Minicurso – Aula 7: Técnicas de Demonstração Matemática Anliy Natsuyo Nashimoto Sargeant Curso de Verão 2009 DEX - UFLA Negação • Antes de apresentar as demais técnicas de demonstração, precisamos aprender a escrever a negação de uma proposição. • Exemplo: A: Não existe inteiro x tal que x²+x-11=0. A negação da proposição A é: Não A: Existe um inteiro x tal que x²+x-11=0. Negação • Regras para negar uma proposição que contêm “e” ou “ou”. Não[A e B] transforma-se em [Não A] ou [Não B] Não[A ou B] transforma-se em [Não A] e [Não B] • Por exemplo: Não[(x≥3)e(y<5)] transforma-se em[(x<3) ou (y≥5)], Não[(x≥3)ou(y<5)] transforma-se em[(x<3) e (y≥5)]. Negação • A situação mais desafiadora é quando a proposição contém quantificadores. • Por exemplo, se a proposição aparecer na forma padrão: B: Para todo “objeto” com uma “certa propriedade”, “algo acontece”. Não B: Não é caso que para todo “objeto” com uma “certa propriedade”, “algo acontece”. Negação Não B: Não é caso que para todo “objeto” com uma “certa propriedade”, “algo acontece”. • Que na realidade significa que: Não B: Existe um “objeto” com uma “certa propriedade” para o qual o algo não acontece. Negação • Similarmente, quando a proposição contém o quantificador “existe” na forma padrão B: Existe um “objeto” com uma “certa propriedade” tal que “algo acontece”. Negação • O negação de B é Não B: Não é o caso que existe um “objeto” com uma “certa propriedade” tal que “algo acontece”. • Em outra palavras, Não B: Para todo “objeto” com uma “certa propriedade” o algo não acontece. Negação • Vamos dar exemplos para ilustrar a idéia. • Exemplo1: Para todo número real x ≥ 2, x²+x6≥0. Etapa 1: NÃO [para todo número real x ≥ 2, x²+x6≥0.] Etapa 2: Existe um número real x ≥ 2, NÃO[x²+x6≥0.] Etapa 3: Existe um número real x ≥ 2, x²+x-6<0. Negação • Exemplo2: Existe um número real x ≥ 2, x²+x6≥0. Etapa 1: NÃO [existe um número real x ≥ 2, x²+x-6≥0.] Etapa 2: Para todo número real x ≥ 2, NÃO[x²+x-6≥0.] Etapa 3: Para todo número real x ≥ 2, x²+x-6<0. Negação • Exemplo 3: Para todo número real x entre -1 e 1, existe um número real y entre -1 e 1 tal que x²+y²≤1. Etapa 1:NÃO [Para todo número real x entre -1 e 1, existe um número real y entre -1 e 1 tal que x²+y²≤1.] Negação Etapa 2:Existe um número real x entre -1 e 1, NÃO[existe um número real y entre -1 e 1 tal que x²+y²≤1]. Etapa 2.1:Existe um número real x entre -1 e 1 tal que para todo número real y entre -1 e 1, NÃO[ x²+y²≤1]. Etapa 3: Existe um número real x entre -1 e 1 tal que para todo número real y entre -1 e 1, x²+y²>1. Contra-exemplo • Os exemplos de proposições que vimos até agora eram verdadeiras e portanto conseguimos prová-las. • Mas, a verdade de algumas proposições matemáticas não são muito claras. Por Exemplo, B: Para todo inteiro n≥2,n²≥2ⁿ. Contra-exemplo B: Para todo inteiro n≥2,n²≥2ⁿ. • Nós podemos verificar facilmente que B é verdadeira para n=2,3 e 4. • Mas se tentarmos provar a proposição utilizando o método por escolha, vamos falhar, pois a proposição é falsa. • Em geral, como podemos provar que uma proposição é falsa? Contra-exemplo • Por exemplo, como podemos provar que B é falsa? B: Para todo inteiro n≥2,n²≥2ⁿ. • Provando que NÃO B é verdadeira. NÃO B: Existe um inteiro n≥2, n²<2ⁿ. • Podemos utilizar aqui o método por construção, pois apareceu “existe” em NÃO B. Contra-exemplo NÃO B: Existe um inteiro n≥2, n²<2ⁿ. • Neste caso, podemos construir n=5, que atende aos nossos propósitos pois n=5≥2 e n²=25<32=2ⁿ. Contra-exemplo • Em resumo, quando a sentença B contém a palavra-chave “para todo”: B: Para todo objeto com certa propriedade, algo acontece, • a proposição NÃO B conterá a palavra-chave “existe”: NÃO B: Existe um objeto com a certa propriedade tal que o algo não acontece. Contra-exemplo • E, para mostrar que NÃO B é verdadeira, podemos usar o método por construção e construir um objeto com a certa propriedade e para o qual o algo não acontece. Esse objeto para o qual B não é verdadeira é referido com um contra-exemplo para a sentença B. Contra-exemplo • Uma outra situação de produzir um contraexemplo surge quando tentamos provar que a sentença da forma “A implica B” é falsa. • Vamos para um exemplo, mas antes disso: • Dizemos que um inteiro m divide um inteiro n, escrevemos m|n se, e somente se, existe um inteiro k tal que n=km. Contra-exemplo • Agora consideramos o seguinte exemplo: S: Se a,b,e c são inteiros tais que a|(bc), então a|b e a|c. • Depois de inúmeras tentativas mal sucedidas em provar que S é verdadeira, você começa a suspeitar que S é falsa. • Uma sentença da forma “A implica B” é falsa quando A é verdadeira e B é falsa. Contra-exemplo A B A implica B V V V V F F F V V F F V • ALlL • Se A, então B. Contra-exemplo • Lembramos que não estamos fazendo distinção entre “Se A, então B” e “A implica B”. • Pela tabela-verdade vimos que a sentença da forma “A implica B” é falsa quando A é verdadeira e B é falsa. Contra-exemplo • Portanto, para provar que S é falsa precisamos mostrar que: A: a,b e c são inteiros tais que a|(bc) e NÃO B: NÃO [a|b e a|c]; que é ou a não divide b ou a não divide c. Contra-exemplo • Em outras palavras, para mostrar que S é falsa, precisamos produzir inteiros a,b e c tais que a|(bc) e ou a não divide b ou a não divide c. • Por exemplo, a=2, b=4 e c=5 satisfazem a|(bc), pois 2|20 e a=2 não divide c=5. • Portanto, a=2, b=4 e c=5 formam um contraexemplo para a sentença S. Método por Contradição • Voltemos a falar de técnicas de demonstração. • Com as técnicas que vimos até agora você pode se incapaz de completar uma prova por uma razão ou outra. • Então, vamos apresentar aqui mais uma técnica chamada método por contradição. • Este método é usado quando a conclusão de uma proposição contém uma apropriada palavra-chave. Método por Contradição • Por que precisamos de um outra técnica? • Veremos no seguinte exemplo: Proposição1: Se n é um inteiro e n² é par, então n é par. • Análise da tentativa de provar: O método regressivo fornece a seguinte pergunta-chave: “Como posso provar que um inteiro (no caso, n) é par?” Método por Contradição • Uma resposta é mostrando que: B1: Existe um inteiro k tal que n=2k. • O aparecimento do quantificador “existe” no processo regressivo sugere-nos que utilizemos o método por construção. • Trabalhando progressivamente da hipótese que n² é par, podemos afirmar que: A1: Existe um inteiro, digamos m, tal que n²=2m. Método por Contradição • O objetivo é produzir um inteiro k tal que n=2k, então é natural extrairmos a raiz quadrada (positiva) de ambos os lados de A1 e obtemos A2: n = 2m . • Mas, como podemos reescrever 2m de forma que pareça com 2k? • Aqui o método progressivo-regressivo parece falhar. Método por Contradição • Felizmente, existem outras técnicas que você pode usar antes de desistir. • Hoje falaremos do método por contradição. • A idéia da prova por contradição é assumir que A é verdadeira e B é falsa e ver porque isso não pode acontecer. • Você deve usar as