MURAL CEG
Carnaval 2006
BOLETIM
www.guanabara.org.br
Montanhismo - RJ
Março/2006 - 600 exemplares
a"
Bloco "Só o Cume Interessa" desfilando na Praça General Tibúrcio
IMPRESSO
PROGRAMAÇÃO - MAR/2006
Aniversariantes do mês
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Os locais e horários de encontro são combinados nas quintas-feiras anteriores às excursões.
Procure o guia responsável nas reuniões sociais, ou ligue para o clube quinta-feira à noite: Tel.: 3285-8653
332
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382
352
392
362
3
2
2
Av. Rio Branco, 185 sl.230 - CEP 20045-900 - Tels.: 2262-4404 / 2240-1092 / 9136-0209
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28754
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89
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Expediente
Presidente
Vice Presidente
Tesoureiro
Secretária Geral
Diretor Técnico
Diretor Social
Diretor Divulgação
Dir. de Marketing
Dir. Meio Ambiente
Giuliano Finetti
Luis Alberto Corrêa
Bóris Flegr
Monique Corrêa
Roberto Schmidt
Ana Maria Machado
Frederico Noritomi
Altair Trindade
Juliana Fell
Colaboraram nesta edição:
Textos: Giulliano Finetti, Roberto Schmidt,
Frederico Noritomi.
Edição e Diagramação:
Frederico Noritomi
Reuniões Sociais do CEG
Todas as quintas-feiras, a partir das 19h.
Caso queira contribuir com esse boletim,
envie seus artigos, notícias, comentários e sugestões
para Rua Washington Luiz, 9 - cobertura Rio de Janeiro - RJ - Cep 20230-020 ou
por e-mail: [email protected]
Tel.: 3285-8653
As matérias aqui publicadas não representam
necessariamente a posição oficial do Centro
Excursionista Guanabara. Ressaltamos
que o boletim é um espaço aberto àqueles
que queiram contribuir.
Tabela de Preços
Mensalidade:
Matrícula ou Descongelamento:
Curso Básico de Montanhismo:
Curso Avançado de Escalada:
R$ 17,00
R$ 45,00
R$ 390,00
R$ 240,00
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CURSO BÁSICO DE MONT
ANHISMO
MONTANHISMO
INSCRIÇÕES ABER
TAS
ABERT
Não perca a excelente oportunidade de encarar as belezas e desafios da
montanha e ainda conhecer novos e bons amigos!
O Curso Básico de Montanhismo do CEG é ministrado por instrutores treinados com amplo conhecimento em cada matéria abrangida e tem o objetivo
de formar montanhistas com preparo e conhecimento técnico suficientes para
participar com segurança de caminhadas e escaladas.
Todo equipamento de escalada utilizado no curso é fornecido pelo CEG,
com exceção da sapatilha de escalada.
O preço do curso é de R$390,00 parceláveis. Após a conclusão do curso,
os formandos podem se associar ao CEG sem o pagamento da inscrição,
podendo, dessa maneira, desenvolver as habilidades e técnicas aprendidas.
Os interessados devem comparecer a uma de nossas reuniões sociais, que
ocorrem às quintas-feiras, à partir das 19 hs, na Rua Washington Luiz, 9/
cobertura - Centro. Nosso telefone é (21)3285-5683. Outras dúvidas podem ser esclarecidas pelo email: [email protected].
Abaixo está a programação do CBM:
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março/2006
EDITORIAL
Em fevereiro, além do aniversário do Guanabara e da 2ª edição do churrasco promovido por aniversariantes, colocamos mais uma data festiva no calendário do clube. Inovando sempre, o CEG lançou os pilares do primeiro bloco carnavalesco entre os clubes.
A idéia de organizar um bloco de carnaval surgiu da cabeça de Manuel
Rosário acabou ganhando força e o nome sugerido pela Carlinha - “Só o cume
interessa” – foi escolhido. Local e data: Urca – Bar Laguna – sábado anterior ao
carnaval – 11:00. Percurso: volta na Praça General Tibúrcio. Contando com a
participação marcante do CERJ e de alguns membros do Carioca, concentramonos no Laguna, muitos fantasiados. Mesmo sem muita intimidade com os instrumentos, a animação foi garantida.
Em vista da grande aceitação por parte dos associados, no próximo ano nos
organizaremos com mais antecedência, não só para conseguir os instrumentos
(valeu Lula !!!) como para aprender a tocá-los (tava difícil...). No final do segundo semestre, abriremos um concurso para novas marchinhas de carnaval. Se o
César Maia não transformar nosso quintal num canteiro de obras, continuaremos no mesmo local.
