Sessão 28:
COMPLEMENTOS ORACIONAIS FINITOS EM DIFERENTES
SINCRONIAS DO PORTUGUÊS
SOUSA, Gisele Cássia (Unesp-Araraquara/Fapesp)
O trabalho a ser apresentado integra uma pesquisa maior sobre o desenvolvimento
histórico dos complementos oracionais finitos, cujo objetivo específico é
investigar a possível trajetória de mudança por que teriam passado essas estruturas
em português. A hipótese que se vem testando é a de que, ao longo de diferentes
períodos do português, teria havido um processo de maior integração da oração
completiva à oração matriz e, assim, conforme a proposta de Hopper & Traugott
(1993), um processo de gramaticalização dessas orações. Como a pesquisa se
fundamenta na perspectiva funcionalista dos estudos lingüísticos, para a aferição
de menor ou maior grau de integração das orações completivas, investigam-se,
além de aspectos sintático-gramaticais, fatores de ordem semântico-cognitiva e de
ordem discursivo-comunicativa. Nesta apresentação, serão demonstrados
resultados parciais da pesquisa, referentes a uma primeira investigação acerca do
comportamento das completivas finitas nos períodos conhecidos como o
português arcaico (séculos XIII a XV) e o português moderno (séculos XVI e
XVII). Esses resultados, de forma geral, apontam para um percurso de maior
integração gramatical tanto para os complementos “declarativos” (introduzidos
por que) quanto para os “interrogativos” (iniciados pela conjunção se), mas
trajetória oposta no que diz respeito à integração semântico-cognitiva desses dois
tipos de complemento oracional.
SOBRE A GRAMATICALIZAÇÃO E A DISCURSIVIZAÇÃO: OS CASOS
DE AGORA E AÍ NO PORTUGUÊS
SOUZA, Edson Rosa Francisco (IEL/UNICAMP)
O objetivo deste trabalho é analisar, sob a perspectiva teórica de autores como
Traugott & König (1991), Schiffrin (1987), Heine et alii (1991), Sweetser (1991),
Castilho (1997; 2002) e Hengeveld (2004), os diferentes valores expressos pelos
advérbios de tempo e lugar (agora, aí) no português brasileiro. Em outras
palavras, interessa-nos, no âmbito da presente pesquisa, analisar, a partir dos
postulados teóricos da Gramaticalização (GR) e da Discursivização (DC), os
diferentes papéis desempenhados pelos advérbios agora e aí nas macrofuncões
textual e interacional da língua (a luz das discussões proferidas por Hengeveld
(2003; 2004) e Schiffrin (1984)), tendo em vista seus aspectos sintáticos,
semânticos e pragmáticos. Além dessa questão, que é maior, buscamos também
discutir os limites entre GR e DC (se é que há), uma vez que a noção de DC, a
nosso ver, ainda não se encontra muito bem definida nos estudos lingüísticos,
mais especificamente nos estudos sobre mudança lingüística. A DC não é tão
autônoma quanto a GR: ela, muitas vezes, se apóia nos postulados da GR para
poder se sustentar. A DC, na literatura lingüística, é usualmente associada ao
processo de GR em razão das características que apresentam em comum, já que,
em algumas situações, a DC de um item lingüístico ocorre depois de sua
gramaticalização. A esse respeito, Martelotta et alii (1996) assinala que a DC é
tomada como um processo de mudança lingüística unidirecional, que leva o
elemento a assumir gradativamente funções mais abstratas, passando a atuar
especificamente na organização do discurso (FAPESP, 04/10894-0).
