Saneamento e saúde Disciplina: Problemas de Saúde Pública • A relação entre saúde e saneamento é das mais ponderáveis. • As evidências do reconhecimento dessa relação datam de 4.000 anos, com as ruínas que deixaram o testemunho de práticas higiênicas na Índia. • Hipócrates e o livro: “Ares, águas e lugares” (Séc. IV a.C.). • Roma antiga: aquedutos • Snow em Londres (1854). • Em 1960 os estudos que relacionavam os benefícios à saúde do saneamento evidenciaram certa dificuldade de comprovar essa relação. • Em 1970, os órgãos internacionais passam excluir dos programas de saneamento sob o argumento dos altos custos. A terapia da reidratação oral, vacinas, tratamento contra malária e o aleitamento materno passam a ser incentivados em detrimento de ações no espaço público. • Com a Década Internacional do Abastecimento de Água e o Esgotamento Sanitário (1981 – 1990) da ONU se construiu uma compreensão mais aprofundada das relações entre saneamento e saúde. • Os estudos epidemiológicos das relações saúde e saneamento datam dessa época. Buscava-se formular mais rigorosamente os marcos conceituais. Foco em água e esgoto. Modelos conceituais • Os modelos estão em construção. • Alguns privilegiam uma explicação biologista outros dão ênfase a uma visão mais sistêmica em face dos determinantes sociais. Modelo: Abastecimento de água e esgotamento sanitário Com a teoria limiar-saturação, Shuval e outros (1981), os investimentos em água e esgoto foram preteridos em relação a outras ações de atenção básica. “Abastecimento de água e esgotamento sanitário necessários mas não suficientes” (Briscoe, 1987). Efeitos diretos e indiretos do abastecimento de água e do esgotamento sanitário sobre a saúde: Esquema conceitual Benefícios do saneamento além da saúde: Abastecimento de água: • poupança de tempo • emancipação da mulher Esgotamento sanitário: • segurança • conveniência • dignidade • estatuto social Sandy Cairncross (2008) • Briscoe (1985) após estudos em Lyon (1816 – 1905) “prevê que as intervenções ambientais podem prevenir cerca de 4 vezes mais mortes e elevar a expectativa de vida 7 vezes mais que as intervenções médicas”. • Feachem (1984) após realizar três estudos de caso concluiu que a melhoria dos hábitos higiênicos pode reduzir a morbidade por diarréia em 14 a 48%. • Esrey (1991) a partir de seis estudos relacionados com a melhoria da higiene (lavagem das mãos, a disposição de resíduos, local de defecar, e outros) concluiu por uma redução esperada de 33% na morbidade por diarréia com o aperfeiçoamento das práticas higiênicas. Associação entre fatores de risco e diarréia, segundo diferentes níveis de significância estatística. Marco conceitual da diarréia em Betim (MG) FPEEE e Diarréia Fonte: VIGIAGUA, 2000(?). MODELO SISTÊMICO http://www.psiquiatriageral.com.br/epidemiologia/conceito.htm Rouquayrol M, Almeida Filho N. Epidemiologia & Saúde. 6ª. ed. Rio de Janeiro, MEDSI, 2003. Tipo de fonte de água Rede pública: % das mortes - ligação a domicílio 20.0 - chafariz (<100m da casa) - chafariz (>100m da casa) Poço não protegido 57.1 68.0 57.6 airncross citando Estudo do SESP, 1956, citado por agner & Lanois (1959). Disponibilidade da água e % das mortes devidas à diarréia: crianças <4 meses em Palmares, PE. Impacto da desinfecção da água; resultados de uma experiência rigorosa na aldeia de São João, Ceará, Brazil Grupo Hypoclorito Placebo Qualidade da água