EconOpinion – Artigo Especial
O Brasil está no topo. Essa poderia ser uma boa notícia, se este assim chamado "topo" não
fosse por uma série de dados que demonstram o mau estado da economia brasileira hoje.
Vamos levantar algumas questões importantes que incomodam na pretensa recuperação da
economia brasileira nos dias de hoje e o que está no topo efetivamente.
TAXAS DE JUROS
Entre 40 economias relevantes do mundo, nós somos o mais rentável pagador de taxas de
juros reais. No entanto, isso não significa necessariamente que atraiamos o dinheiro dos
investidores globais. Riscos políticos e regulatórios são uma questão constante e o fluxo
cambial demonstra que os dólares estão sendo retirados diariamente do Brasil, o que nos leva
ao próximo "tóp"ico.
Taxas de juros atuais descontadas a inflação
projetada para os próximos 12 meses
Ranking
Países
Taxa Ano
1
Brasil
4,60%
2
China
3,30%
3
Índia
2,14%
4
Polônia
2,11%
5
Taiwan
1,98%
6
Tailândia
1,50%
7
Filipinas
1,46%
8
Grécia
1,37%
9
Malásia
1,13%
Cingapura
1,11%
10
Fonte de dados: FMI e Bancos Centrais
Elaborado por Infinity Asset / MONEYOU.COM.BR
CÂMBIO
O Real é a moeda mais desvalorizada entre os 15 países importantes, caindo 21,32% nos
últimos seis meses, quase o dobro do segundo lugar, o Rand Sul Africano com 11,72% e o dólar
da Nova Zelândia, com 11,42% com a medalha de bronze.
Nem mesmo as mais altas taxas de juros reais compensam a perda em moeda local, quando
comparado com a gama de opções que os investidores globais têm disponíveis hoje. Mais uma
vez, pesam a política, com a falta de empenho do Congresso para aprovar medidas
impopulares do ajuste fiscal, bem como uma série de índices macroeconômicos que mostram
uma atividade econômica em declínio e deterioração das condições de mercado.
EconOpinion – Artigo Especial
% Cambial, últ. 6 meses
2,16 Libra esterlina
-1,54
Dólar de Taiwan
-2,67
Euro
-2,94
Coroa dinamarquesa
-3,00
Dólar de Cingapura
-3,46
Coroa sueca
-3,74
Iene
-3,81
Dólar canadense
-5,56
Dólar australiano
-6,14
Franco suíço
-6,92
Won sul-coreano
-7,62
Rand sul-africano
-7,65
Peso mexicano
-7,68
Coroa norueguesa
-11,36
Dólar neozelandês
-18,25
Real
-20
-15
-10
-5
0
Fonte: Bloomberg LP / Infinity
A desvalorização da moeda é tão forte que nem mesmo o aperto monetário teve qualquer ou
nenhum efeito para, pelo menos, minimizar a queda do real frente ao dólar. No ponto de vista
do investidor estrangeiro, é difícil confiar em um lugar onde os locais assim não o fazem.
Isso nos leva ao próximo "tóp"ico, os CDS.
CREDIT DEFAULT SWAP (CDS)
Os Credit Default Swap (CDS), também conhecido como o seguro contra calote, tem uma forte
correlação com o dólar. No entanto, mesmo contra seus pares, os CDS brasileiros têm,
provavelmente, a mais forte e intrínseca correlação entre todas as moedas.
CDS X Real/USD
330
3,4
3,2
CDS Swaps de 5 anos (em BP)
280
Real/US$
3
230
2,8
2,6
180
2,4
2,2
130
2
1,8
07/2012
80
01/2013
07/2013
01/2014
07/2014
01/2015
07/2015
Vamos ser justos, não possuímos a medalha de ouro para o "pódio global", mas a temos entre
os portadores de grau de investimento das três grandes agências (Moody, a Fitch, S&P). Ou
seja, custamos tanto quanto um junk bond.
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Qatar
Saudi Arabia
Israel
Poland
Philippines
China
Chile
Thailand
Romania
Mexico
Peru
Panama
Hungary
Malaysia
Bulgaria
Indonesia
Colombia
South Africa
Turkey
Kazakhstan
Bahrain
61
65
66
68
102
104
106
114
123
137
150
150
151
155
174
191
198
224
248
262
275
Brazil
Egypt
Russia
Lebanon
Pakistan
340
362
365
435
Credit Default Swaps
In BPs
332
Source: BLOOMBERG LP / Infinity Asset
Para cada US$ 1 milhão investido no Brasil, o investidor precisa de outros US$ 30.000 por ano
apenas para o seguro.
PRODUTIVIDADE
A obsessão pela desvalorização da moeda, de modo a melhorar o comércio internacional, por
vezes, não é tão eficaz como a teoria diz. Em termos de produtividade, nunca alcançamos
pódios dignos.
Como exportador de commodities, o Brasil teria em tese muito a ganhar quando o Real se
desvaloriza. Indústrias como a de carne, papel entre outras com custos intensivos em Reais
estão mais do que felizes por exportar para países bem-sucedidos na América do Norte,
Europa e Ásia.
A demanda está crescendo e várias empresas nada têm a reclamar sobre os mercados
internacionais. No entanto, em nível local, a situação é muito diferente.
O Brasil não é exatamente capitalista; é uma economia de "intervenção estatal" "quase
fechada". Capitalismo aqui depende muito do governo para funcionar e uma parcela
significativa da indústria local depende regularmente de importações de bens (básicos e
intermediários) para produzir. A conhecida proteção que o governo tenta dar à indústria local
(principalmente com tributação das importações e limitando os acordos comerciais) tem na
verdade gerado uma baixa produtividade e aumentado os custos para manter uma empresa.
