos a fé em DEUS.
(Adaptado de Fabiana Thais Oliveira)
vii
A todos os Heróis Sertanejos que se mantêm firmemente em suas
propriedades rurais com o honrado mérito de Criadores de Caprinos e
Ovinos da Região do Cariri Paraibano.
Ofereço
viii
Aos meus pais, alicerces da minha vida, meus tesouros
José Gomes Filho e Maria de Lourdes Barreto Gomes
As minhas irmãs, com todo meu carinho
Esther, Jacinta e Amanda
E a minha amada sobrinha, presente de Deus para
nossa Família
Anna Laryssa
Dedico
ix
AGRADECIMENTOS
Ao senhor de tudo, o Deus da vida e fonte da minha existência, pela companhia
constante e provas de fé, por me permitir crescer mais espiritualmente a cada batalha
vencida.
A minha família, base emocional da minha vida, àquela que dá suporte aos
momentos de intensa tensão, que me renova as forças da alma quando a carência afetiva
aflora. Responsáveis pela minha educação, sempre priorizando o respeito e amor ao
próximo e, deixando o legado que o esforço pelo estudo e trabalho são os valores mais
dignos que podemos ter.
A Jone Emanuel, pelo amor, atenção e apoio incondicional, por ser companheiro,
confidente, amigo, “ouvido de todas as noites”, pela dedicação e espera constante. Por ser a
outra base emocional da minha vida, fazendo-me sentir a pessoa mais especial do mundo e
por compartilhar os sonhos comigo.
A Universidade Federal da Paraíba, que tem me apoiado desde o período de
Graduação, especialmente ao Programa de Pós-Graduação em Zootecnia pela oportunidade
de realização do curso.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela
concessão da bolsa de estudos.
Ao meu orientador Prof. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, por permitir uma relação
de amizade e confiança, por ser responsável pela minha formação neste período, exemplo
de trabalho e dedicação, a quem tenho muita gratidão.
Ao Corpo Docente do Programa de Pós Graduação em Zootecnia, PPGZ/CCA
pelos conhecimentos repassados, pela compreensão e incentivo na minha caminhada.
Ao professor Edgard C. Pimenta Filho, pela amizade, pelo exemplo de inteligência
e dedicação, por ter me orientado nos primeiros passos da minha jornada acadêmica, pelo
incentivo a continuar na Pós-Graduação.
A professora Ângela Maria Vieira Batista, por me receber na UFRPE e permitir que
eu aprendesse um pouco do muito que sabe, por ser uma mulher inteligente e vencedora.
Minha admiração e gratidão.
Ao professor Severino Gonzaga Neto, pelas demonstrações de respeito, incentivo,
amizade e carinho, a quem tenho muita admiração. E ao professor Dermeval de Araújo
Furtado, pelas contribuições na qualificação.
x
Ao professor Dr. Walter Esfrain Pereira por estar sempre disposto a colaborar nas
análises estatísticas, e por nos receber com tanto desvelo.
A banca examinadora: Profª. Adriana Guim e Prof. Paulo Sérgio de Azevedo, pela
contribuição no enriquecimento deste trabalho.
As funcionárias do PPGZ Maria das Graças S. C. Medeiros, Jacilene Castro,
Elizabete e D. Carmem, por todos os momentos vividos e pela disposição em ajudarmos
sempre que precisamos.
Aos funcionários da Estação Experimental de São João do Cariri/UFPB, e a suas
famílias que me acolheram com tanto carinho e respeito.
Aos funcionários do Laboratório de Nutrição Animal, Zé Alves, Charlys, Antônio
(Duelo) e Antônio Costa, pela atenção e dedicação que me foram prestadas.
Aos funcionários do Laboratório de Física dos Solos, Roberval, D. Sula, Sr. Pelé,
Sr. Chico e ao Professor Ivandro (responsável pelo laboratório).
Aos funcionários da Diretoria do CCA/UFPB, Ivandro Cândido e Lourdes Maria,
e ao motorista Zé Ramos, meus amigos, com todo meu carinho.
A amiga Cicília Maria Silva de Souza, pela valiosíssima e constante ajuda desde o
início da minha caminhada, pela grande contribuição nesta última etapa.
A grande família de “Caririzeiros temporários”: Ana Cristina e Jória (companheiras
de experimento), Cicília, Luciana, Alexandre Braga, Alexandre Cortes, Erllens, Valdi,
Henrique, Verônica, Leila, Kalyana, Karina, Iracema, Anaiane, Agenor, Niraldo, Ênio e
Miguel, pelo auxílio, vivência e pelos momentos divertidos durante o trabalho de campo (ê
saudade!!!).
A todos que me auxiliaram nas exaustivas madrugadas de observações do
comportamento e nas árduas coletas de urina: os “Caririzeiros temporários” e os demais,
Darklê, Danieli Pereira, Tiago Araújo, Paulo Henrique, Anderson, Emannuel, Delka,
Tobyas, Emerson, Robson e Claudemir.
A Aldivan Rodrigues, pela grandiosa ajuda nas análises laboratoriais. E a Jacira N.
C. Torreão, exemplo de inteligência, por todo incentivo, ensinamentos e amizade.
Aos amigos do Mestrado, que ingressaram comigo em 2006: Aurinês, Camila,
Michelle, Emannuel, Helton, Janaína, Emerson, Tiago, Cristina, Delka, Aluska, Emerson,
Andréa e Denize.
Aos companheiros e amigos da Pós Graduação: Darklê, Marcos Jácome, Carlo
Aldrovandi, Severino, Danúsio, Marcelo, Renata, Araken, Leilson, Julicelly (prima July),
Tobyas e Carol, valeu a convivência e os grandes momentos que passamos juntos.
xi
As companheiras e amigas da república feminina da Pós-Graduação: Juliana (Nana)
Delka, Jussara, Jailma e Bárbara, pelo convívio e amizade ao longo desta caminhada.
A todos da UFRPE, pela acolhida e ajuda impagável, Daniele Matos, Rinaldo,
Regina, Raquel, Cleidida, Fátima Takata, Ednéia, Tatiana Neres, Claudiney, Renaldo,
Valmir e Márcio Vilela.
Aos meus familiares e àqueles que mesmo não tendo grau de parentesco, fazem
parte da minha família: Amélia “Uma” (minha segunda mãe), minhas tias, primas
(Estephânia e Gorete), primos, Rejane, Yomana, Nika, Fafá, Madrinha Lourdes e
Aguinaldo, Dara, Danieli, D. Cleonides e demais componentes da família Pereira e seus
agregados, pela amizade, torcida e palavras de incentivo e afeto.
Ao Padre João Jorge Rietveld, homen inteligente, pesquisador nato e escritor da
história do Cariri paraibano, incentivador do estudo constante aos jovens da região.
Obrigada pela torcida, incentivo e amizade pela minha família.
E finalmente, a todos aqueles que de alguma forma torceram por mim, criticaram,
se omitiram, colaboraram ou simplesmente esperaram pela concretização de mais uma
etapa em minha vida.
Muito Obrigada!!!
xii
BIOGRAFIA DA AUTORA
LÍGIA MARIA GOMES BARRETO - Filha de José Gomes Filho e Maria de Lourdes
Barreto Gomes, nascida em 09 de Fevereiro de 1983, na cidade de Santo André,
Paraíba, onde estudou na Escola Estadual Álvaro Gaudêncio de Queiroz desde o
primário até sua conclusão do ensino médio em 2000. Em 2001 ingressou no curso de
Zootecnia da Universidade Federal da Paraíba. Quando acadêmica foi bolsista
PIBIC/CNPq por 44 meses, participando de diversos trabalhos nas áreas de Sistemas de
Produção, Reprodução e Nutrição Animal. Neste período foi orientada pelo professor
Dr. Edgard Cavalcanti Pimenta Filho. Em 17 de Junho de 2006, formou-se em
Zootecnia pela UFPB. Em Março de 2006 ingressou no Curso de Mestrado em
Produção Animal, pela Universidade Federal da Paraíba, no qual foi bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES,
desenvolvendo sua pesquisa na área de Nutrição de Ruminantes, sob a orientação do
professor Dr. Ariosvaldo Nunes de Medeiros, submetendo-se à defesa da Dissertação
em 21 de Maio de 2008. Em 04 de Março de 2008 ingressou no Programa de Doutorado
Integrado em Zootecnia, por esta mesma Instituição.
xiii
SUMÁRIO
Páginas
Lista de Tabelas .........................................................................................................
xv
Lista de Figuras .........................................................................................................
xvii
Resumo Geral .............................................................................................................
xix
Abstract ……………………………………………………………………………..
xx
Capítulo I - Referencial Teórico ...............................................................................
1
Os caprinos nativos do semi-árido nordestino ..........................................................
2
Importância da energia na nutrição de ruminantes ..................................................
5
Efeito do nível energético da dieta sobre o consumo e a digestibilidade ..................
7
Comportamento ingestivo e mastigação merícica .....................................................
10
Referências Bibliográficas .........................................................................................
16
Capítulo II – Consumo e Digestibilidade Aparente de Rações com Diferentes
Níveis de Energia por Caprinos Moxotó e Canindé em Confinamento .....................
21
Resumo .......................................................................................................................
22
Abstract ……………………………………………………………………………..
23
Introdução ..................................................................................................................
24
Material e Métodos ....................................................................................................
27
xiv
Resultados e Discussão ..............................................................................................
34
Conclusões .................................................................................................................
51
Referências Bibliográficas .........................................................................................
52
Capítulo III – Comportamento Ingestivo de Caprinos Moxotó e Canindé em
Confinamento, Sob Efeito de Dois Níveis de Energia na Dieta ................................
54
Resumo .......................................................................................................................
55
Abstract ……………………………………………………………………………..
56
Introdução ..................................................................................................................
57
Material e Métodos ....................................................................................................
59
Resultados e Discussão ..............................................................................................
66
Conclusões .................................................................................................................
84
Referências Bibliográficas .........................................................................................
85
xv
LISTA DE TABELAS
Capítulo II
Página
Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental com base
na matéria seca .......................................................................................
28
Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta
experimental com base na matéria seca ................................................
29
Tabela 3. Composição das dietas experimentais efetivamente consumidas pelos
caprinos Moxotó e Canindé .....................................................................
34
Tabela 4. Porcentagem do tamanho da partícula retida nas peneiras para as sobras
e dietas ofertadas e coeficientes de variação (CV), de caprinos Moxotó
e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta ..........................
36
Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) dos consumos de matéria seca
(CMS), matéria orgânica (CMO), proteína bruta (CPB), extrato etéreo
(CEE), nutrientes digestíveis totais (CNDT) e energia metabolizável
(CEM), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético
da dieta .....................................................................................................
38
Tabela 6. Médias e coeficientes de variação (CV) dos consumos de fibra em
detergente neutro (CFDN), carboidratos totais (CCHOT) e
carboidratos não fibrosos (CCNF), em função das raças de caprinos
nativos e do nível energético da dieta .....................................................
41
Tabela 7. Médias e coeficientes de variação (CV) para o coeficiente de
digestibilidade aparente da matéria seca (CDAMS), matéria orgânica
(CDAMO), proteína bruta (CDAPB), extrato etéreo (CDAEE), fibra
em detergente neutro (CDAFDN), carboidratos totais (CDACHOT) e
carboidratos não fibrosos (CDCNF), em função das raças de caprinos
nativos e do nível energético da dieta .....................................................
45
Tabela 8. Médias e coeficientes de variação (CV) do peso médio inicial (PMI) e
peso médio final (PMF), ganho de peso total (GPT) e ganho de peso
médio diário (GPMD), em função das raças de caprinos nativos e do
nível energético da dieta ..........................................................................
48
xvi
LISTA DE TABELAS
Capítulo III
Página
Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental com base
na matéria seca .........................................................................................
60
Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta
experimental com base na matéria seca ................................................
61
Tabela 3. Composição das dietas experimentais efetivamente consumidas pelos
caprinos Moxotó e Canindé ....................................................................
66
Tabela 4. Porcentagem do tamanho da partícula retida nas peneiras para as sobras
e dietas ofertadas e coeficientes de variação (CV), de caprinos Moxotó
e Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta ...........................
68
Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) dos tempos despendidos em
alimentação (TAL), ruminação (TRU) e ócio (TO), consumos de
matéria seca (CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro
(CFDN), eficiências de alimentação (EAL) e ruminação (ERU) e
tempo de mastigação total (TMT), em função das raças de caprinos
nativos e do nível energético da dieta ......................................................
73
Tabela 6. Médias e coeficientes de variação para o números de bolos ruminais por
dia (NBR), número de mastigação merícica por dia (NMMD), números
de mastigação merícica por bolo (NMMB) e tempo de mastigação
merícica por bolo (TMMB/seg), de caprinos Moxotó e Canindé
submetidos a dois níveis de energia na dieta ............................................
78
Tabela 7. Médias, desvios padrão e coeficientes de variação (CV) das variáveis
fisiológicas, urina, fezes e procura por água, expressa em número de
vezes por dia e consumo de água (C. Água) em função das raças de
caprinos nativos e do nível energético da dieta ......................................
80
xvii
LISTA DE FIGURAS
Capítulo I
Página
Figura 1: Figura 1: Raças de caprinos Moxotó (A) e Canindé (B) .......................
4
xviii
LISTA DE FIGURAS
Capítulo III
Página
Figura 1: Tempos de alimentação (TAL), ócio (TO) e ruminação (TRU) de
caprinos Moxotó e Canindé, durante 24 horas, consumindo a dieta
de 2,7 Mcal de EM/kg de MS ..............................................................
71
Figura 2: Tempos de alimentação (TAL), ócio (TO) e ruminação (TRU) de
caprinos Moxotó e Canindé, durante 24 horas, consumindo a dieta
de 2,2 Mcal de EM/kg de MS ..............................................................
71
xix
COMPORTAMENTO INGESTIVO E UTILIZAÇÃO DE NUTRIENTES POR
CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ SUBMETIDOS A DIETAS COM DOIS NÍVEIS
DE ENERGIA
RESUMO GERAL - Com a realização deste trabalho, objetivou-se avaliar o
comportamento ingestivo, a seletividade, o consumo de nutrientes a digestibilidade e o
desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento, sob o efeito de dois
níveis de energia metabolizável na dieta. Foram utilizados 40 machos castrados, com
peso médio inicial de 15,22 kg, das raças Moxotó e Canindé, sendo 20 animais para o
ensaio de digestibilidade. Foram distribuídos aleatoriamente em um delineamento
inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x2 (duas raças e duas dietas). As dietas
experimentais utilizadas foram: D1 = dieta com menor nível energético, contendo 2,2
Mcal de EM/ kg de MS e uma relação volumoso:concentrado de 70:30, D2 = dieta com
maior nível energético; 2,7 Mcal de EM/ kg de MS com relação volumoso:concentrado
de 35:65. Para o comportamento ingestivo foram realizadas observações a cada cinco
minutos, durante 24 horas, para determinação do tempo despendido em alimentação,
ruminação e ócio. Além da determinação da mastigação merícica e número médio de
defecação e micção, freqüência de ingestão de água e consumo de água. Para o consumo
de nutrientes e digestibilidade os animais foram mantidos em gaiolas para ensaio de
metabolismo durante um período de 15 dias. O nível de energia da dieta influencia na
eficiência de alimentação, no tempo de mastigação total e no número de mastigações
diárias dos animais estudados. A raça Moxotó demonstra maior freqüência urinária e
menor freqüência de procura por água ao longo do dia. Entretanto, recebendo a dieta
com 2,7 Mcal de EM/ kg de MS, excreta menor quantidade de urina em litros por dia. A
dieta com 2,7 Mcal de EM/kg de MS proporciona maior consumo de nutrientes pelos
animais e a que apresenta melhores coeficientes de digestibilidade. Caprinos da raça
Moxotó e Canindé, alimentados com ração completa, têm maior preferência a tamanhos
de partículas que variam de 1,0 a menos de 0,5 mm. Dietas com maior nível energético,
proporcionam melhor consumo e desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em
confinamento. Entretanto, a raça Canindé, embora criada sob as mesmas condições de
manejo que a Moxotó, demonstra maior ganho em peso.
Palavras-chaves: Caprinos nativos, energia metabolizável, maniçoba, Semi-Árido
xx
INGESTIVE BEHAVIOUR AND NUTRIENTS
UTILIZATION BY MOXOTO AND CANINDE GOATS
UNDER DIETS WITH TWO ENERGETIC LEVELS
GENERAL ABSTRACT - This research was conducted with the objective to
evaluate the ingestive behavior, feeding selectivity, intake and apparent digestibility of
the nutrients and performance of Moxoto and Caninde goats in feedlot, under the effect
of two levels of metabolizable energy in the diet. Forty males non intact, being 20 from
Moxotó and 20 from Caninde breeds, with average initial weight of 15.22 kg, were used
to metabolism trial. The goats were assigned a completely randomized design in a 2 x 2
factorial arrangement (two breeds and two diets). The experimental diets used were:
D1= diet with lower energetic level, with 2.2 Mcal ME/kg dry matter (DM) and
roughage:concentrate ratio of 70:30; D2= diet with higher energetic level, with 2.7 Mcal
ME/kg DM and roughage:concentrate ratio of 35:65. It were used visual observations to
each five minutes, during a period of 24 h, to measured of time spent with feeding,
rumination and leisure time. In addition, the number of rumination chews, the average
number of time that animals make feces and urine, the water intake and frequency, were
also measured. During the metabolism trial (15 days), the animals were housed
individually in metabolism pen to determine the intake and apparent digestibility of the
nutrients. The energetic level of the diet influence the feeding efficiency, total time
chewing and number daily chews of animals studied. The Moxoto breed showed higher
urinary frequency and lower water intake frequency during the day than Caninde breed.
On the other hand, when the Moxoto animals received the diet with 2.7 Mcal ME/kg
DM, they outputted less urine (L/day) than Caninde breed. The diet with 2.7 Mcal
ME/kg DM caused higher intake and better digestibility of the nutrients. The Moxoto
and Caninde goats fed with complete rations have higher preference to feed size
particles ranging from 1.0 to less 0.5 mm. The diet with higher energetic level caused
better intake and performance of animals under feedlot. However, the Caninde breed
reared under the same management conditions that Moxoto breed, showed higher
weight gain.
Key words – Indigenous goats, maniçoba, metabolizable energy, semi-arid
1
Capítulo I
Referencial Teórico
Comportamento Ingestivo e Utilização de Nutrientes por Caprinos Moxotó e
Canindé Submetidos a Dietas com Dois Níveis de Energia
2
Referencial Teórico
Os caprinos nativos do semi-árido nordestino
A região Nordeste abrange uma área total de 166,2 milhões de hectares, dos
quais 95,2 milhões (57%) estão inseridos na zona semi-árida, área de forte vocação
pecuária, especialmente, para a exploração dos pequenos ruminantes, com população
caprina de 7.109.052 animais, que corresponde a 90% do efetivo nacional (IBGE,
2006). Neste contexto, sobressaem-se os caprinos nativos em face de sua característica
de adaptação a ecossistemas adversos, o que é fortemente influenciado pelos seus
hábitos alimentares.
