OPINIÃO
PORQUE
COMO?
A
definição do gosto de uma pessoa passa por
um processo de ensino e aprendizagem que
começa na infância e segue por toda a vida. As
crianças crescem observando atentamente o mundo
à sua volta: o que os pais compram e comem, o que
passa na TV, os brinquedos estampados nos pacotes coloridos de biscoitos expostos nas prateleiras
de supermercados e na vitrine de lanchonetes. Elas
ainda não gostam de biscoitos, nem de sanduíches,
batatas fritas, refrigerantes ou sorvetes, pois nunca
provaram, nem sabem o que significam. Alguém as
ensinará a gostar ou a não gostar deles.
É inegável a influência que a publicidade exerce
sobre o consumo. E as crianças são especialmente
atingidas, já que são fisgadas mais facilmente, consciente ou inconscientemente. Logo, elas comprarão
um produto não porque gostam, mas passarão a gostar dele porque foram estimuladas, desde pequenas,
a comprar, comprar e comprar.
A questão é: como proteger as crianças? Elas não
são capazes de, sozinhas, se defender da persuasão
publicitária. Os pais ou responsáveis podem restringir
sua exposição à publicidade, mas essa não é uma tarefa
fácil. Por isso, o Estado e aqueles que defendem o interesse público precisam agir de forma organizada e efetiva para proteger o bem comum. Com o intuito de reforçar o papel do Estado e estabelecer arcabouços legais
para garantir o direito à alimentação adequada e saudável, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas)
elaborou algumas recomendações sobre Promoção e
Publicidade de Alimentos e Bebidas Não Alcoólicas
para as Crianças nas Américas. Elas foram lançadas em
16
• Julho 2012 • REVISTA DO IDEC
Arquivo pessoal
COMO PORQUE
GOSTO OU GOSTO
FÁBIO DA SILVA GOMES*
É nutricionista da Coordenação de
Prevenção e Vigilância do Instituto
Nacional de Câncer (Inca) e conselheiro da
Associação Mundial de Nutrição e Saúde
Pública (WPHNA — sigla em inglês)
abril deste ano, durante o congresso World Nutrition
Rio2012, e são um estímulo aos ministérios da Saúde
de todos os países da América para que implementem
uma política de redução da exposição infantil à promoção e à publicidade de alimentos com elevado teor de
gorduras, açúcar ou sal.
E a publicação dessas recomendações aconteceu
num momento mais que oportuno. Já existem evidências que comprovam a efetividade de medidas regulatórias de restrição da publicidade com a finalidade
de melhorar a alimentação; e entidades profissionais
da área de nutrição e saúde pública e autoridades
nacionais e internacionais da área de saúde, como
a Organização Mundial da Saúde (OMS), incluem
entre suas principais recomendações a regulação da
publicidade de alimentos e bebidas para as crianças.
Além disso, há amplo reconhecimento social de que
é preciso impor limites ao estímulo irrestrito dos
produtos nocivos à saúde. As recomendações da
Opas são mais um passo rumo à concretização de tais
medidas, porque oferecem mais que um conjunto de
definições e orientações. O documento convoca para
a ação. É hora de dar às crianças a oportunidade de
comerem comida de verdade!
SAIBA MAIS
Recomendações da Consulta de Especialistas
da Organização Pan-Americana da Saúde
sobre a Promoção e a Publicidade de Alimentos e
Bebidas Não Alcoólicas para Crianças nas Américas
<http://goo.gl/gXxQJ>
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