Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo Sandra Pereira Falcão Aspectos Motivacionais na Educação de Jovens e Adultos: Inter-relações no Ensino Médio Prof. Orientador: Ms. Marco Antonio Mangealardo Grillo São Paulo Março/2008 Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo Sandra Pereira Falcão Aspectos Motivacionais na Educação de Jovens e Adultos: Inter-relações no Ensino Médio Trabalho apresentado ao Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) de São Paulo, como parte dos requisitos para avaliação final do curso Pós-Graduação Lato Sensu – Especialização em Educação Profissional Integrada à Educação Básica, na modalidade EJA – Educação de Jovens e Adultos. Prof. Orientador: Ms. Marco Antonio Mangealardo Grillo São Paulo Março/2008 Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo Sandra Pereira Falcão Aspectos Motivacionais na Educação de Jovens e Adultos: Inter-relações no Ensino Médio Trabalho apresentado ao Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) de São Paulo, como parte dos requisitos para avaliação final do curso Pós-Graduação Lato Sensu – Especialização em Educação Profissional Integrada à Educação Básica, na modalidade EJA – Educação de Jovens e Adultos. Aprovado em ................................................................... BANCA EXAMINADORA ______________________________________________________________________ Prof. Ms. Marco Antonio Mangealardo Grillo Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo ______________________________________________________________________ Profª. Dra. Fátima Beatriz de Benedictis Delphino Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo de Almeida Buriti Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo II DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos alunos e a todos aqueles que lutam com alegria e honestidade em favor da Educação. III AGRADECIMENTOS A Deus, a seus anjos e santos e à Santíssima Virgem. A minha linda e participativa família, a qual em todos os momentos me apoiou de todas as formas possíveis minha mãe Marluce, meus filhos Ivan e André, meus irmãos Rodrigo e Giselle, meus sogros Margarida e Augusto, minha irmã de alma Vera Lúcia e em especial ao meu esposo Antonio Gonçalves Falcão, que se desdobrou de mil maneiras para que eu ingressasse nesse curso e nele permanecesse até o final. Ao meu orientador, Ms. Marco Antonio M. Grillo, pela leitura freqüente e minuciosa do corpo de idéias da monografia, pelas valiosas observações e inferências e pelo acompanhamento cuidadoso deste trabalho em todas as etapas do processo. Ao professor Dr. Marcelo de Almeida Buriti, pela voluntária e esmerada orientação metodológica do princípio ao término do trabalho e também pela motivação despertada em mim com sua didática dinâmica e seu jeito gente de ser. À professora Dra. Fátima Beatriz de Benedictis Delphino, pelas sugestões de caminhos acadêmicos e pelas histórias de vida que redirecionaram nosso olhar sobre a Educação. À Profa. Dra. Jacqueline de Blasi e à Profa. Dra. Célia Viderman, pela colaboração especial na pesquisa de campo. Aos demais professores e aos colegas do Curso de Pós-Graduação, com os quais muito aprendi. Aos diretores, gerentes e coordenadores do CEFET-SP, especialmente ao professor Laerte Moreira dos Santos, por seu intenso empenho para sanar as dificuldades advindas da implantação do curso. Às amigas e companheiras de trabalho do Curso Objetivo Paulista, pelo apoio sempre sincero. A todos os funcionários do CEFET-SP, pelo suporte no dia-a-dia escolar. IV “Um professor que tenta ensinar, sem inspirar o aluno com o desejo de aprender, está martelando em ferro frio.” Horace Mann V FALCÃO, S. P. Aspectos Motivacionais na Educação de Jovens e Adultos: Interrelações no Ensino Médio. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo, no curso Especialização em Educação Profissional Integrada à Educação Básica, na modalidade EJA – Educação de Jovens e Adultos, 2008. RESUMO Este trabalho teve como objetivo geral verificar e analisar aspectos motivacionais relativos a professores e alunos no processo ensino-aprendizagem da Educação de Jovens e Adultos (EJA), no Ensino Médio noturno. Foram sujeitos da pesquisa 171 alunos e 56 professores de 5 escolas da região centro-norte da cidade de São Paulo. A cada grupo aplicou-se um questionário a respeito do tema e, enquanto respondiam às questões, a pesquisadora observou reações e coletou depoimentos espontâneos dos participantes. A análise dos resultados evidenciou que a motivação principal dos alunos para voltar a estudar reside em „adquirir habilidades para o mercado de trabalho‟, seguida de perto por „aumentar sua criatividade‟ e „ampliar seu bem-estar mental‟. Os elementos que fortalecem a motivação discente para a permanência na EJA são, além da procura por melhoria de desempenho no mundo do trabalho, a percepção de facilidade no acompanhamento do curso e a percepção do desempenho dos colegas, quando positivo. Quanto à motivação para a aprendizagem, verificou-se que aumenta diante de atividades como: exposição de seus pontos de vista; discussão de temas contemporâneos (entre os quais os preferidos são leis, cidadania, saúde, ações concretas para o reequilíbrio ambiental, psicologia e filosofia); emprego de computadores. A motivação dos educandos amplia-se também diante de professores que se comunicam bem e trabalham com materiais diversificados, buscam novos métodos de ensino e promovem novas abordagens em sala de aula, entre outras atitudes. Quanto aos aspectos promotores da desmotivação dos estudantes coexistem: baixa freqüência, evasão, falta de infra-estrutura em sala, falta de merenda, indisciplina, ausência de conteúdos profissionalizantes (nas escolas estaduais), problemas com o horário de trabalho, cansaço, dificuldade de transporte, problemas envolvendo familiares, aulas monótonas, falta de diálogo com os professores e a direção, desvalorização da subjetividade dos alunos, falta de acolhimento relacionado à materialidade do espaço escolar, percepção da condição docente, atitudes negativas dos professores, ausência de recursos didáticos múltiplos, ausência de ludicidade e, entre boa parte dos alunos, a heterogeneidade etária. Quanto aos professores, verificou-se que a redução de sua motivação relaciona-se diretamente aos seguintes fatores: dupla/tripla jornada de trabalho (em razão dos baixos salários), ausência de material de apoio, heterogeneidade das turmas, desinteresse dos alunos pelas aulas, baixa freqüência, evasão, entre outros. A maioria dos professores, porém, mesmo diante das dificuldades apuradas pela pesquisa, mantém uma motivação positiva em relação ao trabalho na EJA. Entre as possíveis razões para isso estão os poucos problemas disciplinares, a chance de aumentar seu ganho mensal, a possibilidade de troca de experiências de vida com os alunos. Os dados evidenciam que é muito importante para os docentes a valorização de suas opiniões por parte da escola, pois isso contribui para o aumento de sua motivação e de sua auto-estima. Ademais, apontam-se no estudo possibilidades de os professores contribuírem para a manutenção da motivação dos alunos, bem como de sua própria motivação no ambiente da EJAEnsino Médio. Palavras-chave: Motivação Aprendizagem EJA-Ensino Médio VI ABSTRACT This study aimed to verify and analyse motivational aspects relating to teachers and students in the teaching-learning process of the Youth and Adults Education (EJA), in the high school night. The subject of this research were 171 students and 56 teachers of 5 schools in the region north-central city of Sao Paulo. It was applied up to each group a questionnaire about the subject and, while they answered to the questions, the researcher observed reactions and collected spontaneous depositions of the participants. The results showed that the main motivation of the students to return to study lies in “acquiring skills for the labor market ", followed closely by “increasing their creativity” and “enlarge their mental well-being". The elements that strengthen the motivation of the students to remain in the EJA are, besides the demand for improved performance in the world of work, the perception of ease in accompaniment of the course and the perception of the performance of colleagues, when positive. As for the motivation for learning, it was found that increases in the face of activities such as: exposure of their points of view, discussion of contemporary subjects issues (Among these the favorite are laws, citizenship, health, concrete actions for balancing environmental, and psychology and philosophy); use of computers. Motivation of the students is also extends before teachers that communicate well and work with diverse materials, seek new methods of teaching and promote new approaches in the classroom, among other attitudes. For promoters aspects of the not motivation of the students coexist: low frequency, avoidance, lack of infrastructure in the classroom, lack of snack scholar, indiscipline, absence of vocational contents (in state schools), problems with working hours, fatigue, difficulty transportation, problems involving family, monotonous classes, lack of dialogue with the teachers and direction, devaluation of the subjectivity of students, lack of materiality host related to the space school, perception of the teacher condition, negative attitudes of teachers, lack of resources didactic multiple, absence of amusement and, between good part of the students, the heterogeneity of the ages. As for teachers, it was found that the decrease of their motivation is directly related to the following factors: double / triple day of work (because of low wages), lack of material support, heterogeneity of classes, lack of interest of the students by the classes, low frequency, evasion, among others. Most teachers, however, even in the face of difficulties cleared in search, maintain a positive motivation in relation to work in the EJA. Among the possible reasons for this are the few disciplinary problems, the chance to increase your monthly gain, the opportunity to exchange experiences of life with students. The research data evidence that it is very important for teachers to recovery of their views by the school, because that contributes to the increase of their motivation and their self-esteem. Moreover, the study point up opportunities for teachers to contribute to the maintenance of the motivation of the students, as well as their motivation in the environment of EJA-High School. Keywords: Motivation – Learning – EJA-High School VII LISTA DE TABELAS Tabela 1. Motivos para Freqüentar a Educação de Jovens e Adultos (EJA)...................61 Tabela 2. Grau de Dificuldade quanto ao Acompanhamento do Curso..........................63 Tabela 3. Percepção do Desempenho dos Colegas..........................................................64 Tabela 4. Freqüência às Aulas da EJA.............................................................................65 Tabela 5. Motivos para Faltar às Aulas......................................................................... ..66 Tabela 6. Número de Escolas em que Lecionam os Professores Pesquisados .............. 68 Tabela 7. Nível de Motivação Docente na EJA...............................................................70 Tabela 8. Visão dos Professores quanto à Requalificação para o Trabalho com EJA.....73 Tabela 9. Problemas da Educação de Jovens e Adultos no Ensino Médio......................75 Tabela 10. Interesse/ motivação dos Alunos EJA versus Idade......................................84 Tabela 11. Disciplina/ Indisciplina na EJA- Ensino Médio.............................................91 Tabela 12. Disciplinas Diferenciadas na EJA-Ensino Médio..........................................97 Tabela 13.Aceitação de Sugestões dos Professores para o Currículo de EJA.................98 Tabela 14.Currículo EJA X Compartilhamento de Saberes.............................................99 Tabela 15.Inclusão de Temas na EJA: Sugestões...........................................................105 Tabela 16.Trabalho Interdisciplinar aplicado à EJA......................................................108 Tabela 17.Método de Ensino Inovador...........................................................................112 Tabela 18.Experiências Pedagógicas na EJA- Ensino Médio........................................121 Tabela 19.Liberdade do Professor para Propor Atividades Diferenciadas..................... .123 Tabela 20.Possibilidade do Professor Coordenar Projetos na EJA................................125 VIII LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1. Relação entre Fonte de Renda Docente e Aulas na EJA.............................69 Gráfico 2. Nível de Estresse dos Professores da EJA - Ensino Médio.........................72 Gráfico 3. Motivação para Aprender na EJA-Ensino Médio........................................82 Gráfico 4. Heterogeneidade Etária versus Aprendizagem na EJA................................86 Gráfico 5. Possibilidade de Separação dos Alunos por Faixa Etária na EJA................87 Gráfico 6. Responsabilidade pela Aprendizagem dos Alunos da EJA..........................89 Gráfico 7. Problemas Disciplinares na EJA: Visão dos Alunos quanto ao Comportamento dos Estudantes em Classe.................................................92 Gráfico 8. Influência da Indisciplina dos Colegas no Aprendizado do Aluno-EJA.......93 Gráfico 9. Disciplinas Ensino Médio Regular versus Disciplinas na EJA-Ensino Médio.....................................................................................95 Gráfico 10. Contribuição das Disciplinas da EJA para o Mercado de Trabalho..........101 Gráfico 11. Currículo versus Projeto de Vida do Aluno..............................................103 Gráfico 12. Influência do Material Didático sobre a Aprendizagem do Aluno-EJA...110 IX LISTA DE PERFIS Perfil 1. Freqüência de Uso dos Recursos Didáticos na EJA Ensino-Médio, na Visão de Alunos e Professores........................................................................... 114 Perfil 2. Recursos mais Eficientes para a Aprendizagem dos Alunos de EJA-Ensino Médio....................................................................................................... 117 Perfil 3. Estratégias Lúdicas na EJA-Ensino Médio............................................. 119 Perfil 4. Atitudes do Professor que Desmotivam o Aluno da EJA Ensino-Médio..127 Perfil 5. Atitudes / Características do Professor que Motivam o Aluno da EJAEnsino Médio..............................................................................................130 X LISTA DE QUADROS Quadro 1. Categorias e Fatores da Motivação para a Aprendizagem – Síntese dos Fatores.............................................................................................. Quadro 2. Ocupações dos Alunos da EJA-Ensino Médio........................................ 17 60 Quadro 3. Visão de Alunos e Professores quanto aos Problemas da EJA-Ensino Médio...................................................................................................... 77 Quadro 4. Os Dez Maiores Problemas da EJA-Ensino Médio.................................. 81 Quadro 5. Sugestões/Observações de Alunos da EJA quanto ao Curso.................... 132 Quadro 6. Sugestões/Observações de Professores da EJA quanto ao Curso............ XI 133 LISTA DE SIGLAS CEB/CNE Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação CEFET-SP Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo CIEJA Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos CNE Conselho Nacional de Educação EJA Educação de Jovens e Adultos GERES Geração Escolar (Estudo Longitudinal da Geração Escolar 2005) IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística PROEJA Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação [Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos SECAD Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SME-SP Secretaria Municipal da Educação da cidade de São Paulo TCLE UNESCO Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura XII SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO .................................................................... 1 2. INTRODUÇÃO 2.1. Referencial Teórico Do trabalho com Educação de Jovens e Adultos ........................................ 3 Constructos motivacionais ................................................................... 11 Condição docente, auto-estima e motivação do professor .......................... 19 Outros fatores correlacionados à (des) motivação no processo ensinoaprendizagem ................................................................................... 24 Do espaço físico da sala de aula à construção da subjetividade na EJA: mais elementos motivacionais ..................................................................... 33 Currículo e métodos: seu papel na contextualização do ensino e na motivação do aluno de EJA ................................................................................ 43 2.1.1. Objetivo Geral ........................................................................ 55 2.1.2. Objetivos Específicos ............................................................. 55 3. MÉTODO .................................................................................56 3.1. Participantes ............................................................................... 56 3.2. Material ...................................................................................... 56 3.3. Procedimento ............................................................................. 57 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................59 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES .......................................... 133 6. REFERÊNCIAS .................................................................... 140 7. ANEXOS ............................................................................... 150 XIII 1. Apresentação Ao longo de nossa trajetória acadêmica em diferentes ambientes de ensino, intensificou-se a busca por estratégias de motivação capazes de ampliar o interesse dos alunos e consolidar seu aprendizado, bem como tornar prazeroso nosso trabalho de mediadores do conhecimento. Observamos que muitos educandos e educadores, igualmente atingidos pelo desânimo, cogitam desistir ou desistem de fato de suas atividades discentes/docentes. Tal desistência é atribuída a diversos fatores ─ entre os quais se destaca a ausência de estímulos. Este trabalho origina-se, pois, na percepção de que a redução da motivação entre alunos e professores em determinados momentos do processo educativo tem se tornado cada vez mais freqüente. Daí decorre a premissa de que o sucesso educacional está vivamente atrelado à motivação, pelo que se considera necessário estudá-la com mais profundidade, em suas múltiplas facetas. Para isso, optou-se por captação de dados nas escolas que oferecem Educação de Jovens e Adultos (EJA) em nível médio. Assim, neste curso de pósgraduação, essencialmente voltado ao Ensino de Jovens e Adultos, crê-se produtivo pesquisar e cruzar dados motivacionais relativos a mestres e educandos da referida modalidade, com vista a verificação e análise de alguns constructos conhecidos. Do entrelaçamento de dados pretende-se constatar mecanismos eficientes de motivação, capazes de manter estável o número de ingressantes nas instituições, além de motivá-los a participar verdadeiramente do seu processo de ensino-aprendizagem. Convém pensar nessas duas vertentes, pois hoje se verificam duas situações conflitantes na EJA-Ensino Médio: por um lado ocorre um considerável índice de evasão em algumas escolas e, por outro lado, constatam-se salas permanentemente lotadas em determinados estabelecimentos. Tal superlotação não parece, entretanto, sinônimo de que a presença física dos alunos resulte em um aprendizado eficaz. O referencial teórico empregado como balizador do trabalho foi elaborado a partir dos autores estudados em sala de aula e/ou indicados pelos professores durante o curso, agregando-se-lhes outras referências consideradas necessárias ao longo do estudo. Considera-se, entre outras variáveis, no decorrer da pesquisa, o árduo trabalho dos mestres do segmento, os quais não raro lecionam sob questionáveis condições: à 1 noite, às vezes cansados, depois da jornada diária habitual. Deparam-se então com populações agitadas ou apáticas demais, sem contar a inevitável heterogeneidade das turmas, fatores que podem, a nosso ver, contribuir para a redução da motivação docente e discente na EJA. Desse quadro derivam alguns entraves educacionais significativos, como o baixo rendimento de professores e alunos, o desencantamento de ambos com relação ao curso e a desistência discente amiudada em algumas escolas. Na perspectiva tecida, o trabalho investiga fatores motivantes/desmotivantes para educadores e educandos da EJA, no processo ensino-aprendizagem de que são parte. Almeja-se também refletir sobre possibilidades de aprimoramento dos instrumentos que garantem ao professor a permanência saudável para si e para seus aprendentes em sala de aula. Acredita-se, pois, por intermédio do presente trabalho contribuir para o compartilhamento, entre os professores e demais envolvidos no cotidiano da EJAEnsino Médio, de caminhos funcionais a serem experimentados nessa modalidade de ensino. 2 2. Introdução 2.1. Referencial teórico Capítulo 1 – Do trabalho com Educação de Jovens e Adultos O desenvolvimento dos indivíduos é considerado por Vygotsky (2000) como resultante de um contínuo processo social e histórico. Em seus escritos, ele trata de uma importante faceta do processo ensino-aprendizagem: a interação do sujeito com o meio. Para Vygotsky, a troca constante de informações entre o indivíduo e o que o circunda permite-lhe formar conhecimentos e adquirir consciência de sua imersão nesse meio. Como Piaget (2006), seu contemporâneo, Vygotsky (2005) acredita que a construção da inteligência ocorra a partir da interação homem–meio. Entretanto para este estudioso desempenha papel fundamental ―o outro‖, co-protagonista do processo de aprendizagem, conforme o excerto ―na ausência do outro, o homem não se constrói homem‖. De acordo com sua análise, a atividade interpessoal (o aprendizado) cria zonas de desenvolvimento proximal, precedendo e impulsionando o desenvolvimento do indivíduo por meio de processos de elaboração compartilhada. [Vygotsky, 84, ap. FON e CRU, 97, p.64]. Nesse sentido, destaca Vygotsky, a educação escolarizada e o professor têm um papel singular no desenvolvimento dos indivíduos. Fazendo junto, demonstrando, fornecendo pistas, instruindo, dando assistência, o professor interfere no desenvolvimento proximal de seus alunos, contribuindo para a emergência de processos de elaboração e de desenvolvimento que não ocorreriam espontaneamente. [FON e CRU, 97] Piaget (2006) volta-se mais para aspectos relativos ao funcionamento da mente durante o processo de aprendizagem, pensando em ―como se dá a inserção de um objeto de conhecimento num sistema de relações‖ [Piaget, 89, apud FON e CRU, 97]: Segundo Piaget, isso ocorre fundamentalmente por meio da ação do indivíduo sobre o objeto. Ao agir sobre o meio, o indivíduo incorpora a si elementos que pertencem ao meio. Através desse processo de incorporação, chamado por Piaget de assimilação, as coisas e os fatos do meio são inseridos em um sistema de relações e adquirem significação para o indivíduo. [FON e CRU, 97, p.45] O trabalho com Educação de Jovens e Adultos inclui achados de ambos os teóricos, pois se trata de uma modalidade de ensino na qual a interação homem-meio é decisiva no processo de construção do saber. A promoção dessa interação deve-se dar 3 de modo tão produtivo que dela resulte motivação para que o aluno persista nas atividades escolares. Tem-se observado, no entanto, que a desmotivação no processo ensinoaprendizagem ocorre com alta freqüência em diversos ambientes educacionais. Severino (1998) aponta no sistema educativo brasileiro um aspecto digno de observação, que pode ajudar a compreender a perda de foco ou a desmotivação de nossos estudantes: o caráter fragmentário do nosso ensino. Segundo ele, ―as diversas atividades e contribuições das disciplinas e do trabalho dos professores acontecem apenas se acumulando por justaposição: não se somam por integração, por convergência.‖ [SEV,98, p.38]. Além do mais, a burocracia e outros entraves nos estabelecimentos escolares, como a ausência de recursos, o não uso ou ainda o mau uso destes recursos podem salientar a noção fragmentar da educação nacional. Conforme Severino (1998): A desarticulação fragmentária se manifesta ainda na dificuldade, reconhecidamente presente nas diversas instâncias do sistema institucional de ensino, de articular os meios aos fins, de utilizar os recursos para a consecução dos objetivos essenciais. Os recursos, mesmo quando disponíveis, não são adequadamente explorados e utilizados como meios para alcançar os fins essenciais do processo. [SEV, 98, p. 38] Entenda-se por ‗fins essenciais do processo‘ educar cada indivíduo de maneira construtiva, formadora, conscientizadora, capaz de inseri-lo verdadeiramente no mundo do qual faz parte. Se o ensino assim não se processa, pode imobilizar alunos e professores, seus sujeitos, confinando-os em uma cadeia marcada pela mera transmissão do conhecimento, como nos lembra Morin (2006), sem que saibam exatamente o que fazer com ele. A educação, porém, não é confinamento, mas canal de libertação do educando. Segundo Freire (1969), ―a educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência do saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados‖. Enquanto buscam a ‗significação dos significados‘, professores e alunos educam-se mutuamente, desde que sua busca seja norteada por uma filosofia integradora, nas palavras de Santomé (1998), para o qual no nível de planejamento do currículo e fundamentalmente em seu desenvolvimento nas salas de aula, as diferentes áreas do conhecimento e experiência ou as distintas disciplinas devem entrelaçar-se, complementar-se e reforçar-se mutuamente para propiciar este trabalho de construção e reconstrução do conhecimento da sociedade, do sistema econômico, dos sistemas de comunicação, da tecnologia, do mundo estético, dos valores, atitudes, etc. [SAN, 98, p. 227] 4 Conforme Santomé (1998), as instituições educacionais oferecem aos educandos o aparato cultural que cada sociedade acredita necessário para que seus membros possam ―realizar-se como pessoas ativas, autônomas e solidárias‖ (p. 227). Em grande parte das instituições brasileiras, contudo, tal aprovisionamento resulta deficitário, em razão de mazelas presentes nos diferentes contextos sociais e educacionais em que vivem nossos educandos. Tais contextos, é fato, derivam de transformações cada vez mais rápidas e perversas nos contextos maiores, que os abarcam. À guisa de exemplo, basta lembrar que muitos jovens brasileiros sequer puderam tentar uma vaga no Ensino Superior, simplesmente porque foram alijados da possibilidade de cursar o Ensino Médio. Pressionados pelas dificuldades socioeconômicas, enclausuraram-se em um subemprego logo após o Ensino Fundamental ou ainda sem concluí-lo, para sustentar a si e a sua família. O jovem sem emprego nem escola tende a mergulhar no desespero de sentir-se menos gente que os demais, engrossando estatísticas funestas. De acordo com o relatório ‗Jovens em situação de risco no Brasil‘, divulgado pelo Banco Mundial em 25 de junho de 2007, jovens entre 15 e 24 anos de idade representam 47% do quadro de desemprego nacional e 20% dos jovens com idade entre 14 e 15 anos não estudam nem trabalham. [REL, 07]. Diante de tais incongruências, redirecionemos o olhar para os sujeitos da EJA. Constituem-se um heterogêneo universo de indivíduos os quais, motivados por diferentes fatores, não cursaram o ensino regular na idade adequada ou foram malsucedidos nessa empreitada. Arroyo (2005, ap. GOM, 05) afirma que os alunos de EJA são, quase sempre, (...) adultos ou jovens evadidos ou excluídos da escola, antes do que portadores de trajetórias escolares truncadas, eles e elas carregam trajetórias perversas de exclusão social, vivenciam trajetórias de negação dos direitos mais básicos à vida, ao afeto, à alimentação, à moradia, ao trabalho e à sobrevivência. Negação até do direito de ser jovem. [Arroyo, 2005, ap. Soares, Giovanetti e Gomes, 2005, p.24, ap. GOM, 05] A ‗negação do direito de ser jovem‘ é um elo entre jovens, adultos e idosos que procuram a EJA, visto que uma das prerrogativas básicas de sua juventude, senão para todos ao menos para o segundo e o terceiro grupos, não foi atendida: a possibilidade de estudar no tempo certo, em escola regular, com chances de alcançar êxito na vida acadêmica e no mundo do trabalho. 5 Retornam, então, aos bancos escolares, ainda que com objetivos ligeiramente dessemelhantes, dado o novo tempo e dada a nova situação social em que se inserem. Reunidos no mesmo ambiente de ensino, vemos jovens evadidos, jovens repetentes – pressionados pela família e pela conjuntura socioeconômica no sentido de que retomem os estudos; senhores e senhoras de meia-idade os quais tentam novas chances no mercado de trabalho; idosos em busca da realização de um sonho antigo, ou da ‗redignificação‘ social, ou do preenchimento da solidão. Distintas trajetórias cruzam-se na EJA, e eis aí um aspecto norteador do trabalho relacionado a esse segmento. Oliveira (2004) discorre com propriedade acerca da diversidade de contextos e da pluralidade de indivíduos presentes nas salas de aula da EJA, ressaltando inclusive a condição do professor dedicado a tal ensino – também um ―sujeito‖ da educação: Com suas histórias de vida, que reúnem marcas identitárias semelhantes e ao mesmo tempo singulares, é como se esses sujeitos educandos e educadores compartilhassem, na relação pedagógica, o encontro de diversas experiências: o encontro da desigualdade de oportunidades; da negação do direito à educação e à formação; o encontro das jornadas duplas ou triplas de trabalho; o encontro do desemprego ou do subemprego; das lutas na cidade e no campo por uma educação de qualidade; e, conseqüentemente, o encontro da luta pela afirmação do direito na busca de construção de um projeto apropriado aos diferentes segmentos marginalizados a quem a EJA se destina‖. [OLI,04] Reiteradas as implicações várias do trabalho voltado à Educação de Jovens e Adultos, é mister refletir sobre a reconhecida necessidade de se oferecer a seus sujeitos a oportunidade real de retorno ou ingresso no mundo do conhecimento. Quando mencionamos conhecimento, não pensamos aqui a idéia de mera transmissão de conteúdos, mas a de compartilhamento de saberes com vista à compreensão do mundo, como nos sugerem Luckesi e colaboradores [LUC; BAR; COS; BAP,90], para os quais a prática do conhecimento não é privilégio de ninguém, e sim um direito de todos os seres humanos. Ao professor de EJA compete, antes de qualquer ação, ‗re-situar‘ seus alunos quanto à sua condição de existência, procurando, talvez, dissuadi-los da idéia arraigada que trazem dentro de si acerca da dificuldade ou da própria incapacidade para lidar com o saber, tantas vezes expressa por alguns educandos durante o período letivo. Cabe ao mestre mostrar aos estudantes que o conhecimento é, de fato, ―compreensão do mundo e fundamentação da ação‖, nas palavras de Luckesi [LUC et al., 90]. O reposicionamento do aluno de EJA no tocante à relação que mantém com o conhecimento torna-se, então, ponto de partida para sua reintegração no contexto 6 escolar. Para atingir tal objetivo, a primeira providência do mestre, espera-se, deve-se dar no sentido de conhecer os alunos com os quais conviverá ao longo do período letivo. Ideal será que o educador conheça o educando sem, no entanto, ―julgá-lo‖ e classificá-lo segundo critérios baseados apenas em seus próprios valores. E essa talvez seja uma tendência recorrente na EJA, se considerarmos que ainda valem as observações de Haddad e Pierro (2000) acerca do perfil de alunos que hoje freqüentam a Educação de Jovens e Adultos. Segundo os autores, há aproximadamente duas décadas, os educandos da EJA eram, em sua maioria, pessoas maduras ou idosas, de origem rural, que jamais tiveram oportunidades escolares. No entanto, conforme Haddad e Pierro (2000), a partir dos anos 80 um novo grupo social passou a ser acolhido na EJA: jovens de origem urbana, cuja trajetória escolar foi malsucedida. O primeiro grupo [adultos e idosos] vê na escola uma perspectiva de integração sociocultural; o segundo mantém com ela uma relação de tensão e conflito aprendida na experiência anterior. Os jovens carregam consigo o estigma de alunos-problema, que não tiveram êxito no ensino regular e que buscam superar as dificuldades em cursos aos quais atribuem o caráter de aceleração e recuperação.(...) Esses dois grupos distintos (...) colocam novos desafios aos educadores, que têm de lidar com universos muito distintos nos planos etários, culturais e das expectativas em relação à escola. [HAD e PIE, 00, pp. 126-127] Os autores apontam ainda, face ao quadro acima, para a perda de identidade dos programas de escolarização de jovens e adultos, estruturados em princípio para ―democratizar oportunidades formativas a adultos trabalhadores‖ e que entretanto ―passam a cumprir funções de aceleração de estudos de jovens com defasagem idadesérie‖, com o propósito de ―regularização do fluxo escolar‖ [HAD e PIE, 00, p. 127]. Diante dessas características, enumeradas no ano 2000 mas ainda extremamente atuais, recordemos Duarte e Duarte (2004), os quais afirmam que ao mestre é necessária a ampliação de sua capacidade de conhecer e relacionar-se consigo mesmo e com o outro, ―repensando seus valores, preconceitos e tabus‖ bem como os estereótipos a que se habituou, de modo a colocar sua inteligência emocional a serviço de um trabalho de compreensão e aceitação do outro. Partindo do pressuposto anterior, o trabalho do educador de EJA requer que este assuma de antemão a premissa de que o processo de exclusão já vivido anteriormente por seus alunos não se deve recriar e perpetuar na nova experiência de ensino. Convém, em suma, excluir a idéia de exclusão e incluir a idéia de inclusão, a fim de valorizar os 7 sujeitos do processo educativo [Arroyo, 2005, ap. Soares, Giovanetti e Gomes, ap. GOM, 05; OLI, 04; DUJ e DUA, 04; MOL, 04]. Apoiado no que sabe, a princípio, de seus alunos, o professor pode dar início a um ensino que valorize o conhecimento do educando e agregue a ele novos e importantes saberes, construídos a partir de uma espécie de ‗ótica coletiva‘ proporcionada pela troca de experiências entre educandos e entre educador e educandos. MOLL (2004) assinala a importância da prática educacional orientada nessa direção: (...) a temática da educação popular retoma o fôlego de décadas passadas e ganha corpo num debate que dessacraliza os saberes ditos acadêmicos, buscando ressignificá-los à luz dos saberes da vida cotidiana. Saberes de homens e mulheres que, à margem dos saberes formais, organizam e vivem a vida (...) enfrentando as adversidades, produzindo culturas e afirmando identidades carregadas de tradições e de criações. [MOL, 04a, p. 6] MOLL nos fala ainda de ―uma escola que se faz e refaz considerando as interlocuções humanas que lhe vão traçando o caminho‖ [MOL, 04b, p. 6]. Vale ressaltar que interlocuções na EJA só se tornam possíveis se houver empenho do educador em quebrar as barreiras que impedem seus pupilos de expressar-se livremente. Importante se faz, então, criar e oferecer-lhes meios diversificados os quais os auxiliem a atingir tal meta, mesmo porque sem oferecer aos alunos a liberdade de diálogo [FRE, 69, 87 e 07; JES, 01; CAS, 04] não será possível ao professor traçar um caminho educacional condizente com as necessidades de seus educandos. Gerar estratégias educacionais compatíveis com a realidade do aluno requer, conforme analisamos anteriormente, do mestre um mergulho no universo do estudante, de maneira que, ao emergir, traga consigo motivação para um trabalho bem-cuidado, eficaz. Se, no entanto, o próprio educador estiver inserido num contexto socioeconômico e educacional desfavorável, possivelmente semelhante ao dos alunos, há que se pensar na relevância de cursos de formação que o auxiliarão a repensar sua trajetória docente, no sentido de alterá-la para melhor. É preciso rever os cursos de formação de professores, para que os preparem para atuar na nova realidade da educação básica. É fundamental que os educadores possam formar-se adequadamente e aperfeiçoar-se continuamente, pois as atividades que cabem a eles (planejamento, metodologia de ensino, avaliação, seleção, contextualização e adaptação de conteúdos, construção do conhecimento, formação da consciência crítica, entre outras) requerem preparo e senso crítico. [CAS, 04] O docente de EJA-Ensino Médio pode ser um indivíduo de considerável cultura e razoável poder econômico que resolveu dedicar-se, solidariamente, à causa da educação para todos. Como pode ser, também, um estudante em início de carreira ou 8 um professor pouco preparado, mal remunerado, em busca de uma complementação de sua renda mensal ─ ou, ainda, um mestre bem preparado em busca da mesma renda adicional. Da pluralidade dos alunos e dessa multiplicidade de sujeitos possíveis educadores da EJA [OLI,04] advém o imperativo de contribuir para o aprimoramento de sua formação. A idéia de exclusão, percebe-se, ronda também diversos professores e precisa, de algum modo, ser banida. Iniciativas recentes demonstram preocupação das autoridades em incentivar a formação contínua dos professores em algumas esferas do ensino, o que pode caracterizar-se como reforço motivacional para os docentes: O governo do Estado de São Paulo lança nesta segunda-feira [20/8/2007], por meio da Secretaria de Educação, um plano de dez ações para atingir metas na área até o ano de 2010. Entre as metas está (...) a realização de um programa de formação continuada para professores, coordenadores e diretores nas 5.300 escolas estaduais. [GOV, 07] A esfera federal, com seus cursos de Formação de Professores [CEF, 07] nos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), e a municipal, com a valorização do treinamento/aperfeiçoamento docente ─ a formação contínua ─ na cidade de São Paulo [SME, 07] também se encaminham para as exigências da nova realidade local e global. Abolida ou reequacionada a idéia de ―exclusão coletiva‖ que gravita em torno da Educação, muito mais na Educação de Jovens e Adultos, pode-se então passar à reflexão sobre estratégias motivacionais facilitadoras do ir-e-vir de saberes entre os sujeitos desse processo. Não nos parece adequado oferecer aos alunos de EJA o mesmo ensino que pode tê-los afastado dos bancos escolares em outros tempos. Novos métodos, novas estratégias devem ser traçados, a fim de que a evasão seja mínima e o aproveitamento do curso seja máximo. Para fazer frente ao desafio apresentado, novos e antigos educadores podem valer-se do que a prática diária revela de mais eficaz nesse segmento, e eis de novo Moll (2004c), quando, compilando idéias de educadores da EJA gaúchos, dá-nos a conhecer um dado fundamental: O que a prática nos revela é que nossos alunos precisam entrar em contato com conteúdos e atividades que favoreçam a aquisição de conhecimentos através da observação, da análise, da comparação, da generalização, da reflexão e do pensamento crítico, visando sempre ao desenvolvimento de ações criativas. [Borges e Corrêa, ap. MOL, 04c] 9 Criativos devem ser, igualmente, os meios empregados pelo professor para manter atentos seus discípulos, especialmente se advindos de exaustiva jornada de trabalho. Freitas, Costa e Faro (2003) afirmam que ―a motivação dos alunos está intimamente relacionada à postura e às práticas pedagógicas adotadas pelo professor na sala de aula‖ (p.66). Surge a indagação: que fazer para motivar os alunos, de modo a desligá-los da apatia e plugá-los na tomada do ensino participativo? Tarefa das mais relevantes impõe-se ao mestre de EJA, uma vez que a possível redução da motivação dos alunos tanto pode decorrer do cansaço, da fome, quanto da espera de um ensino tradicional [FRC, COS, FAR, 03], no que de pior a expressão pode lembrar: o aprender a partir de uma única postura, segundo a qual o mestre tem de oferecer o conhecimento pronto, acabado [FRE, 69]. Assim, ninguém precisará pensar a respeito dele. Outra incumbência emerge: dissuadir os alunos de que pensar ‗dá trabalho‘, convencendo-os a livrar-se das amarras representadas pela ausência de reflexão, a fim de que obtenham a chamada aprendizagem significativa. Para além da memorização pura e simples de conceitos, a aprendizagem significativa tem como principais características: a memorização abrangente dos conteúdos estudados; uma reflexão crítica do aluno, promotora de conexões entre conceitos-base aprendidos e novas informações, e a funcionalidade, de acordo com Fita (2006a). Este autor define a funcionalidade da seguinte maneira: ―o que o aluno aprende serve-lhe para resolver novas situações, novos problemas e para realizar novas aprendizagens‖ (p. 70). Estamos diante de um elemento importante do processo motivacional: a percepção de utilidade da aprendizagem. Tal percepção, é bem verdade, pode-se dar exclusivamente no intuito de obtenção de recompensas materiais, porém não é este o seu retorno mais importante. Há outros, merecedores de recordação. 