Estudos sobre caprinos nativos da região Nordeste brasileira estão sendo
realizados com o intuito de reunir o maior número de informações possíveis sobre suas
características produtivas e reprodutivas, bem como sua capacidade adaptativa as
condições climáticas do ambiente semi-árido. No entanto, ainda são insipientes as
informações de características comportamentais de caprinos nativos, os quais incluem,
entre outras, as raças: Marota, Graúna, Azul, Repartida, Moxotó e Canindé, estas
últimas destacadas por apresentarem-se mais numerosas.
Segundo Oliveira et al. (2006), a caracterização racial é conhecida como sendo o
perfil fenotípico através de caracteres étnicos em um determinado local, assim como a
herança genética conhecida e que são marcantes no genótipo ou na raça, pelo qual
podem auxiliar a análise de uma situação de um determinado grupo genético ou raça.
3
O primeiro registro de que se tem notícia da presença dos caprinos no Nordeste
data de 1535, no início do período colonial do Brasil. De acordo com revisão feita por
Oliveira et al. (2004) e Ribeiro et al. (2004), na época da colonização do Brasil, os
caprinos, juntamente com outros animais domésticos, foram trazidos da Península
Ibérica, e introduzidos através dos três principais pólos de colonização do país: São
Vicente (1534); Recife (1535) e Salvador (1550). A partir dessas áreas os caprinos
foram difundidos para outras regiões do Brasil. Após centenas de anos, com o processo
de seleção natural ao longo de várias gerações, estes animais adquiriram capacidade de
sobrevivência as nossas condições, tornando-se também muito prolíficos. Além disto,
apresentam características comuns como pequeno porte, pêlos curtos, orelhas pequenas
e baixa produção de leite, diferenciando-se quase que tão somente pela cor da pelagem.
O Nordeste brasileiro tornou-se berço de muitas raças de caprinos nativos, por
suas características climáticas análogas as regiões de origem desses animais, que
favoreceram fortemente no processo adaptativo, proporcionando aos mesmos
particularidades que despertaram interesse de criadores e pesquisadores da área.
A raça Moxotó apresenta a maior população comparada com outras raças nativas
(Rocha, 2007). Também chamada de "Lombo-Preto" a Moxotó é a única raça de
caprinos nativos reconhecida oficialmente e que tem registro genealógico. Introduzida
no País pelos colonizadores, supõem-se ser descendente da raça Serpentina de Portugal,
é originária do Vale do Rio Moxotó, em Ibimirim-Inajá, no Estado de Pernambuco, de
onde provém o nome. Atualmente também é criada nos Estados da Bahia, Ceará,
Paraíba e Piauí (Oliveira et al., 2004).
É uma raça rústica, de porte pequeno e aptidão mista, para carne, leite e pele.
Possui pelagem branca, com uma listra negra descendo da base dos chifres, lateralmente
até a ponta do focinho e ao longo do dorso, tomando quase toda sua extensão. O ventre,
4
úbere e membros são normalmente pretos. As orelhas são pequenas e as mucosas e
unhas pigmentadas. O peso médio para a raça é de 31 kg, com altura de
aproximadamente 62 cm (Oliveira et al., 2004).
O caprino Canindé, nativo do Nordeste brasileiro, possivelmente, é originário da
raça Grisonne Negra, dos Alpes Suíços. Também existem afirmativas de que originouse da região do Rio Canindé, no Estado do Piauí. As áreas de maior ocorrência da raça
encontram-se nos Estados do Piauí, Paraíba e Rio Grande do Norte (Oliveira et al.,
2004).
Apresenta a cabeça negra, com mancha baia, de tamanho variado na região do
pescoço. Possui na face, uma faixa branca (“lágrima”) estreita que percorre a arcada
orbitária pelo lado interno, descendo até os lacrimais, ou um pouco mais. Os pêlos da
parte externa da orelha são negros e claros na parte interna. A linha branca ventral tem
início na base do peito, seguindo pelas axilas, passando pela região inguinal até a base
de inserção da cauda, com pêlos claros também nas extremidades dos membros. É
comum encontrar animais com pelagem preta e vermelha ao invés de preta e baia. Esta
raça apresenta peso corporal médio de 35 a 40 kg e altura aproximada de 55 cm
(Oliveira et al., 2004).
As raças de caprinos nativos descritas acima estão representadas na Figura 1.
A
Figura 1: Raças de caprinos Moxotó (A) e Canindé (B)
B
5
6
Importância da energia na nutrição de ruminantes
A alimentação é um dos principais componentes limitantes à produção de carne
no nordeste do Brasil. A crescente procura pela carne de pequenos ruminantes requer
melhorias que visem aumento de produtividade dos rebanhos, exigindo, dessa forma,
estudos que possibilitem estabelecer quantidades de energia que atendam às
necessidades desses animais, observando o tipo de alimento empregado, pois, o melhor
desempenho depende das características do animal e da elaboração de dietas mais
eficientes (Alves et al., 2003).
A eficiente utilização dos alimentos depende de um suprimento adequado de
energia, pois, a deficiência de energia retarda o crescimento, aumenta a idade à
puberdade, reduz a fertilidade, diminui o ganho de peso e a produção leiteira (Resende,
1996). Segundo Oliveira (1992), no suprimento dos requerimentos nutricionais dos
caprinos, assim como de outras espécies de animais, a energia, combustível celular
presente em diversos nutrientes (proteínas, carboidratos e lipídios) é, quantitativamente,
o mais importante.
De acordo com o NRC (1981), as exigências de energia também são afetadas
pelo ambiente, crescimento do pêlo, atividade muscular e a interação da energia com
outros componentes da dieta. A temperatura, umidade, radiação solar, e velocidade do
vento podem aumentar ou diminuir as necessidades energéticas dependendo da região.
Contudo, um estresse de qualquer tipo pode aumentar exigências de energia do animal.
O funcionamento dos órgãos vitais, a atividade e renovação das células, os
processos de utilização dos alimentos, o tônus muscular e a atividade física espontânea
são processos que consomem energia. Parte dessa energia se dissipa sob a forma de
calor, sendo isso, em geral, mais que suficiente para manter constante a temperatura
7
interna dos ruminantes, quando submetidos a ambientes com baixa temperatura
(Ribeiro, 1997).
De acordo com revisão feita por Silva et al. (2006), quando os caprinos estão em
uma zona de termoneutralidade o mínimo de energia é requerida para manter constante
a temperatura corporal. Entretanto, quando esses animais são expostos a temperaturas
ambientais acima ou abaixo da temperatura crítica inferior, há necessidade de energia
adicional para manter o comportamento fisiológico. Portanto, em situação estressante, a
energia se torna um fator limitante, devido ao seu maior requerimento e menor
fornecimento, em virtude da redução na ingestão de alimentos.
Os sistemas de avaliação de alimentos expressam o conteúdo energético de um
alimento, bem como a exigência energética de um animal, de diversas formas:
nutrientes digestíveis totais (NDT), energia bruta, energia digestível, energia
metabolizável e energia líquida, sendo que, esta última considera o incremento calórico
e, ainda, os estádios fisiológicos dos animais, como manutenção, crescimento, gestação
e lactação (Silva & Leão, 1979; AFRC, 1993; NRC, 1996).
A maximização do uso de concentrado, devido à necessidade de se elevar o teor
de energia das dietas, acarreta, geralmente, aumento nos custos de produção e maior
possibilidade de ocorrências de distúrbios metabólicos nos animais, entretanto permite
rações com maior concentração de nutrientes, que podem ser recomendadas para
animais com alto potencial para ganho em peso (Alves et al., 2003).
Segundo Araújo (2005), é importante enfocar aspectos inerentes aos sistemas de
produção mais utilizados, executando práticas de manejo alimentar que possam
viabilizar a maior eficácia dos animais. Diante disso, o sistema de produção em
confinamento pode ser uma proposta promissora, visto a possibilidade de utilização de
forrageiras nativas associada à suplementação energética.
8
A caatinga, vegetação típica da Região Nordeste é responsável pelo maior aporte
de recurso alimentar para os rebanhos nativos e, como se trata de uma vegetação
bastante diversificada tem despertado interesse em uma série de pesquisadores,
principalmente, aquelas plantas de elevado potencial forrageiro (Andrade, 2007).
Não há como tratar de alimentação para caprinos nativos sem reportar a
importância da utilização de forragem nativa ou naturalizada, visto que estas têm papel
de destaque nos sistemas de produção do semi-árido. Dentre as forrageiras nativas, a
maniçoba (Manihot pseudoglasiovii), uma planta da família Euphorbiaceae, muito
difundida na região Nordeste, tem demonstrado características favoráveis para sua
utilização na alimentação animal.
A maniçoba na forma de feno é muito utilizada, em condições in natura possui
substâncias tóxicas, como o ácido cianídrico, por exemplo, em sua composição que
podem ser nocivas ao animal e, sendo eliminados com a desidratação ao sol,
promovendo a volatilização destes compostos.
O feno possui em sua composição
química teores consideráveis de proteína bruta de 9,46 % (Araújo et al., 1996), 10,56 %
(Araújo, 2005), 12,0 % (Barros et al., 1990), a 15,34 % (Castro, 2004), entre outros
atributos que se assemelham aos de plantas tradicionalmente utilizadas na nutrição de
ruminantes (Andrade, 2007). Assim sendo, pode representar alternativas locais para
formulação de alimentos, indo de encontro a um dos principais fatores determinantes
dos altos custos de produção dos produtos pecuários (Lima & Maciel, 2007).
Efeito do nível energético da dieta sobre o consumo e a digestibilidade dos nutrientes
As etapas do processo de aproveitamento dos alimentos pelos animais domésticos
guiadas por diversas interações de fenômenos físicos, químicos e biológicos, que
9
refletem a resposta produtiva, têm o consumo como a primeira e mais importante etapa
(Dias et al., 2000).
O consumo é influenciado por diversos fatores, e pode variar em função do
animal, pela variação no peso, estado fisiológico ou nível de produção; em função do
alimento, pela capacidade de enchimento, densidade energética ou nível de FDN; das
condições de alimentação, pela disponibilidade de alimento, espaço no comedouro ou
freqüência de alimentação; e das condições climáticas (Mertens, 1992).
A energia utilizada pelo animal provém, principalmente, da energia ingerida e
eventualmente da mobilização e do catabolismo das suas reservas corporais. Sob
condições de elevada temperatura ambiente, o animal desenvolve mecanismos de
regulação do consumo de alimentos, para reduzir a produção de calor, que convém neste
caso, aumentar a densidade energética da ração para que não haja perdas na produção
(Morand-Fehr & Dureau, 2001). Entretanto, segundo Misra & Khub (2002) caprinos
bem adaptados a zonas semi-áridas, não reduzem o consumo de alimentos,
possivelmente devido ao reduzido impacto causado pelo estresse nesses animais, cujos
efeitos não são limitantes à sua produção.
Outros mecanismos de regulação do consumo atuam em situações de
desequilíbrio entre a densidade energética da dieta e a concentração de fibra, como
limitação pelo mecanismo fisiológico da saciedade ou efeito do enchimento controlado
por fatores físicos (Mertens, 1994 e Oliveira et al., 2001). Baseados neste conceito, Bull
et al., (1976) postularam que na formulação de dietas deve-se maximizar a utilização de
volumosos, desde que se mantenha a densidade energética próxima ao ponto onde os
fatores físicos e fisiológicos convergem na regulação do consumo de energia.
A digestibilidade de um alimento é a capacidade de permitir a utilização de seus
nutrientes pelo animal, como um processo de conversão de macromoléculas de um
10
alimento ou dieta, em compostos mais simples, uma vez que, esta conversão é expressa
pelo coeficiente de digestibilidade de um determinado nutriente, e é uma característica
do alimento e não do animal (Silva & Leão, 1979 e Van Soest,1994). Com base na
digestibilidade, pode-se avaliar o valor energético de qualquer alimento, através dos
nutrientes digestíveis totais (NDT) (Detmann et al., 2006).
De acordo com Alves et al. (2003), diversos fatores podem influenciar a
digestibilidade, desde a composição e processamento dos alimentos e da dieta, até
àqueles dependentes dos animais, e concluem em seu trabalho que, o aumento no valor
energético das dietas melhora os coeficientes de digestibilidade da matéria seca (MS) e
orgânica (MO), carboidratos totais (CHOT) e não-fibrosos (CNF) e reduz os
coeficientes de digestibilidade da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em
detergente ácido (FDA).
Normalmente
alimentos
energéticos
possuem
maior
coeficiente
de
digestibilidade da matéria seca que as forragens, de modo que o fornecimento destes
geralmente melhora o coeficiente de digestibilidade da MS da dieta total (Paulino et al.,
2005). Não sendo recomendável excessiva redução no nível de fibra da dieta do
ruminante, uma vez que a fibra é fundamental para a manutenção das condições ótimas
do rúmen (Mertens, 1992; Allen, 1997).
França (2006) trabalhando com ovelhas Morada Nova no terço final de gestação,
alimentadas com níveis crescentes de energia metabolizável, observou que o aumento
da quantidade de energia na dieta melhorou a digestibilidade dos nutrientes, com
prejuízo apenas para a digestibilidade da fibra.
Os resultados encontrados a seguir demonstram o efeito entre o aumento ou
diminuição dos níveis de concentrado nas dietas, sobre o consumo de energia e a
digestibilidade dos nutrientes.
11
Bürger et al. (2000) verificaram que a digestibilidade aparente total da MS, MO,
EE e CHOT aumentaram linearmente com o aumento do nível de concentrado nas
dietas. Avaliando o efeito de cinco níveis de concentrado sobre o consumo de nutrientes
e digestibilidade das dietas por novilhos, Dias et al. (2000) observaram que o consumo
de NDT e digestibilidade aparente da MS, PB, CNE aumentou linearmente com o
aumento nas proporções de concentrado nas dietas. Zambom et al. (2006) afirmaram
que diferentes níveis de energia utilizados nas dietas de cabras leiteiras, não
modificaram a ingestão de matéria seca e de nutriente, fato que proporcionou melhoria
da digestibilidade.
Barreto (2005) verificou que o consumo de energia e a digestibilidade
diminuíram linearmente com a inclusão de feno de feijão bravo (Capparis flexuosa L.)
na dieta de ovinos Santa Inês. Silva et al. (2007) trabalhando com níveis crescentes de
feno de maniçoba em dietas para ovinos, observaram diminuição no consumo de NDT e
na digestibilidade da dieta com 80% de feno.
Comportamento ingestivo e mastigação merícica
O estudo do comportamento ingestivo é um instrumento relevante para a
nutrição animal, pois através deste pode-se entender os fatores que atuam na regulação
da ingestão de alimentos e água, bem como estabelecer ajustes que melhorem a
produção (Mendonça et al., 2004).
O estudo da etologia tem, como princípios básicos, estudar os efeitos da forma
de arraçoamento, assim como da quantidade e qualidade da dieta oferecida sobre o
consumo e a distribuição das atividades ao longo do dia; fazer uso destes subsídios para
promover melhorias no desempenho animal, possibilitando maior eficiência do sistema;
12
além de conhecer as necessidades dos animais em função do sistema de produção
utilizado, possibilitando relacionamento orientado com os mesmos (Lima et al., 2003;
Costa, 2005; Tavares et al., 2005).
Mendes Neto et al. (2007) reuniram informações relevantes sobre os fatores
determinantes do consumo e da eficiência de utilização do alimento pelo animal, dando
ênfase ao estudo do comportamento ingestivo de ruminantes como peça fundamental ao
entendimento dos processos de digestão dos alimentos, sua eficiência de utilização e
absorção e, da manutenção das condições ruminais, sendo que cada um desses processos
é resultado de uma complexa interação do metabolismo do animal com as propriedades
físicas e químicas da dieta. Ressalta-se que o animal pode mudar seu comportamento
para superar situações de limitação do consumo, para obter quantidade necessária de
nutrientes.
Segundo Bürger et al. (2000) nos estudos que envolvem o comportamento
alimentar, são avaliadas as características dos alimentos, motilidade de pré-estômagos e
o ambiente climático. Por este motivo, torna-se imprescindível a avaliação da
composição dos alimentos na etologia animal.
De acordo com Ribeiro et al. (2006), as atividades de alimentação e ruminação
dependem de fatores que estão relacionados a freqüência e ao tempo de alimentação. A
freqüência de alimentação e ruminação pode estar relacionada ao hábito alimentar de
cada espécie. Em se tratando de tempo de alimentação e da velocidade com que esta é
efetuada, podem estar ligadas a morfologia da forragem, tempo gasto na apreensão do
alimento e redução do tamanho da partícula, bem como às característica inerentes ao
concentrado.
Fischer et al. (1998) reportam que os períodos de tempo gastos com a ingestão
de alimentos são intercalados com um ou mais períodos de ruminação ou de ócio e que
13
os períodos de ruminação são cadenciados pelo fornecimento de alimento, sendo o
tempo gasto em ruminação mais elevado no período noturno.
Macedo et al. (2007) trabalhando com ovinos em confinamento, alimentados em
duas porções diárias, às 07:30 e 17:30 horas, observaram que os animais apresentaram
hábito de ingestão preferencialmente diurno e de ruminação noturno.
Oshiro et al. (1996) em trabalho realizado com cabras Saanen adultas
confinadas, testaram o efeito do fotoperíodo nas atividades de mastigação, ruminação e
ócio, verificando que houve interferência da luz nas atividades de ruminação. Estes
resultados sugerem que um relógio biológico que atua no controle da ruminação seria
orientado pela luz ou pela maior quantidade de mastigação nos períodos claros.
As diversas condições de alimentação podem modificar os parâmetros do
comportamento ingestivo (Carvalho et al., 2006). O tempo de ruminação é influenciado
pela natureza da dieta, sendo que alimentos finamente triturados tendem a reduzir o
tempo de ruminação, ao passo que forragens com elevado teor de parede celular elevam
este tempo (Van Soest, 1994).
Ruminantes confinados, arraçoados duas vezes ao dia, apresentam duas refeições
principais após o fornecimento da ração, com duração de uma a três horas, além de
intervalos variáveis de pequenas refeições. Períodos de ruminação e descanso ocorrem
entre as refeições, uma vez que sua duração e padrão de distribuição são influenciados
pelas atividades de ingestão (Fischer et al., 1997).
