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Influências do educador social nas práticas educativas para crianças e
adolescentes: Programa Bairro Escola Barueri
José Nildo Oliveira Soares1
RESUMO
O presente trabalho tem como finalidade refletir e propor ações quanto à
atuação do educador social do Programa Bairro-Escola Barueri, programa que
teve suas práticas iniciadas em julho de 2007 e que hoje oferece atividades de
Trilhas Educativas a um público de crianças e adolescentes de comunidades
carentes, em horário diferenciado do período regular ao escolar. A investigação
surge de experiências cotidianas com o programa e de leituras acadêmicas
sobre o tema. Parte, também, da inquietude de se olhar de forma mais atenta e
de promover ações que visem melhor qualidade na oferta da educação social e
na contribuição do educador social para formação de uma comunidade
multicultural e cidadã, baseados na Pedagogia Social proposta por expertos
como Romans. Analisaremos como ocorre a relação dos atores envolvidos em
conjunto com a comunidade atendida, para isso empregando o paradigma
sócio-crítico, que trabalha com a hipótese de, a partir de análises dos
movimentos educacionais, ser possível a transformação das realidades e das
ações praticadas nas diversas áreas do conhecimento. Verificaremos e
refletiremos sobre os indicadores de 2007 a fim de identificar as melhoras
sociais, nos valendo, portanto, dos dados pré-existentes e do referencial teórico
analisado até o presente momento.
Palavras-chave: educação social, criança e adolescente, comunidade.
Abstract
This work has as its finality to reflect and to propose actions over the
performance of social instructors of the program “neighbourhood – Barurei
school”, this program started its practices in July 2007 and today offer activities
such as Educative programmes for children and teenagers from needy
communities out of normal school hours. This investigation emerges out of the
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Trabalho desenvolvido junto ao Mestrado do Programa de Pós Graduação em Psicologia
Educacional, Linha de pesquisa Ensino-aprendizagem, da UniFIEO/Osasco, sob orientação do
Prof. Dr. Clemente de Souza Neto . E-mail: [email protected].
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daily experiences with the program of academics readings about the theme.
This perspective offers the challenge to be attentive and to promote actions that
tends to improve the quality of education and the instructor´s contribution to the
formation of a multicultural community and citizenship, based on Social
Pedagogy propose by experts such as Romans. We´ll analyze how relations
occur amongst the actors involved together with the assisted community,
through this, by putting to use the socio-critical paradigm, that works with the
hypothesis, from the analyses of educational movements, being possible for the
transformation of realities and the practical actions in different disciplines. We
shall verify and reflect on the survey of 2007 in order to identify the social
improvements, taking the pre-existing data into consideration and the
theoretical reference analyzed till the present moment.
Keywords: Social education, children and teenagers, community.
Objetivos do Estudo
O objetivo geral deste estudo é contribuir no processo de influência do
trabalho do Educador Social do Programa Bairro-Escola Barueri que exerce
suas práticas educacionais junto a crianças e adolescentes de uma
comunidade de alta vulnerabilidade social.
Para melhor entendimento do objetivo geral, nos pautamos nos objetivos
específicos a seguir: a) analisar a proposta inicial do programa em face dos
resultados colhidos nos seis primeiros meses de aplicação do programa; b)
refletir sobre o papel dos educadores quanto ao engajamento profissional na
área social; c) apontar os resultados alcançados no período e indicar o perfil do
educador social para atuar em áreas da comunidade em situação de
vulnerabilidade social.
Problema
No ano de 2007 o fundo Social de Solidariedade da cidade de Barueri
procurou o Projeto Escola Cidade Aprendiz, na capital paulista, cujo mentor é o
Jornalista Gilberto Dimenstein, a fim de conhecer os trabalhos desenvolvidos
nesta ONG da Vila Madalena.
Assim, foi criado o Programa Bairro-Escola Barueri que tem por missão:
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“Contribuir para a formação de um bairro educador, investindo na
autonomia e responsabilidade de todos os sujeitos da comunidade,
desenvolvendo ações articuladas e integradas, possibilitando a
formação de cidadãos conscientes e participativos”.
O programa corresponde a um eixo central de atividades educacionais,
cuja finalidade é estimular os aprendizes a ultrapassar os muros da escola, ou
seja, transformar os espaços existentes na comunidade em espaços de
aprendizagem e propiciar troca de experiências entre os diversos atores
parceiros, no sentido de fornecer mecanismos aos participantes de serem
agentes protagonistas e transformadores de si mesmo, do próprio seio familiar
e da comunidade a que está inserido.
