Manual Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal This Provisional PDF corresponds to the article as it appeared upon acceptance. Fully formatted PDF english version will be made available soon. Efeito do tempo de mobilização pelo método maitland nas cervicalgias e lombalgias inespecíficas. MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 Luís Eugênio Silva de Aguiar Mafra Raiele Torres Oliveira Rafael Rêgo Caldas Mariana Cavalcanti Correia Sérgio Rocha Maíra Izzadora Souza Carneiro Angélica da Silva Tenório Marcelo Renato Guerino Kátia Karina Monte-Silva Maria das Graças Rodrigues de Araújo ISSN 2236-5435 Article type Research article Submission date 11 August 2014 Acceptance date 7 November 2014 Publication date 14 November 2014 Article URL http://www.submission-mtprehabjournal.com http://www.mtprehabjournal.com Like all articles in Manual Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal, this peer-reviewed article can be downloaded, printed and distributed freely for any purposes (see copyright notice below). For information about publishing your research in Manual Therapy, Posturology & Rehabilitation Journal, go to http://www.mtprehabjournal.com 672 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. Efeito do tempo de mobilização pelo método maitland nas cervicalgias e lombalgias inespecíficas. Effect of mobilization time by maitland method in nonspecific low back pain and neck pain. Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife (PE), Brasil. Luís Eugênio Silva de Aguiar(1), Mafra Raiele Torres Oliveira(2), Rafael Rêgo Caldas(3), Mariana Cavalcanti Correia(4), Sérgio Rocha(5), Maíra Izzadora Souza Carneiro(6), Angélica da Silva Tenório(7), Marcelo Renato Guerino(8), Kátia Karina Monte-Silva(9), Maria das Graças Rodrigues de Araújo(10). (1,2,3,4) Discente do curso de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife(PE), Brasil. (5) Doutorando, Programa Neuropsiquiatria, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife(PE), Brasil. (6) Mestranda, Programa de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife(PE), Brasil. (7,8) Docente do curso de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife(PE), Brasil. (9,10) Orientadora, Docente do curso de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife(PE), Brasil. Autor Correspondente Maria das Graças Rodrigues de Araújo Laboratório de Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Av. Jornalista Aníbal Fernandes, s/n - Cidade Universitária, Recife (PE), Brasil. CEP: 50740521. Fone/Fax: (81)2126-8939. E-mail: [email protected] \ [email protected] MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 673 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. RESUMO Introdução: Método Maitland é uma técnica de manipulação e mobilização articular para redução da dor, recuperação da mobilidade e alinhamento articular. Objetivo: Analisar efeitos da manipulação vertebral de Maitland nas algias da coluna cervical e lombar, considerando redução do tempo de aplicação de cada manobra sobre a dor, a amplitude de movimento e a função muscular. Método: 11 pacientes aleatoriamente alocados em 2 grupos: (i) Experimental Convencional (GEC;06): indicações convencionais da técnica; (ii) Experimental Modificado (GEM;05): protocolo com mesmas manobras, mas tempo de aplicação reduzido. Todos avaliados antes (t0) e após (t1) o período das sessões terapêuticas com Escala Visual Analógica (EVA) para dor, Teste de Flexibilidade com Banco de Wells e Eletromiografia de Superfície (EMG) para atividade elétrica muscular das regiões cervical e lombar. Os dados foram analisados estatisticamente; p<0,05. Resultados: No GEM dor diminuiu significativamente (p=0,047), atividade elétrica muscular na região cervical mostrou tendência significante (p=0,068). Na flexibilidade no GEC houve melhora, mas não significativa. Houve tendência do Root Mean Square na região cervical do GEM (p=0,068) à atingir valor significativo, mas esta tendência não foi observada no GEC. Na região lombar não houve diferenças nos dois grupos estudados. Conclusão: Os voluntários nos dois grupos obtiveram resultados positivos mesmo que não significantes estatísticamente. Os efeitos da redução do tempo e do tempo preconizado por Maitland (1 minuto) nas sessões foram eficazes para diminuição dos sintomas, dor e restrição da mobilidade articular, mas consideramos importante a continuidade de mais estudos nessa área do conhecimento e da práxis da fisioterapia. Palavras-chave: Mobilização Articular, Cervicalgia, Lombalgia, Eletromiografia MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 674 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. ABSTRACT Introduction: Maitland method is a technique of manipulation and joint mobilization to reduce pain, recovery of mobility and joint alignment. Objective: Analyze effects of spinal manipulation in Maitland pains of cervical and lumbar spine, considering reducing the exposure time of each maneuver on pain, range of motion and muscle function. Method: 11 patients randomly assigned to two groups: (i) Experimental Conventional (GEC; 06): conventional technical indications, (ii) Experimental Modified (GEM; 05): protocol with the same maneuvers, but reduced application time. All evaluated before (t0) and after (t1) the period of therapeutic sessions with Visual Analogue Scale (VAS) for pain, Flexibility Test Bank with Wells and Surface Electromyography (EMG) for muscle electrical activity of the cervical and lumbar regions . The data were statistically analyzed; p <0.05. Results: In GEM pain decreased significantly (p = 0.047), muscle electrical activity in the cervical region showed a significant trend (p = 0.068). Flexibility in GEC was improved, but not significantly. tended Root Mean Square in the cervical region of the GEM (p = 0.068) to achieve significant value, but this trend was not observed in GEC. In the lumbar region there were no differences in both groups. Conclusion: Volunteers in both groups had positive results even though not statistically significant. The effects of reduced time and time recommended by Maitland (1 minute) the sessions were effective in decreasing symptoms, pain and restricted joint mobility, but we consider important to continue further studies in this knowledge and practice of physical therapy area. Keywords: Neck Pain, Low Back Pain, Articular Mobilization, Electromyography MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 675 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. INTRODUÇÃO Algias vertebrais são desordens multifatoriais decorrentes de problemas posturais, fatores ambientais, mudanças de estrutura corporal, permanência prolongada em determinado posicionamento, nível de atividade física, tipo de trabalho, comportamentos sedentários.(1,2) Mundialmente 60% a 80% das pessoas têm ou terão dor na coluna vertebral(3), é a principal causa de absenteísmo ao trabalho com prejuízos econômicos.(4) A lombalgia lidera essa condição, aproximadamente entre 10% e 20% dos pacientes desenvolvem quadro crônico (dor e incapacidade por tempo maior que três meses).(5) Acomete homens acima de 40 anos e mulheres entre 50 e 60 anos; está associada a pouca flexibilidade, principalmente, do tronco e quadril.(2,6) A cervicalgia é prevalente entre 10% e 20% em mulheres com aproximadamente 50 anos. Está relacionada com movimentos bruscos, longa permanência em posição forçada, esforço, trauma e perda de amplitude de movimento.(6,7) As alterações biomecânicas podem ser causadas por hábitos posturais, idade ou pelo tempo de acometimento das algias, levando a vulnerabilidade dos tecidos, em alguns casos a hipotonia muscular,(8) atrofia muscular paravertebral mesmo após a regressão dos sintomas.(9) Os estudos dos músculos paravertebrais refletem a importância atribuída à disfunção muscular na dor crônica e a análise do sinal eletromiográfico de superfície (EMG), consiste no método objetivo e não-invasivo de avaliação da função muscular.(10) Inúmeros tratamentos são propostos desde fármacos, terapia manual, acupuntura, eletroterapia, exercícios, tração, educação postural do paciente.(5,7) No entanto, os métodos de mobilização articular/ manipulação para tratamento de algias da coluna é uma prática frequentemente usada e recomendada na fisioterapia.(7,11,12) MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 676 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. A mobilização articular proposta por Maitland baseia-se na avaliação e tratamento através de movimentos passivos oscilatórios, rítmicos. A avaliação é realizada através da movimentação passiva e da palpação da região a ser tratada.(3) Os movimentos passivos são graduados em cinco níveis, de acordo com a amplitude dos movimentos acessórios presentes nas articulações. Os graus I e II correspondem à aplicação dos movimentos oscilatórios lentos no início da amplitude do movimento, na presença de dor nas regiões avaliadas. Os graus III e IV são realizados no final da amplitude do movimento, ou a partir da resistência dada pelos tecidos periarticulares, para recuperar mobilidade articular em presença de restrição de movimento. O grau V, conhecido como manipulação, é de pequena amplitude e de alta velocidade.