Menos 5000
candidatos
à universidade
superior Crise
e más notas nos
exames são causa de maior quebra desde 2005. país pág. 12
Desde 2005 que não havia
tão poucos candidatos
Ensino Superior.
1.a
terminou ontem com 40 546 inscrições. Más notas
e quebra na natalidade justificam menos 4837 estudantes
fase de candidaturas
nos exames, dificuldades
financeiras
ANA BELA FERREIRA
"Vou trabalhar um ou dois anos
para juntar dinheiro para entrar na
universidade". Jéssica Pereira é das
jovens que vai adiar o ingresso no
ensino superiorpormotivos
financeiros, uma causa que se junta às
más notas nos exames nacionais e
à quebra na natalidade para justificar que apenas se tenham registado 40 546 candidaturas ao superior na primeira fase do concurso.
O concurso terminou na sextafeira e os resultados mostram que
este é o número mais baixo de candidatos desde 2005. Em relação ao
ano passado, houve menos 4837
o que representa
candidaturas,
uma quebra de 1 1 % . As instituições
mostram-se apreensivas com a
há cinco anos
quebra contínua
que os candidatos não param de diminuir-, mas ao mesmo tempo estão confiantes numa segunda fase
mais concorrida do que em anos
anteriores.
Ainda assim, o reduzido número
de interessados em entrar nas universidades e politécnicos poderá
deixar algumas instituições em dificuldades, admite o presidente do
Conselho Coordenador dos Institu-
-
tos Superiores Politécnicos (CCISP)
"Os politécnicos estão preocupa-
.
dos em ajustar a oferta dos seus cursos àrealidade e até propusemos ao
secretário de Estado do Ensino Su-
perior, João Queiró, que se indexasse a oferta dos cursos à procura dos
alunos e que isso fosse transversal a
todas as instituições do País, mas a
proposta não foi aceite e agora esta
quebra
na procura
está a demonstrar
a
necessidade de aplicar essa norma", afirma Joaquim Mourato.
Para o represen-
tante dos politécnicos, a quebra no número de alunos resulinsucesso
ta "do
escolar no ensino secundário, dos maus
resultados nos exames nacionais, das dificuldades
económicas das famílias e de uma
maior dificuldade de acesso às bolsas de ação social". Por isso, defende que, para inverter esta tendência
e melhorar os níveis de qualificação
nacional,
excecional
é
preciso "uma medida
de apoios mais alarga-
dos".
Apesar de não ser uma surpresa
para nenhum dos intervenientes
do setor, o presidente do Conselho
de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), António Rendas,
que o DN tentou sem sucesso contactar, disse àTSF que estes números se devem à falta de dinheiro das
famílias mas também à incapacidade de atrair estudantes estrangeiros.
Para este responsável, os mais afetos serão os politécnicos.
O próprio Joaquim Mourato admite que o número de vagas por
preencher no final do concurso
pode ser, este ano, ainda maior. No
ano passado ficaram mais de 8000
lugares livres e este
ano "apesar de haver
menos cerca de 800
vagas, o número por
preencher deve aumentar".
Mas apesar dos
cortes nas vagas dos
cursos, imposto pelo
Ministério da Educação e Ciência, a verdade é que pouco
mais de metade dos
alunos inscritos nos exames nacionais admitiram querer ir para o ensino superior. Dos 159 153 inscritos
nas provas, apenas 57% demonstraram vontade em seguir esta via.
Ou seja, cerca de 90 700 queriam
candidatar-se, mas apenas 40 546
acabaram por fazê-lo nesta primeira fase de entradas.
Os resultados são publicados a 9
de setembro, data do arranque da
segunda fase de candidaturas, que
termina a 20 do mesmo mês. A esta
oportunidade segue-se a terceira e
última fase de 3 a 7 de outubro.
Falta de dinheiro adia sonho
Aos 19 anos, Jéssica Pereira vê o
seu sonho de fazer o curso de educação básica adiado. "Sempre quis
ir para a universidade, mas a minha mãe sempre me disse para
não pensar muito nisso, porque
ela acha que não compensa estudar e porque não tem dinheiro
para me pagar os estudos", admite
a jovem de Fazendas de Almeirim,
Santarém. O pai de Jéssica está desempregado e amãe tem umparttimede quatro horas por dia.
Acabou por estudar Secretariado, no ensino profissional- também por influência da família -, o
que apesar de não ter sido a sua
primeira escolha, agora se revelou
bastante útil. Concluído o curso,
está a trabalhar "na área" e é aí que
conta juntar o dinheiro que precisa para tirar o curso superior.
Na mesma situação está a amiga de Jéssica, Silvana Duarte. Fez o
mesmo curso de Secretariado, mas
está agora a trabalhar numa fábrica de produtos hortícolas. É verdade que não tem dinheiro para pagar o curso universitário, mas a jovem de 21 anos, também nunca
pensou muito nisso "não tenho
muita cabeça para os estudos e
acho que não vale a pena o esfor-
-
ço",
justifica.
a
Os meus pais não
têm dinheiro para
me pagar o curso e eu
também não tenho"
JÉSSICA PEREIRA
JOVEM DE 19 ANOS
Quebra nos candidatos
afeta mais os institutos
politécnicos
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