UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL LIMITAÇÕES HUMANAS DO OPERADOR DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS E O AMBIENTE SOCIO-LABORAL NA SOJICULTURA Rogério de Abreu Silva Engenheiro Civil 2015 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL LIMITAÇÕES HUMANAS DO OPERADOR DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS E O AMBIENTE SOCIO-LABORAL NA SOJICULTURA Rogério de Abreu Silva Orientador: Prof. Dr. Afonso Lopes Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – UNESP, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Agronomia (Ciência do Solo). 2015 S586l Silva, Rogério de Abreu Limitações humanas do operador de máquinas agrícolas e o ambiente socio-laboral na sojicultura./ Rogério de Abreu Silva. – – Jaboticabal, 2015 xv, 60 p.: il.; 28 cm Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2015 Orientador: Afonso Lopes Banca examinadora: Daniel Junior de Andrade, Gilberto Hirotsugu Azevedo Koike, José Marques Junior, Leomar Paulo de Lima Bibliografia 1. Ambiente do trabalho. 2. Mecanização agrícola. 4. Trabalhador rural. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 631.33:331 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação – UNESP, Câmpus de Jaboticabal. DADOS CURRICULARES DO AUTOR ROGÉRIO DE ABREU SILVA - filho de Izidório Dias Lopes Silva e Tersa de Abreu Silva. Nascido em São Luís-MA, em 1º. de março de 1962. Graduação em Ciências Econômicas - Universidade Federal do Maranhão em março de 1988; em Engenharia Civil pela Universidade Estadual do Maranhão, em março de 1989; em Licenciatura em Disciplinas Especializadas (habilitação em Economia e Administração) pela Universidade Federal do Maranhão, em julho de 1989; em Direito pela Universidade Federal do Maranhão, em março de 2007. Tem curso de Especialização em Docência do Ensino Superior (Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura-ASOEC), Metodologia do Ensino de Projetos Arquitetônicos (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais-CEFET-MG), Instalações Prediais (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais/CEFET-MG), Engenharia Ferroviária (Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão/CEFET-MA), Educação Ambiental e Gestão Participativa de Recursos Hídricos (Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão/CEFET-MA), Educação Profissional Integrada com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos-PROEJA (Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão/CEFET-MA). Mestrado em Pedagogia Profissional (ISPETP Havana/Cuba), concluindo em 2000. Em agosto de 1986, por meio de concurso público, ingressou no Quadro de Pessoal Permanente da Escola Técnica Federal do Maranhão, como Assistente em Administração. Ingressou em 1992, via concurso público, no quadro de docente do então Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão-CEFET-MA. Permanece atuando como professor do Departamento de Ciências Humanas e Sociais do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Maranhão-IFMA. Em março de 2011, iniciou o curso de Doutorado em Agronomia (Ciência do Solo), na Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – FCAV/UNESP, Câmpus de Jaboticabal – SP, concluindo-o em janeiro de 2015. Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa No início era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele e, sem ele, nada existiria. Nele estava a vida, e a vida era a Luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam”. São João (1, 1-5) DEDICO A DEUS, o grande arquiteto do universo;. Aos meus queridos pais: Izidório Dias Lopes Silva (in memoriam), e Tersa de Abreu Silva (in memoriam); Aos meus filhos amados Gabriela Maranhão, Gabriel Amasonas e Guilherme Brasil por suas presenças entre nós. Também à Gislaine Araken e Larissa Sousa, filhas do coração. OFEREÇO Aos meus irmãos Sérgio Moriah, Ana Rita, Célia Abreu e Nélson Ramos; À minha tia-mãe Zezé Oliveira (in memoriam) com grande afeto; À minha avó Carmina Costa (in memorian) mulher forte, generosa e de fibra. AGRADECIMENTOS Acreditando que todo agradecimento é especial, pois é nesse ato que se exalta toda a humildade e a consideração aos agradecidos assim, sou grato: A DEUS, o grande arquiteto do universo e fonte de toda sabedoria; À Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal FCAV/UNESP – Câmpus de Jaboticabal. Especialmente ao Laboratório de Biocombustível e Ensaio de Máquinas (BIOEM), sendo este a base para a estruturação deste trabalho; Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão-IFMA, em especial ao Prof. Dr. Hílton Gomes Rangel, a Natilene Mesquita Brito e a Jackellyne Geórgia Dutra, amiga impar; À Universidade Federal do Maranhão - Centro de Ciências Agrárias e Ambientais-CCAA/UFMA, em especial à Profa. Dra. Alana Aguiar; À CAPES, pela concessão da bolsa de estudos, apoio necessário e oportuno; Ao Prof. Dr. Afonso Lopes (Departamento de Engenharia Rural da FCAV/UNESP), pelas orientações e ensinamentos. Mais que orientador, um irmão; Aos professores do programa de Pós-Graduação DINTER Dr. Arthur Bernardes Cecílio Filho, Dr. Gener Tadeu Pereira, Dr. Itamar Andrioli, Dr. Jairo Osvaldo Cazetta, Dr. José Marques Júnior, José Renato Zanini, Dr. Marcílio Vieira Martins Filho, Dr. Renato de Mello Prado, pelo apoio e compreensão nos momentos mais difíceis desta caminhada; Ao Dr. Gilberto Hirotsugu Azevedo Koike por sua inestimável colaboração e amizade fraternal; Ao Dr. Leomar Paulo de Lima, por suas considerações pertinentes; Ao prof. Dr. Daniel Júnior de Andrade, por suas contribuições oportunas; Ao Prof. Vitório Barato Neto pela correção gramatical; À Luciane Meire Ribeiro pela correção e formatação das referências e citações; Ao amigo fraterno José Rezende Turene, pessoa ímpar nesta caminhada; Ao amigo Francisco Romão, guia nas trilhas das Gerais de Balsas; Ao amigo Márcio Honaisser, Lavronorte Máquinas ltda., pelo apoio oportuno; Aos colegas do Departamento de Ciências Humanas e Sociais-IFMA, em especial a Agenor Almeida, Alanildo Guimarães, Alberico Nascimento, Ana Teresa Garcia, Ângela Medeiros, Claudicéa Durans, Cristiane Jacinto, Edílson Nascimento, Francisco de Assis, João Augusto Ramos, Jorge Leão, Miguel Veiga, Tereza Cristina Santos; Aos colegas de doutorado do DINTER-MA, Alexsandra Sousa Nascimento, Ana Zélia Silva, Carlos Magno dos Anjos Veras, Cristiane Rego Oliveira, Ismênia Ribeiro de Oliveira, Ivo Guilherme Ribeiro de Araújo, James Ribeiro de Azevedo, Jeane Rodrigues de Abreu, José Roberto Brito de Freitas, Paulo Sérgio Silva Bezerra, Sandra Maria da Costa Cruz, Telmo José Mendes, e em especial aos amigos Édson Fernandes da Silva, Fredgardson Costa Martins, José Maria do Amaral Resende, Jussara Silva Dantas, Marcelino Silva Farias Filho, Yzumy Pinheiro Doihara e aos amigos do DINTER-PI, Carlota Rosal e Laurielson Alencar, pelos momentos de angústias e satisfação vividos em Jaboticabal-SP; Aos colegas pós-graduandos do Laboratório de Biocombustível e Ensaio de Máquinas (BIOEM)/Instituto de Pesquisa em Bioenergia (IPBEN)-FCAV/UNESPJaboticabal, Melina Cais, Murilo Coelho, Priscila Iamaguti, Thaísa Moreti, Thyago Lira, pelo apoio e parceria nos momentos de trabalho e de descontração; Aos servidores do Departamento de Engenharia Rural, Davi Aparecido, Valdecir Aparício e Sebastião Francisco Silva, por tudo oportunizado; À equipe da Seção Técnica de Pós-Graduação: Moysés Vicari, Diego Henrique Mafra, Edna Aparecida Martins, Gabriela Morello da Silva Marçal Oliveira, Fernanda dos Santos Raymundo, Izabel Cristina Gerbasi Beraldo, Maria da Consolata Mulotto Nunes, Branca Rochidali José, Gíbson Caetano Pádua, e em especial à Supervisora da Seção, Márcia Luciana Natareli dos Santos, pela compreensão, dedicação e acompanhamento nesta jornada. E a todos os que, direta ou indiretamente, contribuíram para que esta conquista fosse alcançada, meus mais sinceros agradecimentos. x SUMÁRIO Página LISTA DE FIGURAS ............................................................................................. xi LISTA DE TABELAS ............................................................................................ xii LISTA DE SIGLAS ............................................................................................... xiii RESUMO ............................................................................................................ xiv SUMMARY .......................................................................................................... xv 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1 2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 3 2.1 A soja e a sojicultora maranhense ......................................................... 3 2.2 Mecanização agrícola .............................................................................. 6 2.2.1 Máquinas agrícolas ............................................................................. 8 2.2.2 Operações agrícolas mecanizadas ................................................... 10 2.2.3 Operador de máquinas agrícolas ...................................................... 11 3. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 20 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 24 5. CONCLUSÕES ................................................................................................ 48 6. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 49 APÊNDICE .......................................................................................................... 57 xi LISTA DE FIGURAS Figura Página Figura 1 Áreas de sojicultura no Maranhão .................................................. 5 Figura 2 Venda interna de tratores de roda: 1960 a 2013 .......................... 9 Figura 3 Área do estudo: Chapada das Mangabeiras/Balsas-MA ............. 20 Figura 4 Residência, cidade de origem e tempo de residência .................... 24 Figura 5 Escolaridade ................................................................................... 25 Figura 6 Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ......................................... 26 Figura 7 Tempo de atividade como operador ............................................... 28 Figura 8 Aprendizagem inicial da operação de máquinas agrícolas e participação em treinamento formal................................................ 29 Figura 9 Possíveis melhorias no desempenho profissional .......................... 30 Figura 10 Profissão anterior a operador ......................................................... 31 Figura 11 Atitudes do operador diante de iminente perigo ou grave risco...... 33 Figura 12 Uso de EPIs .................................................................................... 34 Figura 13 Faixa etária ..................................................................................... 35 Figura 14 Jornada diária de trabalho e intervalo ............................................ 36 Figuras Trailer adaptado com refeitório e banheiro químico em carreta, 15a e 15b para uso no campo ......................................................................... 37 Figura 16 Sintomas de fadiga ......................................................................... 39 Figura 17 Hábitos sociais comuns nos finais de semana ............................... 41 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 Motivação para tornar-se operador e intenção de mudar de profissão ......................................................................................... 42 Faltas no trabalho nos últimos 12 meses ....................................... 44 Atuação profissional do operador e possíveis contribuições para com a degradação ambiental ......................................................... 45 Conhecimento de leis de preservação e conservação ambiental e possíveis influências no desempenho profissional ......................... 46 xii LISTA DE TABELAS Tabela Tabela 1 Página Comparativo de produção, área e produtividade da soja - safra de 2013/2014 ......................................................................................... 4 Tabela 2 Produção de soja - polo Balsas-MA.................................................. 6 Tabela 3 Comportamentos de segurança do trabalho do operador de máquinas agrícolas ........................................................................... 