(13,14) Maitland afirma que com quatro sessões o paciente já poderá ter resultados satisfatórios, desde que se respeitem intervalos regulares entre cada uma destas quatro sessões. Ele indica que entre a primeira e a segunda o intervalo seja de dois a três dias; da segunda para a terceira de três a quatro dias; de cinco a sete dias da terceira para a última.(13,14) Considerando o exposto, o objetivo deste estudo foi analisar os efeitos da manipulação vertebral de Maitland nas algias da coluna cervical e lombar, considerando a redução do tempo de aplicação de cada manobra sobre a dor, a amplitude de movimento e a função muscular. MÉTODO Trata-se de um estudo do tipo quase experimental, cego, realizado no período de Setembro de 2011 a Junho de 2012 no Laboratório de Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) aprovado pelo RBR-78bq5x. Os voluntários foram convidados por meio de cartazes informativos, distribuídos no campus da UFPE. Após triagem foram inclusos no estudo indivíduos com quadro de cervicalgia ou lombalgia crônica (> 6 semanas) de origem inespecífica, idade entre 18 e MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 677 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. 55 anos, e que não se enquadrassem como contra-indicação para o Método Maitland (MM), por exemplo, hérnia de disco. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme requerimentos éticos e, posteriormente foi feita anamnese (relato dos sintomas, história pregressa de patologias relacionadas, atividade física, idade, sexo, escolaridade, estado civil) para caracterização da amostra. Todos foram orientados quanto ao número de sessões, e em caso do não comparecimento, ocorreria a sua exclusão do tratamento; assim como não poderiam participar de outra intervenção no período de tratamento da pesquisa a fim de evitar fatores de confusão que interferissem nos resultados. De acordo com o protocolo preconizado por Maitland, estabeleceu-se que todos os voluntários receberiam as intervenções com intervalo de três dias da primeira para a segunda sessão; da segunda para a terceira sessão, quatro dias e de sete dias da terceira para quarta e última sessão.(13,14) Os pacientes que atenderam os critérios de elegibilidade foram alocados em dois grupos: (i) Grupo Experimental Convencional (GEC): recebeu protocolo de MM com repetições de 1 minuto; (ii) Grupo Experimental Modificado (GEM): este grupo teve redução do tempo à metade, tanto para as mobilizações, como para a tração, sendo mantida a quantidade de três repetições para as primeiras manipulações e de uma repetição para esta última. Aplicação do Método Maitland (MM) 1. Região Cervical – Aplicação de pressão póstero-anterior central e unilateral (em cada lado da região), seguido de mobilizações de flexão, extensão, flexão lateral e rotação para ambos os lados, seguido de movimento longitudinal e finalizado com tração. MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 678 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. 2. Região Lombar – Na região lombar alta (L1 e L2) foi aplicada uma pressão vertebral central, pressão vertebral transversa com posterior rotação e tração, enquanto na lombar baixa (L3 a L5) foi utilizado movimento longitudinal e tração. As manipulações foram executadas no GEC com três repetições, sessenta segundos cada, sendo finalizadas com tração ao final do processo por trinta segundos. No GEM foi mantido o número de repetições com redução do tempo de aplicação à metade (trinta segundos), inclusive da tração (quinze segundos) ao final da aplicação. Todos tiveram um mesmo intervalo entre as sessões, ou seja, três, quatro e sete dias, respectivamente. Os voluntários que referiram desconforto ou comprometimento tanto na região cervical quanto na lombar, foram questionados qual região era a mais incapacitante no momento da avaliação e sendo assim selecionada para ser tratada. Avaliação dos Pacientes Foram avaliados antes da primeira sessão (T0) e reavaliados após a última intervenção (T1) realizada por um avaliador que desconhecia a intervenção que cada voluntário receberia. Após anamnese, os voluntários foram avaliados por tres instrumentos de avaliação: 1. Escala Visual Analógica (EVA)– escala numérica pontuada de 0 (ausência de dor) até a 10 (dor máxima), com 10cm de comprimento que quantifica o patamar de dor. Tanto na avaliação, quanto na reavaliação, foi solicitado e instruído que cada voluntário informasse a “média” da dor na coluna cervical ou na lombar. Entre 02 são consideradas dores leves, 3-7 moderadas e 8-10 intensas.