MURAL CEG Carnaval 2006 BOLETIM www.guanabara.org.br Montanhismo - RJ Março/2006 - 600 exemplares a" Bloco "Só o Cume Interessa" desfilando na Praça General Tibúrcio IMPRESSO PROGRAMAÇÃO - MAR/2006 Aniversariantes do mês 1231 4526273789 931 32231 231 21 3456789 14 561186651 6941 9416 41 581 21 1114513961 1 ''1 4!" 11# $8 1 () *1368)411# $8 1 ''1 ,66113-3.1 '01 '01 '21 ' 1 &/65 8 16 911546141 ,151 9141/3 11-41 " 141& 81114513961 " 1368)411# $8 1 5351515) /5116691 ' 1 514515 85113-3.1 '01 84155191 59411 941%1"&1 941%+1&"1 8415 ! /5419191451 1 96415881 51 () *13561 9412+1"&21 581 841551 9412+1"1 941%+1"1 3)1/61 91413"31 8415 ! /541 941%+1"2151%+1 "1 941+1&"21 941%+1&"1 9410+1&&&191 /6 1 8415 ! /541515941+1 &"1 9 41 96415881 96415881 #515176541 '91 001 #6 141- 515156814516 1 1831 (58514566:115461#8 1 () 1368)411# $8 1 021 () *1368)4114)9)1 021 ;541451;5)113-3.1 0<1 6 831114513961 941+1&"1 091 =1451/41114513961 9412+1"&1 '91 96415881 () *13561 96415881 51 96415881 76541 12 32 42 52 62 72 112 132 142 182 152 192 () *13561 162 9641588151 51 96415881 172 1 2 Os locais e horários de encontro são combinados nas quintas-feiras anteriores às excursões. Procure o guia responsável nas reuniões sociais, ou ligue para o clube quinta-feira à noite: Tel.: 3285-8653 332 342 382 352 392 362 3 2 2 Av. Rio Branco, 185 sl.230 - CEP 20045-900 - Tels.: 2262-4404 / 2240-1092 / 9136-0209 março/2006 123456789 2 2548245 8 3458457486 88 54678784352286 87488 6248452487458678478 28754 864848 45248 48!43786 8"54#$78 %2&328' 5 2548746488 34587(4) 8 2 88 % 54873 2(*78%2++2478 5278", 26488 12345678 546784548 "3 8' 53-8 6 85.88 /645678/62782428 453 78450 814)268 45248426 8 54875 8 1 4786482)48") 88 "+7278 0 254872 89 2 25488 45787 2578434678 34+ 5812 257815,,768 " 57876 5+8 1778123 58 4,45481 +248.82) 25488 458"+782,45* 8"248 1253 8486 8.817652+ 84578 6248%2 25486 81 6 8 586 8748'278 /24 86 8"54$789755 8 1 478'25 86784788 2 48/552 6 82,,48 ",2484524867847812 25788 78286 8" ) 678748 972483,28 5+278289 2 2548 8748 "7278' 5 25486482)48 14)487, 8'278 -587486 8 8 ! 48 -88 9 762786482)4873 2(*78 3&248748 78743-58 42 412 1 www.guanabara.org.br Expediente Presidente Vice Presidente Tesoureiro Secretária Geral Diretor Técnico Diretor Social Diretor Divulgação Dir. de Marketing Dir. Meio Ambiente Giuliano Finetti Luis Alberto Corrêa Bóris Flegr Monique Corrêa Roberto Schmidt Ana Maria Machado Frederico Noritomi Altair Trindade Juliana Fell Colaboraram nesta edição: Textos: Giulliano Finetti, Roberto Schmidt, Frederico Noritomi. Edição e Diagramação: Frederico Noritomi Reuniões Sociais do CEG Todas as quintas-feiras, a partir das 19h. Caso queira contribuir com esse boletim, envie seus artigos, notícias, comentários e sugestões para Rua Washington Luiz, 9 - cobertura Rio de Janeiro - RJ - Cep 20230-020 ou por e-mail: [email protected] Tel.: 3285-8653 As matérias aqui publicadas não representam necessariamente a posição oficial do Centro Excursionista Guanabara. Ressaltamos que o boletim é um espaço aberto àqueles que queiram contribuir. Tabela de Preços Mensalidade: Matrícula ou Descongelamento: Curso Básico de Montanhismo: Curso Avançado de Escalada: R$ 17,00 R$ 45,00 R$ 390,00 R$ 240,00 11 CURSO BÁSICO DE MONT ANHISMO MONTANHISMO INSCRIÇÕES ABER TAS ABERT Não perca a excelente oportunidade de encarar as belezas e desafios da montanha e ainda conhecer novos e bons amigos! O Curso Básico de Montanhismo do CEG é ministrado por instrutores treinados com amplo conhecimento em cada matéria abrangida e tem o objetivo de formar montanhistas com preparo e conhecimento técnico suficientes para participar