32 xiii LISTA DE SIGLAS ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores BIOEM - Laboratório de Biocombustível e Ensaio de Máquinas CBO - Classificação Brasileira de Ocupações CBT - Código Brasileiro de Trânsito CF - Constituição Federal CLT - Consolidação das Leis do Trabalho CNH - Carteira Nacional de Habilitação CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento CTB - Código de Trânsito Brasileiro EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EPC - Equipamentos de Proteção Coletiva EPI - Equipamentos de Proteção Individual FCAV - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPBEN - Instituto de Pesquisa em Bioenergia IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MinTE - Ministério de Estado do Trabalho e Emprego NR - Norma Regulamentadora SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas UNESP - Universidade Estadual de Paulista xiv LIMITAÇÕES HUMANAS DO OPERADOR DE MÁQUINAS AGRÍCOLAS E O AMBIENTE SOCIO-LABORAL NA SOJICULTURA RESUMO: A cultura soja [Glycine max (L.) Merrill], produto importante no agronegócio brasileiro e com destaque no cenário agrícola maranhense, demanda intenso processo de mecanização agrícola, o qual pode influenciar e ser influenciado pelo ambiente social e de trabalho do operador de máquinas agrícolas. Este trabalho é estudo de caso realizado em Balsas-MA, com operadores de máquinas agrícolas incurso no processo de mecanização agrícola da sojicultura e objetivou avaliar possíveis influências do ambiente sociolaboral junto às limitações humanas destes. Os dados foram obtidos via observação direta e aplicação de questionários e entrevistas. Concluiu-se que as atuais relações de trabalho agrícola exigem novo perfil profissional do trabalhador rural em que o ambiente sociolaboral tem mínima influência na limitação ambiental e grande influência nas limitações técnica, física, fisiológica e psicológica do operador de máquinas agrícolas e, consequentemente, no processo de mecanização agrícola. Devem ser oportunizadas ofertas de cursos e treinamentos de capacitação e desenvolvimento profissionais para estes como subsídio importante para auxiliá-los a suplantar suas limitações. PALAVRAS-CHAVE: Ambiente do trabalho, mecanização agrícola, trabalhador rural xv HUMAN LIMITATIONS OPERATOR OF AGRICULTURAL MACHINERY AND THE SOCIAL AND WORK ENVIRONMENT IN SOYBEANS SUMMARY: Soybean [Glycine max (L.) Merrill] is a very important product in the Brazilian agribusiness and has gained a prominent position in the agricultural scenario of the state of Maranhão. Soybean culture system requires an intense agricultural mechanization process which influences, and is influenced by, the social and work environment of the agricultural machine-operator. This is a case study of agricultural machine-operators engaged in the process of soybean planting mechanization that took place in the municipality of Balsas, south Maranhão. The objective of the present study was to assess the potential influences of the operator`s socio-labor environment on their own limitations. Data were obtained via direct observations and self-report questionnaires. It is concluded that the current agricultural work relationships requires a new profile of rural workers, in which minimal effects on the operator`s environmental limitations and significant effects on the technical, physical, physiological and psychological limitations of these workers as well as on the agricultural mechanization process should be generated by the socio-labor environment. Skill training courses should be offered to the rural workers in order to support and help them to supplant their limitations. KEYWORDS: Work environment, agricultural mechanization, rural worker 1 1 INTRODUÇÃO Desde os primórdios da humanidade, a agricultura é objeto de grandes transformações. As evidentes facilidades oriundas da inserção de novos processos tecnológicos tais como máquinas agrícolas, agrotóxicos e fertilizantes neste meio não se fizeram seguir de programas de qualificação da mão de obra, precipuamente nos países periféricos. Como contraponto à decrescente população de trabalhadores rurais, comumente sem a devida qualificação, ocorre fomento cada vez maior para o aumento da produtividade agrícola (MOREIRA et al., 2002). A cultura da soja [Glycine max (L.) Merrill] vem assumindo importante espaço no cenário agrícola brasileiro, o que demanda, cada vez mais, agilidade no processo ágil e de melhor qualidade nas diferentes etapas da cadeia produtiva (EMBRAPA SOJA, 2014a). O estado do Maranhão tem despontado como nova fronteira desta cultura (CONAB, 2014). A partir da década de 1980, a mesorregião sul maranhense, e dos anos 1990, a mesorregião leste maranhense foram objeto de intensas ocupações com a instalação de grandes projetos agropecuários voltados para a produção de grãos para exportação, em especial a soja. Tais mudanças trouxeram novas formas de reestruturação e adaptação, bem como uso intenso do meio ambiente com consequências para o ambiente de trabalho, trabalhadores e sociedade (MIRANDA, 2011; RODRIGUES, 2014). Para Rocha (2013), a qualidade de vida do trabalhador está diretamente ligada ao meio ambiente de trabalho, o qual, para garantir-lhe dignidade, saúde e segurança, deve ser sadio, adequado e equilibrado. Para o referido autor, o meio ambiente de trabalho não se restringe ao espaço físico da empresa ou ao estabelecimento. Este é o local em que o trabalhador desenvolve quaisquer atividades laborais, é o espaço em que os elementos, inter-relações e condições que influenciam o trabalhador na dimensão biopsicossocial, comportamento e valores estão reunidos. Para este autor, a característica fundamental que distingue o ambiente de trabalho dos outros ambientes é justamente a ação antrópica delimitadora e transformadora do espaço físico através do labor. 2 O ambiente de trabalho rural compõe-se, comumente, de bens ambientais que carecem de conservação, oportunizando ao trabalhador vida com qualidade, garantindo-lhe a dignidade da pessoa humana amparada no ordenamento jurídico pátrio pela Constituição Federal de 1988-CF/1988, Art. 3º, III. Este instituto referencia meio ambiente do trabalho no art. 200, VIII: colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho (BRASIL, 2014a). A CF/1988 não conceitua meio ambiente de trabalho haja vista a ausência de consenso sobre o conceito de meio ambiente na comunidade científica (REIGOTA, 2010). No artigo 7º, a CF/1988 dispõe sobre direitos de trabalhadores e trabalhadoras urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria da condição social, como redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (inciso XXII); o adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres e perigosas, na forma da lei (inciso XXIII) e seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa (inciso XXVIII) (BRASIL, 2014a). A intensificação no uso de máquinas agrícolas começou, no Brasil, a partir da década de 60, fruto do processo de modernização da agricultura (SCHLOSSER, 1998). Neste contexto, destaca-se o trator agrícola, considerado base da mecanização agrícola moderna, ocupando lugar de relevância quando se contempla a relação homem-máquina no meio rural (VITÓRIA; FERNANDES; SOUZA, 2010). O cenário agrícola como um todo demanda intenso processo de mecanização agrícola o qual pode influenciar e ser influenciado pelo ambiente social e de trabalho do operador de máquinas agrícolas. Este trabalho objetivou avaliar possíveis influências do ambiente de trabalho e social junto às limitações técnica, física, fisiológica, psicológica e ambiental do operador de máquinas agrícolas incurso no processo de mecanização agrícola da sojicultura, no município de Balsas-MA (microrregião das Gerais de Balsas). Apontam-se possíveis propostas e sugestões a corroborarem na melhoria da interação do operador de máquinas agrícolas com a máquina, equipamentos e as operações agrícolas no processo de mecanização agrícola da sojicultura. 3 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 A soja e a sojicultura maranhense A soja é considerada alimento de alto valor nutritivo. Pertencente à família Fabaceae (leguminosa) sendo considerada importante cultura, especialmente pela capacidade em fornecer grandes quantidades de proteínas e aminoácidos essenciais. É utilizada no consumo humano como alimentos, óleos comestíveis, farinha e outros, e na alimentação animal quando da fabricação de ração (BEHRENS; SILVA, 2004). Para Paiva, Alves e Heleno (2006), a soja é destaque entre as principais culturas da agroindústria brasileira visto que atende ao mercado de produção de farelo, farinhas, óleo, bebidas à base de soja e outros produtos e, segundo Sartori et al. (2009), outros produtos derivados da soja também são produzidos, tais como sabão, cosméticos, resinas, tintas e biodiesel. Originária da China, a forma da soja hoje cultivada não foi identificada na natureza (forma silvestre), pois os ancestrais eram plantas rasteiras que se desenvolviam na costa leste da Ásia e era utilizada no preparo de alimentos e na fabricação de remédios. Conhecida da civilização oriental por milhares de anos, só foi introduzida na Europa no final do século XV, como curiosidade, nos jardins botânicos europeus (EMBRAPA SOJA, 2014b). Até meados do século XX, a soja era produto que, no mundo ocidental, servia apenas para produzir óleo e era fonte de alimento dos animais. Recentemente, ganhou destaque ao despertar interesse das indústrias e dos nutricionistas em função dos potenciais benefícios à saúde humana (PAIVA; ALVES; HELENO, 2006). No final da década de 60, produtores brasileiros perceberam a importância da soja como produto comercial. O trigo era a principal cultura do Sul naquela época, e a soja surgia como opção de verão, em sucessão ao trigo. Iniciou-se também neste momento a produção de suínos e aves, gerando demanda por farelo de soja. A partir daí, o País passou a investir em tecnologia para a adaptação da cultura às condições brasileiras, viabilizando o cultivo da soja em regiões de baixas latitudes (EMBRAPA SOJA, 2014a). 4 Ressalta-se que o Brasil se beneficia de vantagem competitiva em relação aos outros países produtores visto que o escoamento da safra ocorre na entressafra americana, quando os preços atingem as maiores cotações (EMBRAPA SOJA, 2014b). De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o Brasil teve, na safra de 2013/2014, em área plantada de grãos, o equivalente a 56.962,4 mil hectares. Com a cultura da soja, foram plantados 30.173,1 mil hectares. Nesta safra, a produtividade média de soja foi de 2.854 kg/ha. O estado do Mato Grosso foi o maior produtor brasileiro, e o Maranhão o nono, com produção de 1.823,7 mil toneladas, área plantada de 662,2 mil hectares e produtividade média de 2.754 kg/ha, Tabela 1 (CONAB, 2014). Tabela 1. Comparativo de produção, área e produtividade da soja-safra 2013/2014 MT PRODUÇÃO (mil t) 26.441,6 ÁREA (mil ha) 8.615,7 PRODUTIVIDADE (kg/ha) 3.069 2º PR 14.780,7 5.010,4 2.950 3º RS 12.867,7 4.939,6 2.605 ... 9º MA 1.823,7 662,0 2.754 ORDEM ESTADO 1º Fonte: CONAB, 2014 De acordo com The American Soybean Association, em 2013, a produção mundial de soja foi de 284,0 milhões de toneladas em área total de 25.252,7 mi ha. Os maiores produtores mundiais de soja foram: Estados Unidos (32%), Brasil (31%), Argentina (19%), China (4%), Índia (4%), Paraguai (3%), Canadá (2%) e outros (5%). Segundo este instituto, o Brasil foi o maior exportador (41%), seguido dos Estados Unidos (39%), Argentina (7%), Paraguai (4%), Canadá (3%) e outros (6%) (SOY STATS, 2014). A produção de soja foi responsável pelo avanço do agronegócio no Brasil (EMBRAPA SOJA, 2014b). Este processo reorientou o eixo produtivo agrícola no país e, consequentemente, no estado do Maranhão (WESZ JUNIOR, 2011), levando o sul do estado a se transformar na região grande produtor de soja, e a região leste a se apresentar como área em franca expansão desta cultura (Figura 1). Tal 5 situação deu-se em razão do intensivo uso de capital, rigor agronômico, produção em escala comercial e solo favorável (SEBRAE-MA, 2008?). Figura 1 - Áreas de sojicultura no Maranhão. Fonte: SEBRAE-MA (2008?). 6 O cultivo da soja exige especialmente solos planos que favoreçam a mecanização agrícola, com declividade que contribua com drenagem adequada, e solo argiloso que permita retenção de umidade. O cerrado maranhense, mesorregião sul do estado, oferece estas condições, sendo favorável à produção desta cultura (Tabela 2). A microrregião de Chapadinha (leste maranhense) vem ganhando, via adaptação de sementes e outros recursos, dinâmica econômica relevante no processo de cultivo deste grão (SEBRAE-MA, 2008?). A microrregião das Gerais de Balsas tem a maior produção de soja no estado do Maranhão, estando distribuída entre os municípios conforme tabela a seguir: Tabela 2. Produção de soja, 2008 - polo Balsas-MA. Polo Balsas-Municípios Balsas Tasso Fragoso Sambaíba Riachão São Raimundo Mangabeiras Outros Fonte: SEBRAE-MA (2008?) Percentual (%) 30,69 23,84 9,92 7,68 6,61 21,26 Foi observado que os estabelecimentos agropecuários que cultivam soja caracterizam-se como monocultores extensos e totalmente mecanizados, com o uso de adubos químicos e agrotóxicos utilizados em grande escala. Para Wesz Júnior (2011), o comércio da soja é dominado basicamente por grandes grupos internacionais que comumente compram a produção antes do plantio, no chamado mercado futuro, com até uma safra de antecedência, o que acaba por garantir o custeio da produção que se dá pela venda antecipada. 