As inscrições para o CBM do 1° semestre, agendado para iniciar em 3 de
abril, já começaram e contamos com a participação de todos para ajudar na
divulgação. A receita desse curso já tem destino certo - o término das obras. E,
como de hábito, haverá um churrasco de abertura do CBM no campo escola do
Grajaú após a aula prática.
Terminada as festas carnavalescas, contamos novamente com a participação
dos guias para manter as pranchetas com excursões e os associados na ativa.
Desta vez, para evitar que a carga do CBM prejudique a programação mensal
de atividades, vamos fazer um rodízio mais efetivo e com uma maior participação dos monitores para manter o número de excursões.
Importante ressaltar a iniciativa e o esforço da Suelly, que está fazendo campanha junto à velha guarda para arrecadar fundos para a colocação do toldo.
Agradecemos aos que, apesar de distantes e muitas vezes impossibilitados de
freqüentar o clube, demonstram carinho não só pelo clube, mas por nós e pelo
que fazemos. As contribuições já estão sendo contabilizadas e esperamos conseguir realizar a obra antes da abertura de temporada.
Infelizmente, nem tudo foram alegrias nesse último mês. Por razões que até
agora não sabemos ao certo, e que no fim se torna um pormenor, perdemos a
companheira de montanha Maria Paula Garcia - “Paulinha”.
Gostaria de ressaltar a demonstração de solidariedade dos guanabarenses
que puderam comparecer e se juntar aos companheiros do CERJ na sua despedida, como àqueles que dirigiram ao CERJ na 1ª reunião social após o ocorrido
e, ainda, àqueles que participaram da homenagem em sua memória com a
realização de 1 minuto de silêncio em nossa sede.
www.guanabara.org.br
3
AR
TIGO
ARTIGO
AR
TIGO
ARTIGO
Circuito oceânico de Ilha Grande - Parte Final
Antes de prosseguir a narrativa, é
necessário fazer algumas erratas. Eu tenho procurado utilizar o máximo possível de termos náuticos para familiarizar os montanhistas com essa cultura. Contudo, o texto do boletim passado foi escrito um pouco às pressas, não
passou por nenhuma revisão e acabou
sendo publicado com algumas incorreções. Quem reparou foi JR, que, depois de o ler na página do CEG na
Internet, ligou-me de São Pedro da Aldeia para puxar a minha orelha.
“Onda não tem colo” – disse meu
irmão – “o termo correto é ‘cavado’!”
Isso eu realmente desconhecia. Sinceramente, se ondas possuem cristas, tal
como as montanhas, por que não poderiam possuir colos e vertentes?
“‘Estibordo’ é utilizado por paisano! Na Marinha se fala ‘ boreste’!”
Quanto a essa correção, eu tenho que
discordar. Primeiro, não vejo problema em empregar um termo paisano,
pois é o que sou. Segundo, apesar de
estar caindo em desuso, “estibordo”
não é incorreto. Aliás, foi ele que deu
origem a “boreste”, no qual foi suprimida a sílaba final e transposta a penúltima para o começo da palavra. Na
verdade, a tijolada, que eu só reparei
agora, foi empregar “estibordo” (lado
direito da embarcação para quem olha
da popa para a proa) querendo dizer
“bombordo” (lado esquerdo da embarcação). Pelo menos eu não confundi a
popa com a proa.
Não sei se foi a adrenalina do quase desespero, ou a motivação de quem
encara a sorte de frente, mas minha
4
energia pareceu renovar-se. Ainda assim, a dor de meus braços latejava a
cada remada, fazendo as 5 milhas náuticas que separam Parnaioca de Dois
Rios parecerem uma estrada sem fim,
percorrida pouco a pouco com muito
sacrifício. Eu olhava para meu irmão
cortando o mar ao lado, ora a poucos
metros, ora a algumas centenas, muito
grande, de maneira que não pude escolher tão bem a oportunidade de cruzar a linha da arrebentação. Avancei
um pouco, deixei a última onda da seqüência levar o caiaque por alguns
metros, freando-o antes que descesse
descontroladamente. Assim que a onda
quebrou à minha frente, passei a remar com vontade seguindo a espuma
que avançava bem mais rápido. Logo
notei que outra onda havia quebrado
atrás de mim e me perseguia em uma
corrida desigual. Imprimi no remo toda
força que pude, na esperança de ganhar velocidade suficiente para escapar, mas a espuma logo me alcançou
e carregou o caiaque. No começo, tudo
parecia bem, pois o caiaque seguia velozmente em direção à areia. Mas não
demorei a reparar que a proa estava
mudando de direção, de modo que o
caiaque tendia a se orientar de lado
em relação à onda, o que ameaçava
sua estabilidade. Tentei corrigir a direção, remando de um lado e freando do
outro, mas não adiantou muita coisa.