10 Capítulo 2 – Constructos Motivacionais ―A motivação ou o motivo é a força que coloca a pessoa em ação e que acorda sua disponibilidade de se transformar. É aquilo que nos move, que nos leva a agir e a realizar alguma coisa‖ [FRC, COS e FAR, 03]. É ―o que dá força psíquica, põe alguém em prontidão para a ação‖ [HOU, 01]. Conforme Bzuneck [2000, ap. MOC 07, p. 3], ―a motivação, ou o motivo, é aquilo que move uma pessoa ou que a põe em ação ou a faz mudar de curso‖. No campo educacional, a motivação é promovida por toda e qualquer ação afirmativa, todo e qualquer esforço voltados para a aprendizagem significativa. Fita (2006b) lista quatro grandes classes de motivação para a conduta humana e para a conduta de aprendizagem. Uma delas é motivação voltada para a conquista de recompensas externas, há pouco mencionada, a menos interessante do ponto de vista educacional. Seguem-se outras três, as quais podem ser muito úteis na definição de estratégias adequadas ao Ensino de Jovens e Adultos: 1. Motivação relacionada com a tarefa ou motivação intrínseca. A própria matéria de estudo desperta no indivíduo uma atração que o impulsiona a se aprofundar nela e a vencer os obstáculos que possam ir se apresentando ao longo do processo de aprendizagem. O aluno encontra reforço no processo à medida que avança (...) 2. Motivação relacionada com o eu, com a auto-estima.(...).Quando se tenta aprender e se aprende, vamos formando uma imagem positiva de nós mesmos que sem dúvida nos ajudará a realizar novas aprendizagens, já que gerará em nós uma confiança e uma auto-estima positiva que nos impulsionarão a seguir adiante. 3. Motivação centrada na valorização social (motivação de afiliação). Satisfação afetiva que produz a aceitação dos outros, o aplauso ou a aprovação de pessoas ou grupos sociais que o aluno considera superiores a ele. [FIT, 06b, pp.78-79] Jesus (2001) discorre sobre um aspecto que considera bastante relevante no que tange ao uso das estratégias para motivação dos alunos. Segundo o autor, quando os estudantes apresentam uma motivação muito baixa para as atividades escolares, a utilização de recompensas pode dar resultado, numa fase inicial. Entretanto, ―quando os alunos começam a envolver-se nestas atividades, as estratégias deverão ser diferentes , incentivando a sua motivação intrínseca‖. [JES, 01, p. 40] 11 De acordo com Penna (2001), aplica-se às relações entre motivação e aprendizagem a drive reduction theory (teoria da redução da motivação), proposta por Murray. Segundo este autor, a extrema complexidade do comportamento humano demanda aos estudiosos da motivação trabalhar com o maior número possível de constructos, sendo a necessidade o constructo central. A ele relacionam-se outros [Murray, 1967, ap. PEN, 01], notadamente ligados à questão da emoção, porém a pedra basilar do processo reside na satisfação progressiva da gama de necessidades de cada indivíduo, que se iniciam na categoria pulsional [GOD,01]. Conforme Penna (2001), ―a referência a drives ou impulsos revela-se presente em todas as obras dedicadas à explicação do processo de aprendizagem‖ (p.28). Além disso, o autor afirma que como nem sempre o mesmo estímulo produz a mesma resposta, torna-se importante o surgimento do conceito de motivação ou drive, para elucidar algumas questões. ―Drive, no sentido amplo, significa tendência ou necessidade. No sentido empregado pela chamada Drive Theory, são forças internas que buscam manter a homeostase ou o estado ótimo do mecanismo corporal‖ [GOD, 01, p.23]. Outro prisma relevante acerca das pesquisas sobre motivação está contido também em Penna (2001): o autor relembra-nos Leeper [1948, ap. PEN, 01], o qual, em seus estudos, consolida a idéia de que ―a emoção se mostra como forma inequívoca de motivação‖ (p. 89). Estabelece-se então um vínculo inconteste entre a aprendizagem e a afetividade presente (ou não) no processo ensino-aprendizagem. A observação atenta do comportamento de seus alunos dá ao professor pistas importantes sobre a criação e/ou aproveitamento de métodos de ensino que tenham como pressuposto a satisfação de um ou de vários dos aspectos ligados à motivação. Assim, convém que no decorrer das aulas o professor lance mão de todos os artifícios possíveis para promover o interesse dos alunos pelo curso, sem, no entanto, limitar-se ―à idéia da regulação do comportamento dos alunos em cada lição ou exercício, com vistas a resultados formais, e, sim, à direção de todo o processo educativo‖ [LOU, 02, p.138]. Lourenço Filho (2002) assevera ainda que ―a motivação e a aprendizagem aparecem como aspectos de um só e mesmo processo, que é o do ajustamento individual‖ (p.141). Maslow [1954, ap. LOU, 02, p. 138], considerando as categorias de necessidades biológicas, de segurança, afeição, auto-estima e auto-realização, sugere 12 um ―esquema de gradação de motivos‖ (p.149, grifo do autor), conforme a ilustração abaixo: Figura 1 – Pirâmide de Maslow A hierarquia de necessidades de Maslow [1954, ap. DOM, 07] constitui-se numa divisão hierárquica, em que as necessidades de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto. Cada indivíduo tem de ―escalar‖ uma hierarquia de necessidades para atingir a sua auto-realização. Com o auxílio desse constructo, entende-se que das necessidades primárias há uma evolução no sentido de apego ao grupo, ou de projeção dessas mesmas necessidades em valores do grupo, o que leva o indivíduo a integrar-se nele e a tudo fazer para que nele encontre correspondência e consideração. Por esse mesmo movimento, criam-se condições para valoração do indivíduo por ele próprio, ou autoestima, que provém da crescente definição de sua posição em relação aos demais componentes do grupo, e conseqüente definição de seu papel social, ou status. Dá-se um desenvolvimento da capacidade da pessoa perceber-se a si mesma, como entidade autônoma, dotada de auto-regulação ou determinação própria, e, nesse empenho, estende a compreensão dos meios e fins do comportamento que possa desenvolver, dirigindo-o por propósitos e níveis de aspiração cada vez mais amplos e extensos no tempo, em que os valores sociais e existenciais formam uma delicada trama. [MAS, 1954, ap. LOU, 02, p.149] 13 Ora, tal trama somente será tecida na Educação, especialmente a de Jovens e Adultos, se além do educando também o mestre dispuser de motivação para criar instrumentos e/ou buscar e fazer uso deles à luz das ferramentas motivacionais conhecidas. Segundo Fita (2006), Se um professor não está motivado, se não exerce de forma satisfatória sua profissão, é muito difícil que seja capaz de comunicar a seus alunos entusiasmo, interesse pelas tarefas escolares; é, definitivamente, muito difícil que seja capaz de motivá-los. [FIT, 06c, p. 88] Não se pode esquecer também de que o professor é ele mesmo ―objeto de conhecimento de seus alunos‖. Para além da comunicação meramente verbal, ele comunica ―maneira de raciocinar, estilo cognitivo, personalidade, atitudes, valores.‖ [FIT, 06c, p. 92]. Antunes (2007) complementa a idéia, discorrendo sobre a comunicação nãoverbal, a qual podemos considerar um importante elemento de motivação no processo ensino-aprendizagem. Em seus estudos ele observa que ―em uma explanação oral, discurso ou em uma aula expositiva, (...) apenas 35% do que é captado pelo ouvinte advém das palavras pronunciadas‖ (p. 43). O que realmente ajuda a aprender está na empatia que nós, professores, estabelecemos com nossos educandos, por meio do afeto e das emoções as quais demonstramos à classe. Nossa forma de apresentação gestual externaliza, juntamente com as palavras, nosso entusiasmo e nossa alegria ao ensinar. A mais interrogativa das aulas, o mais dialético dos discursos, a mais curiosa descoberta científica, a mais atraente e desafiadora questão matemática, com certeza se fragiliza se apresentada por voz cansada e monótona, por postura prisioneira de uma rotina que jamais se quebra, por corpo emudecido, que certamente empobrece a força da argumentação. [ANT, 07, p. 43] Fita (2006c) confirma que ―a própria pessoa do professor pode ser uma fonte de motivação importantíssima‖ (p. 92), porque o relacionamento estabelecido por ele com seus alunos é capaz de gerar ―confiança e um aumento da atenção, que são condições indispensáveis para a aprendizagem‖ (p. 92). Retornando aos aspectos gerais do tema, observamos que diversos autores discorrem sobre os dois tipos de motivação existentes, já mencionadas em excerto anterior: a extrínseca e a intrínseca. Lieury e Fenouillet (2000), seguindo a abrangente teoria da avaliação cognitiva de Deci e Ryan [ap. LIE e FEN, 00] assim as descrevem: ―a motivação extrínseca é a necessidade de reforços: dinheiro, prêmios, notas...‖, enquanto ―a motivação intrínseca é a atração da atividade em si mesma (...), é a procura de uma atividade pelo interesse que propicia de per si; corresponde ao interesse, à 14 curiosidade, isto é, ao sentido corrente da motivação‖ − a qual é, diferentemente do que se costuma imaginar, diminuída por reforços como prêmios diversos ou dinheiro.[LIE e FEN, 00, pp.46 e 139]. Um dos aspectos estudados por esses pesquisadores denomina-se ‗a aprendizagem do desânimo‘, a qual ocorre quando uma sobrecarga ou uma exigência exagerada é colocada diante do aluno, produzindo nele um desânimo para aprender. A resignação aprendida, denominada desmotivação por alguns autores, aparece quando o estudante não percebe mais a utilidade de sua ação para resolver o que lhe é proposto em sala de aula. [LIE e FEN, 00, p. 61] Excetuando-se o caso da resignação, a dificuldade de aprendizagem ou a nãoaprendizagem, conforme Lieury e Fenouillet (2000, p .61), é freqüentemente atribuída a causas externas, enquanto os bons resultados, sempre que ocorrem, são atribuídos a causas internas. Os autores sugerem ─ para o combate à desmotivação para a aprendizagem ─ uma ‗pedagogia da valorização‘ do trabalho do aluno, a fim de não o conduzir à sensação de inaptidão ou incompetência para os estudos. Essa sensação de inaptidão/incompetência para os estudos é-nos lembrada vez ou outra, também na EJA, por alguns educandos que se consideram pouco inteligentes e/ou inabilidosos. Deve, no entanto, ser combatida, na tentativa de elevar o grau de motivação do aluno para a aprendizagem, pois ―aqueles que se consideram de modo generalizado pouco inteligentes e habilidosos não conseguem resolver tarefas com a motivação necessária‖ [FIT, 06c, p. 32]. No intuito de valorizar o esforço dos educandos, cabe ao professor envolvê-los com as tarefas, sem avaliação ou competição social, na visão de Lieury e Fenouillet (2000). Tal perspectiva permite, segundo os pesquisadores, a construção da meta de aprendizagem, em oposição à chamada meta de desempenho, que corresponderia a uma motivação extrínseca. Meta de aprendizagem é um objetivo orientado para o domínio de uma tarefa por si mesma, sem espírito de avaliação ou de competição. O aluno está satisfeito com o progresso de seus resultados; vê os erros como informações para melhorar e não como sanções. A meta de aprendizagem corresponde a uma motivação intrínseca ou a uma orientação para a tarefa. [LIE e FEN, 00, p.138]. Como deve, então, proceder o professor de EJA a fim de alcançar meta tão relevante? Precisa também estar motivado, a despeito dos empecilhos que o movem no 15 sentido inverso da ação, e, além disso, convém que conheça estratégias motivacionais variadas, das quais possa dispor em distintos momentos do processo educacional. A motivação tornou-se um problema de ponta em educação, pela simples constatação de que, em paridade de outras condições, sua ausência representa queda de investimento pessoal de qualidade nas tarefas de aprendizagem. Alunos desmotivados estudam muito pouco ou nada e, conseqüentemente, aprendem muito pouco. Em última instância, aí se configura uma situação educacional que impede a formação de indivíduos mais competentes para exercerem a cidadania e realizarem-se como pessoas, além de se capacitarem a aprender pela vida afora. [Nicholls, 1984; Stemberg, 1998, ap.BZU, 01, p.13]. Capacitação para aprender, realização como pessoa, competência para exercer a cidadania estão fortemente vinculados ao trabalho docente a ser desenvolvido na Educação de Jovens e Adultos. Destarte, é mister refletir sobre meios que conduzam, efetivamente, a resultados satisfatórios no decorrer e ao cabo desse processo. O reforço da motivação para a aprendizagem escolar torna-se fundamental para o trabalho eficiente com os alunos de EJA e, conforme Pintrich e Schunk [2002, ap. SIQ e WES, 06], ―uma definição de motivação deveria englobar (...) a noção de ‗processo‘,ou seja, a motivação é um processo e não um produto, dessa forma não pode ser observada diretamente, mas pode ser inferida a partir de alguns comportamentos‖ (p.21). Variáveis como a curiosidade, o desafio, o controle sobre a ação e a fantasia destacam-se como fontes geradoras da motivação para a aprendizagem, de acordo com Lepper, Sethi, Dialdin e Drake [1997, ap.SIQ e WES, 06, p.22]. Observe-se a estreita relação dos itens assinalados com diferentes condições emocionais dos educandos. Tais estados emocionais têm sido pesquisados ultimamente, na tentativa de elucidar os mecanismos vinculados à aprendizagem significativa. De forma geral, os estudos realizados sobre motivação para a aprendizagem permitiram apontar uma série de fatores que podem afetar a motivação do estudante: as expectativas e estilos dos professores , os desejos e aspirações dos pais e familiares, os colegas de sala, a estruturação das aulas, o espaço físico da sala de aula, o currículo escolar, a organização do sistema educacional, as políticas educacionais, e principalmente as próprias características individuais dos alunos [Deci, Spiegel, Ryan, Koestner e Kauffman, 1982; Decy e Ryan, 1985, Pintrich e Schunk, 2002 e Marquesi, 2004, apud SIQ e WES, 06, pp. 22-23] De acordo com as autoras supracitadas, o estudo da motivação para a aprendizagem abarca o entendimento de um complexo sistema de fatores que se interrelacionam e operam em conjunto na motivação do aluno. 16 Godoi (2001) elaborou um quadro-síntese das categorias e fatores da motivação para a aprendizagem, subdividindo-os em três grandes grupos: Categoria Pulsional, Categoria Cognitiva e Categoria Social. A Categoria Pulsional diz respeito ao que seria uma espécie de ‗motivação inconsciente‖, advinda da pulsão, ou seja, do impulso do indivíduo. De acordo com a autora, os motivos se aproximam mais das pulsões pela indeterminação comportamental e correlativa elasticidade de concretização. ―O comportamento humano é, portanto, dinamizado por pulsões que, de forma mais abrangente, se caracterizam como motivos‖ [GOD, 01, p.100]. A Categoria Cognitiva, por sua vez, diz respeito às relações do indivíduo com o conhecimento, enquanto a Categoria Social emerge de suas relações com os demais indivíduos. Há, na verdade, conforme Godoi (2001), ―uma imbricação constitutiva entre a motivação pulsional e cognitiva em direção a um conhecimento que se constrói no social. Poderíamos dizer longamente que, diante da desequilibração (provocada pela falta-em-ser) há uma mobilização do afeto, da pulsão e da estrutura cognitiva do sujeito para aprender, para restabelecer o equilíbrio e construir, através dos outros, o conhecimento‖ (p.132). Quadro 1 – Categorias e fatores da motivação para a aprendizagem - síntese dos fatores Categoria Pulsional Categoria Cognitiva Categoria social • auto-estima • experiência de competência • afiliação • autoconfiança • preservação do eu • objetivos de desempenho • domínio do conhecimento • desenvolvimento de habilidades • desenvolvimento de atitudes • percepção do valor da tarefa • participação • reconhecimento • objetivos pessoais • diversidade da tarefa • suporte familiar • percepção dos colegas • desejo de autonomia • desejo de desenvolvimento • desafio • curiosidade • amor pelo conhecimento • desejo de exploração das situações • envolvimento emocional com a tarefa • desejo de poder [Fonte: GOD, 01, p. 142] • aceitação pessoal • prazer de estar com outros • condescendência • percepção do professor • influência da instituição acadêmica • medo da incompetência O envolvimento do estudante nas atividades escolares requer, pois, que o maior número de fatores positivos convirjam para ampliar sua motivação para a aprendizagem. Nessa perspectiva, urge uma reflexão em torno do universo motivacional do professor, o qual, por contingência do ofício, torna-se vetor da motivação acadêmica. 17 Pesquisa recente do IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística), publicada no jornal O Estado de São Paulo em 6/11/2007, da qual participaram 500 docentes, revela que apenas ―21 % dos professores brasileiros que trabalham em escolas públicas estão totalmente satisfeitos com a profissão‖ (p.1). A instabilidade financeira é um dos principais fatores que levam ao descontentamento da categoria com o trabalho. Apenas 32% dos professores afirmam tê-la conquistado, mas 90% deles a consideram condição fundamental para ter boa qualidade de vida. Segundo o professor Celso Favaretto, da Faculdade de Educação da USP, que teve acesso aos dados, muitos professores da rede pública têm de dar aulas em duas ou mais escolas para receber um salário razoável. "Além disso, as condições de trabalho são precárias, há salas de aulas lotadas. Essa insatisfação do professor com o trabalho está relacionada com uma má gestão de todo o sistema escolar." [IBO, 07]. Além dos dados acima, chama a atenção o comentário de Favaretto (2007) sobre a motivação dos docentes: o mestre observa que há uma contradição aparente no discurso dos professores: ―90 % afirmam ter boa didática de ensino, mas 70% dizem ver na falta de motivação dos alunos o principal problema em sala de aula‖. Acredito que afirmar ter boa didática de trabalho seja um discurso de defesa do professor, mas, se realmente tivessem, não teriam alunos desmotivados. Esses docentes possivelmente também não tiveram boa formação inicial. [FAV,07]. A pesquisa comprova a constatação do especialista: 64% dos professores avaliam a formação que tiveram como boa ou excelente. Contudo, 49% admitem que essa mesma formação os preparou pouco para a atuação em sala de aula. [IBO, 07] No próximo capítulo, trataremos de outros prismas relevantes os quais envolvem a condição de professor no Brasil. 18 Capítulo 3 – Condição docente, auto-estima e motivação do professor O professor, no Brasil contemporâneo, tem sido não raro marcado por fatos praticamente destrutores de seu valor como profissional e como pessoa. Submetido a questionamentos de ordem muito íntima sobre ‗o que estaria fazendo ali, naquela escola, naquela sala, com aqueles alunos‘, o mestre brasileiro assume variadas posturas, não necessariamente todas benéficas a si e a seus educandos. Uma das atitudes usuais é abater-se, vitimado pela redução gradual ou repentina da auto-estima e da motivação para ensinar. E isso tem um fundamento: os professores, de maneira geral, estão se sentindo desamparados. Para reforçar tal idéia, lembremos Tavares (2001), quando afirma estarmos nós, professores, quase sempre buscando, ainda que instintivamente, uma solução mágica para resolver uma situação profissional problemática, que é o desinteresse do aluno pela aprendizagem, agregado à ausência de recursos materiais e financeiros e ao excesso de alunos por classe. Somado a isso, pode-se adicionar um outro fator, que é a formação inicial precária do professor, formação esta calcada num sistema fragmentário de ensino, onde ainda prevalece o esquema tradicionalista de transmissão de conhecimentos. [TAV, 01] Segundo Voli (2002), na relação professor-aluno está presente algo muito mais profundo do que o caráter acadêmico e de transmissão de conhecimentos, que envolve as características psíquicas de ambos. Assim, quando atua no nível consciente, o professor (...) tende a responder, em classe, a seu senso de responsabilidade e motivação positiva. Isso parte do princípio geral que assumimos, ainda que muitos não o compartilhem, de que as pessoas têm sempre uma motivação positiva para fazer o que fazem. Às vezes, contudo, por desconhecê-los, não utilizam os meios adequados para levar a cabo essa motivação da maneira mais satisfatória.[VOL, 02, p. 14] Ora, os aspectos assinalados fazem parte de um rol importante, sobre o qual convém deter o pensamento. Nas escolas públicas brasileiras, e até mesmo em algumas particulares, domina a idéia entre os professores de que o alunado pouco se interessa pelos estudos, mas a recíproca existe. Nela residem algumas falhas do processo educacional as quais normalmente são atribuídas aos estudantes. Se há desestímulo do professor, se há desinteresse pelo progresso do aluno e por seu desenvolvimento acadêmico e profissional, retornamos à ―repensagem‖ da profissão professor, inclusive no que tange à sua auto-estima [VOL, 02]. Se nas áreas de atuação ligadas ao fazer econômico cresce a tendência de atualização profissional e crescimento pessoal, o que ocorre com o professor-padrão brasileiro? Continua a seguir a lei do menor esforço? Não dispõe de tempo/condições financeiras para renovar seu 19 conhecimento? Continua a esquivar-se de quaisquer ações que representem mudança no status quo, tornando-se fator de inércia ? [PIN,07] Focando esse último aspecto, reflita-se sobre o sentido das críticas dos professores estaduais paulistas (e de seus dirigentes sindicais) a uma das iniciativas recentes do Governo do Estado de São Paulo de estimular o trabalho docente sério. O jornal Folha de São Paulo, em artigo recente [NOS, 07], trouxe diretrizes da secretária de Educação do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. Segundo ela, os mestres devem receber um adicional em seus salários conforme o desempenho de suas turmas, verificado por meio de exames como Saeb, Prova Brasil (avaliações federais) e Saresp (estadual). A secretária afirma que hoje existe um adicional pago por assiduidade aos professores, porém independe do efetivo aprendizado dos estudantes, por isso ―é preciso olhar para o desempenho dos professores, com incentivo à carreira‖. Dessa maneira, afirmou, uma de suas propostas é a de que o professor que melhorar o desempenho dos estudantes e faltar pouco às aulas ganhará mais. [NOS, 07] Embora a lógica nos diga que se deve considerar positiva, e portanto motivadora, a idéia de remunerar os professores de acordo com o desempenho dos alunos em provas especialmente preparadas para a checagem de seu aprendizado, tal idéia encontra resistência entre os mestres. Acuados pelo progressivo descaso com que tem sido tratada nos últimos anos a educação pública nacional, muitos professores abstêm-se de refletir acerca dos aspectos positivos de cada ‗pacote educacional‘. Dimenstein (2007) afirma: Fecho com os dirigentes dos sindicatos quando eles dizem que a culpa da baixa qualidade de ensino não pode recair apenas em cima dos professores. Quem freqüenta escolas públicas vê salas empanturradas, a violência, os baixos salários, a dificuldade de dar reforço aos que não aprendem. Não é à toa que tantos professores fiquem tão doentes, com crises de ansiedade e depressão. Considero um crime o massacre desses profissionais que, sem estímulo, dificilmente serão exemplo de paixão pelo aprendizado. [DIM, 07, p. C8] O mesmo autor, no entanto, não deixa de observar que em meio a esse caos, há muitos profissionais que se destacam pelo compromisso com seus alunos esses certamente não têm motivo para se incomodar com avaliações e reconhecimento aos mais esforçados. A revolta contra o mérito é a revolta dos medíocres. [DIM, 07, p. C8] Nessa linha, além de uma política salarial decente, urge empenho na quebra da hibernação em que mergulha ─ excetuando-se louváveis exceções − o corpo docente nacional. Dispensável afirmar que se o indivíduo não se modifica, por comodismo ou 20 aversão ao novo, pouco ou nada interfere no universo ao seu redor. O aluno, inteligente que é, percebe a estagnação e/ou o pouco empenho do professor e decide a partir daí seu procedimento em sala e fora dela no que tange aos assuntos educacionais. Desmotivação desmotiva. Professor motivado, mesmo carente dos mínimos recursos, maximiza sua criatividade e é capaz de realizar proezas educacionais. Portanto, é urgente valorizar o ofício de professor. O governo, as escolas e os próprios professores devem considerar isso o objetivo primordial. Caso contrário, encontraremos professores cada vez mais desmotivados que não serão psicologicamente capazes sequer de abordar o problema da motivação de seus alunos. [FIT, 06c, p. 90]. Eficiência dependeria, então, apenas da motivação do mestre? Não só, mas também. Tornou-se consenso admitir que torrentes deseducativas assolam nossos jovens, os da EJA inclusos, porém ainda não é consenso que estas precisam ser combatidas em conjunto por alunos, pais, professores, os cidadãos todos. Quando falamos de torrentes deseducativas, incluímos aí o sistema econômico desestabilizador da noção de bem-estar, de família, de segurança; a mídia promotora de pseudo-opiniões e ‗pseudomodos‘ de vida feliz, e a própria escola, senão reprodutora das mazelas do sistema, passiva diante delas. Cabe ainda lembrar a urgência que nossa escola tem de modernizar-se ─ não no sentido retórico [CIT, 04], o de modernização-clichê,─ para prender a atenção dos alunos, e, concomitantemente, conduzir seus educadores à fuga de uma educação massificada, meramente reprodutora dos sistemas de dominação presentes no globo, como preconiza Frigotto (1995). Embora em alguns estabelecimentos de ensino gerem receio as possíveis reações de seus sujeitos quanto à reorganização do estado de coisas, por apego à reprodução da mesmice [ROC,07], urgem a reflexão permanente e a ação afirmativa de diretores, professores e funcionários em prol dessa causa. Entretanto a luta pelo reerguimento da escola e de seus sujeitos não deve ser encarada como uma luta mantenedora do que por si afasta os alunos da instituição. O embate deve-se dar primeiramente no sentido de repensar as estratégias utilizadas para manter o aluno voluntária e prazerosamente na escola, motivando-o ao longo do processo. E isso é possível, todavia não sem fazer valer o conhecido provérbio árabe: ―De tempos em tempos, os homens precisam ser sacudidos, como os tapetes‖ [DUA, 00], para renovar a sua motivação. 21 Sacudir a escola mostra-se ato quase suicida para os mestres atuais, quando se imaginam encabeçando algum movimento de mudança. É mister, então, refletir melhor sobre o termo e o procedimento. Por meio de ações pontuais, ainda que diminutas, mas ao mesmo tempo insistentes, permanentes, faz-se possível modificar para melhor nosso sistema de ensino e, em especial, a relação do professor com ele [PER, 93]. Isolados em nossas salas de aula, levamos nossos alunos a centenas de outras realidades, e isso é conduzir os alunos na derrubada e/ou transformação dos muros que os cercam, sacudindo suavemente o flutuante tapete sobre o qual devemos assentá-los. Eis aí uma prerrogativa que não nos pode ser arrebatada: ensinar nosso aluno a voar no tapete ímpar do conhecimento. Voltemos, entretanto, às considerações acerca das amarras físicas que impedem a maioria de nós de promover esse vôo. Segundo reportagem da Revista Educação, quase 50% dos professores brasileiros apresentam sintomas de estresse ou depressão. Os mais jovens são os que têm mais dificuldade para lidar com os problemas da profissão; muitos optam por abandonar o ofício. [CUR, 07] Se somos, nós, mestres, desprezados ou solapados pelo sistema de ensino atual, torna-se indispensável, além das lutas rotineiras por salários e condições seguras e decentes de trabalho, incorporar à peleja nossa busca pessoal pela transformação do mundo via nossa própria transformação. Precisamos querer mudar − e se o fizermos, enxergaremos que poderoso instrumento de revolução nos foi confiado: um ‗discípulo‘. Esse aprendente deve representar para nós a possibilidade de reversão de um processo que nos tem levado velozmente ao caos: a coisificação do indivíduo. O dinamismo da política-econômica está imerso na velocidade-espaço/tempo da globalização neoliberal , fator que ocasiona um exacerbamento da competição intra-social. Dá-se, desta maneira, o distanciamento entre os indivíduos e um fortalecimento do liame com a "coisa" . (...) a "coisa" se torna o fim e as pessoas o meio, por essa razão sofrem um processo de Reificação, apontado em inúmeras obras literárias que tratam da "coisificação" do indivíduo (...). [MAG, 03] Só é possível ao professor não se sentir coisa e lutar contra a coisificação de si e dos circundantes se ‗descoisificar‘ também o aluno, esse quase desconhecido que o mestre nem sempre julga essencial conhecer melhor. Até nisso somos engolfados pelo sistema. Tudo é passagem, então passemos logo, sem observar os detalhes do caminho, sem nos envolver com os educandos, pois eles passarão, virão outros. Predomina em nós um sentido de preservação que nos isola ainda mais. Por que, no entanto, ampliar a solidão da sala de aula ignorando os alunos e suas trajetórias? 22 Não é possível, de fato, conhecer cada aluno e sua história de vida se cruzamos com centenas deles diariamente. Não pensamos aqui em ‗exigir ainda mais do professor‘. Mas também não cogitamos exigir menos que o mais importante: notar os detalhes do caminho que percorre, pois estes é que o tornam único, especial. As muitas facetas do universo social criam um complexo labirinto e, como é próprio de sua configuração, seus caminhos são entrecortados, bloqueados, enganosos, apresentando inúmeras possibilidades para ser percorridos. As muitas formas de interpretação do caminho trilhado ou ainda por trilhar no interior do labirinto é que produzem a riqueza que não somente pode como também deve fazer parte do ato de ensinar e de refletir sobre a ação realizada. [ROD, 04]. A trajetória ideal do mestre hodierno carece de rememorar o valor da escuta [CAS, 04] e a contemplação pregada por povos antigos e agregá-los a sua lida. É preciso escutar, contemplar, analisar detidamente, e, na seqüência, agir, conduzir a ação dos discentes com viés libertador, emancipador e não enclausurante, conforme nos lembra Paulo Freire (2007). Quando lemos em Foucault a análise dos sistemas prisionais [FOU, 97] sentimonos tentados a concluir que a escola é exatamente isto: uma prisão. Embora materialmente assemelhe-se a uma, em termos intelectuais não podemos nós, professores, deixar que assim seja uma vez que já é ou pode vir a ser. Se compactuamos com o engessamento mental dos alunos via nossa própria inércia intelectual cometemos crime tão grave quanto o de não disponibilizar a estes alunos o seu de-comer diário. Assim, nosso embate deve-se travar contra os sistemas emparedadores a partir da quebra das paredes que nos circundam, com as quais nos temos acostumado, com as quais temos convivido pacificamente. E isso inclui motivação, mola-mestra na obtenção de resultados positivos em qualquer empreitada. Destarte, se Foucault (1997) nos propõe observarmos com atenção as amarras materiais e comportamentais presentes nas edificações prisionais, igualmente nos conduz ao questionamento das amarras mentais que nos impedem de realizar as ações afirmativas tão propagadas em nossos dias. Nessa perspectiva surgem, para o professor que acredita na necessidade e na possibilidade do vôo afirmativo, interrogações sobre o que fazer diante da profusão de situações complicadas no ambiente escolar, com as quais se envolve diariamente, e que dele exigem renovação constante da motivação para lecionar. Analisemos, então, nos capítulos a seguir, novos ângulos, igualmente cruciais, da trajetória docente. 23 Capítulo 4: Outros fatores correlacionados à (des)motivação no processo ensino-aprendizagem A questão disciplinar assombra o universo professoral do jardim-de-infância ao ensino superior, não apenas no Brasil como também em outras nações. Jesus (2001) afirma que ―a indisciplina dos alunos constitui o principal fator de stress para muitos professores (...). São os próprios alunos que, na sua maior parte, consideram que as turmas de que fazem parte são indisciplinadas‖ (p. 31). Torna-se sintomática a seguinte informação: “55% dos professores brasileiros ouvidos em pesquisa da Unesco afirmaram ter problemas para manter a disciplina em sala de aula‖ [CUR, 07]. Assim, embora aparentemente inseridos no modelo de sociedade disciplinar, mestres e discípulos vivem circunstâncias desconfortáveis para ambos na medida em que hoje desconstroem-se com freqüência conceitos estabelecidos como ideais há centenas de anos. Data da Idade Média a divisão dos alunos em classes, cada qual sob tutela de um mestre, impositor de uma ferrenha disciplina, conforme Ariès (1981). Originou-se aí a estrutura moderna de classe escolar. O estabelecimento definitivo de uma regra de disciplina completou a evolução que conduziu da escola medieval, simples sala de aula, ao colégio moderno, instituição complexa, não apenas de ensino, mas de vigilância e enquadramento da juventude. [ARI, 81, p.110] Essa necessidade de vigilância e enquadramento faz com que imposições e castigos, naturalmente menos rudes que os de outrora, e se existirem, hoje precisem respaldar-se em uma argumentação assaz convincente. Tais procedimentos, somados à exaustão de testes emocionais aos quais o professor é submetido pelos alunos, constituem não raro passos para fomentar a indisciplina e o mal-estar em sala de aula. Então, conquanto não possa nem deva utilizar métodos radicais de manutenção da disciplina, cabe ao professor mantê-la, desenvolvendo para isso um saber particular. Cada professor constrói, a seu modo, no dia-a-dia escolar, um conjunto de métodos disciplinares que possibilitem otimizar sua função de mediador do conhecimento. A função de educador, no sentido pleno da palavra, deve, no entanto, sobrepor-se à função de mantenedor da organização da turma. Educar é o foco: ser instrumento de saber, compartilhar saberes com os alunos é a vertente mais importante do magistério na visão dos estudiosos contemporâneos. 