2.2 Mecanização agrícola A evolução do agronegócio brasileiro, e no mundo, se deu precipuamente em função da mecanização agrícola. Esta é essencial na agricultura atual. Atividades 7 como preparo do solo, adubação, pulverização e colheita, que antes eram realizadas com a força de trabalho humana e animal, hoje são desenvolvidas com o auxílio de máquinas (CUNHA; DUARTE; RODRIGUES, 2009). Para Peloia e Milan (2010), o processo da mecanização agrícola representa fator de grande importância para a competitividade em termos de custo, sendo, em alguns casos, apenas inferior à posse da terra. É este componente básico importante na estratégia de desenvolvimento rural, dado aumentar significativamente a produtividade. O emprego de modernas máquinas e equipamentos agrícolas são elementos precípuos para o desenvolvimento do agronegócio. Corrobora essa percepção ao perceber que, nas últimas décadas, a agricultura brasileira apresentou substancial crescimento de produção. Este quadro ocorreu em função do melhor aproveitamento dos fatores de produção, destacando-se o maior uso da mecanização no setor e a utilização mais eficaz de fertilizantes e agrotóxicos (LIMA; RODRIGUES; FELIPE, 2009). Com o célere desenvolvimento da mecanização agrícola ocorrido nas últimas décadas, as atividades agropecuárias estão, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre as atividades profissionais de maior risco de acidentes de trabalho, podendo ser comparadas inclusive à construção civil e a exploração do petróleo. Explicita também este instituto, que cerca de um em cada três acidentes de trabalho rural envolvendo máquinas agrícolas resultam em incapacidade permanente do trabalhador e que os tratores e equipamentos agrícolas são os que oferecem riscos maiores de acidentes. Como causas maiores dos acidentes são apontadas o erro humano relacionado às atitudes dos operadores ou a problemas de interação deste com a máquina agrícola (OIT, 2004). É sabido que a mecanização agrícola trouxe benefícios, porém suscitou, também, alguns problemas. Vilagra (2009) comenta que a operação da máquina agrícola é atividade extenuante, com sobrecarga física conjugada de sobrecarga mental elevando esta atividade à preocupação com a ergonomia, a fadiga e possíveis acidentes decorrentes deste contexto. 8 2.2.1 Máquinas agrícolas No início dos anos de 1960, coincidindo com intensas demandas do setor agrícola, começou a fabricação de tratores no Brasil tornando o setor da indústria de máquinas agrícolas, com características peculiares e específicas, a ter notável destaque no complexo agroindustrial, apresentando-se como componente crucial no processo de modernização da agropecuária brasileira. Dentre as máquinas introduzidas no meio rural, o trator agrícola merece destaque, visto tornar-se fonte de potência de diversos tipos de implementos agrícolas, podendo ser utilizado na execução de inúmeras operações realizadas no campo (SILVA, 2010). O trator agrícola tem recebido inúmeras melhorias ao longo do tempo, em busca de melhorias como o aumento da eficiência, do conforto e da segurança nas operações, haja vista ser uma das máquinas mais utilizadas na agropecuária. É uma máquina autopropelida, provida de meios que, além de lhe conferir apoio estável sobre superfície horizontal e impenetrável, capacitam-no a tracionar, transportar e fornecer potência mecânica para movimentar órgãos ativos de máquinas e implementos agrícolas (MIALHE, 1980). Enquanto máquina agrícola, o trator compõe-se de diversos mecanismos cujo objetivo é tracionar equipamentos agrícolas. Este é projetado para proporcionar força no sentido de deslocamento, realizando diversas operações agrícolas realizadas no campo, constituindo-se como principal fonte de potência da moderna agricultura moderna. Objetivando atender diversas demandas funcionais, algumas características se fazem necessárias ao trator agrícola tais como: robustez, versatilidade, confiabilidade, segurança, conforto bem como possuir a capacidade de fácil acoplamento a diversos tipos de equipamentos agrícolas (GENZ; VILAGRA, 2009). O Código de Trânsito Brasileiro (CTB), no cap. IX, art. 96, alínea e, classifica os veículos agrícolas como veículos de tração e divide-os tratores de rodas, tratores de esteiras e tratores mistos (BRASIL, 2014b). Pelos dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA, 2014), o Brasil passou de uma frota de tratores pouco superior a 60.000 unidades nos anos de 1960 para 1.550,549 unidades vendidas ao 9 mercado interno (vendas acumuladas) de tratores de roda em 2013 e com tendência positiva de crescimento de venda (Figura 2). TRATORES DE RODAS (UNIDADES) 70000 60000 50000 40000 30000 20000 10000 0 1959 1964 1969 1974 1979 1984 1989 1994 1999 2004 2009 2014 ANO Figura 2: Venda interna de tratores de roda: 1960 a 2013. Fonte: ANFAVEA, 2014. Segundo Ferreira Filho e Costa (1999), a aquisição de tratores agrícolas está associada aos fenômenos voltados ao desenvolvimento da agricultura, tais como modificações na composição de cultivo, criação de novas fronteiras agrícolas, políticas agrícolas ou mesmo econômicas, tecnologias e, ainda, processos inovadores. Assim, o crescimento observado no agronegócio está também associado à elevação na aquisição de máquinas e implementos agrícolas. O crescente emprego das máquinas e equipamentos agrícolas em substituição ao trabalho manual e à tração animal pode ser caracterizado como evento que trouxe consequências tanto positivas quanto negativas. Dentre as consequências positivas, convém destacar que o trator agrícola colaborou para diminuir o esforço físico necessário para a execução de determinadas tarefas. Como aspectos negativos, destaca-se célere intervenção no meio ambiente, gerando intensa onda de degradação ambiental. Pode-se também perceber o surgimento de nova fonte de acidentes de trabalho, na maioria dos casos, de risco superior aos que ocorriam anteriormente e cuja importância é dada pelos danos físicos causados ao 10 operador de máquinas agrícolas, bem como pelos prejuízos materiais e financeiros ocasionados à sociedade e aos empregadores (SILVA, 2010). Para Fernandes et al. (2014) as atividades de campo desenvolvidas com tratores agrícolas são altamente vulnerável a acidentes. Afirmam ainda estes autores que a falta de preparo e de treinamento bem como o desconhecimento por parte dos operadores acerca dos atos inseguros são as principais causas de acidentes com tratores agrícolas. Cabe ponderar que o acidente de trabalho tanto pode ser resultado de atos inseguros (culpa humana por negligência, imprudência ou imperícia) como pode ser resultado de condições inseguras, quais sejam situações adversas no ambiente de trabalho. 2.2.2 Operações agrícolas mecanizadas É a mecanização agrícola algo essencial na moderna agricultura. Distintas atividades como preparo de solo, plantio, adubação, pulverização e colheita, que eram realizadas unicamente pelo trabalho manual, com o auxílio da força de tração animal, são hoje desenvolvidas com o apoio de máquinas e equipamentos agrícolas, o que em muito contribui em melhores resultados do processo agrícola permitindo inclusive o cultivo de áreas maiores. As operações agrícolas mecanizadas possuem características individuais que precisam ser consideradas. Necessário se faz a correta adequação das máquinas agrícolas, acatando as devidas recomendações e requisições em cada operação. Estas realizam operações que vão desde o preparo do solo, que exige grande esforço de tração, até o processo de implantação, condução e retirada das culturas comerciais, podendo ser considerado como ponto estratégico em todo o processo agrícola (MILAN, 2004). Culturas distintas demandam a utilização de insumos em quantidades propícias, tal que atendam a critérios econômicos e conservem o solo, possibilitando manter ou elevar a produtividade. Com o acompanhamento da fertilidade do solo, o produtor pode encontrar ponto de equilíbrio dos nutrientes deste e assim usar racionalmente os fertilizantes ou mesmo suprimir tal uso (SFREDO, 2008). 11 Para Ripoli, Ripoli e Molina Júnior (2004), existem três sistemas de plantio em utilização no Brasil: o manual, o semimecanizado e o mecanizado. O primeiro tem maior ocorrência em regiões do Nordeste brasileiro e é caracterizado pelo fato de que todas as operações de plantio são manuais. No segundo sistema, parte das operações são realizadas com auxílio de máquinas e parte é manual. No sistema mecanizado, todas as operações agrícolas são realizadas mecanicamente, inclusive a aplicação de agrotóxicos e fertilizantes. Quando a operação da máquina agrícola não integra um sistema eficiente, o operador expõe-se a carga majorada de esforço físico e mental, resultando na diminuição da eficiência, da produtividade e da qualidade do trabalho, ocasionando aumento da ocorrência de erros, acidentes, surgimento de doenças ocupacionais e perda de eficácia (DEBIASI; SCHLOSSER; PINHEIRO, 2004). 2.2.3 Operador de máquinas agrícolas Com o grande surto desenvolvimentista ocorrido em meados do século XX, o Brasil passou por intensa incorporação dos conhecimentos científicos e tecnológicos no sistema produtivo como um todo. O ambiente de trabalho do meio rural brasileiro foi também objeto dessas mudanças em função da implementação do processo da mecanização agrícola, intensificado nas décadas seguintes. Este processo de modernização da agricultura foi, em grande medida, ancorado na incorporação agrícola dos cerrados, seja pela facilidade do cultivo com máquinas agrícolas, seja pela facilidade de adubação e irrigação, ou mesmo pelo baixo custo da terra (MORAES, 2000). Neste contexto, o meio ambiente de trabalho rural passou por intensas transformações, sendo que este processo, deslanchado no Brasil em meados da década de 1970, alcança o estado do Maranhão, cuja fronteira sul foi, a partir da década de 1980, objeto de ocupação que se intensificou na década de 1990 rumo à região leste maranhense, via instalação de grandes projetos agropecuários voltados para a produção de grãos, em especial da soja. Tais mudanças trouxeram novas formas de reestruturação e adaptação bem como uso intenso do meio ambiente 12 natural com consequências para o ambiente de trabalho, diretamente para trabalhadores e trabalhadoras, e indiretamente à sociedade (ALMEIDA, 2007). Para Almeida (2007), grandes projetos agropecuários do complexo carnesgrãos instalados no Maranhão voltam-se para o cultivo de grãos, dentre eles soja, milho e arroz, utilizando tecnologias avançadas, como modernas máquinas agrícolas, adubos, agrotóxicos e sementes geneticamente modificadas, bem como armazenagem da produção. Com o desenvolvimento no processo de produção agrícola, o meio ambiente de trabalho rural sofreu inúmeras mudanças, que atingiram diretamente a vida do trabalhador. São também consequências dessas modificações na agricultura a utilização de intensas tecnologias, a jornada de trabalho excessiva, a não observação das leis de proteção à saúde e segurança do trabalhador, a falta de infraestrutura na região, dentre outros, causando prejuízos ao meio ambiente de trabalho rural, comprometendo a qualidade de vida dos trabalhadores, principalmente no que tange aos acidentes laborais (SILVA et al., 2005). O operador de máquinas agrícolas está exposto às condições ligadas ao ambiente no que condiz aos aspectos físicos, químicos, biológicos e aos aspectos de higiene e segurança. Os aspectos do ambiente estão relacionados com as cargas físicas e, estas, com o sofrimento do corpo. A organização do trabalho, abrangendo aspectos de divisão do trabalho, conteúdo da tarefa, sistema hierárquico, modalidades de comando, relações de poder e responsabilidades, está relacionada com as cargas mentais e com o sofrimento ao nível mental do trabalhador (GONÇALVES; XAVIER; KOVALESKI, 2005). Para Kroemer e Grandjean (2005), a inserção de máquinas agrícolas no meio rural modificou as relações entre o trabalhador e as atividades laborais. A nova relação advinda do ser humano com a máquina agrícola é denominada sistema ‘homem/máquina’ e, segundo este autor, possui ciclo fechado, no qual o profissional tem lugar de destaque, dado competir a ele o poder da decisão. Antes, controlar a máquina agrícola não era tão complicado. Hoje, com o grande volume de tecnologia embarcada e o crescimento da capacidade produtiva, as tarefas do trabalhador, precipuamente no que concerne às percepções das informações e adequadas interpretações, ficaram mais complexas e delicadas, tornando o ‘fator humano’, 13 nestes sistemas, cada vez mais importante e, consequentemente, a necessidade da demanda da adequada capacitação. Para Dejours (2003), a saúde mental do trabalhador é tão importante quanto a saúde física. O profissional pode tanto estar submetido a carga física de trabalho quanto a carga psíquica e, às vezes, as duas cargas estão fortemente presentes. É comum os produtores rurais instalarem projetos voltados para a agricultura tecnificada e encontrarem mão de obra constituída de trabalhadores que nasceram e cresceram no âmbito do campesinato, muitos dos quais até mesmo sem o Ensino Fundamental completo e sem qualquer contato, até então, com