Gonçalves et al. (2001) trabalhando com cabras leiteiras, alimentadas com dietas
contendo diferente relação volumoso:concentrado, constataram que o aumento do nível
de concentrado da dieta, reduziu o tempo dedicado ao consumo e ruminação das cabras,
isto porque, a diminuição do teor de fibra da dieta, provocou menor estimulo das
funções ruminais, prolongando assim o período de ociosidade. Por outro lado, Carvalho
14
et al. (2004) não encontraram alteração na atividade mastigatória de cabras leiteiras com
o aumento nos teores de FDN das dietas; verificando que nem o maior valor de FDN
(43,42%), observado na dieta com 30% de inclusão de torta de dendê, foi capaz de
promover alteração no ajuste da atividade mastigatória.
Ribeiro et al. (2006) também constataram que o nível de alimentação aplicado
aos animais, restrita ou à vontade, não apresenta influência sobre o comportamento
ingestivo de caprinos Moxotó e Canindé, porém, pode afetar a procura por água e a
freqüência de defecação e micção.
Avondo et al. (2004) ressaltaram em seu trabalho que os níveis de proteína bruta
da dieta apresentaram influência significativa no comportamento ingestivo dos animais,
em que maiores níveis de PB na dieta diminuíram a ingestão de forragem e seletividade
pelas partes mais nutritivas da planta. Com base nisto, esses mesmos autores
conduziram um estudo avaliando o efeito de dois níveis de PB em dietas contendo feno
de má e de boa qualidade. Os resultados encontrados demonstram que o nível de
proteína bruta não modificou o consumo de FDN pelos animais que recebiam feno de
baixa qualidade em ambos os tratamentos, com maior e menor nível de PB, o que foi
justificado pela predominância de mecanismos de controle físicos sobre os demais
mecanismos. Já no segundo período experimental, quando utilizaram feno de melhor
qualidade, observaram que, por este oferecer ampla oportunidade de seletividade, o
nível de PB representou um fator limitante do consumo.
O processo de ruminação ocorre em duas etapas; à primeira consiste em ingerir
rapidamente o alimento com pouca mastigação, permitindo apenas a deglutição.
Posteriormente, esse alimento retorna de seus compartimentos fermentativos para a
boca, sendo feita a segunda etapa da mastigação, mais lenta e elaborada, conhecida
como mastigação merícica ou mastigação durante a ruminação. O bolo alimentar é
15
regurgitado e remastigado até atingir o tamanho adequado à fermentação ruminal
(Furlan et al., 2006 e Souza, 2007).
O início da ruminação ocorre entre 30 e 60 minutos após a ingestão do alimento.
O número e duração dos ciclos de ruminação dependem da estrutura do alimento (teor
de fibra, tamanho de partícula), número de refeições e quantidade de alimento ingerido
(Furlan et al., 2006).
A atividade de mastigação está associada à taxa de secreção salivar, à
solubilização de componentes do alimento e à quebra de partículas, facilitando os
processos de colonização dessas partículas pelos microrganismos ruminais e de
digestão, o que influencia a taxa de passagem, o tempo de retenção e,
conseqüentemente, a digestibilidade dos alimentos (Mendes Neto et al., 2007).
De acordo com revisão feita por Silva et al. (2005), os ruminantes ajustam seu
comportamento alimentar em função do nível de fibra da dieta, o que pode causar
limitação de consumo, seja pelo aumento do nível de fibra ou pelo aumento do nível de
concentrado, e enfatiza que é importante se avaliar esta influência da fibra, sobretudo
sobre o número de mastigações por bolo ruminal. Talvez mais importante que o teor de
fibra, seja o arranjo da parede celular. Tome-se, por exemplo, a cana de açúcar, em que
seu percentual de FDN encontra-se próximo de 50%, entretanto, devido à baixa
digestibilidade da parede celular, o efeito sobre o consumo é maior do que o observado
em volumosos com porcentagem de FDN muito mais altos.
No período de um dia do animal ruminante, normalmente são ruminados entre
360 e 790 bolos alimentares, que levam a ocorrência de 40 a 70 movimentos
mandibulares durante a ruminação, em períodos de 45 a 60 segundos. Entre os bovinos,
ovinos e caprinos existem características de ruminação muito semelhantes, com número
16
de períodos um pouco diferentes. O caprino rumina de 7 a 8 horas por dia, sendo que
cerca de 75% desta atividade ocorre preferencialmente a noite (Furlan et al., 2006).
O animal investe em torno de 5 a 9 h do dia para a ruminação, este tempo é a
soma do tempo de regurgitação, de mastigação, salivação, deglutição e o intervalo entre
os bolos. A duração dos períodos de ruminação pode variar de um minuto a superiores a
uma hora. A remastigação e salivação levam 50 a 60 segundos, o tempo gasto para
deglutir e regurgitar novamente percorre um tempo em torno de 7 a 9 segundos (Pereyra
& Leiras, 1991).
17
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22
Capítulo II
Consumo e Digestibilidade Aparente de Rações com Diferentes Níveis de Energia
por Caprinos Moxotó e Canindé em Confinamento
23
CONSUMO E DIGESTIBILIDADE APARENTE DE RAÇÕES COM DIFERENTES
NÍVEIS DE ENERGIA POR CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ EM
CONFINAMENTO
RESUMO - Com a realização deste trabalho, objetivou-se avaliar o consumo, a
seletividade, a digestibilidade dos nutrientes e o desempenho em ganho de peso por
caprinos Moxotó e Canindé em confinamento, sob o efeito de dois níveis de energia
metabolizável na dieta. Foram utilizados 40 machos castrados, 20 da raça Moxotó e 20
Canindé, com peso médio inicial de 15,3 kg, distribuídos aleatoriamente em um
delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x2 (duas raças e duas
dietas). As dietas experimentais utilizadas foram: D1 = dieta com menor nível
energético, contendo 2,2 Mcal de EM/ kg de matéria seca (MS) e uma relação
volumoso:concentrado de 70:30, D2 = dieta com maior nível energético; 2,7 Mcal de
EM/ kg de MS com relação volumoso:concentrado de 35:65. Para a determinação do
consumo de nutrientes e da digestibilidade, os animais foram mantidos em gaiolas para
ensaio de metabolismo durante um período de 15 dias, no final do experimento. O
acompanhamento do desempenho foi realizado semanalmente, durante um período de
90 dias. A dieta com 2,7 Mcal de EM/kg de MS proporciona maior consumo de
nutrientes pelos animais e a que apresenta melhores coeficientes de digestibilidade.
Caprinos da raça Moxotó e Canindé, alimentados com ração completa, têm maior
preferência a tamanhos de partículas que variam de 1,0 a menos de 0,5 mm. Dietas com
maior nível energético, proporcionam melhor consumo e desempenho de caprinos
Moxotó e Canindé em confinamento. Entretanto, a raça Canindé, embora criada sob as
mesmas condições de manejo que a Moxotó, demonstra maior ganho em peso.
Palavras-chaves: Caprinos nativos, feno de maniçoba, Semi-Árido, valor nutritivo
24
INTAKE AND APPARENT DIGESTIBILITY OF RATIONS WITH DIFFERENT
LEVELS OF ENERGY BY MOXOTO AND CANINDÉ GOATS IN FEEDLOT
ABSTRACT - This research was conducted with the objective to evaluate the
intake, feeding selectivity and apparent digestibility of the nutrients and the weight gain
of Moxoto and Caninde goats in feedlot, under the effect of two levels of metabolizable
energy in the diet. Forty males non intact, being 20 from Moxotó and 20 from Caninde
breeds, with average initial weight of 15.3 kg, were used. The goats were assigned a
completely randomized design in a 2 x 2 factorial arrangement (two breeds and two
diets). The experimental diets used were: D1= diet with lower energetic level, with 2.2
Mcal ME/kg dry matter (DM) and roughage:concentrate ratio of 70:30; D2= diet with
higher energetic level, with 2.7 Mcal ME/kg DM and roughage:concentrate ratio of
35:65. During the metabolism trial (15 days), the animals were housed individually in
metabolism pen to determine the intake and apparent digestibility of the nutrients. The
goats were weighed weekly, during the period of 90 days. The diet with 2.7 Mcal
ME/kg DM caused higher intake and better digestibility of the nutrients. The Moxoto
and Caninde goats fed with complete rations have higher preference to feed size
particles ranging from 1.0 to less 0.5 mm. The diet with higher energetic level caused
better intake and performance of animals under feedlot. However, the Caninde breed
reared under the same management conditions that Moxoto breed, showed higher
weight gain.
Key words – Indigenous goats, maniçoba hay, nutritive value, semi-arid
25
Introdução
A determinação do consumo dos animais é uma ferramenta importante, uma vez
que possibilita estabelecer o aporte de nutrientes necessários para atender aos requisitos
de manutenção da saúde e da produção animal. O uso eficiente de rações só é possível
quando se tem por base o conhecimento do consumo de matéria seca, seja ele real ou
estimado, de cada categoria animal, para evitar subalimentação, através da restrição de
alguns nutrientes, bem como superalimentação, que irá influenciar nos custos de
produção.
O estudo dos alimentos na nutrição animal é imprescindível dentro de um
sistema de produção. Para a obtenção do potencial máximo dos animais, é importante
conhecer o valor nutritivo dos alimentos, que pode ser definido como a capacidade de
fornecer os nutrientes necessários aos animais, para satisfazer suas exigências, a fim de
permitir que realizem as atividades fisiológicas do organismo. Este conhecimento
possibilita uma melhor utilização das forragens e o correto balanceamento das rações,
sendo a composição química um ponto básico na predição do valor nutritivo de um
alimento.
O consumo é parte da equação utilizada pelos nutricionistas para determinação
deste valor nutritivo, de acordo com Van Soest (1994), baseia-se em três componentes
principais: consumo, digestibilidade e eficiência de utilização da energia. Para tanto, o
consumo à vontade normalmente deve ser medido utilizando-se animais estabulados
concomitantemente com ensaios de digestibilidade, para que haja uma avaliação mais
completa quanto à utilização dos nutrientes.
Pelo fato de a digestibilidade ser uma característica do alimento e não do animal,
assume-se que ela seja pouco alterada, mesmo se tratando de animais de diferentes
26
categorias, sexo, idade ou espécie. O consumo, no entanto, é influenciado por diversos
aspectos, que compreendem desde aqueles de ordem climática, como temperatura e
umidade, como das características físicas e químicas do alimento, e fatores fisiológicos
referentes ao próprio animal, que pode ser diferente mesmo dentro de grupos
homogêneos, de mesmo sexo ou raça. Portanto, o consumo é determinante do
desempenho produtivo do animal e pode ser considerado o principal componente do
valor nutritivo de uma dieta.
Outro aspecto a ser considerado na avaliação de uma dieta, é a característica
seletiva dos ruminantes, que se apresenta mais intensivamente nos caprinos. Oferta
excessiva de forragem estimula o consumo, devido à seleção das frações mais nutritivas
do alimento (Johnson & Van Eys, 1987), o que resulta em uma ração consumida
diferente daquela ofertada (Silva et al., 1999). Algumas medidas podem ser utilizadas
para evitar este efeito da seleção, como, por exemplo, fornecimento da ração na forma
completa, características morfológicas do volumoso utilizado e redução do tamanho das
partículas com trituração dos ingredientes, sendo esta, no caso de animais confinados, o
fator de maior relevância.
A eficiência de ingestão e de digestão entre caprinos e ovinos alimentados com
feno em três diferentes tamanhos de partícula, e observaram que os caprinos
apresentaram uma maior eficiência mastigatória, tanto nos processos de ingestão como
de ruminação, desenvolvendo mecanismos de respostas diferentes para cada
comprimento de partícula, não alterando sua ingestão, digestibilidade ou tempo de
retenção ruminal das mesmas (Hadjigeorgiou et al., 2003). Caprinos Moxotó e Canindé
possuem hábitos seletivos bem próximos em relação ao tamanho da partícula,
enfatizando que o nível de alimentação influencia o consumo e a capacidade seletiva
destes animais (Ribeiro et al., 2006a). Existem na literatura variados trabalhos
27
referenciando as características seletivas, de consumo, de digestibilidade dos nutrientes,
entre outros aspectos inerentes ao comportamento alimentar e de desempenho de
caprinos. Entretanto, há uma necessidade cada vez maior de se estudar os caprinos
nativos da Região Nordeste brasileira, uma vez que existe uma grande escassez
trabalhos referentes às estas raças, que são comprovadamente importantes para as
esferas culturais e econômicas desta região.
Portanto, este trabalho teve como objetivo avaliar o consumo, a seletividade e a
digestibilidade dos nutrientes por caprinos Moxotó e Canindé em confinamento, sob o
efeito de dois níveis de energia metabolizável na dieta.
28
Material e Métodos
Este experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisa em Pequenos
Ruminantes, do Centro de Ciências Agrárias da UFPB, localizada no município de São
João do Cariri, PB, com duração de 90 dias, ocorridos entre os meses de agosto a
outubro de 2007.
A cidade de São João do Cariri está localizada na microrregião do Cariri Oriental
da Paraíba, entre as coordenadas 7º 23’ 27” de Latitude Sul e 36º 31’ 58” de Longitude
Oeste. O clima do local classifica-se como Bsh (semi-árido quente) segundo
classificação de Köppen. Durante o período experimental foram registradas
temperaturas médias diárias de 28,1 ºC, temperaturas máximas de 28,5º C e mínimas de
21,2º C, com umidade relativa média de 57,4% e precipitação acumulada de 33,81 mm
concentrados nos meses de agosto e setembro (Dados fornecidos pela Estação
Meteorológica da Universidade Federal de Campina Grande - UFCG, instalada no local
de realização do experimento).
Foram utilizados 40 caprinos com idade média de 4 meses, 20 da raça Moxotó e
20 Canindé, com peso vivo médio inicial de 15,29 ± 1,76 kg e 15,31 ± 1,94 kg,
respectivamente. Estes animais foram everminados, distribuídos aleatoriamente de
acordo com raça e o nível de energia da dieta e alojados em 4 galpões abertos dispostos
no sentido leste-oeste, cobertos com telhas de cerâmica, piso em chão batido,
compostos por 10 baias individuais cada galpão, medindo uma área de 3,75 m2 por baia,
providas de comedouro e bebedouro.
A maniçoba utilizada para a confecção do feno foi colhida em áreas de ocorrência
natural da Caatinga. As plantas encontravam-se em estágio vegetativo de floração e
frutificação, entre os meses de maio e junho de 2007. Foi colhido material composto de
29
folhas e galhos com diâmetro entre 1 e 2 cm, o qual foi triturado em máquina forrageira
e espalhado em lonas plásticas, sendo revirado freqüentemente, para que ocorresse
desidratação até o ponto de feno. Após fenação, todo o material foi moído em uma
máquina tipo “DPM” (desintegrador, picador e moedor), utilizando-se peneira de 10
mm, para em seguida ser misturado aos outros ingredientes da ração experimental, na
forma de ração completa.
A ração fornecida aos animais foi composta por feno de maniçoba e concentrado à
base de farelo de milho, farelo de soja, melaço de cana-de-açúcar e suplemento mineral.
A composição química dos ingredientes é apresentada na Tabela 1 e a participação dos
ingredientes e a composição química da dieta experimental encontram-se na Tabela 2.
Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental com base na
matéria seca
Farelo
Feno de
Farelo
Melaço
Nutrientes
1
maniçoba
de Milho de soja
Matéria seca (MS) 3
85,81
86,13
90,40
86,82
4
Proteína bruta (PB)
10,39
44,22
2,96
7,56
Energia metabolizável (Mcal/kg MS)
3,30
3,18
3,10
1,83
Extrato etéreo (EE) 4
11,61
1,57
0,91
3,30
Carboidratos totais (CHOT) 4
74,11
47,46
70,59
80,81
4
Carboidratos não fibrosos (CNF)
37,00
30,90
70,59
15,56
Fibra em detergente neutro cp2 (FDN) 4
37,11
16,55
0,0
65,25
Fibra em detergente ácido (FDA)
10,44
10,48
0,0
54,77
1
Sub-produto da fabricação de flocos de milho
Corrigida para cinzas e proteína
3
% da matéria natural
4
% da matéria seca
2
A dieta foi formulada com base no NRC (1981) de forma a proporcionar ganho
diário de 120 gramas com a dieta de baixa energia (2,2 Mcal de EM/kg de MS) e 165
gramas com a dieta de alta energia (2,7 Mcal de EM/kg de MS), para animais de 15 kg
de peso vivo.
30
Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta experimental
com base na matéria seca
Ingredientes
(%)
Farelo de milho
Farelo de soja
Melaço
1
Suplemento mineral2
Calcário
Feno de maniçoba
Dieta 1
21
6
1
Dieta 2
57
5
1
1
1
70
1
1
35
Composição Química
(%)
Matéria seca
Proteína bruta
Energia metabolizável (Mcal)3
86,81
10,15
2,24
86,45
10,81
2,70
Extrato etéreo
Fibra em detergente neutro cp4
4,85
7,86
54,46
41,16
75,68
21,22
44,82
25,64
73,61
28,79
Fibra em detergente ácido
Carboidratos totais
Carboidratos não fibrosos
1
Sub-produto da fabricação de flocos de milho
Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00
U.I.; vitamina E 450,00 U.I.; cálcio 240 g; fósforo 71 g; potássio 28,2 g; enxofre 20 g; magnésio 20 g;
cobre 400 mg; cobalto 30 mg; cromo 10 mg; ferro 2500 mg; iodo 40 mg; manganês 1350 mg; selênio 15
mg; zinco 1700 mg; flúor máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo(P)emÁcido Cítrico a 2% (min.).
3
Estimada a partir dos nutrientes digestíveis totais ( NDT)
4
Corrigida para cinzas e proteína
2
O arraçoamento dos animais foi realizado à vontade, duas vezes ao dia, às 8h00
e às 16h00. A relação volumoso:concentrado utilizada foi de 35:65 na dieta com maior
nível de energia na dieta e 70:30 na dieta com menor nível energético. A quantidade de
ração fornecida diariamente foi ajustada de acordo com o consumo do dia anterior de
modo que houvesse sobras em torno de 20% do total fornecido.
A água foi fornecida à vontade, sendo o consumo quantificado diariamente
durante o período de coleta. Foi verificada também a taxa diária de evaporação, através
da distribuição de baldes em diferentes pontos do galpão, para que no dia seguinte fosse
31
verificada a quantidade de água perdida por evaporação e, com isto, descontar estas
perdas do consumo dos animais.
