ISSN 1984-8218 Modelo matemático de tratamento de câncer e simulação de sequência quimioterapia-cirurgia Diego S. Rodrigues∗ Universidade de São Paulo – Depto de Matemática Aplicada e Estatı́stica, ICMC, USP 13560–970, Campus São Carlos, SP E-mail: [email protected] Vinicius A. D. Almeida† Paulo F. A. Mancera‡ Universidade Estadual Paulista – Depto de Bioestatı́stica, IBB, UNESP 18618–970, Campus Botucatu, SP E-mail: [email protected], [email protected] RESUMO Um dos tratamentos para o câncer é a quimioterapia, que, em geral, é combinada com cirurgia. Neste trabalho estudamos e analisamos uma adaptação do modelo de quimioterapia antineoplásica proposto em [1], sendo que alteramos a resposta funcional da droga segundo a hipótese de Norton-Simon (ver [2]). Sejam N1 (t) e N2 (t) o número de células tumorais e normais, respectivamente, e Q(t) a concentração da droga. Temos, então, o novo modelo dado por: ( ) ( ) dN1 N1 α12 N1 = r1 N1 1 − − N2 − µ r1 N1 1 − Q, dt k1 k1 k1 ( ) ( ) dN2 N2 α21 N2 (1) = r2 N2 1 − − N1 − ν r2 N2 1 − Q, dt k k k 2 2 2 dQ = q − Q λ, dt em que r1 e r2 representam a taxa de crescimento intrı́seca para as células tumorais e normais, respectivamente; αij é o coeficiente de competição medindo os efeitos em Ni causados por Nj ; µ e ν são as taxas de mortalidade das células tumoral e normal devido a droga, respectivamente; λ é a taxa de decaimento do quimioterápico; q é a taxa na qual as células recebem a droga. Observamos que todos os parâmetros do modelo são positivos. Quanto à estabilidade, os pontos estacionários são P1 (0, 0, q/λ), P2 (0, k2 , q/λ), P3 (k1 , 0, q/λ) f1 , N f2 , q/λ). Os autovalores associados ao ponto P1 são dados por ψ1 = −λ, ψ2 = r2 (λ − e P4 (N ν q)/λ, ψ3 = r1 (λ − µ q)/λ. Do ponto de vista biológico tal ponto deve ser instável, e como ψ1 < 0, então ψ2 > 0 ou ψ3 > 0. Logo, ν < q/λ ou µ < q/λ. Observamos que os pontos P2 e P3 são sempre maiores do que zero. Para P2 temos os seguintes autovalores associados: Ψ1 = −λ, Ψ2 = r2 (−λ + ν q)/λ, Ψ3 = −r1 (−k1 λ + µ q k1 + λ α12 k2 )/(k1 λ). Para P2 ser assintoticamente estável, algo coerente em termos biológicos, temos que ter Ψ2 < 0, o que resulta em ν < λ/q, além de Ψ3 < 0. Esta última desigualdade implica que µ > λ (1 − (k2 /k1 )α12 ) /q, desde que (k1 − k2 α12 ) > 0. A análise de estabilidade de P3 e similar a de P2 , enquanto a de P4 , ponto de coexistência, não foi possı́vel de ser feita devido a quantidade de parâmetros envolvidos. Para as simulações de tratamento quimioterápico com cirurgia, consideramos administração, cada ciclo dura normalmente três ou quatro semanas, seguido por um perı́odo de descanso, no ∗ Bolsista de doutorado FAPESP 2011/01800-5. Graduando em Fı́sica Médica, Unesp. ‡ FAPESP 2010/20185-7 † 1001 ISSN 1984-8218 qual o quimioterápico não é administrado. Definimos a infusão da seguinte forma: n ≤ t < n + τ; q(t) = q > 0, q(t) = 0, n + τ ≤ t < n + T, (2) em que T é o ciclo (intervalo de tempo do ciclo), n = 0, T, 2T, ..., e τ é tempo de infusão, de modo que T >> τ . Para os parâmetros apresentados em [3] (exceto por µ = 1, 0 e ν = 8×10−2 ), N1 (0) = 1012 células, e para uma retirada de 99,9% massa tumoral em t = tcirurgia , e um ciclo T1 de 21 dias (4 infusões) e com q = 7200mg/dia, ou um ciclo T2 de 6 dias (16 infusões) e com q = 3600mg/dia, apresentamos na Figura 1 simulações envolvendo somente quimioterapia e quimioterapia–cirurgia–quimioterapia. Considerando um tumor de 1012 células como letal para seres humanos (ver [3]), em relação ao ciclo T1 , notamos que o tratamento com ciclo T2 aumenta bastante a sobrevida do paciente em ambos os casos. Destacamos ainda que quimioterapia com ciclo T1 e sem cirurgia é um terapia fracassada, pois esta não provê nem redução tumoral significativa (ver Figura 1(a)) nem confere longa sobrevida ao paciente (ver Figura 1(b)). T2 Sem tratamento T1 1011 1011 1010 1010 N1 1012 N1 1012 109 109 108 108 107 107 0 20 40 (a) 60 80 0 100 500 1000 (b) t (dias) 1012 1012 1010 1010 108 108 106 106 4 1500 2000 t (dias) N1 N1 T2 Sem tratamento T1 4 10 10 102 102 0 0 10 10 0 500 (c) 1000 1500 2000 t (dias) 2500 3000 3500 4000 0 (d) 1000 2000 3000 4000 5000 6000 t (dias) Figura 1: (a) e (b) Somente quimioterapia: ciclos T1 (4 infusões), T2 (16 infusões) e tumor não tratado; (c) T1 antes e após tcirurgia = 250o¯ dia; (d) T2 antes e após tcirurgia = 1250o¯ dia. Palavras-chave: Câncer, Modelagem Matemática, Quimioterapia, Cirurgia Referências [1] D. S. Rodrigues, P. F. A. Mancera, S. T. R. Pinho. “Modelagem matemática em câncer e quimioterapia: uma introdução”. Notas em Matemática Aplicada, e-ISSN 2236-5915, 2011. [2] L. Norton, R. Simon. The Norton-Simon hypothesis revisited. Cancer Treat. Rep., 70 (1986) 163-169. [3] D. S. Rodrigues, S. T. R. Pinho, P. F. A. Mancera. Um modelo matemático em quimioterapia. TEMA, 13 (2012), a ser publicado. 1002