tecnologias utilizadas no padrão de agricultura moderna. Isto, em certa medida, dificulta ou mesmo limita a inserção desse trabalhador local no processo produtivo a se instalar (ALMEIDA, 2007). Tem o setor agrícola cumprido papel estratégico na economia brasileira, devido à capacidade de contribuir na oferta interna adequada de alimentos e matérias-primas agrícolas e no aumento das exportações. Porém, a agricultura tem adotado, crescentemente, tecnologia intensiva em capital e mão de obra qualificada, assim como elevação das escalas de produção nas várias atividades. Segundo Alves, Mantovani e Oliveira (2005), este padrão de tecnologia agrícola tem levado à absorção de quantidade significativa de mão de obra, tanto no meio rural como no urbano; porém, essa mão de obra é predominantemente qualificada e, comumente, escassa em regiões como nas áreas de fronteiras da sojicultura maranhense. Para Lima et al. (2005), máquinas agrícolas eram disponibilizadas no mercado sem qualquer preocupação dos fabricantes com determinadas características indispensáveis para a realização do trabalho com conforto e segurança, ou seja, faltava-lhes preocupação maior com o bem-estar do operador no que concerne fatores ergonômicos que atendam ao conforto funcional deste profissional. Comenta Veiga et al. (2013), que o desenvolvimento de máquinas agrícolas, especialmente tratores, tem evoluído muito em termos de ergonomia física nos últimos anos. Sabe-se que as atividades laborais estão migrando de atividades físicas, mecânicas e repetitivas para atividades que envolvem o raciocínio, onde a 14 mente é requerida e está sujeita ao mesmo desgaste (ou até maior) que o corpo físico. Mesmo com o célere avanço do processo mecanização agrícola ocorreu, até há pouco tempo, a quase não existência de órgãos fiscalizadores, bem como a pouca preocupação de fabricantes de máquinas e equipamentos agrícolas com estudos na área de ergonomia. Priorizam estes, o desempenho e a produtividade sendo que a segurança e o conforto são fatores menos valorizados nos projetos dos tratores agrícolas, em detrimento da saúde dos operadores de máquinas agrícolas. Para a concepção de projetos e fabricação de máquinas e equipamentos agrícolas que reduzam o desgaste físico e mental do operador, necessário se faz o acatamento dos preceitos legais tipificados na legislação pátria como a legislação trabalhista e outras correlatas como a Norma Regulamentadora-NR n. 31, que trata da segurança e saúde no trabalho na agricultura, pecuária silvicultura, exploração florestal e aquicultura, bem como a utilização plena dos recursos disponibilizados pelo avanço tecnológico e pelo cabedal de conhecimentos acerca de ergonomia. O acesso a algumas máquinas agrícolas, o conforto termoacústico, o raio de visão, o acionamento de alguns comandos e mesmo as dimensões do posto de operações dos tratores agrícolas são questões fundamentais com relação ao conforto, à segurança e à eficácia profissional do operador de máquinas agrícolas. Estes encontram-se normatizados em nível internacional com medidas antropométricas que, a princípio, podem diferir das medidas dos operadores brasileiros, o que acarreta em comprometimento durante a jornada profissional (LIMA et al. 2005). O Ministério de Estado do Trabalho e Emprego (MinTE), via Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), instituída pela portaria ministerial n. 397, de 9 de outubro de 2002, tendo por finalidade a identificação das ocupações no mercado de trabalho, para fins classificatórios junto aos registros administrativos e domiciliares, é o documento que reconhece, nomeia e codifica os títulos, descreve as características das ocupações do mercado de trabalho brasileiro e intitula os trabalhadores da mecanização agrícola (6410) como: tratorista agrícola (6410-15), operador de implementos agrícolas (6410-15), operador de máquina agrícola (641015) e operador de máquinas agrícolas (6410-10). Para a CBO, é condição geral de 15 exercício dessa ocupação ser desenvolvida por profissional com carteira assinada, empregado na agricultura e na pecuária, tendo por atribuições profissionais ser arador, operador de adubadora, operador de implementos agrícolas, operador de máquinas agrícolas, tratorista, operador de roçadora e tratorista operador de semeadora. O trabalho é exercido em equipe, com supervisão ocasional e em rodízio de turnos, diurno e noturno. Os profissionais estão expostos a materiais tóxicos e a ruídos (BRASIL, 2014c). No tocante à capacitação, segundo a CBO, a ocupação de operador de máquinas agrícolas deve ser exercida por trabalhador com escolaridade equivalente ao atual quinto ano do Ensino Fundamental I, e a experiência profissional ocorre com a prática de um a dois anos. Como descrição sumária das atribuições, este profissional deve demonstrar competências pessoais, operar, ajustar, preparar e realizar manutenção, em primeiro nível, de máquinas e implementos agrícolas, empregar medidas de segurança e auxiliar em planejamento de plantio. Como requisitos a demonstrar por competências pessoais, estes profissionais devem saber trabalhar em equipe, dar prova de resistência física, manifestar atenção difusa, coordenação motora múltipla e iniciativa, bem como atentar para intempéries (BRASIL, 2014c). Com relação ao emprego de medidas de segurança, a CBO indica que devem os operadores de máquinas agrícolas assessorar em treinamento de colegas, usar equipamento de proteção individual (EPI) como: uniformes de proteção, óculos, abafadores, máscaras e luvas, botas, armazenar produtos químicos, sinalizar áreas de riscos de acidentes, confirmar desligamento de máquinas e implementos, encapar correias, correntes e giratórias de motor e engrenar máquinas agrícolas estacionadas. Na operação das máquinas e implementos agrícolas, devem estes ligar e desligar máquinas, controlar painel de comandos e instrumentos, ligar e desligar implementos, acionar alavancas, conferir ruídos de máquinas e implementos, controlar barras de pulverização, misturar agrotóxicos e fertilizantes, carregar e descarregar adubos e colheitas e fixar balizas em solo (BRASIL, 2014c). Indica a CBO, no tocante às atribuições referentes ao preparo das máquinas e implementos, que deve o operador de máquinas agrícolas verificar nível de água e óleo, verificar condições de filtro de ar, conferir tensão de correias, trocar pneus, 16 acoplar implementos em trator, abastecer máquinas e implementos, programar rotações de motor e turbinas, programar horários de atividades de máquinas e, com relação a realizar a manutenção em primeiro nível de máquinas e implementos, deve engraxar rolamentos, engrenagens e buchas, trocar peças de implementos e máquinas, lavar máquinas e implementos, limpar filtro de ar, trocar óleos e filtros, colocar água em pneus e baterias, calibrar pneus, guardar máquinas, implementos e equipamentos. No que se refere à atribuição auxiliar de planejamento de plantio deve este coletar amostra de solo, propor medidas para aprimoramento de plantio, testar germinação de sementes, contar sementes germinadas, auxiliar em planejamento de quantidade de sementes e adubos por área de plantio, auxiliar em planejamento de direção de plantio de lavoura, informar dados de profundidade e umidade de solo. São recursos de trabalho as ferramentas (chaves, marreta, talhadeira e outros), o arado, o subsolador, o cultivador, a grade aradora, a carreta agrícola, o pulverizador, o trator, os equipamentos de proteção individual, a colhedora, o sulcador, a semeadora, a plantadora e outras (BRASIL, 2014c). O ordenamento jurídico pátrio estabelece que a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais é algo precípuo em qualquer área de atividade profissional. O equipamento de proteção individual é fundamental no que tange à proteção dos profissionais, individualmente, pois objetiva reduzir qualquer tipo de ameaça ou risco para estes. Segundo a Norma Regulamentadora n. 6 (NR 6), EPI é todo dispositivo ou produto, de uso individual, utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho (BRASIL, 2014d). A Norma Regulamentadora n. 31 (NR 31) preceitua, quanto às Medidas de Proteção Pessoal, que é obrigatório o fornecimento, gratuito, aos trabalhadores de equipamentos de proteção individual (EPI) para o desempenho das funções, devendo ser utilizados durante todo o expediente de trabalho. Este deve acatar as seguintes circunstâncias: a) sempre que as medidas de proteção coletiva forem tecnicamente comprovadas inviáveis ou quando não oferecerem completa proteção contra os riscos decorrentes do trabalho; b) enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; c) para atender a situações de emergência (BRASIL, 2014e). 17 Estatui ainda a NR 31 que o empregador deve exigir que os trabalhadores utilizem os EPIs, cabendo àquele orientar o empregado sobre o uso destes, devendo o empregado utilizá-lo apenas para a finalidade a que se destina, responsabilizar-se pelo seu acondicionamento e conservação, comunicar ao empregador qualquer alteração que o torne impróprio para uso, bem como cumprir as determinações do empregador sobre o uso adequado (BRASIL, 2014e). O empregador rural ou equiparado, de acordo com as necessidades de cada atividade, deve fornecer aos trabalhadores os seguintes equipamentos de proteção individual: a) proteção da cabeça, olhos e face; b) óculos contra irritação e outras lesões; c) proteção auditiva; d) proteção das vias respiratórias; e) proteção dos membros superiores; f) proteção dos membros inferiores; g) proteção do corpo inteiro nos trabalhos em que haja perigo de lesões provocadas por agentes de origem térmica, biológica, mecânica, meteorológica e química; h) proteção contra quedas com diferença de nível, cabendo ao trabalhador usar os equipamentos de proteção individual indicados para as finalidades a que se destinarem e zelar pela sua conservação. A NR n. 31 preceitua que a capacitação do operador de máquina autopropelida deva atender ao programa de capacitação em etapas teórica e prática, carga horária mínima de vinte e quatro horas distribuídas em, no máximo, oito horas diárias, contemplando o seguinte conteúdo programático (BRASIL, 2014e): a) Legislação de segurança e saúde no trabalho e noções de legislação de trânsito; b) Identificação das fontes geradoras dos riscos à integridade física e à saúde do trabalhador; c) Noções sobre acidentes e doenças decorrentes da exposição aos riscos existentes na máquina e nos implementos; d) Medidas de controle dos riscos: Equipamento de Proteção Coletiva e Equipamento de Proteção Individual; e) Operação da máquina e dos implementos com segurança; f) Inspeção, regulagem e manutenção com segurança; g) Sinalização de segurança; h) Procedimentos em situação de emergência; i) Noções sobre prestação de primeiros socorros. 18 Preceitua ainda este instituto que as máquinas e implementos devem ser utilizados segundo as especificações técnicas do fabricante e dentro dos limites operacionais e restrições por ele indicados, e operados por trabalhadores capacitados, qualificados ou habilitados para tais funções (BRASIL, 2014e). A segurança do trabalho também desperta atenção e preocupação no cotidiano do operador de máquinas agrícolas. A utilização de máquinas agrícolas ampliou consideravelmente os riscos a que estão sujeitos os trabalhadores rurais, e mais da metade das mortes ocorridas em acidentes de trabalho no setor agrário são consequências da mecanização agrícola (MONTEIRO; ALBIERO, 2014). Sintonia com o meio ambiente, a maneira como se relaciona com a natureza é, para Gardner (2007), um dos diversos tipos de inteligência humana, a inteligência naturalista. É esta a interação do ser humano com aquilo que faz parte do meio em que vive, com a natureza. É, segundo este autor, tendência inerente a alguns, haja vista melhor compreenderem os fenômenos e padrões da natureza. Absenteísmo é a falta do empregado ao ambiente de trabalho ou mesmo atrasos e saídas antecipadas em determinado período, por qualquer motivo, não amparado em fulcro legal como: doenças, licença, doação de sangue, participação em júris e outros. Este pode ser por motivo social (doença de ente querido), intraempresariais (emendar feriados) ou mesmo a legalização de falta não provocada por problema de saúde (CHIAVENATO, 2010; MARRAS, 2011). Para Chiavenato (2010), diversos são os fatores que contribuem para o absenteísmo como: liderança despreparada que não sabe conduzir equipes, infraestrutura inadequada para o exercício das atividades, metas intangíveis que provocam sentimentos de opressão, comunicação deficiente, ocorrendo ausência de política clara de ascensão interna, ausência de qualidade de vida, com ambiente prejudicial à saúde do profissional, levando-o a adoecer e afastar-se por doenças ocupacionais ou mesmo imaturidade profissional, imperando a ausência de diálogo aberto entre líderes e liderados. Estar motivado para o trabalho é algo que pode ser alcançado via desenvolvimento do profissional e das atividades por este realizadas. Esta motivação pode vir por meio de remuneração, de benefícios e serviços sociais conciliáveis com qualidade de vida saudável. Diversas relações (sindicais, 19 cooperativas) saudáveis contribuem com ambiente físico e psicológico do trabalho agradável, satisfatório e seguro, itens basilares na construção da motivação para o trabalho dos profissionais na busca das metas objetivadas pela empresa, com eficiência e eficácia (CHIAVENATO, 2010). Ante a complexidade do estudo acerca do operador de máquina agrícola, convém assinalar que a interdisciplinaridade é fundamental para esta abordagem. Cabe compreendê-lo nas distintas limitações, capacidades, habilidades e competências inerentes, tanto na dimensão laboral quanto na social, como recurso precípuo na melhoria dos resultados quando do processo da mecanização agrícola. 