I I Simpósio de Iniciação Científica - SICFIC' 2015
OS USOS DO “MAS” EM EDITORIAIS DE JORNAIS
ARANTES, T. S. R. (IC)1; DEFENDI, C. L.(CO)2
1. Licencianda em Letras-Português - IFSP-SPO. Bolsista PIBIC/IFSP – [email protected]
2. Profª Doutora do IFSP / campus São Paulo, São Paulo – SP,_(0XX11) 2763-7663
RESUMO: Este trabalho procura explorar as implicações de sentido dos usos do MAS em texto
argumentativo escrito a partir de um levantamento de usos em um corpus composto por editoriais dos
jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. Busca-se analisar se tais usos passam pelo processo
gramaticalização e como são produzidos os recursos que estruturam a argumentação de tal material.
Respaldamos teoricamente esta pesquisa em Neves (2000), Koch (2011), Castilho (1997) entre
outros pesquisadores.
INTRODUÇÃO: É importante demonstrar como se desenvolve e por que ocorre o processo de
gramaticalização do MAS por meio de um breve mapeamento linguístico e histórico. A língua, tanto
em sua forma escrita como na modalidade oral, está suscetível a sofrer mudanças linguísticas, de
forma que elas ocorrem devido às pressões externas e internas advindas do processo de
comunicação resultantes de suas utilizações realizadas pelos seus usuários. Segundo Castilho
(1997), o MAS é conhecido hoje, prototipicamente, com o valor semântico de adversidade, porém sua
origem é o advérbio magis. Ele existiu inicialmente, na escrita, com valor de comparações de
quantidade e qualidade, além do valor de inclusão de indivíduos e na fala em conjunto com a
partícula sed passou a assumir um valor adversativo (considerando a perda fonética de tal expressão
mencionada). Juntamente a isso, Neves (2000) contribui em relação à caracterização dos diversos
usos do MAS. Além dessas e outras influências exploradas a nível linguístico - textual e escrito,
também é visto nesta pesquisa como essas roupagens do item em estudo são refletidas hoje no nível
educacional, a fim de que sejam verificadas as consequências dos fatores apontados. Tais
mudanças, de uma forma ou outra, reverberam no tipo de linguagem abordada no corpus em análise,
assim como está explicitado em Andrade (2011). Mudanças de atitude linguística, por parte dos
indivíduos pertencentes à classe de prestígio, têm contribuído para que as formas orais ligadas às
classes populares sejam incorporadas ao uso diário da linguagem urbana. Assim, verifica-se a
presença de uma linguagem mais informal na mídia, participando de veículos de comunicação, como
o rádio, a televisão e a imprensa (ANDRADE, 2011, p. 57). A partir desse apoio teórico, este estudo
busca responder reflexivamente aos seguintes questionamentos: (a) Por que a concepção prototípica
do uso do MAS, como conjunção adversativa, não é o bastante? (b) Existem outros operadores
argumentativos que podem ocupar semanticamente os usos do MAS? Ao que isto pode ser
relacionado? (c) Que problemas a prototipagem dos operadores argumentativos acometidos pelo
processo de gramaticalização podem ocasionar à modalidade textual, além de, sobretudo, à
modalidade oral? (d) A nível educacional e linguísticos qual é a importância do estudo dos diferentes
usos do MAS? Que relações podem ser feitas ao corpus proposto neste trabalho?
MATERIAL E MÉTODOS: A partir de um corpus composto por 50 editoriais de jornais de grande
circulação na cidade de São Paulo (divididos em 25 da Folha de São Paulo e 25 do Estado de São
Paulo dentre o período de março a julho de 2015) procurou-se não só identificar como as
classificações de uso do MAS podem ser estruturalmente construídas, mas também, dadas as fontes
de veiculação e marcadas as ocorrências existentes, constatar a distribuição quantitativa em cada
editorial a fim de estabelecer a qual grau de importância isso poderá ser justificado. Ou seja, esta
pesquisa apoia-se em uma metodologia de análise de corpus escrito, argumentativo, representativo
da linguagem de padrão culto, voltada para um público leitor de também culto. Aos dados coletados,
foram feitas, além das análises quantitativas, as análises qualitativas, que serão apresentadas nos
resultados. Essas análises levam em conta os estudos de Neves (2000) quanto aos valores de
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sentido registrados na oralidade que o item em análise pode ter, constatadas 17 possibilidades
distintas; Koch (2011) quanto à distinção do conector textual, isto é, a mera e tão somente rotulação
como conjunção adversativa; Castilho (1997) e Martellota (1996) em relação ao panorama do
processo gramaticalização do MAS e Margarido (2010) quanto a um sentido não previsto por Neves,
o valor aditivo, isto é, um simples acréscimo de informação. Em harmonia com os objetivos deste
trabalho, começam a se solidificar os eixos que norteiam esta pesquisa em sinal de seu
aprofundamento quanto corpus inicialmente proposto.