O ensaio de digestibilidade foi realizado no final do experimento, em que foram
utilizados 20 animais, com idade média de 6 meses, 10 da raça Moxotó e 10 da raça
Canindé, com peso vivo médio inicial de 18,26 ± 2,74 kg e 20,33 ± 3,64 kg,
respectivamente. Este teve duração de 15 dias, sendo 12 para adaptação dos animais às
gaiolas e 3 para coleta de material. Todos os animais foram pesados antes e após o
término do ensaio de digestibilidade, no período da manhã antes do arraçoamento. Os
animais foram distribuídos aleatoriamente em gaiolas para ensaio de metabolismo,
providas de dispositivo para coletas separadas de fezes e urina, comedouro e bebedouro.
As gaiolas foram colocadas dentro da baia de cada animal avaliado e distribuídas nos 4
galpões, de modo que fossem atendidos animais que compunham todos os tratamentos..
As amostras das rações completas, dos ingredientes que compunham as rações
experimentais e das sobras deixadas pelos animais, foram colhidas e acondicionadas em
sacos plásticos e armazenadas em freezer para posteriores análises físicas e químicas. A
coleta total de fezes também foi procedida nesta mesma ocasião, feita uma amostra
composta dos três dias de coleta e armazenadas da mesma forma que as sobras.
A determinação granulométrica da dieta ofertada e das sobras deixadas pelos
animais, foi realizada no Laboratório de Física do Solo do Centro de Ciências Agrárias
da Universidade Federal da Paraíba (CCA/UFPB). As amostras foram colocadas em
estufa a 55ºC para a retirada da umidade do material, posteriormente foi pesada em
média 100 g do material, posto em um conjunto de peneiras com diâmetros 2,00; 1,00 e
0,50 milímetros, sobrepostas uma sobre a outra, de forma decrescente, e acopladas ao
fundo (0,000mm), onde se alojavam as partículas em forma de pó. O material
permaneceu no aparelho vibratório por 10 minutos, após este tempo, o material retido
32
nas peneiras foi colocado em bandejas de pesos conhecidos, sendo pesados
individualmente o material retido em cada peneira.
As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal
do CCA/UFPB. Os ingredientes, sobras e fezes foram analisados para quantificação dos
teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria mineral (MM), proteína
bruta (PB) e extrato etéreo (EE) segundo a AOAC (2005). Para determinação da fibra
em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA), utilizou-se a
metodologia determinada pelo fabricante do aparelho ANKON, da Ankon Tecnology
Corporation, com modificações relacionadas aos sacos, uma vez que foram utilizados
sacos de TNT (tecido não tecido) gramatura 100 mm, confeccionados no Laboratório de
Nutrição Animal. Para a determinação de lignina, foi utilizada a metodologia proposta
por Van Soest (1967), com a utilização de ácido sulfúrico a 72%. As amostras de FDN e
FDA foram corrigidas para cinzas e proteína segundo Van Soest (1967).
Para a estimativa dos carboidratos totais (CHOT), utilizou-se a seguinte equação
propostas por Sniffen et al. (1992), CHOT (%) = 100 – (%PB + %EE + %Cinzas). Os
carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados de acordo com Weiss (1999) como:
CNF (%) = 100 – (%FDNcp + %PB + %EE + %Cinzas). Os nutrientes digestíveis totais
(NDT) foram calculados segundo Sniffen et al. (1992), em que utilizaram a seguinte
equação:
NDT = PBD + 2,25 EED + CHOTD
Em que: PBD = proteína bruta digestível; CNFD = carboidratos não fibrosos
digestível; e CHOTD = carboidratos totais digestíveis.
O consumo de nutrientes foi calculado pela média das diferenças entre a
quantidade total do nutriente contida na dieta oferecida e a quantidade deste contida nas
sobras dos respectivos dias de coleta. Para a determinação da dieta efetivamente
33
consumida pelos animais, utilizou-se o seguinte cálculo: Matéria seca efetivamente
consumida = (CMS (kg)/CMN (kg))*100; consumo efetivo de cada nutriente =
consumo do nutriente (kg)/CMS (kg). Onde CMN corresponde ao consumo de material
natural. Para o consumo de NDT (CNDT), utilizou-se a equação de Sniffen et al.
(1992), obtido através do ensaio de digestibilidade in vivo, onde:
CNDT = (PB
ingerida
– PB
fecal)
+ 2,25 * (EE
ingerido
– EE
fecal)
+ (CHOT
ingerido
– CHOT
fecal)
Para o cálculo da energia digestível, considerou-se que 1 kg de NDT equivale a
4,409 Mcal de ED e, para a transformação em energia metabolizável, multiplicou-se o
valor de ED por 76%, que corresponde a eficiência de utilização da ED, conforme
Resende (1989).
Para a determinação dos coeficientes de digestibilidade da MS, MO, PB, EE,
FDN, CHOT e CNF, foi efetuada coleta total das fezes, registrando-se a quantidade
excretada por cada animal durante três dias. Posteriormente, o material coletado (de
cada dia) foi homogeneizado, retirando-se uma alíquota de 30% para confecção de uma
amostra composta por animal (de todos os dias de coleta), que em seguida foram
colocadas em sacos plásticos devidamente identificados e armazenados a -15ºC, até o
processamento das análises laboratoriais. Para o cálculo do coeficiente de
digestibilidade (CD), foi utilizada a seguinte equação:
CD (%) = (nutriente consumido – nutriente excretado nas fezes) * 100
nutriente consumido
O controle de peso dos animais foi realizado semanalmente antes do arraçoamento
matinal, durante todo o período experimental a pesagem foi feita utilizando-se balança
digital para que se obtivesse maior precisão nas pesagens.
34
O delineamento experimental utilizado foi o Inteiramente Casualizado com
arranjo fatorial 2 x 2, (duas raças e dois níveis de energia na dieta), com 10 repetições
por tratamento, totalizando 40 parcelas para avaliação do consumo e desempenho e, 5
repetições por tratamento, com 20 parcelas para o ensaio de digestibilidade. Os dados
foram avaliados por meio de análise de variância e as médias comparadas pelo Teste de
F, a 5% de probabilidade, seguindo o modelo matemático:
Yijk = µ + ri + nj + rnij + eijk
Em que:Yijk = valor observado;
µ = média geral;
ri = efeito da raça i;
nj = efeito do nível de energia j;
rnij = efeito da interação entre a raça e o níveis de energia;
eijk = erro aleatório associado a cada observação.
35
Resultados e Discussão
Os resultados referentes à composição das dietas efetivamente consumidas pelos
animais, expressos como percentagem da MS, encontram-se na Tabela 3. Não houve
efeito (P>0,05) de raça e nem interação entre raça e dieta sobre a composição da dieta
consumida, exceto para o percentual de CHOT, que foi mais alto nas dietas selecionadas
pelos animais Moxotó (78,50 x 77,25), independentemente do nível energético.
Houve efeito (P<0,01) para o percentual de MS efetivamente consumido, as
médias observadas para as dietas de baixa e alta energia foram, respectivamente, 86,99 e
86,15%, estando estes percentuais 1,51 e 1,71% acima daqueles verificados na dieta
ofertada, que foram de 85,70 e 84,70%, para menor e maior nível energético, nesta
ordem. Estes resultados demonstram que houve pouca diferença em relação à dieta
ofertada, esta sensível diferença deve-se ao baixo CV encontrado para esta variável.
Tabela 3. Composição das dietas experimentais efetivamente consumidas pelos caprinos
Moxotó e Canindé
Moxotó
Canindé
P>F
CV
Variável
2,2
2,7
2,2
2,7
(%) Raça Dieta R x D
Mcal
Mcal
Mcal
Mcal
MS %
86,8
86,4
86,8
86,4 0,002 **
**
**
PB (% MS)
12,0
12,0
12,0
12,0
6,34
ns
ns
ns
EE (% MS)
6,0
10,0
7,0
10,0
9,72
ns
**
ns
FDN (% MS)
62,0
54,0
60,0
53,0
5,22
ns
**
ns
CHOT (% MS)
85,0
84,0
84,0
85,0
2,17
ns
ns
ns
CNF (% MS)
24,0
30,0
24,0
31,0
7,34
ns
**
ns
ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05
O valor nutritivo da dieta ingerida pelos animais, via de regra, apresenta-se
diferente daquele que foi ofertado. De acordo com Van Soest (1994), a seleção é um
fator determinante do consumo, destacando que as porções mais palatáveis são
36
consumidas primeiro. Esta seleção reflete em diferenças na composição bromatológica
das sobras. Outro fator preponderante na determinação da seleção é o próprio animal,
uma vez que a habilidade seletiva varia com a espécie e com o desejo, que é regulado
pela fome e pela disponibilidade de alimentos.
Não houve diferença (P>0,05) para o percentual de PB efetivamente consumido
entre os animais em ambas as dietas, nota-se que o consumo foi maior (12%) quando
comparado a dieta ofertada que foi de 10,5% em média. Isto pode ter ocorrido devido a
maior seleção feita para que fossem atendidos seus requerimentos protéicos. Para o EE
houve também aumento no consumo para ambas as dietas. No entanto, os animais
submetidos à dieta com maior nível energético (2,7 Mcal/kg MS) atingiram um nível de
ingestão de lipídeos maior do que o considerado limite para ruminantes que é de 7% da
MS total, o que denota uma capacidade de ingestão superior ao preconizado, mostrando
que estes animais possuem mecanismos digestivos distintos quando comparado a raças
amplamente estudadas.
Para a porcentagem de FDN, nota-se que os animais também atingiram
consumos maiores que o ofertado na ração, mesmo para a dieta com 2,2 Mcal de EM,
que continha uma maior relação volumoso:concentrado e 54,46% de FDN. Para CHOT
e CNE o comportamento foi semelhante, o que indica uma elevada capacidade de
ingestão de fibra por estes animais alimentados com dietas diferentes.
Na tabela 4 pode-se visualizar a seletividade feita pelos animais em função do
tamanho de partícula mais consumido, que foi determinado através da análise
granulométrica das dietas e das sobras. Não houve influência (p>0,05) da raça sobre as
variáveis analisadas e nem da interação entre raça e dieta. No entanto, a dieta
influenciou a seletividade dos animais, exceto para os tamanhos de partícula entre 1,0 –
0,50 mm.
37
Tabela 4. Porcentagem do tamanho da partícula retida nas peneiras para as sobras e
dietas ofertadas e coeficientes de variação (CV), de caprinos Moxotó e
Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta
Tamanho de
partícula (mm)
Moxotó
Canindé
CV
(%)
P>F
2,2 Mcal
2,7 Mcal
2,2 Mcal
2,7
Mcal
≥ 2,00
11,53
6,68
16,41
6,58
63,48
ns
*
ns
2,00 - 1,00
32,68
26,11
38,16
27,54
28,00
ns
*
ns
1,00 – 0,50
25,52
27,49
23,50
26,39
18,11
ns
ns
ns
< 0,50
30,27
39,71
21,93
39,50
32,70
ns
*
ns
Raça Dieta
Rx
D
Dieta com 2,2 Mcal de EM
Dieta com 2,7 Mcal de EM
≥ 2,00
16,61
4,66
2,00 - 1,00
27,68
25,09
1,00 – 0,50
31,79
27,44
< 0,50
23,92
42,81
ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
A diferença na seletividade constatada em função das dietas é previsível, uma
vez que apresentavam proporções granulométricas diferentes, em razão da diferente
relação volumoso:concentrado constatada entre ambas.
Analisando-se as porcentagens deixadas para cada tamanho de partícula que
compunha as sobras, nota-se que para a dieta com 2,2 Mcal de EM, houve um consumo
médio de 15,89 % a mais do que foi oferecido, para o tamanho de partícula maior que
2,00 mm. O contrário ocorreu para os animais que consumiram a dieta com 2,7 Mcal de
EM, em que os mesmos deixaram 42,27% retidos na peneira maior que 2,00 mm, com
relação a dieta oferecida.
Para as quantidades retidas na peneira de crivo entre 2,00 – 1,00 mm, houve uma
maior rejeição por este tamanho de partícula pelos animais que consumiam a dieta de
menor nível energético, deixando cerca de 27,96% a mais do que lhes foi ofertado. Para
a dieta de maior nível energético, a rejeição foi menos expressiva, com média 6,91% a
mais que lhes foi ofertado.
38
A preferência mais relevante para os animais que consumiam a dieta de menor
aporte energético foi para os tamanhos de partículas que variam de 1,00 – 0,50 mm,
representada pela menor quantidade retida nesta peneira, com seleção média de 22,90%
a mais do que dispunha a dieta oferecida. Já para os animais que consumiam a dieta de
maior nível energético, a maior preferência foi para o tamanho menor que 0,50 mm,
com seleção média maior que 7,49%, em relação à dieta fornecida.
Estes resultados demonstram que, de maneira geral, os caprinos Moxotó e
Canindé apresentam hábitos seletivos semelhantes, quando avaliados em sistema
confinado, com fornecimento de ração completa. E que, a maior preferência destes
encontra-se nas partículas do alimento que variam de 1,00 a menos de 0,50 mm. Podese inferir que este fato favorece uma maior área de exposição do alimento ingerido, ao
ataque enzimático microbiano ruminal, consequentemente, melhorando a digestão dos
nutrientes.
Ribeiro et al. (2006a), também não encontraram diferença significativa para a
seletividade entre as raças Moxotó e Canindé. No entanto, seus resultados divergem dos
encontrados nesta pesquisa com relação ao tamanho preferencial da partícula por estes
animais. Estes autores revelam que as raças Moxotó e Canindé deram maior preferência
ao tamanho de partículas maiores 1,7 mm, com médias de 9,17 % e 17,60 % para as
raças Canindé e Moxotó, respectivamente. Constataram ainda que, a maior percentagem
de rejeição entre as raças, foi para as partículas cujo tamanho foi inferior a 0,6 mm,
registrando médias de 29,64 %, para ambas as raças.
Na Tabela 5 estão apresentados os valores médios para os consumos de matéria
seca (CMS), matéria orgânica (CMO), proteína bruta (CPB), extrato etéreo (CEE),
nutrientes digestíveis totais (CNDT) e energia metabolizável (CEM) em quilograma por
dia (kg/dia), porcentagem do peso vivo (%PV) e gramas por unidade de tamanho
39
metabólico (g/UTM) por caprinos Moxotó e Canindé, recebendo dietas com dois níveis
de energia.
Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) dos consumos de matéria seca (CMS),
matéria orgânica (CMO), proteína bruta (CPB), extrato etéreo (CEE),
nutrientes digestíveis totais (CNDT) e energia metabolizável (CEM), em
função das raças de caprinos nativos e do nível energético da dieta
Moxotó
Canindé
P>F
CV
Variável
2,2
2,7
2,2
2,7
(%) Raça Dieta R x D
Mcal
Mcal
Mcal
Mcal
CMS (kg/dia)
0,55
0,61
0,65
0,73
18,25
**
ns
ns
CMS (% PV)
3,44
3,43
3,84
3,78
12,61
*
ns
ns
CMS (g/UTM)
68,84
70,45
77,94
79,22
13,39
**
ns
ns
CMO (kg/dia)
0,45
0,52
0,54
0,63
20,11
**
*
ns
CPB (kg/dia)
0,07
0,08
0,08
0,09
20,41
**
*
ns
CPB (% PV)
0,41
0,43
0,47
0,47
15,79
*
ns
ns
CPB (g/UTM)
8,17
8,78
9,44
9,91
16,51
*
ns
ns
CEE (kg/dia)
0,04
0,06
0,04
0,07
18,03
**
**
ns
CEE (% PV)
0,22
0,35
0,26
0,38
16,15
**
**
ns
CNDT (kg/dia)
0,34
0,45
0,40
0,54
18,12
**
**
ns
CNDT (% PV)
2,08
2,54
2,33
2,79
12,64
*
**
ns
CNDT (g/UTM)
41,66
52,11
47,19
58,59
13,46
CEM (Mcal/dia)
1,24
1,65
1,47
1,98
18,24
**
**
**
**
ns
ns
CEM (% PV)
7,70
9,27
8,60
10,20
12,64
*
**
ns
154,15
190,22
174,59
213,91
13,45
**
**
ns
CEM (g/UTM)
ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
Os resultados referentes ao consumo de matéria seca (kg, %PV e g/UTM),
apontam efeito significativo apenas para raça, independente da dieta consumida. Notase que os animais da raça Canindé consumiram, em média, 0,69kg de MS, quantidade
superior a ingerida pela Moxotó 0,58kg. Para o consumo expresso em % do PV, estes
animais consumiram 3,81% e 3,44%, mesma tendência apresentada para o consumo em
40
g/UTM que foi de 78,58g e 69,64g para as raça Canindé e Moxotó, respectivamente.
Estas diferenças no consumo de MS refletem o maior peso corporal apresentado pela
Canindé em relação a Moxotó.
Segundo Chizzotti et al. (2005), é essencialmente importante determinar o nível
de ingestão pelo animal, estabelecendo a quantidade de nutrientes disponibilizados para
mantença e produção destes. Destacam ainda que os alimentos volumosos por terem
características de baixa taxa de degradação ruminal, lentas taxas de passagem e de
desaparecimento, que levam a um maior enchimento ruminal, tendem a reduzir o
consumo de matéria seca.
No entanto, nesta pesquisa, mesmo sendo alimentados com dietas compostas por
diferente relação volumoso:concentrado, não foi verificado efeito significativo no
consumo, o que leva-nos a inferir que estes animais possuem elevada capacidade
digestiva para dietas com maiores quantidades de alimentos volumosos. Deve-se
destacar ainda que, estes animais apresentaram maior preferência por partículas de
tamanhos entre 1,0 e 0,50 mm, o que pode ter facilitado a taxa de escape ruminal
(aumentado taxa de passagem), permitindo um maior consumo de MS.
Ribeiro et al. (2006b), trabalhando com estas mesmas raças, com idade e peso
semelhantes, constataram consumos de 0,70kg de MS/dia e que correspondeu a 3,56%
do PV para os animais que recebiam dieta à vontade, mostrando-se próximos ao
resultados desta pesquisa. As médias de consumo observadas neste trabalho foram
maiores que o preconizado pelo NRC (1981) para animais com PV médio de 15 kg e
ganho de 100 g/dia, que foi de 0,48kg de MS. Já o NRC (2007), preconiza que animais
nativos em crescimento, com 15kg de PV ganhando 100g/dia, necessitam ingerir 0,54kg
de MS e 3,59% do PV, para àqueles que com 20kg de PV e o mesmo ganho, a ingestão
41
diária deve ser de 0,62kg e 3,10% do PV, que encontram-se próximos aos nossos
resultados.