24 Basta relembrar Paulo Freire [FRE, 69] e Perrenoud [PER, 93]. Entretanto, a relação aluno-professor tem sido minada em diversas instâncias do ensino, englobando também a EJA. Investigam-se causas, e entre elas emergem mais algumas, dignas de serem observadas com desvelo. Diante das transformações globais nos sistemas de relação entre as pessoas, conforme observa Santomé (1998), percebe-se que o antigo respeito incondicional ao outro e algumas formalidades básicas da convivência tendem a reduzir-se, quando não desaparecerem. Some-se a tal fato o que talvez seja decorrência dele: (...) vivemos e atuamos na sociedade da velocidade. Sua forma, amparada em um grandioso aparato técnico, disponibiliza grande quantidade de informações, imprimindo um ritmo frenético a todas as instâncias do então denominado meio social, de forma a criar uma dinâmica que exige hábitos, padrões, e uma diferente percepção do mundo que cerca a vida e compõe a ação docente. [ROD, 04] A extraordinária velocidade do deslocamento físico humano e da transmissão de dados na atualidade liga-se à velocidade de percepção do outro: se antes a existência caminhava mais devagar, a percepção do outro se dava de maneira mais rápida e mais detalhada. Hoje, porém, a vida parece caminhar tão velozmente, sobretudo nas metrópoles, que a percepção do outro passou a quase não existir. Em conformidade com Marcondes Filho (2005): essa é uma forma de blindagem: não vemos o outro, pois vê-lo nos cegaria, nos irritaria a vista, nos incomodaria sobremaneira. Por isso, preferimos isolá-lo. A pessoa, mesmo viva, deixa de existir, ela morre dentro da gente e aquele ser que está ao nosso lado torna-se apenas um espectro, uma sombra inofensiva do outro. Mas, efetivamente, o morto somos nós, pois travamos nossa relação com o mundo e sem relação com o mundo não há vida. [MAC, 05, p.25] Quanto mais rápido desempenhamos nossas funções, quanto mais rápido chegamos a nossos destinos diários, menos importância conferimos à alteridade. Deternos diante de alguém torna-se imperioso somente se esse alguém nos puder facilitar o caminho pelo qual nos deslocamos apressados. (...) tudo isso começou quando os homens passaram a se guiar pelo cronômetro e a questão do ‗ganhar tempo‘ passou a funcionar como a máxima da sociedade maquínica em que vivemos. Na Antigüidade, os homens e as mulheres não estavam preocupados com os minutos e os segundos.(...) Homens e mulheres organizavam seu cotidiano segundo a lógica da natureza. [MAC, 2005, p.11] Inconscientemente, contaminamo-nos, mestres e alunos, pela ‗instantaneidade‘ que nos é imposta e, em lugar da providencial paciência de escutar de outrora, 25 inquietamo-nos com as palavras e até com os silêncios ‗intermináveis‘ do discurso do outro. Entretanto, tão importante quanto o ato dialógico, é o ato de saber escutar (não simplesmente ouvir), pois é escutando que aprendemos a falar com eles [os alunos] e não para eles. Escutar significa a capacidade de exercer o direito de se posicionar. [CAS, 04, grifo do autor] Em sala de aula, encurta ou inexiste o espaço de reflexão e posicionamento no qual professores e alunos poderiam transitar para resolver conflitos, pois a premência é o cumprimento do programa, ao menos nas instituições sérias. Tudo isso é reflexo de uma ―agitação múltipla, que nos dá a ilusão de atividade, de vida, de vivência real‖ [MAC, 05, p. 67], mas que não passa, segundo este mesmo autor, de ―inércia frenética‖ (p.67). Como, no entanto, cumprir o programa de ensino (em cujo ‗comprimento‘ também se deve pensar) sem apaziguar os ânimos discentes, sem disciplinar o aluno? Métodos existem, porém não se aplicam a todas as turmas e a todos os indivíduos dentro da mesma turma. Os professores, então, como já constatamos, empenham-se diariamente em construir e reconstruir esse saber especial que deve acompanhar o mestre: a capacidade de desenvolver conteúdos sem que a sala venha abaixo ou, em linguagem mais polida, sem que a indisciplina torne tal atividade inviável. Nessa busca de manutenção da estabilidade da classe, têm sucesso alguns e outros sucumbem. Inúmeros professores desistem do Ensino Público e outros tantos desistem do Ensino, no Brasil. O território tupiniquim entretanto não é palco exclusivo desse problema. François Dubet (1997), sociólogo francês, buscando compreender as condições em que se processa o ensino em seu país, tornou-se por um ano professor de uma escola pública francesa. Surpreendeu-se porque algumas de suas idéias prévias sobre ensino adequado não se confirmaram, entre elas as que diziam respeito à relação ideal professor-aluno. Segundo o sociólogo, esta deveria ser pontuada por ―contratos de vida comum entre professores e alunos‖ [DUB, 97, p.227], os quais facilitariam a interação entre ambos. Vivenciando o dia-a-dia escolar, porém, François Dubet percebeu a crescente dificuldade de estabelecer contratos visando ao que ele denomina ‗democracia escolar‘ e, ainda, ‘cidadania escolar‘. Parte dessa dificuldade se dá, segundo ele, pela própria indisposição dos professores quanto a isso. No colégio, é preciso criar um quadro normativo, tenho convicção disto. Mas acredito que este quadro deva ser criado de um modo democrático, ou seja, a partir de uma definição dos direitos e dos deveres. Porém, hoje em dia na 26 França, aquilo que se chama ‗retomada nas mãos‘ é a definição do poder mas não a definição do direito. E isto por uma razão extremamente simples: é que esse quadro normativo deveria envolver tanto alunos como professores, é isso que me parece importante. Mas o que os professores pedem, muitas vezes, é um quadro disciplinar que os proteja sem obrigá-los a cooperar. [DUB, 97, p. 227]. Em alguns estabelecimentos de ensino nacionais verifica-se situação semelhante. Não culpemos, porém, e inadvertidamente, apenas os mestres pelas dificuldades de convivência em sala de aula, principalmente porque já mencionamos algumas contingências da modernidade que vão de encontro à boa prática na realidade escolar, especialmente em nosso país. Para minorar tais dificuldades, Jesus (2001) propõe que, ―na elaboração do ‗regulamento de disciplina interno‘ também poderiam participar os próprios alunos, bem como os funcionários da escola e os encarregados de educação‖ (p. 36). Dessa maneira, seria ampliada a participação de todos os atores do universo educativo no estabelecimento de regras, permitindo aumentar a responsabilização coletiva pela sua concretização. Os diversos processos construtores e mantenedores da disciplina são encontrados nos colégios, nos hospitais, nas fábricas, nas organizações militares em geral e nos presídios [FOU, 97]. Interessa-nos aqui a disciplina no meio escolar. Embora Foucault não se detenha exclusivamente sobre ela, alguns aspectos de sua obra aplicam-se com precisão ao ambiente escolar construído e perpetuado a partir do século XV. A organização de um espaço serial foi uma das grandes modificações técnicas do ensino elementar (...).Determinando lugares individuais tornou possível o controle de cada um e o trabalho simultâneo de todos (...). Fez funcionar o espaço escolar como uma máquina de ensinar, mas também de vigiar, de hierarquizar, de recompensar. [FOU, 97, p.127] Dada a ampliação, ao longo da história, da quantidade de indivíduos vinculados a instituições de ensino, confirma-se a necessidade de organizar esse grande contingente de alunos de modo a torná-los ‗dóceis ao ensino‘ e produtivos. Acerca desse aspecto, Foucault (1997) observa, em oposição à proposta atual do ―Perca Tempo‖, de Marcondes Filho (2005): ― (...) procura-se também garantir a qualidade do tempo empregado: controle ininterrupto, pressão dos fiscais, anulação de tudo o que possa perturbar e distrair; trata-se de constituir um tempo integralmente útil‖ [FOU, 97, p.128]. 27 Convém neste ponto determo-nos sobre a expressão ‗anulação de tudo que possa perturbar e distrair‘. Ora, ocorre que o mundo no presente momento provê aos jovens (e também aos menos jovens) inúmeros instrumentos tecnológicos os quais se tornam mais atrativos do que as atividades escolares. Dessa maneira, manter alguma disciplina sem o seu auxílio ou com sua interferência torna-se tarefa ainda mais custosa para os mestres. Concordemos: diante de tal raciocínio, urge ao ensinante conhecer e dominar tais instrumentos para empregá-los a seu favor. Motivar e promover disciplina ao mesmo tempo podem significar, também, conduzir o aluno a sentir-se imerso na tecnologia moderna ainda que confinado em uma sala de aula ou em um laboratório. Digamos que o bem-estar assegurado pelo manuseio e domínio pessoal, por parte do professor, dos recursos da modernidade possa interessar e beneficiar a esfera coletiva, que hoje, na opinião de muitos discentes, é marcada por uma ‗noção enfadonha de aprendizagem‘ [CAB e SAL, 05]. Em defesa dessa postura surge Citelli (2004), quando, refletindo sobre as situações novas provocadas pela presença definitiva das linguagens não-escolares na vida dos alunos, empreendeu pesquisa sob a hipótese de que as instituições educadoras formais não conseguem responder satisfatoriamente às demandas daí provenientes. Os professores reconhecem a força dos meios e das novas tecnologias no ambiente escolar, a despeito de sentirem dificuldades para operar diante deles. O mesmo passo que caminha no rumo das constatações se dirige a uma espécie de beco das impossibilidades. Isto é, malgrado a admissão do princípio de urgência nas ampliações dialógicas entre discursos escolares e não-escolares, o que existe, por ora, é sobretudo projeção de vontade. Atitude que parece mais ajustada ao enunciado retórico da necessária ―modernização da escola‖. [CIT, 04, p.239] Diante dessas constatações, nota-se que o poder da tecnologia poderia, se bem empregado e associado a outros expedientes − de ordem disciplinar e de ordem motivacional, contribuir para a restauração da tranqüilidade acadêmica em seu loco majoritário: a sala de aula. E quando aqui se fala de tranqüilidade, não se fala de ‗mesmice‘ [ROC,07], mas do estabelecimento da ‗tensão‘ necessária para uma aprendizagem significativa, conforme Penna (2001). Embasado em Murray, esse autor afirma inclusive que a ausência de tal tensão pode ser negativa, pois associa-se a estados indefinidos, como o de exclusão da curiosidade. Assim, uma certa ‗pressão‘ é importante para impulsionar o interesse do indivíduo pela investigação, pelo estudo (Murray, 1967 ap. PEN, 01). Esta não deve, entretanto, ser exagerada, pois pode conduzir à promoção da desatenção, da perda de foco, da indisciplina. 28 Há mais um prisma importante a ser observado quando o assunto é indisciplina escolar: conforme o professor, variam os graus de indisciplina de cada classe. De acordo com Jesus (2000), o fato de comportamentos indisciplinados se manifestarem com uns professores e não com outros revela que o professor tem e deve assumir a sua parcela de responsabilidade sobre o que ocorre, e não atribuí-la totalmente ao aluno. Diversos estudantes apontam, ademais, que o professor pode tornar-se fator de indisciplina em razão das reduzidas oportunidades de tomada de decisão e troca de opiniões ou confrontos de pontos de vista, atividades essenciais para a satisfação das necessidades dos alunos. [JES, 00] O autor reforça ainda que para ser agente de desenvolvimento pessoal e interpessoal dos alunos e obter ajustes do ponto de vista disciplinar o professor deverá não só identificar os comportamentos de indisciplina manifestos por seus alunos, mas também conhecer os motivos desses comportamentos, utilizando estratégias de intervenção cognitivo-motivacionais [JES, 00]. Jesus (2001) observa o ―aumento da freqüência e da gravidade das situações de violência nas escolas e de indisciplina dos alunos na sala de aula‖, destacando ―as agressões verbais e físicas entre os alunos e destes aos professores e funcionários (...)‖ (p. 31). Não são raros, no Brasil, relatos preocupantes de professores acuados pela violência em suas diversas modalidades. Além do esforço de administração dos conflitos intraclasse, empenha-se ainda o mestre na inglória batalha contra a violência externa que desemboca em sua sala de aula. Torna-se, ele próprio, em determinadas escolas, vítima de pais e alunos que o ameaçam, com armas ou sem, caso a estes últimos não sejam dados a nota e o tratamento ‗merecidos‘. Ora, já não bastasse a certeza da insegurança crescente do ambiente externo, instaura-se agora o pânico permanente na cabeça do professor? Eis aí um fator de evasão escolar − evasão de professores, desmotivados pela insegurança reinante. Chaga dos grandes centros urbanos do país, a violência é apontada por muitos pesquisadores como um fator estressor importante que atinge comumente os professores que lecionam em escolas situadas em regiões de risco, com altos índices de criminalidade e, em alguns casos, presença do tráfico de drogas. Ainda que a violência possa atingir direta ou indiretamente qualquer um, "a gente tem de dar um enfoque maior para a escola, pois (...) ela lida com a criança e com o adolescente que serão cidadãos, e é nesse meio que a violência é cultuada", alerta a psiquiatra Alexandrina Meleiro,do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. [CUR, 07] 29 No caso da EJA, a possível presença da violência configura-se como um problema ainda mais preocupante, pois os alunos agressivos são quase todos ‗maiores‘ no sentido legal e no sentido físico e portanto independem dos pais para interferir violentamente no processo educativo, se assim o quiserem. As dificuldades aqui mencionadas, somadas a outras tantas, de algum modo influem no aparente desinteresse dos jovens pela docência em nosso país ─ movimento muito diferente daquele que se verifica na Finlândia, por exemplo, país no qual a carreira docente é altamente prestigiada e procurada pelos jovens [MOU,07]. Simultaneamente, torna-se notório o interesse de alguns docentes brasileiros de fugirem da sala de aula, sobretudo em razão de adoecimento. Como não é possível a todos ocuparem funções administrativas, muitos cogitam desistir da carreira. O número de afastamentos decorrentes de problemas de saúde é crescente. Tome-se como exemplo a cidade de Florianópolis: pesquisa recente demonstra que do total de 1368 professores do município, 339 (24,78%) não estão lecionando por questões de saúde. O adoecimento mais freqüente corresponde aos transtornos mentais. [STO e CEZ, 07]. O tratamento de um professor com problemas somáticos, segundo a psiquiatra [Alexandrina Meleiro, do Hospital das Clínicas], varia muito. "Dependendo do grau de desgaste, a pessoa pode passar somente por psicoterapia, ser medicada temporariamente com ansiolítico ou antidepressivo e, às vezes, tem de ser deslocada para uma função burocrática ou passar a trabalhar com outros tipos de alunos." [CUR, 07] Ao mesmo tempo que esse embate se desenrola, os heróis da resistência pensam e repensam métodos de apaziguamento dos alunos, pois estas estratégias têm relação direta com a manutenção da motivação do professor para o exercício da profissão e até mesmo com sua sanidade mental no decorrer do período letivo. A desmotivação proveniente de dificuldades como as que ora discutimos podem conduzir à anulação da subjetividade dos professores e, por extensão, também a dos alunos. Prata (2000), discutindo a temática da violência entre os jovens, conduz-nos a refletir ―se a violência, como uma das formas de afirmação da força contra o outro, sublinha a lógica da ‗lei do mais forte‘ na contemporaneidade‖ (p. 9). Sim, e mais: sublinha a lógica da anulação da subjetividade dos sujeitos da Educação em nome de uma falsa paz sustentada pelo silêncio, pelo medo, pelo conformismo. Note-se que o professor também vivencia essa anulação em alguns ambientes de ensino. 30 Contra tal estado de coisas, Jesus (2001) sugere que ―deve ser evitada a massificação, espaços escolares em que os professores e alunos não se conhecem, já que os ambientes despersonalizados favorecem os comportamentos de agressividade‖ (p.35). Além disso, o autor afirma: (...) tem-se verificado que ocorrem menos situações de violência e indisciplina nas escolas onde há melhores equipamentos escolares (...), onde há oportunidades de ―reescolarização‖ para os alunos com maiores dificuldades, (...) onde há locais específicos e permanentes de atendimento para os alunos (...) e onde há espaços onde os professores e os alunos possam aprender o que gostam e dialogar sobre temas que lhes interessam (...). [JES, 01, p.35] A despeito de e em razão do exposto, acreditamos que a diligência dos mestres deve ser direcionada para o combate não apenas da violência física − para isso já há estruturas destinadas, mas também para o combate a uma violência de outra natureza: a violência do embotamento ou do impedimento da interação, do diálogo, da troca de experiências, entre cujas vítimas neste país incluem-se os alunos que hoje procuram a Educação de Jovens e Adultos. Em suma, parece-nos mais urgente encantar o aluno, abrir-lhe portas insuspeitadas, as quais lhe permitam escapar do ciclo de mazelas que o impossibilitam de reconhecer-se como ser pensante, em processo permanente de busca individual e coletiva por dias mais amenos, mas não menos estimulantes. Tal proposição associa-se à idéia de humanização da escola sugerida por Vasconcellos (2005), segundo o qual falar em humanizar a sala de aula significa ―a escola se tornar de fato um espaço de ensino e de aprendizagem. O professor acreditar profundamente que o aluno pode aprender‖ (p. 2). Em seguida, ―vem a dimensão do amor (...) : o processo de cognição vai junto com o processo afetivo‖ (p. 2). Trazer à sala de aula a vibração, a alegria, o encontro, o encantamento humanizam a sala de aula. [VAS, 05]. Assim, embora envolvido por espessa nuvem de questionamentos, o professor precisa motivar-se a ponto de tornar-se ‗o abridor das portas insuspeitadas‘, tanto no ensino regular quanto no Ensino de Jovens e Adultos. Neste, especialmente, a motivação gerada a partir da figura do professor [FIT, 06c] deve alcançar patamares significativos, capazes de impulsionar o aprendizado e ao mesmo tempo inibir a violência, o desânimo e a desistência discente. 31 As reflexões relacionadas à administração de conflitos no ambiente escolar evidenciam significativo elo entre construção da subjetividade e resolução de conflitos exteriores ao indivíduo. Cabíveis tornam-se, então, algumas considerações a respeito. 32 Capítulo 5 – Do espaço físico da sala de aula à construção da subjetividade na EJA: mais elementos motivacionais Um aspecto relevante a ser abordado no presente referencial teórico diz respeito exatamente à distância entre a sala de aula-padrão, basicamente a mesma há séculos, e a necessidade/possibilidade de uma nova arquitetura escolar, não-reprodutora, por assim dizer, dos ambientes de produção industrial tão bem estudados por Foucault (1997). Seria digna de consideração, então, uma arquitetura que humanizasse interiores com vista à valorização da subjetividade e, por extensão, da criatividade dos educandos, como se faz na Finlândia, por exemplo. A Escola Metsola, na periferia de Helsinque, tem salas amplas, muitas janelas, um projeto integrado à natureza, móveis diferenciados. Com o objetivo de torná-las acolhedoras, as classes são equipadas com sofás, instrumentos musicais, computador, livros e outros materiais, todos à mão. Por este cuidado especial, é comum as escolas finlandesas receberem prêmios de arquitetura.[CAF, 07] Assim, embora não possamos imaginar a escola sem a presença de salas, é importante notar que a sua conformação atual talvez seja um dos elementos promotores da desatenção, da desmotivação e da própria indisciplina. De Sócrates , 469 a. C., [ap. PLA, 99], quando nem havia salas de aula, aos educadores contemporâneos, inúmeros teóricos discorrem sobre a qualidade da interação entre os sujeitos da aprendizagem, exaltando seus prolíficos resultados. Isso nos reconduz a pensar na eficiência de uma nova conformação de sala, promotora do diálogo, a ser adotada na EJA. Podemos contar, nas instituições mais equipadas do território nacional, com salas especiais para esta ou aquela atividade, mas a sala-base, na qual os discentes passam a maior parte de seu tempo, permanece inalterada: fileiras ordenadas de carteiras, voltadas para a lousa, ocupando praticamente todo o espaço disponível. Isso dificulta a interação dos estudantes entre si e com o professor, o que por conseqüência reduz o diálogo, justamente um fator imprescindível para a aprendizagem significativa [FIT,06b;FRE,87;Coll,96,ap.AND,03; PAR,07; HER e VEN, 98; PEN, 01; CAS, 04; JES, 01]. A título de reforço da idéia, relembremos Freire (2007), o qual nos recorda que ―há uma pedagogicidade indiscutível na materialidade do espaço‖ (p. 45). O excessivo número de alunos em cada sala e/ou a resistência destes e de seus mestres a mudanças, em virtude do secular condicionamento a que foram submetidos, tanto nas instituições públicas quanto nas privadas, via de regra desestimulam mudanças 33 do ponto de vista físico. Uma providência bastante eficaz e simples, como dispor os alunos em círculo, por exemplo, é amiúde olvidada. Talvez aí se perca uma oportunidade de renovar a motivação docente e discente nas escolas. Salvo exceções, por limitações espaciais corre-se o risco de promover, inadvertidamente, a limitação mental do aprendente. Ou seja, embora tantas escolas sejam erguidas a cada gestão, todas as salas serão sinônimos de um mesmo espaço, em que nem todos os alunos poderão ter a atenção merecida no seu processo de aprendizagem. A atenção merecida inclui a valorização da subjetividade, prisma fulcral estudado por Foucault (1997), a ser reforçado mais adiante, e altamente relacionado com o trabalho em EJA. Considerando-se os aspectos relacionados à conformação atual das salas de aula, parece-nos visível que novas ações precisam ser empreendidas no sentido de repensar essa estrutura física a qual apóia as ações educativas, pois de algum modo salas também influem na motivação dos professores para ensinar. Se apresentam temperatura elevada ou alta incidência de ruídos externos, por exemplo, reduzem o ânimo docente e discente. Salas bem ventiladas e amplas, porém com menos carteiras, ou equipadas com mobiliário diversificado, de modo a permitir a redisposição dos equipamentos conforme a necessidade de cada plano de aula, favorecem o processo ensino-aprendizagem ─ principalmente no que concerne ao trabalho com Jovens e Adultos. Já existem no Brasil salas de aula cuja conformação difere do padrão predominante. Lembremos a Escola Pacaembu, em São Paulo: suas salas abrigam, curiosamente, para os atuais parâmetros brasileiros, alunos de diferentes séries e oferecem no mesmo ambiente diversificados recursos de aprendizagem. A interação de alunos de variadas faixas etárias, longe de causar confusão, promove auxílio mútuo, gera interesse pelo aprendizado e resulta em um progressivo gosto pelo saber. Nota-se aqui a presença de uma ‗heterogeneidade etária‘ a qual ocorre também na EJA, e que é vista com olhos desconfiados por docentes (e discentes) dessa modalidade de ensino, incertos de que seja possível desenvolver um bom trabalho nessas condições. É verdade que nos parágrafos precedentes nos referimos a uma escola de pequeno porte, particular, situada em bairro nobre da capital paulista. No entanto, o modelo, semelhante ao Finlandês [CAF, 07], serve como ponto de partida para repensarmos nosso conceito de ‗escola boa‘ ─ guardadas, naturalmente, as devidas proporções entre Finlândia e Brasil ─ e sobretudo o conceito de escola pública. 34 Assim, embora nesta última o ensino hoje ocorra quase sempre pela via da massificação, importante seria o esforço de gestores e mestres para oferecer às crianças e aos jovens a possibilidade de se enxergarem como sujeitos únicos e merecedores de desenvolvimento pleno. Igual possibilidade deve estender-se aos sujeitos da EJA, tal como no Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) do CEFET-SP [CEF,07], cujas aulas ocorrem em ambientes condizentes com a proposta do curso e com o público a que se destina, embora não se disponha ainda de uma sala nos moldes acima descritos. Consciente de si e de suas múltiplas possibilidades, desfrutando de um ambiente de estudo estimulante, conduzido por professores empenhados, nosso educando, o da EJA em especial, deixaria de sentir-se ‗mais um na multidão‘. Em outras palavras, posto seja dificultoso promover valorização do sujeito em ambientes com alta densidade populacional ou marcados por ‗mesmice estrutural‘, ainda assim e em razão do exposto deve emergir tal esforço por parte daqueles que definem os rumos da Educação nacional. Beneficiada seria, e especialmente, a Educação de Jovens e Adultos. No entanto, reduzir a densidade populacional nas salas de aula da EJA talvez não seja o problema fulcral, considerada a relativa evasão verificada nesse segmento educacional, mas valorização da subjetividade certamente é, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos [RES, 00]. Podemos relembrar aqui os educadores gaúchos, cujos trabalhos, os quais preenchem de modo muito especial os espaços curriculares da EJA, têm sido divulgados por Moll (2004). A valorização das trajetórias discentes verificadas no trabalho desses e de outros mestres conduz-nos a retomar o conceito de subjetividade em Foucault (1997); este, no que se refere a sua aplicação no universo escolar, é magistralmente bem resumido por Araújo (2007): ―Se não há uma subjetividade livre, autônoma, não haverá também pessoas educadas, criativas; que é justamente o que a escola deveria produzir‖. [ARA, 07, p. 34]. Assim, embora Foucault nos aponte em seus estudos que ―o sujeito sujeitado e disciplinado é muito mais útil aos mecanismos econômicos e políticos‖ [Foucault ap. ARA, 07, p.30], há que se pensar em instrumentos e práticas educativas os quais impeçam esse sujeito ─ o aluno da EJA especificamente ─ de emparedar seu pensamento e destarte limitar sua ação no mundo. Tal cerceamento iria na contramão do que propõem Luckesi e colaboradores (1990), sobre o que já discorremos em capítulo anterior. 35 Conforme Araújo, sem criatividade, não é possível recusar o sujeito preso ao saber e ao poder de disciplinas que normalizam; sem indagar o que queremos para nós, não é possível criar novos estilos de vida, pautados por atos éticos de liberdade e autonomia, como propõe Foucault em seus últimos escritos. Quem sabe, na escola não se possam constituir outras formas de subjetividade mais prazerosas, estilos de vida mais criativos, plurais, com lugar para a diferença? O desafio é, para os educadores, encontrar meios para esse exercício de liberdade e criatividade‖ .[ARA, 07, p. 34] Destaca-se aí a importante relação entre a escolarização e a construção do sujeito. Foucault (1997) em nenhum momento procurou dissuadir-nos da idéia de que a disciplina é necessária para a apreensão dos saberes indispensáveis ao indivíduo na sociedade e na instituição escolar em que se insere. Procurou, entretanto, e conseguiu, fazer-nos repensar em que medida os processos normativos a que hoje somos submetidos contribuem ou podem contribuir para nossa plena construção como sujeitos ou, melhor dizendo, para nossa construção como sujeitos plenos ─ justamente o que se preconiza como ideal educativo na EJA e nos demais segmentos do ensino. Tal vertente é deveras importante para compreendermos melhor o papel da escola na construção da subjetividade dos alunos. Uma vez que a noção de sujeito passa pela noção de cultura, da qual a escola não pode eximir-se, torna-se ela própria instrumento fundamental na realização da proposta de Foucault, de ―criar uma história dos diferentes modos pelos quais, em nossa cultura, os seres humanos tornaram-se sujeitos‖ [Foucault ap.VEI, 05, p.132]. Dentro da perspectiva recém-abordada, Brandão (2002) rememora a relação entre cultura e educação, considerando esta última uma dimensão ao mesmo tempo comum e especial de tessitura de processos e de produtos, de poderes e de sentidos, de regras e alternativas de transgressão de regras, de formação de pessoas como sujeitos de ação e de identidade (...),de invenção de (...) valores, idéias e de imaginários com que nos ensinamos e aprendemos a ser quem somos, enquanto a cultura configura o próprio mapa da vida social. [BRA, 02, pp. 24-25] De acordo com o autor, portanto, cultura está mais para o como nos organizamos socialmente para viver em nosso mundo e transformá-lo, por meio do que fazemos em e sobre o nosso mundo. Para Brandão (2002), um elo indissolúvel entre cultura e educação é o fato de que ―nós somos seres aprendentes‖ (p. 25), que aprendemos imersos no ―cenário multifacetado e polissêmico‖ representado por nossa cultura (p.24). Imersos em nosso loco cultural, participamos, quase todos, de um processo de escolarização, no qual podemos observar como é possível construir tanto sujeitos assujeitados como sujeitos livres, de acordo com a orientação pedagógico-institucional 36 seguida. Na escola, os três domínios do ser sobre os quais Foucault (1997) se debruçou ─ o ser-saber, o ser-poder e o ser-consigo ─ entrecruzam-se o tempo todo, e desembocam, ao que parece, na compreensão menos inexata do que seja o sujeito de hoje, na e para além da esfera escolar. Extrapolando a esfera escolar, mas não a relegando a segundo plano, relembremos o quanto angustiados ficamos todos com a sensação de impotência resultante das demandas cada vez maiores do mundo contemporâneo, a serem dirimidas em tempo recorde. No Brasil, em especial, mal alcançamos a cidadania pela qual tanto lutamos ─ e que em tese nos ajudaria a debelar algumas das tais demandas ─ e já a estamos perdendo, acuados pelo avanço voraz do neoliberalismo, apontado por Carvalho (2006) e esquadrinhado por Frigotto (1995), para quem A idéia-força balizadora do ideário neoliberal é a de que o setor público (o Estado) é responsável pela crise, pela ineficiência, pelo privilégio, e que o mercado e o privado são sinônimo de eficiência, qualidade e eqüidade. Desta idéia-chave advém a tese do Estado mínimo e da necessidade de zerar todas as conquistas sociais, como o direito a estabilidade de emprego, o direito a saúde, educação, transportes públicos,etc. Tudo isto passa a ser comprado e regido pela férrea lógica das leis do mercado. Na realidade, a idéia de Estado mínimo significa o Estado suficiente e necessário unicamente para os interesses da reprodução do capital. [FRI, 95, p.84, grifo do autor] O resultado funesto desse quadro promovido pelo neoliberalismo consuma-se, no que tange à Educação nacional, com a idéia de mercado como sujeito-educador, conforme Frigotto (1995). Para ele, a perspectiva neoliberal de ―uma educação regulada pelo caráter unidimensional do mercado‖ resulta em ―uma filosofia utilitarista e imediatista‖ e em ―uma concepção fragmentária do conhecimento, concebido como um dado, uma mercadoria e não como uma construção, um processo‖. [FRI, 95, p. 85]. Salvaguardado o risco assinalado por Frigotto (1995), também se torna necessário na EJA-Ensino Médio focar o mercado de trabalho, sem, no entanto, direcionar o ensino para a lógica perversa criticada pelo autor. Nesse sentido, pode-se considerar positiva ─ se levada a cabo ─ a ação do Governo do Estado de São Paulo, que incluiu em seu Plano de Metas, a ser executado gradualmente, de 2007 a 2010, o propósito de atender toda a demanda de jovens e adultos no Ensino Médio, com a inclusão de cursos profissionalizantes em toda a rede estadual.[GOV, 07]. Iniciativas transformadoras necessitam, porém, para que dêem certo, do respaldo da participação coletiva no processo educacional. Gandin (2006) lembra que na lógica do planejamento participativo, participação está ligada à gestão democrática: é preciso 37 ―envolver aqueles que vão implementar as decisões no processo de construção dos rumos da instituição‖ (p. 70). Gandin (2006) também nos recorda que a renúncia à construção coletiva de um projeto implica uma conseqüência imediata: ―a adequação aos rumos da sociedade competitiva e de mercado que vivemos‖ (p.71), aquela mesma criticada por Frigotto (1995) e Carvalho (2006). O imobilismo, segundo Gandin (2006), pode ―fazer com que reproduzamos os valores da cultura dominante, cada vez mais ativa e impregnada do senso comum‖ (p.71). Quem quer apenas manter a estrutura e a cultura escolares intactas não necessita de projeto e muito menos de um projeto político-pedagógico. Quem precisa de projeto é quem tem algo a construir que seja diferente da mera manutenção do status quo. Precisa de projeto quem quer interferir nas práticas escolares e para isso precisa saber aonde quer chegar e onde está. [GAN, 06] Saber onde estão e aonde querem chegar exige dos sujeitos da Educação observar as transformações em curso, tanto no mundo do saber quanto no mundo do trabalho. Praticamente indissociáveis, essas duas vertentes exigem do professor reflexão mais aprofundada sobre o fazer-saber-ser docente, alvo de estudos respeitáveis nos últimos anos, por pesquisadores como Perrenoud (1993), Morin (2006), entre outros nomes de peso. Para Vieira Pinto [PIN, 07], porém, ―grande parte dos educadores representa, nesse momento, de maneira geral, um fator de inércia‖. Sua frase data de 1982, mas permanece atual. O autor assevera que em tal condição o papel do professor se torna ―pouco rentável ou francamente negativo, reacionário, por não poder se adaptar às novas exigências da realidade‖ (p. 110). Acrescente-se ao ‗não poder‘ um ‗não querer‘, e se terá uma idéia mais exata da realidade de alguns ensinantes. Isso ocorre porque falta a esses professores a noção crítica de seu papel. Sua preparação tem sido realizada para uma função regular num suposto ambiente estável. Quando, no entanto, a realidade, por força de sua natural mobilidade, vai-se alterando, essa espécie de educadores não se revela capaz de acompanhar a marcha das transformações. [PIN, 07, p. 111]. Acompanhando as atuais tendências da formação docente diante dessas transformações, Gomes e Marins (2004) advertem que convém ao professor rever crenças e convicções, ensinar em consonância com as mudanças em educação, prover a si uma formação inicial e contínua de qualidade e enfrentar de modo original e criativo as mudanças em curso. 