As atividades educacionais são realizadas por meio de “trilhas
educativas”, as quais são desenvolvidas por eixo temático perpassando por
práticas educativas, esportivas, culturais e urbanização do espaço público
coletivo.
Justificativa
As políticas neoliberais das últimas décadas, em conjunto com o
fenômeno veloz da globalização, tem promovido mudanças nem sempre
propícias à criação de uma melhor forma de vida. Tais mudanças tem conferido
aos indivíduos menos privilegiados socialmente, em especial as crianças e
adolescentes, uma espécie de nódoa no âmbito da sociabilidade, por conta de
promover cada vez mais desigualdades econômicas, culturais e de acesso a
informação, fatores estes que contribuem para um apartheid cada vez mais
desumanizador do sujeito.
Por isso, este trabalho foi motivado visando averiguar como e educador
social, em especial o educador do Programa Bairros-Escola Barueri, pode ser
um facilitador/mediador da troca de experiências, estas que agregam
benefícios aos participantes, no sentido de refletir sobre a educação social que
a priori deve ocorrer de forma pensada em termos coletivos e com o fim de
atingir a cidadania por meio da prática social e, esta pela troca de experiências
entre as pessoas. Ou seja, entendemos que o aluno que recebe este tipo de
educação poderá se situar num campo real de seu cotidiano, o que fará esse
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indivíduo se sentir melhor contextualizado e, consequentemente, mais à
vontade para troca de saberes.
Muitas vezes a educação social sofre preconceitos, além de ser vista
como atividade de menor importância frente à educação formal e, não raro, ser
entendida como prática para o preenchimento do ócio dos participantes, dessa
forma, emprestando entendimento de não requerer preparo, qualificação e
planejamento. No entanto, não se passa em branco a consciência de que haja
certa liberdade nos preparos dos projetos e que, nem sempre, o educador
social se apresenta suficientemente qualificado para o exercício de suas
atividades.
Esse ambiente de somenos pode fazer gerar um ambiente fraco e sem
empolgação para o desempenho das atividades, principalmente quando
refletimos sobre a fala de GHANEM:
As formas de recrutamento, o status profissional e a formação de
quem desempenha função educacional em programas não-formais
são muito variáveis, uma vez que a exigência de títulos acadêmicos é
menor e relativizada. [...] Não é também suficiente para que os
indivíduos engajados no trabalho educacional constituam equipes
articuladas e para que extraiam bom proveito das múltiplas
características de experiência, origem e formação possíveis.
(GHANEM, 2008, p. 72).
Dessa forma, averiguarmos e darmos atenção à preparação intelectual do
educador social é ponto que perpassa nossa análise, pois a partir das
competências, do comprometimento e de seu fazer cotidiano é que será
ofertada uma educação baseada na multidisciplinaridade e de melhor
qualidade, pois como aponta ROMANS:
[...] o exercício profissional do educador social se baseia na
orientação, na
melhoria, no enriquecimento e nas contribuições
para os processos educativos dos demais, [...] sua atividade
profissional repousa nas interações com os usuários dos serviços,
aspectos que requerem não apenas o conhecimento de técnicas,
recursos e métodos, como também, e principalmente, a capacidade
de empatia, escuta e resposta em sua relação profissional.
(ROMANS, 2003, p. 128).
Assim, entendermos como o educador social pode auxiliar a comunidade
a perceber sua importância na transformação do ambiente em que vive e levá-
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la à reflexão sobre seu papel de agente transformador de si mesma é uma
tarefa importante para rompermos um ciclo vicioso que se encontra estagnado
na sociedade atual e que só faz gerar desconfortos e indignação por parte de
uma comunidade segregada.
Por isso, acreditamos na relevância deste trabalho, por entender sua
pertinência na manutenção das práticas desenvolvidas pelos educadores
sociais, além de servir como ponto de apoio para tomada de decisões das
políticas públicas sociais em execução e a serem executadas e, assim, a
educação social não se transformar em: “[...] uma espécie de colchão, de
suavizador das contribuições existentes no seio da sociedade, camuflando e
ocultando as desigualdades e as injustiças sociais tentando simplesmente
adaptar o indivíduo as coordenadas sociais existentes”. (ROMANS, apud
AYREBE, op. cit. p.131)
Embasamento Teórico-metodológico
Este trabalho desenvolve-se de forma a compreender como o educador
social pode ser um facilitador a partir de sua atuação nas comunidades menos
privilegiadas e perceber qual referencial esse profissional se utiliza para suas
práticas, pois como nos aponta SOUZA NETO, (2006, op. cit. p. 69): “A
aprendizagem humana pressupõe a interação de aspectos biológicos, culturais
e emocionais, com suas variáveis de elementos sociais, espirituais,
econômicos e afetivos”.