com segurança de caminhadas e escaladas. Todo equipamento de escalada utilizado no curso é fornecido pelo CEG, com exceção da sapatilha de escalada. O preço do curso é de R$390,00 parceláveis. Após a conclusão do curso, os formandos podem se associar ao CEG sem o pagamento da inscrição, podendo, dessa maneira, desenvolver as habilidades e técnicas aprendidas. Os interessados devem comparecer a uma de nossas reuniões sociais, que ocorrem às quintas-feiras, à partir das 19 hs, na Rua Washington Luiz, 9/ cobertura - Centro. Nosso telefone é (21)3285-5683. Outras dúvidas podem ser esclarecidas pelo email: [email protected]. Abaixo está a programação do CBM: 1231 234251 24251 24251 24251 4251 "4251 4251 4251 4251 54251 /4251 2/4231 2"4231 24231 24231 54231 24231 "4231 4231 0542/1 242/1 42/1 10 4526273789 931 6789 811811 18181 18181 6789 811811 811 !9 181 # 9$%11 11 6789 811811 181&'(1 )18141*%1 1 +, $%11- 9$%191 99.1 -9 1*$9.91 )18101-1,. 9.1&21 # 9$%11 1818 9.121 9.113 24,11-891 -9191 5)18141 1136 79 1 821 181&, 61 -2898 11*29$%11-8 91 62 1680*71 - 2 11*2$%1-6 91 181&'(19989:1 32231 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 81 8$%1 março/2006 EDITORIAL Em fevereiro, além do aniversário do Guanabara e da 2ª edição do churrasco promovido por aniversariantes, colocamos mais uma data festiva no calendário do clube. Inovando sempre, o CEG lançou os pilares do primeiro bloco carnavalesco entre os clubes. A idéia de organizar um bloco de carnaval surgiu da cabeça de Manuel Rosário acabou ganhando força e o nome sugerido pela Carlinha - Só o cume interessa foi escolhido. Local e data: Urca Bar Laguna sábado anterior ao carnaval 11:00. Percurso: volta na Praça General Tibúrcio. Contando com a participação marcante do CERJ e de alguns membros do Carioca, concentramonos no Laguna, muitos fantasiados. Mesmo sem muita intimidade com os instrumentos, a animação foi garantida. Em vista da grande aceitação por parte dos associados, no próximo ano nos organizaremos com mais antecedência, não só para conseguir os instrumentos (valeu Lula !!!) como para aprender a tocá-los (tava difícil...). No final do segundo semestre, abriremos um concurso para novas marchinhas de carnaval. Se o César Maia não transformar nosso quintal num canteiro de obras, continuaremos no mesmo local. As inscrições para o CBM do 1° semestre, agendado para iniciar em 3 de abril, já começaram e contamos com a participação de todos para ajudar na divulgação. A receita desse curso já tem destino certo - o término das obras. E, como de hábito, haverá um churrasco de abertura do CBM no campo escola do Grajaú após a aula prática. Terminada as festas carnavalescas, contamos novamente com a participação dos guias para manter as pranchetas com excursões e os associados na ativa. Desta vez, para evitar que a carga do CBM prejudique a programação mensal de atividades, vamos fazer um rodízio mais efetivo e com uma maior participação dos monitores para manter o número de excursões. Importante ressaltar a iniciativa e o esforço da Suelly, que está fazendo campanha junto à velha guarda para arrecadar fundos para a colocação do toldo. Agradecemos aos que, apesar de distantes e muitas vezes impossibilitados de freqüentar o clube, demonstram carinho não só pelo clube, mas por nós e pelo que fazemos. As contribuições já estão sendo contabilizadas e esperamos conseguir realizar a obra antes da abertura de temporada. Infelizmente, nem tudo foram alegrias nesse último mês. Por razões que até agora não sabemos ao certo, e que no fim se torna um pormenor, perdemos a companheira de montanha Maria Paula