38 Portanto, deve agir afirmativamente apesar das forças contrárias que possam conduzi-lo à redução de motivação. Nessa perspectiva, o isolamento da ação docente, a própria tendência ao conteudismo, a sensação de desvalorização e desamparo profissional, a burocracia que restringe a autonomia docente e a formação profissional destoante da realidade carecem de superação por parte dos mestres vitimados por tais circunstâncias. Cursos de atualização, a reiterada formação contínua, são apontados como saída por Gomes e Marins (2004), Casério (2004), Perrenoud, (1993), entre outros. Resta-nos imaginar se, a partir de sua atual situação de trabalho, pode o professor de EJA dedicar-se a mudanças salutares para si e para seus alunos. No caso de professores que cumprem dupla ou tripla jornada, torna-se desafio enorme encontrar tempo e motivação − sem mencionar os recursos financeiros necessários −, para investir em sua formação. Ademais, são conhecidos os casos de professores os quais, justamente em razão das jornadas múltiplas e dos demais fatores negativos apontados, entram no processo de burnout. A Síndrome de Burnout é uma resposta ao estresse ocupacional crônico e caracterizada pela desmotivação, ou desinteresse, mal-estar interno ou insatisfação ocupacional que parece afetar, em maior ou menor grau, profissionais que lidam com outras pessoas Trata-se de um conjunto de condutas negativas, como por exemplo a deterioração do rendimento, a perda de responsabilidade, atitudes passivo-agressivas com os outros e perda da motivação, onde [sic] se relacionariam tanto fatores internos, na forma de valores individuais e traços de personalidade, como fatores externos, na forma das estruturas organizacionais, ocupacionais e grupais. [BAL, 02]. Ballone (2002) discorre com propriedade acerca da tensão permanente que acompanha grande número de profissionais envolvidos em trabalhos os quais requerem interação continuada com outras pessoas. Segundo este autor, os crescentes desafios contemporâneos têm extrapolado os limites adaptativos dos indivíduos, levando-os ao estresse, pelo qual são também vitimados inúmeros professores. Assim, ―o tipo de desgaste a que as pessoas estão submetidas permanentemente nos ambientes e as relações com o trabalho são fatores determinantes de doenças‖ [BAL, 02, p.1]. Uma vez sujeitos a problemas de saúde de ordem física e emocional − os quais amiúde entrelaçam-se −, surgem para os mestres implicações bem captadas por Ballone (2002): O desgaste emocional a que pessoas são submetidas nas relações com o trabalho é fator muito significativo na determinação de transtornos relacionados ao estresse, como é o caso das depressões, ansiedade patológica, 39 pânico, fobias, doenças psicossomáticas, etc. Em suma, a pessoa com esse tipo de estresse ocupacional não responde à demanda do trabalho e geralmente se encontra irritável e deprimida. Um dos agravantes do Estresse no Trabalho é a limitação a que a sociedade submete as pessoas quanto às manifestações de suas angústias, frustrações e emoções. Por causa das normas e regras sociais as pessoas acabam ficando prisioneiras do politicamente correto, obrigadas a aparentar um comportamento emocional ou motor incongruente com seus reais sentimentos de agressão ou medo [BAL, 02, p.1]. Nota-se aí uma forte relação dos componentes emocionais de cada indivíduo com seu grau de motivação para o desempenho profissional/acadêmico. Para Panksepp [ap. LIE e FEN, 00, p.18], ―a motivação e a emoção são dois fenômenos situados num mesmo continuum e só se diferenciam pela intensidade‖: conforme esta seja menor ou maior, pode produzir um estado de vigilância − desejável para uma boa produtividade − ou um estado de pânico, notoriamente comprometedor das boas realizações. Pesquisa sobre estresse em professores de EJA em escolas públicas municipais e estaduais revela que os sintomas de estresse, tanto físico como psicológico, estão presentes na vida desses educadores. A presença de estressores potenciais entre os docentes da EJA contribui significativamente para que o processo de ensinoaprendizagem não se desenvolva de maneira satisfatória. [REI, BUR, SIL e WIT, 07] De acordo com Reis (2007), o processo de estresse é composto por quatro fases: a) Fase de Alerta; b) Fase de Resistência; c) Fase da Quase Exaustão; d) Fase da Exaustão ou Esgotamento. Na Fase de Alerta, a primeira na seqüência de desenvolvimento do estresse, o indivíduo precisa produzir mais energia para resistir a um sobreesforço. Um desafio ou ameaça percebida iniciam o processo auto-regulatório. O mecanismo de luta ou fuga [Cannon ,1939, ap. REI, 07] ativa a produção de substâncias químicas (noradrenalina e adrenalina) pelo sistema nervoso e pela medula da supra-renal. Tais mudanças hormonais são consideradas benéficas, pois contribuem para que haja um aumento da motivação, entusiasmo e energia, colocando o sujeito em prontidão para enfrentar os diferentes desafios do trabalho e da vida. Várias mudanças no organismo surgem nessa fase diante de um estressor: sintomas como palidez, suor frio nas mãos e pés, aumento das freqüências cardíaca e respiratória, lentidão da digestão, retesamento muscular, entre outros [Lipp, 2001 e 2003, ap. REI, 07]. Na Fase de Resistência, ocorre um aumento da capacidade de resistência acima do normal (...). Lipp e Malagris [1995, ap. REI, 07] chamam a atenção para o fato de 40 que o organismo utiliza-se de grande parte da sua energia para buscar o reequilíbrio, gerando a sensação de desgaste generalizado sem causa aparente e dificuldades com a memória, entre outras conseqüências. Essa fase se apresenta quando o evento estressor é de longa duração: enquanto o indivíduo tenta adaptar-se à situação, o organismo busca reequilibrar-se internamente e, para tanto, utiliza a energia necessária para outras funções vitais. O desgaste do organismo é tanto maior quanto maior for o esforço feito pelo sujeito para se adaptar e restabelecer a harmonia interior. Se, porém, o organismo consegue adaptar-se completamente e resistir ao evento estressor de maneira apropriada, o processo de estresse é interrompido sem seqüelas. [Lipp, 2003, ap. REF, 07]. Identifica-se a Fase de Quase Exaustão pela queda de resistência do organismo e conseqüente adoecimento em razão da persistência dos fatores estressantes, seja por sua freqüência ou por sua intensidade. As defesas do organismo começam a se reduzir e o indivíduo já não consegue resistir às tensões e restabelecer a homeostase. Os órgãos fragilizados por fatores genéticos ou adquiridos são afetados, e surgem algumas doenças, evidenciando que a resistência já não é tão eficaz. Se esse tipo de estresse não for tratado ou enfrentado com estratégias específicas, o indivíduo passará à Fase da Exaustão ou Esgotamento, na qual há possibilidade de surgirem doenças graves. Na Fase de Exaustão ou Esgotamento, em razão do grande desgaste de energia do corpo para tentar encontrar seu reequilíbrio, há uma quebra total da resistência, com aumento das estruturas linfáticas e exaustão psicológica. Surgem a depressão e a exaustão física na forma de doenças que podem inclusive levar o indivíduo à morte. Conquanto a fase de exaustão seja bastante grave, não é necessariamente irreversível, desde que afete unicamente partes do corpo [Lipp, 2003, ap. REI, 07]. Embora estudos como o de Reis (2007) revelem que o professor brasileiro tem sido sistematicamente vitimado pelo estresse em uma ou várias das fases descritas, poucas instituições de ensino no Brasil dispõem de mecanismos que monitorem a saúde ocupacional dos mestres, contribuindo, portanto, de maneira indireta, para eventuais ou freqüentes afastamentos. Tais ausências podem implicar desmotivação dos alunos ao longo do período letivo, em razão da ruptura do processo de ensino, fato que desagrada muitos estudantes. Sob outro prisma, os mestres em constantes licenças fazem-nos pensar sobre a sua desmotivação no que tange a um trabalho contínuo e produtivo com seus pupilos. Acometidos por problemas emocionais geradores de estresse, os professores correm também o risco de se tornarem ausentes em sala, mesmo presentes 41 corporeamente, o que por si constitui-se fator de desmotivação entre os educandos. Um professor ausente acaba por ignorar seus alunos ou contribui negativamente para seu aprendizado − lança mão do chamado ‗reforço negativo‘. A esse respeito Lieury e Fenouillet (2000) asseveram: ―constata-se que ignorar os alunos equivale a um reforço negativo, provavelmente por causa das motivações sociais que nos levam a buscar uma aprovação‖ (p. 24); ademais, ―alguns professores são particularmente negativos e desanimam os alunos com avaliações negativas‖ (p. 2425), nas quais incluem-se verbalizações nefastas. Ora, as motivações sociais e os estímulos negativos a que se referem os autores representam elo significativo entre os alunos de EJA e suas relações, presentes e pregressas, com a escolarização. Logo, torna-se importante refletir sobre em que medida se cruzam as trajetórias de professores e alunos do referido segmento. Optou-se aqui pela análise dos elementos culturais e motivacionais envolvidos em cada trajetória, com vista a observar similaridades e discrepâncias as quais possam interferir no andamento das atividades escolares da EJA. Nessa linha de raciocínio, fazem-se úteis as reflexões de Bzuneck (2001) sobre a tarefa dos educadores em geral − e nesse ponto podemos direcioná-las à tarefa dos educadores da EJA: Os educadores (...) têm em mãos uma tarefa árdua e muito custosa, que exige conhecimentos, habilidades e muito senso de compromisso com a educação. Trata-se de alunos nos quais é preciso reverter uma história de socialização que os precipitou numa condição incompatível com a aprendizagem. [BZU, 01, p. 25] A incompatibilidade referida pelo autor diz respeito ao âmbito geral da desmotivação dos alunos para aprender e suas implicações. O binômio motivaçãodesmotivação é objeto de nosso estudo; este, porém, reiteramos, direciona-se aos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos no Ensino Médio da capital paulista. Valem aqui, portanto, considerações gerais sobre motivação para a aprendizagem, desde que respeitadas as peculiaridades do segmento estudado, para o qual deverão ser adaptadas/canalizadas as diversas referências. 42 Capítulo 6 – Currículo e métodos: seu papel na contextualização do ensino e na motivação do aluno de EJA. O currículo a ser desenvolvido na Educação de Jovens e Adultos, aliado aos demais fatores motivacionais, deve contribuir para o cumprimento dos propósitos dessa modalidade de ensino, explicitados com clareza no Parecer CEB/CNE 11/2000, que baseou a Resolução do CNE (Conselho Nacional de Educação) de Diretrizes Curriculares para a EJA (2000) . Tal resolução, além de modificar a nomenclatura, de Ensino Supletivo para EJA, enfatiza o direito público subjetivo dos cidadãos à educação; estabelece as funções reparadora, equalizadora e qualificadora da EJA; distingue-a da aceleração de estudos; recomenda a formação específica dos educadores e assinala a necessidade de contextualização do currículo e das metodologias. [SCH, 05] A Resolução, no entanto, deixa de detalhar o currículo e a metodologia de trabalho adequados à EJA, limitando-se a algumas considerações gerais, que incluem a extensão das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio para a EJA-Ensino Médio. Ora, as características discentes na EJA são distintas daquelas verificadas no corpo discente do Ensino Médio regular, como as próprias diretrizes enfatizam, deixando claro que em razão dessas peculiaridades é preciso oferecer uma educação apropriada, diferenciada: Artigo 5º, parágrafo único. Como modalidade destas etapas da Educação Básica, a identidade própria da Educação de Jovens e Adultos considerará as situações, os perfis dos estudantes, as faixas etárias e se pautará pelos princípios de eqüidade, diferença e proporcionalidade na apropriação e contextualização das diretrizes curriculares nacionais e na proposição de um modelo pedagógico próprio, de modo a assegurar: I – Quanto à eqüidade, a distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação; II – quanto à diferença, a identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores; III – quanto à proporcionalidade, a disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face às necessidades próprias da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos estudantes identidade formativa comum aos participantes da escolarização básica. [RES, 00] A concepção de currículo para a EJA, deduz-se das diretrizes assinaladas, deve levar em consideração o histórico, a vivência dos sujeitos envolvidos no processo 43 educacional. Sousa (2004/05) vai além, afirmando que quaisquer que sejam os sujeitos do processo educativo, convém que se sigam algumas orientações salutares: Se pensarmos que o Currículo tem a ver com o tipo de educação que se deseja para crianças, adolescentes, jovens ou adultos, de um determinado país, uma região, um município ou uma escola, veremos então como esta área começa a ser fulcral na formação do educador e do professor, na medida exata dos processos de democratização dos sistemas políticos, assentes numa cada vez maior participação consciente dos cidadãos e, com maior peso, dos agentes de educação por ela responsáveis. [SOU, 04/05, p.1] Sob esse ponto de vista, revela-se importante elaborar um currículo a partir da realidade de cada escola, consoante a opinião de Almeida (2007), para a qual a metodologia de temas geradores proposta por Paulo Freire [FEI, 99] torna-se um norte, já que por meio dela é possível selecionar conteúdos disciplinares a serem discutidos em sala de aula. Gadotti (1997), por sua vez, reforça que a concepção de currículo de Paulo Freire é magistral, uma de suas contribuições à história da Pedagogia. Segundo esse autor, os conceitos de transdisciplinaridade, transcurricularidade e interculturalidade são essenciais para se compreender a pedagogia freireana. A inter e a transdisciplinaridade freireanas não são apenas um método pedagógico ou uma atitude do professor. Elas se constituem numa verdadeira exigência da própria natureza do ato pedagógico. Paulo Freire, na prática, sabia trabalhar com várias disciplinas ao mesmo tempo: a etnografia, a teoria literária, a filosofia, a política, a economia, a sociologia, etc. Trabalhava mais com teorias do que com disciplinas ou currículos − que dizia deveriam ser ultrapassados. Insistia que os alunos buscassem fora de seu currículo outros conhecimentos. [GAD, 97, grifo do autor] Essa busca de conhecimentos pode dar-se também no âmbito da cultura midiática, prezada por Freire como um complemento do que aprendemos na escola e também como um motor do conhecimento [GAD, 97]. Assim, a cultura midiática pode nos despertar para certos temas geradores que o saber escolar ignora ou valoriza pouco, que podem ser, por exemplo, de um lado, a pobreza e a violência, e, de outro, a solidariedade e a interculturalidade. Os meios de comunicação mais modernos exploram a sensibilidade. Ora, é verdade que só aprendemos o que sentimos profundamente. A mídia pode nos sensibilizar e a escola pode partir desta sensibilização para ir além. [GAD, 97, grifo do autor]. Na mesma esteira, Bueno (2007), considera que os problemas vivenciados cotidianamente em sua comunidade devem constar do currículo de ensino de jovens e adultos: assim, deve-se discutir, por exemplo, a ausência de serviços de transporte, de saúde, a violência urbana dos locais. É proveitoso lembrar também que a Educação deve-se dar em múltiplos e diversos locais; precisa ser disseminada no campo social, no intuito de possibilitar que 44 as experiências sejam trocadas em um processo criativo de mútua realimentação, conforme Garcia (2001). No entanto, convém atentar para o tipo de educação que se vai priorizar nesse processo. A Educação, conforme o autor, pode ser serva do modelo que aí está, realimentando-o acriticamente, como pode ser uma reflexão crítica a este modelo, buscando alternativas em cima de uma prática social concreta. Esta prática deveria buscar a emergência de valores de solidariedade, liberdade e igualdade. [GAR, 01, p.63] Ao referir-se à realimentação acrítica do modelo educacional vigente, Garcia (2001) remete-nos a Frigotto (1995), na medida em que ambos criticam ―o modelo de sociedade que temos, com a sua ética excludente, competitiva e predatória‖ [GAR, 01, p.64]. Tal modelo dificulta a construção, ―através de processos educativos, de formas solidárias, igualitárias e plurais de convivência entre os homens‖ [GAR, 01, p.64]. A construção ideal pretendida por esse autor opõe-se, portanto, à ―pedagogia bancária‖ nomeada e condenada por Freire (1969 e 1987), cuja crítica é reiterada por Dauster (2001), e direciona-se para a ‗concepção problematizada‘ proposta por Paulo Freire. Fica claro que a idéia de um sistema ‗bancário‘ de educação consiste em relações de oposição binária entre educador e educando. Nestas, o papel que o educando preenche é sistematicamente o espaço inverso a esta correlação, ou seja: o educador sabe, os educandos não sabem; o educador pensa, o educando é pensado; o educador tem a palavra, o educando tem a escuta; o educador opta, prescreve, programa, disserta, em suma, é sujeito da ação, enquanto o educando é subordinado, submetido e objeto, em relação ao ato educacional. [DAU, 01, p.76] Essa via de mão única está longe de ser aceita pelos atuais pensadores da Educação, buscadores de outras práticas que permitam a todos os sujeitos do processo educativo desfrutar os benefícios advindos de sua participação/colaboração. Interessamnos neste capítulo, de maneira especial, as buscas relacionadas a currículo, sobretudo às inovações que facultem a alunos e mestres a chance de motivar-se em razão de uma relação mais prazerosa, mais fecunda entre si e seus objetos de estudo. Andrade (2003) afirma que a ―intenção educativa de uma escola é definida por seu currículo‖ ─ o plano de ação que ―operacionaliza a proposta pedagógica da escola‖(...), elo entre a teoria educacional e a prática escolar real, a da sala de aula (p.11). No entanto, de acordo com Rischbieter (2007), a simples leitura do currículo não é suficiente para dar uma idéia de como funciona uma escola. Afinal de contas, existem grandes diferenças entre o currículo oficial e o que efetivamente se passa em sala de aula, que podemos chamar de ‗currículo real‘ (...). O currículo pode ser uma referência sobre o modo de ser da escola, especialmente quando apresenta inovações em seus conteúdos. [RIS, 07] 45 Algumas escolas hoje ampliam seu currículo acrescentando atividades extracurriculares, denominação imprópria segundo Andrade (2003), pois as atividades extraclasse devem ser consideradas parte do currículo escolar. Por meio dessa observação, alarga-se a visão corrente de currículo. Andrade (2003) afirma que a revisão do currículo escolar é necessária sempre, e deve pautar-se em suas três fontes principais: sociológica, epistemológica e psicopedagógica, de modo a reforçar a mediação entre o indivíduo que aprende e o mundo circundante. De acordo com Coll [1996, ap. AND, 03], nos quatro componentes do currículo apóiam-se as decisões sobre o que incluir no Projeto Curricular: −O que ensinar: a necessária concretização das intenções educativas nos conteúdos, que devem ser analisados em seus aspectos lógicos e psicológicos. −Quando ensinar: a organização, a integração e a seqüenciação dos conteúdos, atendendo à sua estrutura lógico-psicológica. −Como ensinar: a metodologia de ensino e a intervenção pedagógica, respeitando-se as diferenças individuais e a pluralidade cultural e considerando-se o princípio de globalização, transferência, funcionalidade e retenção e o estabelecimento de relações (aprendizagem significativa). −O quê, como e quando avaliar: com a definição prévia de para que avaliar, considerando as duas funções da avaliação, de permitir o ajuste da intervenção pedagógica às características individuais dos alunos e de determinar o grau de consecução das intenções educativas do projeto pedagógico. [Coll, 1996, ap.AND, 03, p.13, grifos do autor] Perrenoud (2003), em um estudo acerca dos sistemas de avaliação escolar, tece considerações oportunas sobre o currículo e suas finalidades. Para este estudioso, hoje, de modo geral, existe um risco de se limitar o currículo a um núcleo cognitivo tradicional, altamente marcado pelas provas que privilegiam os saberes mais facilmente mensuráveis e que não levam em conta competências, atitudes, relação com o saber, desenvolvimento social ou dimensão reflexiva. Ao contrário, para esse autor configurase como mais importante que: 1. O currículo tenha precedência e se fundamente naquilo que pareça essencial para ensinar e aprender, em vez de fundamentar-se na obsessão de avaliar de modo preciso ou na preocupação de fazer boa figura diante de uma concorrência que passa por tantas mediações; 2. O sucesso escolar se fundamente numa avaliação eqüitativa do conjunto das dimensões do currículo. [PEP, 03] Concordamos com Perrenoud quando privilegia o currículo como uma referência essencial no que tange às noções de sucesso ou fracasso escolar ou ainda à noção de excelência do sistema educacional. Para ele, o projeto do sistema escolar alicerça-se no conjunto de objetivos e conteúdos de formação representados pelo currículo, o qual está 46 norteado em textos que têm força de lei. Estes, por isso mesmo, não podem ser inconseqüentes, ainda que exista a possibilidade de terem mais de uma interpretação [PEP, 03]. Já sabemos que as leis referentes à EJA no Brasil fazem menção a uma forma de educar que não é necessariamente aquela preconizada pelo ensino dito tradicional, embora sabiamente não desprezem sua base curricular. Na legislação vislumbramos a sugestão de uma nova forma de educar, considerando-se as peculiaridades dos educandos. A SECAD (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade) disponibiliza aos mestres de EJA em nível fundamental uma coleção de cadernos pedagógicos, bastante útil ao fazer docente da Educação de Jovens e Adultos [COL, 07]: Alunas e Alunos da EJA é o título do primeiro caderno. Traz informações, estratégias e procedimentos que ajudam o educador a conhecer seus alunos. Aborda itens como o perfil deste público: por que procuram os cursos, o que querem saber, o que sabem e o que não sabem, suas relações com o mundo do trabalho e na sociedade em que vivem. O segundo volume, A sala de aula como um grupo de vivência e aprendizagem, apresenta estratégias capazes de criar, desenvolver e manter a sala de aula como um grupo de aprendizagem com interação professor/aluno e os alunos entre si. Os cadernos três e quatro — Observação e registro, Avaliação e planejamento — cuidam da prática pedagógica. No último volume, Processo de Aprendizagem dos Alunos e Professores, estão orientações e discussões relativas à teoria do conhecimento: como os alunos aprendem e como os professores aprendem ensinando. [COL, 07] Falta aos educadores da EJA, no entanto, um cabedal teórico disponível para consultas no que tange a métodos eficazes de trabalho voltados a esse público escolar em nível médio, informação confirmada inclusive no Portal da EJA, uma referência nacional em Educação de Jovens e Adultos: Pelo Ministério da Educação não existe nenhum material destinado a educação de Jovens e Adultos nível médio, porém, sugerimos que [o professor] se dirija às Secretarias de Educação do Estado ou do Município para verificar o que existe para essa modalidade de ensino. [POR, 07] Nas secretarias de Educação do Estado ou do município podem ser encontrados alguns materiais, como os referidos Cadernos de EJA ou relatos de recursos empregados nos Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos (CIEJAS) ou ainda os materiais destinados ao Ensino Médio Regular, para adaptação. Nada, portanto, específico para EJA-Ensino Médio, ao que parece. 47 Considerando-se as orientações até então difundidas na literatura sobre EJA, infere-se que um bom material de apoio para o Ensino Médio possa ser elaborado tendo em vista a relação do aluno com o conhecimento. Conquanto poucos estudantes da EJA acreditem na escola como um lugar de excelência na transmissão do conhecimento historicamente produzido pelo homem e, sendo assim, não consigam vincular a educação escolar à construção de seus projetos de vida [SZA, 06], é notório que acreditam na escola como meio de alcançar uma existência melhor. O PROEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos), um dos focos de nossa observação das relações entre currículo e motivação para a aprendizagem, prestase justamente a essa idéia de escola como elemento transformador da realidade. O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos ─ PROEJA ─ é a educação de jovens e adultos que inclui formação inicial e continuada de trabalhadores e educação profissional técnica de nível médio. O programa foi criado por decreto pelo Governo Federal em 2005 e é regido hoje pelo DECRETO Nº 5.840, DE 13 DE JULHO DE 2006. O PROEJA inclui o jovem e o adulto socialmente e ainda no mundo do trabalho. O programa pode ser adotado pelo ensino privado, mas é obrigatório nos CEFETs, que estão realizando trabalhos de vanguarda neste novíssimo campo da educação. [RIS, 07] Essa iniciativa vem, pois, complementar e reforçar o trabalho até então desenvolvido pelos profissionais que se dedicam ao Ensino de Jovens e Adultos em nível fundamental. Torna-se uma forma significativa de ampliar o atendimento à população que, por algum motivo, não pôde dedicar-se aos estudos em épocas anteriores e que já concluiu o Ensino Fundamental. Desse modo, a despeito dos problemas enfrentados por esses indivíduos, cujo espectro abrange um âmbito de múltiplas especificidades e singularidades desde desemprego, subalternidade, condições físicas e emocionais, ou ainda, muitos pais e mães que buscam uma maior escolaridade para contribuir com seus filhos nas tarefas escolares (...) voltam à escola para aprenderem, visando, talvez, a uma melhor qualidade de vida. [MUR, 01] Os professores são o canal pelo qual se abrirão as portas dos saberes voltados a uma melhor qualidade de vida. Segundo Carr e Kemmis [1988, ap. HER e VEN, 98, p.15], não são os especialistas as figuras medulares de toda atividade curricular, mas sim aqueles que ensinam, pois são eles os que levarão o currículo à prática. Sobre essa prática, de acordo com os mesmos autores, os mestres deverão formular juízos 48 respaldados por seus conhecimentos e suas experiências, bem como pelas exigências de sala de aula, de cada situação ali vivenciada, ou ainda exigências da escola em que ensinam. Concordamos com essa perspectiva desde que respaldada pela abertura permanente dos mestres face àquilo que de melhor se tem produzido no campo pedagógico nos últimos anos, cujo intuito tem sido auxiliar o trabalho docente. Ou seja, é indispensável que os professores se mantenham atualizados, em consonância com a produção recente no campo educacional e que associem os frutos dessa atualização a sua ação docente cotidiana. Morin [2001, ap. HER e VEN, 98] chama-nos a atenção para a necessidade de estudantes e professores ‗reaprenderem a aprender‘, servindo-se de seu pensamento ―para repensar a nossa estrutura de pensamento‖ (p. 48). Além disso, Morin acredita um contra-senso que a escola ignore o processo de conhecimento do ser humano e vise somente à transmissão de conhecimentos. Consoante o autor, tal procedimento fragmenta o conhecimento, isolando-o, impedindo que haja uma visão de conjunto, promotora da compreensão da totalidade [MOR, 06]. Precursor da teoria do pensamento complexo, ele demonstra que, para enfrentar com eficiência os novos desafios sociais e político-econômicos globais, será necessária a competência de pensar e tomar decisões, encarando a realidade em sua complexidade. [Morin, 2001, ap.HER e VEN, 98, p.13] Repensar a nossa estrutura de pensamento implica também observar que este se encontra mergulhado em uma Terra globalizada e dela é, portanto, resultante. Diversos teóricos discorrem sobre o Educar na Globalização, considerando suas peculiaridades e seus pontos de convergência no que tange à mundialização do conhecimento. A globalização, em sua relação com a prática escolar, não deve ser apenas somatória de matérias, tampouco somente conjunção de diferentes disciplinas em torno de um mesmo tema, mas estrutura psicológica da aprendizagem, conforme Hernández e Ventura (1998). (...) esse enfoque se apóia na premissa psicopedagógica de que, para tornar significativo um novo conhecimento, é necessário que se estabeleça algum tipo de conexão com os que o indivíduo já possua, com seus esquemas internos e externos de referência, ou com as hipóteses que possam estabelecer sobre o problema ou tema, tendo presente, além disso, que cada aluno pode ter concepções errôneas que devem ser conhecidas para que se construa um processo adequado de ensino-aprendizagem. [HER e VEN, 98, p. 57] . Coll [86, ap. HER e VEN, 98] alude a uma perspectiva semelhante: para ele, o princípio de globalização ―traduz a idéia de que a aprendizagem não se realiza por uma 49 simples adição ou acumulação de novos elementos à estrutura cogniscitiva do aluno‖. Tal visão pressupõe, isso sim, que os indivíduos, em sua aprendizagem, ―estabelecem conexões a partir dos conhecimentos que já possuem e (...) não procedem por acumulação, e sim pelo estabelecimento de relações entre as diferentes fontes e procedimentos para abordar a informação‖ (p.57). Ainda de acordo com esse autor, para concretizar a proposta globalizante de ensino, torna-se necessário um planejamento curricular cujos conteúdos sejam de fato organizados para uma aprendizagem significativa − tarefa não muito fácil para boa parte dos professores, na visão de Hernández e Ventura (1998). A dificuldade relativa ao Planejamento Curricular advém, segundo os estudiosos, da prática corrente de partir de concepções disciplinares ou de matérias, o que conduz os planejadores a não desenvolverem pautas organizativas a partir de problemas e situações da prática, o caminho ideal. Sugerem, então, outras propostas, como a organização do currículo por atividades, temas ou projetos, pois estes ensejam flexibilidade e abertura no planejamento e na hora de colocar em prática o que foi planejado. [HER e VEN, 98, pp.59-60]. Geralmente, a articulação disciplinar que se apresenta nas escolas, e que se torna patente num currículo oficial por matérias, é o resultado de um processo de compartimentação do saber, devido a sua acumulação ao longo dos anos. Isso originou, por exemplo, um debate sobre as duas faces de uma mesma moeda, especialização ou interdisciplinaridade, e que constituiu a base de algumas importantes controvérsias sobre a preponderância e autonomia dos campos do saber [HER e VEN, 98, p. 46]. O processo de compartimentação recém-mencionado, promotor da fragmentação no ensino, faz-nos lembrar as discussões em torno da interdisciplinaridade, proposta por diversos autores como caminho para superar os atuais problemas da Educação. Ivani Fazenda [1994 e 1994, ap. CAR, 07] rememora o surgimento da interdisciplinaridade: deu-se na França e na Itália, na década de 60, como uma espécie de resposta às reivindicações estudantis de um ensino mais sintonizado com as grandes questões sociais, políticas e econômicas da época. A interdisciplinaridade teria sido uma resposta a tal reivindicação, na medida em que os grandes problemas da época não poderiam ser resolvidos por uma única disciplina ou área do saber. Os caminhos na busca da interdisciplinaridade devem ser trilhados pela equipe docente de cada unidade escolar. O ponto de partida é determinado pelos problemas escolares compartilhados pelos professores e por sua experiência pedagógica. O destino é determinado pelos objetivos educacionais, ou melhor, pelo projeto político pedagógico da escola. [CAR, 07, p.1] 50 Leis (2005) admite como uma das definições da interdisciplinaridade a de que ela seja ―um ponto de cruzamento entre atividades (disciplinares e interdisciplinares) com lógicas diferentes. Ela tem a ver com a procura de um equilíbrio entre a análise fragmentada e a síntese simplificadora‖ (p. 1). Maheu (2004), por sua vez, chama a atenção para que não se confundam a multi e a pluridisciplinaridade com a interdisciplinaridade: a multi e a pluridisciplinaridade referem-se à justaposição de duas ou mais disciplinas de um curso, sem que sejam definidos objetivos pedagógicos comuns, portanto, sem que haja interconexão entre as disciplinas. O resultado de práticas dessa natureza tem sido, muitas vezes, desastroso: o esfacelamento de conteúdos, o descontentamento de alunos e professores que perdem o norte da ação, a improvisação e os maus resultados escolares. [MAE, 04, p. 1] Em especial recordamos Severino (2001), quando afirma que só será possível superar a fragmentação da prática escolar se a escola se tornar o lugar de um projeto educacional. Tal projeto, na ótica do autor, deve ser um projeto marcado pela intencionalidade, isto é, no qual o ―conjunto articulado de propostas e planos de ação‖ ocorra ―em função de finalidades baseadas em valores previamente estabelecidos e assumidos‖ (p. 38, grifo do autor). A intencionalidade constitui-se, para Severino (2001), a via pela qual se pode educar suprimindo ou reduzindo os interesses particulares em favor de interesses universais. Destarte, para ele ―a prática da interdisciplinaridade, inclusive no plano da integração curricular‖, depende grandemente da existência real de um projeto educacional calcado em uma intencionalidade − determinada a partir das metas a serem atingidas pelos ―sujeitos educandos‖. [SEV, 01, pp.170-171]. Cumpre-nos observar, também, neste trabalho, se a maneira como é desenvolvido o currículo de EJA no Ensino Médio coaduna-se com os objetivos apontados por Severino (2001) e motiva o aluno a prosseguir seus estudos, a fim de que atinja a meta de aprendizagem significativa. Interessante lembrar aqui que, independentemente dos recursos disponíveis ─ ou não ─ em cada escola, cabe ao professor um papel essencial na motivação do aluno para o alcance de seus propósitos [FIT,06]. Parolin (2007), quanto a isso, afiança: Uma aula pode ser mediada usando, como instrumento de apoio, apenas o quadro, giz, papel e lápis, e constituir-se em uma aula inesquecível. Mas também pode acontecer o contrário: o professor ter como instrumentos de apoio materiais muito sofisticados, como computador, jogos eletrônicos e a aula não atingir o seu verdadeiro objetivo, que é o de provocar aprendizagens significativas. [PAR, 07, p. 9] 51 Nesse caso, cabe-nos indagar como pode o professor de EJA, com poucos ou muitos recursos, motivar seus pupilos de modo a conduzi-los ao verdadeiro alvo de que trata Parolin (2007). Casério (2004) discorrendo sobre os pressupostos da concepção histórico-crítica de Saviani [1997?, ap. CAS, 04], afirma que um deles está relacionado aos métodos, que deverão ser eficazes, estimuladores das atividades, criatividade, iniciativas dos alunos e professores; promotores de atitudes dialógicas entre alunos, professores e a cultura; respeitadores dos interesses dos alunos, seus ritmos de aprendizagem, sem perder de vista a sistematização dos conhecimentos. [CAS, 04, p. 01] Caminhar nesse rumo na EJA-Ensino Médio implica proceder a pesquisas voltadas para métodos/estratégias de ensino voltadas ao segmento, pois, conforme assinalado há pouco, praticamente não há materiais de apoio disponíveis para os professores até a presente data. Um outro caminho para geração de métodos motivantes de ensino para a EJAEnsino Médio constitui-se a exploração da ludicidade no dia-a-dia escolar. Negrine [1998, p.3, ap. CAB e SAL, 05, p. 2], afirma: ―está comprovado que as atividades prazerosas atuam no organismo causando a sensação de liberdade e espontaneidade‖. Portanto , conforme Cabrera e Salvi (2005), a ludicidade pode ser encarada como um processo que possibilita a descoberta e a aprendizagem. Por meio de práticas lúdicas o aprendiz exercita o autoconhecimento, aprende a respeitar a si mesmo e ao outro, a relacionar-se bem por meio da percepção do brincar consciente e da não-violência. Ele amplia sua compreensão e sua prática sobre como o lúdico contribui para uma vivência integrada entre os colegas e o professor, motivando-os a aprender. [CAB e SAL, 05, p. 2]. A atividade lúdica, afiançam as pesquisadoras, é possível e justificável no ensino médio, porque contribui para o aprimoramento do processo ensino-aprendizagem, ―visto que (...) relaxa os terminais nervosos, permite uma experiência integral, cria corporalmente um campo de reconhecimento e plenitude na experiência‖ [CAB e SAL, 05, pp. 2-3]. As autoras classificam ainda o lúdico quanto aos tipos: jogos pedagógicos, brincadeiras, dinâmicas de grupo, recorte e colagem, dramatizações, exercícios físicos, cantigas de roda, atividades rítmicas, atividades nos computadores. Chamam também a atenção para o emprego destas atividades no Ensino Médio e em particular na EJA, baseadas nas diretrizes do Conselho de Defesa do Direito de Brincar: 52 De acordo com as diretrizes do Conselho de Defesa do Direito de Brincar (2004, p. 2), as atividades lúdicas apresentam diferentes objetivos para cada área de ensino.(...) no Ensino Médio: visam a participação, a solidariedade, a cooperação, o respeito do aluno a si mesmo e ao outro, a análise crítica, a reflexão , a motivação e a participação em sala de aula e o prazer de aprender a aprender; na Educação de Jovens e Adultos (EJA): visam a uma aprendizagem adequada à realidade do aluno e da sociedade em que está inserido. [CAB e SAL, 05, p. 7-8] A ludicidade, portanto, destaca-se como estratégia motivacional importante no processo ensino-aprendizagem da EJA-Ensino Médio. Rizzo [1997, p. 21, ap. CAB e SAL, 05] afirma que inexiste aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer. Consoante o autor, para o desempenho de uma tarefa são importantes a aprendizagem e a motivação, para que o processo não se torne monótono. A compreensão e o uso adequado de atividades lúdicas no ensino podem resultar em interesse, concentração da atenção e em atividade produtiva, porém, sua falta poderá conduzir a um aumento de tensão emocional, problemas disciplinares, aborrecimentos, fadiga e aprendizagem insatisfatória. A importância da ludicidade como fator motivacional, justifica o seu uso como recurso de ensino, podendo proporcionar um desenvolvimento globalizado, além de formar o aluno um cidadão. Por ser considerado prazeroso, com capacidade de absorver o aluno de forma intensa e total, criando um clima de entusiasmo e envolvimento emocional, o lúdico se torna uma atividade com forte teor motivacional capaz de gerar um estado de vibração e euforia dentro de uma esfera de ordem e satisfação que torna a ludicidade portadora de um interesse intrínseco, canalizando as energias no sentido de um esforço total para a execução de seu objetivo. Portanto as atividades lúdicas são excitantes, mas requerem esforços voluntários, reflexivos e responsáveis por parte dos elaboradores. [CAB e SAL, 05, p. 8] Ademais, a adoção de atividades lúdicas no ensino torna-se um norteador de relações harmônicas entre professores e alunos. Nesse sentido, é capaz de alterar vários universos dentro do espaço escolar, o que possibilita desenvolver a criatividade, ―transformando a noção enfadonha de aprendizagem num procedimento dinâmico‖. Outrossim, multiplicam-se os valores e os conhecimentos , ―estimulando a apreensão no processo de ensino, fazendo dos professores adeptos dessa ‗metodologia‘ pessoas mais interativas e inovadoras em suas práticas de ensino e dos alunos, pessoas pensantes e felizes‖. [CAB e SAL, 05, p. 3]. Buscando um entendimento mais abrangente da questão dos métodos de ensino, Pinto (2007) sugere que o educador, no exercício de controle de sua própria consciência, além de incrementar seus conhecimentos e atualizá-los, deve esforçar-se por ―praticar os métodos mais adequados em seu ensino, proceder a uma análise de sua própria realidade pessoal como educador‖. De acordo com o autor, convém que o mestre examine com ―autoconsciência crítica sua conduta e seu desempenho, com a 53 intenção de ver se está cumprindo aquilo que sua consciência crítica da realidade nacional lhe assinala como sua correta atividade‖ (p. 113). Casério (2004), na mesma linha de reflexão, reafirma que ―a prática docente crítica implica o movimento dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer‖. Assim, ocorre ―reflexão crítica sobre a prática‖. A autora declara que ―é pensando criticamente a prática de hoje ou ontem, que se pode melhorar a prática de amanhã‖ (p.1, grifo da autora). Embasada em Vasconcellos [2002, ap. CAS, 04], propõe uma mudança tanto da teoria (consciência) quanto da prática do professor, na busca da práxis, que significa uma prática embasada por uma teoria, o que acarreta significado e uma teoria desafiada pelas questões práticas. [CAS, 04, p.1] Não se trata, pois, de determinar, a partir dos parâmetros observados, um método fixo, ―infalível‖, para o trabalho com EJA-Ensino Médio. Há de se ter precaução, conforme Pinto (2007) e Cabrera e Salvi (2005), para eliminar um risco: o de artificialização do método, que ocorre quando se acredita que ―as virtudes de um determinado método podem suprir a deficiência dos demais fatores‖ [PIN, 07, p. 50] envolvidos na realidade educacional. Assim, o movimento do ir-e-vir entre a teoria e a prática é que determina o uso, a freqüência e a variabilidade dos métodos a serem empregados. Uma última preocupação dos estudiosos diz respeito ao fato de que o professor precisa dispor de um apoio teórico consistente para realizar com sucesso a inter-relação entre teoria e prática. Se isso não ocorrer, ele terá dificuldade em articular suas ações e assim o aluno não verá uma real significação naquilo que o educador propõe; por conseqüência, ―não terá motivos para se envolver nas atividades propostas‖. [FRC, COS e FAR, 03, p. 66] Partindo do princípio de inter-relação contínua da teoria e da prática, buscamos, ao longo de nosso estudo sobre a motivação na EJA-Ensino Médio, verificar se existem entre as atuais práticas docentes na EJA elos significativos com a denominada ‗pedagogia de ponta‘ preconizada por vários dos teóricos mencionados neste caldo cultural. 