RESULTADOS: Em relação aos dados de ocorrências do MAS registradas no corpus de editorias,
seguem as tabelas 1 e 2. Com mesmo número de editoriais, há uma diferença em relação ao número
de palavras no corpus da Folha de São Paulo (11.024 palavras) e do Estado de São Paulo (16.495
palavras).
Tabela 1: MAS na Folha de São Paulo
Tabela 2: MAS no Estado de São Paulo
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Das ocorrências coletadas, o uso mais frequente foi eliminação, seguido pela contraposição marcada
por contraste, restrição, compensação e negação de inferência. Além do valor aditivo, apontado,
segundo Margarido (2010), não constatado no estudo de usos por Moura Neves; suscitador de ditos
populares (um caso particular aqui identificado em < Justiça tarda e falha>) e, por fim, outro caso
previsto por Neves (2000), a contraposição na mesma direção..
CONCLUSÕES: Como conclusões parciais, verificamos que estas ocorrências relacionam-se em
importantíssima instância ao tipo de texto trabalhado, visto que ele é proveniente da esfera
jornalística, portanto, marcado carregadamente de argumentação e formado pelo discurso totalmente
político com teores bastante opinativos e críticos. Por isso, a maior frequência é o uso do, MAS como
eliminação, pois, tal estratégia argumentativa, em geral, diz respeito às irrealizações, isto é, às
quebras de expectativas quanto às efetivas ações, as quais a população esperaria - estendido
também, de certo ponto, por quem escreve o editorial - serem realizadas nos setores públicos pelos
políticos, dada a conjuntura política encontrada hoje. Desenvolvido em uma estrutura de texto a qual
pode ser considerada sintética - no que refere à sua extensão -, tal conteúdo assim como a
linguagem nele encontrada por diversos fatores e em um determinado espaço de tempo sofreram
mudanças até chegarem à forma enquanto discursos jornalísticos lidos na sociedade em voga.
Assim, diferentemente do estudo das conjunções abordadas na escola, em geral, a partir da
gramática tradicional (sendo o MAS visto estritamente com valor tão somente adversativo),
demonstra-se outros sentidos para este item, com vistas a ajudar na ampliação do repertório
linguístico dos alunos em suas próprias produções ou interpretações que se fizerem necessárias,
tanto orais, quanto escritas. Uma mudança desta postura influiria, logicamente, em um aumento ainda
mais significativo de acesso aos veículos de comunicação informativa, tais como, os editorais, rádios
etc a diversas classes sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- ANDRADE, M. L. C. V. de O. Língua: modalidade oral/escrita. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL
PAULISTA. Prograd. Caderno de formação: formação de professores didática geral. São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2011, p. 50-67, v. 11.
- ATALIBA, Teixeira de Castilho. Língua falada e gramaticalização. In: Filologia e linguística
Portuguesa, n. 1, p. 107-120, 1997.
- KOCH, Ingedore G. Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
- MARGARIDO, Renata. Construções (coordenadas) adversativas e construções (subordinadas)
adverbiais concessivas em português: pontos de contato e de contraste na língua em função. 2010.
180 f.. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São
Paulo, 2010.
- MARTELOTTA, Mário Eduardo, VOTRE, Sebastião Josué e CEZARIO, Maria Maura.
Gramaticalização no português do Brasil – uma abordagem funcional. UFRJ, Rio de Janeiro: 1996.
Disponível
em
<http://www.discursoegramatica.letras.ufrj.br/download/publicacao_livro_gramaticalizacao.pdf.
>.
Acesso em: 04 set. 2015.
- NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de Usos do Português. São Paulo: Ed. Unesp, 2000.
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