Inexoravelmente, o caiaque ficou de
lado para a onda e virou.
Instantaneamente, meu mundo virou de cabeça para baixo. O trecho
em que capotei era tão raso que eu
março/2006
(continuação)
aderência da pedra e a eficiência
das sapatilhas 1 me deram a confiança que eu necessitava. Não tive
problemas no Palavrão, mas devo
confessar que a Geoténica perfurou
alguns buracos bem maneiros que
auxiliam numa indecisão na parte
final do lance. Ainda aí as sapatilhas mostraram o seu valor, aumentado a confiança.
O meu maior problema no K2
antigo, era dominar o último
paredão em mini-agarras e muita
aderência, pois os solados da épo ca não eram adaptados para esse
tipo de lance. Atualmente ele é
comparável aos paredões dos
Campos Escolas do Grajaú e alguns do Morro da Urca, nada “sinistro” (para mim é claro!) como
alguns lances do Babilônia
(Salomith, Arca de Noé).
Espero voltar ao K2 para come morar meu aniversário de 60 anos
(13 de janeiro de 2006), com um
guia do Guanabara!
Obrigado a todos que me ajudaram neste retorno!
Schmidt
In Memorium - Maria Paula Garcia, “a Paulinha”
Uma menina de 43 anos que esbanjava vitalidade, entrou no CERJ em 2003 e em pouco tempo se
tornou figurinha conhecida no clube.
Sempre alegre e presente nas festividades, chegou a assumir o cargo de Diretora Social no início
d e s te a n o .
Em vista de sua boa performance, após 3 bons
anos de montanha e várias excursões, foi convidada
p a r a p a r t i c i p a r d a p r ó x i m a E s c o l a d e G u i a s d o C E R J,
o que aceitou prontamente. Montanhista e escaladora
em sentido amplo, 1ª de cordada, raridade num esporte com predominância masculina.
Era mãe, formada em pedagogia, trabalhava em
d u a s u n i v e r s i d a d e s d e Pe t r ó p o l i s e , n o m e i o d e s s e
corre-corre, conseguia tempo para se dedicar ao esporte que mais gostava, esporte este que lhe deu
muitas alegrias, amigos e companheiros, aos quais
deixou boas lembranças.
www.guanabara.org.br
9
AR
TIGO
ARTIGO
AR
TIGO
ARTIGO
O Retorno ao K2
tinha que curvar o pescoço para que
meu corpo se acomodasse entre o
caiaque e o fundo de areia. Fiquei por
alguns instantes observando os turbilhões de bolhas que se agitavam sob
a água. O remo escapara de minhas
mãos, mas ele de nada adiantaria,
pois eu não dominava a técnica de
desvirar o caiaque. Lembrei de que
meu irmão havia dito em meus primeiros passeios de caiaque que eu não
seria capaz de sair do cockpit enquanto a saia estivesse presa. E ele tinha
razão, pois era ela que estava me segurando. Tateei à frente, agarreia alça
e a puxei. Na mesma hora, a saia desprendeu e meu corpo se soltou do
caiaque. Imaginei-me como um piloto
ejetando de um avião em pane.
Já de pé no meio da espuma, envergonhei-me de ter virado em uma
praia tão tranqüila, tão raso, tão próximo da areia, ainda mais depois de
tudo que havia passado naquele dia.
Apressei-me para recuperar o remo e
jogá-lo na areia. Enquanto arrastava
o caiaque, vi meu irmão vencendo os
últimos metros que o separavam da
areia. Inacreditavelmente, ele surfava
com o caiaque de lado, levemente
adernado para trás, e compensava a
perda de estabilidade apoiando o
remo como uma alavanca na espuma.
Arrependi-me de não ter prestado mais
atenção às suas instruções.