Os consumos de MO e PB em kg/dia diferiram quanto à raça e dieta oferecida,
mas não houve efeito da interação entre eles. Como relatado para a MS, a raça Canindé
apresentou as maiores médias de consumo, em que a dieta com maior oferta de energia
metabolizável foi a mais consumida para ambas as raças. As médias de CPB para as
raças foram de 7,5g para a Moxotó e 8,5g para a Canindé, quando comparamos as
dietas, verifica-se um consumo de 7,5g para a dietas de menor aporte energético e 8,5g
para a de maior aporte energético. As dietas foram formuladas com quantidades
semelhantes de PB, no entanto, os animais que consumiram a dieta mais energética,
selecionaram
maior
quantidade
de
PB
em
função
da
menor
relação
volumoso:concentrado, que possibilitou uma maior ingestão de alimentos mais
protéicos.
As quantidades de PB ingeridas por estes animais atendem as exigências
preconizadas pelos NRCs (1981 e 2007), que recomendam uma ingestão de 66g e 86g
diária de PB, respectivamente, para animais em crescimento, com 20kg de PV e ganho
de 100g/dia. Quanto ao consumo de PB em % do PV e g/UTM, houve efeito da raça
(P<0,05), reforçando mais uma vez o resultado obtido para o CMS, em que a raça
Canindé apresentou as maiores médias.
Os consumos de EE e NDT (kg/dia, %PV e g/UTM), bem como de EM
(Mcal/dia, %PV e g/UTM), foram influenciados significativamente pela raça e pela
dieta consumida. Para todos estes parâmetros, verificou-se que a raça Canindé
apresentou as maiores médias de consumo, enquanto que a dieta de maior oferta
energética foi a consumida em maior quantidade para ambas as raças. Estes resultados
reforçam a afirmativa feita por Chizzotti et al. (2005), em que o consumo de alimentos
42
volumosos, por terem características de baixa taxa de degradação ruminal, lentas taxas
de passagem e de desaparecimento, levam a um maior enchimento ruminal e, redução
do consumo de matéria seca.
Os resultados referentes aos consumos de fibra em detergente neutro (CFDN),
carboidratos totais (CCHOT) e carboidratos não fibrosos (CCNF), expressos em kg/dia,
% do PV e g/UTM, bem como o consumo de água (L/dia) e eficiência no consumo de
água (L/kg de MS), em função das raças e do nível energético da dieta, encontram-se
apresentados na Tabela 6.
Tabela 6. Médias e coeficientes de variação (CV) dos consumos de fibra em detergente
neutro (CFDN), carboidratos totais (CCHOT) e carboidratos não fibrosos
(CCNF), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da
dieta
Moxotó
Canindé
P>F
CV
Variável
2,2
2,7
2,2
2,7
(%) Raça Dieta R x D
Mcal
Mcal
Mcal
Mcal
CFDN (kg/dia)
0,34
0,33
0,39
0,39
17,00
**
ns
ns
CFDN (% PV)
2,11
1,83
2,31
2,00
11,68
*
**
ns
CFDN (g/UTM)
42,28
37,63
46,82
41,88
12,35
*
**
ns
CCHOT (kg/dia)
0,47
0,51
0,55
0,62
18,02
**
ns
ns
CCHOT (% PV)
2,93
2,88
3,23
3,19
12,70
*
ns
ns
CCHOT (g/UTM)
58,64
59,16
65,55
66,97
13,45
**
ns
ns
CCNF (kg/dia)
0,13
0,19
0,16
0,23
22,49
**
**
ns
CCNF (% PV)
0,82
1,05
0,92
1,20
17,71
*
**
ns
CCNF (g/UTM)
16,36
21,53
18,73
25,08
20,45
*
**
ns
ÁGUA (L)
1,57
1,55
1,48
1,55
25,84
ns
ns
ns
2,90
2,57
2,24
2,12
28,67
*
ns
ns
ÁGUA
MS)
(L/kg
de
ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
43
Houve efeito (P<0,01) do CFDN (kg/dia) para raças, evidenciando o maior
consumo pela Canindé, da mesma forma como ocorreu para os consumos apresentados
na Tabela anterior. Para o CFDN (% do PV e g/UTM), verificou-se efeito da raça
(P<0,05) e da dieta (P<0,01), com médias de 1,97% do PV para a Moxotó e 2,15% do
PV para a Canindé e, 2,21% e 1,92% do PV para as dietas de menor e maior aporte
energético, respectivamente. O que pode ser justificado em função da maior
percentagem de FDN contida na dieta de menor aporte energético, o que levou a um
maior consumo desta fração, aliado aos efeitos de distensão ruminal provocados por
esta dieta.
Além disso, de acordo com Araújo et al. (2004), a ingestão é, também,
controlada pela habilidade do animal na redução do tamanho das partículas, que
facilitam a digestão e, assim, ocorre uma correlação entre o consumo de matéria seca e
FDN, pela relação que esta fração fibrosa possui com a ruminação. Além disso, com o
processo de seleção natural pelo qual passou esta espécie ao longo de cinco séculos
desde sua chegada ao Brasil, pode-se inferir que estes animais desenvolveram
mecanismos adaptativos que lhes confere uma elevada capacidade de seleção alimentar,
aliada a boa eficiência digestiva.
Allen (1996), compilando dados de vários autores em seu trabalho, destaca que a
fermentação e taxa de passagem da FDN são mais lentas que de outros constituintes
dietéticos, e tem um maior efeito sobre o tempo de enchimento que os demais
componentes não fibrosos, sendo por isso, indicado como prognóstico químico para o
CMS. Allen (1996) enfatiza que diversos autores como (Balch e Champling, 1962; Van
Soest, 1965; e Waldo, 1986), sugerem que a relação da FDN com o CMS para
ruminantes são inversamente proporcionais, ou seja, há diminuição do CMS com o
44
aumento da porcentagem de FDN na dieta, que estes resultados estão coerentes com a
teoria que essa massa fibrosa no rúmen-retículo, atua como inibidor do CMS.
Os resultados desta pesquisa demonstram que o CMS não foi diferente entre as
dietas oferecidas, em todas as formas em que foi expresso (kg/dia, % do PV ou
g/UTM), apesar das médias serem menores para as dietas com menor nível energético.
Do mesmo modo, a ingestão de FDN em kg/dia, que foi igual para as duas dietas
avaliadas. Contudo, a raça Canindé consumiu mais MS e mais FDN que a Moxotó,
independente da dieta ofertada, em função do maior peso corporal.
É possível que este fato esteja relacionado às particularidades dos animais
nativos que, pela escassez de pesquisas com os mesmos, ainda não se pode afirmar
como ocorre o comportamento da interação CMS/FDN, sugerindo estudos mais
aprofundados a este respeito.
Para o CCHOT (kg/dia, % do PV e g/UTM), ocorreu efeito apenas para as raças,
as médias obtidas foram de 0,49 e 0,58 kg/dia; 2,91% e 3,21% do PV; e 58,90g e
66,26g/UTM para as raças Moxotó e Canindé, respectivamente. As médias registradas
para estas variáveis seguem a mesmas tendências dos demais consumos, em que a raça
Canindé apresentou as maiores médias.
O consumo de CNF (kg/dia, % do PV e g/UTM), apresentou diferença
significativa para raça e para a dieta, as médias registradas foram de 0,16 e 0,19kg/dia;
0,93 e 1,06% do PV; 18,95 e 21,91g/UTM para as raças Moxotó e Canindé,
respectivamente. Para as dietas os valores foram de 0,14 e 0,21kg/dia; 0,87 e 1,12% do
PV; e 17,55 e 23,31g/UTM para o menor e maior nível de energia, nesta ordem.
As médias de consumo de água (L) não apresentaram diferença (P>0,05) para
raça ou dieta, já para a eficiência do consumo de água (L água/kg de MS), verificou-se
efeito da raça, onde a Moxotó apresentou as maiores médias 2,74 L/kg de MS, enquanto
45
a Canindé consumiu 2,18L/kg de MS. Estes resultados refletem o maior consumo de
MS demonstrado pela Canindé e mesmo consumo de água que a Moxotó, o que levou
esta última a ser menos eficiente no consumo de água.
Sheridan et al. (2000) avaliando o efeito de dois níveis de energia na dieta de
caprinos Bôer na África do Sul, verificaram que o consumo de água dos mesmos foi de
2,44 e 1,97 L, bem como a eficiência do consumo de água (L/kg de MS), que foi de
1,82 e 1,71, para as dietas de baixa e alta energia, respectivamente. Comparativamente
com os animais utilizados neste estudo, que consumiram em média 1,54 L de água/dia e
2,57 e 2,35 L de água/kg de MS para as dietas de menor e maior nível de energia.
Entretanto, no caso desta pesquisa, percebe-se que ingestão de água não apresentou
influência da dieta consumida.
Estes resultados do consumo de água divergem dos relatos feitos por Herdt
(1993), em que dietas com maior proporção de volumosos estimulam maiores taxas de
ruminação e salivação, havendo com isto, maior diluição do conteúdo ruminal, sendo
exigidas menores quantidades de água ingerida. Ao contrário, dietas baseadas em maior
proporção de concentrado, por não promoverem ruminação extensa, requerem maior
ingestãode água.
De modo geral, os consumos expressos em kg/dia foram superiores aos
preconizados pelo NRC (1981) para caprinos desta categoria. Este fato pode ser
justificado pelo que relatam Misra & Khub (2002), que caprinos bem adaptados a zonas
semi-áridas não reduzem o consumo de alimentos, podendo isto ser devido ao menor
impacto causado pelo estresse climático nestes animais, uma vez que estes efeitos não
limitam sua produção.
As médias referentes aos coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca
(CDAMS), matéria orgânica (CDAMO), proteína bruta (CDAPB), extrato etéreo
46
(CDAEE), fibra em detergente neutro (CDAFDN), carboidratos totais (CDACHOT) e
carboidratos não fibrosos (CDCNF), em função das raças e do nível energético da dieta,
encontram-se demonstrados na Tabela 7.
Tabela 7. Médias e coeficientes de variação (CV) para o coeficiente de digestibilidade
aparente da matéria seca (CDAMS), matéria orgânica (CDAMO), proteína
bruta (CDAPB), extrato etéreo (CDAEE), fibra em detergente neutro
(CDAFDN), carboidratos totais (CDACHOT) e carboidratos não fibrosos
(CDCNF), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da
dieta
Moxotó
Canindé
P>F
CV
Variável
2,2
2,7
(%) Raça Dieta R x D
2,2 Mcal 2,7 Mcal
Mcal
Mcal
CDAMS
55,15
67,66
60,36
70,65
10,25
ns
**
ns
CDAMO
59,56
69,83
65,05
72,22
9,06
ns
**
ns
CDAPB
63,30
63,10
66,23
69,89
10,87
ns
ns
ns
CDAEE
59,78
81,20
60,66
85,30
9,35
ns
**
ns
CDAFDN
46,74
50,60
58,05
55,91
15,95
ns
ns
ns
CDACHOT
60,40
69,90
65,70
71,45
9,31
ns
*
ns
CDACNF
85,75
89,24
84,58
90,13
4,39
ns
*
ns
ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
Não houve efeito da raça nem da interação raça x dieta para nenhum dos
coeficientes de digestibilidade aparente (P>0,05) avaliados. No entanto, a dieta
demonstrou influência (P<0,01) para CDAMS, CDAMO e CDAEE; e para CDACHOT
e CDCNF (P<0,05).
Observou-se que com o aumento da energia da dieta, aumentou-se também a
digestibilidade dos nutrientes, com exceção dos coeficientes de digestibilidade aparente
da proteína bruta (CDAPB) e da FDN (CDAFDN), que não apresentaram diferença
(P>0,05) em relação ao nível energético da dieta.
Os valores médios obtidos para os coeficientes de digestibilidade aparente da
MS foram de 57,75 % e 69,15 %, para as dietas de baixa e alta energia,
47
respectivamente. Isto pode ser conseqüência da menor concentração de carboidratos não
estruturais, que são mais digestíveis e estão presentes em maior quantidade na dieta de
alta energia. Corroborando estes resultados, Silva et al. (2007), trabalhando com níveis
de inclusão de feno de maniçoba em dietas para ovinos em recria, encontraram médias
de 57,51 % e 65,16 % para os níveis de 60 % e 40 % de feno na dieta, respectivamente.
No entanto, Araújo (2005) em trabalho com cabras leiteiras alimentadas com esta
mesma fonte volumosa, encontrou resultados inferiores, com médias que variaram de
59,57 a 50,79 % de DAMS, para os níveis de 30 e 60 % de inclusão de feno na dieta,
nesta ordem.
Alves et al. (2003), constataram por meio de equações que as concentrações de
FDN das dietas são inversamente correlacionados com os níveis de energia e com a
digestibilidade aparente da MS. Podendo-se inferir que o valor energético das rações
pode ser estimado, com segurança, a partir das concentrações de FDN, procedimentos
este que é mais simples e menos oneroso. Este fato foi evidenciado nesta pesquisa, pois
a CDAMS aumentou à medida que diminuiu o nível de energia da dieta, que está
diretamente relacionado ao maior nível de FDN.
As médias do coeficiente de digestibilidade aparente da MO foram de 62,30 % e
71,02 %, para as dietas de baixa e alta energia, respectivamente. Da mesma forma,
Araújo (2005), mesmo utilizando metodologia diferente para estimativa da
digestibilidade, também encontrou resultados inferiores para a DAMO para dietas com
menor nível energético, com valor médio de 53,31 % para a dieta com 60 % de feno de
maniçoba e 2,45 Mcal de EM, inferior ao resultado encontrada neste estudo. Este autor,
evidência que o valor da DAMO está relacionada com o valor energético da dieta
(NDT), sendo que este decréscimo na digestibilidade pode ser atribuído ao menor valor
48
energético encontrado nas dietas com maior participação do feno. Estes resultados
corroborados com os encontrados nesta pesquisa.
Este comportamento foi observado por Silva et al. (2007), verificando que o
aumento do nível de maniçoba e, consequentemente redução do nível energético da
dieta, promoveu diminuição nos coeficientes de digestibilidade dos nutrientes, com
exceção do EE. Comparando-se aos resultados obtidos nesta pesquisa, observa-se que
apenas o CDAMS foi semelhante aos relatados por estes autores, os demais coeficientes
de digestibilidade foram superiores aos encontrados por estes.
França (2006), em trabalho realizado com ovelhas Morada Nova no final da
gestação, avaliou os efeitos de níveis crescentes de energia da dieta e, aponta que a
DAPB diminuiu de 72,81 para 69,84 % e a DAEE aumentou de 81,59 para 92,26 % nas
dietas com 2,29 e 2,51 Mcal de EM, respectivamente. Observa-se que estes resultados
são superiores aos encontrados nesta pesquisa, com médias de DAPB de 64,77 % e
66,49 % DAEE de 60,22 e 83,2%5, do menor para o maior nível energético da dieta,
nesta ordem. Isto pode ser justificado pela diferença na base volumosa utilizada nas
dietas de França (2006), além da inclusão de palma forrageira, que apresenta maior
digestibilidade.
A DAFDN não sofreu influência do nível energético da dieta (P>0,05), da
mesma forma que relatado por Araújo (2005) e França (2006), diferentemente do que
foi encontrado por Alves et al. (2003) e Silva et al. (2007), que verificaram redução da
DAFDN com o aumento do nível energético da dieta, destacando que níveis elevados de
amido nas dietas mais energéticas, promovem depressão da digestibilidade ruminal da
fibra.
O coeficiente de digestibilidade aparente dos CHOT e CNF aumentaram com o
acréscimo da energia na dieta, considerações semelhantes foram feitas por Araújo
49
(2005) e Silva et al. (2007), enfatizando que tal fato pode ser atribuído a maior
concentração de carboidratos fibrosos nas dietas de baixa energia, sendo estes menos
digestíveis. Corroborando com as conclusões de Alves et al. (2003), que o aumento no
valor energético das dietas melhora os CDCHOT e CDCNF.
Na Tabela 8, pode-se verificar as médias de peso vivo inicial (PVI), peso vivo
final (PVF), ganho de peso total (GPT) e ganho de peso diário (GPD), em função das
raças e do nível energético da dieta. Como esperado, não houve efeito significativo do
PVI para nenhum dos fatores analisados. Entretanto, as demais variáveis foram
influenciadas pela raça (P<0,05) e pelo nível energético da dieta (P<0,01), porém não
houve efeito significativo para as interações entre os fatores.
Tabela 8. Médias e coeficientes de variação (CV) do peso médio inicial (PMI) e peso
médio final (PMF), ganho de peso total (GPT) e ganho de peso médio diário
(GPMD), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da
dieta
Moxotó
Canindé
P>F
CV
Variável
2,2
2,7
2,2
2,7
(%) Raça Dieta R x D
Mcal
Mcal
Mcal
Mcal
PVI (kg)
14,95
15,28
14,98
15,65
12,02
ns
ns
ns
PVF (kg)
18,01
21,91
19,46
23,85
11,49
*
**
ns
GPT (kg)
3,07
6,63
4,48
8,20
33,90
*
**
ns
GPD (g/dia)
34,47
74,49
50,29
92,17
33,90
*
**
ns
ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
De maneira geral os resultados sugerem um melhor desempenho para a raça
Canindé, evidenciado para àqueles que consumiram a dieta de maior aporte energético.
Os animais iniciaram o experimento pesando em média 15,22 ± 1,78 kg de peso vivo,
chegando a 20,06 e 21,65 kg de PV para as raças Moxotó e Canindé, respectivamente.
50
No que se refere às dietas ofertadas, observa-se um PVF de 18,77 e 22,88 kg de PV para
os animais submetidos às dietas de baixa e alta energia, nesta ordem.
Analisando o ganho em peso total (GPT), observa-se que houve a mesma
tendência verificada para o PF, com diferença significativa tanto para as raças como
para as dietas. As médias das raças foram de 4,94 kg para a Moxotó e 6,34 kg para a
Canindé. Para as dietas foram de 3,81 kg na dieta de menor nível energético contra 7,42
kg para a dieta de maior nível de energia. Estes dados representam um aumento de
28,34 % do GPT para a raça Canindé e de 94,75 % para àqueles que consumiram a dieta
de alta energia.
O ganho de peso diário (GPD) segue mesmo comportamento das demais
variáveis, observando-se médias de 55,54 e 71,23 g/dia para Moxotó e Canindé,
respectivamente, e 42,80 e 83,33 g/dia para as dietas de baixa e alta energia, nesta
ordem. Representando o mesmo percentual de acréscimo encontrado para o GPT. Como
esperado, os resultados demonstram que o aumento da energia da dieta melhorou o
ganho em peso, no entanto, os animais não atingiram o GPD preconizado pelo NRC
(1981) consumindo dietas com 2,2 e 2,7 Mcal de EM/kg de MS.
Os animais não atingiram o ganho em peso proposto com a formulação das
dietas, o que pode ser atribuído à sensibilidade apresentada por estes animais ao manejo
no confinamento, a qual foi percebida no decorrer do experimento, o que pode ter
refletido no desempenho dos mesmos.