Garcia - Paulinha. Gostaria de ressaltar a demonstração de solidariedade dos guanabarenses que puderam comparecer e se juntar aos companheiros do CERJ na sua despedida, como àqueles que dirigiram ao CERJ na 1ª reunião social após o ocorrido e, ainda, àqueles que participaram da homenagem em sua memória com a realização de 1 minuto de silêncio em nossa sede. www.guanabara.org.br 3 AR TIGO ARTIGO AR TIGO ARTIGO Circuito oceânico de Ilha Grande - Parte Final Antes de prosseguir a narrativa, é necessário fazer algumas erratas. Eu tenho procurado utilizar o máximo possível de termos náuticos para familiarizar os montanhistas com essa cultura. Contudo, o texto do boletim passado foi escrito um pouco às pressas, não passou por nenhuma revisão e acabou sendo publicado com algumas incorreções. Quem reparou foi JR, que, depois de o ler na página do CEG na Internet, ligou-me de São Pedro da Aldeia para puxar a minha orelha. Onda não tem colo disse meu irmão o termo correto é cavado! Isso eu realmente desconhecia. Sinceramente, se ondas possuem cristas, tal como as montanhas, por que não poderiam possuir colos e vertentes? Estibordo é utilizado por paisano! Na Marinha se fala boreste! Quanto a essa correção, eu tenho que discordar. Primeiro, não vejo problema em empregar um termo paisano, pois é o que sou. Segundo, apesar de estar caindo em desuso, estibordo não é incorreto. Aliás, foi ele que deu origem a boreste, no qual foi suprimida a sílaba final e transposta a penúltima para o começo da palavra. Na verdade, a tijolada, que eu só reparei agora, foi empregar estibordo (lado direito da embarcação para quem olha da popa para a proa) querendo dizer bombordo (lado esquerdo da embarcação). Pelo menos eu não confundi a popa com a proa. Não sei se foi a adrenalina do quase desespero, ou a motivação de quem encara a sorte de frente, mas minha 4 energia pareceu renovar-se. Ainda assim, a dor de meus braços latejava a cada remada, fazendo as 5 milhas náuticas que separam Parnaioca de Dois Rios parecerem uma estrada sem fim, percorrida pouco a pouco com muito sacrifício. Eu olhava para meu irmão cortando o mar ao lado, ora a poucos metros, ora a algumas centenas, muito grande, de maneira que não pude escolher tão bem a oportunidade de cruzar a linha da arrebentação. Avancei um pouco, deixei a última onda da seqüência levar o caiaque por alguns metros, freando-o antes que descesse descontroladamente. Assim que a onda quebrou à minha frente, passei a remar com vontade seguindo a espuma que avançava bem mais rápido. Logo notei que outra onda havia quebrado atrás de mim e me perseguia em uma corrida desigual. Imprimi no remo toda força que pude, na esperança de ganhar velocidade suficiente para escapar, mas a espuma logo me alcançou e carregou o caiaque. No começo, tudo parecia bem, pois o caiaque seguia velozmente em direção à areia. Mas não demorei a reparar que a proa estava mudando de direção, de modo que o caiaque tendia a se orientar de lado em relação à onda, o que ameaçava sua estabilidade. Tentei corrigir a direção, remando de um lado e freando do outro, mas não adiantou muita coisa. Inexoravelmente, o caiaque ficou de lado para a onda e virou. Instantaneamente, meu mundo virou de cabeça para baixo. O trecho em que capotei era tão raso que eu março/2006 (continuação) aderência da pedra e a eficiência das sapatilhas 1 me deram a confiança que eu necessitava. Não tive problemas no Palavrão, mas devo confessar que a Geoténica perfurou alguns buracos bem maneiros que auxiliam numa indecisão na parte final do lance. Ainda aí as sapatilhas mostraram o seu valor, aumentado