Incidência da diarréia (CF/100 ml) (dias/ano) 70 26.9 16 000 27.7 Cairncross citando Kirchhoff LV, McLelland KE, Pinho MC (1982) J. Hyg. Camb. 94: 173-180 Mortalidade de crianças por diarréia; qualidade ou disponibilidade da água? Disponibilidade da água Canalisada em casa Torneira no lote Poço público, chafariz etc. Qualidade da água Tratada Não tratada Tipo de banheiro Vaso com descarga Fossa simples Nenhum OR (IC 95%) Adjustados χ2, gl e valor de p 1.0 1.5 (0.8-3.0) 4.8 (1.7-13.8) χ2 = 9.36 (2 gl) p<0.01 1.0 1.4 (0.3-6.1) χ2 = 0.25 (1 gl) NS 1.0 1.1 (0.5-2.3) 0.7 (0.2-2.5) χ2 = 0.92 (2gl) NS Fonte: Cairncross citando Victora CG et al. (1988) Int. J. Epidemiol. 17 (3): 651-654 Fatores de risco para Giardíase, Salvador Fator de risco Odds Ratio (IC 95%) Nº de crianças < 5 anos 2.08 (1.32-3.27) 1.97 (1.22-3.16) Lixo não coletado Esgoto aberto visível perto da casa Ausência de um banheiro 1.85 (1.16-2.96) 2.51 (1.33-4.71) Fonte: Cairncross citando Prado et al. (2003) Epidemiol. Infect. 131(2): 899-906 Fatores de risco para Hepatite A no Rio Fator de risco Risco relativo (IC 95%) 2-3 pessoas/cômodo > 3 pessoas/cômodo 1.4 (1.04-1.8) 1.5 (1.2 – 2.0) Situado em cima do morro 1.5 (1.02-2.2) Esgoto aberto visível perto da casa 1.2 (1.03-1.5) Ausência de cozinha 1.4 (1.08-1.9) Fonte: Cairnscross citando Almeida et al. (2001) Epidemiol. Infect. 127: 327-333 O Diagrama “F" Esgotamento sanitário Qualidade da Agua Coleções de água Mãos Alimentos Fezes Môscas Pés Source: Wagner and Lanoix, 1958 Quantidade da Agua Higiene das mãos Novo hospedeiro Efetividade das intervenções na redução da morbidade por diarréia % Reduction in Diarrhoeal Incidence 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Latrine Water Quantity Water Quality Hygiene Promotion Handwash with Soap Source: Esrey et al. 1991; Huttly et al. 1997; Curtis & Cairncross AISAM I Famílias individuais Comunidades inteiras 6 6 Incidencia da diarrheia Incidencia da diarrheia 7 5 4 3 2 1 0 5 4 3 2 1 0 Sem banheiro Com banheiro Sem infraestrutura Fonte: MORAES et al. Trans. Roy. Soc. Trop. Med. Hyg., n. 97, p.153-158, 2003 Drenagem Drenagem e esgotos Impacto na saúde de diferentes níveis de esgotamento sanitário na periferia de SalvadorBA (Diarréia) Incidência de diarréia em crianças menores de 5 anos de idade por grupo de estudo, nov/89-nov/9020 Nº de episódios/criança.ano 10 8 6 Sem Interv. ERD RES 4 2 0 N D J F M A M Mês Fonte: MORAES, 1997. J J A S O N Vermes intestinais em Salvador Trichuris Ascaris amarelão 100 90 80 Prevalencia (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 Sem infraestrutura Drenagem Drenagem & esgotos Fonte: MORAES et al., Trans. Roy. Soc. Trop. Med. Hyg., n. 98, p.197-204, 2004 AISAM III - Salvador Impacto das ações de saneamento em área periférica urbana de Salvador – AISAM III Prevalência de Ascaris Lumbricóides em crianças na faixa etária de 7 a 14 anos. Baixa do Camurujipe/Salvador, 1994 - 1997. 100 80 % 60 40 20 0 1994 Fonte:Projeto AISAM III, 1997. 1997 Impacto das ações de saneamento em área periférica urbana de Salvador – AISAM III Prevalência de diarreia em crianças de 0 a 5 anos. Baixa do Camurujipe/Salvador, 1993 - 1998. 