Araújo et al. (2004) não encontraram efeito significativo para os ganhos em peso
de ovinos com peso inicial médio de 16,0kg, em função dos níveis de maniçoba da
dieta, em geral, a média correspondeu a um valor aproximado de 44g de ganho
diárioValores estes inferiores aos encontrados nesta pesquisa para os menores ganhos,
apesar de se tratarem de espécies diferentes. Entretanto, Castro (2004) também
51
trabalhando com ovinos em recria com PMI de 16,02 kg, encontrou efeito dos níveis de
maniçoba na dieta, verificando um GPMD de 261,0 g/dia.
Segundo Sheridan et al. (2000), caprinos da raça Boer não demonstraram
diferença significativa quando alimentados com dietas de baixa (2,14 Mcal de EM/kg de
MS) e alta (2,60 Mcal de EM/ kg de MS) energia, com médias de 0,152 e 0,162 kg/dia.
Mahgoub et al. (2005) trabalhando com níveis de energia na dieta de caprinos das raças
nativas da região Semi-Árida do Sudão, encontraram diferenças significativas no
GPMD em função das dietas ofertadas, as médias verificadas foram de 48; 66,5 e 74,5
g/dia, para as dietas com 2,07; 2,38 e 2,68 Mcal de EM/kg de MS. Ganhos estes
semelhantes aos encontrados para as o níveis de energia avaliados neste trabalho.
52
Conclusões
Caprinos da raça Moxotó e Canindé, alimentados com ração completa, têm
maior preferência a tamanhos de partículas que variam de 1,0 a menos de 0,5 mm.
A dieta com 2,7 Mcal de EM/kg de MS proporciona maior consumo de
nutrientes pelos animais e a que apresenta melhores coeficientes de digestibilidade.
Dietas com maior nível energético proporcionam melhor consumo e
desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em confinamento. Entretanto, a raça
Canindé, embora criada sob as mesmas condições de manejo que a Moxotó, demonstra
maior ganho em peso.
53
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55
Capítulo III
Comportamento Ingestivo de Caprinos Moxotó e Canindé em Confinamento, Sob
Efeito de Dois Níveis de Energia na Dieta
56
COMPORTAMENTO INGESTIVO DE CAPRINOS MOXOTÓ E CANINDÉ EM
CONFINAMENTO, SOB EFEITO DE DOIS NÍVEIS DE ENERGIA NA DIETA
RESUMO - Com a realização deste trabalho, objetivou-se avaliar o
comportamento ingestivo de caprinos nativos do semi-árido nordestino, mantidos em
confinamento. Foram utilizados 40 machos castrados, 20 da raça Moxotó e 20 Canindé,
com peso médio inicial de 15,22 kg, distribuídos aleatoriamente em um delineamento
inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2x2 (duas raças e duas dietas). As dietas
experimentais utilizadas foram: D1 = dieta com menor nível energético, contendo 2,2
Mcal de EM/kg de MS e uma relação volumoso:concentrado de 70:30, D2 = dieta com
maior nível energético, 2,7 Mcal de EM/ kg de MS com relação volumoso:concentrado
de 35:65. Para o comportamento ingestivo foram realizadas observações a cada cinco
minutos, durante 24 horas, para determinação do tempo despendido em alimentação,
ruminação e ócio. Determinou-se a mastigação merícica de 32 animais, além do número
médio de defecação e micção, freqüência de ingestão de água e consumo médio de
água. Houve diferença significativa entre as raças para as variáveis: consumo de matéria
seca (CMS), número de bolos ruminados (NBR/dia), número de mastigações merícicas
por dia (NMMD), tempo de mastigação merícica por bolo (TMMB/seg), freqüência
urinária e freqüência de procura por água, além do consumo de água (L/kg de MS
ingerido). A dieta com menor nível energético proporciona menor tempo de ócio e
maior tempo ruminação, diminuindo a eficiência alimentar de caprinos Moxotó e
Canindé em confinamento. A raça Moxotó demonstra maior frequência urinária e menor
frequência de procura por água ao longo do dia. Entretanto, recebendo a dieta com 2,7
Mcal de EM/ kg de MS, excreta menor quantidade de urina em litros por dia. A dieta
com maior nível energético melhora o desempenho de caprinos Moxotó e Canindé em
confinamento.
Palavras-chaves: etologia, caprino nativo, alimentação, ruminação
57
INGESTIVE BEHAVIOUR OF MOXOTO AND CANINDE
GOATS IN FEEDLOT, UNDER EFFECT OF TWO
ENERGETIC LEVELS IN THE DIET
ABSTRACT - This research was conducted with the objective to evaluate the
ingestive behavior of indigenous goats in the semi-arid region of Brazil, reared in
feedlot. Forty males non intact, being 20 from Moxotó and 20 from Caninde breeds,
with average initial weight of 15.22 kg, were used. The goats were assigned a
completely randomized design in a 2 x 2 factorial arrangement (two breeds and two
diets). The experimental diets used were: D1= diet with lower energetic level, with 2.2
Mcal ME/kg dry matter (DM) and roughage:concentrate ratio of 70:30; D2= diet with
higher energetic level, with 2.7 Mcal ME/kg DM and roughage:concentrate ratio of
35:65. It were used visual observations to each five minutes, during a period of 24 h, to
measured of time spent with feeding, rumination and leisure time. It was measured the
number of rumination chews in 32 goats, moreover, the average number of time that
animals make feces and urine, the water intake and frequency, were also measured.
There was difference (P<0.05) between breeds to variables: dry matter intake (DMI),
number of ruminal boli (NRB/day), number of rumination chews (NRC/day), time of
rumination chews by boli (TRCB/s), urinary frequency and water intake (L/kg DM
intake) and frequency. The diet with 2.2 Mcal ME/kg DM caused lower leisure time and
higher rumination time, decreasing the feeding efficiency of Moxoto and Caninde goats
in feedlot. The Moxoto breed showed higher urinary frequency and lower water intake
frequency during the day than Caninde breed. On the other hand, when the Moxoto
animals received the diet with 2.7 Mcal ME/kg DM, they outputted less urine (L/day)
than Caninde breed. The diet with 2.7 Mcal ME/kg DM improve the performance of
Moxoto and Caninde goats in feedlot.
Key words – Feeding, indigenous goats, rumination
58
Introdução
A caprinocultura tem se desenvolvido rapidamente nos últimos anos, todavia, as
pesquisas têm sido direcionadas quase que estritamente às áreas de nutrição,
melhoramento genético e reprodução. Apesar das abordagens contribuírem muito,
trazendo inúmeros benefícios para os setores de produção de carne e leite, torna-se
necessário o entendimento do comportamento ingestivo dos caprinos, no intuito de
ajustar seu manejo para obtenção de melhor desempenho (Carvalho et al., 2007).
Pesquisas envolvendo a produção animal brasileira vêm tentando descobrir a cada
ano novos mecanismos que possibilitem um manejo adequado dos animais, sem que
para isto tenha que se alterar a interação destes com o meio ambiente, uma vez que o
desempenho produtivo está diretamente relacionado ao comportamento alimentar e as
outras atividades comportamentais que englobam desde as necessidades fisiológicas até
os processos metabólicos (França, 2006). Esse tipo de estudo no Nordeste merece
atenção, principalmente quando se trata de animais nativos, por fornecer subsídios para
ajustar as interações entre as praticas de arraçoamento, manejo e as condições edafoclimáticas (Souza, 2007).
De acordo com Pires et al. (2001) é importante para os sistemas de produção que
se tenha conhecimento dos hábitos alimentares dos animais, para que se possa detectar
problemas de manejo, alimentação ou saúde, através de alterações nos padrões
comportamentais. Qualquer alteração que promova estresse, seja ele provocado por
fatores técnicos, sociais ou ambientais, pode influenciar no comportamento ingestivo.
Os ruminantes possuem a capacidade de adaptarem-se às mais diversas condições
de alimentação, manejo e ambiente, modificando seus parâmetros de comportamento
ingestivo para alcançar e manter determinado nível de consumo, compatível com as
59
exigências nutricionais, o qual depende de outras variáveis, como a qualidade dos
ingredientes da ração, em particular as forragens, envolvendo teores de fibra, a qual está
associada ao estímulo da mastigação, produção de saliva, motilidade do rúmen e
manutenção ruminal (Silanikove, 1992; Cardoso et al., 2006).
Além disso, se a densidade energética da ração for alta, isto é, com baixa
concentração de fibra, em relação às exigências do animal, o consumo será limitado
pela demanda energética e o animal poderá deixar de ingerir alimentos, mesmo que o
rúmen não esteja repleto. Por outro lado, se a dieta tiver baixa densidade energética, o
consumo será limitado pela repleção ruminal (Ítavo et al., 2002).
Dessa forma, estudos de etologia têm sido largamente utilizados no
desenvolvimento de modelos para suporte às pesquisas e às formas de manejo dos
animais de interesse zootécnico, sobretudo para as raças nativas do Nordeste, como é o
caso das raças Moxotó e Canindé.
Portanto, este trabalho foi conduzido com o intuito de avaliar parâmetros do
comportamento ingestivo, a seletividade e o desempenho em ganho de peso de caprinos
nativos em confinamento, na região semi-árida paraibana, sob o efeito de dois níveis de
energia metabolizável na dieta.
60
Material e Métodos
Este experimento foi conduzido na Unidade de Pesquisa em Pequenos
Ruminantes, do Centro de Ciências Agrárias da UFPB, localizada no município de São
João do Cariri, PB, com duração de 90 dias, sendo 21 dias de adaptação e 71 de colheita
de dados, durante os meses de agosto a novembro de 2007.
A cidade de São João do Cariri está localizada na microrregião do Cariri Oriental
da Paraíba, entre as coordenadas 7º 23’ 27” de Latitude Sul e 36º 31’ 58” de Longitude
Oeste. O clima do local classifica-se como Bsh (semi-árido quente) segundo
classificação de Köppen. Durante o período experimental foram registradas
temperaturas médias diárias de 28,1 ºC, temperaturas máximas de 28,5º C e mínimas de
21,2º C, com umidade relativa média de 57,4% e precipitação acumulada de 33,81 mm
concentrados nos meses de agosto e setembro (Dados fornecidos pela Estação
Meteorológica da UFCG, instalada no local de realização do experimento).
Foram utilizados 40 caprinos com idade média de 4 meses, 20 da raça Moxotó e
20 Canindé, com peso vivo médio inicial de 15,29 ± 1,76 kg e 15,31 ± 1,94 kg,
respectivamente.. Estes animais foram everminados, distribuídos aleatoriamente de
acordo com raça e o nível de energia da dieta e alojados em 4 galpões abertos dispostos
no sentido leste-oeste, cobertos com telhas de cerâmica, piso em chão batido,
compostos por 10 baias individuais cada galpão, medindo uma área de 3,75 m2 por baia,
providas de comedouro e bebedouro.
A ração fornecida aos animais foi composta por feno de maniçoba e concentrado à
base de farelo de milho, farelo de soja, melaço de cana-de-açúcar e suplemento mineral.
A maniçoba utilizada para a confecção do feno foi colhida em áreas de ocorrência
natural da Caatinga. As plantas encontravam-se em estágio vegetativo de floração e
61
frutificação, entre os meses de maio e junho de 2007. Foi colhido material composto de
folhas e galhos com diâmetro entre 1 e 2 cm, o qual foi triturado em máquina forrageira
e espalhado em lonas plásticas, sendo revirado freqüentemente, para que ocorresse
desidratação até o ponto de feno. Após fenação, todo o material foi moído em uma
máquina tipo “DPM” (desintegrador, picador e moedor), utilizando-se peneira de 10
mm, para em seguida ser misturado aos outros ingredientes da ração experimental, na
forma de ração completa.
A composição química dos ingredientes é apresentada na Tabela 1 e a
participação dos ingredientes e a composição química da dieta experimental encontramse na Tabela 2.
Tabela 1. Composição química dos ingredientes da dieta experimental com base na
matéria seca
Farelo
Farelo
Feno de
Nutrientes
Melaço
1
de Milho de soja
maniçoba
Matéria seca (MS)
86,10
86,17
90,08
87,18
Proteína bruta (PB)
10,35
43,99
2,94
9,82
Energia metabolizável (Mcal/kg MS)
3,30
3,18
3,10
1,83
Extrato etéreo (EE)
11,42
1,68
0,78
3,42
Carboidratos totais (CHOT)
73,81
47,46
72,17
79,54
Carboidratos não fibrosos (CNF)
35,39
32,38
72,17
15,67
38,43
15,08
0,0
63,88
Fibra em detergente neutro cp2 (FDN)
Fibra em detergente ácido (FDA)
11,17
10,23
0,0
55,11
1
2
Sub-produto da fabricação de flocos de milho
Corrigida para cinzas e proteína
A dieta foi formulada com base no NRC (1981) de forma a proporcionar um
ganho diário de 120 gramas com a dieta (1) de baixa energia (2,2 Mcal de EM/kg de
MS) e 165 gramas com a dieta (2) de alta energia (2,7 Mcal de EM/kg de MS) para
animais de 15 kg de peso vivo.
62
Tabela 2. Participação dos ingredientes e composição química da dieta experimental
com base na matéria seca
Ingredientes
(%)
Farelo de milho
Farelo de soja
Melaço
1
Suplemento mineral2
Calcário
Feno de maniçoba
Dieta 1
21
6
1
Dieta 2
57
5
1
1
1
70
1
1
35
Composição Química
(%)
Matéria seca
Proteína bruta
Energia metabolizável (Mcal)3
87,13
11,72
2,20
86,74
11,56
2,71
Extrato etéreo
Fibra em detergente neutro cp4
4,90
7,79
53,69
41,54
74,75
21,07
45,02
26,17
73,01
28,00
Fibra em detergente ácido
Carboidratos totais
Carboidratos não fibrosos
1
Sub-produto da fabricação de flocos de milho
Suplemento mineral (nutriente/kg de suplemento): vitamina A 135.000,00 U.I.; Vitamina D3 68.000,00
U.I.; vitamina E 450,00 U.I.; cálcio 240 g; fósforo 71 g; potássio 28,2 g; enxofre 20 g; magnésio 20 g;
cobre 400 mg; cobalto 30 mg; cromo 10 mg; ferro 2500 mg; iodo 40 mg; manganês 1350 mg; selênio 15
mg; zinco 1700 mg; flúor máximo 710 mg; Solubilidade do Fósforo(P)emÁcido Cítrico a 2% (min.).
3
Estimada
4
Corrigida para cinzas e proteína
2
O arraçoamento dos animais foi realizado a vontade, duas vezes ao dia, às 8h00
e às 16h00. A relação volumoso:concentrado utilizada foi de 70:30 na dieta com menor
nível de energia (dieta 1) e 35:65 na dieta com maior nível energético (dieta 2). A
quantidade de ração fornecida diariamente foi ajustada de acordo com o consumo do dia
anterior de modo que houvesse sobras em torno de 20% do total fornecido, para que
fosse garantido consumo à vontade.
A água foi fornecida à vontade, sendo o consumo quantificado diariamente
durante o período de observação. Foi verificada também a taxa diária de evaporação,
63
através da distribuição de baldes em diferentes pontos do galpão, para que no dia
seguinte fosse verificada a quantidade de água perdida por evaporação e, com isto,
descontar estas perdas do consumo dos animais.
As amostras das rações completas, dos ingredientes que compunham as rações
experimentais e das sobras deixadas pelos animais, foram colhidas durante três dias
antecedentes as observações, e acondicionadas em sacos plásticos e armazenadas em
congelador a -20°C para posteriores análises químicas.
As análises bromatológicas foram realizadas no Laboratório de Nutrição Animal
do CCA/UFPB. Foi feita a pré-secagem do material em estufa com ventilação forçada a
55 °C por 72 horas e moídas em moinho de facas tipo Willey. Posteriormente foram
analisados para a determinação da matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), matéria
mineral (MM), proteína bruta (PB) e extrato etéreo (EE) segundo a AOAC (2005). Para
determinação da fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA),
utilizou-se a metodologia determinada pelo fabricante do aparelho ANKON, da Ankon
Tecnology Corporation, com modificações relacionadas aos sacos, uma vez que foram
utilizados sacos de TNT (tecido não tecido) gramatura 100 mm, confeccionados no
Laboratório de Nutrição Animal. As amostras de FDN foram corrigidas para cinzas e
proteína, os resíduos da digestão em detergente neutro foram incinerados em mufla a
600ºC por 4 horas para determinação de cinzas, a correção para proteína foi realizada
através da proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN).
Para a estimativa dos carboidratos totais (CHOT), utilizou-se a seguinte equação
propostas por Sniffen et al. (1992), CHOT (%) = 100 – (%PB + %EE + %Cinzas). Os
carboidratos não fibrosos (CNF) foram calculados de acordo com Weiss (1999) como:
CNF (%) = 100 – (%FDNcp + %PB + %EE + %Cinzas).
64
O consumo de nutrientes foi calculado pela diferença entre a quantidade total do
nutriente contida na dieta oferecida e a quantidade deste contida nas sobras. Para a
determinação da dieta efetivamente consumida pelos animais, utilizou-se o seguinte
cálculo: Matéria seca efetivamente consumida = (CMS (kg)/CMN (kg))*100; consumo
efetivo de cada nutriente = consumo do nutriente (kg)/CMS (kg). Onde CMN
corresponde ao consumo de material natural.
A determinação granulométrica da dieta ofertada e das sobras deixadas pelos
animais, foi realizada no Laboratório de Física do Solo do CCA/UFPB. As amostras
foram retiradas do congelador e em seguida colocadas em estufa a 55ºC para a retirada
da umidade do material. Posteriormente foi pesada em média 100 g do material, posto
em um conjunto de peneiras com diâmetros 2,00; 1,00 e 0,50 milímetros, sobrepostas
uma sobre a outra, de forma decrescente, e acopladas ao fundo (0,000mm), onde se
alojavam as partículas em forma de pó. O material permaneceu no aparelho vibratório
por 10 minutos, após este tempo, o material retido nas peneiras foi colocado em
bandejas de pesos conhecidos, sendo pesados individualmente o material retido em cada
peneira.
As observações referentes ao comportamento ingestivo dos animais foram feitas
em três períodos distintos com intervalos de sete dias, iniciaram sempre às 06h00
perfazendo um período de 24 horas ininterruptas, de forma visual, pelo método de
varredura instantânea, a intervalos de cinco minutos, por observadores previamente
treinados, sendo registradas em formulários antecipadamente elaborados. As variáveis
comportamentais observadas e registradas foram: ócio em pé (OEP), ócio deitado (OD),
em pé comendo (EPC), em pé ruminando (EPR) e deitado ruminando (DR).