Com os caiaques já drenados e
protegidos na areia, longe do nível da
preamar, jogamo-nos na areia. Infelizmente, não podíamos nos dar ao
luxo de descansar mais do que alguns
instantes, pois a noite já estava escura e tínhamos que lidar com o problewww.guanabara.org.br
2005 foi o ano de minha volta
às paredes do Rio. Minha estréia foi
com a Marta Zampier no Coloridos,
já no CEG houve o retorno às caminhadas pesadas, com o Fred me
levando ao Vale do Caxambu e descendo pela Isabeloca em Petrópolis.
Depois veio uma série de escaladas de “aproximação” para tes tar os reflexos e a força e para acostumar com as novas tecnologias (sapatilhas, ATCs, prusik, capacete) e
aí foram muito importantes os guias do CEG Molica, Ricardo Penna
e Beto que me levaram a várias vias
do Babilônia e Coloridos.
Em setembro entrei para o CBM
II e pude escalar com Luiz Alberto,
Giuliano e Molica e fazer caminhad a s c o m M o l i c a , S b l e m , A l t a i r,
Chico Saraiva e Marcita.
Mas o fim do ano estava chegando, e o 13 de janeiro estava ficando cada vez mais perto e eu neces sitava saber se a minha primeira
escalada, o K2 (feita em 1965) ainda era factível para alguém que ia
fazer 60 anos e que havia parado
de escalar a quase 30.
Não quis colocar esse “mico”
8
nas mãos dos guias do clube (e não
ser chato de impingir uma escalada, só para saber se eu tinha ou não
condições no K2).
Quando conheci o Flávio Daflon
na Pedra do Urubu, ele estava treinando um jovem senhor assim
como eu. Naquele momento eu
ponderei que deveria usar os serviços do Daflon para este teste e
marcamos uma escalada ao K2, iríamos, o Danton (o jovem senhor) e
eu e o Daflon guiaria com duas cordas, um de cada vez, podendo re vezar nas enfiadas.
Como estava quente, marcamos
para 14:00h no estacionamento das
Paineiras e fomos encarar o Corco vado.
A tarde estava ensolarada e a
vista continuava deslumbrante. Le vamos pouco menos de três horas e
os lances de oposição iniciais até
os Dez Mais foram bem tranqüilos,
o lance mais complicado para mim
foi a variante Paulo Macaco, antes
do Palavrão.
Esse pedaço era ultrapassado
com cabo de aço, quando eu escalava nos anos 60 e 70. Mas a alta
março/2006
(continuação)
ma de arrumar um lugar para passar
a noite num vilarejo sem pousadas e
sem locais para camping.
No meio do breu, avistamos dois fachos de luz se deslocando em nossa direção, seguindo a faixa de areia. Ficamos quietos, aguardando a aproximação, e reparamos que eram duas pessoas uniformizadas usando bonés (?) –
dois vigilantes fazendo a ronda na
praia, provavelmente procurando jovens que volta e meia tentavam passar
a noite escondidos em Dois Rios. Curiosamente, eles nem nos perceberam,
passando distraidamente ao nosso
lado, como se fôssemos invisíveis. Quebramos nosso silêncio para anunciar
nossa presença e tivemos que conter
nosso riso diante do susto que levaram.
Os dois vigilantes ouviram atentamente a nossa história e se mostraram
solícitos em nos prestar ajuda. Como
não podiam decidir nada, eu e JR os
seguimos pela Vila de Dois Rios procurando o encarregado responsável pela
segurança. Passamos pelo prédio do
dormitório do centro de pesquisas da
UERJ, onde tivemos a vã esperança de
conseguir um quarto e uma ducha
quente. Os vigilantes pediram então
que nos arrumássemos – ainda estávamos de sunga – enquanto eles localizavam o chefe. Voltamos para os
caiaques, descarregamos a barraca, os
sacos de dormir, mudas de roupas secas e outros materiais para passar a
noite. Lavamos-nos em uma revigorante
ducha fria numa praça próxima à praia.
Limpos e secos, acompanhamos
um dos vigilantes até a casa do
chefe. Ele nos permitiu montar a
barraca no terreno de uma casa de 5
AR
TIGO
ARTIGO
socupada que somente era utilizada pelos fuzileiros nas instruções de
treinamento. Informou que teríamos
a companhia de um casal que es tava dando a volta na Ilha Grande
e também chegara a Dois Rios no
início da noite. A única condição
era que desarmássemos acampamento de manhã cedo, antes que
os turistas chegassem. A última coisa que ele queria é que mais pes soas inventassem de passar a noite
em Dois Rios.