54 2.1.1. Objetivo Geral Análise de aspectos motivacionais relativos a professores e alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Ensino Médio. 2.1.2. Objetivos Específicos Analisar aspectos motivacionais relativos a docentes e discentes, no intuito de sugerir estratégias de motivação viáveis, integradas ao processo educativo da EJA. Verificar a motivação para aprender na EJA a partir da figura do professor, elemento fundamental no processo ensino-aprendizagem. Verificar se as atuais práticas docentes na EJA apresentam elos significativos com os pressupostos teóricos presentes no estado da arte da Educação de Jovens e Adultos brasileira. Contribuir, por meio da detecção e análise dos fatores motivacionais mais relevantes na EJA, para uma reflexão docente a respeito de suas práticas em sala de aula. Contribuir, por meio do compartilhamento dos resultados, para a ‗repensagem‘, se a pesquisa assim revelar necessário, do currículo, dos métodos e/ou de outras variáveis relacionadas com o trabalho educacional na EJA, no intuito de reduzir a desmotivação e a evasão escolar nesse segmento. Estimular os alunos de EJA, por meio das respostas ao questionário a eles destinado, a refletir sobre sua vivência escolar na atual fase de seu aprendizado, bem como valorizar sua subjetividade e sua participação como cidadãos. Observar o grau de consciência crítica do aluno da EJA-Ensino Médio no que se refere a sua relação com o conhecimento e com o processo de escolarização. Detectar caminhos de pesquisa contributivos para o trabalho com Educação de Jovens e Adultos em nível médio. 55 3. Método 3. 1. Participantes Participaram da pesquisa 171 alunos dos três termos da EJA-Ensino Médio, de diferentes faixas etárias, e 56 professores, de escolas públicas das esferas estadual e federal. A idade mínima dos alunos é de 17 anos e a idade máxima, 75 anos; mediana de 27 anos, média de 31,6 anos e desvio-padrão de 12,8 anos. Quanto aos professores, apresentam experiência docente média de 5,5 anos, sendo a mínima de 7 meses e a máxima de até 24 anos, com média de 5,5 anos, desvio-padrão de 5,11 anos e mediana de 3 anos. 3. 2. Material Para coleta dos dados foram aplicados dois questionários, compostos de questões de múltipla escolha (baseadas na escala de Likert) e questões abertas: um para os alunos e outro para os professores, cujo conteúdo relaciona-se a aspectos motivacionais no processo ensino-aprendizagem da Educação de Jovens e Adultos. O questionário dos alunos contou com 30 questões (anexo 1) e o dos professores com 32 questões (anexo 2), quase todas com subitens, em razão da multiplicidade de variáveis envolvidas na motivação dos indivíduos. Tais questionários foram adaptados de outros instrumentos e textos relacionados aos aspectos focados nesta pesquisa, cujas referências são: Melo e Bento (2000); Fiúza e Martins (2000); Marcha Nacional (1999?); Cardoso e Bzuneck (2004); Sobral (2002); Guimarães, Bzuneck e Boruchovitch (2003); Siqueira e Weschler (2006); Projeto GERES (2005); Balbinotti e Tétrau (2002); Borges e Alves Fº (2001); Barbosa, Gontijo e Santos (s/d), Guimarães e Boruchovitch (2004); Godoi (2001); Günther (1999), Chizzotti (1995); Martinelli e Bartholomeu (2007); Moraes e Varella (2007); Nova Escola (2007) e Ruiz (2004). 56 3. 3. Procedimento Para a concretização da pesquisa selecionamos algumas escolas da região centro-norte da cidade de São Paulo, que oferecem a modalidade Educação de Jovens e Adultos – Ensino Médio: 04 estabelecimentos estaduais, 04 particulares e 01 federal. O Projeto de Pesquisa foi previamente examinado pelo Comitê de Ética e aprovado (processo nº 23059.000888/2007). Providenciou-se uma Carta de Apresentação do gerente de pós-graduação do CEFET-SP, para ser entregue aos responsáveis pelos estabelecimentos, solicitando autorização para aplicar os questionários. A participação das escolas públicas ocorreu normalmente, relevadas as dificuldades habituais da pesquisa de campo. Nas escolas particulares, fomos atendidos de forma atenciosa pelos responsáveis, que se revelaram propensos a participar. No entanto, após a apresentação dos questionários, apenas uma delas se manteve disposta a prosseguir, desde que houvesse uma espécie de preparo prévio dos professores e o agendamento de acordo com as determinações do diretor. Este, porém, não estava disponível toda vez que tentávamos efetuar o agendamento, uma das razões pelas quais desistimos da pesquisa no referido estabelecimento. A outra razão, mais forte, foi a possibilidade de os dados serem contaminados em razão da conversa prévia do diretor com seus professores acerca dos questionários. Nas escolas efetivamente pesquisadas, entre os meses de agosto e outubro de 2007, após autorização da direção e coordenação, explicação detalhada da pesquisa aos participantes ─ incluindo leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ─, os questionários foram aplicados: aos alunos em sala, nas quadras e nos pátios, durante o período regular de aulas. aos professores nas dependências da escola ou em local por eles determinado, nos intervalos de tempo disponíveis em sua agenda. Convém assinalar que nem todos os estabelecimentos de ensino dispunham de um funcionário que pudesse acompanhar a pesquisadora e propor o trabalho de campo aos participantes. Sendo assim, em alguns deles coube à própria pesquisadora percorrer as salas e demais dependências escolares em busca dos sujeitos de pesquisa. 57 Após proposição do trabalho e reunião dos voluntários, estes foram consultados por meio de questionários específicos para cada grupo (anexos 1 e 2), conforme detalhado em Material (item 3.2). Observaram-se comportamentos e coletaram-se também alguns depoimentos espontâneos durante a atividade de campo. Os intentos da consulta escrita e da audição dos colaboradores incluíram: obter informações a respeito de fatores motivacionais relevantes para mestres e estudantes no dia-a-dia escolar; obter informações sobre o tipo de currículo adotado nos estabelecimentos e os métodos empregados para desenvolver os conteúdos curriculares; constatar o grau de motivação/desmotivação suscitado por essas variáveis e pelas condições gerais de ensino entre docentes e discentes. Solicitamos a professores e alunos, por escrito, caso considerassem necessárias, sugestões de alterações − curriculares, metodológicas ou de outra natureza −, as quais contribuíssem para minorar eventuais problemas no processo ensino-aprendizagem da EJA. Os dados coletados foram submetidos a uma análise de conteúdo, para exclusão de desvios de foco. Em seguida se procedeu à sua inserção em um banco de dados VisualFoxPro ; a partir desse banco e dos programas Arcview e Excel, construíram-se tabelas, gráficos, quadros e perfis, a fim de visualizar melhor os resultados. Estes foram, então, submetidos a tratamento estatístico, depois comparados entre si e considerados à luz do referencial teórico. O tratamento estatístico dos dados incluiu o Teste do Qui-quadrado, a Correlação de Sperman e o cálculo de Média e Desvio-padrão, conforme a questão estudada. Após tabulação, tratamento estatístico e análise dos dados coletados, obteve-se um corpo de aspectos relevantes, em grau maior ou menor, associados à motivação de alunos e professores na EJA – Ensino Médio, bem como sugestões acerca do que poderia ser aprimorado com auxílio de estudantes e docentes desse segmento e/ou por meio de ações da coordenação, direção e instâncias superiores do ensino. Tais informações serão explicitadas detalhadamente ao longo deste trabalho. 58 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados coletados em campo são aqui apresentados em forma de tabelas, gráficos, quadros e perfis, acompanhados de análise quantitativa e qualitativa de cada conjunto de informações. Utilizou-se como margem de erro 0,05 ─ compatível com a área de Ciências Humanas. A análise quantitativa contempla a descrição pormenorizada dos dados presentes em cada uma das formas de apresentação mencionadas e os cálculos empregados para sua verificação estatística. Buscou-se com isso apurar diferenças estatisticamente significantes entre as respostas dos sujeitos da pesquisa e verificar a existência de correlação entre os grupos pesquisados, quando as questões dizem respeito a alunos e a professores simultaneamente. A análise qualitativa, por sua vez, confronta os dados de campo com as informações presentes no referencial teórico elaborado pela autora, buscando suas interfaces mais importantes diante do tema investigado. Inferências e hipóteses agregam-se à análise conceitual sempre que consideradas necessárias; depoimentos espontâneos de professores e alunos pesquisados são também incorporados à discussão, comparados e/ou confrontados com os dados de campo, bem como com as informações constantes do referencial teórico empregado como balizador do trabalho. Os resultados mostrados em cada tabela, gráfico, perfil e quadro são analisados separadamente e em seguida correlacionados a outros gráficos, tabelas, perfis e quadros da monografia, quando tal ação se revelar produtiva no sentido de enriquecimento da análise. Vale ressaltar que não se pretende aqui esgotar todas as possibilidades analíticas de cada grupo de informações, mas priorizar aspectos relacionados com o tema da produção monográfica. Assim, algumas tabelas, gráficos, perfis e quadros são analisados mais detidamente enquanto outros contam com análise sintética, de acordo com as demandas emergentes do tema escolhido pela autora: Aspectos Motivacionais da Educação de Jovens e Adultos no Ensino Médio. Iniciamos a discussão dos resultados com um quadro proveniente da sondagem do universo ocupacional dos estudantes pesquisados: 59 Ocupação Nº de Trabalhadores Trabalhadores de serviços administrativos Trabalhadores do comércio (atendentes, balconistas,vendedores,estoquistas) 11 31 Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais 10 Trabalhadores da construção civil e de manutenção/ reparação de instalações elétricas, hidráulicas e outras 5 Trabalhadores da área da Saúde (auxiliares de enfermagem, atendentes de laboratório e afins) 1 Trabalhadores do ramo de Alimentação (cozinheiros, confeiteiros, açougueiros, ajudantes de cozinha e afins.) Trabalhadores da área de Segurança (vigilantes masculino e feminino): Trabalhadores da área de Educação (serventes e inspetores escolares) 7 4 4 Trabalhadores da área de Informática, Tecnologia e ocupações técnicas especializadas Trabalhadores da área de Transportes 6 1 Trabalhadores da área de Estética (cabeleireiros(as), manicures, pedicures,esteticistas e afins) 5 Trabalhadores em atividades de apoio domiciliar (empregadas domésticas, babás, cuidadores de idosos, diaristas): 7 Funcionários públicos 1 Aposentados 2 Estudantes 8 Do lar 11 Desempregados 13 Ocupações Indefinidas /Outras ocupações 23 Quadro 2 - Ocupações dos Alunos da EJA-Ensino Médio O Quadro 2 mostra a distribuição dos alunos da EJA-Ensino Médio nos diversos campos profissionais. Observa-se que a maioria dos alunos trabalha em ocupações simples, prevalecendo em número os trabalhadores do comércio. Presume-se a partir dessas informações que os educandos da EJA-Ensino Médio integram uma parcela da 60 população cujas condições socioeconômicas interferem duplamente em sua trajetória escolar: quiçá advindos de famílias humildes, precisaram parar seus estudos para ingressar no mercado de trabalho. O mesmo mercado de trabalho que absorveu parte deles há algum tempo hoje lhes cobra, porém, um nível de escolaridade acima do que detêm. Ou seja, para evoluir no emprego atual ou obter outro, melhor, é que a maioria dos estudantes da EJA retorna às carteiras escolares, como veremos adiante. Tabela 1 - Motivos para Freqüentar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) F % adquirir habilidades para o mercado de trabalho aumentar sua criatividade ampliar seu bem-estar mental aprimorar sua capacidade de resolver problemas variados evitar discriminações em razão da falta de um diploma arranjar um emprego ajudar seus filhos nos estudos buscar conhecimento, sem outro interesse envolvido melhorar/ampliar as relações interpessoais (fazer amigos) sentir-se gente aumentar sua produtividade no trabalho ser promovido na empresa em que trabalha ganhar mais na empresa onde trabalha mudar de empresa outros obter reconhecimento de amigos, parentes ou cônjuges exercer influência nas decisões da empresa onde trabalha ocupar seu tempo 95 80 76 66 61 49 49 42 37 37 32 24 23 23 22 20 19 16 12,2 10,27 9,76 8,47 7,83 6,29 6,29 5,39 4,75 4,75 4,11 3,08 2,95 2,95 2,82 2,57 2,44 2,05 fugir de problemas familiares 8 1,03 779 100.00 MOTIVOS TOTAL Os dados da Tabela 1 mostram os resultados das respostas dos alunos quanto aos motivos para freqüentar a EJA. Dentre eles, 12,2% afirmam que freqüentam o curso para adquirir habilidades para o mercado de trabalho; 10,27% buscam aumentar sua criatividade; 9,76% pretendem ampliar seu bem-estar mental; 8,47% querem aprimorar sua capacidade de resolver problemas variados; 7,83% querem evitar discriminação 61 em razão da falta de um diploma; 6,29% objetivam arranjar um emprego; 6,29% pretendem ajudar seus filhos nos estudos; 5,39 % buscam conhecimento sem qualquer outro interesse envolvido; 4,75% têm por motivação melhorar ou ampliar as relações interpessoais; 4,78% objetivam sentir-se gente; 4,10% querem aumentar sua produtividade no trabalho; 3,08% pretendem ser promovidos na empresa em que trabalham; 2,95% tencionam auferir ganhos maiores na empresa em que trabalham; 2,95% pretendem mudar de empresa; 2,57% têm por objetivo obter reconhecimento de amigos, parentes ou cônjuges; 2,44% intentam exercer influência nas decisões da empresa na qual trabalham; 2,05% disseram apenas querer ocupar seu tempo; 1,03% objetivam fugir de problemas familiares. É bom lembrar que a categoria ‘outros’ foi criada para contemplar outros motivos apontados pelos alunos para estarem na EJA. Com um total de 2,82% de respostas, incluíram-se nessa categoria as seguintes possibilidades: procura de ascensão financeira; busca do autoconhecimento; fazer faculdade; dar exemplo; concluir o Ensino Médio; fazer um curso rápido; conviver com pessoas cultas e buscar conhecimento internacional. Para verificar se existem diferenças estatisticamente significantes entre os dados obtidos foi aplicado o Teste do Qui-quadrado, cujos resultados, χ2o= 265,02 e χ2c= 28,87, (ngl=18) evidenciam diferenças estatisticamente significantes. Os dados coletados remetem à pluralidade dos sujeitos da EJA mencionada por Oliveira (2004), pois é possível observar que uma extensa gama de motivos, advindos de suas trajetórias singulares, conduz tais alunos à reintegração escolar. Interessante observar que entre os três motivos mais importantes para os alunos, o primeiro, adquirir habilidades para o mercado de trabalho, pertence à gama das motivações extrínsecas mencionadas por Fita (2006) e Lieury e Fenouillet (2000), enquanto o segundo e o terceiro motivos conectam-se à gama das motivações intrínsecas, estudadas pelos mesmos autores. Chamam a atenção porque na lista de motivos dos alunos para estar na EJA aparecem em posições privilegiadas, remetendo à idéia de que é possível , conforme Araújo (2007), pensar em, por meio da escola, constituir “outras formas de subjetividade mais prazerosas, estilos de vida mais criativos, plurais” (p. 34) e assim recusar a prisão do sujeito “ao saber e ao poder de disciplinas que normalizam, sem indagar o que queremos para nós”. (p. 34). De acordo com a autora, o desafio para os 62 educadores reside em descobrir meios para exercitar a liberdade e a criatividade do educando. Pode-se observar que a motivação ligada a cada um dos itens agrega-se a um dos pressupostos de Lourenço Filho (2002), segundo o qual a motivação e aprendizagem são aspectos de um processo único, em que o objetivo final é o do ajustamento individual dos educandos. Em outras palavras, qualquer que seja o motivo recondutor do aluno à escola, este motivo e a aprendizagem advinda da nova realidade contribuirão para a adaptação, o ajustamento desse indivíduo à sociedade da qual faz parte. Tal adaptação presume a interação continuada com os demais membros do corpo social. Isso evoca a Categoria Social da motivação proposta por Godoi (2001), o patamar Afetivo-Social de Maslow [1954, ap. DOM, 07] e a atividade interpessoal como promotora do aprendizado [Vygotsky, 1984, ap. FON e CRU, 97]. Os demais motivos distribuem-se de maneira razoavelmente equilibrada e abrangem fatores extrínsecos e intrínsecos. A comparação dos motivos dos alunos com a hierarquia das necessidades de Maslow [1959, ap. DOM, 07] revela que a motivação discente na EJA distribui-se por todos os níveis da pirâmide proposta por este autor. O conjunto de dados permite concluir que a heterogeneidade nas expectativas em relação à escola confirma Haddad e Pierro (2000), quanto ao grande desafio dos educadores em lidar com grupos tão distintos. Resulta dessa análise o entendimento de que ao educador compete adquirir/aprimorar habilidades para conciliar os múltiplos interesses dos alunos de EJA com o desenvolvimento das atividades escolares diárias. Isso precisa ser feito de modo a gerar impulsos motivacionais que mantenham o aluno interessado nas aulas e que o tornem mais participativo em seu processo de aprendizagem. Tabela 2 – Grau de Dificuldade Quanto ao Acompanhamento do Curso GRAU DE DIFICULDADE acompanha muito bem acompanha razoavelmente tem dificuldades para acompanhar não opinaram TOTAL F % 84 75 8 4 49,12 43,86 4,68 2,34 171 100 Os dados da Tabela 2 referem-se ao grau de dificuldade dos alunos quanto ao acompanhamento do curso. Observa-se que 49,12% declaram acompanhar muito bem o 63 curso; 43,86% afirmam acompanhá-lo razoavelmente; 4,68% afirmam ter dificuldades para acompanhar o curso e 2,34% não opinaram acerca desse aspecto. A análise para verificação de diferenças estatisticamente significantes deu-se pela aplicação do Teste do Qui-quadrado, com os seguintes resultados: χ2o= 61,95 e χ2c= 5,99 (ngl=2). Verificou-se, pois, que quanto ao grau de dificuldade dos alunos no acompanhamento do curso existem diferenças estatisticamente significantes. Os educandos, em sua maioria, consideram fácil ou razoavelmente fácil acompanhar o curso. Assim, este aspecto, numa primeira análise, não se constitui fator de desmotivação para a aprendizagem entre os discentes da EJA-Ensino Médio das escolas analisadas. Os estudantes parecem não se desestimular quanto ao enfoque em estudo, ou seja, permanecem motivados a freqüentar as aulas em razão de não sentirem muita dificuldade no acompanhamento do curso. Isso pode, então, ser considerado um elemento promotor de motivação na EJA-Ensino Médio. Tal fator relaciona-se à motivação vinculada à auto-estima, conforme Fita (2006b) e enquadra-se nas categorias pulsional e cognitiva propostas por Godoi (2001), já que envolve, como afirmamos há pouco, a auto-estima, o domínio do conhecimento e a experiência de competência do aluno. Estas, face aos resultados, revelam-se elevadas na EJA-Ensino Médio. Tabela 3 - Percepção do Desempenho dos Colegas DESEMPENHO DOS COLEGAS os colegas vão razoavelmente bem os colegas vão muito bem os colegas vão mal não opinaram TOTAL F 109 41 18 3 171 % 63,74 23,98 10,53 1,75 100 Os dados da Tabela 3 demonstram a percepção do aluno da EJA com relação ao desempenho dos colegas: 63,74% afirmaram que os colegas vão razoavelmente bem nos estudos; 23,98% afirmaram que os colegas vão muito bem nos estudos; 10,53% disseram que os colegas vão mal e 1,75% não opinou. O Teste do Qui-quadrado foi aplicado à tabela para verificar se existem diferenças estatisticamente significantes e teve como resultado: χ2o= 79,96 e χ2c= 5,99 (ngl=2), o que indica a existência de diferenças estatisticamente significantes nas respostas dadas quanto ao aspecto em estudo. 64 A percepção do desempenho dos colegas enquadra-se na Categoria Social, de acordo com Godoi (2001) e se conecta à idéia do Sociointeracionismo proposta por Vygotsky (2000 e 2005) e retomada por Andrade (2003) e Coll [1986, ap. HER e VEN, 98], constituindo-se elemento integrante dos principais fatores relacionados à motivação para a aprendizagem. Os dados mostram alto índice de percepção dos alunos em relação aos estudos dos colegas, donde se deduz que este fator é componente motivacional na aprendizagem do aluno da EJA-Ensino Médio. Assim, a percepção dos alunos em relação aos colegas pode ser um elemento bem aproveitado pelos professores como meio de estimular o interesse dos estudantes pelos conteúdos desenvolvidos em sala, principalmente se associado aos seguintes componentes da Categoria Social [GOD, 01]: participação, prazer de estar com os outros, reconhecimento e condescendência. Atividades voltadas a tais componentes poderiam, pois, revelar-se bastante produtivas no sentido de motivar os alunos para a meta principal : a meta de aprendizagem [LIE e FEN, 00]. Tabela 4 - Freqüência às aulas da EJA FREQÜÊNCIA DE FALTAS Nunca falta Falta poucas vezes Falta sempre Não costuma assistir às aulas Não responderam TOTAL F 36 128 4 2 1 171 % 21,05 74,85 2,34 1,17 0,58 99,99 A Tabela 4 apresenta dados relacionados à freqüência dos alunos da EJA-Ensino Médio: 74,85% dos estudantes declararam faltar poucas vezes à escola; 21,5% declararam jamais faltar às aulas; 2,34% afirmaram faltar sempre; 1,17% disseram que não costumam assistir às aulas e 0,58% dos alunos não respondeu à questão. Submetidos a análise para verificação de diferenças estatisticamente significantes, tais dados apresentaram χ2o= 51,61 e χ2c= 3,84 (ngl=1), o que indica diferenças estatisticamente significantes quanto à freqüência dos alunos às aulas. A presença constante em sala de aula declarada pela maioria constitui-se uma prova de persistência dos alunos de EJA-Ensino Médio em suas atividades escolares e demonstra aparentemente um bom grau de motivação para a aprendizagem, no entanto não se pode depreender deste resultado que os alunos de EJA alcancem a chamada aprendizagem significativa de que nos fala Fita (2006a). Além disso, não 65 necessariamente os alunos estão presentes em todas as aulas do curso, como nos levam a concluir as informações da tabela seguinte. Tabela 5 - Motivos para Faltar às Aulas MOTIVOS Têm problemas com o horário de serviço Estão muito cansados do trabalho Têm problemas com transporte Têm problemas envolvendo familiares Acham as aulas monótonas,desinteressantes Têm outros problemas, diferentes dos listados Não têm problemas e não faltam Têm receio quanto à segurança da escola/dos arredores da escola Têm dificuldades de relacionamento com os colegas TOTAL F 131 101 67 42 42 39 15 % 28,54 22 14,6 9,15 9,15 8,5 3,27 14 8 459 3,05 1,74 100 Os dados da Tabela 5 mostram os prováveis motivos pelos quais os alunos de EJA faltam às aulas, quando faltam. Dentre os motivos listados, 28,54% incluíram problemas com o horário de serviço; 22% falaram do cansaço proveniente do trabalho; 14,6% mencionaram dificuldades de transporte; 9,15% mencionaram problemas envolvendo familiares; 9,15% assinalaram aulas monótonas, desinteressantes; 3,27% afirmaram que os alunos não têm problemas e não faltam; 3,05% mencionaram receio quanto à segurança da escola e/ou de seus arredores; 1,74% mencionaram dificuldades de relacionamento com os colegas e 8,5% assinalaram o item ‘outros problemas, diferentes dos listados’. O Teste do Qui-quadrado, para verificação de diferenças estatisticamente significantes quanto aos motivos dos alunos para faltarem às aulas, teve como resultado χ2o= 74,03 e χ2c= 15,51 (ngl=8). Ocorrem, pois, diferenças estatisticamente significantes. Nota-se que a maioria dos estudantes referiu-se a problemas com horário de serviço, cansaço proveniente do trabalho e dificuldades de transporte como os três fatores que mais pesam no que tange a uma possível falta às aulas. Comentários espontâneos dos professores e a nossa própria observação durante a pesquisa de campo confirmam que os alunos faltam muito às primeiras aulas do dia. Assim, embora a Tabela 4 (imediatamente anterior) indique que os alunos faltam pouco, sua presença na escola não necessariamente ocorre em todas as aulas. Tais fatores remetem à condição dos sujeitos da EJA no mercado de trabalho, principalmente às questões da subalternidade [MUR,01] e da coisificação [MAG, 03]. Recordemos que no quadro de ocupações dos alunos (Quadro 2, p. 60), predominam 66 ocupações mais simples, quase sempre mal remuneradas no Brasil. Possivelmente os horários de trabalho são estendidos e os alunos aceitam o fato, para não porem em risco seus empregos. Essa situação decorre da trajetória de negação de direitos aos sujeitos da EJA, mencionada por Arroyo [2005, ap. GOM, 05], a qual inclui o desemprego, freqüentemente remediado com um subemprego, conforme observa Oliveira (2004). Cabe também aqui a afirmação de Foucault [ap. ARA, 07] de que “o sujeito sujeitado e disciplinado é muito mais útil aos mecanismos econômicos e políticos”. O sujeito da EJA é o exemplo acabado de como o sistema assujeita os indivíduos e, ao fazê-lo, dificulta-lhes ainda mais a conciliação de algumas atividades que os poderiam retirar do ciclo mercadológico perverso em que se inserem. Entre essas atividades, incluem-se o lazer, a convivência com a família e os amigos, o próprio trabalho, desde que não aviltante, e os estudos, nosso foco de observação. Vincula-se, do mesmo modo, a essas reflexões Frigotto (1995), com seu conceito de mercado como sujeito-educador, determinante máximo inclusive da volta do indivíduo aos bancos escolares. No contexto acima, a escola seria capaz de contribuir para minorar as dificuldades do aluno de EJA de freqüentar todas as aulas diariamente. Havendo recursos, pode-se pensar em oferecer-lhes algum meio de transporte que os pegue nalgum ponto previamente combinado e que os deixe na porta da escola ou os leve até sua casa no final do período. Não havendo essa possibilidade, pode-se pensar na reorganização dos horários de aula de modo a contemplar sempre o maior número possível de estudantes, solução que vem sendo adotada em alguns estabelecimentos, como os CIEJAs (Centros Integrados de Educação de Jovens e Adultos) da Prefeitura de São Paulo, provedores da Educação de Jovens e Adultos em nível fundamental [SME-SP, 2007]. Quanto ao cansaço dos estudantes, verifica-se que este é um problema decorrente dos modos de produção da sociedade em que nos inserimos [FOU, 97; FRI, 95] e da velocidade que caracteriza a contemporaneidade [ROD, 04]. Tal estado, que beira por vezes a exaustão, aumenta também em função dos problemas de transporte referidos pelos alunos ─ dificuldade, por sinal, recorrente nas metrópoles, qualquer que seja o status socioeconômico do munícipe. A reestruturação dos horários da EJA-Ensino Médio talvez contribuísse para a redução do cansaço discente. Possivelmente um semestre a mais de aulas, porém com 67 entrada mais tarde ou saída mais cedo todos os dias, ou ainda um dia sem aulas no meio da semana pudessem minorar o problema. A falta à escola em razão de questões familiares, embora apareça em 4º lugar na pesquisa, é potencial causa de evasão na EJA. Algumas coordenadoras e professores da EJA relataram casos de alunas que não tinham com quem deixar os filhos no período noturno ou cujos filhos choravam em virtude da ausência da mãe nesse mesmo período. Algumas mulheres nessa situação desistiram do curso. As que nele permaneceram o fizeram porque a escola em que estavam permitiu a presença das crianças no estabelecimento durante o período de aulas das mães, conforme relato de coordenadoras. Empatado com problemas familiares vemos o item acham as aulas monótonas, desinteressantes. Tal item estabelece relação direta com a motivação dos professores para ensinar, o que será analisado mais à frente. As tabelas 6, 7 e 8 e os gráficos 1 e 2, apresentados a seguir, referem-se à condição geral dos docentes da EJA-Ensino Médio e suas possíveis relações com a motivação dos professores para o trabalho no referido segmento. Tabela 6 - Número de Escolas em que Lecionam os Professores Pesquisados Nº DE ESCOLAS duas três mais de três TOTAL F % 15 34 7 56 26,79 60,71 12,5 100 A Tabela 6 mostra a quantidade de escolas em que lecionam os professores da EJA-Ensino Médio. Observa-se que 60,71% dos professores lecionam em três escolas; 26,79% lecionam em duas escolas e 12,5% trabalham em mais de três escolas. Para verificar se existe diferença estatisticamente significativa foi aplicado o Teste do Qui-quadrado aos dados, com o seguinte resultado: χ2o= 20,60 e χ2c= 5,99 (ngl=2). Isso indica a existência de diferenças estatisticamente significantes. Deduz-se das informações captadas que a maioria dos professores trabalha bastante e, provavelmente, dispõe de pouco tempo para preparo de aulas e freqüência a cursos de atualização, sem mencionar o quanto são prejudicados outros aspectos essenciais relacionados a sua qualidade de vida. Note-se que a somatória dos professores que trabalham em duas, três e mais de três escolas perfaz 100%, ou seja, nenhum dos professores pesquisados leciona apenas 68 em um estabelecimento de ensino. Favaretto (2007), comentando recente pesquisa sobre a condição do docente de escolas públicas, confirma o já conhecido fato de que “muitos professores da rede pública têm de dar aulas em duas ou mais escolas para receber um salário razoável” [FAV, p.1], conforme dados levantados pelo IBOPE, 2007. Os baixos salários, relembrados também por Dimenstein (2007), conduzem o professor à agitação múltipla [MAC, 05] decorrente dos diversos empregos, a qual pode impedi-lo de desfrutar de uma vivência real de seu trabalho, sobretudo se este mesmo professor for atingido pelo estresse. O estresse ocupacional crônico reduz drasticamente a motivação do indivíduo e se caracteriza, entre outros atributos, pela insatisfação ocupacional [BAL, 02]. Um trabalho estressante, que consome quase todo seu tempo e oferece baixa remuneração pode se configurar como redutor da motivação docente. Isso será estudado com mais detalhe a partir dos são sua única fonte de renda são sua principal fonte de renda gráficos e tabelas a seguir. são um complemento do salário recebido em outras instituições escolares ou empresas são um complemento do salário recebido na mesma instituição pelas aulas no ensino regular 100 90 80 70 60 50 % 41,07 40 32,14 30 17,86 20 10 8,93 0 Gráfico 1 – Relação entre Fonte de Renda Docente e Aulas na EJA Quanto à relação entre fonte de renda docente e aulas na EJA, 41,07% dos professores afirmam que as aulas ministradas na EJA são um complemento do salário recebido em outras instituições escolares ou empresas; 32,14% declaram que a renda advinda das aulas na EJA é um complemento do salário recebido na mesma instituição pelas aulas no ensino regular; 17,86% disseram que as aulas na EJA são sua principal 69 fonte de renda e 8,93% dos professores declararam que essas aulas são sua única fonte de renda. O Teste do Qui-quadrado, aplicado para verificação de diferenças estatisticamente significantes, apresentou os seguintes resultados: χ2o= 13,85 e χ2c= 7,82 (ngl=3). Há, portanto, diferenças estatisticamente significantes quanto à relação Fonte de Renda e Aulas Ministradas na EJA. As informações obtidas reconfirmam Favaretto (2007) e Dimenstein (2007) quanto à baixa remuneração dos professores, os quais freqüentemente necessitam compor sua renda mensal lecionando em diversas escolas. As aulas na EJA são, de acordo com os resultados, complemento salarial para 73,21% dos professores e única fonte de renda para 8,93%. As mesmas observações relativas a estresse [BAL, 02] explicitadas na análise da tabela anterior (Tabela 6) aplicam-se à análise do presente gráfico. Necessitando trabalhar em vários empregos, o professor pode facilmente estressar-se. Oliveira (2004) chama-nos a atenção para o “encontro das jornadas duplas ou triplas de trabalho” dos alunos e professores da EJA ─ bastante provável, como se pode verificar pelo conjunto dos dados levantados na presente pesquisa. Chama a atenção a discrepância entre as informações fornecidas por alguns professores na questão anterior e nesta. Note-se que na Tabela 6 não há indicação de professores que trabalhem em apenas uma escola, enquanto no Gráfico 1 vemos que 8,93% dos docentes afirmam ser as aulas na EJA sua única fonte de renda. Uma justificativa para isso seria o fato de estes mestres trabalharem em uma só escola, ou em mais de uma escola, porém somente com EJA, ou entenderam a pergunta de maneira diferente: podem ter imaginado que trabalhar como professor seria seu único afazer e, assim, sua única fonte de renda. Tabela 7 – Nível de Motivação Docente na EJA NÍVEIS DE MOTIVAÇÃO altamente motivado razoavelmente motivado desmotivado TOTAL F % 25 44,64 29 51,79 2 3,57 56 100 A Tabela 7 mostra o nível de motivação dos professores da EJA-Ensino Médio pesquisados. Dentre eles, 51,79% afirmam-se razoavelmente motivados para o trabalho 70 na EJA-Ensino Médio: 44,64% disseram estar altamente motivados e 3,57% afirmaram estar desmotivados. Quanto aos professores que afirmaram estar desmotivados para o trabalho na EJA-Ensino Médio, perguntou-se-lhes quais os fatores geradores de tal desmotivação e as respostas foram as seguintes: salário baixo; ausência de material de apoio conforme o curso exige; turmas heterogêneas; socialização péssima entre os alunos; poucos alunos objetivam aprender alguma coisa; a maioria dos alunos só quer ter um certificado de conclusão. Entre os poucos professores que revelaram descontentamento com o trabalho na EJA, surgiu um depoimento espontâneo em que um dos docentes afirmava não gostar de trabalhar com EJA porque os alunos não têm objetivos, metas, perspectivas de futuro. Isso, porém, parece não se confirmar face aos resultados da pesquisa. O Teste do Qui-quadrado χ2o= 0,29 e χ2c= 3,84 (ngl= 1) não aponta para diferenças estatisticamente significantes quanto ao nível de motivação docente na EJA. Os dados obtidos, de certo modo, contrastam com a condição de trabalho complexa revelada pela Tabela 6 e pelo Gráfico 1. Deduzem-se daí algumas hipóteses: a) os professores não se ressentem de suas duplas ou triplas jornadas e portanto sua motivação permanece razoável ou alta; b) os professores não se dão conta da influência das condições de trabalho em sua motivação profissional; c) os professores apreciam bastante o trabalho na EJA ─ como apontaram alguns depoimentos espontâneos (“Eu adoro trabalhar com a EJA, porque a gente aprende com os alunos as coisas da vida, do mundo.”; “Eu me identifico com os alunos da EJA porque passei pelas mesmas dificuldades que eles”); d) a maioria dos professores, por algum motivo, possivelmente profissional, não revela descontentamento/desmotivação quanto ao trabalho na EJA; e) pode haver uma mescla das possibilidades anteriores. Não é possível, pois, auferir com precisão as razões que levaram os professores a declarar-se altamente/razoavelmente motivados no trabalho com a EJA-Ensino Médio (no total, 96,43% declararam-se motivados), no entanto é possível associar os resultados ao pensamento de Voli (2002). Parece valer aqui, conforme este autor, o princípio geral, assumido também pelos professores, de que “as pessoas têm sempre uma motivação positiva para fazer o que fazem” (p.14). Assim, não obstante as condições gerais de trabalho sejam redutoras da motivação do professor, obter um ganho adicional no final do mês para equilibrar suas 71 contas pode tornar-se fator motivacional relevante para sua permanência na EJA, ainda que no regime de tripla jornada ou equivalente. ALUNOS % PROFESSORES 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 Nível 5 não responderam Gráfico 2 - Nível de Estresse dos Professores da EJA - Ensino Médio O Gráfico 2 mostra o nível de estresse dos professores da EJA-Ensino Médio na visão dos alunos e dos próprios professores. Dentre os mestres, 39,29% afirmam que seu nível de estresse é 2 numa escala crescente de 1 a 5, sendo 5 o nível máximo de estresse; 25% consideram 1 seu grau de estresse; 7,14% assinalaram nível 4 e 3,57% disseram ser 5 seu nível de estresse na EJA-Ensino Médio. Quanto aos alunos, 32,75% afirmam ser 1 o nível de estresse de seus professores; 26,32% consideram ser 3 o nível de estresse dos docentes; 22,81% assinalaram nível 2; 8,19% marcaram nível 5 e 2,92% não responderam à pergunta. Para averiguar se existem diferenças estatisticamente significantes aplicou-se o Teste do Qui-quadrado. Alunos: χ2o= 76,26 e χ2c= 11,07 (ngl=5) ─ há diferenças estatisticamente significantes. Professores: χ2o= 2,56 e χ2c= 5,99 (ngl=2) ─ não há diferenças estatisticamente significantes. Total: χ2o= 107,09 e χ2c= 11,07(ngl=5) ─ há diferenças estatisticamente significantes. Verificou-se também a Correlação de Sperman: ro = 0,77 N= 6, rc = 0,71 ─ o que mostra existir uma correlação significativa entre as respostas de alunos e professores. Depreende-se do Gráfico 2 que tanto os professores quanto os alunos consideram relativamente baixo o nível de estresse dos professores da EJA-Ensino Médio. À primeira vista, esse é um indicador positivo, que contribui para a motivação dos mestres e educandos, entretanto contrasta com as informações de Reis et al. (2007), segundo os quais os professores de EJA apresentam significativos sintomas físicos e 72 psicológicos de estresse. Também ocorre contraste com as informações de Curi (2007), conforme as quais, dentre os professores brasileiros, quase 50% apresentam sintomas de estresse ou depressão. O aparente baixo índice de estresse docente assinalado por alunos e professores da EJA pode ter relação com Ballone (2002): a sociedade tolhe as manifestações das angústias, frustrações e emoções dos indivíduos. Conforme este autor, em nome das normas e regras sociais as pessoas se sentem obrigadas a aparentar um comportamento emocional ou motor em desacordo com os seus sentimentos reais. Prova-se aqui um esforço especial dos professores da EJA-Ensino Médio: passam aos alunos e talvez a si uma impressão de que tudo está bem, ignorando ou relevando o estresse advindo das estruturas vigentes, o qual se caracteriza como uma produção social, por assim dizer. Tal atitude contribui com a motivação discente, mas pode ser sinônimo de problemas relacionados à saúde e à motivação docente. Entre os problemas relacionados à saúde e, por conseqüência, à motivação dos docentes está a ocorrência de fases mais agudas do estresse, como a Fase de Resistência [REI, 07], caracterizada por um grande desgaste do organismo enquanto busca reequilibrar-se em meio a eventos estressores de longa duração. Talvez essa seja a fase em que se encontram alguns professores da EJA, embora nem sempre o percebam. As fases subseqüentes ─ Fase da Quase-Exaustão e Fase da Exaustão ou Esgotamento [REI, 07] ─ também podem vitimar os educadores, porém nossa pesquisa não se direcionou à análise aprofundada do estresse docente na EJA. A esse respeito, vide Reis (2007). Tabela 8 – Visão dos professores quanto à requalificação para o trabalho com EJA GRAU DE IMPORTÂNCIA muito importante importante pouco importante TOTAL F % 44 11 1 78,57 19,64 1,79 56 100 Os dados da Tabela 8 mostram a importância da requalificação para o trabalho com EJA na visão dos professores. Dentre eles, 78,57% consideram muito importante a requalificação; 19,64% consideram-na importante e 1,79 % consideram-na pouco importante. A análise estatística dos dados deu-se pela aplicação do Teste do Quiquadrado, com os seguintes resultados: χ2o = 19,8 e χ2c = 3,84 ( ngl = 1 ), demonstrando haver diferenças estatisticamente significantes. 