a confiança. O meu maior problema no K2 antigo, era dominar o último paredão em mini-agarras e muita aderência, pois os solados da épo ca não eram adaptados para esse tipo de lance. Atualmente ele é comparável aos paredões dos Campos Escolas do Grajaú e alguns do Morro da Urca, nada sinistro (para mim é claro!) como alguns lances do Babilônia (Salomith, Arca de Noé). Espero voltar ao K2 para come morar meu aniversário de 60 anos (13 de janeiro de 2006), com um guia do Guanabara! Obrigado a todos que me ajudaram neste retorno! Schmidt In Memorium - Maria Paula Garcia, “a Paulinha” Uma menina de 43 anos que esbanjava vitalidade, entrou no CERJ em 2003 e em pouco tempo se tornou figurinha conhecida no clube. Sempre alegre e presente nas festividades, chegou a assumir o cargo de Diretora Social no início d e s te a n o . Em vista de sua boa performance, após 3 bons anos de montanha e várias excursões, foi convidada p a r a p a r t i c i p a r d a p r ó x i m a E s c o l a d e G u i a s d o C E R J, o que aceitou prontamente. Montanhista e escaladora em sentido amplo, 1ª de cordada, raridade num esporte com predominância masculina. Era mãe, formada em pedagogia, trabalhava em d u a s u n i v e r s i d a d e s d e Pe t r ó p o l i s e , n o m e i o d e s s e corre-corre, conseguia tempo para se dedicar ao esporte que mais gostava, esporte este que lhe deu muitas alegrias, amigos e companheiros, aos quais deixou boas lembranças. www.guanabara.org.br 9 AR TIGO ARTIGO AR TIGO ARTIGO O Retorno ao K2 tinha que curvar o pescoço para que meu corpo se acomodasse entre o caiaque e o fundo de areia. Fiquei por alguns instantes observando os turbilhões de bolhas que se agitavam sob a água. O remo escapara de minhas mãos, mas ele de nada adiantaria, pois eu não dominava a técnica de desvirar o caiaque. Lembrei de que meu irmão havia dito em meus primeiros passeios de caiaque que eu não seria capaz de sair do cockpit enquanto a saia estivesse presa. E ele tinha razão, pois era ela que estava me segurando. Tateei à frente, agarreia alça e a puxei. Na mesma hora, a saia desprendeu e meu corpo se soltou do caiaque. Imaginei-me como um piloto ejetando de um avião em pane. Já de pé no meio da espuma, envergonhei-me de ter virado em uma praia tão tranqüila, tão raso, tão próximo da areia, ainda mais depois de tudo que havia passado naquele dia. Apressei-me para recuperar o remo e jogá-lo na areia. Enquanto arrastava o caiaque, vi meu irmão vencendo os últimos metros que o separavam da areia. Inacreditavelmente, ele surfava com o caiaque de lado, levemente adernado para trás, e compensava a perda de estabilidade apoiando o remo como uma alavanca na espuma. Arrependi-me de não ter prestado mais atenção às suas instruções. Com os caiaques já drenados e protegidos na areia, longe do nível da preamar, jogamo-nos na areia. Infelizmente, não podíamos nos dar ao luxo de descansar mais do que alguns instantes, pois a noite já estava escura e tínhamos que lidar com o problewww.guanabara.org.br 2005 foi o ano de minha volta às paredes do Rio. Minha estréia foi com a Marta Zampier no Coloridos, já no CEG houve o retorno às caminhadas pesadas, com o Fred me levando ao Vale do Caxambu e descendo pela Isabeloca em Petrópolis. Depois veio uma série de escaladas de aproximação para tes tar os reflexos e a força e para acostumar com as novas tecnologias (sapatilhas, ATCs, prusik, capacete) e aí foram muito importantes os guias do CEG Molica, Ricardo Penna e Beto que me levaram a várias vias do Babilônia e Coloridos. Em setembro entrei para o CBM II e pude escalar com Luiz