WEBER, (1998, p. 64), ao refletir em Gramsci sobre: “[...] de que maneira
o indivíduo poderia compreender-se criticamente, compreender-se como um
sujeito histórico?”, aponta que:
“[...] a personalidade humana não se constitui absorvendo
aleatoriamente, passivamente, as concepções de mundo construídas
ao longo da história. A internalização de uma concepção de mundo
implica na ação dos indivíduos qua avaliam as diferentes formas de
se ver o mundo mediante a realidade cotidiana”. (WEBER, 1998, op.
cit. p. 64).
Por isso, entendemos que, no mundo contemporâneo, se faz necessário o
indivíduo compreender-se criticamente e se situar como sujeito da sua própria
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história, para isso deve ter contato com atividades que o leve refletir sobre seu
estar no mundo a partir de seu local, a fim de entender os processos globais
que permeiam a sociedade mundializada,
Em concordância com a autora citada acima, entendemos que as
diversas práticas educacionais no cotidiano dos aprendizes como uma trilha
educativa, uma aula de teatro, uma palestra profissional, uma roda de leituras,
uma aula de reforço, a sessão de um filme e tantas outras atividades
educacionais, devem se oferecidas de forma pensada e contextualizada, a
partir de uma intenção pertinente sobre seu fazer e sobre seus objetivos fins.
Na mesma linha de pensamento discorre SOUZA NETO, (2006, op. cit. p.
69), que nos remete à reflexão de que o desenvolvimento das práticas
educativas devem ser pensada e contextualizada, nos dando conta de que: “A
formação do educador social é permanente e acontece, sobretudo, na práxis,
em todos os momentos da vida, na construção da condição humana”.
As falas desses autores parecem indicar, quando analisamos a
propositura apresentada por Gramsci, que é a filosofia da práxis a única capaz
de proporcionar às pessoas simples, ou às nominadas menos privilegiadas,
maneiras de se perceberem como atores co-responsáveis pelo próprio
processo de mudança e consequentemente a transformação do coletivo, de
forma permanente, equilibrada e sensata a partir da aquisição da consciência
de seu eu, como relata SEMERARO, (2001, p. 110 e 111):
[...] todos os homens são capazes de refletir e filosofar, que as fontes
do saber não dependem só de mentes privilegiadas, isoladas em
elaborações cerebrinas e livrescas. Suas raízes estão profundamente
ligadas à vida prática dos homens, à descoberta dos meios mais
eficientes de produção e organização, à busca do sentindo da
existência individual e coletiva. Mais do que determinar novas
verdades teoréticas e categorias abstratas dentro duma atividade
intelectual “pura”, a filosofia da práxis reelabora e socializa “verdades”
já existentes no senso comum, aprofundando suas conexões e
alargando ao nível das massas as dimensões universais da cultura. A
filosofia é da práxis porque nasce da vontade do conjunto,
interessada concretamente em descobrir os nexos íntimos da
realidade, as relações entre economia, política e filosofia. Ela
estabelece uma continuidade coerente e recíproca entre concepção
de mundo e normas de vida; entre os interesses reais das grandes
massas e a formulação teórica de seus intelectuais; entre o senso
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comum e a elaboração orgânica superior. Só por meio desse
processo é possível sair dum comportamento conformista de
homens-massa, orientado por opiniões “ocasionais e desagregadas”,
e passar a participar criticamente duma concepção de mundo unitária
e coerente, elevada até as fronteiras mais avançadas do pensamento
mundial.