73 Observa-se que parcela expressiva dos professores (98,21% no total) acredita na importância da requalificação docente para o trabalho com EJA. Isto pode ter relação com um dado de pesquisa recente: 49% dos professores de escolas públicas admitem que sua formação os preparou pouco para a atuação em sala de aula [IBO, 07]. Tal dado relaciona-se ao ensino de maneira geral, mas, se cotizado com a situação atual da EJA, pode ter ainda mais sentido. Lidar com tantas diferenças etárias, socioculturais e econômicas requer do corpo docente da EJA preparo bastante apurado. Nesse sentido, justificam-se a permanência e a maior divulgação dos cursos de atualização/requalificação como a especialização em PROEJA, promovida pelo CEFET-SP entre os anos de 2006 e 2008 (pouco conhecida na maioria das escolas pesquisadas), cuja contribuição para a motivação do professor pode ser basilar. Durante a pesquisa, ao saber da existência do curso muitos docentes revelaram especial interesse em freqüentá-lo, conforme demonstram os seguintes depoimentos espontâneos: “Eu vou responder este questionário porque tenho interesse em fazer o curso!”; “Olha, eu nem sabia que tinha curso pra isso! Quero fazer!”; “Que dias tem o curso? Que hora? Quero ver se faço no ano que vem.”; “Mas é pago? De graça? Ôba, então vou poder fazer!” Tal interesse vai ao encontro da visão de Gomes e Marins (2004), Casério (2004), Sousa (2004/05), entre outros autores e instituições [SME, 07; CEF, 07; GOV, 07] que confirmam a necessidade da formação contínua para os professores. Nos atuais projetos, em todas as esferas administrativas, nota-se também a preocupação com a formação continuada de coordenadores, diretores e outros profissionais envolvidos na organização e gerenciamento do dia-a-dia escolar. A formação contínua tem sido mais discutida e incentivada atualmente em razão de diversos fatores. As mudanças constantes na sociedade, sobretudo do ponto de vista político-econômico [MAG, 03], que incluem a velocidade de transmissão de informações e as novas formas de relação entre os indivíduos proporcionadas por meios de comunicação cada vez mais potentes, demandam professores críticos, reflexivos, capazes de ensinar em consonância com os novos parâmetros. Se o professor não pode adaptar-se às exigências dessa nova realidade, torna-se incapaz de acompanhar a marcha das transformações, conforme Pinto (2007). Para esse autor, muitos educadores representam hoje um fator de inércia, justamente porque foram preparados para uma função regular num suposto ambiente estável que tende a 74 inexistir. Notamos, no decorrer da atividade de campo, que tal fato é captado com facilidade pelos alunos da EJA-Ensino Médio, muitos deles detentores de senso crítico bastante aguçado, como veremos ao longo da análise. A questão da reflexão crítica do docente é tratada também por Morin (2001), Garcia (2001), Frigotto (1995), Hernández e Ventura (1998), Casério (2004), Borges e Corrêa [ap. MOL, 04], Freire (2007), entre outros. Para Morin (2001), por exemplo, a ausência de reflexão e criticidade pode confinar os sujeitos da educação em uma cadeia marcada pela mera transmissão do conhecimento. Disso resulta uma educação muito menos abrangente do que a de que de fato necessitamos. Tabela 9 – Problemas da Educação de Jovens e Adultos no Ensino Médio ALUNOS PROFESSORES TOTAL F % F % F % 6,02 119 8,39 baixa freqüência 95 9,32 24 evasão 87 8,54 27 6,77 114 8,04 falta de infra-estrutura em sala 67 6,58 23 5,76 90 6,35 falta de merenda para os alunos de EJA 59 5,79 25 6,27 84 5,92 classes heterogêneas quanto à faixa etária 55 5,4 33 8,27 88 6,21 indisciplina dos alunos 51 5 9 2,26 60 4,23 5,26 65 4,58 ausência de conteúdos profissionalizantes 44 4,32 21 alunos envolvidos com drogas 42 4,12 18 4,51 60 4,23 apatia, desânimo, desmotivação dos alunos 40 3,93 4 1 44 3,1 alunos sem dinheiro para custear transporte 40 3,93 12 3,01 52 3,67 professores com dupla ou tripla jornada 39 3,83 35 8,77 74 5,22 classes heterogêneas quanto ao saber escolar 37 3,63 21 5,26 58 4,09 falta de recursos didático-pedagógicos 34 3,34 25 6,27 59 4,16 baixo grau de aproveitamento dos alunos 33 3,24 10 2,51 43 3,03 professores estressados 32 3,14 9 2,26 41 2,89 ausência de atividades extra-escolares 30 2,94 18 4,51 48 3,39 desinteresse dos alunos pelos conteúdos ministrados 29 2,85 8 2,01 37 2,61 relacionamento difícil entre alunos e professores 26 2,55 1 0,25 27 1,9 falta de espaço para estudo individual ou em grupo dos alunos 25 2,45 0 0 25 1,76 professores desmotivados, desanimados 24 2,36 4 1 28 1,97 biblioteca fechada durante o período de aulas da EJA 24 2,36 10 2,51 34 2,4 atos de violência praticados por alunos 23 2,26 2 0,5 25 1,76 currículo não atende às necessidades dos alunos 17 1,67 7 1,75 24 1,69 falta de treinamento/ cursos de atualização para os professores 17 1,67 21 5,26 38 2,68 inexistência de biblioteca 16 1,57 3 0,75 19 1,34 classes heterogêneas quanto ao poder aquisitivo 14 1,37 3 0,75 17 1,2 número excessivo de alunos por sala 10 0,98 10 2,51 20 1,41 relação pouco amigável entre os alunos 9 0,88 1 0,25 10 0,71 falta de espaço para estudo individual ou em grupo dos professores 0 0 15 3,76 15 1,06 TOTAL 1019 100 399 100,01 1418 99,99 PROBLEMAS Os dados da Tabela 9 mostram problemas existentes na EJA-Ensino Médio, na visão de alunos e professores. Quanto às respostas dadas por ambos os grupos, 75 totalizadas, temos: Baixa freqüência, item assinalado por 8,39% dos sujeitos da pesquisa; evasão: 8,04%; falta de infra-estrutura em sala: 6,35%; classes heterogêneas quanto à faixa etária: 6,21%; falta de merenda para os alunos de EJA: 5,92%; professores com dupla ou tripla jornada: 5,22%; ausência de conteúdos profissionalizantes: 4,58 %; indisciplina dos alunos: 4,23%; alunos envolvidos com drogas: 4,23%; falta de recursos didático-pedagógicos: 4,16%; classes heterogêneas quanto ao saber escolar: 4,09%; alunos sem dinheiro para transporte: 3,67%; ausência de atividades extra-escolares: 3,39%; apatia, desânimo, desânimo, desmotivação dos alunos: 3,1%; baixo grau de aproveitamento dos alunos: 3,03 %; professores estressados: 2,89%; falta de treinamento/cursos de atualização para os professores: 2,68% (total); desinteresse dos alunos pelos conteúdos ministrados: 2,61%; biblioteca fechada durante o período de aulas da EJA: 2,4%; professores desmotivados, desanimados: 1,97%; relacionamento difícil entre alunos e professores: 1,9%; falta de espaço para estudo individual ou em grupo dos alunos: 1,76%; atos de violência praticados por alunos: 1,76%; currículo não atende às necessidades dos alunos: 1,69%; número excessivo de alunos por sala: 1,41%; inexistência de biblioteca: 1,34%; classes heterogêneas quanto ao poder aquisitivo: 1,2%; falta de espaço para estudo individual ou em grupo dos professores: 1,06%; relação pouco amigável entre os alunos: 0,71%; Para verificar se existem diferenças estatisticamente significantes aplicou-se o Teste do Qui-quadrado, obtendo-se os seguintes resultados: Alunos: χ2o= 332,45 e χ2c= 40,11 (ngl=27). Professores: χ2o= 77,20 e χ2c= 31,41 (ngl=20). Total: χ2o= 483,16 e χ2c= 41,34 (ngl= 28). Note-se que χ2o > χ2c . Há, portanto, diferenças estatisticamente significantes nas respostas de ambos os grupos pesquisados. Verificou-se também a Correlação de Sperman: ro = 0,61 N= 29 rc= 0,35 ─ o que evidencia a presença de correlação entre as respostas de alunos e professores (ro > rc). Observa-se que na EJA-Ensino Médio coexistem, em grau maior ou menor, todos as dificuldades listadas. Os quadros abaixo podem oferecer uma idéia mais exata da opinião dos dois grupos pesquisados. Cada quadro apresenta, separadamente e em ordem decrescente de importância, os problemas da EJA-Ensino Médio na visão de alunos e de professores. Em seguida, procedemos à análise de alguns dos problemas da EJA, aqueles assinalados com maior freqüência pelos sujeitos da pesquisa. Isso é feito sem a intenção de esgotar os assuntos focados, mesmo porque há questões subseqüentes que dão conta de uma análise um pouco mais minuciosa. 76 ALUNOS PROFESSORES 1º Baixa freqüência 1º Professores com dupla ou tripla jornada 2º Evasão 2º Heterogeneidade etária das classes 3º Falta de infra-estrutura em sala 3º Evasão 4º Falta de merenda 4º Falta de merenda Falta de recursos didático-pedagógicos 5 º Heterogeneidade etária 5º Baixa Freqüência 6º Indisciplina 6º Falta de infra-estrutura em sala 7º Ausência de conteúdos profissionalizantes 7º Ausência de conteúdos profissionalizantes Falta de treinamento/ atualização para professores 8º Alunos envolvidos com drogas 8º Classes heterogêneas quanto ao saber escolar 9º Apatia discente Alunos sem dinheiro para transporte Professores com dupla ou tripla jornada 9º Alunos envolvidos com drogas Ausência de atividades extra- escolares Falta de espaço para professores estudarem Alunos sem dinheiro para transporte 10º Classes heterogêneas quanto ao saber escolar 10º Baixo grau de aproveitamento dos alunos Biblioteca fechada durante o período de aulas Número excessivo de alunos por sala 11º Falta de recursos didático-pedagógicos 11º Indisciplina dos alunos Professores estressados Desinteresse dos alunos pelos conteúdos ministrados 12º Baixo grau de aproveitamento dos alunos 12º Apatia,desânimo, desmotivação dos alunos Currículo não atende às necessidades dos alunos Professores desmotivados , desanimados 13º Professores estressados 13º Inexistência de biblioteca Classes heterogêneas quanto ao poder aquisitivo Atos de violência praticados por alunos 14º Ausência de atividades extra-escolares 14º Relacionamento difícil entre alunos e professores Relação pouco amigável entre os alunos Quadro 3: Visão de alunos e professores quanto aos problemas da EJA-Ensino Médio Da 15ª posição em diante, o quadro continuaria apenas com a classificação feita pelos alunos, pois os vários itens classificados pelos professores empataram, de modo a configurar 14 posições. A continuidade das opiniões dos alunos será inserida por extenso: 15º) Desinteresse pelos conteúdos; 16º) Relacionamento difícil entre alunos e professores; 17º) Falta de espaço para estudo individual ou em grupo dos alunos ; 18º) Professores desmotivados/ Biblioteca fechada durante o período de aulas da EJA; 19º) Currículo não atende às necessidades discentes/ Falta de treinamento-atualização para os professores 20º) Currículo não atende às necessidades, Falta de Treinamentoatualização para os professores; 21º) Inexistência de biblioteca; 22º) Classes 77 heterogêneas quanto ao poder aquisitivo; 23º) Número excessivo de alunos por sala e 23º) Relação pouco amigável entre os alunos. Os resultados mostram que para os alunos os problemas da EJA-Ensino Médio são, primeiramente, a baixa freqüência e a evasão. Isso remete ao grau de influência que a ação dos colegas exerce sobre os estudantes, podendo esta configurar-se como fator de motivação ou de desmotivação. Para os professores, a baixa freqüência e a evasão também são problemas sérios na EJA-Ensino Médio, mas ocupam, em sua classificação, 3º e 5º lugares, respectivamente. Desistências freqüentes podem influenciar negativamente o aluno que está em dúvida quanto a persistir ou não na EJA, fazendo, por exemplo, com que abandone definitivamente o curso. A baixa freqüência e a evasão, portanto, passam a ser fatores redutores da motivação docente e se conectam à percepção que os alunos têm das atitudes dos colegas. A percepção dos colegas inclui-se na Categoria Social como um dos fatores de motivação para a aprendizagem [GOD, 01] e no patamar da Motivação Afetivo-Social de Maslow [1954, ap. DOM, 07], portanto merece atenção por parte dos educadores de jovens e adultos. O terceiro maior problema da EJA na visão dos alunos é a falta de infraestrutura em sala, que também aparece na visão dos professores, porém em 6º lugar. Freire (2007) afirma que ‘há uma pedagogicidade indiscutível na materialidade do espaço” (p. 45). Podemos inferir, a partir da ótica dos alunos quanto à sua sala de aula, que este aspecto pedagógico promotor da motivação não está sendo explorado como poderia no segmento em estudo. As salas de aula observadas durante a atividade de campo reproduzem os “ambientes de produção industrial” mencionados por Foucault (1997). Nelas não se viu, em linhas gerais, a preocupação com o acolhimento do aluno [CAF, 07], elemento importante do ponto de vista motivacional. O acolhimento do aluno, por sua vez, relaciona-se com a valorização da subjetividade [FOU, 97; ARA, 07; VEI, 05; BRA, 02; MOL, 04; RES, 00] e com a promoção do diálogo, outro recurso fulcral na motivação discente e docente [FRE, 69, 87 e 07; JES, 01; CAS, 04; MOL, 04; SOU, 04/05]. O quarto maior problema da EJA é a falta de merenda escolar, no que coincidem as opiniões de alunos e professores. Durante a pesquisa de campo, notamos que a merenda é um fator motivacional muito importante na EJA, porque, segundo os 78 pesquisados, grande parte dos alunos não tem tempo para jantar em casa e/ou dinheiro para alimentar-se na cantina escolar (quando há uma). Duas das escolas pesquisadas oferecem jantar aos estudantes da EJA-Ensino Médio, e isso foi mencionado com satisfação por diretores, coordenadores, funcionários, professores e alunos, em forma de depoimentos espontâneos. Conclui-se que a satisfação das necessidades básicas do indivíduo, base da hierarquia de necessidades de Maslow [1954, ap. DOM, 07] e integrante da Categoria Pulsional (item ‘preservação do eu’) proposta por Godoi (2001) pode ser provida também pela escola, constituindo-se um elemento motivacional muito forte no contexto educativo em foco. A heterogeneidade etária [HAD e PIE, 00], como mais um dos problemas da EJA, ocupa 5º lugar na visão dos alunos e 2º lugar na visão dos professores. Veremos mais adiante como esse fator interfere na motivação dos estudantes e dos docentes. A falta de recursos didático-pedagógicos [TAV, 01] está em 4º lugar na ótica dos professores e se constitui problema recorrente não apenas na EJA, mas no ensino de maneira geral. No entanto, Pinto (2007) e Parolin (2007) chamam-nos a atenção para um complicador: o primeiro autor discorre sobre a não-adaptação dos professores às exigências da realidade (o que abrange um mau domínio dos recursos didáticos tecnológicos, por exemplo), enquanto a segunda autora alerta quanto ao fato de o professor dispor de grande número de recursos didático-pedagógicos e não conseguir empregá-los de modo a produzir aprendizagens significativas. Torna-se importante, pois, além do provimento de recursos, estimular os professores à reflexão crítica sobre seu uso, assunto a ser abordado nas derradeiras questões deste trabalho. Passando a outro item: diferentemente do que se esperava, quanto à indisciplina os professores não se mostram tão preocupados, pois o problema ocupa a 11ª posição na classificação docente. Já os alunos o posicionam em 6º lugar, ou seja, parece que a indisciplina incomoda muito mais os alunos do que os professores da EJA-Ensino Médio. Questões específicas sobre a indisciplina incluem-se no questionário da pesquisa e sua análise, mais à frente, poderá trazer novos dados a essa primeira visão. Quanto à violência, observamos que, de acordo com os dados, não se constitui um fator decisivo de desmotivação tanto para os docentes quanto para os estudantes pesquisados, pois ocupa 13º lugar na classificação docente e 19º na classificação discente. 79 A ausência de conteúdos profissionalizantes ocupa, tanto no ranking dos alunos quanto no dos professores, a sétima posição. Ações para resolver tal problema têm sido implementadas pelo governo federal e pelo governo estadual de algumas unidades federativas [RIS, 07; GOV, 07]. Parece-nos um passo bastante acertado no que se refere à EJA-Ensino Médio, já que uma parcela considerável dos alunos que a freqüentam faz parte do grupo de risco mencionado em relatório do Banco Mundial intitulado ‘Jovens em situação de risco no Brasil’ [REL,07], segundo o qual 47% dos desempregados no Brasil estão na faixa etária entre 15 e 24 anos de idade. Ou seja, o Ensino ─ a EJA em especial ─ precisa urgentemente contribuir para a redução dessa preocupante estatística. Professores com dupla ou tripla jornada de trabalho constitui-se na visão dos professores o maior problema da EJA-Ensino Médio, ocupando 1º lugar no ranking. Estabelece-se aí uma ponte entre a condição docente atual e a satisfação de algumas necessidades componentes da motivação do indivíduo. Uma delas é a remuneração adequada, inclusa no item ‘Segurança’ da hierarquia de Maslow [1954, ap. DOM, 07], que, se existisse, facultaria ao professor trabalhar somente durante um período ─ apenas com a EJA, por exemplo. Também podemos associar a questão da remuneração à Categoria Social [GOD, 01]: o professor muitas vezes é suporte familiar, e, além disso, também é um indivíduo que espera reconhecimento social e para quem a aceitação pessoal exerce um papel considerável. Assim, diante de seu rol de necessidades e dos baixos salários ─ que quase sempre impedem o docente de satisfazer seus anseios ─ emerge como primeiro problema para os professores o fato de cumprirem duas ou três jornadas diárias. O crescente declínio do valor social dado aos que se ocupam da docência no Brasil leva o professor a uma busca permanente de melhores condições de trabalho e ganho, a fim de satisfazer suas necessidades básicas e as de sua família. Igualmente digno de observação é que essa busca tem uma relação direta com a motivação trazida ao indivíduo pelo reconhecimento social e pessoal, integrantes da Auto-Estima, na categorização de Maslow [1954, ap. DOM, 07] e na de Fita (2006b). Uma outra dificuldade, que ocupa a 7ª posição na classificação dos professores, é a falta de treinamento/atualização para os docentes, também ligada às motivações de ordem pessoal, cognitiva e social mencionadas por Maslow [1954, ap. DOM, 07], Godoi (2001) e Fita (2006b). Na seqüência do estudo aprofundaremos um pouco mais a análise desse e de outros óbices associados ao trabalho na EJA-Ensino Médio. 80 Por ora, observando a totalidade das opiniões de ambos os grupos (alunos e professores), podemos depreender quais são os dez maiores problemas da EJA-Ensino Médio na visão dos pesquisados: 1º Baixa freqüência 2º Evasão 3º Falta de infra-estrutura em sala 4º Heterogeneidade etária 5º Falta de merenda para os alunos da EJA 6º Professores com dupla/tripla jornada 7º Ausência de conteúdos profissionalizantes 8º Alunos envolvidos com drogas e Indisciplina dos alunos (empatados) 9º Falta de recursos didático-pedagógicos 10º Classes heterogêneas quanto ao saber escolar Quadro 4 – Os Dez Maiores Problemas da EJA – Ensino Médio Os problemas observados, não apenas os do quadro 4 mas a totalidade deles, podem contribuir para a redução da motivação de alunos e de professores no processo ensino-aprendizagem. Conforme Lieury e Fenouillet (2000), “a motivação tornou-se um problema de ponta em Educação, pela simples constatação de que, em paridade de outras condições, sua ausência representa queda de investimento pessoal de qualidade nas tarefas de aprendizagem” e, por extensão, também nas tarefas relativas ao ensinar. A partir desse prisma, convém analisar o quanto se entrecruzam os problemas assinalados por docentes e discentes da EJA com os aspectos gerais da motivação, sem esquecer que a procura de alternativas calcada em uma prática social concreta [GAR, 01] conduz a resultados melhores do que aqueles observados na acriticidade com que o modelo tradicional de ensino é perpetuado. O que se quer aqui dizer é que nossa análise está mais focada na ‘ressurreição’ de valores que possibilitem a fuga à “ética competitiva, excludente e predatória” [FRI, 1995) da atualidade, em favor da busca da solidariedade, da liberdade e da igualdade [GAR, 01], principalmente no plano educacional. Como este último autor, acreditamos que o atual modelo dificulta a construção, “através de processos educativos, de formas solidárias, igualitárias e plurais de convivência entre os homens”. [GAR, 01, p. 64]. A seguir analisaremos a motivação para aprender na EJA-Ensino Médio na visão dos alunos e dos professores: 81 Motivação para Aprender na EJA – Ensino Médio % Alunos Professores 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 os alunos são muito motivados os alunos demonstram apatia, indiferença demonstram resistência, pois não gostam das matérias reclamam da dificuldade de entender os conteúdos oferecidos reclamam das exigências dos professores os alunos são preguiçosos, não querem pensar Gráfico 3 – Motivação para Aprender na EJA – Ensino Médio na Visão de Alunos e Professores O gráfico 3 mostra os resultados de alunos e professores quanto à motivação para aprender na EJA: 28,89% dos alunos e 37,66% dos professores consideram que os alunos são muito motivados (total dos dois grupos: 31,13%); 10,67% dos alunos e 3,9% dos professores afirmam que os alunos demonstram apatia, indiferença (total: 8,94%); 11,56% dos alunos e 2,6% dos professores afirmam que os alunos demonstram resistência, pois não gostam das matérias (total: 9,27 %); 24 % dos alunos e 32,47% dos 82 professores dizem que os alunos reclamam da dificuldade de entender os conteúdos oferecidos (total: 26,16%); 8,89% dos alunos e 12,99% dos professores afirmam que os alunos reclamam das exigências dos professores (total: 9,93%); 16% dos alunos e 10,39 % dos professores dizem que os alunos são preguiçosos, não querem pensar (total: 14,57%). Para verificar se existem diferenças estatisticamente significantes aplicou-se o Teste do Qui-quadrado. Obtiveram-se os seguintes resultados: Alunos: χ2o= 44,04 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Professores: χ2o= 18,55 e χ2c= 7,82 (ngl=3). Total: χ2o= 83,94 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Há diferenças estatisticamente significantes em todos os casos. Verificou-se também a Correlação de Sperman: ro = 0,6 N= 6 rc = 0,7 .Nota-se que ro< rc , o que mostra inexistir correlação entre as respostas de alunos e professores. Observa-se uma certa coincidência das visões de alunos e professores, embora as porcentagens sejam distintas para cada grupo em relação a cada item. De maneira geral, professores e alunos consideram que os alunos da EJA são muito motivados para aprender, embora reclamem da dificuldade de entender os conteúdos oferecidos. Uma baixa porcentagem de ambos os grupos considera que os alunos demonstram apatia/indiferença ou resistência, bem como uma porcentagem também pequena afirma que os alunos reclamam das exigências dos professores e/ou são preguiçosos. A aparente presença de motivação para aprender é um aspecto bastante positivo da EJA-Ensino Médio. Murray [1967, ap. PEN, 01] recorda-nos que os estudiosos da motivação devem trabalhar com o maior número possível de constructos, sendo a necessidade o constructo central. Podemos relacionar a presença da motivação para estudar na EJA a uma ou várias necessidades dos alunos, conectadas a seus motivos (Ver Tabela 1). O processo de ajustamento individual parece vingar na EJA-Ensino Médio, pois as respostas predominantes (os alunos são motivados para aprender embora reclamem da dificuldade de entender os conteúdos oferecidos) indicam-nos que a motivação e a aprendizagem são percebidas por alunos e professores como aspectos de um só e mesmo processo [LOU, 02]. As respostas menos assinaladas, por sua vez, parecem minimizar a hipótese de uma “aprendizagem do desânimo” [LIE e FEN, 00], o que se constitui um dado animador. A seguir veremos a relação entre idade e motivação para aprender na EJA: 83 Tabela 10 – Interesse/motivação dos alunos da EJA versus Idade ALUNOS PROFESSORES F % F % VARIÁVEIS os alunos mais jovens são os mais interessados/motivados os alunos com mais idade são os mais interessados/motivados todos os alunos apresentam o mesmo grau de interesse/motivação, independentemente da faixa etária todos os alunos apresentam o mesmo grau de desinteresse/desmotivação, independentemente da idade o grau de interesse varia, porém segundo outros critérios não responderam TOTAL TOTAL F % 7 4,1 1 1,79 8 3,5 90 53 44 78,57 134 59 35 20 4 7,14 39 17 9 5,3 1 1,79 10 4,4 10 20 5,9 12 5 1 8,93 1,79 15 21 6,6 9,3 171 100 56 100,01 227 100 Os dados da Tabela 10 mostram a opinião de alunos e professores da EJAEnsino Médio quanto à relação entre interesse/motivação discente e faixa etária em que se inserem os educandos. O item os alunos com mais idade são os mais interessados/motivados teve 59,03% de apontamentos da totalidade dos sujeitos da pesquisa. Seguem os demais resultados da totalização: todos os alunos apresentam o mesmo grau de motivação, independentemente da faixa etária : 17,18%; todos os alunos apresentam o mesmo grau de desinteresse/desmotivação, independentemente da idade: 4,41%; os alunos mais jovens são os mais interessados/motivados: 3,52 %; o grau de interesse varia, porém segundo outros critérios: 6,61%; não responderam: 9,25%. Quanto ao item outros critérios,quais? , os alunos acrescentaram: “os mais jovens não se interessam” e “alguns jovens não se interessam”; os professores, por sua vez, acrescentaram: “os alunos apresentam o mesmo grau de motivação, porém os mais velhos têm mais dificuldade”, “a motivação varia conforme perspectivas diversas: perspectivas históricas e sociais, perspectivas de vida”, “a motivação varia conforme a expectativa de futuro” . Para verificar se existem diferenças estatisticamente significantes entre os dados aplicou-se o Teste do Qui-quadrado, com os seguintes resultados: 84 Alunos: χ2o= 178,30 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Professores: χ2o= 31,04 e χ2c= 3,84 (ngl=1). Total: χ2o= 309,75 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Os resultados indicam que há diferenças estatisticamente significantes em todos os casos. Verificou-se também a Correlação de Sperman: ro = 0,83 N= 6 rc = 0,70 ─ o resultado mostra a existência de correlação entre as respostas de alunos e professores. Observando-se os totais das respostas, nota-se que a maioria, tanto de alunos quanto de professores, concorda com a idéia de que os alunos com mais idade são os mais interessados/motivados ─ a bem dizer, justifica-se aqui a prioridade inicial da EJA: prover educação de qualidade para estes indivíduos. As demais opções tiveram também sua porcentagem de respostas, porém bem menor em relação à mais assinalada. Pode-se inferir do conjunto de respostas que a motivação dos alunos de EJA varia conforme seu perfil etário, mas este não é o único determinante motivacional de seu processo ensino-aprendizagem. Haddad e Pierro (2000) afirmam que há cerca de 20 anos o público de EJA era composto, majoritariamente, por pessoas maduras ou idosas. Em linhas gerais, esse é um público que retorna à escola com grande interesse e motivação ─ de acordo com os autores, trata-se de um contingente de indivíduos que vêem na escolarização uma perspectiva de integração sociocultural. Segundo Haddad e Pierro (2000), o perfil da EJA, no entanto, tem mudado muito nos últimos anos, passando a agregar jovens com defasagem idade-série. Assim, o grupo mais idoso pode desanimar-se ou animar-se, dependendo do clima construído em sala de aula a partir da convivência com grupos etários mais jovens. De acordo com o que pudemos observar durante a atividade de campo, a mistura de alunos mais velhos com alunos mais jovens tanto pode funcionar como reforço/estímulo mútuo para os grupos como pode funcionar como elemento desmotivador para os mais velhos e para os mais jovens. As duas vertentes são entrevistas nos depoimentos de alguns alunos, os quais inseriremos nas análises a seguir, que nos permitirão aprofundar um pouco mais o olhar sobre esse aspecto. No momento, convém frisar que cabe ao professor a responsabilidade pela construção do clima propício para a aprendizagem em cada turma, visando sempre à sua integração. 85 Alunos Professores 100 90 80 70 60 50 % 40 30 20 10 0 não facilita muito facilita um dificulta um dificulta muito não interfere a no responderam a pouco a pouco a aprendizagem aprendizagem aprendizagem aprendizagem aprendizado dos alunos dos alunos dos alunos dos alunos dos alunos Gráfico 4 - Heterogeneidade Etária versus Aprendizagem na EJA O gráfico 4 apresenta os resultados das opiniões de alunos e professores da EJA quanto à relação heterogeneidade etária e aprendizagem. Para 53,36% dos professores, a heterogeneidade etária dificulta muito a aprendizagem dos alunos, enquanto para os alunos essa dificuldade não é tão patente, já que apenas 16,96% assinalaram essa resposta. Entre os alunos, 31,58% acreditam que a heterogeneidade etária não interfere no aprendizado dos alunos e entre os professores 25% assinalaram esta resposta; 23,39% dos alunos afirmam que a heterogeneidade etária facilita muito a aprendizagem dos alunos, enquanto apenas 3,57% dos professores acreditam nisso; 16,37% dos alunos acreditam que a heterogeneidade etária facilita um pouco a aprendizagem dos alunos, enquanto 7,14% dos professores crêem nessa possibilidade; 7,02% dos alunos e 8,93% dos professores consideram que a heterogeneidade etária dificulta muito a aprendizagem dos alunos; 4,68% dos alunos não responderam à questão. O total das opiniões permite-nos observar que há algum predomínio das opções não interfere no aprendizado dos alunos (29,96%) e dificulta um pouco o aprendizado dos alunos (26,43%). Em seguida vêm: facilita muito (18,5%); facilita um pouco (14,1%); dificulta muito (7,49%) e não responderam (3,52%). 86 O Teste do Qui-quadrado foi aplicado aos dados para verificação de diferenças estatisticamente significantes. Alunos: χ2o= 51,8 e χ2c=11,07 (ngl= 5). Professores: χ2o=21 e χ2c= 6 (ngl=2). Total: χ2o= 73,40 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Evidenciam-se diferenças estatisticamente significantes em todos os resultados obtidos. Para verificar a correlação das respostas de ambos os grupos aplicou-se a fórmula da Correlação de Sperman, cujos resultados (ro= 0,49 N=6 rc=0,70) indicam que não há correlação entre o grupo dos professores e o grupo dos alunos. As respostas indicam que existe uma relação entre a variabilidade etária e a motivação para aprender na EJA-Ensino Médio, porém seria importante uma pesquisa mais aprofundada quanto a esse aspecto, cujo ponto de partida poderia ser a perda de identidade na EJA, apontada por Haddad e Pierro (2000). Segundo estes autores, a EJA migrou da função exclusiva de “democratizar oportunidades formativas a adultos trabalhadores” para a de “aceleração de estudos de jovens com defasagem idade-série”. ALUNOS % PROFESSORES 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 altamente necessária necessária pouco necessária desnecessária irrelevante não responderam Gráfico 5 - Possibilidade de Separação dos Alunos por Faixa Etária na EJA O Gráfico 5 mostra os resultados das opiniões de alunos e professores quanto à necessidade ou não de se separar os alunos da EJA por faixa de idade. Em relação direta com o gráfico anterior, o Gráfico 5 permite perceber a mesma divergência de opiniões quanto à influência da faixa etária dos alunos em seu processo de aprendizagem. Observe-se que a maioria dos professores (46,43%) considera necessária a separação por faixa etária na EJA, enquanto entre os alunos esse percentual cai para 18,13%; note-se também que enquanto 36,26% dos alunos consideram desnecessária a separação por idades, esse percentual cai para 14,29% entre os professores. Quanto aos que consideram pouco necessária a separação, os resultados foram: 17,86% 87 (professores) e 16,96% (alunos); altamente necessária: 14,29% (professores) e 15,2% (alunos); irrelevante: 5,36% (professores) e 8,77% (alunos); não responderam: 1,79% (professores) e 4,68% (alunos). Verificou-se a presença de diferenças estatisticamente significantes nos dois grupos e no total de indivíduos pesquisados por meio do Teste do Qui-quadrado, cujos resultados foram: Alunos: χ2o= 60,96 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Professores: χ2o= 17,54 e χ2o= 7,82 (ngl=3). Total: χ2o= 69,85 e χ2c= 11,07 (ngl=5). A Correlação de Sperman foi aplicada aos grupos para verificar a presença ou ausência de correlação entre as respostas de ambos, com os seguintes resultados: ro= 0,83 N=6 rc=0,70. Verificou-se que existe correlação entre as respostas dos grupos pesquisados. Os totais das respostas de ambos os grupos permitem concluir que parcela significativa dos professores pesquisados considera importante reorganizar o perfil etário da EJA, enquanto os alunos em sua maioria consideram desnecessária/pouco necessária a revisão das faixas de idade na EJA-Ensino Médio. Durante a atividade de campo captamos, porém, diversos depoimentos de alunos os quais não coincidem com a resposta majoritária no gráfico. Por exemplo: “Tem que separar sim. Só quem quer estudar tem de vir pra EJA”; “A EJA não é pra eles que repetiram demais. A EJA é pra nós que não tivemos oportunidade de estudar”; “Tem uns novinhos aí que não querem nada com nada, só vêm pra cá perturbar”; “Se é pra vir bagunçar, melhor ficar em casa. Tem uns aí que vou te contar”. Aparecem nesses depoimentos duas vertentes a observar: a primeira diz respeito ao descontentamento do aluno menos jovem que se sente, de algum modo, duplamente lesado, porque quer retomar os estudos interrompidos na juventude e se depara com uma juventude que parece não querer estudar, embora possa, e que perturba o andamento das aulas. Durante a atividade de campo encontramos diversos alunos bem jovens cuja motivação predominante em sala era interromper o andamento das aulas, exasperando colegas e professores. É importante registrar que apenas uma das escolas dispunha de uma psicóloga ─ voluntária, professora da casa ─ para tratar dos casos mais complexos relacionados aos distúrbios de comportamento e aprendizagem. A segunda vertente refere-se à idéia de que o que realmente perturba os mais adultos e os idosos da EJA vem a ser a indisciplina de alguns jovens e não necessariamente as diferenças de idade entre os educandos de uma mesma sala. Tornase importante refletir sobre o que fazer para aumentar a motivação dos jovens que 88 trazem consigo o estigma de alunos-problema (Haddad e Pierro, 2000). Tal desafio é uma constante na vida dos educadores e na EJA não ocorre diferente. Surge aí mais um possível caminho de pesquisa, o qual por ora não será contemplado de modo específico. À parte as considerações menos positivas sobre heterogeneidade etária, colhemos também depoimentos positivos durante a atividade de campo: “Os mais velhos incentivam os jovens e põem ordem”; “Os jovens ajudam os mais velhos”; “Ah, não pode separar não, senão eu fico longe da minha amiga. Eu tenho 20 e ela tem mais de 40...” Para finalizar provisoriamente as considerações sobre heterogeneidade etária na EJA e seus desdobramentos, lembremos Duarte e Duarte (2004), quando afirmam que ao mestre é necessária a ampliação de sua capacidade de conhecer e relacionar-se consigo mesmo e com o outro, “repensando seus valores, preconceitos e tabus”, bem como os estereótipos a que se habituou. Assim, o professor da EJA-Ensino Médio precisa colocar o tempo todo “sua inteligência emocional a serviço de um trabalho de compreensão e aceitação do outro” , de acordo com os autores ─ mormente, inferimos, se este outro for o famigerado alunoproblema. Poderá, dessa maneira, surgir uma convivência mais produtiva entre alunos de quaisquer faixas de idade e deles todos com os mestres na EJA, o que, por sua vez, contribui para a motivação coletiva. ALUNOS PROFESSORES 100 90 80 70 % 60 50 40 30 20 10 0 apenas o aluno apenas o professor mais o aluno que o mais o professor aluno e professor não responderam professor que o aluno na mesma medida Gráfico 6 - Responsabilidade pela Aprendizagem dos Alunos na EJA O Gráfico 6 mostra os resultados das opiniões de alunos e professores quanto a quem detém a responsabilidade pela aprendizagem dos alunos na EJA-Ensino Médio. 