Fundação Getulio Vargas
04/05/2008
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Tópico: Institucional
Impacto: Positivo
Editoria: Artigos & Opiniões
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Pg: Online
O Brasil está fedendo!
(Amado de Oliveira Filho)
Semana passada concluí meu artigo afirmando que temos uma população equivalente a uma cidade de São Paulo inteira,
apenas nos estados do Amazonas, Pará e Maranhão poluindo a Amazônia Legal. Afirmamos ainda que Belém polui com
seu 1,5 milhão de habitantes a Baía de Guajará. Recebi diversas manifestações! Também fiquei surpreso, não sabia que
o tema preocupa tanta gente. Pois bem, volto ao assunto, não para preocupar ainda mais àqueles que acreditam que
saneamento ambiental é indicador de qualidade de vida, mas, para que possamos compreender o que de fato está por
trás da política ambiental do (des)governo brasileiro.
Quanto a Belém-PA a situação é bem pior; segundo dados da FGV, 92% do esgotamento sanitário não recebe qualquer
tratamento, vale lembrar que se trata de uma cidade de 1,5 milhão de habitantes. Porém, a realidade brasileira é sofrível
em se tratando de esgoto urbano. Em todo o país, 53,0% da população não tem esgoto em suas residências. Isto é
assustador já que números do IBGE apontam que o Brasil já possui uma população de 192 milhões de habitantes.
Portanto, mais de 101 milhões de brasileiros jogam esgoto no meio ambiente.
Neste quesito o Brasil está tão ruim que antevemos problemas ambientais muito sérios. Para se ter uma idéia da
gravidade da situação, a pesquisa a FGV também aponta que o crescimento da oferta de esgoto se dá a uma taxa de
apenas de 0,4% ao ano. Assim, para eliminar este grave problema ambiental, mantendo este crescimento, precisamos
apenas de 250 anos.
O Brasil está fedendo e alguns estados se destacam neste quesito, por exemplo, o estado do Rio Grande do Sul, com
uma população de aproximadamente 11 milhões de habitantes, apenas 14% possui esgotamento sanitário. A coisa está
feia por lá. A questão de saneamento ambiental é tão importante que a ministra do Turismo, em recente entrevista,
associa o sucesso de trazer a Copa do Mundo de Futebol para o Brasil se forem resolvidas várias questões, dentre elas o
esgotamento sanitário.
Um outro dado atinente a saneamento ambiental vem da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, que, segundo Maria Luisa
Ribeiro, coordenadora da Rede de Águas, quase 30 milhões de pessoas usuárias dos recursos hídricos das regiões
metropolitanas das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro são afetadas pela contaminação da água que consomem.
Em São Paulo a situação se agrava pela falta de água e no Rio de Janeiro pela falta de potabilidade. Porém em ambas as
situações, existem, segundo a coordenadora, "uma bomba de tempo que pode explodir a qualquer momento".
Nem só de falta de esgoto vive a população da Amazônia Legal, mas a situação é gravíssima, pois onde residem 23
milhões de brasileiros é comum a convivência com a malária, a tuberculose, a hanseníase, a febre amarela, a dengue, as
hepatites virais e a leptospirose; muitas dessas doenças se proliferam em função de que a população espalhada numa
extensão de mais de 5 milhões de quilômetros quadrados conta com pouco mais de 10% dos serviços de esgoto
sanitário.
Os produtores rurais mato-grossenses, em sua maioria absoluta, em que pese não concordar com a questão da Reserva
Legal em suas propriedades, compreendem a necessidade de se produzir com a necessária sustentabilidade ambiental,
porém, por unanimidade não aceitam, em nenhuma hipótese, diante dos números que o saneamento ambiental apresenta,
inclusive por autoridades federais, ser chamado de predadores ambientais. A classe que com capacidade inconteste,
desempenha a missão de produzir alimentos não pode ser confundida com gestores públicos inoperantes.
Que venha a Copa do Mundo em 2014; quem sabe até lá e pelos milhões de turistas que virão ao país do futebol,
tenhamos um Brasil com melhor odor. Mas, por enquanto, o Brasil está fedendo!
Amado de Oliveira Filho é economista em Cuiabá. E-mail: [email protected]
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O Brasil está fedendo! (Amado de Oliveira Filho) Semana passada