(15) 2. Banco de Wells – avalia flexibilidade; os indivíduos foram posicionados sentados em colchonetes com as superfícies plantares em total contato com a face anterior do banco, extensão de joelhos e quadris fletidos. Foram orientados a moverem o MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 679 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. escalímetro do banco ao máximo que conseguissem, realizando flexão anterior do tronco, com orientação de evitarem compensações posturais. O valor obtido para cada tentativa foi expresso em centímetros (cm) e registrado pelo avaliador.(16) 3. Eletromiografia de Superfície (EMG) – utilizou-se o eletromiográfo EMGSystem de Brasil S.A. Paciente em decúbito ventral (DV), pele limpa com álcool, pares de eletrodos de superfície (diâmetro-1cm, com adesivo de fixação) foram posicionados bilateralmente, distantes 2,5cm um do outro, na musculatura paravertebral da terceira vértebra torácica (T3), da primeira vértebra lombar (L1) e no processo estilóide da ulna direita (fio terra, eletrodo de referência para garantir a qualidade do sinal). Os procedimentos de colocação dos eletrodos seguiram as recomendações SENIAM (Surface-EMG for the Non Invasive Assessment of Muscle). Foi utilizado filtro padrão do equipamento (Filtro Passa Baixa = 10 Hz; Passa Alta = 500 Hz e Butterwort = 4ª ordem) valores similares aos utilizados por Tanaka e coloboradores (2002). (17) O paciente foi orientado a permanecer em repouso (1 minuto) e coletada a atividade elétrica da musculatura; em seguida realizou extensão da coluna com contração máxima da musculatura, no mesmo período de tempo (1 minuto). Foram eliminados os 5 primeiros segundos (0-4,9s) e os 5 últimos (55,1–60) da janela amostral, restando 50 segundos, e escolhidos os 20 segundos contínuos mais harmônicos, com mínima interferência, sendo os dados eletromiográficos analisados pelos valores do RMS (Root Mean Square) nas duas condições citadas. Esta normalização entre atividade e repouso do RMS foi para eliminar alterações existentes entre indivíduos, por exemplo, constituição de massa corpórea, dentro de cada grupo.(17,18) Análise dos Dados MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 680 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. A análise estatística foi realizada de forma descritiva para as variáveis demográficas e antropométricas de caracterização da amostra (sexo, idade, peso, altura, IMC, patologia, cervicalgia ou lombalgia). Para verificação da distribuição normal dos dados para as variáveis de medida foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov; para a análise de normalidade inter-grupos o teste Mann-Whitney. ANOVA multifatorial com medidas repetidas (2X2) foi usada para investigar os efeitos principais e de interação entre os grupos antes e após as intervenções, caso houvesse indicação de significância, foi usado o teste post hoc Bonferroni. O nível de significância foi p ≤ 0.05. RESULTADOS Interessaram-se pelo estudo 26 voluntários, que entraram em contato através dos telefones fornecidos nos cartazes informativos distribuídos no Campus da UFPE. No entanto, 01 foi excluído por não se ter conseguido entrar em contato com o mesmo, e 6 pacientes apresentavam características incompatíveis com o estudo. Inicialmente a amostra foi composta por 19 indivíduos, 8 não concluíram o tratamento, portanto a amostra final foi composta de 11 voluntários (06 do Grupo Experimental Convencional; GEC e 05 do Grupo Experimental Modificado; GEM), conforme o fluxograma da figura 1. MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 681 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. Figura 1. Fluxograma de seleção dos pacientes Ao final do período de intervenção o GEC ficou composto por 6 pacientes, 3 mulheres e 3 homens, faixa etária média de 28,83 anos (+ 7,05) e distribuição de frequência de patologia de quatro lombalgias para duas cervicalgias; enquanto o GEM, com 5 indivíduos, 3 do gênero feminino e 2 do masculino, faixa etária média de 35 (+ 18,48) e distribuição de frequência de patologia de 3 lombalgias para 2 cervicalgias. Os dados de caracterização da amostra estão expostos na tabela 1. MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 682 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. Tabela 1 - Caracterização da amostra sob distribuição de frequências e valores numéricos (Média e DP). GEC GEM Sexo n p < 0,05 0,608 a Masculino 3 2 Feminino 3 3 28,83 + 7,05 35 + 18,48 0,931 b 65,01 + 10,95 66,86 + 19,19 1,00 b 1,68 + 0,10 1,64 + 0,11 0,429 b Idade, em anos Massa, em Kg Altura, em metros Sintomatologia 0,652 a Lombalgia 4 3 Cervicalgia 2 2 2,83 + 1,72 5 + 1,87 0,082 b Flexibilidade 24,4 + 22,25 11,3 + 12,74 0,032 b RMS Cervical 23,1 + 17,1 22,1 + 15,6 0,424 b RMS Lombar 27,9 + 11,9 21,6 + 7,4 0,329 b EVA ¹ Grupo Experimental Convencional, que recebeu tratamento com valores normais de tempo de mobilização; ² Grupo Experimental Modificado,que recebeu tratamento com valores reduzidos de tempo de mobilização; a Teste qui-quadrado; b Teste de Mann-Whitney. Na figura 2 tem-se a diferença obtida na avaliação da Escala Visual Analógica (EVA). Foi encontrado índice de significância (p= 0,047) na análise do GEM, 0,05, para os dados de avaliação e reavaliação. MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 com p< 683 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. 8 7 S C O R E * 6 5 4 D A E V A Avaliação Reavaliação 3 2 1 0 Convencional (GEC) Modificado (GEM) Figura 2. Avaliação da Escala Visual Analógica (EVA). As barras representam as médias obtidas na avaliação (T0) e reavaliação (T1) dos dois grupos: GEC (T0: 2,8 ± 1,7; T1: 2,0 ±1,2) e GEM (T0: 5,0 ±1,8; T1: 3,3 ± 2,3). As barras de erros indicam o desvio padrão da média. O asterisco indica diferença significativa (p<0,05) em relação ao T0. (ANOVA de Medidas Repetidas com Post-Hoc de Bonferroni). O grau de flexibilidade obtido na avaliação e na reavaliação não foi observado diferença significativa (p>0,05) em ambos os grupos. Observou-se, porém, no GEC uma tendência a melhora da flexibilidade (Figura 3). MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 684 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. 40 F l e x i b i l i d a d e 35 30 25 Avaliação 20 Reavaliação 15 10 (cm) 5 0 Convencional (GEC) Modificado (GEM) Figura 1. Flexibilidade obtida com o Banco de Wells. As barras representam as médias obtidas nas avaliações (T0) e na reavaliação (T1), GEC (T0: 24,4 ± 8,9; T1: 22,2 ±10,9) e GEM (T0: 11,3 ±7,1; T1: 12,7 ± 7,4) As barras de erros indicam o desvio padrão da média. Observa-se, na figura 4, que apesar do número amostral pequeno, houve uma tendência do RMS (Root Mean Square) na região cervical do GEM (p=0,068) à atingir valor significativo; no entanto, esta tendência não foi observada na região cervical do GEC. MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 685 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. 9,0 8,0 7,0 6,0 R M S 5,0 Avaliação 4,0 Reavaliação 3,0 2,0 1,0 0,0 Convencional (GEC) Modificado (GEM) Figura 4 – RMS (Root Mean Square) da Região Cervical dos Grupos Experimental Convencional (GEC) e Experimental Modificado (GEM). As barras indicam a média da normalização entre a atividade e o repouso (atividade/repouso) na avaliação (T0) e reavaliação (T1) dos valores do RMS obtidos através da eletromiografia de superfície da Região Cervical, GEC (T0: 4,8 ± 2,8; T1: 3,2 ±1,2) e GEM (T0: 3,8 ±4,0; T1: 3,2 ± 3,8). As barras de erro indicam o desvio padrão da média. Na figura 5, a avaliação eletromiográfica realizada na região lombar não apontou diferenças na avaliação (t0), nem na reavaliação (t1) para os dois grupos estudados. MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 686 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. 16,0 14,0 12,0 10,0 R M S 8,0 Avaliação 6,0 Reavaliação 4,0 2,0 0,0 Convencional (GEC) Modificado (GEM) Figura 2 – RMS (Root Mean Square) da Região Lombar dos Grupos Experimental Convencional (GEC) e Experimental Modificado (GEM). As barras indicam a média da normalização entre a atividade e o repouso (atividade/repouso) na avaliação (T0) e reavaliação (T1) dos valores do RMS obtidos através da eletromiografia de superfície da Região Cervical, GEC (T0: 8,0 ± 5,7; T1: 6,8 ± 2,3) e GEM (T0: 5,2 ± 3,9; T1: 4,9 ± 3,1). As barras de erro indicam o desvio padrão da média. DISCUSSÃO O presente estudo demonstrou que a dor diminuiu significativamente no Grupo Experimental Modificado (GEM); no Grupo Experimental Convencional (GEC), o Método Maitland foi eficaz para reduzir a sintomatologia dolorosa. Corroborando nossos resultados Jesus-Moraleida et al. (19) avaliaram 62 pacientes portadores de cervicalgia que foram tratados com mobilizações oscilatórias de grande amplitude de Maitland (grau III), em direção póstero-anterior; outro estudo, com 30 sujeitos com lombalgia, avaliou o efeito imediato da mobilização póstero-anterior e de exercícios na extensão da coluna lombar, os dois procedimentos diminuíram a dor.