TOURAINE (1998, p. 31), nos adverte que: “[...] não devemos adaptar-nos
passivamente a uma sociedade e a uma cultura de massa, por trás das quais
se escondem forças de dominação muito reais, que devem se identificadas e
combatidas”. Dessa forma, é preciso adotar uma postura proativa em relação
às formas atuais de ensino-aprendizagem vistas nos diversos campos do
conhecimento, ou como relata (WEBER, op. cit. p. 117, apud GRAMSCI, 1958,
p. 23):
“É preciso deixar de conceber a cultura como saber enciclopédico, na
qual o homem não é visto senão sob a forma de um recipiente para
amontoar dados empíricos, fatos brutos e desconexos, que ele depois
deverá arquivar no seu cérebro como nas colunas de um dicionário
para poder, depois, em cada ocasião, responder aos vários estímulos
do mundo externo. Esta forma de cultura é verdadeiramente danosa
para o proletariado”.
Não diferente SOUZA NETO, (2006, op. cit. p. 69) nos diz:
“A aprendizagem humana pressupõe a interação de aspectos biológicos,
culturais e emocionais, com suas variáveis de elementos sociais, espirituais,
econômicos e afetivos”. Não obstante as falas dos autores anteriormente
citados, concordamos com a dialética por eles trazidas as quais corroboram
com o pensamento de Paulo Freire e com o prescrito no Relatório Delors,
apresentados por ROMÃO, (2007), que diz: “No mundo do não-diálogo, é
preciso “dialogar sobre a negação do próprio diálogo”. (ROMÃO, op. cit. p. 105.
apud FREIRE,1978, p.71), e continua Romão:
“Parece, pois, que a educação deve utilizar duas vias
complementares. Num primeiro nível, a descoberta progressiva do
outro. Num segundo nível, e ao longo de toda a vida, a participação
em projetos comuns, que parece ser um método eficaz para evitar ou
resolver conflitos latentes”. (ROMÃO, op. cit. p. 105 apud DELORS,
1998, p.97).
Na espreita do que vimos nas referências apontadas até aqui e não
deixando de falar sobre a questão do educador social como sujeito contribuinte
e um dos atores responsáveis pela a aplicabilidade de uma educação que visa
não substituir a educação formal, mas, sim lhe oferecer mecanismos
complementares, nos pautamos no entendimento de que o educador social é o
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sujeito responsável por estar permanentemente atento no sentido de entender
que:
“[...] a educação social deve ser precisa em sua conceitualização. E
deve ter bem presente, por outro lado, o dinamismo da realidade
social, a fim de adaptar-se a ela continuamente.
É preciso que a educação social seja conceitualizada e explicada em
função de fatores diversos, como o contexto social, a política, as
formas de cultura predominantes, a situação econômica e a realidade
educativa do momento. (ROMANS, 2003, op. cit. p. 55).
Entendemos assim, para o Programa em estudo ser bem sucedido é
preciso que o educador social mantenha uma relação de colaboração e
envolvimento dos participantes no sentido de fazer refletir no educando “[...]
uma progressiva aceitação de si mesmo, ao processo de integração social e à
obtenção de capacidades e de habilidades que lhe permita maior autonomia e
independência social pessoal”. (ROMANS, 2003, op.cit. p. 160). Pois dessa
maneira, contribuirá para que o indivíduo consiga mobilizar as energias
necessárias para questionar a fundo o sentido de sua própria existência e os
rumos que ela toma.
Metodologia de Pesquisa
A pesquisa deste trabalho foi desenvolvida com base nos dados
observados ao longo do segundo semestre de 2007. O questionamento e
interesse motivadores foram a de promover analises à influência do trabalho do
educador social que atende crianças e adolescentes face à proposta inicial do
Programa Bairro-Escdola nos seis primeiros meses de atividades.
Nosso critério de verificação e análise ocorreu da seguinte forma:
No primeiro momento verificamos os projetos das trilhas educativas, os
quais foram apresentados pelos educadores e ratificados pelo corpo gestor do
programa.
Em seguida, visitamos 16, das 29, trilhas em execução, a fim de entender
o desenvolvimento dos projetos e de perceber o relacionamento dos
educadores quanto ao desenvolvimento das propostas e ali conversamos com
os educadores para percebermos a afetividade do educador.
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Realizamos pesquisas, por meio de relatórios, com três educandos, das
trilhas esportiva, cultural e urbana, respectivamente e com três mães que
acompanham o desenvolvimento de seus filhos.
Junto à diretora e a uma coordenadora pedagógica de uma Unidade
Escolar formal do bairro, colhemos, em forma de entrevista gravada, o
depoimento sobre a participação de um aluno que frequenta aquela escola a
fim de percebermos seu rendimento escolar e mudanças de relacionamento no
ambiente escolar.