Alberto, Giuliano e Molica e fazer caminhad a s c o m M o l i c a , S b l e m , A l t a i r, Chico Saraiva e Marcita. Mas o fim do ano estava chegando, e o 13 de janeiro estava ficando cada vez mais perto e eu neces sitava saber se a minha primeira escalada, o K2 (feita em 1965) ainda era factível para alguém que ia fazer 60 anos e que havia parado de escalar a quase 30. Não quis colocar esse mico 8 nas mãos dos guias do clube (e não ser chato de impingir uma escalada, só para saber se eu tinha ou não condições no K2). Quando conheci o Flávio Daflon na Pedra do Urubu, ele estava treinando um jovem senhor assim como eu. Naquele momento eu ponderei que deveria usar os serviços do Daflon para este teste e marcamos uma escalada ao K2, iríamos, o Danton (o jovem senhor) e eu e o Daflon guiaria com duas cordas, um de cada vez, podendo re vezar nas enfiadas. Como estava quente, marcamos para 14:00h no estacionamento das Paineiras e fomos encarar o Corco vado. A tarde estava ensolarada e a vista continuava deslumbrante. Le vamos pouco menos de três horas e os lances de oposição iniciais até os Dez Mais foram bem tranqüilos, o lance mais complicado para mim foi a variante Paulo Macaco, antes do Palavrão. Esse pedaço era ultrapassado com cabo de aço, quando eu escalava nos anos 60 e 70. Mas a alta março/2006 (continuação) ma de arrumar um lugar para passar a noite num vilarejo sem pousadas e sem locais para camping. No meio do breu, avistamos dois fachos de luz se deslocando em nossa direção, seguindo a faixa de areia. Ficamos quietos, aguardando a aproximação, e reparamos que eram duas pessoas uniformizadas usando bonés (?) dois vigilantes fazendo a ronda na praia, provavelmente procurando jovens que volta e meia tentavam passar a noite escondidos em Dois Rios. Curiosamente, eles nem nos perceberam, passando distraidamente ao nosso lado, como se fôssemos invisíveis. Quebramos nosso silêncio para anunciar nossa presença e tivemos que conter nosso riso diante do susto que levaram. Os dois vigilantes ouviram atentamente a nossa história e se mostraram solícitos em nos prestar ajuda. Como não podiam decidir nada, eu e JR os seguimos pela Vila de Dois Rios procurando o encarregado responsável pela segurança. Passamos pelo prédio do dormitório do centro de pesquisas da UERJ, onde tivemos a vã esperança de conseguir um quarto e uma ducha quente. Os vigilantes pediram então que nos arrumássemos ainda estávamos de sunga enquanto eles localizavam o chefe. Voltamos para os caiaques, descarregamos a barraca, os sacos de dormir, mudas de roupas secas e outros materiais para passar a noite. Lavamos-nos em uma revigorante ducha fria numa praça próxima à praia. Limpos e secos, acompanhamos um dos vigilantes até a casa do chefe. Ele nos permitiu montar a barraca no terreno de uma casa de 5 AR TIGO ARTIGO socupada que somente era utilizada pelos fuzileiros nas instruções de treinamento. Informou que teríamos a companhia de um casal que es tava dando a volta na Ilha Grande e também chegara a Dois Rios no início da noite. A única condição era que desarmássemos acampamento de manhã cedo, antes que os turistas chegassem. A última coisa que ele queria é que mais pes soas inventassem de passar a noite em Dois Rios. Jantamos uma deliciosa comida caseira de uma pensão cujo dono era policial aposentado. Chamava-se Sebastião (ou Antônio, não me lembro ao certo) e sentou-se conosco para prosear. Narramos nossas aventuras e perguntamos sobre a vida na Ilha Grande. Ele revelou que servira no presídio de Dois Rios e nos contou como 6 AR TIGO ARTIGO (continuação) viviam os policiais e os presos