Jantamos uma deliciosa comida caseira de uma pensão cujo dono era policial aposentado. Chamava-se Sebastião (ou Antônio, não me lembro ao
certo) e sentou-se conosco para
prosear. Narramos nossas aventuras e
perguntamos sobre a vida na Ilha
Grande. Ele revelou que servira no presídio de Dois Rios e nos contou como
6
AR
TIGO
ARTIGO
(continuação)
viviam os policiais e os presos naquele
misto de paraíso e inferno, histórias que
dariam um livro. Era nítido o saudosismo em suas palavras, a saudade de
uma época em que os policiais se faziam respeitar e não tinham tantos problemas com “esses tais direitos humanos”. Apesar dos presídios, a Ilha, bem
menos populosa, era muito mais tranqüila. Não ocorriam os roubos, homicídios e estupros que vinham aterrorizando os moradores nos últimos anos.
Achei prudente não expor minha opinião a respeito da ditadura, tampouco
defender os benefícios de um estado
democrático de direito e do respeito aos
direitos humanos.
Finda a refeição e a prosa, levamos
nossa tralha de camping ao terreno liberado. Como o casal já estava instalado, escolhemos um local mais isolado para lhes dar mais privacidade. Ima-
março/2006
(continuação)
ginei conhecer de algum lugar o homem do casal, um rapaz careca. Como
minha memória não colaborou, não dei
muita bola. Somente semanas depois
fui saber ele era o Fernando, amigão
do Alex que fizera CBM no CEG alguns
anos atrás.
Eu e JR nos recolhemos na barraca
e conversamos ainda por um
tempinho. Um vento forte sacudia violentamente a barraca, o que nos fazia
imaginar que a frente fria estava finalmente chegando. Nosso papo foi morrendo aos poucos e, sem que nos déssemos conta, adormecemos.
Preocupado com a mudança do
tempo, acordei algumas vezes durante a noite para sair da barraca e checar se já estava chovendo. O vento desapareceu no meio da madrugada e
nenhuma gota caiu do céu. Toda nossa preocupação com a virada do tempo havia sido alarme falso – as nuvens e o vento eram apenas uma pequena instabilidade pré-frontal.
Atendendo à solicitação do chefe da
segurança, levantamo-nos antes das
6h. Desmontamos rapidamente nossa
barraca e arrumamos nossa bagagem
nos caiaques. Pouco depois, já estávamos deslizando nas águas da enseada
de Dois Rios, prosseguindo a jornada.
O céu estava nublado, mas não havia sinal nem de chuva, nem de vento.
O dia parecia ideal para remar. Salvo
uma leve moleza nos braços, eu estava
recuperado das dores e do esgotamento
do dia anterior.
Remamos direto, sem escala. Havíamos planejado parar em Santo Antônio e em Lopes Mendes, mas JR não
estava com muita paciência para dewww.guanabara.org.br
sembarcar nessas praias, que já conhecíamos. Atravessamos em linha
reta da Ponta das Palmeiras até a Ponta
de Lopes Mendes, a mais de uma milha de distância da praia. Seguimos
um longo costão, contornamos a Ponta de Castelhanos, onde avistamos o
topo do farol emergindo do meio das
árvores. Passamos ao largo de algumas pequenas praias e, depois de ultrapassar a Ponta da Cafua, entramos
na Enseada de Palmas.
Depois de remar ininterruptamente,
desde cedo, um total de mais 10 mn,
resolvemos fazer uma parada em Palmas, onde desembarcamos antes das
10h. A praia estava cheia de turistas,
que saíam das áreas de camping transportando malas e mochilas para próximo dos barcos encostados na areia.
Meu irmão conversou com o dono de
um dos barco, que planejava às 11h
para Mangaratiba, e reservou lugares
para nós dois e para os caiaques.
Assim, nossa aventura terminou em
Palmas sem que realmente completássemos a circunavegação da Ilha Grande, faltando apenas 4 mn até Abraão.
Mesmo assim, essa experiência foi suficiente para me dar gosto do esporte
e me motivar a embarcar em novas remadas, sobre as quais escreverei em
outras oportunidades.
Quanto à frente fria, cujo espectro
vinha nos assombrando desde o planejamento e especialmente no penúltimo dia, somente nos alcançou quando
já estávamos na estrada, dirigindo para
o Rio. Melhor assim.
Frederico Noritomi
Montanhista do Mar
7
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