Junto a comunidade verificamos sua participação nas atividades externas
e coletivas no que se refere à ocupação dos espaços públicos, visitando as
vielas, escadões e becos do bairro.
A metodologia segue um formato no sentido de visualizarmos
transformações na educação social, unindo teoria e prática. Também, tem o fim
de conduzir o conhecimento no sentido de orientar o indivíduo a uma autoreflexão, promovendo, dessa maneira, uma mudança continuada a fim de
apresentar ao educando maneiras de se fazer protagonista de sua própria
história.
Dessa
forma,
pudemos
identificar
como
ocorre
a
relação
educador/educando/comunidade e observar e analisar as ações realizadas,
tanto as teóricas como as trilhas que extrapolam as paredes da sala de aula
como, por exemplo, as atividades nos muros, escadões, becos do bairro, etc.
Resultados – Análises dos dados
Geral
Este trabalho tem por base, como mencionado anteriormente, analisar o
papel do educador social como facilitador/mediador da troca de saberes em
uma comunidade em vulnerabilidade social.
Nesta perspectiva, destacamos a necessidade de se pensar a Pedagogia
Social como ciência preponderante que oferecerá o delineamento metodológico
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para o profissional educador social desenvolver suas atividades. É manifesta a
pertinência de os educadores promoverem uma educação social no sentido de
ofertar ao aluno conhecimentos de como esse educando deve aprender a
conhecer, a fazer e a ser, pois, por meio da interação é-se possível um trabalho
melhor efetivo.
Visitas as (aos) trilhas/educadores
Conforme disposto, nos debruçamos sobre os projetos apresentados
pelos professores à coordenadoria do programa. Percebemos que, os projetos
encaminhados, quando no início das atividades, poucos sofreram alterações
nas suas estruturas originais, pois, apenas dois, dos dezesseis estudados,
apresentavam observações para alteração.
No entanto, uma leitura amiúde faz revelar uma série de fatores que
acreditamos conter algumas inconsistências pedagógicas e, por vezes indo ao
desencontro com a missão proposta pelo programa como, por exemplo,
desenvolver ações articuladas e integradoras.
Durante as visitas às trilhas, realizadas em 16 das 29 existentes,
percebemos que importante parte dos educadores não conduz as atividades no
sentido de oferecer mecanismos aos educandos no que diz respeito à proposta
inicial do programa e, tampouco segue proposituras paradigmáticas da
Pedagogia Social, este posicionamento se dá por desconhecimento melhor
aprimorado dessa ciência.
Os resultados apontam, também, que uma parcela, pequena, mas
significativa, dos professores ainda carece de uma afetividade para o trabalho
de educador social. Pois, observa-se, na fala de alguns, que não há um
entendimento integralizador das práticas e alguns profissionais, ainda, não
possui consciência de que essa integração ocorre em meio a uma série de
“conflitos humanos, políticos e sociais”. SOUZA NETO, (2006, op. cit. p.70).
No entanto, quase todos os 16 educadores visitados entendem qua há
falta de ajustamento do grupo e de entendimento sobre a importância das
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práticas por eles realizadas, ou seja, lhes falta consciência que as atividades
são ações socializadora e importantes para uma mudança significativa da
comunidade a que serve.
Pautamo-nos assim, porque, quando solicitado para pontuarem situações
problemas para o desenvolvimento das trilhas, indicam como preponderante
para o desenvolvimento de seus trabalhos, dentre outros fatores, a “falta de
experiência no trabalho com a comunidade”, “falta de entendimento da
proposta do programa”, “uma metodologia melhor adequada que os norteiem”,
“inexistência de conhecimento teórico e prático das trilhas aplicadas pelos
demais colegas”, “desconhecimento do paradigma Pedagogia Social”, “falta de
visão do corpo pedagógico”, “não valorização dos trabalhos executados”, ou
seja, há, ainda, importante caminho a ser percorrido, no sentido de promover a
esse corpo de profissionais conhecimentos crítico e dialético, estes que
pautarão uma verdadeira transformação social na comunidade.
É de se relevar que o educador constrói sua identidade no fazer cotidiano
de suas atividades, em permanência diária com os educandos e na vivência
com a comunidade em que atua, por isso, é de importância que tenham um
maior envolvimento no sentido de repensar seu modus operandi e sua
permanência antes, durante e após as atividades a partir de leituras reflexivas
de sua identidade pessoal e em seus afazeres, no sentido de promover
alternativas possíveis para uma permanente influência condutora de seu status
como educador social e consequentemente na transformação social do entorno
em que atua.