naquele misto de paraíso e inferno, histórias que dariam um livro. Era nítido o saudosismo em suas palavras, a saudade de uma época em que os policiais se faziam respeitar e não tinham tantos problemas com esses tais direitos humanos. Apesar dos presídios, a Ilha, bem menos populosa, era muito mais tranqüila. Não ocorriam os roubos, homicídios e estupros que vinham aterrorizando os moradores nos últimos anos. Achei prudente não expor minha opinião a respeito da ditadura, tampouco defender os benefícios de um estado democrático de direito e do respeito aos direitos humanos. Finda a refeição e a prosa, levamos nossa tralha de camping ao terreno liberado. Como o casal já estava instalado, escolhemos um local mais isolado para lhes dar mais privacidade. Ima- março/2006 (continuação) ginei conhecer de algum lugar o homem do casal, um rapaz careca. Como minha memória não colaborou, não dei muita bola. Somente semanas depois fui saber ele era o Fernando, amigão do Alex que fizera CBM no CEG alguns anos atrás. Eu e JR nos recolhemos na barraca e conversamos ainda por um tempinho. Um vento forte sacudia violentamente a barraca, o que nos fazia imaginar que a frente fria estava finalmente chegando. Nosso papo foi morrendo aos poucos e, sem que nos déssemos conta, adormecemos. Preocupado com a mudança do tempo, acordei algumas vezes durante a noite para sair da barraca e checar se já estava chovendo. O vento desapareceu no meio da madrugada e nenhuma gota caiu do céu. Toda nossa preocupação com a virada do tempo havia sido alarme falso as nuvens e o vento eram apenas uma pequena instabilidade pré-frontal. Atendendo à solicitação do chefe da segurança, levantamo-nos antes das 6h. Desmontamos rapidamente nossa barraca e arrumamos nossa bagagem nos caiaques. Pouco depois, já estávamos deslizando nas águas da enseada de Dois Rios, prosseguindo a jornada. O céu estava nublado, mas não havia sinal nem de chuva, nem de vento. O dia parecia ideal para remar. Salvo uma leve moleza nos braços, eu estava recuperado das dores e do esgotamento do dia anterior. Remamos direto, sem escala. Havíamos planejado parar em Santo Antônio e em Lopes Mendes, mas JR não estava com muita paciência para dewww.guanabara.org.br sembarcar nessas praias, que já conhecíamos. Atravessamos em linha reta da Ponta das Palmeiras até a Ponta de Lopes Mendes, a mais de uma milha de distância da praia. Seguimos um longo costão, contornamos a Ponta de Castelhanos, onde avistamos o topo do farol emergindo do meio das árvores. Passamos ao largo de algumas pequenas praias e, depois de ultrapassar a Ponta da Cafua, entramos na Enseada de Palmas. Depois de remar ininterruptamente, desde cedo, um total de mais 10 mn, resolvemos fazer uma parada em Palmas, onde desembarcamos antes das 10h. A praia estava cheia de turistas, que saíam das áreas de camping transportando malas e mochilas para próximo dos barcos encostados na areia. Meu irmão conversou com o dono de um dos barco, que planejava às 11h para Mangaratiba, e reservou lugares para nós dois e para os caiaques. Assim, nossa aventura terminou em Palmas sem que realmente completássemos a circunavegação da Ilha Grande, faltando apenas 4 mn até Abraão. Mesmo assim, essa experiência foi suficiente para me dar gosto do esporte e me motivar a embarcar em novas remadas, sobre as quais escreverei em outras oportunidades. Quanto à frente fria, cujo espectro vinha nos assombrando desde o planejamento e especialmente no penúltimo dia, somente nos alcançou quando já estávamos na estrada, dirigindo para o Rio. Melhor assim. Frederico Noritomi Montanhista do Mar 7