Analisaram-se, a partir desses dados, os tempos médios despendidos em alimentação,
ruminação e ócio, observando-se também de forma contínua, o número de vezes em que
65
o animal defecou, urinou e procurou água. A procura pela água foi registrada como
sendo o número de vezes que o animal procurava o bebedouro e ingeria água.
Para a avaliação da mastigação merícica foram utilizados cinco animais de cada
tratamento, procedendo-se um rodízio de animais nos módulos a cada observação,
avaliando dois tempos ruminais, das 22h00 às 24h00 e das 4h00 às 6h00, determinandose o número de mastigações merícicas e o tempo despendido na ruminação de cada bolo
ruminal (segundos/bolo), com a utilização de cronômetro digital. Essa mastigação foi
calculada através de três tempos de 15 segundos, sendo a média multiplicada por quatro
para a obtenção do tempo de mastigação/minuto.
Os resultados referentes aos fatores do comportamento ingestivo foram obtidos
pelas relações:
EAL = CMS/TAL (g MS/h)
ERU = CMS/TRU (g MS/h)
TMT = TAL+TRU (h /dia)
NBR = TRU/TMMB (nº/ dia)
NMMD = NBR x NMMB (nº /dia)
Em que, Polli et al. (1996) descreve como: EAL (g MS/h) = eficiência de
alimentação; CMS (g MS/dia) = consumo de matéria seca; TAL (h/dia) = tempo de
alimentação; ERU (g MS/h) = eficiência de ruminação; TRU (h/dia) = tempo de
ruminação; TMT (h/dia) = tempo de mastigação total; NBR (nº/dia) = número de bolos
ruminais; TRU (s/dia) = tempo de ruminação; TMMB (s/bolo) = tempo de mastigações
merícicas por bolo ruminal; segundo Bürger et al. (2000), NMMD (nº/dia) = número de
mastigações merícicas; e NMMB (nº/bolo) = número de mastigações merícicas por
bolo.
66
Não só durante as observações noturnas, mas em todo o experimento o ambiente
foi mantido com iluminação artificial.
O delineamento experimental utilizado foi o Inteiramente Casualizado com
arranjo fatorial 2 x 2, (duas raças e dois níveis de energia na dieta), com 10 repetições
por tratamento, totalizando 40 parcelas. Os dados foram avaliados por meio de análise
de variância e as médias comparadas pelo Teste de F, a 5% de probabilidade, seguindo
o modelo matemático:
Yijk = µ + ri + nj + rnij + eijk
Em que:
Yijk = valor observado;
µ = média geral;
ri = efeito da raça i;
nj = efeito do nível de energia j;
rnij = efeito da interação entre a raça e o níveis de energia;
eijk = erro aleatório associado a cada observação.
67
Resultados e Discussão
Os resultados referentes à composição das dietas efetivamente consumidas pelos
animais, expressos como percentagem da MS, encontram-se na Tabela 3. Não houve
efeito (P>0,05) de raça e nem interação entre raça e dieta sobre a composição da dieta
efetivamente consumida, exceto para o percentual de MS, em que o desdobramento da
interação mostra que foi mais alto na dieta de maior nível energético selecionada pelos
animais Moxotó.
As dietas ofertadas continham 87,13 e 86,74% de MS para a de menor e maior
nível energético, respectivamente. Com a seleção, observa-se que os animais da raça
Moxotó consumiram 82,81% da dieta de baixa energia, que corresponde a uma redução
de 4,96% comparada ao oferecido. Para a dieta de alta energia, esta raça consumiu
2,96% a mais do que lhe foi ofertado. A raça Canindé consumiu 6,19 e 5,81% menos
MS do que lhes foi ofertado nas dietas de menor e maior nível energético,
respectivamente.
Tabela 3. Composição das dietas experimentais efetivamente consumidas pelos
caprinos Moxotó e Canindé
Variável
Moxotó
2,2 Mcal
MS %
PB (% MS)
EE (% MS)
FDN (% MS)
CHOT (%
MS)
CNF (% MS)
2,7 Mcal
Canindé
2,2 Mcal
CV
(%)
Raça
Dieta
RxD
2,91
**
**
**
11,24
9,25
9,36
ns
**
ns
ns
**
ns
ns
**
ns
2,7 Mcal
82,81Ab 89,31Aa 81,74Bb 81,70Bb
13,0
12,0
12,0
11,0
5,0
8,0
5,0
8,0
53,0
47,0
54,0
48,0
P>F
73,0
74,0
74,0
74,0
3,43
ns
ns
ns
20,0
26,0
20,0
26,0
11,55
ns
**
ns
Médias seguidas de letras diferentes maiúsculas para raça e minúsculas para nível energético diferem pelo
teste F a 5% de probabilidade. ns = não significativo; ** P<0,01.
68
De modo geral, não houve diferença estatística para a dieta efetivamente
consumida em função da raça, havendo influência da dieta apenas para os consumos de
PB, EE, FDN e CNF. Normalmente, o valor nutritivo da dieta ingerida pelos animais,
apresenta-se diferente daquele que foi ofertado.
Não houve diferença (P>0,05) para a PB efetivamente consumida entre as raças,
apenas quando comparadas às dietas (P<0,01). Verificou-se uma diferença de 8% no
consumo de PB entre as dietas, os animais selecionaram mais PB na dieta de menor
aporte energético, o que demonstra a elevada capacidade seletiva dos caprinos Moxotó e
Canindé, por ingredientes específicos da ração, mesmo quando os alimentos são
fornecidos na forma de ração completa.
Para o EE, os animais de ambas as raças, assim como de ambas as dietas,
consumiram entre 2,04 % e 2,70 % a mais de EE para as dietas com menor e maior
aporte energético.
Este fato apresenta-se semelhante ao relatado por Morand-Fer & Doreau (2001),
em que caprinos nativos de regiões áridas, em atividade de pastejo e expostos ao
aumento de calor, alteram o comportamento seletivo de forragem, dando preferência as
porções mais protéicas e energéticas da planta.
Houve diferença para os consumos de FDN e CNF entre as dietas avaliadas
(P<0,01), com maiores médias de FDN para a dieta de menor aporte energético e de
CNF para a dieta de maior aporte energético. Este diferença encontra-se de acordo com
a dieta formulada para estes animais durante o período experimental. Para o consumo
efetivo de CHOT não foi constatada diferença (P>0,05) para raça ou dietas, a média
geral verificada foi de 73,75%, percentual semelhante ao que foi formulado, 74,75 e
73,01% para a dieta de menor e maior aporte energético.
69
Na Tabela 4, encontram-se os valores relacionados ao alimento retido no
conjunto de peneiras usadas para a análise granulométrica, a qual expressa o hábito
seletivo dos animais, em função das dietas consumidas, em que a dieta ofertada
influenciou na seleção dos animais pelas partes mais ou menos grosseiras dos alimentos,
não sendo constatada diferença estatística entre as raças estudadas.
Tabela 4. Porcentagem do tamanho da partícula retida nas peneiras para as sobras e
dietas ofertadas e coeficientes de variação (CV), de caprinos Moxotó e
Canindé submetidos a dois níveis de energia na dieta
Tamanho de
partícula
(mm)
≥2,00
Moxotó
Canindé
P>F
2,2 Mcal
2,7 Mcal
2,2 Mcal
2,7 Mcal
CV
(%)
23,15
8,68
27,49
9,85
68,99
ns
**
ns
2,00 - 1,00
28,67
29,2
27,75
29,09
23,38
ns
ns
ns
1,00 – 0,50
22,81
25,37
22,30
25,96
15,62
ns
*
ns
< 0,50
25,37
36,94
22,46
35,10
24,89
ns
**
ns
Raça
Dieta
RxD
Dieta com 2,2 Mcal de EM
Dieta com 2,7 Mcal de EM
≥2,00
21,60
6,70
2,00 - 1,00
24,36
31,69
1,00 – 0,50
29,44
30,57
< 0,50
24,61
31,04
ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
Não houve efeito da raça nem da interação raça x dieta (P>0,05), sobre as
variáveis analisadas.
Os animais de ambas as raças apresentaram comportamento
semelhante quanto à seletividade da dieta ofertada, não diferindo estatisticamente.
Entretanto, quando comparadas às dietas oferecidas, houve diferença (P<0,01) quanto
ao tamanho de partícula selecionado, exceto para o tamanho entre 2,0-1,0 mm.
A dieta ofertada com maior nível energético (2,7 Mcal) apresentou 31 % a
menos de partículas menores que 2,0 mm, no entanto, houve uma tendência para ambas
as raças, em deixar maior quantidade nas sobras para este tamanho de partícula, do que
70
lhes foi oferecida. Entretanto, como já era esperado, os animais que consumiram a dieta
de menor oferta de energia, deixaram uma maior quantidade de partículas > 2,0 mm.
Exceto para o tamanho de partícula entre 2,0 e 1,0 mm, para todos os demais, houve
diferença (P<0,05) entre as dietas oferecidas.
De maneira geral, nota-se que na dieta de menor aporte energético, os animais
deram maior preferência aos tamanhos de partículas que variaram de 1,0 a 0,50 mm,
uma vez que na dieta oferecida este tamanho encontrava-se em maior quantidade, sendo
o que apresentou menor porcentagem nas sobras, o mesmo foi demonstrado para a dieta
de maior oferta de energia. No entanto, as partículas > 2,0 mm foram deixadas em
maior proporção para ambas as dietas, quando comparados ao que foi ofertado.
Ribeiro et al. (2006a), também não encontraram diferença significativa para a
seletividade entre as raças Moxotó e Canindé. No entanto, seus resultados divergem dos
encontrados nesta pesquisa com relação ao tamanho preferencial da partícula por estes
animais. Estes autores revelam que as raças Moxotó e Canindé deram maior preferência
ao tamanho de partículas maiores 1,7 mm, com médias de 9,17 % e 17,60 % para as
raças Canindé e Moxotó, respectivamente. Constataram ainda que, a maior percentagem
de rejeição entre as raças, foi para as partículas cujo tamanho foi inferior a 0,6 mm,
registrando médias de 29,64 %, para ambas as raças.
Hadjigeorgiou et al. (2003) trabalharam com o objetivo de testar a eficiência de
ingestão e de digestão entre caprinos e ovinos fornecendo feno com 3 diferentes
tamanhos de partícula: longo (13,29 mm), médio (7,26 mm) e curto (0,69 mm). E
observaram que os ovinos aumentaram a ingestão de matéria seca (IMS) com
diminuição do tamanho da partícula, porém a digestibilidade e o tempo de retenção foi
menor. Enquanto que os caprinos não apresentaram diferença significativa para IMS,
digestibilidade e tempo retenção para os variados tamanhos de partícula. Estes
71
resultados levaram os autores a concluir que os caprinos apresentam uma maior
eficiência mastigatória, tanto nos processos de ingestão como de ruminação,
desenvolvendo mecanismos de respostas diferentes para cada comprimento de partícula,
não alterando sua ingestão, digestibilidade ou tempo de retenção ruminal das mesmas.
Cozzi & Gottardo (2005), trabalhando com o objetivo de avaliar a atividade
seletiva de bovinos em terminação, recebendo alimentação à vontade na forma de ração
completa, observaram que não existe seleção feita no momento em que a ração é
disponibilizada aos animais. No entanto, no intervalo entre 0 e 8 horas após o
arraçoamento, há um aumento na preferência por tamanhos de partículas maiores que
8,00 mm, sendo que com o passar do tempo, no intervalo entre 8 e 16 horas após o
arraçoamento, a preferência por tamanhos maiores aumenta, chegando a um tamanho
superior a 19,0 mm.
Não há como fazer um comparativo entre o tamanho de partícula
preferencialmente selecionado por bovinos com os caprinos, uma vez que o hábito
seletivo dos mesmos é completamente diferente, a intenção de mostrar os resultados
obtidos por Cozzi & Gottardo (2005) é demonstrar que, com o passar do tempo, há uma
tendência de procura por partículas de tamanhos maiores no alimento, no entanto, não é
possível inferir se o comportamento seria o mesmo com os caprinos.
De acordo com revisão feita por Allen (1996), grande parte da redução no
tamanho de partículas grandes ocorre no reticulo-rúmen, ocasionada por uma
combinação de resultados decorrentes da mastigação primária e da ruminação, com
redução relativamente baixa promovida pela digestão (fermentação). A fermentação não
tem efeito direto sobre a redução, porém aumenta fragilidade dos tecidos, facilitando a
mastigação dos mesmos. Entretanto, pouca ou nenhuma redução ocorrerá depois que as
partículas deixarem o retículo-rúmen, pela ausência de enzimas capazes de degradar
72
celulose no abomaso ou intestino delgado. Dados da literatura encontrados por este
autor indicam que o conceito de tamanho de partícula é usado para descrever o fluxo
retículo-ruminal, mas que pode ser dependente da forma física do alimento e da ingestão
de matéria seca.
Nas Figura 1 e 2 estão apresentados os tempos despendidos nas atividades de
alimentação, ócio e ruminação, ao longo das 24 horas diárias, em função da dieta
oferecidas.
Figura 1. Tempos de alimentação (TAL), ócio (TO) e ruminação (TRU) de caprinos Moxotó e Canindé,
durante 24 horas, consumindo a dieta de 2,7 Mcal de EM/kg de MS
Figura 2. Tempos de alimentação (TAL), ócio (TO) e ruminação (TRU) de caprinos Moxotó e Canindé,
durante 24 horas, consumindo a dieta de 2,2 Mcal de EM/kg de MS
Não houve efeito significativo para os tempos despendidos nestas atividades em
função das raças, havendo diferença (P<0,05) apenas para dietas ofertadas. Pode-se
73
observar que a dieta com maior nível energético proporcionou um maior tempo em ócio,
principalmente no período que compreende das 10h00 às 18h00, notadamente pela
quantidade de volumoso contido na dieta de menor oferta energética, o que proporciona
maior atividade mastigatória. Diferentemente do comportamento dos animais
submetidos a dieta de menor aporte energético, em que o maior tempo em ócio
compreende o período das 16h00 às 19h00, corroborando com os resultados
encontrados por Ribeiro et al. (2006b). Das três atividades observadas, o tempo de ócio
foi a que manteve-se mais constante ao longo do dia.
Durante a noite, a atividade ruminação foi mais freqüente, começando por volta
das 22h00, continuando de forma crescente até às 07h00, quando obteve seu maior pico,
para ambas as dietas ofertadas. Diferentemente dos relatos de Fischer et al. (1998);
Tavares et al. (2005) e Ribeiro et al. (2006b), que encontraram dois picos diferentes, o
primeiro das 22:00 às 00:00 horas e o segundo das 04:00 às 06:00 da manhã. É evidente
que a ruminação diminui ao longo do dia, período em que é fornecida a alimentação dos
animais.
Na Tabela 5 estão apresentados os valores médios dos tempos despendidos em
alimentação, ruminação e ócio expressos em horas/dia, consumos de matéria seca
(CMS), proteína bruta (CPB) e fibra em detergente neutro (CFDN), a eficiência de
alimentação (EAL) e ruminação da MS (ERU), e o tempo de mastigação total (TMT)
expresso em h/dia, em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da
dieta.
74
Tabela 5. Médias e coeficientes de variação (CV) dos tempos despendidos em
alimentação (TAL), ruminação (TRU) e ócio (TO), consumos de matéria seca
(CMS), proteína bruta (CPB), fibra em detergente neutro (CFDN), eficiências
de alimentação (EAL) e ruminação (ERU) e tempo de mastigação total
(TMT), em função das raças de caprinos nativos e do nível energético da
dieta
Moxotó
Canindé
P>F
2,2 Mcal
2,7 Mcal
2,2 Mcal
2,7 Mcal
CV
(%)
TAL (h/dia)
5,5
5,1
5,9
5,1
25,20
ns
ns
ns
TRU (h/dia)
8,8
6,9
8,0
6,9
13,94
ns
**
ns
TO (h/dia)
CMS
(kg/dia)
CMS (% PV)
CMS
(g/UTM)
CPB (kg/dia)
9,8
12,0
10,1
12,1
16,76
ns
**
ns
0,54
0,66
0,65
0,72
23.87
ns
ns
ns
3,36
3,61
3,74
3,56
18,58
ns
ns
ns
67,32
74,77
76,39
75,21
19,44
ns
ns
ns
0,07
0,08
0,08
0,09
27,82
ns
ns
ns
0,43
0,41
0,46
0,41
21,78
ns
ns
ns
0,29
0,31
0,35
0,33
20,02
*
ns
ns
1,75
1,68
2,01
1,65
14,53
ns
**
ns
35,16
34,90
41,05
34,91
15,33
ns
ns
ns
0,11
0,15
0,12
0,18
36,85
ns
**
ns
0,10
0,10
0,09
0,13
57,57
ns
ns
ns
14,24
12,03
13,90
11,94
14,11
ns
**
ns
Variável
CPB (% PV)
CFDN
(kg/dia)
CFDN
(% PV)
CFDN
(g/UTM)
EAL
(kgMS/h)
ERUms
(kgMS/h)
TMT(h/dia)
Raça
Dieta
RxD
ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
Observa-se que não houve efeito para as variáveis analisadas em função das
raças (P>0,05), exceto para o CFDN (kg/dia), contudo, houve efeito (P<0,05) para
variáveis TRU, TO, CFDN (% PV), EAL e TMT, em função do nível energético da
dieta.
Estes resultados demonstram semelhança entre as raças, as quais, de acordo com
Ribeiro et al. (2006b), Caprinos Moxotó e Canindé atingem, na idade adulta, tamanho
corporal muito próximo e possuem velocidade de crescimento semelhante, além de
75
serem animais que foram submetidos às mesmas condições ambientais no processo de
adaptação quando trazidas ao semi-árido nordestino. Outro fato que pode ter contribuído
para tal semelhança é que as raças foram submetidas às mesmas condições de manejo,
além disto, os animais estavam dentro da zona de conforto térmico para caprinos adultos
que está entre 20 e 30º C de acordo com Baeta & Souza (1997).
Com relação à dieta oferecida aos animais, pode-se verificar que não houve
efeito (P>0,05) para o TAL, resultado este que se encontra de acordo com o observado
por Tavares et al. (2005) trabalhando com caprinos mestiços sob confinamento,
alimentados com diferentes níveis de feno na dieta, obtendo-se médias de 5,1 e 5,47
h/dia, nas dietas com inclusão de 25 e 35% de feno. Ribeiro et al. (2006b) observaram
resultados inferiores a estes, com médias que variaram de 2,95 e 3,83 h/dia, para
caprinos Canindé e Moxotó alimentados com dieta restrita e à vontade, respectivamente.