50 40 % 30 20 10 0 ago/93 ago/94 Fonte:Projeto AISAM III, 1997. fev/95 mai/95 jul/96 jul/97 jul/98 Limpeza pública: Esquema das Vias de Contato Homem-lixo (em construção) Contato Direto LIXO Contato Indireto (ar, água, solo) Vetores Mecânicos (moscas, baratas, roedores, suínos) Vetores biológicos (mosquitos, roedores, suínos, moscas*, baratas*) HOMEM Alimento * Introduzido por Heller (1997) Fonte: Najm apud Heller (1997) Limpeza pública e saúde – Modelo causal Classificação ambiental das enfermidades transmissíveis relacionadas com o lixo. Impacto na Saúde Pública dos Resíduos Sólidos Coleta de Resíduos Sólidos Urbanos e Incidência de Diarréia (n=1.017) Coleta de Resíduos Sólidos Urbanos Regular Irregular Não coletado % 31,3 30,3 38,4 Episódio por criança ano**a 1,77 2,86*b 5,04** Análise de variância unidirecional usada para a comparação de incidências médias:valores de p apresentado abaixo b Significância da diferença de incidência em relação ao nível menos exposto: * p< 0,01 e ** p < 0,001. a Fonte: MORAES, 2001 (?). MODELO CAUSAL “CARÊNCIA OU PRECARIEDADE DOS SERVIÇOS DE DRENAGEM URBANA (CPSDU) - INCIDÊNCIA DE D Fig. 3 Características de Indivíduos Suscetíveis •ambos os sexos •todas as idades •instrução elementar inundações Fig. 1 incidênc picada do mosquito vetor ia infectado pelo Plasmodium de malária proliferação picada do empoçame de vetores mosquito ntos vetor infectado pela W. bancrofti empoçamentos e alagadiços incidência de filariose Características de Indivíduos Suscetíveis •ambos os sexos (maioria homens) •qualquer profissão proliferação de vetores incidência de leptospirose CPSDU disseminação das leptospiras oriundas dos esgotos e do ambiente lançamento de resíduos sólidos lançamento de no sistema de esgotos no sistema DU de DU, introduzindo leptospiras eliminadas pelos ratos que habitam as redes coletoras Características de Indivíduos Suscetíveis •ambos os sexos (90% formas graves em contato diretohomens) com águas•todas as idades •instrução elementar contaminadas CPSDU •hábitos: andar descalço, nadar em águas contaminadas subpressão na rede de distribuição de água Fig. 4 alagadiços contaminação da água pela penetração de agentes patogênico existentes nos alagadi e áreas inundadas CPSD U ingestão de água lançamento de contaminada CPSDU resíduos sólidos e esgotos no sistema de DU BACIA HIDROGRÁFICA EM ZONA URBANA lançamento de (drenagem resíduos sólidos na urbana) incidência de macrodrenagem contaminação alagadiços do solo por larvasfebre tifóide, diarréias, e inundações infestantes ou ovos hepatite A de helmintos lançamento de esgotos na macrodrenagem área onde há ocorrência áreas de empoçamentos inundáveis contato direto com solo contaminado, proliferação ingestão de ovos pela água, alimentos, contaminação da do caramujo ou mãos contaminadas áreas água e infecção hospedeiro alagadiças do caramujo por Fig. 2 área onde há ocorrência S. mansoni de empoçamentos empoçamentos CPSDU lançamento de resíduos sólidos picada do mosquito vetor e esgotos no sistema de DU infectado pelos vírus DEN 1, 2, 3 ou 4 ou amarílico incidência de dengue e febre Características de amarela urbana Indivíduos Suscetíveis •ambos os sexos •todas as idades •instrução indiferente •qualquer profissão limite da zona urbana contato direto com água contaminada incidência de helmintoses como ascaridíase, ancilostomíase e tricuríase incidência de esquistossomose Características de Indivíduos Suscetíveis •ambos os sexos •todas as idades (jovens e crianças) •instrução elementar •hábitos: nadar, brincar, lavar roupa em águas contaminadas Fig. 1 e 2 - Nascimento Jr., 1999 Fig. 3 - Luiz Abreu (documental)/ Revista