(20) Já o trabalho de Aquino e colaboradores(21) não mostrou diferença significativa entre grupos na intensidade dolorosa pós-tratamento em pacientes com cervicalgia de origem não específica. A manipulação vertebral apresenta como característica o efeito imediato sobre a dor, induz um efeito neurofisiológico benéfico e seguro para o paciente através da MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 687 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. estimulação mecânica de neurônios sensitivos da cápsula das facetas zigoapofisárias, uma hipoalgesia local(13,22), isto ocorre porque o sistema descendente noradrenérgico age na medula espinhal e inibe a liberação de substância P, estimulando a liberação de opióides endógenos(23). A manipulação vertebral ainda melhora a mobilidade articular e restaura todos os movimentos, sendo assim, uma correção articular feita em qualquer segmento da coluna, ou no sistema esquelético, influencia no sistema neurológico, muscular e esquelético em geral.(24) A flexibilidade melhorou no GEC, o que foi observado no trabalho de Zatarin & Bortolazzo(25) em 21 mulheres que foram avaliadas pelos testes de Schober e de elevação do membro inferior estendido (TEMIE) (bilateralmente) e mensuração da flexibilidade da cadeia muscular posterior pelo Banco de Wells. Outro estudo(26) comparou a eficácia das técnicas de Maitland, Mulligan e Estabilização Segmentar, em relação ao ganho de amplitude de movimento de flexão e extensão de tronco em 21 voluntários com lombalgia crônica, e também observou uma melhora significante da flexibilidade nos três grupos. Outro parâmetro investigado foi a função muscular através do registro eletromiográfico. Na região cervical houve uma tendência a uma melhor ativação da musculatura no GEM; já na região lombar não houve mudanças na resposta muscular quando comparadas a avaliação inicial (T0) e reavaliação (T1). No trabalho de Harvey & Descarreaux(27) foi observado um aumento da atividade elétrica muscular dos músculos paravertebrais durante os movimentos de flexão-extensão no grupo controle, diferentemente do nosso estudo que foi no movimento de extensão, logo que finalizou a manipulação vertebral. De acordo com Kawano e colaboradores(28) a pouca resistência à fadiga dos músculos paraespinhais é comum em pacientes com dor lombar crônica e que os indivíduos limitam a mobilidade com receio de aumentar a dor. Os resultados obtidos no nosso trabalho podem ser devido a este fato, apesar da dor ter diminuído após o MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 688 Maitland nas lombalgias e cervicalgias inespecíficas. tratamento. Pesquisas(9,29) inferem que a atrofia muscular presente mesmo após a regressão dos sintomas permite movimentos compensatórios do tronco e a instalação de alterações posturais. Heydari e colaboradores(30) com estudos eletromigráficos registraram a participação importante da musculatura paravertebral nas algias da coluna, uma vez que pessoas com dor lombar demonstraram uma assimetria de ativação e de fatigabilidade em comparação com pessoas saudáveis. A magnitude dos efeitos da mobilização/manipulação da coluna vertebral, bem como a sua forma de aplicação, seus mecanismos fisiológicos sobre a dor, flexibilidade, função muscular precisam ser melhores esclarecidas. CONCLUSÃO Os voluntários dos dois grupos obtiveram resultados positivos mesmo que não significantes estatísticamente. Os efeitos da redução do tempo e do tempo preconizado por Maitland (1 minuto) nas sessões se mostraram eficazes para diminuição dos sintomas (dor e restrição da mobilidade articular), mas consideramos ser importante a continuidade de mais estudos nessa área do conhecimento e da práxis da fisioterapia. REFERÊNCIAS 1. Helfenstein Junior M, Goldenfum MA, Siena C. Lombalgia ocupacional. Rev Assoc Med Bras. 2010;56(5):583-9. 2. Caraviello EZ, Wasserstein S, Chamlian TR, Masiero D. Evaluation of pain level and function on low back pain patients treated with back school program. Acta Fisiátr. 2005;12(1):11-14. 3. Lin PH, Tsai YA, Chen WC, Huang SF. Prevalence, characteristics, and work-related risk factors of low back pain among hospital nurses in Taiwan: a cross-sectional survey. Int J Occup Med Environ Health. 2012;25:41–50. MTP&RehabJournal 2014, 12:671-692 689 Luís ES Aguiar, Mafra RT Oliveira, Rafael R Caldas, Mariana C Correia, Sérgio Rocha, Maíra IS Carneiro, et al. 4. 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