CUNHA, (2005, p. 193), propõe que:
“[...] a educação é um empreendimento histórico e, como tal, se
constitui de acordo com a configuração de múltiplos fatores; [...] tal
configuração não obedece a leis ou regras previamente
determinadas, mas resulta da interação entre pessoas e situações”.
Por isso, é importante o educador social compreender que suas práticas
devem ser conduzidas em um sentido amplo, isto é, não permitir que o
tecnicismo seja o meio pelo qual as aulas sejam realizadas, mas sim, refletir
sobre sua atuação e sobre seu fazer no programa como um agente igualmente,
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social e que se encontra em um processo de contínuo aprendizado, de forma a
respeitar-se quanto ao seu posicionamento e seu agir sob a perspectiva de sua
própria subjetividade e personalidade, pois assim, poderá, também, romper um
círculo vicioso e de alienação atual e, então, promover uma educação por meio
da práxis e consignada ao sujeito.
Resultados apontados pelos atendidos
Não obstante ao que vemos até aqui, os alunos entrevistados apontam
satisfação considerável ao programa. Em suas falas, consta um grau de
importância relevante para as práticas e, alguns depoimentos nos fazem inferir
que houve mudança significativa nos relacionamentos escolares, familiares e
sociais.
Destacamos como, por exemplo, a fala de Beatriz (nome fictício), que,
também, participa das trilhas reforço matemática e de língua espanhola, que
diz:
“Depois que iniciei as atividades da trilha Corpo em Ação, meu
desenvolvimento [motor] melhorou bastante e consegui entender
melhor as aulas de matemática, pois antes [eu] era uma menina que
pouco me relacionava com as pessoas e por conta disso não
conseguia entender o que a professora passava na lousa.”
Dos depoimentos das mães, destacamos a fala de Sandra (nome fictício),
que tem duas filhas participantes da trilha de língua espanhola:
“No início não entendia muito bem o que elas faziam nas trilhas. Mas,
depois percebi que elas começaram a melhorar na escola e em casa.
Antes brigavam muito, mas depois percebi que não se separavam e
sempre estavam conversando em espanhol e trocando bilhetinhos
entre si. Percebi que o relacionamento em casa melhorou bastante e
que elas melhoraram as notas da escola, principalmente em
português.”
Dos pressupostos acima, percebemos que as práticas realizadas fez
acontecer uma compreensão, nos participantes, quanto ao tempo e lugar em
que estão situados, ou seja, as mudanças, tanto requeridas e impostas
cotidianamente, acontecem a partir de uma troca de saberes múltiplos entre os
diversos atores envolvidos nas ações realizadas.
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Assim,
podemos
dizer
que
as
ações,
realizadas
de
forma
contextualizadas, promovem certa significação aos sujeitos envolvidos, pois:
“[...] Não é o modo de ser do indivíduo que explica seu modo de relacionar-se,
mas, são as relações sociais em que ele está envolvido que explicam seu
modo de ser”. (CUNHA, op. cit. p. 201, apud. VYGOTSKY, 1992, p. 320).
Parceiros
As falas da diretora e da coordenadora pedagógica, de uma Unidade
Escolar, parceira do programa, são interessantes, pois trazem a mensagem de
importante porcentagem dos alunos da sua escola, que participa do programa,
apresentaram, no período analisado, melhoras nas notas, além da mudança,
para melhora, comportamental.
Verificamos também, que a direção da Unidade Escolar trabalha no
sentido de encaminhar seus alunos para participar das trilhas, inclusive
contribui na cessão de espaço para o desenvolvimento de atividades no interior
da escola, esta visão de todo, por parte da direção da escola vem de encontro
com o proposto por DOWBOR, ao dizer que: “Uma educação que insira nas
suas formas de educar uma maior compreensão da realidade local terá de
organizar parcerias com diversos atores sociais que constroem a dinâmica
local”. (DOWBOR, 2009, p. 27).
Melhorias externas na comunidade
Do ponto de vista da valorização do espaço, observamos que houve
engajamento por parte da comunidade em modificar o visual local. Verificamos
que houve considerável mobilização das pessoas em dar as vielas e escadões
existentes no bairro um novo visual, o que fez promover um ambiente mais
socializado na comunidade assistida.