SOBRE A DELIMITAÇÃO DE UNIDADES DISCURSIVAS
PENHAVEL, Eduardo (UNICAMP)
Orientadora: Ingedore Villaça Koch
Uma das preocupações de diferentes autores que lidam com a estruturação
discursiva é a identificação, delimitação e definição das unidades em que o
discurso se segmenta, as diferentes partes, fases, etapas que se manifestam durante
sua produção/organização. O objetivo deste trabalho é, pois, aproximar o conceito
de unidade tópica (Jubran et al., 1993), definido pelo Grupo de Organização
Textual-Interativa vinculado ao Projeto de Gramática do Português Falado, da
noção de estruturação do discurso adotada pela Gramática Funcional holandesa
(Dik, 1989, 1997; Hengeveld, 1989, 1990) e da idéia de unidades discursivas
adotada por Schiffrin (1987). Trata-se de mostrar que, embora a Gramática
Funcional conceba o discurso como uma estrutura hierárquica em camadas – para
a qual a noção de unidades e subunidades discursivas é fundamental – e Schiffrin
dispense atenção especial a essas unidades ao definir Marcadores Discursivos,
essas duas abordagens não chegam a estabelecer critérios definidores dessas
unidades. Nesse sentido, a proposta do Grupo de Organização Textual-Interativa
de definir a unidade tópica com base nas propriedades de centração e
organicidade e de postular a organização tópica em dois níveis interligados, o
hierárquico e o seqüencial, constitui um passo relevante que pode ser somado às
outras duas abordagens. Considerando que as três perspectivas destacam o papel
dos Marcadores Discursivos na delimitação das referidas unidades, o trabalho
inclui a análise da função do marcador e, associado a outros marcadores e a
procedimentos prosódicos, na organização de unidades tópicas. (CNPq –
Proc.140140/2005-0)
PRESERVAÇÃO OU REDUÇÃO DE VALÊNCIA: DIFERENTES
PERSPECTIVAS PARA AS NOMINALIZAÇÕES
SANTANA, Liliane (UNESP)
A nominalização constitui um tipo particular de predicação encaixada e seus
ingredientes típicos são operadores, predicados, argumentos e satélites (Dik,
1997). Sendo obrigatórios, os constituintes da nominalização deveriam vir
expressos. Entretanto, não é o que ocorre: as posições argumentais dessas
construções dificilmente são preenchidas. Essa característica da nominalização
subsidia a hipótese defendida por Mackenzie (1985, 1996), segundo o qual a
predicação nominalizada não contém argumentos verdadeiros. Para Dik (1985,
1997), a nominalização conserva as propriedades do predicado input. Diante
dessas duas diferentes posições teóricas, tem-se um impasse: que tratamento dar
aos termos das construções nominalizadas – argumentos ou satélites? Este
trabalho busca explicações para a natureza controversa da estrutura argumental
das nominalizações mediante a análise da relação entre propriedades sintáticosemânticas decorrentes de sua estrutura valencial e a natureza informacional de
seus termos. O universo de investigação consiste num corpus constituído por
inquéritos de Elocução Formal, Diálogo entre Informante e Documentador e
Diálogo entre Dois Informantes do Projeto NURC-SP (Castilho & Preti, 1986), e
o processamento quantitativo dos dados é feito eletronicamente mediante o uso do
pacote estatístico VARBRUL. Os resultados obtidos a partir da análise do corpus
confirmam o baixo preenchimento das posições argumentais da nominalização;
entretanto, mostram que o que determina a expressão dos termos não é nenhum
fator formal. A expressão argumental e, conseqüentemente, o preenchimento das
posições estruturais dependem crucialmente da distribuição de informação dada
ou nova, ou seja, do estatuto informacional dos constituintes.
AS RELAÇÕES ESTABELECIDAS PELAS CONJUNÇÕES
CONDICIONAIS COMPLEXAS
OLIVEIRA, Taísa Peres de (UNESP/CNPq)
Este trabalho busca descrever as conjunções condicionais complexas a fim de
propor sua caracterização no português do Brasil. Para tanto, uma primeira
distinção a ser feita diz respeito ao significado convencional estabelecido pelas
diferentes locuções conjuntivas em questão. Seguindo Visconti (1996), foram
identificados, para o português escrito, três tipos de locuções conjuntivas
condicionais: (i) as hipotéticas; (ii) as restritivas positivas e (iii) as restritivas
negativas. No presente trabalho, pretende-se discutir as implicações semânticas e
pragmáticas envolvidas no uso das conjunções pertencentes a cada um dos
subgrupos mencionados anteriormente, tais como o tipo de relação lógicosemântica que se estabelece entre as duas orações e também as funções
pragmático-discursivas por elas desempenhadas. Uma vez que busca compreender
a condicionalidade segundo sua realização efetiva, este trabalho fundamenta-se na
Gramática Funcional (do Discurso) (DIK, 1989, 1997, HENGEVELD, 2004,
2005). Os dados analisados neste estudo foram coletados no Laboratório de
Estudos Lexicográficos da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP – Campus
de Araraquara.
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