20 3 MATERIAL E MÉTODOS Este trabalho é estudo de caso e foi desenvolvido em Balsas-MA (Figura 3), microrregião das Gerais de Balsas, sul do estado. Tem, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), população estimada, em 2014, de 90.679 habitantes e densidade demográfica de 6,36 hab/km², sendo a terceira maior cidade do estado em território urbanizado e o maior município do Maranhão em área total, com 13.141.637 km² (IBGE, 2014). Balsas-MA, possui, segundo o censo agropecuário do IBGE-2006, 104 (cento e quatro) estabelecimentos agropecuários com a lavoura temporária de soja (IBGE, 2014). Figura 3. Área do estudo: Chapada das Mangabeiras/Balsas-MA. 21 O clima da região, segundo classificação de Köeppen, é do tipo Aw, definido como tropical úmido, sendo quente no período de março a agosto, e chuvoso no período de outubro a abril. Possui localização geodésica definida pelas coordenadas 7° 31′ 58″ S, 46° 2′ 9″ W, está a 275 m de altitude, 850 km da Capital. O relevo possui áreas planálticas com topografia plana e apresenta vegetação típica de cerrado, oferecendo boas condições para a atividade agrícola mecanizada (MARANHÃO, 2002). Estudo de caso é pesquisa qualitativa que prima pela preservação do objeto estudado e tem caráter unitário, ou seja, considera a unidade como um todo, incluindo o desenvolvimento. Utiliza-se de várias fontes de informação, como a observação direta, entrevistas, questionários e outros, buscando-se investigar características importantes para melhor estudo do objeto de pesquisa (MINAYO, 2010). Aplicou-se questionário pré-elaborado, tipo semiaberto, a todos os operadores de máquinas agrícolas das empresas pré-selecionadas, por meio de entrevista direta com vistas à caracterização das limitações humanas (limitação técnica, física, fisiológica, psicológica e ambiental) destes. No tocante à limitação técnica pesquisou-se escolaridade, carteira nacional de habilitação (CNH), treinamento formal, experiência profissional na área e conhecimentos de segurança do trabalho. Quanto à limitação física, foi caracterizada a idade. No tocante à limitação fisiológica, contemplou-se jornada de trabalho, intervalo para refeição e sintomas de fadiga, identificando nesta o esforço físico e mental realizado, a redução do desempenho, da produtividade e da concentração, e ainda irritação, ansiedade, sono, apetite e consumo de cigarros ou bebidas ao final da jornada diária de trabalho. Com relação à limitação psicológica, a condição analisada foi satisfação no trabalho e absenteísmo; e com relação à limitação ambiental, caracterizou-se a percepção naturalista e o comprometimento ambiental, conforme descrição em Madeira (2011) identificada em Debiasi (2003), adaptada (Apêndice A). A pesquisa de campo foi realizada entre os meses de novembro de 2012 e abril de 2013, período da safra da soja. As informações foram coletadas por meio de observação direta, de fotografias, da aplicação de questionários e entrevistas. 22 O trabalho foi desenvolvido em três empresas sojicultoras localizadas na chapada das Mangabeiras, ressaltando que a quarta empresa contactada via sóciodiretor da Lavro-Norte, o gerente de campo desta, após confirmar aceitação, não concedeu permissão para a aplicação o questionário, de pesquisa, argumentando que tal ato comprometeria o tempo de atuação laboral do profissional no campo. A elaboração do questionário foi dividida em quatro etapas: 1) Estabelecimento da área objeto da pesquisa: três empresas sojicultoras escolhidas de forma aleatória: Fazenda Planeste/SLC Agrícola Ltda. (17.750 ha), MA-140, km 200; Fazenda Jacu (4.600 ha) e Fazenda Batavo Lote 7 (5.700 ha); povoado Batavo-Balsas, microrregião das Gerais de Balsas, Maranhão. 2) Definição dos sujeitos da pesquisa: operadores de máquinas agrícolas. 3) Elaboração do questionário a aplicar: nesta etapa, foram utilizadas três regras básicas preconizadas por Bradburn, Sudman e Wansink (2004): 1) não formular perguntas antes de estudar as questões centrais da pesquisa (problema científico, hipótese e objetivo); 2) manter as questões da pesquisa no enfoque desta; 3) fazer a pergunta: ‘por que eu estou fazendo esta pergunta?’ e respondê-la na perspectiva da resolução do problema científico. 4) Formatação do questionário (Apêndices A) que, conforme Bradburn, Sudman, Wansink (2004), é o elemento crucial na maximização da validade da pesquisa de campo, visto que questionário mal formatado pode limitar a obtenção das informações. Estes autores recomendam: x Informar no corpo do questionário o propósito do estudo; x Deixar claro ao pesquisado que não há respostas certas para cada pergunta; x Formular questões fáceis, não constrangedoras e de grande relevância, em especial se o questionário for aplicado diretamente; x Usar a técnica do afunilamento: perguntas gerais precedendo as específicas; x Ordenar, em caso de dúvida sobre o entendimento de uma questão, a seguinte ordem de prioridade na formatação do questionário: pesquisado, pesquisador, compilador; x Apresentar, nas perguntas fechadas, todas as alternativas de resposta, devendo as respostas omitidas e incluídas em outras serem menos consideradas; 23 x Usar palavras que, virtualmente, os entrevistados conheçam e entendam. não usando termos especiais, salvo na situação em que os pesquisados, com certeza, os conheçam; x Incluir nas questões de múltipla escolha a opção: ‘não sei/prefiro não responder’; x Evitar o uso de questões abertas visto serem estas de difícil analise; x Terminar o questionário com agradecimentos. Para Goode e Hatt (1979), a elaboração de questionário de pesquisa qualitativa (estudo de caso) não pode ser construída baseada puramente em procedimentos elementares, já que, pensamento algum, não importando quão lógica seja a mente e brilhante a compreensão, pode substituir cuidadosa verificação empírica. E na seleção de itens com vistas à elaboração do formulário final, é comum o pesquisador necessitar de verificação preliminar, afirma este autor. Na pesquisa de campo foram utilizados aparelho de gravação de voz, veículo, ficha para as anotações, questionário semiaberto, máquina fotográfica e notebook. Os dados tabulados foram apresentados utilizando-se de figuras e tabelas. Nas questões de múltipla escolha, foi solicitado aos pesquisados que selecionassem, sem qualquer ordem de hierarquia ou importância, os itens que lhes fossem mais significativas, podendo ter mais de uma opção, se fosse o caso. As questões foram estruturadas em relação ao contexto dos entrevistados, e os resultados dos dados coletados estão apresentados conforme a interação entre os fatores estudados e a sequência de procedimentos adotados no desenvolvimento deste trabalho. Estes foram tabulados e apresentados utilizando-se de gráficos e tabelas, e estão acrescidos de análise e interpretação com argumentações próprias, ponderações teóricas e citações indiretas com vista à adequada crítica dos resultados. 24 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se, na amostra pesquisada que 59% residiam em Balsas e 41% em outras cidades do entorno, que 30% eram originários desta cidade, 48% de outras cidades do Maranhão e 22% de outras cidades do Brasil. Obteve-se também que 26% residia a menos de dois anos nesta cidade, 15% residiam entre três e quatro anos, 13% entre cinco e seis anos, 11% entre sete e oito anos e 35% há nove anos ou mais (Figura 4). Residência: Balsas-MA Outras cidades Cidade de origem: Balsas-MA Outras cidades do MA Outras cidades do Brasil Tempo de residência em Balsas: 2 anos ou menos 3 a 4 anos 5 a 6 anos 7 a 8 anos 9 ou mais anos 59% 41% 30% 48% 22% 26% 15% 13% 11% 35% Figura 4. Residência, cidade de origem e tempo de residência. Almeida (2007) evidencia tal composição populacional ao conceber que nova estrutura produtiva foi constituída em Balsas-MA, e microrregião, a partir do processo de modernização do setor agrícola, alavancada por imigrantes em função do processo modernizador da agricultura, promovida pelo poder público, que trouxe à região crescimento econômico advindo do campo, mas também alterando a qualidade de vida de parcela expressiva de pequenos agricultores. Segundo o autor, o agronegócio atraiu para o sul do estado do Maranhão investimentos para agricultura, contemplando-a com benefícios modernizantes, porém restou à grande maioria dos trabalhadores rurais, destituídos de terra, assalariar-se. 25 Segundo o IPEA, nas últimas décadas, têm sido registradas mudanças nos fluxos migratórios no Brasil. Segundo este instituto, está ocorrendo maior retenção da população na região Nordeste, bem como menor atratividade do Centro-Sul do País, especialmente o estado de São Paulo, e do maior fluxo de pessoas para as cidades de porte médio do interior (IPEA, 2010). Tal situação é observada quando se percebe que parte dos fluxos migratórios é explicada pela mobilidade dos trabalhadores entre as diversas localidades. Para Borjas (2000), esta realidade entre os trabalhadores estaria associada à existência de diferenças salariais entre regiões. Afirma este que os migrantes tenderiam a gravitar de regiões com piores condições de trabalho, buscando locais com maiores oportunidades no mercado de trabalho. A fronteira agrícola sul-maranhense apresenta-se com nestas condições, e a cidade de Balsas-Ma, como polo sojicultor, desponta neste cenário. Depreende-se que quanto maior o diferencial relativo a estas condições, seja de renda, seja de amenidades, ou quanto menor o custo da mudança, maior o número de migrantes. Obras de infraestrutura e a exploração de recursos naturais estão incrementando os ganhos populacionais. E a microrregião das Gerais de Balsas perpassa por esta realidade. Quanto à escolaridade, obteve-se que 44% dos operadores de máquinas agrícolas pesquisados possuíam somente o equivalente ao atual Ensino Fundamental I, 30% o equivalente ao Ensino Fundamental II, 11% tinham cursado o Nível Médio e 15% tinham 4) feito Curso Técnico (Figura 5). Escolaridade Curso Técnico 0% 15% Nível Médio 11% Ensino Fundamental II 30% Figura 5. Escolaridade. Ensino Fundamental I 44% 26 Esta pesquisa encontrou 74% dos operadores de máquinas agrícolas com o Ensino Fundamental II completo ou inferior. Tal situação encontra fundamento na CBO (BRASIL, 2014c) quando esta concebe que a escolaridade requisitada para tornar-se operador é a equivalente ao atual quinto ano do Ensino Fundamental I. Debiasi (2003) encontrou percentual próximo a 80% dos profissionais analisados nestas condições, e Madeira (2011) encontrou 75% em situação semelhante. A baixa escolaridade do operador de máquinas agrícolas encontra fulcro na CBO (BRASIL, 2014c), que preceitua como escolaridade o equivalente ao quinto ano do Ensino Fundamental I para o exercício desta ocupação. As recentes transformações a qual perpassa o mundo do trabalho, junto com distintos problemas socioprofissionais, como índices de desemprego elevado, instabilidade empregatícia, céleres mudanças tecnológicas que dificultam o ritmo de acompanhamento, bem como novas demandas de qualificação, têm suscitado discussões, como desenvolvimento de competências, processo de mudança e aprendizagem nas organizações, além da interação entre o ambiente laboral e o social do trabalhador, quando se infere o nível de escolaridade destes profissionais como o observado junto aos operadores, objeto de estudo desta pesquisa. O Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 2014b) preceitua, no Art. 144, que trator destinado à movimentação de cargas ou trabalho agrícola só pode ser conduzido, na via pública, por condutor habilitado nas categorias C, D ou E. Esta pesquisa obteve que 83% dos operadores de máquinas agrícolas pesquisados não possuíam CNH ou possuíam-na em categoria inferior à recomendada pelo CTB, que é, segundo BRASIL (2014b), a categoria C (Figura 6). Cart. nac. hab. catg. D 6% Cart. nac. hab. catg. C 11% Cart. nac. hab. catg. B 22% Figura 6. Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Não tem CNH 61% 27 O artigo 143, V do CTB (BRASIL, 2014b), ressalta a necessidade da carteira nacional de habilitação categoria E, quando da utilização do veículo combinado cuja combinação ultrapassar 6.000 kg, condição comum entre os tratores: Art. 143. Os candidatos poderão habilitar-se nas categorias de A a E, obedecida a seguinte gradação: V - Categoria E - condutor de combinação de veículos em que a unidade tratora se enquadre nas categorias B, C ou D e cuja unidade acoplada, reboque, semirreboque, trailer ou articulada tenha 6.000 kg (seis mil quilogramas) ou mais de peso bruto total, ou cuja lotação exceda a 8 (oito) lugares. Valores encontrados nesta pesquisa diferem dos encontrados por Debiasi (2003) no Rio Grande do Sul. Segundo este autor, 58,4% estavam fora do parâmetro especificado pelo CTB para tráfego em rodovia. Madeira (2011) observou que 72,3% dos operadores de máquinas agrícolas se encontravam nestas condições, em Minas Gerais. Observou-se também que 89% dos entrevistados desconheciam a exigência legal para trânsito com máquinas agrícolas em rodovias. Percebe-se que a ausência da CNH pode, no que tange ao amparo legal do art. 144 do CTB (BRASIL, 2014b), ensejar redução de atribuição profissional do operador, qual seja o tráfego com a máquina agrícola em rodovia, porém tal comportamento não foi observado por esta pesquisa, visto que estes foram observados trafegando por rodovias vicinais com tratores agrícolas. Cabe ponderar que o importante é o profissional estar capacitado para operar a máquina agrícola com segurança, habilidade e competência, conhecendo a máquina e seus comandos. Pode esta capacitação ser fruto de curso específico de formação de operador de máquinas agrícolas com emissão de carteira específica, haja vista o curso de formação de condutores para a emissão da CNH, para dirigir qualquer categoria de veículo, não contemplar conteúdo programático voltado à operação de tratores agrícolas. No tocante ao tempo de atividade como operador de máquinas agrícolas, 20% afirmaram estar habilitado e atuando na profissão há menos de 1 ano, 24% entre 1 e 2 anos, 17% entre 3 e 4 anos, 15% entre 5 e 7 anos e 24% há 8 anos ou mais. Quando perguntado acerca do tempo de atividade na atual empresa 24% afirmaram está a menos de 1 ano, 39% entre 1 e 2 anos, 26% entre 3 e 4 anos 7% entre 5 e 7 anos e 4% há 8 anos ou mais (Figura 7). 28 Há quanto tempo você trabalha… Menos de 1ano 20% 1 a 2 anos 24% 3 a 4 anos 17% 5 a 7 anos 15% 8 anos ou mais 24% E nesta Empresa? Menos de 1 ano 24% 1 a 2 anos 39% 3 a 4 anos 5 a 7 anos 8 anos ou mais 26% 7% 4% Figura 7. Tempo de atividade como operador. Esta pesquisa encontrou 76% dos pesquisados com o tempo de experiência como operador de máquinas agrícolas inferior a 8 anos. A média de tempo de atividade como operador de máquinas agrícolas foi 9,3 anos, e 9 meses o menor tempo de experiência na profissão, e 17,8 anos o maior tempo de experiência. Madeira (2011) encontrou valores diferentes no estado de Minas Gerais. Este autor encontrou 85,5% dos pesquisados com mais de 10 anos de experiência no manuseio das máquinas agrícolas, 14,5% com menos de 10 anos de experiência, 24,9 anos a média de tempo de operador agrícola, 18 meses o menor tempo de experiência e 52 anos o maior tempo de atuação na profissão. Valores similares a estes foram obtidos por Debiasi (2003) no estado do Rio Grande do Sul. Estes dados denotam a lenta substituição dos operadores de máquinas agrícolas nas regiões supra pesquisadas por estes autores. Tais dados difere dos encontrados na presente pesquisa, haja vista o menor tempo de permanência e atuação encontrado destes profissionais nas empresas pesquisadas, indicando célere transição destes profissionais. 29 Dos operadores de máquinas agrícolas pesquisados, 7% afirmaram ter aprendido a profissão de maneira formal por meio de curso, 54% profissionalizaramse com operadores mais experientes, 28% com familiares, 4% disseram que aprenderam sozinhos e 7% de outras formas. Quando perguntado se durante a vida profissional tinham recebido algum treinamento formal para operação de trator agrícola, 15% disseram que sim e 85% afirmaram que não tiveram qualquer treinamento formal, que recebiam somente recomendações e instruções do gerente ou de operadores mais experientes (Figura 8). Figura 8. Aprendizagem inicial da operação de máquinas agrícolas e participação em treinamento formal. Madeira (2011) obteve que 38% da amostra por ele pesquisada aprenderam com operadores mais experientes, 30% com familiares, 18% sozinhos e 14% de outras formas. Monteiro (2010) observou que 87,5% dos operadores pesquisados jamais tinham participado de treinamento formal. Madeira (2011) obteve que 72,24% em situação idêntica. 30 Ainda que diversas melhorias tecnológicas tenham sido desenvolvidas junto à máquina e ao equipamento agrícola, objetivando melhorar o rendimento e a qualidade do trabalho, além de conforto para o operador, tais atitudes tornam-se insuficientes quando se depara com a ausência de treinamento formal do operador com vista a melhor prepará-lo no processo da mecanização agrícola, familiarizando-o com o atual nível de tecnologia embarcada e, assim, superar alguns fatores, fontes de possíveis acidentes, como a imprudência, o excesso de confiança, bem como o treinamento informal, que lhe são comuns e ainda auxiliá-lo na melhoria da produtividade e do desempenho profissional. Cada vez mais as máquinas agrícolas modernas demandam por maior eficiência e competência dos operadores de máquinas agrícolas. Estes mostraram-se motivados para a questão da qualificação profissional, visto que, quando perguntado o que achavam importante para melhor desempenho profissional, 37% ‘ser flexível às mudanças e novidades’ e 28% dos 85% que responderam ‘outros’, apontaram cursos de capacitação profissional (Figura 9). O que é importante para melhorar o desempenho profissional do operador? Ser flexível às mudanças e às novidades tecnológicas Conhecer o funcionamento e a regulagem do trator e dos equipamentos Respeitar normas de segurança e de conservação ambiental Ser responsável, ético e ter equilíbrio emocional 37% 91% 41% 39% Outros: 85% Melhorar o salário/pagar gratificações 97% Melhorar a manutenção do maquinário Oferecer cursos de capacitação profissional Rever a jornada, as metas e as exigências profissionais 44% 28% 18% Figura 9. Possíveis melhorias no desempenho profissional. 31 Ainda no tocante à carência de capacitação profissional, observou-se que 89% dos entrevistados trabalharam em alguma profissão anterior à de operador de máquinas agrícolas (Figura 10) e 86% afirmaram ter aprendido a operar a máquina agrícola empiricamente (Figura 8). Trabalhava em alguma profissão antes de se tornar operador? Sim 89% Agricultor 54% Caldeiro de pulverizadora 15% Ajudante/graveteiro Autônomo 10% 7% Vendedor 5% Serviços gerais 5% Serraria 2% Cozinheiro 2% Não 11% Figura 10. Profissão anterior a operador. Denota-se que a formação profissional do operador se dá acentuadamente de maneira individual e no cotidiano do processo das operações agrícolas. Tal situação encontra fulcro na CBO (BRASIL, 2014c) quando esta concebe que a experiência profissional do operador agrícola deva ocorrer com a prática de um a dois anos. 32 O comportamento dos operadores de máquinas agrícolas quanto à adoção de medidas básicas na segurança da operação das máquinas e equipamentos agrícolas é apontado a seguir (Tabela 3): Tabela 3. Comportamentos de segurança do trabalho do operador. ATO SEGURO/INSEGURO RESPOSTA SIM NÃO Você transporta pessoas na máquina ou no equipamento agrícola? 11% 89% Quando em operação no trator, você usa calçado adequado? 91% 9% Quando em operação no trator, você usa cinto de segurança? 20% 80% Em algum momento, você opera a máquina agrícola em pé 7% 93% Preceitua a Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura-NR 31 (BRASIL, 2014e), entre outras recomendações aplicáveis à operação com tratores agrícolas, a proibição em conduzir qualquer pessoa em máquinas autopropelidas e em seus implementos. Segundo Monteiro (2010), três práticas são precípuas no que tange à prevenção de acidentes com tratores agrícolas: 1. Obediência às normas NR 31 (BRASIL, 2014e) e ao Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 2014b); 2. Aplicação e uso de dispositivos que torne o trator agrícola mais seguro, tais como: cinto de segurança, Equipamentos de Proteção Coletiva (EPC) e outros, e 3. Treinamento e capacitação dos operadores de máquinas agrícolas. Ressalvado que as leis de trânsito somente se aplicam quando o trator agrícola é obrigado a trafegar por vias públicas. Com base nos dados obtidos, nota-se que os operadores de máquinas agrícolas estão com baixo índice de exposição a possíveis acidentes. Na amostra pesquisada, foram registrados somente dois acidentes de trabalho rural envolvendo profissionais nos últimos vinte e quatro meses. O primeiro por imprudência do operador, que excedeu a velocidade e tombou pulverizador agrícola autopropelido em um terraço, e o segundo ocorreu quando um fiscal de campo se chocou de motocicleta com a colhedora de grãos. 33 Schlosser et al. (2002) obtiveram dados apontando que percentual de 66,3% dos operadores por eles pesquisados permitem que pessoas andem de carona, o que poderia resultar em acidentes. Segundo estes autores, medidas de prevenção calcadas em treinamento podem inibir em até 60% as causas de acidentes com tratores agrícolas. Debiasi, Schlosser e Willes (2004) ressaltam que os operadores de máquinas agrícolas conhecem as regras básicas de segurança, porém têm resistências em segui-las no cotidiano profissional. Monteiro (2010) obteve que 37,5% dos acidentes com tratores agrícolas são resultados do contato com partes móveis como o eixo cardã. Para este autor, 68% dos acidentes no meio rural não são informados às autoridades, 72% dos acidentes com máquinas agrícolas não chegam ao conhecimento público e 95,1% das notificações de acidentes com trator agrícola não são notificados como tal. Quando perguntado qual o procedimento em situação de perigo ou grave risco de acidente, 89% afirmaram que informam ao chefe imediato e ao técnico em segurança, 9% afirmaram que procuram corrigir a situação dentro do possível e 2 % disseram ter outros procedimentos (Figura 11). Qual seu procedimento diante de situação de perigo ou de grave risco de acidente? Informa ao chefe imediato e ao técnico em segurança Procura corrigir a situação Toma outros procedimentos 89% 9% 2% Figura 11. Atitudes do operador diante de iminente perigo ou grave risco. Depreende-se que a maioria dos operadores de máquinas agrícolas tem conhecimento dos procedimentos recomendados pelas normas de segurança de 34 quais procedimentos tomarem nestas situações. Debiasi (2003) e Madeira (2011) encontraram valores próximos. Quando perguntado se durante a jornada diária de trabalho dispunham de equipamentos de proteção individual, tais como óculos de segurança, protetor auricular, luvas, botas, perneiras e outros, e utilizavam-os, 7% afirmaram que estes não são fornecidos e 93% disseram que todos os EPIs são fornecidos e têm o uso exigido. Obteve-se, em 48% que manifestaram comentários, que 55% destes afirmaram disporem de EPIs, mas que não fazem uso de todos e 41% disseram que alguns só servem para atrapalhar, como os abafadores de ruídos (Figura 12). Quanto uso dos EPIs: Não são fornecidos 7% São todos fornecidos e têm uso exigido 93% Comentários: 48% Não uso todos 55% Alguns só atrapalham Só servem para encher o s@3c* Só para quem joga veneno Alguns não servem de p*##@ n******. 41% 27% 23% 18% Figura 12. Uso de EPI’s. O uso de EPIs encontra fundamento legal na CBO (BRASIL, 2014c), na NR 6 (BRASIL, 2014e) e na NR 31 (BRASIL, 2014d), visto que estes institutos indicam a disponibilidade e o uso destes como emprego de medidas de segurança. Madeira (2011) observou que apenas 9,92% dos operadores envolvidos em acidentes de trabalho rural (com máquinas agrícolas) utilizavam algum tipo de equipamento de proteção individual (EPI) no momento do acidente. 35 Na amostra pesquisada, 91% dos entrevistados afirmaram não ter lido o manual do operador que acompanha a máquina agrícola, 6% disseram que leram parte ao se defrontarem com alguma dificuldade na operação e 3% afirmaram ter lido todo o manual. Os valores obtidos nesta pesquisa são próximos aos encontrados por Madeira (2011), que encontrou percentual de 95,9% que jamais leram o manual, 3,5% leram diante de alguma dificuldade no manuseio do trator e 0,7% leram dentro das possibilidades. O baixo nível de escolaridade da maioria dos operadores de máquinas agrícolas pesquisados pode contribuir para esta realidade comum. Cabe observar que todos os operadores pesquisados, assim como os gerentes, que afirmaram ter lido o manual, disseram não compreender completamente as informações contidas nele. Em relação à idade, 26% dos operadores de máquinas agrícolas pesquisados concentraram-se na faixa etária de 18 a 25 anos, 33% entre 26 e 30 anos, 17% entre 31 e 35 anos, 13% entre 36 e 40 anos e 11% entre 41 e 50 anos (Figura 13). 