Por exemplo, a indústria de eletrônicos. O Custo Brasil torna praticamente impossível produzir
qualquer dispositivo eletrônico a partir do zero (a partir dos componentes básicos até o
produto final). Ok, todos nós sabemos que a China, Coreia do Sul e Japão dominam este
cenário, mas os custos para produzir produtos eletrônicos em outros países não são tão
elevados como aqui por causa de impostos, os custos gerais e burocracia.
Mesmo assim, o Brasil possui algumas fábricas de eletrônicos que são, na realidade, meros
montadoras disfarçadas a fim de evitar uma série de impostos. A mesma tática é utilizada por
toda uma série de setores que não produzem muito e dependem das mesmas importações
que o governo tenta tão fortemente conter.
Outro exemplo ocorreu no Brasil durante os anos 80, com a reserva de mercado de
computadores de 1984, uma tentativa de promover uma incipiente indústria local e protegê-la
contra a nova onda estrangeira. Não só a indústria local não deslanchou, como também
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aumentaram consideravelmente os custos de setores que estavam começando a usar
computadores como uma ferramenta de produtividade.
Tornou-se lugar comum o contrabando de computadores e peças. Empresas legalmente
estabelecidas no Brasil, como bancos e indústrias eram as principais clientes dos
contrabandistas. A reserva de mercado criou uma pequena indústria local, sem concorrentes
(e qualidade), então era muito mais barato e com melhor qualidade trazer computadores do
Paraguai do que usar aqueles criados e vendidos aqui.
Muito mudou desde então, mas a "proteção" permanece como um “lema” estatal e o
resultado deste conceito mascara os fortes ganhos de diversos setores, transferindo os custos
para os consumidores e tornando o Brasil um lugar muito caro para as pessoas que nele vivem.
Isso nos leva ao último "tóp"ico.
INFLAÇÃO
O Brasil tem a terceira maior inflação dos países do G20 e da América Latina e do seu peso,
que aparentava estar mitigado devido a criação do Real em 1996, parece retornar fortemente.
Como ministro Levy diz, "Não é possível discutir o crescimento, sem discutir o ajuste fiscal". O
Estado brasileiro é grande, pesado e ineficiente. Grande não em um bom sentido, pois se a
folha de pagamento do governo fosse repleta de professores, catedráticos, médicos,
pesquisadores, policiais, militares isso seria um inchaço perfeito.
Mas não, o estado brasileiro aloca ineficientemente os recursos entre suas entidades, tem
uma distribuição de renda injusta entre os estados e mantém uma grande e lenta “máquina”
burocrática que para se sustentar, exige uma cobrança de impostos cada vez maior e,
consequentemente, uma enorme carga tributária.
Projeções IPCA - Focus
%, aa
9,50
9,00
8,50
8,00
7,50
7,00
6,50
6,00
03/12/2014
03/02/2015
03/04/2015
03/06/2015
03/08/2015
Fonte: BCB / Infinity Asset
A burocracia brasileira até mesmo um nome: "Custo Brasil" e afeta empresas desde o início,
até o seu fim. Demora muito tempo e dinheiro para abrir uma empresa, ainda mais para
fechar; impostos diretos ultrapassam 25 por cento das margens brutas da maioria das
empresas; os impostos e as leis trabalhistas fazem um empregado custar tanto quanto o
salário a ele pago; municípios criam tantos regulamentos para abrir um negócio que a maioria
deles permanece funcionando ilegalmente até que a papelada adequada e autorizações
estejam prontas, o que pode levar um ou dois anos. Esta é apenas uma pequena parte do
problema, uma vez que não há absolutamente nenhum incentivo ao empreendedorismo.
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Tudo nos leva de volta ao início deste tópico: Inflação.
Como é difícil e muito caro produzir-se aqui, a manufatura de bens é em grande parte a
montagem de material importado, portanto qualquer alta do dólar é muito rapidamente
traduzida em inflação.
Isso também nos leva de volta para o primeiro tópico: altas taxas de juros.
Bem como a reforma fiscal (não somente ajuste), o Brasil necessita urgentemente de uma
reforma de produtividade. Ele incluiria uma reforma tributária em grande escala, a retirada de
etapas para se abrir, operar e fechar uma empresa, a legalização completa das práticas de
terceirização e acordos comerciais internacionais, apenas para começar.
Sem ao menos parte dessas mudanças, o Brasil tem muito pouco espaço e ferramentas para
lidar com adversidades econômicas, tornando a política monetária o principal e mais
importante instrumento para o governo.
No entanto, quando o âmago da produção é baseado em dólar, não é tarefa fácil deter uma
escalada de preços com o aperto monetário sem antes contrair o conjunto completo da
economia. Traduzindo: somente desemprego e contração econômica faz o trabalho nessa
situação.
Para isso, taxas de juros constantemente em alta.
CONCLUSÃO
Neste momento, uma mudança concreta passa por um processo de difícil coalizão política ou
mesmo um sentimento mais generalizado de que o cenário se aproxima do “fundo do poço”,
sendo necessárias as devidas aprovações congressuais para que a país volte a avançar.
Além disso, o Brasil tem de lidar com a forte desvalorização artificial Yuan e as consequências
generalizadas das ações da China no futuro de curto prazo, além com o rebaixamento do país
pela agência de classificação de risco Moody`s (de BAA2 para BAA3 com perspectiva estável).
Portanto, esta é a situação atual no Brasil. Ela demanda um compromisso urgente de
mudanças que, em termos de política, não são viáveis no curto e médio prazo e até mesmo se
os planos de Levy são forem bem-sucedidos, sem essas alterações ou pelo menos parte delas,
o Brasil será sempre à beira de crescimento e de inflação intrinsecamente associados.
O país do futuro continuará a ser do futuro.
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