ECOS (publicação do DMAE- Porto Alegre-RS) /maio 98/ n. 12/ p.21 Fig. 4 - Eduardo Tavares/ Revista ECOS (publicação do DMAE- Porto Alegre-RS)/nov. 98/ n. 13/ capa Drenagem e ascaridiose em Salvador ___________ Prevalência da infecção (%) Agregação por famílias No. de fatores de risco significantes ao nível da família Risco relativo de reinfecção (9 months) (Intervalo de Confiança 95%) Com drenagem ___Sem drenagem 66.4 47.1 NS * 5 9 1.30 (1.12-1.52) 2.35 (1.93-2.86) Correlação das cargas de ovos antes/depois 0.05 0.23 (r de Pearson; N = no. de crianças reinfectadas) (N=250) (N=166) Significancia da correlação NS * __________________________________________________________________ * p < 0.001 Transmissão no domínio público: Sujeito a externalidades O contrôle exige intervenção pública: - investimento na infraestrutura, ou - regulamento (legislação, padrões qualidade) Transmissão no domínio doméstico: Uma questão de comportamento O contrôle exige a promoção da saúde -a infraestrutura também facilita -S. Craincross citando Moraes (1997) de Os domínios doméstico e públicos Rio & Ambiente Cidade Bairro Casa Peridoméstico (rua, escola, emprego) Rede primária Rede secundária Rio & ambiente Cidade Peri- Bairro Adutora e armazenamento domestico Casa Ligação a domicílio Estação de tratamento de água Captação (rua, eescola, emprego) Casa Peridomestico Bairro (rua, escola, emprego) Cidade Estação de tratamento de água Rede primária Rede secundária Ligações a domicílio Modelos • Ambiente / Saúde / Sociedade 3 conceitos 3 modelos 3 possibilidades de entender as relações com a saúde Fonte: Tambellini, 2006. Modelo 1- O ambiente como exterioridade ao homem Homem: Agressor/agredido Abordagem: Unidisciplinar, biologicista Características: fragmentação com exclusão de partes, social como fator, antropocêntrismo. Relação com a Saúde: Modelo epidemiológico clássico para DIP Hospedeiro (homem susceptível) (doença) Agente (Espécie biológica) Ambiente (condições) Causa – efeito: linear Consequências: positivas/ negativas Fonte: Tambellini, 2006. Deterioração da saúde Modelo 2 – O ambiente como sistema ecológico Abordagem: Sistema complexo, organizado hierarquicamente e composto por elementos bióticos e abióticos em relação, dada uma fonte de energia (solar) que o percorre – fluxos alimentares/nichos. Multidisciplinar: biologia + ciências da natureza Homem: espécie animal. Lógica da Natureza. Relação com a saúde: Processo saúde/doença integrado ao ecossistema Teoria da nidalidade: doença resultante de “encontros nocivos” com a natureza, penetração do homem em nichos de espécies patógenas, falência adaptativa (parasitismo). Fonte: Tambellini, 2006. Modelo 3 – Ambiente como sistema sócio ecológico Homem: animal sócio-político Organização hierárquica: componentes sócio, técnico, biológico, físico-químico. Abordagem: Multidisciplinar/alta-complexidade/ incerteza - Fluxo de energia (alimentares) - Fluxo de relações sociais (afetivos) Lógicas em Relação: lógica da natureza e lógica da sociedade Relação com a saúde: modelo eco sócio- sanitário Fonte: Tambellini, 2006. Fonte: Tambellini, 2006. MODELO SISTÊMICO http://www.psiquiatriageral.com.br/epidemiologia/conceito.htm Rouquayrol M, Almeida Filho N. Epidemiologia & Saúde. 6ª. ed. Rio de Janeiro, MEDSI, 2003. Os modelos Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Fonte: SOUZA e FREITAS, 2006 Fonte: SOUZA e FREITAS, 2006