33% 26% 17% 13% 11% 18 a 25 anos 26 a 30 anos 31 a 35 anos 36 a 40 anos 41 a 50 anos Figura 13. Faixa etária. A média de idade encontrada nesta pesquisa foi de 31 anos. Tal resultado está abaixo da média de idade encontrada por Debiasi (2003), que foi de 39 anos. Nesta pesquisa, não foi observada empresa com operador de máquinas agrícolas menor de idade, contrário à Debiasi (2003), que encontrou, no estado do Rio Grande do Sul, menor com 15 anos e Madeira (2011), em Minas Gerais, observou que em 36 5,6% das propriedades por ele pesquisadas foram encontrados menores de idade trabalhando, sendo que a maioria destes menores encontra-se na faixa etária de 16 e 17 anos. Este autor identificou menor com 13 anos exercendo atividades de operador de máquinas agrícolas. No que concerne ao sexo, foi observado que 100% dos operadores de máquinas agrícolas pesquisados eram do sexo masculino. Dados próximos aos obtidos por Madeira (2011), que encontrou 98,9% dos operadores pesquisados do sexo masculino. Quanto à jornada diária de trabalho, 15% afirmaram trabalhar 8h, 20% disseram que trabalhavam 9h, 22% afirmaram ser de 9h30min a jornada e 43% informaram que trabalhavam, no mínimo, 10h em momento de grande demanda de serviço, como no plantio e na colheita da soja. Todos afirmaram que dispunham de 1h para o almoço (Figura 14). 10h 43% Jornada diária como operador: 0% 8h 15% 9h 20% 9h30min 22% Figura 14. Jornada diária de trabalho. Como rotina diária, obteve-se informação de que, em função da demanda, os operadores de máquinas agrícolas dividem-se em dois grupos que atuam em dois turnos distintos de trabalho. O primeiro turno inicia às 6h da manhã, encerrando-se às 14h, e o segundo turno vai das 14h às 22h, e quando necessário, em momento de grande demanda, fazem hora extra, atuando também em jornada diária que se 37 inicia à 8h, encerrando-se às 17h quando a demanda é baixa. Em ambos os casos, 100% dos pesquisados afirmaram que o intervalo previsto para refeição é de 1h hora e este era realizado no campo. Observou-se que as refeições realizadas no campo eram feitas em barracas de lona ou trailer com banheiro químico adaptado em carreta (Figuras 15a e 15b). Figura 15a. Trailer adaptado com refeitório em carreta, para uso no campo. Figura 15b. Trailer adaptado com banheiro químico em carreta, para uso no campo. 38 Monteiro (2010), em São Paulo, observou que, nos momentos de grande demanda de trabalho agrícola, como preparo do solo, semeadura e colheita, 72% dos operadores tinham jornadas que ultrapassavam oito horas diárias. Nesta pesquisa, 55% dos entrevistados fizeram afirmação idêntica. Debiasi, Schlosser e Willes (2004) e Madeira (2011) obtiveram valores semelhantes. Para Kroemer e Grandjean (2005), extensas jornadas de trabalho sem descanso podem causar fadiga, despertando limitações de natureza fisiológica visto que a não observação do intervalo de descanso após as refeições pode agir de forma negativa no desempenho do profissional. Jornadas de trabalho superiores a oito horas diárias resultam em diminuição da atenção do operador, reduzindo a capacidade de concentração, o que compromete a eficácia e aumenta os riscos de possíveis acidentes. Para Monteiro (2010), o cansaço e a falta de atenção são as principais causas de acidentes com tratores agrícolas. Segundo Myers (2009), cerca de 250 pessoas morrem por ano nos Estados Unidos em função de capotamento de tratores, aprisionamento e colisões em estradas. A Constituição Federal de 1988 estabelece a jornada de trabalho legal em, no máximo, 8h diárias, e 44h semanais (BRASIL, 2014a): Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho. Considera o art. 4º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada. Ou seja, é o período de tempo em que o trabalhador deve prestar serviços ou permanecer à disposição do empregador. A legislação trabalhista dispõe ainda que não sejam computados na jornada diária os 5min antes e 5min depois da jornada de trabalho, observado o limite máximo de 10min diários (BRASIL, 2014f). No que concerne às horas extras, o art. 59º da CLT estabelece que a duração normal da jornada de trabalho pode ser acrescida de, no máximo, duas horas extras diárias, com adicional de remuneração de 50% para os dias úteis e de 100% para domingos e feriados. No tocante aos intervalos de descanso ou alimentação, estatui o 39 art. 71 da CLT que qualquer trabalho contínuo, cuja duração seja maior do que seis horas, deve ter intervalo de, no mínimo, 1 hora, exceto se houver acordos escritos ou contratos coletivos contrários (BRASIL, 2014f). Preceitua ainda o art. 73 § 2º da CLT (BRASIL, 2014f) que o horário noturno é aquele praticado entre as 22h e 5h. Nas atividades rurais, segundo a Lei n. 5.889 de 08 de Junho de 1973, é considerado horário noturno o trabalho executado na lavoura entre 21h de um dia às 5h do dia seguinte, e na pecuária, entre 20h e 4 h do dia seguinte (BRASIL, 2014g): Art. 7º - Para os efeitos desta Lei, considera-se trabalho noturno o executado entre as vinte e uma horas de um dia e as cinco horas do dia seguinte, na lavoura, e entre as vinte horas de um dia e as quatro horas do dia seguinte, na atividade pecuária. Parágrafo único. Todo trabalho noturno será acrescido de 25% (vinte e cinco por cento) sobre a remuneração normal. Quanto aos sintomas comuns de fadiga ao final da jornada diária de trabalho, 74% dos entrevistados afirmaram ter a sensação de terem realizado intenso esforço físico e mental, 59% disseram ter vontade de consumir bebidas alcoólicas, 57% terem muito ou pouco apetite, 54% que sentiam redução de desempenho e concentração ao fim do dia, 48% ter irritação ou ansiedade e sono, 30% disseram ter vontade de fumar e 4% optaram por não responder (Figura 16). 74% 59% 57% 54% 48% 30% 4% Ter Redução Irritação, Muito ou Vontade de ansiedade, pouco apetite realizado de fumar intenso desempenho dificuldade e de esforço físico de dormir e mental concentração Figura 16. Sintomas de fadiga apontados. Vontade de Nenhuma das consumir opções/não bebidas quis responder 40 No que concerne às características fisiológicas, o corpo humano tem limitações que variam entre trabalhadores da mesma atividade, de acordo com os indivíduos, bem como na mesma pessoa, em função do horário e em dias diferentes (MÁRQUEZ, 1990). É sabido que a operação de máquinas agrícolas exige esforço físico e mental do operador, o que pode acarretar em fadiga e, prejuízos ao processo da mecanização agrícola. A intensidade do esforço solicitado na execução da atividade laboral do operador é influenciada por diversos fatores internos quanto externos. A supressão ou minimização destes fatores está relacionada à adequação do posto de trabalho e, consequentemente, do trator agrícola ao operador. Segundo Iida (2005), a qualidade ergonômica do produto inclui a facilidade do manuseio a adaptação antropométrica bem como a disponibilização de informações, as compatibilidades de movimentos e demais itens de conforto e segurança, o que demonstra a sua aplicação no contexto da máquina e equipamentos agrícolas. Para evitar a fadiga é necessário que o profissional trabalhe em posição ergonomicamente confortável, opere dentro das limitações humanas particulares e que faça pausas curtas e frequentes (IIDA, 2005). As limitações de natureza fisiológica são influenciadas por fatores como os sintomas de fadiga, produtos químicos e condições ambientais. O aumento da possibilidade de acidentes apresenta-se como, no tocante à limitação fisiológica, como consequência da fadiga prematura e da saúde comprometida. O ambiente de trabalho deve favorecer o desempenho das atividades profissionais dos operadores, que refletirá na eficiência e eficácia da produtividade (PATEL; KUL; MOHAN, 2000). Côrrea et al. (2005) e Monteiro et al. (2010) afirmam que o capital humano, os recursos humanos de qualquer organização, deve ser objeto de plena atenção por ser a base. É onde qualquer investimento adicional produz saídas complementares em qualquer empresa. Estes autores concebem que o trabalho educativo de sensibilização e conscientização do profissional seria o caminho para a redução ou mesmo para a supressão de possíveis prejuízos à saúde do trabalhador e perdas materiais ao empregador. Cabe ponderar que este capital humano é substituível, porém não é possível sua transferência como terra ou os recursos de Capital como 41 máquinas ferramentas e equipamentos. Cabe percebê-lo como fator de crescimento importante em qualquer sistema. Quando perguntado acerca dos hábitos sociais comuns nos finais de semana, folgas e feriados, 74% afirmaram que frequentavam bar e baladas com os amigos e bebiam socialmente, 35% afirmaram beber frequentemente (Figura 17). Outros: 48% Visitar amigos e parentes: 46% Churrascos: 77% Barzinho e balada com amigos: 74% Outros-48% Jogar futebol, caminhadas: 33% Ficar em casa (TV, etc): 98% Ir à Igreja: 46% Pescar: 95% Pescar/caçar: 86% Figura 17. Hábitos sociais comuns nos finais de semana. Madeira (2011) obteve dados indicando que 54% dos entrevistados consumiam bebida alcóolica socialmente e 25,5 bebiam frequentemente. Valores obtidos por Debiasi (2003) quanto ao consumo de bebida alcoólica, socialmente, foram menores quando comparados a esta pesquisa. Gassend et al. (2009) encontraram, em estudo em Zagreb (Croácia), percentual de 72% de operadores agrícolas que fazem uso frequente de bebida alcoólica. Esta pesquisa encontrou percentual de 30% que disseram ter vontade de fumar após a jornada de trabalho, índice este inferior ao encontrado por Debiasi (2003) e Madeira (2001). O vício do fumo, também considerado responsável por limitações humanas de distinta natureza, influencia de forma bastante negativa no desempenho profissional do operador. Entre os efeitos conhecidos, tem-se a redução da capacidade 42 pulmonar e, por conseguinte, execução de trabalho que demanda grande esforço físico (IIDA, 2005). Pelos dados obtidos neste trabalho, 57% dos pesquisados afirmaram que a motivação para trabalhar como operador de máquinas agrícolas seria a falta de outra opção, 28% afirmaram estar motivados por vocação, 11% por realização profissional e 4% por outros motivos (Figura 18). O que o motiva a trabalhar como operador? Gosto pela profissão 28% Realização profissional 11% Falta de outra opção Outros: 57% 4% Tem intenção de mudar de profissão? Sim: 61% Baixa remuneração/ganhar mais 57% O trabalho é forçado 39% Trabalhar com agrotóxicos é prejudicial 36% Exercer sua formação profissional 21% Trabalha longe de casa, da família 18% Idade elevada Ser político na região 14% 7% Não: 39% Não têm estudos 44% Faltam opções Estou bem/gosto do que faço 33% 17% Figura 18. Motivação para tornar-se operador e intenção de mudar de profissão. 43 Quando perguntado se tinham a intenção de mudar de profissão, 61% afirmaram que sim e, destes, 57% afirmaram que o motivo seria a baixa remuneração, 39% disseram ser trabalho forçado, 36% afirmaram que trabalhar com agrotóxicos prejudica a saúde, 21% para exercerem a formação profissional, 18% por trabalharem longe de casa, da família, 14% em função do cansaço pela idade elevada e 7% disseram ter a intenção de ser político na região. Percentual de 39% afirmaram não ter a intenção de mudar de profissão. Destes, 44% disseram que a razão seria por não terem estudos, 33% afirmaram ser a falta de opção de trabalho e 17% disseram que estavam satisfeitos com a profissão (Figura 18). Chiavenato (2010) afirma que estar motivado para o trabalho é algo que pode ser alcançado via o desenvolvimento do profissional e das atividades por este realizadas. Esta motivação pode vir por meio de remuneração, de benefícios e serviços sociais conciliável com qualidade de vida saudável em ambiente de trabalho adequado. Em relação à condição profissional, todos os pesquisados tinham emprego fixo regulado por contrato de trabalho regido pela CLT. Esta situação tem embasamento legal na Classificação Brasileira de Ocupações (BRASIL, 2014c), que especifica ser esta a condição para o exercício da função. No tocante à renda salarial mensal, incluindo possíveis gratificações, 100% dos operadores de máquinas agrícolas pesquisados afirmaram receber até três salários mínimos. Segundo Madeira (2011), a busca de melhor remuneração salarial motiva constantes migrações destes profissionais, sustentada pela carência da oferta desta mão de obra qualificada. Tal situação, segundo este autor, provoca no contratante a procura de alternativas para substituí-los, como, por exemplo, incentivando os ajudantes a aprenderem o mais depressa possível a se tornarem operadores, respaldados pelo desejo destes em obter maiores salários e melhores condições de trabalho. Este trabalho observou tal situação junto à amostra pesquisada (Figura 7). Quando perguntado se tinham faltado ao serviço nos últimos 12 meses, 33% afirmaram que sim e 67% disseram que não haviam faltado. Dos faltosos, 87% disseram que a razão foi a perda do transporte fornecido pela empresa, 53% acusaram problema de saúde e 27% problema em família (Figura 19). 