informações para chegar a contradizer algo que você sabe absolutamente que é verdadeira. Método por Contradição • Agora, você deve estar se perguntado: “Qual contradição deveria chegar? ” • Está é uma pergunta complicada de responder pois não há uma regra geral. Cada problema irá gerar a sua própria contradição. • Então, você precisa de criatividade, insight, persistência e as vezes sorte para produzir uma contradição. Método por Contradição • No método progressivo-regressivo você assume que somente A é verdadeira, enquanto que no método por contradição você assume que ambos A e NÃO B são verdadeiro. Então, você tem duas proposições para trabalhar progressivamente no método por contradição ao invés de uma. • Por outro lado, você não sabe exatamente a qual contradição chegar e portanto não pode trabalhar regressivamente. Método por Contradição • Quando devo usar o método por contradição? • Utilize o método de contradição quando NÃO B fornecer uma informação útil • ou quando a sentença B contiver a palavrachave “não”. Isto porque o NÃO B irá eliminar o não. • Vamos para um exemplo. Método por Contradição Proposição2: Se r é um número real tal que r²=2, então r é irracional. Análise da prova: Podemos reescrever a conclusão da proposição como “r não é racional”. Dessa forma aparece o a palavrachave “não”e agora sugere que utilizemos o método por contradição. Então assumimos que A e NÃO B são ambos verdadeiras. Método por Contradição A: r²=2 e A1 (NÃO B): r é um número racional. • Devemos chegar em alguma contradição usando estas informações. • Usando a definição de número racional temos A2: Existem inteiros p e q com q≠0 tal que r=p/q. • Ainda não sabemos onde a contradição irá surgir. Método por Contradição • Um observação crucial irá nos ajudar. Podemos assumir que A3: p e q não possuem divisor comum (isto é, não existe um inteiro que divida ambos p e q). • Agora podemos chegar a uma contradição mostrando que 2 é um divisor comum de p e q. Método por Contradição • Trabalhando progressivamente, elevando ao quadrado ambos os lados de A2, segue que A4: r²=p²/q². • Usando A sabemos que r²=2, então A5: 2=p²/q². • O resto da prova é basicamente reescrever A5 até chegar a contradição de que ambos p e q são inteiros pares. Método por Contradição Proposição Razão A6: 2q²=p² Multiplicando ambos os lados de A5 por q² A7: p² é par De A6 porque p² é 2 vezes um inteiro (q²) A8: p é par Proposição 1 (dessa aula) A9: p =2k, para algum inteiro k Definição de inteiro par A10: 2q²=p²=(2k)²=4k² Substituindo A9 em A6 A11: q²=2k² Divide ambos os lados de A10 por 2 A12: q² é par De A11. A13: q é par Proposição 1 (dessa aula) Então, ambos p e q são pares (A8 e A13), e isto contradiz A3, assim a prova está completa. Método por Contradição • Prova da Proposição 2: Assumimos, por contradição, que r é um número racional da forma p/q (onde p e q são inteiros com q≠0) e r²=2. Além disso, podemos assumir que p e q não possuem divisor comum, pois se possuem, este número pode ser cancelado de ambos numerador p e numerador q. Sabendose que r²=2 e r=p/q, segue que 2=p²/q², ou equivalentemente 2q²=p². Método por Contradição Note que p² é par e portanto p é par. Assim, existe um inteiro k tal que p =2k. Substituindo esse valor de p obtemos 2q²=p²=(2k)²=4k², ou equivalentemente q²=2k². Disto segue que q², e portanto q, são pares. Portanto, mostramos que ambos p e q são pares e têm divisor comum 2. Isto contradiz a nossa afirmação de que p e q não possuem divisor comum.