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Nesse contexto, chamou-nos à atenção para uma moradora que ao ser
entrevistada relatou que: “Quando vi que meu neto estava aprendendo sobre
pintura, comentei com ele que gostava da escritora Tarsila do Amaral, daí o
professor veio até aqui e me levou pra aula de pintura e, eu gostei tanto que
comecei a trabalhar com os meninos”.
Dessa maneira, o educador da trilha de Pinturas em Muros, passou a
trabalhar com a senhora Sebastiana (nome fictício), e juntos reproduziram
obras da artista nos muros do bairro e, claro, as pinturas foram realizadas pelos
próprios alunos, após as aulas de pintura promovidas pelo educador.
Conclusões finais
Do presente estudo concluímos e entendemos que, de forma concreta,
tem havido envolvimento por parte dos educadores no sentido de fazer
acontecer mudanças substanciais na comunidade e, dessa forma, tem exercido
influência para a promoção da quebra de paradigmas sociais, por meio das
ações educativas realizadas, em especial ao público de crianças e
adolescentes, uma vez que as ações realizadas promovem atividades abertas
e flexíveis e, também, tem interesse pelas questões sociais do bairro, não
apenas aos quesitos educativos, mas, também, às questões de sociabilidade o
que faz gerar, nos moradores, uma sensação de pertencimento ao todo da
sociedade.
Acreditamos ser de fundamental importância a manutenção do programa,
no entanto, entendemos ser pertinente voltar-se para a formação continuada do
corpo de educadores a fim de lhes proporcionar metodologias apropriadas e
outros olhares para a questão em pauta e, assim, poderem adotar uma postura
que tem por princípio promover:
“[...] educação integral do ser humano que tende a preparar a criança,
o adolescente, o jovem ou adulto para uma convivência com seus
semelhantes que elimine ou reduza ao mínimo os atritos e os
conflitos, capacitando-o a compreensão dos demais, o diálogo
construtivo e a paz social.” (ROMANS, op. cit. p. 28, notas 4 apud
QUINTANA, 1984, p.19).
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De acordo com a proposta inicial do programa e o verificado ao longo dos
seis meses de atividades, faz-nos entender que a proposta atende as
necessidades a que foi submetida, ou seja, deu-se um passo importante para o
início das atividades e pode-se registrar ações concretas das práticas
realizadas.
No entanto, é pertinente a equipe pedagógica acompanhar a confecção e
desenvolvimento dos projetos apresentados pelos educadores e promover
amplo debate sobre os temas abordados.
Acreditamos não existir um biotipo ideal de educador social, porém, há
um conjunto de competências nas quais devem se pautar o profissional que
atua na área social, quais sejam, “[...] os conhecimentos, as capacidades, e as
atitudes”, (ROMANS, op. cit. p. 125), ao exercício da profissão. Isto é,
“conhecimentos” no sentido de não se deter em apenas algo em especial e,
sim, ter sempre em mente que seu fazer educador se dá em contextos
diferenciados e com pessoas portadoras de múltiplos saberes, quereres e
dificuldades, dessa forma, necessitando, o educador, de um permanente
atualizar-se e principalmente ser possuidor de um amor próprio, o qual deverá
se materializar no educando.
Quanto
às
“capacidades”,
é
importante
uma
reflexão
sobre
a
multiplicidade de teor que envolve o trabalho do educador social, quer seja na
elaboração de projeto, quer seja na gerência de tempo, recursos materiais e
até financeiros.
Por fim, às “competências” atitudinais destacamos posturas proativas
frente a determinadas situações, devendo pautar-se de forma condizente e
ética com as diversas questões que venha a se deparar. Estar sempre disposto
a atender a situações de conflitos e conduzi-los de forma a promover uma
solução adequada e respeitosa frente ao educando.
Não queremos aqui esgotar quais competências deve o educador social
ser possuidor para condução de uma prática educativa e pertinente ao meio
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social, apenas pontuamos alguns tópicos para reflexão e deixamos a questão
em aberto para reflexões futuras e pesquisas adicionais.
Finalmente, entendemos que os objetivos do programa, na sua quase
totalidade, são concretizados. Pois, os resultados verificados neste estudo
apontam que o educador social desenvolve importante influência junto às
crianças e adolescentes atendidos e que, sua forma de atuação, ainda que
necessite de algumas reflexões de âmbito da Pedagogia Social, ocorre de
maneira a contemplar os quereres e necessidades dos educandos e da
comunidade a que serve.
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José Nildo Oliveira Soares