44 Você teve alguma falta no serviço nos últimos doze meses? Sim: 33% Perdeu o ônibus 87% Questão de saúde Problemas de família 53% 27% Não 67% Figura 19. Faltas no trabalho nos últimos 12 meses. Segundo Marras (2011), absenteísmo é a falta do empregado ao ambiente de trabalho ou mesmo os atrasos e as saídas antecipadas em determinado período por qualquer motivo não amparado legalmente. Para Chiavenato (2010), diversos são os fatores que contribuem para esta situação, como a infraestrutura inadequada para o exercício das atividades, a ausência de qualidade vida em que o ambiente prejudica a saúde do profissional, a imaturidade profissional em que impera ausência de diálogo claro entre líder e liderado. Desde o surgimento do ser humano na face da Terra que existem modificações intencionais na natureza, onde o processo de degradação ambiental se confunde com a origem do homem. Quando perguntados se a atuação profissional do operador de máquinas agrícolas contribuiria de alguma forma com a degradação ambiental, 67% afirmaram que sim e 33% afirmaram que não. Ao se pergunta como, aos pesquisados que responderam que seu trabalho tem influência na degradação ambiental, 77% disseram que a razão desta situação é que a pulverização envenena, contamina e polui o ambiente, 58% informaram que todo trator usa combustível e, 45 consequentemente, tem fumaça, 45% disseram que com o desmatamento tem degradação ambiental, responderam que o veneno lançado na pulverização contamina o meio ambiente e 3% que no preparo da terra quando rasgam a terra a enxurrada entope os rios (Figura 20). Ao se perguntar porque aos pesquisados que responderam que seu trabalho não influencia a degradação ambiental, 80% responderam que basta fazer o certo, 53% que é normal, sempre foi feito assim, 47% disseram que se não plantar não tem alimento, 27% afirmaram que é só aplicar na plantação, não na floresta e 20% nada responderam ou que não saberiam o que dizer (Figura 20). A mecanização agrícola contribui com a degradação ambiental? . Sim: 67% Como? A pulverização envenena, contamina e polui Todo trator usa combustivel e tem fumaça Com o desmatamento tem degradação ambiental O veneno contamina o meio ambiente Quando rasgo a terra a enxurrada entope o rio 77% 58% 45% 26% 3% Não: 33% Por quê? É só fazer o certo 80% É normal, sempre foi feito assim 53% Se não plantar não tem alimento Só aplicar na plantação, não na floresta Não saberia dizer 47% 27% 20% Figura 20. Atuação profissional do operador e possíveis contribuições para com a degradação ambiental. 46 Quando perguntados se conheciam alguma lei ambiental, 4% afirmaram que sim e 96% afirmaram desconhecer. Destes, 48% disseram saber que estas leis existem, mas que não as conheciam. Ao serem perguntados se conhecer ou desconhecer leis ambientais influenciava nas atividades laborais, 4% afirmaram que sim e 96% disseram que não havia influência (Figura 21). Você conhece alguma Lei Ambiental? Sim 4% Sabe que existe lei ambiental mas não conhece 48% Não 96% . Não conhecer Lei Ambiental influencia seu desempenho profissional? Sim 4% Não 96% Figura 21. Conhecimento de leis de preservação e conservação ambiental e possíveis influências no desempenho profissional. Desconhecer leis que regem práticas ambientais compromete a proteção ao meio ambiente, e este é bem jurídico tutelado constitucionalmente. Tal desconhecimento não exime a culpabilidade legal, haja vista o que prevê o Art. 1º do Código Penal Brasileiro: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal” (BRASIL, 2014h), culminado com o art. 3º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro que afirma no Art. 3º “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece” (BRASIL, 2014i). A Conferência de Estocolmo, em 1972, é considerada marco principal de início das preocupações ambientais em nível planetário. A concepção de meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade, deve traduzir-se 47 no objetivo de preparar o ser humano para viver em harmonia com o meio ambiente como um todo. Ainda que para tanto necessário se faça, em algum momento, todo arcabouço legal em defesa, proteção e preservação do meio ambiente. Para Gardner (2007), a sintonia com o meio, ou a maneira como se relaciona com a natureza é também um tipo de inteligência. É, segundo este autor, a inteligência naturalista a interação do ser humano com aquilo que faz parte do meio em que vive. O recente despertar da percepção da finitude das condições ambientais que propiciam a vida no planeta Terra, tal como a conhecemos, tem sido bastante intenso. Tal quadro está impondo a necessidade de rever o uso dos recursos naturais e ambientais ou mesmo mudar sua forma de uso via percepção diferenciada das relações entre os seres humanos e a natureza. A humanidade começa a perceber que a proteção ao meio ambiente é um determinante de sua própria sobrevivência e a urgência de preservação e conservação do meio ambiente como um todo decorre da deterioração da natureza e do seu uso de forma desmedida e imprudente. E ao operador de máquinas agrícolas, bem como a todos os personagens envolvidos na cadeia produtiva da agropecuária e demais membros da sociedade, também se faz necessário o premente despertar da sensibilização e conscientização para com o meio ambiente e, consequentemente, o seu envolvimento, responsabilidade e resolução das questões de gestão sustentável dos recursos que a natureza coloca a nossa disposição. Cabendo ainda ao operador de máquinas agrícolas, enquanto elo precípuo na tríade no processo de mecanização agrícola (operador, operações e maquinário agrícola), ter reconhecido suas distintas limitações humanas e as possíveis ingerências do ambiente sócio-laboral, auxiliando-o a suplantá-las e assim melhorar a eficiência e a eficácia da cadeia produtiva da cultura da soja em sua gênese: plantio/colheita. 48 5 CONCLUSÕES 1. A estrutura de trabalho agrícola desencadeia novas relações trabalhistas impondo novo perfil de trabalhador agrícola contextualizado às atuais exigências deste novo modelo laboral. 2. A limitação ambiental tem pouca influência do ambiente laboral e social do operador de máquinas agrícolas. 3. O ambiente sociolaboral tem grande influência nas limitações técnica, física, fisiológica e psicológica do operador de máquinas agrícolas. 4. É importante o desenvolvimento de mais estudos acerca do operador de máquinas agrícolas enquanto recurso basilar na tríade do processo de mecanização agrícola (operador, operações agrícolas e máquinas agrícolas). 5. É via aprimoramento da eficiência e da eficácia do operador de máquinas agrícolas, com ofertas de cursos e treinamentos de capacitação e desenvolvimento profissional para estes como subsídio importante a auxiliá-los a suplantar suas limitações, que também ocorrerá a melhoria da produtividade agrícola. 49 6 REFERÊNCIAS ALMEIDA, R. L. 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Agradeço a colaboração. 1) Residência-Cidade: _____________________________ U.F.:_______________ 2) Há quanto tempo? ____________ Cidade de origem? ______________________ 3) Escolaridade (ou equivalente): a) ( ) Fundamental I (1º ao 5º ano) b) ( ) Fundamental II (6ºª ao 9ª ano) c) ( ) Nível Médio d) ( ) Curso Técnico: ____________ 4) Você tem CNH - Carteira Nacional de Habilitação? a) ( ) Sim. Qual a Categoria/Habilitação: _________ b) ( ) Não tem CNH 5) Há quanto tempo você trabalha como operador?_______ E nesta empresa? ____ 6) Como você aprendeu a operar trator agrícola? a) ( ) Via curso formal b) ( ) Com operadores mais experientes c) ( ) Com familiares d) ( ) Sozinho 7) Depois de contratado, você participou de algum curso, treinamento ou capacitação formal de operador de máquinas agrícolas? a) ( ) Sim: ( ) Via um profissional da Revenda ( ) Fez curso formal de operador de máquinas agrícolas ( ) Leu o manual do operador e as informações fixadas no trator; ( ) Outros: _________________________________________________ b) ( ) Não recebeu treinamento formal 8) O que você considera importante para melhorar o desempenho profissional do operador de máquinas agrícolas? (livre opções) a) ( ) Ser flexível às mudanças e às novidades tecnológicas; b) ( ) Conhecer o funcionamento e a regulagem do trator; c) ( ) Respeitar as normas de segurança e de conservação ambiental; d) ( ) Ser responsável, ético e ter equilíbrio emocional; e) ( ) Outros ____________________________________________________ 9) Trabalhava em alguma profissão antes de ser operador de máquinas agrícolas? a) ( ) Sim. Qual? _______________________________ b) ( ) Não 10) Você permite que andem de ‘carona’ na máquina e/ou no equipamento agrícola? a) ( ) Sim b) ( ) Não 11) Durante a operação do trator agrícola, fora da etapa de pulverização, você algumas vezes: a) ( ) Usa chinelo b) ( ) Trabalha descalço c) ( ) Trabalha sempre com calçado fechado d) ( ) Outros: _____________ 12) Quando em operação no trator agrícola você usa cinto de segurança? a) ( ) Sim b) ( ) Não c) ( ) A máquina não tem cinto de segurança 59 13) Em algum momento você opera a máquina agrícola em pé na cabine? a) ( ) Sim b)( ) Não 14) Qual é seu procedimento em situação de perigo ou de grave risco de acidente no ambiente de trabalho? (livre opções) a) ( ) Informa ao setor de segurança e ao gerente b) ( ) Procura corrigir a situação c) ( ) Deixa como está e fica atento e) ( ) Outros procedimentos: ________________________________________ 15) Você já leu o manual do operador que acompanha o trator agrícola? a) ( ) Sim, leu todo o manual b) ( ) Sim, leu somente parte, quando encontrou com alguma dificuldade c) ( ) Não leu o manual do operador Comentários: _____________________________________________________ 16) Quanto ao uso dos Equipamentos de Proteção Individual-EPIs (óculos de segurança, protetor auricular, luvas, botas, perneiras, outros): a) ( ) Não são fornecidos b) ( ) São fornecidos parcialmente:___________________________________ c) ( ) Todos são fornecidos e têm uso exigido d) ( ) Todos são fornecidos sem exigência de uso 17) Você já sofreu ou presenciou algum acidente de trabalho rural com o trator ou equipamento agrícola na sojicultura? a) ( ) Sim: Foi com: ( ) operador ( ) um terceiro b) ( ) Não sofreu ou presenciou acidente 18) Em caso de algum acidente de trabalho rural (maquinário agrícola), qual foi a razão principal? a) ( ) Falha mecânica no maquinário agrícola b) ( ) Culpa humana do operador c) ( ) Culpa humana de terceiros d) ( ) Local perigoso (ambiente inseguro) e) ( ) Outras _____________________________________________________ Tarefa executada/comentários _______________________________________ 19) Quanto ao local de refeição e banheiros sanitários no local de trabalho (no campo): a) ( ) Não existe b) ( ) Existe, mas não utilizo c) ( ) Existe, mas utilizo-os raramente d) ( ) Existe e utilizo-os frequentemente Caso existam e os utilize, comente o ambiente (asseio, piso, parede, teto, mesas, bebedouro): _______________________________________________ 20) Faixa etária: a) ( ) 18 a 25 anos b) ( ) 26 a 30 anos c) ( ) 31 a 35 anos d) ( ) 36 a 40 anos e) ( ) 41 a 50 anos f) ( ) mais de 50 anos 21) Qual a jornada diária de trabalho? ____h; E o intervalo para as refeições?____ h 60 22) Ao final do dia de trabalho você tem a sensação de: (livre opções): a) ( ) Ter realizado intenso esforço físico e mental b) ( ) Redução de desempenho, de produtividade e concentração c) ( ) Irritação, ansiedade, dificuldade para dormir d) ( ) Muito ou pouco apetite e) ( ) Vontade de consumir de cigarros ou bebidas f) ( ) Nenhuma das opções anteriores: ________________________________ 23) Que hábitos sociais você tem nos fins de semana, folgas e feriados? (livre opções) a) ( ) Ir à Igreja b) ( ) Ficar em casa (TV, etc.) c) ( ) Futebol, caminhadas d) ( ) Barzinho/baladas com amigos e) ( ) Visitar amigos e parentes e) ( ) Outros:___________________ 24) Por que você trabalha como operador, o que o motiva nesta profissão? a) ( ) Gosto pela profissão b) ( ) Realização profissional c) ( ) Falta de outra opção d) ( ) Outros: _______________________ 25) Você tem a intenção de mudar de profissão? a) ( ) Sim. Motivo? ________________________________________________ b) ( ) São. Razão? ________________________________________________ 26) Qual seu vínculo empregatício com esta empresa sojicultora? a) ( ) Empregado CLT (carteira assinada) b) ( ) Outro vínculo: _______ 27) Qual é a renda salarial mensal (incluindo possíveis gratificações)? a) ( ) 1 salário mínimo b) ( ) 2 a 3 salários c) ( ) mais de 4 salários 28) Você teve alguma falta no serviço nos últimos doze meses? a) ( ) Sim. Motivo? ___________________________________ b) ( ) Não 29) Para você, a atuação profissional do operador contribui de alguma forma com a degradação do meio ambiente? a) ( ) Sim. Como? ________________________________________________ b) ( ) Não. Por quê? ______________________________________________ 30) Você conhece alguma lei de Preservação e Conservação do Meio Ambiente? a) ( ) Sim. b) ( ) Não Comentários: _____________________________________________________ 31) Não conhecer leis de Preservação e Conservação Ambiental influencia de alguma forma o desempenho profissional do operador de máquinas agrícolas? a) ( ) Sim. b) ( ) Não