A dieta com menor nível energético (2,2 Mcal/kg de MS) proporcionou um maior
tempo de ruminação (TRU), uma vez que a mesma continha maior proporção de feno,
com 8,37 h/dia que representa 34,88% do dia e, um menor tempo ocioso de 9,93 h/dia
correspondente a 41,38% do dia, quando comparados ao tempo despendido para estas
atividades na dieta com maior nível energético (2,7 Mcal/kg de MS), que foi de 6,90
h/dia e 28,75% das 24 h e 12,01 h/dia referente a 50,04% do dia, para ruminação e ócio,
respectivamente. Pode-se inferir que a quantidade de 70% de feno de maniçoba
utilizado na dieta com menor nível de energia, foi um dos fatores a influenciar nestes
resultados, devido ao maior nível de FDN na ração que proporciona maior tempo de
retenção da digesta no rúmen.
Van Soest (1994) relatou que para animais estabulados, o tempo gasto com
alimentação é de aproximadamente uma hora, isto para alimentos com alta proporção de
grãos, e até mais de seis horas para fontes com alto teor de volumoso. De modo que, o
76
tempo despendido em ruminação é influenciado pela natureza da dieta e,
provavelmente, é proporcional a quantidade de parede celular dos volumosos, ou seja,
quanto maior o teor de fibra na dieta, maior o tempo despendido em ruminação.
No entanto, de acordo com Fischer et al. (1998), existem diferenças entre
indivíduos quanto à duração e à repartição das atividades de ingestão e ruminação, que
parecem estar relacionadas ao apetite dos animais, as diferenças anatômicas e ao
suprimento das exigências energéticas ou repleção ruminal, que seriam influenciadas
pela relação volumoso:concentrado.
Segundo Pereyra & Leiras (1991) a ruminação depende da qualidade do alimento,
quanto melhor a qualidade, menor será o tempo de ruminação e vice-versa. O animal
investe em torno de 5 a 9 h do dia para a ruminação, semelhante aos resultados
encontrados neste trabalho.
Ribeiro et al. (2006b) trabalhando com caprinos Moxotó e Canindé em
confinamento, submetidos a alimentação restrita e à vontade, não encontraram diferença
significativa entre raças, dietas ou interação entre elas, para nenhuma das variáveis
analisadas. No entanto, mesmo não havendo efeito significativo, os resultados
encontrados por estes autores, para tempo de ruminação (8,03 e 7,92 h/dia) e ócio
(12,00 e 13,43 h/dia) para animais que recebiam alimentação à vontade e restrita,
respectivamente, são muito semelhantes aos encontrados neste trabalho.
Tavares et al. (2005), ao trabalharem com diferentes níveis de inclusão de feno em
dieta a base de palma forrageira para caprinos mestiços, obtiveram resultados de 5,58 e
6,67 h/dia para o tempo despendido em ruminação e 12,97 e 11,38 h/dia para o tempo
ocioso, para as dietas com 35% e 45% de inclusão de feno, valores estes semelhantes
aos encontrados neste estudo para os animais que se alimentaram da dieta com maior
77
energia. Estes resultados corroboram com os relatados por Bürger et al. (2000) e Souza
et al. (2007).
O aumento do nível de carboidratos não fibrosos e a conseqüente diminuição da
fibra em detergente neutro da dieta podem ocasionar menores períodos de alimentação e
ruminação e, por conseqüência, elevar o tempo total diário do animal em ócio (Silva et
al., 2005).
De acordo com Carvalho et al. (2006), os tempos de ruminação e de ócio
encontrados com ovinos consumindo dietas a base de capim elefante como volumoso e
40 % farelo de cacau e torta de dendê no concentrado, com 47,13; 52,37; e 57,85 % de
FDN, respectivamente. Estes autores ressaltam que a semelhança nos tempos de
ruminação e ócio provavelmente resultou do pequeno tamanho das partículas desses
alimentos (semelhante ao do concentrado). Entretanto, em trabalho conduzido por
Carvalho et al. (2007) com cabras lactantes alimentadas com silagem de milho e dois
níveis de farelo de cacau e torta de dendê, também não encontraram diferença para
tempos de alimentação, ruminação e ócio, em função das dietas, bem como nos
diferentes intervalos de observação utilizados de 5, 10, 15 e 20 minutos. Estes autores
observaram tempos médios de alimentação, ruminação e ócio de 4,96; 7,56; e 11,45
horas por dia, respectivamente, próximos aos encontrados para os caprinos Moxotó e
Canindé, desta pesquisa.
Não foi constatada diferença significativa para os consumos de MS e PB
expressos em kg/dia, % do PV e g/UTM, para a s raças, dietas ou interação entre elas
(Tabela 5). De acordo com Mertens (1994), o consumo não é expresso na mesma base
para os mecanismos físicos e fisiológicos de controle, em rações de baixa qualidade, em
que a ingestão é limitada pelo enchimento do rúmen, sugerindo expressá-la em
percentagem do peso vivo, pois está mais relacionado ao tamanho e a capacidade do
78
trato digestivo. Por outro lado, quando o consumo é limitado pela demanda fisiológica
de energia, a melhor forma de expressá-la é com base no peso metabólico. Entretanto,
no caso deste estudo, esta afirmativa não se aplica, pelo fato de não haver diferença para
estas variáveis analisadas.
As variáveis eficiência de alimentação de matéria seca (EALms), eficiência de
ruminação de matéria seca (ERUms) e tempo de mastigação total (TMT), não foram
influenciadas (P>0,05) pela raça, demonstrando mais uma vez que os animais
apresentam comportamento semelhante (Tabela 5). Os animais que consumiram a dieta
com maior oferta de energia (2,7 Mcal de EM/kg de MS), demonstraram maior
eficiência de alimentação, ou seja, consumiram maior quantidade de MS por unidade de
tempo, que foi 160 g versus 120 g de MS por hora para os animais em que era ofertada
menor quantidade de energia na dieta, o que representa um tempo gasto de 22,5 e 30
segundos por grama de alimento consumido, respectivamente.
Foi observado no decorrer do experimento que no momento em que era
disponibilizada a ração, os animais submetidos a dieta de maior oferta energética
consumiam com maior avidez quando comparado com aqueles em que era ofertada
menor quantidade de energia. Este fato provavelmente ocorreu em função da maior
quantidade de volumoso na dieta com 2,2 Mcal de EM/kg de MS, o que levou o animal
a despender mais tempo selecionando os ingredientes da ração. Justificando-se com isto,
seleção feita por estes pelas partículas menores que 2 mm, uma vez que
proporcionalmente esta dieta continha maior quantidade desta, diferentemente da dieta
maior nível energético (Tabela 2).
Carvalho et al. (2006), não observaram diferença significativa na eficiência de
alimentação, havendo diferença para ERU de MS por hora, para ovinos consumindo
dietas a base de capim elefante, farelo de cacau e torta de dendê. Diferentemente deste
79
estudo com caprinos nativos, que foi verificada influência das dietas na EAL, enquanto
que não houve influência na ERU (g MS/h).
Os animais que receberam a dieta de menor nível energético tiveram um tempo de
mastigação total (TMT) superior àqueles que consumiram a dieta de maior nível
energético. Isto pode ter ocorrido em função da maior relação volumoso:concentrado
(70:30) da dieta de menor nível energético, consequentemente, pelo maior teor de FDN
(53,09 %) que levou os animais a passarem mais tempo ruminando, proporcionando
aumento no TMT (Tabela 5).
De acordo com Ramos et al. (2006), a necessidade de mastigação está relacionada
com a quantidade de material indigestível, ou pouco digestível consumido, e com a
resistência do material à redução do tamanho de partículas, pois alimentos com alto teor
de FDN necessitam ser mastigados e, principalmente, ruminados por um período mais
longo.
Na Tabela 6 estão apresentadas às médias e coeficientes de variação para o
número de bolos ruminais por dia (NBR), número de mastigação merícica por dia
(NMMD), números de mastigação merícica por bolo (NMMB) e tempo de mastigação
merícica por bolo (TMMB/seg), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois
níveis de energia na dieta.
80
Tabela 6. Médias e coeficientes de variação para o números de bolos ruminais por dia
(NBR), número de mastigação merícica por dia (NMMD), números de
mastigação merícica por bolo (NMMB) e tempo de mastigação merícica por
bolo (TMMB/seg), de caprinos Moxotó e Canindé submetidos a dois níveis de
energia na dieta
Moxotó
Canindé
P>F
CV
Atividades
2,2
2,7
2,2
2,7
(%) Raça Dieta R x D
Mcal
Mcal
Mcal
Mcal
140,12
153,54
152,03
NBR
176,73Aa
ns
**
14,26 **
Bb
Bb
Bb
NMMD
15261,29 14451,35 17115,56 14932,50 14,13 ns
*
ns
NMMB
108,91
94,12
96,84
98,22
27,52 ns
ns
ns
TMMB
90,01
64,82
65,00
65,25
28,77
ns
ns
ns
Médias seguidas de letras diferentes maiúsculas para raça e minúsculas para nível energético diferem pelo
teste F a 5% de probabilidade. ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
Houve efeito da raça (P<0,01) e da interação raça vs dieta (P<0,01) para o NBR,
com o desdobramento da interação verificou-se que para raças dentro de dietas, houve
efeito (P<0,05) apenas para a raça Canindé. Entretanto, para o efeito das dietas dentro
das raças, observou-se que apenas a dieta de menor nível energético demonstrou efeito
(P<0,01).
Para o número de mastigação merícica por dia, os resultados demonstram a
mesma tendência do NBR, onde não houve efeito significativo para a raça Moxotó em
função da dieta, ao passo que a Canindé mastigou mais vezes por dia. Esta ocorrência é
aceitável, uma vez que o NMMD é diretamente proporcional ao NBR, ou seja, quanto
maior o número de bolos ruminais por dia, maior será o número de mastigações diárias.
Por outro lado, o tempo de mastigação merícica por bolo (TMMB) apresentou uma
relação inversamente proporcional às demais variáveis. Por esta razão, a Canindé
despendeu menos tempo mastigando cada bolo ruminal. Isto demonstra que a raça
Moxotó é mais lenta nestas atividades, gastando um maior tempo na mastigação por
bolo ruminal, levando a um menor NBR e NMMD.
81
Segundo Mertens (2001), o tempo de mastigação está relacionado com o
consumo de MS, concentração de FDN da dieta e tamanho da partícula. Neste sentido,
embora o consumo de MS tenha sido mais elevado para a dieta 2,7 Mcal de EM que,
por sua vez, continha menor concentração de FDN (45,02%), a dieta de 2,2 Mcal de EM
proporcionou um tempo de mastigação superior, associada também a maior relação
volumoso:concentrado (70:30) com maior percentual de FDN (53,69%). Outro fator que
pode ter influenciado neste resultado está relacionado a uma maior quantidade de
concentrado na dieta de 2,7 Mcal que, de acordo com Paulino et al. (2005) alimentos
energéticos possuem maior coeficiente de digestibilidade e, desta forma, o tempo de
mastigação necessário para esta dieta foi menor.
Os resultados encontrados neste trabalho foram inferiores aos relatados por
Ribeiro et al. (2006b) trabalhando com estas mesmas raças caprinas, com valores de
34.587 e 31.518 NMMD para animais alimentados com dieta contendo 40% de feno de
tiffton fornecida à vontade e com 30% de restrição, respectivamente. No entanto,
corroboram com àqueles evidenciados por Carvalho et al. (2004), trabalhando com
cabras em lactação.
Observam-se na Tabela 7 as médias e os coeficientes de variação (CV) das
variáveis fisiológicas, urina, fezes e procura por água, expressa em mL/dia (urina), g/dia
(fezes) e número de vezes por dia (para urina e fezes), além do consumo de água (L/dia)
e L/kg de matéria seca consumida, em função das raças de caprinos nativos e do nível
energético da dieta.
82
Tabela 7. Médias, desvios padrão e coeficientes de variação (CV) das variáveis
fisiológicas, urina, fezes e procura por água, expressa em número de vezes
por dia e consumo de água (C. Água) em função das raças de caprinos nativos
e do nível energético da dieta
Canindé
2,2
2,7
Mcal
Mcal
6,70
6,17
CV
(%)
Raça
Dieta
RxD
Fezes (nº/dia)
Moxotó
2,2
2,7
Mcal
Mcal
6,87
6,30
31,99
ns
ns
ns
Fezes (g/dia)
489,0
214,0b
405,0
269,0b
31,74
ns
**
ns
Urina (nº/dia)
6,00
6,00
4,70
4,57
38,95
*
ns
ns
495,6Aa
215,8Bb
372,6Bb
279,7Bb
36,12
ns
**
*
2,80
2,90
4,97
4,43
71,63
*
ns
ns
1,57
1,55
1,48
1,55
30,40
ns
ns
ns
2,99
2,39
2,22
2,28
29,47
ns
ns
ns
Atividades
Urina
(mL / dia)
Água (nº/dia)
C. Água
(L /dia)
C. Água
(L /kg MS)
P>F
Médias seguidas de letras diferentes maiúsculas para raça e minúsculas para nível energético diferem pelo
teste F a 5% de probabilidade. ns = não significativo; ** P<0,01; * P<0,05.
Não houve efeito (P>0,05) para freqüência de defecação em função da raça nem
da dieta, as médias encontradas variaram de 6,17 e 6,87 com maior freqüência para os
animais que recebiam a dieta de menor nível de energia. Ribeiro et al. (2006b),
trabalhando com estas mesmas raças constataram não haver diferença para esta variável,
encontrando médias de 5,13 para a raça Moxotó e 5,60 para a Canindé. Souza (2007),
trabalhando com ovelhas nativas encontrou efeito da raça para defecação, onde as
médias variaram de 10,65; 9,10; 7,09 e 7,73 vezes por dia para as raças Cariri, Barriga
Preta, Morada Nova e Cara Curta, respectivamente.
Com relação à freqüência de defecação, França (2006) também não verificou
diferença significativa para ovelhas Morada Nova no final da gestação recebendo dietas
com níveis crescentes de energia. Tavares (2005), ao avaliar o efeito da inclusão de feno
em substituição à palma na dieta de caprinos mestiços, não encontrou diferença
significativa (P>0,05) para as variáveis fisiológicas, fezes e urina.
83
No que se refere à quantidade de fezes excretadas diariamente, houve efeito
(P<0,01) desta variável em função da dieta oferecida, em que a dieta com menor nível
energético favoreceu maior quantidade de fezes excretadas, com médias de 489,0 e
405,0 g/dia, para as raças Moxotó e Canindé, nesta ordem.
Foi constatada diferença (P<0,05) para as variáveis fisiológicas, frequência
urinária e frequência de procura por água em função da raça, mas não houve com
relação à dieta (P>0,05). No entanto, verifica-se que a dieta influenciou na quantidade
de urina excretada (P<0,01), uma vez que a dieta com menor nível energético
proporcionou maior quantidade, com médias de 495,6 mL/dia e 372,6 mL/dia, para
Moxotó e Canindé, respectivamente. Enquanto que os animais que receberam a dieta de
maior oferta de energia, apresentaram médias de 215,8 mL/dia e 279,7 mL/dia, para
Moxotó e Canindé, nesta ordem. Mesmo ocorrendo diferença na frequência de procura
por água, não houve efeito (P>0,05) para o consumo de água L/dia, bem como L/kg de
MS consumida. Os animais da raça Moxotó urinaram mais que os da raça Canindé, em
número de vezes ao dia e em L/dia, enquanto que a procura por água foi maior para a
raça Canindé. Apesar de não ter havido diferença entre as raças para o consumo em
litros de água, os resultados apontam que os animais Canindé ingeriram menos por vez,
porém em maior freqüência (Tabela 7).
De acordo com Pereyra & Leiras (1991) os fatores que afetam o consumo de água
são: calor, que promove aumento mais efetivo no consumo de água; CMS, que mantém
uma relação direta com o consumo de água; suplementação mineral, que aumenta o
consumo principalmente em fêmeas gestantes e lactantes; e confinamento, animais
estabulados tendem ao aumentar o consumo em relação aos que estão em pastejo.
Outro fato que pode ter influenciado na maior procura por água pela raça Canindé,
é coloração escura da pelagem destes caprinos, que promove uma maior absorção de
84
calor do ambiente, levando-os a procurarem água com maior freqüência, com isto, a
dissipação do calor ocorrerá pela conversão da água em forma de vapor, tanto pelo suor
secretado pelas glândulas da pele quanto pela umidade do trato respiratório (Baeta &
Souza, 1997), justificando-se com isto, a menor freqüência urinária. Por outro lado,
segundo revisão feita por Morand-Fehr & Dureau (2001), uma redução no consumo de
água não reduz sua excreção através da urina.
Lisboa (2007), trabalhando com as carcaças destes mesmos animais encontrou
diferença (P<0,05) para o peso do pulmão, em que a raça Canindé superou a Moxotó.
Este dado reforça a afirmativa descrita acima, que estes podem ter adquirido ao longo
do tempo uma maior eficiência respiratória, facilitando as trocas de calor através da
respiração.
De acordo com relatos encontrados por Silva (2006) a ingestão de água esta
relacionada com o metabolismo energético e, conseqüentemente com o consumo de
oxigênio. Para que ocorra a utilização do alimento pelo corpo, a água é inicialmente
necessária para mastigar e engolir o alimento, bem como para os processos de digestão,
que requerem homogeneização e translocação da digesta e fluidos dentro do lúmen
gastrintestinal. Contudo, a estreita relação entre ingestão de água e de alimento, reflete
as múltiplas interações de água e trocas energéticas em nível de tecidos e células.
Para complementar a afirmativa feita por Silva (2006), Ferreira et al. (2002)
postulam que os caprinos necessitam de menos água que os ovinos para ganhar um
quilo de peso vivo e, pontuam que dietas com mais energia requerem mais água que as
dietas com baixa energia. Torreão (2007) enfatiza que tal informação dá suporte à idéia
de que o aumento da densidade energética da dieta pode ser um eficiente caminho para
amenizar o estresse pelo calor, levando em consideração que nessa situação aumentaria
85
o consumo de água. Entretanto, no presente estudo, o nível energético da dieta não
influenciou na ingestão de água.
86
Conclusões
Os caprinos Moxotó e Canindé são muito seletivos, mesmo sendo alimentados
com ração completa, com maior preferência para pequenos tamanhos de partícula,
independente do nível energético da dieta.
A dieta com menor nível energético proporciona menor tempo de ócio e maior
tempo ruminação, diminuindo a eficiência alimentar de caprinos Moxotó e Canindé em
confinamento.
A raça Moxotó demonstra maior freqüência urinária e menor freqüência de
procura por água ao longo do dia. Entretanto, recebendo a dieta com 2,7 Mcal de EM/
kg de MS, excreta menor quantidade de urina em litros por dia.
87
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