89 Apenas o aluno foi a resposta assinalada por 6,43% dos alunos e 1,79% dos professores, com um total de 5,29%. Apenas o professor : resposta dada por 2,92% dos alunos, 0% dos professores, total 2,2%; mais o aluno que o professor: 16,37% (alunos), 12,5% (professores), total 15,42%; mais o professor que o aluno: 7,02% (alunos), 10,71% (professores), total 7,93%; aluno e professor na mesma medida: 63,74% (alunos), 75% (professores), total 66,52%; não responderam: 3,51% (alunos), 0% (professores), total 2,64%. Para verificação de diferenças estatisticamente significantes aplicou-se aos dados o Teste do Qui-quadrado, com os seguintes resultados: Alunos: χ2o= 284,82 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Professores: χ2o= 45,85 e χ2c= 5,99 (ngl=2). Total: χ2o= 422,03 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Evidenciam-se diferenças estatisticamente significantes em todos os casos. A Correlação de Sperman, aplicada aos dados para verificar se há correlação entre as respostas dos grupos pesquisados, revelou a existência de correlação entre as respostas de ambos os grupos, com os seguintes resultados: ro= 0,94 N=6 rc= 0,70. O Gráfico 6 mostra uma notável coincidência de opiniões entre docentes e discentes, prevalecendo em ambos os grupos a idéia de que aluno e professor são, na mesma medida, responsáveis pela aprendizagem dos estudantes da EJA-Ensino Médio. Isso nos conduz a pensar que docentes e discentes da EJA não vêem e vivem a educação exclusivamente como uma prática bancária [FRE, 69; DAU, 01], mas talvez como espaço da troca de experiências, a qual pode culminar na motivação para o aprendizado coletivo. Corroboram tal afirmação alguns depoimentos espontâneos de professores: “Eu adoro o pessoal da EJA. Com eles a gente aprende as coisas da vida”; “Eu prefiro dar aulas na EJA. É um pessoal muito sofrido, que tem história pra contar”; “Eu falo pra eles que tive as mesmas dificuldades que eles pra estudar, mas venci. Sempre conto pra eles pedaços da minha história, pra incentivá-los a continuar”. Nessa perspectiva, a EJA-Ensino Médio contraria, à primeira vista, o pensamento de Garcia (2001), para o qual o modelo econômico vigente dificulta a construção, “através de processos educativos , de formas solidárias, igualitárias e plurais de convivência entre os homens” [GAR, 01]. A seu modo, a EJA se aproxima desse ideal, a julgar por alguns dos resultados da pesquisa. Analisaremos agora questões disciplinares na EJA-Ensino Médio: 90 Tabela 11 – Disciplina/Indisciplina na EJA – Ensino Médio indisciplina freqüente, mas facilmente controlável poucos problemas de disciplina ausência de problemas disciplinares TOTAL F % 15 34 26,79 60,71 7 12,5 56 100 Os dados da Tabela 11 mostram a opinião dos professores quanto aos problemas disciplinares na EJA-Ensino Médio: 60,71% afirmam haver poucos problemas de disciplina; 26,79% afirmam existir indisciplina freqüente, mas facilmente controlável e 12,5% dizem não haver problemas disciplinares na EJA. Para verificar significância estatística aplicou-se aos dados o Teste do Quiquadrado. Os resultados, χ2o= 7.37 e χ2c= 3,84 (ngl=1), revelam diferenças estatisticamente significantes entre eles. Pode-se inferir dos resultados que a indisciplina, o principal fator de estresse entre os professores, de acordo com Jesus (2001), não se constitui um forte elemento desmotivador para os professores na EJA, pois a maioria deles (60,7%) declara haver poucos problemas disciplinares ou que quando há freqüentes problemas disciplinares nas turmas, estes são facilmente contornáveis (26,7% dos professores assinalaram essa opção). Tal resultado pode ser associado ao do gráfico 2, em que os docentes se declaram com baixo grau de estresse, no que são corroborados pelas opiniões dos alunos, embora tal resultado seja discutível em razão da pesquisa empreendida por Reis (2007). De toda maneira, a ocorrência de problemas disciplinares incomoda muitos alunos, e estes esperam dos professores alguma ação, conforme revelaram comentários durante a atividade de campo: “Na minha classe tem uma menina que xinga de palavrão os professores. Se fosse eu, não deixava de jeito nenhum. O professor não faz nada...” “Tem gente que vem só pra bagunçar”; “Os professores têm de ser mais duros”. Por meio do gráfico 7, a seguir, é possível compreender melhor a opinião dos alunos sobre as questões disciplinares da EJA-Ensino Médio. 91 muito indisciplinados, qualquer que seja a aula às vezes indisciplinados, tanto faz a aula disciplinados em todas as aulas disciplinados ou indisciplinados conforme o professor não responderam 100 90 80 70 % 60 50 36,26 40 30 20 22,22 23,39 11,11 7,01 10 0 Gráfico 7 - Problemas Disciplinares na EJA : Visão dos Alunos quanto ao Comportamento dos Estudantes em Classe O gráfico 7 mostra os resultados das opiniões dos alunos da EJA-Ensino Médio quanto à indisciplina em sua classe: 36,26% consideram que os alunos são disciplinados ou indisciplinados conforme o professor; 23,39% afirmam que os alunos são disciplinados em todas as aulas; 22,22% dizem que os alunos são às vezes indisciplinados, tanto faz a aula; 11,11% afirmam que os alunos são muito indisciplinados, qualquer que seja a aula e 7,01% não responderam. Para verificação de diferenças estatisticamente significantes procedeu-se ao Teste do Qui-quadrado. Os resultados, χ2o= 45,17 e χ2c= 9,49 (ngl=4), indicam que há diferenças estatisticamente significantes. Os dados revelam consideráveis variações na percepção dos alunos quanto aos problemas disciplinares, mas prevalece a idéia de que a disciplina ou indisciplina dos alunos tem a ver com a postura do professor. Para Jesus (2000), o fato de comportamentos indisciplinados se manifestarem com uns professores e não com outros (o que os dados indicam ocorrer com mais freqüência na EJA-Ensino Médio) revela que o professor tem e deve assumir a sua parcela de responsabilidade sobre o que ocorre, e não atribuí-la totalmente ao aluno. O autor propõe, para a redução dos problemas disciplinares, que o professor não só identifique os comportamentos de indisciplina manifestos por seus alunos mas também 92 procure conhecer os motivos desses comportamentos, utilizando estratégias de intervenção cognitivo-motivacionais. 100 90 80 70 60 % 50 40 28,07 30 28,65 23,39 17,54 20 10 2,34 0 dificulta muito dificulta razoavelmente dificulta muito pouco não dificulta não responderam Gráfico 8 - Influência da Indisciplina dos Colegas no Aprendizado do Aluno EJA Os dados do Gráfico 8 mostram as respostas dos alunos da EJA-Ensino Médio quanto à influência da indisciplina dos colegas em seu aprendizado. Dentre os estudantes, 28,65% afirmam que a indisciplina dos colegas dificulta razoavelmente seu aprendizado; 28,07% afirmam que dificulta muito; 23,39% afirmam que não dificulta; 17,54% respondem que dificulta muito pouco e 2,34% não responderam. Para verificar se existem diferenças estatisticamente significantes aplicou-se o Teste do Qui-quadrado. Os resultados obtidos revelam que não há diferenças estatisticamente significantes: χ2o= 5,57 e χ2c= 7,82 (ngl=3). Observa-se que a indisciplina dos colegas dificulta, em maior ou menor grau, o aprendizado dos alunos da EJA-Ensino Médio. A somatória dos que assinalaram dificulta muito e dificulta razoavelmente perfaz 56,72%. A indisciplina pode constituirse, portanto, em aspecto contributivo da desmotivação dos estudantes da EJA. Conforme Jesus (2001), a maioria dos alunos considera indisciplinadas as turmas de que fazem parte e alguns depoimentos espontâneos confirmaram o mesmo na EJAEnsino Médio: 93 “A disciplina é complicado [sic] aqui”; “A gente é bagunceiro mesmo, mas se o professor der aula direito a gente fica quieto”. Jesus (2001) sugere que os alunos sejam convidados para participar da elaboração do regulamento de disciplina interno, e Dubet (1997) sugere que a relação ideal professor-aluno deveria ser pontuada por “contratos de vida comum entre professores e alunos” [DUB, 97, p.227]. Aplicar esse pensamento comum a ambos os autores parece fazer bastante sentido na EJA-Ensino Médio, pois contribui para a valorização do aluno [LIE e FEN, 00] e para seu envolvimento nas atividades de ensino-aprendizagem. Importante registrar que um dos alunos, após responder ao questionário, propôs que se formasse um comitê de alunos , um ou dois por sala, para discutir as questões disciplinares da escola e encontrar soluções. Segue um excerto de seu discurso: “A gente sabe onde tá o problema. A gente pode ajudar a resolver, pode controlar. Mas ninguém pergunta pra gente, ninguém tá nem aí com o que a gente acha...Se a gente pegasse um ou dois alunos de cada sala e se reunisse, sei lá, uma vez por mês, formava tipo assim uma comissão, a gente discutia os problema (sic), falava com os caras que fazem bagunça...”. Cabe relembrar Garcia (2001): este autor propõe buscar “alternativas em cima de uma prática social concreta” (p. 63), no intuito de resgatar valores como solidariedade, liberdade e igualdade, além de alcançar a reflexão crítica sobre nosso modelo educacional. Parece-nos que a proposta do aluno tem estreita ligação com esse pensamento, pois diz respeito justamente à não-alimentação de uma educação acrítica (Garcia, 2001; Frigotto,1995). Os encaminhamentos sugeridos pelos autores e pelo aluno da EJA mencionados parecem viáveis e podem contribuir para reduzir o tempo gasto com resolução de conflitos em classe. Dessa maneira, um possível fator contributivo da desmotivação de docentes e discentes pode ser minimizado, em prol da qualidade de vida e do sucesso no âmbito escolar de ambos os grupos. A seguir procederemos à análise das questões relativas ao currículo da EJAEnsino Médio, principiando por verificar se as disciplinas da EJA são diferenciadas ou se são iguais às do Ensino Médio Regular. 94 ALUNOS PROFESSORES 100 90 80 70 % 60 50 40 30 20 10 0 iguais às do um pouco muito totalmente não sabe dizer não respondeu Ensino Médio diferentes das diferentes das diferentes das (E.M.) regular discipl. do E.M.discipl. do E.M. disciplin. do regular regular E.M. regular Gráfico 9 - Disciplinas Ensino Médio Regular versus Disciplinas na EJA – Ensino Médio O Gráfico ráfico 9 mostra as respostas de alunos e professores quanto a diferenças existentes entre o currículo da EJA-Ensino EJA Ensino Médio e o currículo do Ensino Médio regular: 58,93% % dos professores e 39,77% dos alunos (total: 44,49%) afirmam que as disciplinas da EJA são um pouco diferentes das disciplinas do Ensino Médio regular; regular 21,43 % dos professores e 30,41% dos alunos (total: 28,19%) afirmam que as disciplinas da EJA são iguais iguai às do Ensino Médio regular;; 14,29% dos professores e 9,94% dos alunos (total: 11,01%) afirmam que as disciplinas da EJA são muito diferentes das disciplinas do Ensino Médio regular; regular; 3,57% dos professores e 1,75% dos alunos (total: 2,2%) 2%) afirmam que as disciplinas da EJA-Ensino Ensino Médio são totalmente diferentes tes das disciplinas do Ensino Médio Mé regular;; 1,79% dos professores e 15,2% dos alunos (total: 11,89%) não sabem dizer e 2,92% dos alunos (totalizando 2,2% dos sujeitos da pesquisa) não responderam à questão. Para verificar se existem diferenças estatisticamente significantes aplicou-se aplicou o Teste do Qui-quadrado. quadrado. Alunos: χ2o= 79,56 e χ2c= 9,49 (ngl=4). Professores: χ2o= 20,41 e χ2c= 5,9 (ngl= 2).. Total: χ2o= 188 e χ2c= 11,07 (ngl=5). Os resultados indicam que existem diferenças estatisticamente significantes em todos os casos. 95 Verificou-se também a Correlação de Sperman: ro = 0,71 N= 6 rc = 0,70 ─ o que mostra existir correlação significante entre as respostas de alunos e professores. O maior número de respostas, tanto de alunos quanto de professores, concentrou-se em “as disciplinas da EJA-Ensino Médio são um pouco diferentes das disciplinas do Ensino Médio regular”; em segundo lugar ficou a resposta “as disciplinas da EJA-Ensino Médio são iguais às do Ensino Médio regular”. Alguns depoimentos espontâneos dos professores e dos alunos da rede estadual confirmam que as disciplinas em ambos os cursos são praticamente iguais: “As disciplinas são as mesmas, mas a quantidade de tópicos estudados é menor” (professor); “Tem as mesmas matérias, mas tem menos tempo, então a gente vê só um pedaço.” (aluno); “É igual, só que eles resumem mais, né, porque é muito pouco tempo.” (aluno) Ou seja, as disciplinas, ao que parece, reduzem-se a um núcleo cognitivo tradicional [PER, 03], que nem sempre leva em conta a necessidade de contextualização do currículo e das metodologias, conforme o que propõem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos [SCH, 05; RES, 00]. Reconfirmam nossa análise as respostas à questão subseqüente. Solicitamos aos professores que assinalaram a presença de “disciplinas diferentes” no currículo da EJAEnsino Médio que indicassem quais as diferenças. Currículo reduzido/mínimo do planejamento/só o básico/menos conteúdo foram as diferenças apontadas por 22 professores; assuntos sem aprofundamento (1 resposta); assuntos contemporâneos mais acessíveis (1 resposta); conteúdo mais contextualizado e relacionado com o trabalho, levando em conta a diversidade do aluno foi a resposta de 6 professores. Dentre as respostas, somente a última indica alguma mudança significativa em termos curriculares na EJA-Ensino Médio, porém é proveniente dos professores da rede federal de ensino ─ o que indica mudança de rumos na EJA-Ensino Médio nessa esfera. As demais respostas não indicam de fato mudanças curriculares apreciáveis no segmento educacional ora estudado, pois apenas foram indicadas disciplinas que normalmente fazem parte do Ensino Médio regular. Perguntamos igualmente aos alunos se havia alguma disciplina, no atual curso, diferente das disciplinas cursadas no Ensino Médio regular e a tabela 12, a seguir, mostra suas respostas: 96 Tabela 12 - Disciplinas Diferenciadas na EJA – Ensino Médio OPÇÃO F não sim não responderam 68 32 71 171 TOTAL % 39,77 18,71 41,52 100 Os dados da Tabela 12 mostram que 41,52% dos alunos não responderam à questão proposta, possivelmente porque não haviam cursado Ensino Médio anteriormente (pedimos que respondessem à pergunta apenas os alunos que já tivessem freqüentado Ensino Médio em ocasiões anteriores). Dentre os que responderam, 39,77% (correspondendo a 68% do total de respostas de acordo com o critério estipulado) afirmaram que não há diferença entre as disciplinas cursadas no Ensino Médio regular e na EJA-Ensino Médio e 18,71% (correspondendo a 32% do total de respostas de acordo com o critério estipulado) afirmaram que há diferenças, as quais foram apontadas por alguns estudantes na resposta ao item quais?. As disciplinas mencionadas nesse item foram: Arte (2 respostas), Filosofia (4 respostas), Informática (1 resposta), Mecânica/Tecnologia Mecânica (10 respostas), Desenho Técnico (4 respostas), Desenho Industrial (1 resposta), Metrologia (5 respostas), Metodologia (1 resposta), Psicologia (1 resposta), Segurança do Trabalho (2 respostas) e Sociologia (4 respostas). O cálculo do Qui-quadrado, para verificação de diferenças estatisticamente significantes, revelou a existência dessas diferenças por meio dos seguintes resultados: χ2o= 16,53 e χ2c= 5,9 (ngl= 2). Vale observar que as disciplinas realmente diferenciadas apontadas pelos alunos fazem parte do PROEJA, da rede federal. Na esfera federal de ensino constata-se, portanto, que há preocupação com o aspecto em estudo, pensado como elemento importante para a realização da proposta de seus cursos. Na EJA-Ensino Médio observa-se que, de maneira geral, os currículos são organizados por disciplinas e se prendem ao currículo do Ensino Médio Regular. Embora as Diretrizes da EJA [RES, 00] afirmem que o modelo a ser seguido é o do Ensino Médio regular, faz-se necessário pensar em outro apontamento presente nas mesmas diretrizes: o ensino deve ser diferenciado, pois os sujeitos da EJA são plurais, diferenciados [OLI, 04; HAD e PIE, 00; MUR, 01; Coll, ap. AND, 03]. Uma das maneiras de valorizar essa pluralidade e a subjetividade dos alunos seria organizar o 97 currículo de acordo com outros parâmetros, partindo de um projeto político-pedagógico [GAN, 06; SEV, 01] focado na EJA-Ensino Médio. Conforme Rischbieter (2007), os CEFETs estão realizando trabalhos de vanguarda neste novíssimo campo da Educação. Valeria a pena, então, promover intercâmbio entre professores da rede federal e professores da rede estadual, com vista a aprimorar os estudos relativos a currículo de EJA para o Ensino Médio. Essa troca de informações poderia funcionar como elemento motivador para os professores do segmento, agregada às idéias de reorganização curricular propostas por Hernández e Ventura (1998), como a organização do currículo por atividades, temas ou projetos. Os autores assinalam ainda a necessidade de desenvolver pautas organizativas não a partir de concepções disciplinares, mas a partir de problemas e situações da prática. Tais pautas, acreditamos, poderiam ser construídas em conjunto por professores das redes federal, estadual e municipal. (Ainda que o município trabalhe apenas com a EJA em nível fundamental, detém experiência significativa em Educação de Jovens e Adultos.). Tabela 13-Aceitação de Sugestões dos Professores para Currículo de EJA sempre algumas vezes raras vezes não responderam TOTAL F % 35 17 3 1 62,5 30,36 5,36 1,79 56 100,01 A Tabela 13 mostra o quanto são consideradas as sugestões dos professores para o currículo de EJA de suas escolas: 62,5% dos professores afirmam que suas sugestões são sempre aceitas; 30,36% afirmam que isso ocorre algumas vezes; 5,36% afirmam que raras vezes suas sugestões são aceitas e 1% não respondeu à questão. A análise estatística foi feita por meio do Teste do Qui-quadrado, cujos resultados indicam a existência de diferenças estatisticamente significantes: χ2o= 6,23 e χ2c= 3,84 (ngl=1). Observamos aqui que existe nas escolas uma abertura em maior grau para sugestões curriculares relativas à EJA-Ensino Médio por parte dos professores. Entretanto nos parece que essas sugestões vinculam-se muito mais ao como será desenvolvido o currículo do que a qual currículo será desenvolvido, pois na maioria dos 98 estabelecimentos, de acordo com os professores, “o currículo já vem pronto” ─ é só adaptar para a EJA, “resumir”. Não obstante, de certa maneira, a pesquisa indica até o momento que os docentes da EJA-Ensino Médio e seus coordenadores/diretores têm pensado no como ensinar considerando as diferenças individuais, a pluralidade cultural de seus alunos, conforme propõe Coll (1996, ap. AND, 2003, p.13), ainda que os resultados não sejam de todo visíveis. A preocupação com as peculiaridades da EJA e a aparente abertura para a busca de caminhos são indicativos de um reforço motivacional para os alunos e também para os professores. Tabela 14 - Currículo EJA versus Compartilhamento de Saberes GRAU DE CONTRIBUIÇÃO F % contribui muito contribui razoavelmente contribui pouco não contribui não responderam 15 32 6 2 1 26,79 57,14 10,71 3,57 1,79 TOTAL 56 100 A Tabela 14 mostra os resultados das respostas dos professores quanto à contribuição do atual currículo de EJA-Ensino Médio para o compartilhamento de saberes entre os diversos sujeitos do processo educativo estudado. Dentre os docentes, 57,14% afirmam que o atual currículo contribui razoavelmente; 26,79% afirmam que contribui muito; 10,71% afirmam que contribui pouco; 3,57% afirmam que contribui muito e 1,79% não responderam.. O Teste do Qui-quadrado, cujos resultados foram χ2o= 19,74 e χ2c= 5,99 (ngl=2), indica a presença de diferenças estatisticamente significantes entre os dados coletados. Oliveira (2004) alude ao compartilhamento de saberes que se dá no encontro dos sujeitos da EJA, alunos e professores, fato que os dados de campo parecem comprovar se compararmos os resultados majoritários. A maioria dos professores considera que o currículo desenvolvido na EJAEnsino Médio contribui razoavelmente para o compartilhamento de saberes. Somandose esta parcela à de professores que consideram alta a contribuição do currículo da EJA 99 ao compartilhamento de saberes, tem-se um total de 83,93% de menções positivas à idéia. Diferentemente do que imaginávamos, o currículo de EJA não parece ser desmotivante para os professores. Parece, a princípio, propiciar a construção de saberes por meio da troca de experiências entre educandos e educadores ─ a ótica coletiva, conforme Moll (2004a), embora não haja definição específica de rumos pela via do projeto político-pedagógico. Talvez na EJA o diálogo necessário para tal encaminhamento esteja se processando, mas seja ainda incipiente. Jesus (2001) afirma que nas escolas nas quais existem espaços onde os professores e os alunos tenham possibilidade de aprender o que gostam e dialogar sobre temas que lhes interessam ocorrem menos situações de violência e indisciplina. Embora estes espaços restrinjam-se na EJA às salas de aula, é positivo observar que de algum modo existem. Assim, podemos associar os resultados aqui verificados com aqueles constantes da Tabela 9 (Problemas da EJA), em que a indisciplina aparece como problema pouco preocupante na classificação dos professores e a violência como problema pouco preocupante na visão de alunos e professores. Se há menos situações de indisciplina e violência na EJA-Ensino Médio, isso pode dever-se à existência dos espaços de diálogo de que nos fala Jesus (2001). Podemos também inferir que o compartilhamento de saberes que se processa, em maior ou menor grau, na EJA-Ensino Médio contribui para aumentar a motivação dos alunos e de professores, talvez mais destes últimos. A troca de saberes está sendo um pouco prejudicada pela indisciplina, mas aparentemente não sofre influência das questões relacionadas à violência. Uma maneira de estimular o crescimento do intercâmbio de saberes entre alunos e professores poderia ser a criação de outros espaços de diálogo além da sala de aula. Por exemplo, uma sala ampla arranjada de modo a promover o acolhimento de professores e de alunos, para discussões sobre temas da atualidade. Ou ainda um espaço no interior da biblioteca, para leituras e conversas espontâneas sobre os conteúdos depreendidos pelos indivíduos participantes, em horários pré-programados. Também se pode aventar a idéia de um espaço de práticas esportivas, de música ou de artesanato que integre docentes e discentes da EJA. 100 ALUNOS PROFESSORES 100 90 80 70 60 50 % 40 30 20 10 0 contribuem muito contribuem razoavelmente contribuem pouco não contribuem não responderam Gráfico 10 - Contribuição das Disciplinas da EJA para o Mercado de Trabalho O Gráfico 10 mostra os resultados das opiniões de alunos e professores quanto à contribuição das disciplinas da EJA-Ensino Médio para o mercado de trabalho: 42,69% dos alunos e 48,21% dos professores (total: 44,05%) consideram que as disciplinas da EJA contribuem razoavelmente para o mercado de trabalho: 39,77% dos alunos e 32,14% dos professores (total: 37,89%) consideram que tais disciplinas contribuem muito; 11,11% dos alunos e 17,86% dos professores (total: 12,78%) consideram que contribuem pouco; 5,26% dos alunos e 1,79% dos professores (total: 4,41%) consideram que as disciplinas da EJA não contribuem para o mercado e 1,17% dos alunos, totalizando 0,88% dos sujeitos da pesquisa, não responderam. Para verificar a homogeneidade/confiabilidade dos dados procedeu-se ao Teste do Qui-quadrado, obtendo-se os seguintes resultados: Alunos: χ2o= 77,03 e χ2c= 7,82 (ngl=3). Professores: χ2o= 7,89 e χ2c= 5,99 (ngl=2). Total: χ2o= 100,99 e χ2c= 7,82 (ngl=3). Em todos os casos verificaram-se diferenças estatísticas significantes. Aplicou-se também aos dados a Correlação de Sperman, verificando-se por meio dos resultados que nesta questão ocorre o máximo de correlação possível entre os grupos pesquisados: ro= 1 N=5 rc=0,75. Há, pois, alta convergência de opiniões. Levando-se em conta que a maioria dos educandos está inserida no mercado de trabalho e o fato de que, a não ser na rede federal, o currículo não esteja por enquanto voltado para profissionalização, os resultados são curiosos. Remetem-nos, no mínimo, para duas hipóteses. A primeira: os alunos estão conseguindo fazer conexões importantes entre os conteúdos curriculares da EJA e seu mundo profissional ─ e isso é reportado aos 101 professores em sala ─ justificando as coincidências de opinião no gráfico. A segunda: alunos e professores consideram que o certificado de conclusão de curso obtido após cursar todas as disciplinas contribuirá para que o aluno galgue mais um degrau profissional, porém não necessariamente por ter alcançado conhecimentos gerais altamente contribuintes ou capacitação específica para determinada profissão. Seria interessante efetuar pesquisa voltada ao aspecto em foco, a fim de estudálo com mais profundidade. Por ora, vale lembrar um dado animador: faz parte do Plano de Metas [GOV, 07] anunciado em agosto de 2007 pelo Governo do Estado de São Paulo atender toda a demanda de jovens e adultos no Ensino Médio, com a inclusão de cursos profissionalizantes em toda a rede estadual. Isso está planejado para implantação gradual e se consumará até 2010. Apesar da espera um tanto longa, irá ao encontro dos anseios dos alunos de EJA verificados nesta pesquisa. Podemos, ainda, refletir, a partir das respostas dadas, se entre os educandos e educadores da EJA-Ensino Médio predomina a perspectiva neoliberal de uma educação regulada pelo mercado, conforme nos aponta Frigotto (1995). Parece que sim. O autor nos alerta quanto ao fato de que uma Educação atrelada exclusivamente aos interesses do mercado de trabalho pode gerar e manter uma “concepção fragmentária do conhecimento”, o qual passa a ser “concebido como um dado, uma mercadoria e não como uma construção, um processo” [FRI, 95, p.85]. Há que se pensar, acreditamos, em como conciliar, na EJA-Ensino Médio, a preparação do aluno para o mercado de trabalho e o seu despertar para a construção do conhecimento ─ de posse da compreensão de que este é um processo permanente. Um norteador importante nessa empreitada reside nas concepções de Luckesi et al. (1990) acerca da relação entre conhecimento e ação: o conhecimento deve ser encarado como compreensão do mundo e fundamentação da ação. Além disso, sua prática e compartilhamento não são privilégios de ninguém. Não deveria estar o conhecimento, pois, atrelado a interesses pessoais ou mercadológicos. Por ora, fechemos a análise do gráfico com uma consideração diretamente relacionada ao nosso objeto primeiro de estudo, a motivação: o desempenho no mercado no trabalho estabelece-se na EJA-Ensino Médio como elemento motivacional significativo para os alunos. Tal fato pode ser comprovado também pelos resultados da Tabela 1 (Motivos para Freqüentar a EJA, p. 61) na qual o item adquirir habilidades para o mercado de trabalho aparece como o motivo mais importante para que o aluno freqüente a EJA. 102 ALUNOS PROFESSORES 100,00 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 contribui muito contribui contribui pouco razoavelmente não contribui. não responderam Gráfico 11 - Currículo versus Projetos de Vida do Aluno O Gráfico ráfico 11 mostra os resultados das opiniões dos alunos e dos professores quanto à contribuição ontribuição do currículo da EJA-Ensino Ensino Médio para a criação e/ou desenvolvimento dos projetos de vida do aluno. Dentre os pesquisados, 49,12% dos alunos e 25% dos professores (total: 43,17%) afirmam que o currículo do curso contribui muito para esse fim; 35,09% dos alunos e 48,21% (total: 38,33%) afirmam que contribui razoavelmente; razoavelmente 11,11% dos alunos e 25% dos professores (total: 14,54%) afirmam que contribui pouco; pouco 3,51% dos alunos e 0% dos professores (total: 2,64%) afirmam que não contribui; contri 1,17% dos alunos e 1,79% dos professores (total: 1,32%) não responderam. Para verificação de diferenças estatísticas estatísticas significantes nos dados colhidos aplicou-se o Teste do Qui--quadrado. quadrado. Os resultados indicam que em todos os casos há diferenças estatísticas statísticas significantes: Alunos: χ2o= 92,61 e χ2c= 7,82 (ngl=3). Professores: χ2o= 6,14 e χ2c= 5,99 (ngl= 2). Total : χ2o= 102,75 e χ2c=7,82 (ngl=3). Aplicou-se se também aos dados a Correlação de Sperman, por meio da qual se verificou a inexistência existência de correlação entre as respostas de ambos os grupos: ro= 0,6 N= 5 rc=0,75. Embora as porcentagens totais das respostas espostas dadas coincidam, difere um pouco a opinião de docentes e discentes quanto a esse aspecto. A maioria dos alunos acredita que o currículo da EJA contribui para a construção de seus projetos de vida. Tal resultado parece opor-se se ao pensamento de Szanto (2006), conforme a qual os alunos da Educação de Jovens e Adultos não conseguem vincular a educação escolar à construção dee seus projetos de vida, embora, ainda de acordo com a autora, acreditem na escola como meio io de alcançar uma vida melhor. 103 É bom lembrar que Szanto (2006) dedicou seu estudo aos jovens da EJA em nível fundamental; em nível médio, há ainda um vasto campo de pesquisa a se desvendar no tocante a esse enfoque, antevisto nas respostas à questão ora discutida. Conforme Murta (2001), talvez os alunos de EJA voltem à escola buscando uma melhor qualidade de vida. E isso revela, então, a preocupação com um projeto de vida ─ conforme a maioria das respostas da Tabela 1 (p. 61) ─ para o qual a escola pode contribuir, sobretudo se trabalhar no sentido de ampliação dos horizontes de cada aluno, por meio de estratégias compatíveis com a sua realidade. [MOL, 04; FRE, 67, 87 e 07; CAS, 04]. Os professores, por sua vez, também acreditam que o currículo da EJA contribui para os projetos de vida dos alunos, porém a maioria assinalou que essa contribuição é razoável, enquanto duas parcelas menores, mas exatamente iguais e que se somadas alcançam 50% dos docentes, dividiram-se entre contribui muito e contribui pouco, opiniões antagônicas as quais poderiam ser pesquisadas futuramente, com a intenção de obter dados sobre as razões que os levam a pensar assim. Uma vez que a maioria dos educadores crê na razoável contribuição do currículo de EJA para os projetos de vida dos alunos, emerge a possibilidade de ampliá-la, de diferentes modos. Um deles poderia ser a promoção de um trabalho interdisciplinar mais efetivo [Fazenda, ap. CAR, 07; MAH, 04; LEI, 05], de maneira a evitar a fragmentação [FRI, 95; SEV, 01; HER e VEN, 98; TAV, 01] dos conhecimentos oferecidos no currículo de EJA-Ensino Médio. O objetivo dessa ação seria oferecer aos alunos uma visão de conjunto promotora da compreensão da totalidade, como sugere Morin [01, ap. HER e VEN, 98]. De acordo com o autor, a compreensão do todo permite aos indivíduos “enfrentar com mais eficiência os novos desafios sociais e político-econômicos globais” [MOR, ap. HER e VEN, 98, P. 13], item incluso em muitos projetos de vida discentes, como levam a concluir, repetimos, as respostas deste gráfico e da Tabela 1 (Motivos para Freqüentar a EJA). Relacionando agora o Gráfico 1 ao tema geral do trabalho, podemos considerar que a crença do aluno na possibilidade de engendrar projetos de vida a partir dos conhecimentos adquiridos na escola constitui-se um forte elemento motivacional para sua permanência na sala de aula. Assim, cabe aos mestres manter-se sempre atentos e em permanente diálogo com seus educandos. Conhecer-lhes o(s) projeto(s) de vida pode ajudar na escolha das 104 ações educativas cotidianas, ampliando o interesse e a capacidade de concentração dos alunos naquilo que é ensinado. Tabela 15 - Inclusão de Temas na EJA: Sugestões TEMAS ALUNOS F % PROFESSORES F % TOTAL F % Como administrar suas finanças 67 5,19 30 6,26 97 5,48 Comunicação verbal e escrita nas empresas 89 6,89 41 8,56 130 7,34 Relação entre alimentação e saúde 64 4,96 28 5,85 92 5,2 Como cuidar de bebês 11 0,85 4 0,84 15 0,85 Prevenção de doenças / primeiros-socorros Noções de comportamento em diferentes contextos 99 7,67 35 7,31 134 7,57 53 4,11 38 7,93 91 5,14 Como organizar eventos 55 4,26 6 1,25 61 3,45 Ações concretas para o reequilíbrio ambiental 66 5,11 32 6,68 98 5,54 Cultivo de hortas e pomares 26 2,01 7 1,46 33 1,86 Noções sobre leis e cidadania 92 7,13 45 9,39 137 7,74 Como cozinhar o trivial variado Noções de mecânica de automóveis/outras máquinas Noções de instalações elétricas (residenciais,comerciais,industriais) 12 0,93 2 0,42 14 0,79 49 3,8 11 2,3 60 3,39 44 3,41 12 2,51 56 3,16 Noções de tubulações hidráulicas 26 2,01 8 1,67 34 1,92 Aplicação de programas de computadores 111 8,6 31 6,47 142 8,02 Lazer nas metrópoles 33 2,56 11 2,3 44 2,49 Estética facial e corporal 35 2,71 11 2,3 46 2,6 Organização de ambientes 40 3,1 10 2,09 50 2,82 Filosofia 55 4,26 33 6,89 88 4,97 Noções de Psicologia 69 5,34 28 5,85 97 5,48 Jardinagem / Paisagismo 25 1,94 9 1,88 34 1,92 Confeccção de roupas 18 1,39 7 1,46 25 1,41 Pintura de ambientes residenciais e comerciais 19 1,47 8 1,67 27 1,53 Artesanato 49 3,8 17 3,55 66 3,73 Como ser um bom vendedor 47 3,64 13 2,71 60 3,39 Outros 37 2,87 2 0,42 39 2,2 1291 100,01 479 100,02 1770 99,99 TOTAL A Tabela 15 mostra sugestões de alunos e professores da EJA-Ensino Médio quanto à inclusão de temas no curso. Do total de sujeitos da pesquisa, 8,02% consideram importante/necessário incluir no currículo de EJA Aplicação de programas de computadores; 7,74% acham importante/necessário incluir Noções sobre leis e cidadania; Prevenção de doenças/primeiros socorros ficou com 7,57% da preferência 105 de alunos e professores, seguido de Comunicação verbal e escrita nas empresas: 7,34%; Ações concretas para o reequilíbrio ambiental: 5,54%; Noções de psicologia: 5,48%; Relação entre alimentação e saúde: 5,2%; Noções de comportamento em diferentes contextos: 5,14%; Filosofia: 4,97%; Artesanato: 3,73%; Como organizar eventos: 3,45%; Noções de mecânica e Como ser um bom vendedor aparecem empatados com 3,39% das respostas; Noções de instalações elétricas: 3,16%; Organização de ambientes: 2,82%; Estética facial e corporal: 2,6%; Lazer nas metrópoles: 2,49%; Outros (incluindo comportamento no trânsito, leitura e pensamento crítico, qualquer atividade que ajude o aluno a gerar renda: 2,2%; Noções de tubulações hidráulicas e Jardinagem e paisagismo empatados com 1,92 %; Cultivo de hortas e pomares: 1,86%; Pintura de ambientes comerciais e residenciais: 1,53%; Confecção de roupas: 1,41%; Como cuidar de bebês: 0,85% e Como cozinhar o trivial variado: 0,79%. Para verificar se existem diferenças estatisticamente significantes entre os dados coletados foi aplicado o Teste do Qui-quadrado, com os seguintes resultados: Alunos: χ2o= 364,96 e χ2c= 37,65 (ngl=25). Professores: χ2o= 179,69 e χ2c=33,93 (ngl=22). Total: χ2o= 556,22 e χ2c=37,65 (ngl= 25). Em todos os casos foram verificadas diferenças significativas do ponto de vista estatístico. Também foi aplicada aos dados a Correlação de Sperman, para verificação de correlações entre os grupos pesquisados. Obtiveram-se os seguintes resultados: ro= 0,83 N=26 rc=0,37 evidenciando correlação significante positiva entre os grupos. Observamos que as respostas dos pesquisados, tanto dos grupos isolados quanto do total dos grupos, apontam com maior freqüência para a inclusão de temas contemporâneos ligados primeiramente ao que se acredita “resolver” as dificuldades de trabalho: numa era tecnologicizada, a tendência é acreditar que aprender a lidar com computadores resolverá todos os problemas. Não necessariamente, embora a lógica do mercado nos induza a crer nessa possibilidade. A ela, porém, convém que se agreguem outras, no sentido de ampliar o entendimento do aluno de EJA para além da escravidão imposta pela tecnologia e para perto daquilo que ela pode trazer de melhor se bem empregada [CIT, 04]. A segunda resposta em ordem de preferência conecta-se a um dado bastante animador. Alunos e professores da EJA-Ensino Médio consideram importantes as noções sobre leis, cidadania e saúde, hoje veiculadas, ainda que timidamente, por diversos meios de comunicação. Considerando-se o caráter de resgate da cidadania [CAJ, 06] representado pela oferta da Educação de Jovens e Adultos no país, pode-se 106 imaginar que os professores e educandos da EJA estejam conscientes disso e preparados para trabalhar com mais profundidade esses aspectos, até em disciplinas voltadas especificamente para esse fim. Sugere-se, por conseguinte, a inclusão de temas/disciplinas que envolvam o estudo e a discussão de leis, cidadania e saúde física e mental no currículo da EJAEnsino Médio. A terceira resposta mais assinalada diz respeito também a uma questão diretamente relacionada ao trabalho: a capacidade de se comunicar bem no ambiente profissional, que nos últimos tempos tem sido alvo de preocupações de algumas empresas, as quais investem em treinamento para os funcionários, sem, no entanto, lograr resultados muito significativos. O grande nó da questão está justamente na escolarização precária oferecida a nossas crianças e jovens, que passam uma média de 12 anos na escola até concluírem o Ensino Médio e dele saem sem dominar a língua materna. Com os alunos de EJA não ocorre diferente. São vítimas do mesmo processo deletério de educação e, uma vez já inseridos no mercado, sentem mais de perto essa dificuldade de comunicação verbal e escrita. Na perspectiva construída, poder-se-ia pensar em reestruturar as aulas de língua portuguesa de modo a priorizar a utilização prática do idioma no dia-a-dia do educando da EJA-Ensino Médio. Seria algo como implantar a disciplina ‘Português Instrumental’. Possivelmente criaríamos assim um elemento motivacional extra para os estudantes. Em quarto lugar na lista de temas preferidos por professores e alunos da EJA aparece um de suma importância atualmente: a implementação de ações concretas para redução dos desequilíbrios ambientais. Tal tema poderia ser explorado em maior profundidade na EJA Ensino-Médio, pois as chances de retorno são significativas, já que se trata de adultos que têm poder de decisão sobre suas próprias ações. Nesse segmento educacional seria viável, portanto, a formação de indivíduos ou grupos de indivíduos capazes de executar e propagar ações concretas em favor da qualidade de vida da cidade/do bairro em que vivem. Isso se considerarmos aqui apenas o “âmbito doméstico” da questão. Despertou nossa atenção o fato de que os alunos e professores da EJA consideram pouquíssimo relevantes temas que têm ligação direta com a satisfação das necessidades básicas dos indivíduos, como plantar, colher (resguardada a idéia de que temos restrito espaço para isso nas metrópoles), cozinhar, realizar manutenção dos 107 ambientes freqüentados, costurar, cuidar de bebês...Talvez exista aí não necessariamente uma valoração negativa por parte dos pesquisados quanto a essas tarefas, mas a noção de que sejam saberes já dominados. Os demais temas são igualmente importantes para a incrementação do currículo da EJA-Ensino Médio, entretanto não serão discutidos em pormenores no presente trabalho, configurando-se, talvez, como mais um futuro caminho de pesquisa, dadas suas extensas possibilidades de análise e de emprego como elementos motivacionais no cotidiano escolar. Torna-se importante neste momento relembrar Bueno (2007), segundo a qual os problemas vivenciados cotidianamente em sua comunidade devem constar do currículo de ensino de jovens e adultos: assim, deve-se discutir a ausência de serviços de transporte, de saúde, a violência urbana dos locais, a gravidez na adolescência ─ apenas para exemplificar. Uma breve pesquisa realizada pelo professor em sala, ou pelo coordenador de EJA, podem nortear a escolha desses temas geradores [FEI, 99; GAD, 97]. De acordo com Gadotti (2007), a cultura midiática também pode contribuir bastante para esse fim, despertando os estudantes inclusive para temas que o saber escolar ignora ou valoriza pouco, como alguns daqueles citados no parágrafo precedente, além da solidariedade e da interculturalidade. Imagina-se que a partir do universo cultural do aluno, de seus interesses individuais e com o auxílio dos meios de comunicação o professor da EJA-Ensino Médio possa desenvolver um trabalho de alta qualidade com seus educandos. Tabela 16 - Trabalho Interdisciplinar aplicado à EJA sempre quase sempre às vezes quase nunca nunca não responderam TOTAL F % 10 6 28 10 1 1 17.86 10.71 50.00 17.86 1.79 1.79 56 100,01 A Tabela 16 mostra a freqüência com que o trabalho interdisciplinar é empregado na EJA-Ensino Médio na opinião dos docentes. 108 Dentre eles, 50% afirma ser o trabalho interdisciplinar aplicado às vezes na EJA; na segunda posição e empatadas estão as respostas sempre e quase nunca, com 17,86%; na terceira posição aparece quase sempre, com 10,71% das respostas; em seguida, nunca, com 1,79% e não responderam com 1,79%. O Teste do Qui-quadrado foi aplicado aos dados para verificação de sua homogeneidade/confiabilidade. Os resultados, χ2o= 21,55 e χ2c= 7,82 (ngl=3), revelam diferenças estatisticamente significantes. Nota-se que metade dos professores pesquisados afirma existir trabalho interdisciplinar na EJA algumas vezes. As opções sempre e quase sempre, se somadas, alcançam o percentual de 28,57%. Agregando-se a esse valor os 50% iniciais (opção às vezes), obtemos um total de 78,57% de menções positivas à presença de interdisciplinaridade na EJA-Ensino Médio. Tal porcentagem indica presença, com menor ou maior freqüência, de um aspecto importante do ensino de acordo com diversos teóricos ─ o qual, a nosso ver, emerge como significativa ferramenta motivacional. Mas há que se analisar com cautela os dados, pois podem indicar tanto a real ocorrência de interdisciplinaridade [Fazenda, ap. CAR, 07], em detrimento da fragmentação do ensino [SEV, 98 e 01; MOR, 01; HER e VEN, 98; FRI, 95; TAV, 01], como podem estar esses mesmos dados relacionados a conceitos errôneos/impróprios acerca da interdisciplinaridade [MAH, 04; LEI, 05]. Maheu (2004) solicita que não se confunda a interdisciplinaridade com a multi e a pluridisciplinaridade ─ que se referem à “justaposição de duas ou mais disciplinas de um curso, sem que sejam definidos objetivos pedagógicos comuns” (p. 2). Segundo Santomé (1998), “as disciplinas devem entrelaçar-se, complementar-se e reforçar-se mutuamente”, com o objetivo de “construção e reconstrução da sociedade, do sistema econômico, dos sistemas de comunicação, da tecnologia, do mundo estético, dos valores, atitudes, etc.” [SAN, 98, p.227]. Pensamento semelhante é compartilhado por Morin (2001), Severino (2001), Freire [ap. GAD, 97], Frigotto (1995). Se realmente a interdisciplinaridade, conforme os conceitos de Fazenda (1994), Leis (2005), Carlos [94, ap. FAZ, 04] e Maheu (2004), estiver em curso na EJA-Ensino Médio será algo muito positivo. Nossa observação durante a pesquisa de campo permite-nos, porém, revelar certa desconfiança em relação a isso. Afigura-se-nos que apenas durante a execução de algum projeto há essa possibilidade de trabalho interdisciplinar na EJA-Ensino Médio. Nos demais dias letivos, parece predominar o isolacionismo entre os professores, fato que se torna 109 indício de ausência ou comprometimento da interdisciplinaridade. Complementando a análise, registre-se que não foi possível aferir por meio da questão concernente à Tabela 16 o grau de compreensão dos mestres quanto à interdisciplinaridade. (Possivelmente uma questão precedente resolvesse tal incerteza). Nessa esteira, vale ressaltar a porcentagem de 17,86% dos docentes os quais afirmam que o trabalho interdisciplinar nunca ou quase nunca ocorre na EJA-Ensino Médio, dado que igualmente pode ter relação com a compreensão exata ou inexata do que vem a ser interdisciplinaridade. Caberia, assim, uma pesquisa a respeito do aspecto em discussão, com o objetivo de esclarecer as dúvidas ora levantadas. 100 80 % 60 39,18% 40 33,92% 20 9,36% 12,28% 5,26% 0 Nunca Raramente Às vezes Sempre Não responderam Gráfico 12 - Influência do Material Didático sobre a Aprendizagem do Aluno - EJA O Gráfico 12 mostra a opinião dos alunos quanto à influência do material didático sobre sua aprendizagem: 39,18% afirmam que às vezes o material didático exerce influência sobre seu processo de aprendizagem; 33,92% afirmam que isso ocorre sempre; 12,28% afirmam que isso raramente ocorre; 9,36% dizem que isso nunca ocorre e 5,26% não responderam à questão. Submetidos os dados à análise estatística por meio do Teste do Qui-quadrado, observou-se que há diferenças estatisticamente significantes, conforme comprovam os seguintes resultados: χ2o= 81,37 e χ2c= 9,49 (ngl=4). De acordo com as respostas dominantes, percebemos que o material didático exerce alguma influência na aprendizagem da maioria dos alunos da EJA-Ensino Médio, sendo que uma parcela expressiva deles afirma que o material didático sempre exerce influência sobre sua aprendizagem. Tal fato remete-nos a duas idéias. A primeira diz respeito à escassez de recursos didáticos [TAV, 01] diariamente enfrentada na maioria das escolas públicas, o que atinge por extensão os alunos da EJA-Ensino Médio. A segunda é a necessidade de, a 110 despeito da situação problemática, diversificar o material didático empregado no cotidiano escolar da EJA-Ensino Médio, com o intuito de aguçar a curiosidade e motivar o maior número possível de alunos. De acordo com Lepper, Sethi, Dialdin e Drake [1997, ap. SIQ e WES, 06], “variáveis como a curiosidade, o desafio, o controle sobre a ação e a fantasia destacamse como fontes geradoras da motivação para a aprendizagem” (p. 22). Ora, diversificar os materiais didáticos constitui-se um caminho para aguçar a curiosidade dos estudantes e a partir daí gerar a fantasia, o desafio, as ações sobre as quais os alunos desenvolverão controle. Do que pudemos observar, entretanto, apenas alguns professores buscam materiais diferentes para aplicar em sala. São estes professores justamente os mais lembrados em perguntas sobre método de ensino, como a questão 18 deste trabalho, analisada mais adiante. Pode-se por engano acreditar que somente a escassez de recursos seja fator limitante para sua aplicação, porém isso não condiz com a realidade em todas as escolas pesquisadas. Foi possível observar claramente que de nada adianta a escola dispor de alguns recursos interessantes, porém os mestres não se interessarem por empregá-los ou a direção dificultar seu uso. Em um dos estabelecimentos pesquisados havia uma pequena sala de informática cujo uso não era permitido nem a alunos nem a professores. Havia, por outro lado, revistas informativas atualizadas disponíveis aos professores, porém não eram aproveitadas por nenhum dos docentes, embora a coordenação incentivasse isso. Outro prisma liga-se à possibilidade de se empregarem na EJA materiais recicláveis, trazidos pelos próprios estudantes ─ a exemplo do que se faz com certa freqüência no Ensino Regular ─ e, com alguma criatividade, transformá-los em recursos didáticos interessantes. Empregar materiais diversos e observar o retorno dos educandos para aprimorar a adequação de seu uso pode funcionar na EJA como mais um elemento contributivo do desenvolvimento proximal [Vygostsky, 1984, ap. FON e CRU, 1997; VYG, 05] e da assimilação [Piaget, 1989, ap. FON e CRU, 97] discentes. Como se trata de alunos que tiveram dificuldades em seu processo anterior de escolarização, convém resgatar as teorias desses dois pensadores, voltadas em princípio para as crianças, adaptando-as à realidade da EJA. Tal ação, claro, precisa ocorrer sem infantilizar o ensino oferecido, um outro risco a ser afastado na EJA-Ensino Médio. 111 Tabela 17 - Método de Ensino Inovador Sim Não Não responderam TOTAL F % 82 78 11 171 47,95 45,61 6,43 99,99 A Tabela 17 mostra os resultados das opiniões dos alunos quanto à presença ou não de método(s) inovador(es) de ensino na EJA-Ensino Médio. Dentre os estudantes, 47,95% afirmaram que sim, há métodos inovadores; 45,61% afirmaram que não e 6,43% não responderam. É bom lembrar que nesta questão, no subitem qual/quais?, muitos alunos confundiram a pergunta, pensando alguns em método – que era de fato a pergunta; outros, em qual professor usou um método diferente. Aos que solicitaram a ajuda previamente oferecida pela pesquisadora foi possível responder de acordo com o foco. Seguem as respostas : dinâmicas (1 resposta); filmes/dvd (6 respostas) ; aula em laboratório metalográfico (1 resp.); apostila (2); debater assuntos familiares (1); diálogo/discussão entre alunos (3); música (3); ler histórias (1); materiais extras (2); jornal (2); ensinar brincando (2); jeito diferente do professor (2); metodologia da pesquisa em Matemática (1); ensinar a olhar as coisas de modo diferente em Artes (1); exemplos reais e dinâmicos em Física (1); conhecimento de quadros artísticos (1); resumir o conteúdo no final da aula (1); pausa para lanche e descanso durante a aula (1); peça de teatro (1); interação do professor com a classe (1); desenhos que ajudam no entendimento da Física (1); professor dinâmico (1); professor faz compreender aos poucos (1); seminário de primeiros-socorros (1); aulas práticas (1). Quanto aos alunos que não entenderam bem o foco da pergunta, vale a pena transcrever suas respostas porque uma observação mais atenta do enunciado da questão realmente leva a concluir que o entendimento poderia ser diferente. Trata-se, portanto, de uma imprecisão na formulação do enunciado, que à pesquisadora pareceu bastante claro, mas aos alunos gerou dúvida. Boa parte deles escreveu “professor de.....”, completando com a disciplina correspondente: professor de inglês (3 respostas); professor de português (16 respostas); arte (7); matemática (11); filosofia (4); física (3); geografia(1); história (1); mecânica (1); literatura brasileira e portuguesa (1); literatura brasileira e portuguesa/vídeos (1); química (1). Alguns alunos, ainda, deram apenas nomes de professores, totalizando 12 respostas. O Teste do Qui-quadrado ─ realizado para confirmação ou não da existência de diferenças estatisticamente significantes ─ revelou que elas existem, conforme 112 comprovam os seguintes resultados: χ2o= 55,82 e χ2c= 5,99 (ngl=2). Observa-se que há grande variedade de formas de ensinar lembradas pelos alunos. Nem todas configuram-se como método propriamente dito, mas têm relação com a admiração, o interesse e a preferência dos estudantes por determinadas maneiras de trabalhar os conteúdos curriculares, relacionando-se, portanto, à motivação discente. Cabe recordar aqui a importância da metodologia de ensino e da intervenção pedagógica. Segundo Coll [1996, ap. AND, 03], estas devem respeitar as diferenças individuais e a pluralidade cultural. Ademais, devem considerar “o princípio de globalização, transferência, funcionalidade e retenção e o estabelecimento de relações” [COL, 96, p.13], itens que compõem a aprendizagem significativa, de acordo com o autor. Pinto (2007) sugere que o educador deve esforçar-se para ‘praticar os métodos mais adequados em seu ensino”, sempre procedendo a uma “análise de sua própria realidade pessoal como educador” (p.113). Trata-se da idéia de que a consciência crítica do educador determinará sua conduta, suas opções metodológicas e seu empenho em sala de aula. (PINTO, 2007). O autor sugere também que o professor tenha precaução contra a artificialização do método, o que ocorre quando acredita que apenas um certo método pode resolver todos os problemas do ensino, desconsiderando os demais fatores aí envolvidos. Ressurge aqui a questão da reflexão docente. Freire (2007), Vasconcellos [2002, ap. CAS, 04] e Casério (2004) relembramnos que a prática docente requer um movimento dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer, a chamada “reflexão crítica sobre a prática”, em busca da práxis, “que significa uma prática embasada por uma teoria”, a qual, por sua vez, é desafiada pelas questões práticas. [CAS, 04, p.1]. A partir desse viés, deduz-se que a observação atenta das ações docentes geradoras de estímulo e aprendizagem significativa ─ tanto suas como dos colegas ─ é capaz de auxiliar o professor da EJA-Ensino Médio quanto à definição de práticas motivadoras em sala de aula. Além disso, uma pequena pesquisa pode ser empreendida pelo professor em classe ─ ou pelo coordenador de EJA ─ para conhecer as formas de ensinar que mais motivam seus alunos. De posse dessas informações, o educador dispõe da possibilidade de diversificar suas aulas, criando abordagens diferenciadas as quais favoreçam a motivação dos estudantes e a sua própria. 113 Alunos Professores textos e exercícios na lousa livro didático apostilas jornais/revistas filmes músicas transparências slides no datashow computadores discussão de temas contemporâneos convite aos alunos para exposição de suas idéias seminários experiências práticas Perfil 1 – Freqüência de Uso dos Recursos Didáticos da EJA-Ensino Médio, na Visão de Alunos e Professores Os dados do Perfil 1 mostram o resultado da opinião de alunos e professores quanto à freqüência de uso de variados recursos didáticos na EJA-Ensino Médio. O item textos e exercícios na lousa teve uma média de 1,70±0,23 na visão dos alunos e 1,54±0,29 na visão dos professores; livros didáticos, média de 3,31±0,35 (alunos) e 2,82±0,37 (professores); apostilas, média de 3,54±0,44 (alunos) e 3,46±0,44 (professores); jornais e revistas, 4,01±0,59 (alunos) e 3,27 ± 0,59 ( professores ); 114 filmes: 3,74±0,50 (alunos) e 3,27±0,59 (professores); músicas: 4,30±0,84 (alunos) e 4,11±0,78 (professores); transparências: 4,22±0,74 (alunos) e 4,48±1,07 (professores); slides no datashow: 4,74±1,14 (alunos) e 4,68±1,26 (professores); computadores: 4,39±1,00 (alunos) e 4,27±0,93 (professores); discussão de temas contemporâneos: 3,64±0,41 (alunos) e 2,09±0,30 (professores); convite aos alunos para exposição de suas idéias: 3,64±0,41 (alunos) e 2,12±0,17 (professores); seminários: 4,47±0,79 (alunos) e 3,39±0,54 (professores); experiências práticas: 4,18±0,68 (alunos) e 2,80±0,34 (professores). Quanto ao item outros recursos considerados eficientes, houve duas respostas válidas, a saber: teatro (opinião de 1 aluno) e projetos (opinião de 1 professor). Depreende-se dos resultados que textos e exercícios na lousa são recursos quase sempre empregados na EJA-Ensino Médio, na visão de alunos e de professores; quanto ao livro didático, há certa divergência de opiniões: os professores afirmaram empregá-lo às vezes e os alunos afirmaram que o livro didático quase nunca é empregado; quanto às apostilas, a opinião de alunos e professores coincide exatamente sobre o fato de que este é um recurso quase nunca utilizado na EJA; jornais/revistas são declarados por alunos como quase nunca/nunca empregados e por professores como quase nunca utilizados ─ visões um tanto convergentes; os filmes são classificados pelos professores e pelos alunos como quase nunca utilizados; músicas, transparências, slides no datashow e computadores são declarados por alunos e professores, igualmente, como recursos nunca empregados na EJA-Ensino Médio, sendo que música e computadores tendem no perfil à posição quase nunca, o que indica haver na EJA alguma utilização desses recursos. Quanto à discussão de temas contemporâneos e convite aos alunos para exposição de suas idéias, as opiniões divergem: os alunos consideram que esses são recursos quase nunca empregados, enquanto os mestres afirmam que são recursos empregados às vezes, tendendo ao quase sempre. A opinião sobre seminários também diverge um pouco: alunos afirmam ser este um recurso nunca empregado e professores afirmam que quase nunca é empregado, porém o perfil mostra uma tendência a às vezes empregado. Quanto às experiências práticas, nota-se divergência: os alunos consideram que esse recurso nunca é utilizado na EJA, enquanto os professores afirmam que o empregam às vezes, tendendo, porém, no perfil, ao quase nunca. De maneira geral, observa-se que os recursos didáticos listados são, em sua maioria, pouco explorados na EJA-Ensino Médio das escolas pesquisadas. Um dos 115 motivos relaciona-se à inexistência ou à indisponibilidade de alguns desses meios nos estabelecimentos de ensino pesquisados, razões referidas por diversos alunos e professores durante a atividade de campo, como se observa nos seguintes depoimentos espontâneos: “A gente não tem quase nada disso” ; “Era bom se aqui tivesse essas coisas”; “Nós temos isso?” (alunos) / “Vários desses recursos [os materiais] nós não temos na escola”; “Seria bom se tivéssemos mais recursos para a EJA”; “Às vezes os recursos não estão disponíveis para serem utilizados” (professores). O perfil 2, a seguir (p. 117), indica que professores e alunos da EJA consideram bastante eficientes a maioria dos recursos listados na pesquisa, entretanto não dispõem da maior parte deles. Seria importante, então, gerar/obter/direcionar mais recursos financeiros para a EJA-Ensino Médio, para que pudessem ser adquiridos os insumos materiais considerados eficientes pelos educadores e educandos da EJA, bem como investir em treinamento para que os professores possam aproveitá-los melhor em suas aulas. Há que se refazer aqui a ponte com Tavares (2001) que discorre sobre uma situação problemática para o professor em termos profissionais: ao desinteresse do aluno pela aprendizagem, conforme alegam inúmeros mestres, agregam-se a ausência de recursos materiais e o excessivo número de alunos por classe. Na EJA-Ensino Médio verifica-se a convergência de tais fatores. Torna-se determinante atentar então para Severino (1998), o qual nos alerta sobre o fato de que “os recursos, mesmo quando estão disponíveis, não são adequadamente explorados e utilizados como meios para alcançar os fins essenciais do processo”. É preciso, pois, conforme o autor, além de prover meios, articulá-los aos fins, utilizando os recursos para atingir os objetivos essenciais na EJA-Ensino Médio. Não se pode esquecer, também, de que alguns recursos independem da materialidade propriamente dita e assim podem ser amplamente empregados pelos educadores, sem custos. São exemplo: convite aos alunos para exposição de suas idéias e discussão de temas contemporâneos, recursos afins que conduzem a excelentes resultados se o docente for um bom mediador. As sugestões / providências elencadas contribuiriam, por fim, para aumentar a motivação de alunos e professores do segmento em estudo, uma vez verificados a percepção e o interesse de ambos os grupos com relação a recursos didáticos eficientes no processo ensino-aprendizagem. 116 Alunos Professores quadro negro e giz livros didáticos e apostilas projetores de imagens experiências práticas seminários computadores jornais / revistas / etc Perfil 2 – Recursos Mais Eficientes Para a Aprendizagem dos Alunos de EJA-EM Os dados do Perfil 2 mostram o resultado da opinião de alunos e professores da EJA-Ensino Médio com relação aos recursos considerados mais eficientes para a aprendizagem dos alunos. O item quadro negro e giz teve uma média de 3,36±0,83 na visão dos alunos e 3,28±0,77 na visão dos professores; livros didáticos e apostilas, média de 3,38±0,82 (alunos) e 3,29±0,83 (professores); projetores de imagens: 3,12±0,54 (alunos) e 3,41±0,82 (professores); experiências práticas: média de 3,41±0,84 ( alunos ) e 3,62±1,22 ( professores ) ; seminários: média de 2,99 ± 0,41 117 (alunos) e 2,98±0,61 (professores); computadores: média de 3,37±0,99 (alunos) e 3,12±0,73 (professores); jornais/revistas/etc média de 3,28±0,67 (alunos) e 3,30±0,79 (professores). Depreende-se dos resultados que a maioria dos recursos listados é considerada eficiente por alunos e professores da EJA-Ensino Médio, em maior ou menor grau, com destaque para a coincidência de opiniões sobre quadro negro e giz, livros didáticos e apostilas, projetores de imagens, jornais/revistas/etc e computadores, tidos como totalmente eficientes por ambos os grupos. Coincidiram também as opiniões sobre seminários, considerados razoavelmente eficientes por ambos os grupos. Quanto ao emprego de experiências práticas, os alunos consideram-nas razoavelmente eficientes, enquanto os professores consideram-nas totalmente eficientes. O uso de quaisquer desses recursos está, porém, como vimos, vinculado a sua existência/disponibilidade e à maneira como o professor os emprega, pois uma aula inesquecível pode ser dada utilizando como instrumentos de apoio apenas o quadro, giz, lápis e papel. O professor, por outro lado, pode ter à sua disposição instrumentos de apoio muito sofisticados e não conseguir promover aprendizagens significativas em seus alunos. (PAROLIN, 2007). Ressurge aqui o parecer de Severino (1998), sobre a necessidade de prover os meios físicos que servirão como apoio/suporte do ensino e, ao mesmo tempo, cuidar para que se alcancem os fins do processo via exploração adequada desses meios. Mais uma vez se constata que seria importante, além do provimento de recursos diversificados para os professores da Educação de Jovens e Adultos utilizarem em suas aulas, proporcionar-lhes treinamento adequado e contínuo para o emprego otimizado de cada tipo de recurso. As empresas fornecedoras dos insumos poderiam assumir, por via contratual, o compromisso de treinar os professores para o uso adequado/criativo dos recursos por elas fornecidos. Na EJA-Ensino Médio, em especial, tal providência seria bem-vinda, pois os alunos têm interesses bastante diversificados e o uso de múltiplos recursos pode contribuir para manter em alta a motivação discente. O próximo perfil trata do emprego de estratégias lúdicas na EJA-Ensino Médio: buscou-se verificar a freqüência com que são utilizadas pelos professores da Educação de Jovens e Adultos em nível médio. 118 Alunos Professores dinâmicas de grupo jogos/ brincadeiras contar histórias, causos, piadas audição, análise, composição de músicas dramatizações Perfil 3- Estratégias Lúdicas na EJA – Ensino Médio Os dados do Perfil 3 mostram o resultado da opinião de alunos e professores quanto a algumas estratégias lúdicas auxiliadoras do ensino. O item dinâmicas de grupo teve uma média de 4,71 ± 0,83 na visão dos alunos e 3,18 ± 0,44 na visão dos professores; jogos/ 119 brincadeiras: 4,25±0,88 (alunos) e 3,73±0,59 (professores); contar histórias, causos, piadas: 3,72±0,56 (alunos) e 2,89±0,39 (professores); audição, análise, composição de músicas: 4,26±0,92 (alunos) e 3,98±0,86 (professores); dramatizações: 4,17±0,83 (alunos) e 3,98±0,82 (professores). Depreende-se dos resultados que a freqüência de estratégias lúdicas na EJA é bastante baixa: entre às vezes e quase nunca está a maioria das respostas dadas. Considerando-se a diversidade de alunos presentes nesse tipo de curso e os diferentes graus de assimilação do conhecimento daí decorrentes, seria interessante explorar mais os aspectos lúdicos na EJA como elementos motivacionais. O emprego de estratégias lúdicas poderia reforçar a interação homem-meio de que nos fala Piaget [1989, ap. FON e CRU, 97], e por meio desse reforço gerar significação do conhecimento, ou aprendizagem significativa (Fita, 2006a) entre os discentes. Cabrera e Salvi (2005) afirmam que a ludicidade pode ser encarada como um processo que possibilita a descoberta e a aprendizagem ─ é, assim, perfeitamente possível e justificável seu uso no Ensino Médio. “O lúdico contribui para uma vivência integrada entre os colegas e o professor, motivando-os a aprender” (p.2-3). A ludicidade constitui-se importante fator motivacional [CAB e SAL, 05], pois “as atividades prazerosas atuam no organismo causando a sensação de liberdade e espontaneidade” [Negrine, 1998, p. 3, ap. CAB e SAL, 05, p. 2]. Isso conduz à motivação intrínseca, relacionada com a tarefa [FIT, 06b]: “é a atração da atividade em si mesma (...), é a procura de uma atividade pelo interesse que ela propicia de per si; corresponde ao interesse, à curiosidade, isto é, ao sentido corrente de motivação” [LIE e FEN, 00, pp. 46 e 139]. A atividade lúdica em sala de aula permite que o professor envolva os alunos com as tarefas, sem avaliação ou competição social, no intuito de valorizar o esforço dos educandos. Dessa maneira, torna-se possível construir com os alunos a meta de aprendizagem, que corresponde a uma motivação intrínseca ou a uma orientação para a tarefa. [LIE e FEN, 00]. Entre os elementos lúdicos que podem ser explorados no processo ensinoaprendizagem estão: jogos pedagógicos, brincadeiras, dinâmicas de grupo, recorte e colagem, dramatizações, exercícios físicos, cantigas de roda, atividades rítmicas, atividades nos computadores. Tais práticas tornam alunos e professores pessoas mais interativas e inovadoras.[CAB e SAL, 05]. O Conselho de Defesa do Direito de Brincar [ 2004, p. 2, ap. CAB e SAL, 05] 120 menciona inclusive a finalidade das atividades lúdicas no Ensino Médio e na EJA em especial. No Ensino Médio, os objetivos são desenvolver a participação na sociedade e em sala de aula, a solidariedade, a cooperação, o respeito do aluno por si mesmo e pelo outro, a reflexão, a análise crítica, a motivação e o prazer de aprender a aprender. Na Educação de Jovens e Adultos, as atividades lúdicas “visam a uma aprendizagem adequada à realidade do aluno e da sociedade em que está inserido” [CAB e SAL, 05, p. 7-8]. Na EJA-Ensino Médio, somando-se os dois objetivos recém-mencionados, podese chegar a resultados pedagógicos muito interessantes, sempre lembrando que inexiste aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer. [Rizzo, 1997, p. 21, ap. CAB e SAL, 05]. Tabela 18 - Experiências Pedagógicas na EJA – Ensino Médio EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS feira/semana cultural projeto de educação ambiental murais campeonato de futebol e/ou outros esportes festas típicas concurso de redação (poesias,contos,crônicas,dissertações) feira de ciências elaboração de jornais gincanas culturais e desportivas projetos variados grupos de teatro apoio pedagógico em horários diferenciados para alunos com dificuldades oficina de reciclagem do lixo pesquisas de campo para observação de recursos naturais e culturais unidades didáticas voltadas para o trabalho em comércio, indústria,serviços outros aulas/oficinas de artesanato produção de histórias em quadrinhos aulas / campeonato de xadrez ensino de música (instrumentos) grupos corais TOTAL F % 33 18 18 18 17 13 12 12 10 8 8 16,18 8,82 8,82 8,82 8,33 6,37 5,88 5,88 4,9 3,92 3,92 7 6 5 3,43 2,94 2,45 5 5 4 3 2 0 0 204 2,45 2,45 1,96 1,47 0,98 0 0 99.97 A Tabela 18 mostra a freqüência de diversas experiências pedagógicas na EJAEnsino Médio, na opinião dos professores. Feira/semana cultural foi resposta assinalada por 16,18% dos docentes, seguido de projeto de educação ambiental: 8,82%; 121 murais: 8,82%; campeonato de futebol e outros esportes: 8,82; festas típicas: 8,33%; concurso de redação: 6,37%; feira de ciências: 5,88; elaboração de jornais: 5,88; gincanas culturais e desportivas: 4,9%; projetos variados: 3,92%; grupos de teatro: 3,92%; apoio pedagógico em horários diferenciados para alunos com dificuldades: 3,43%; oficina de reciclagem do lixo: 2,94%; pesquisas de campo para observação de recursos naturais e culturais: 2,45%; unidades didáticas voltadas para o trabalho em comércio, indústria, serviços: 2,45%; outras atividades: 2,45%; aulas/oficinas de artesanato 1,96%; produção de histórias em quadrinhos: 1,47%; aulas/campeonato de xadrez: 0,98%; ensino de música (instrumentos) e grupos corais: não foram assinalados. É importante lembrar que o item Outros? Quais? foi criado para contemplar respostas não presentes na questão. Nesse item, professores incluíram outras experiências pedagógicas, e alguns deles ofereceram detalhes acerca de itens assinalados na questão. Quanto a festas típicas, as mais lembradas foram: Festa Junina (16 respostas); Festa do Folclore (9 respostas); Festa das Nações (2 resp.); Dia do Saci (2); Sarau (2); Festa da Primavera (2); Festa da Criança (1); Festa das Mães (1); Halloween (1); Festa do Farol (1); Consciência Negra (1); Datas Comemorativas em geral (1). Quanto a outras atividades pedagógicas, foram lembradas pelos professores: Viagens pedagógicas (2 respostas); Palestras (1 resp.); Seminários (1); Projeto “O artista é você” (1); Projeto Japão (1); Visitas Técnicas (1); Atendimento Psicológico para Alunos com Problemas ─ trabalho voluntário realizado por uma professora também formada em Psicologia (1). O tratamento estatístico dos dados realizou-se por meio do Teste do Quiquadrado. Os resultados revelam diferenças estatisticamente significantes: χ2o= 67.15 e χ2c= 25 (ngl=15). Observou-se por meio das respostas a essa questão que o índice de atividades diferenciadas é relativamente baixo na EJA-Ensino Médio. Tal fato pode ter relação com o curto espaço de tempo em que o curso é ministrado, como também pode ligar-se ao pouco envolvimento dos professores com a escola, à falta de apoio/incentivo da direção/coordenação, ou ainda à ausência de um projeto político-pedagógico [GAN, 06] em execução que contemple esse aspecto do ensino. Chamou-nos a atenção durante a atividade de campo a dificuldade dos professores em apontar, nos estabelecimentos em que lecionavam, experiências pedagógicas que envolvessem de fato a EJA. Percebemos que alguns professores 122 assinalaram experiências desenvolvidas na escola, mas não necessariamente envolvendo os alunos da EJA-Ensino Médio. Perguntados informalmente sobre isso, disseram que “a EJA também pode participar”. Ou seja, a participação pode ocorrer, mas não está planejada. Assim, parece não haver na maioria das escolas uma face do planejamento escolar que se ocupe de modo especial da EJA-Ensino Médio, o que seria importante, dadas a especificidade e a pluralidade de seus sujeitos [Col, 1996, ap. AND, 03; MUR, 01]. Tabela 19 - Liberdade do Professor para Propor Atividades Diferenciadas totalmente livre razoavelmente livre pouco livre TOTAL F % 43 10 3 76,79 17,86 5,36 56 100,01 Os dados da Tabela 19 referem-se ao grau de liberdade do professor de EJAEnsino Médio para propor a seu coordenador atividades diferenciadas nesse segmento. Nota-se que 76,79% dos professores afirmam sentir-se totalmente livres para propor atividades diferenciadas; 17,86% sentem-se razoavelmente livres e 5,36% sentem-se pouco livres. A análise estatística dos dados deu-se pelo Teste do Qui-quadrado, revelando diferenças estatísticas significantes: χ2o= 20,55 e χ2c= 3,84 (ngl=1). O alto índice de professores que se sentem livres para propor atividades diferenciadas na EJA parece indicar uma boa relação entre os docentes e seus coordenadores, o que pode favorecer bastante a renovação dos métodos de ensino, por meio da testagem de novas possibilidades. Outra direção do olhar conduz-nos à reflexão sobre a subjetividade do professor. Oferecer-lhe liberdade para opinar e valorizar suas sugestões contribui para aumentar sua auto-estima [VOL, 02; Maslow, ap. DOM, 07] e fortalecer o patamar afetivo-social [Maslow, ap. DOM, 07] em que se encontra, de modo que ele experimente a motivação inclusa nas categorias Cognitiva e Social [GOD, 01]. Pode-se refletir também sobre em que medida é possível, por meio dessa integração, construir um projeto de ensino apropriado aos diversos segmentos a quem a EJA se destina, conforme propõe Oliveira (2004). Cabe, igualmente, lembrar a idéia de 123 um projeto marcado pela intencionalidade [SEV, 01] ou ainda a eficácia de um projeto político-pedagógico [GAN, 06] que envolvesse a EJA-Ensino Médio, considerando suas peculiaridades. 100 94 90 80 70 60 % 50 34,5 40 29,24 29,24 30 20 6,43 10 0,58 0 totalmente livre razoavelmente livre pouco livre nada livre não responderam Gráfico 13 - Liberdade do Aluno para Propor Atividades Diferenciadas Os dados do Gráfico 13 mostram o grau de liberdade dos alunos para a proposição de atividades diferenciadas no processo ensino-aprendizagem da EJAEnsino Médio. Dentre eles, 34,5% sentem-se totalmente livres para propor novas atividades aos seus professores: 29,24% sentem-se razoavelmente livres para a proposição de novas atividades educacionais; 29,24% sentem-se pouco livres; 6,43% sentem-se nada livres e 0,58% não respondeu à questão. A análise estatística dos dados foi realizada por meio do Teste do Qui-quadrado, o qual revelou diferenças significantes em termos estatísticos: χ2o= 32,40 e χ2c= 7,82 (ngl=3). Infere-se das respostas que seria viável aproveitar sugestões dos alunos da EJAEnsino Médio para o aprimoramento do curso, pois grande parcela (63,74%, somandose totalmente livre com razoavelmente livre) mostra-se à vontade para propor atividades aos professores e revela senso crítico aguçado, como se pode depreender de alguns depoimentos espontâneos : “Dá pra melhorar!”; “Tem professor que só manda a gente ficar copiando texto do livro”; “Tem professor que precisa mudar...”; “Tem que fazer como o professor Fulano de Tal...a aula dele a gente gosta”. 124 Lieury e Fenouillet (2000) sugerem que para combater a desmotivação dos alunos seria importante valorizar seu trabalho. Estenderemos aqui a observação dos autores: seria importante valorizar suas opiniões quanto ao curso, pois se sentiriam mais estimulados a prosseguir com interesse, seriam mais participativos na construção coletiva de saberes por meio do diálogo, conforme Freire (1969) e Sousa (2004/05). A participação real e ativa dos alunos consolidaria a idéia de projeto políticopedagógico [GAN, 06; SEV, 01; OLI, 04] comentada na análise imediatamente anterior. Promover-se-ia, assim, quem sabe, a participação consciente dos cidadãos da EJA . Pela via da aceitação de opiniões e propostas dos alunos seria possível aumentar seu grau de motivação ao longo do processo educativo, tornando-os sujeitos da ação. O educando deixaria de ser “subordinado, submetido e objeto em relação ao ato educacional” (DAUSTER, 2001), para se tornar “sujeito do conhecimento” e não um mero recebedor do conhecimento de outrem. [FRE, 69, p.84]. Sousa (2004/2005) fala da cada vez maior participação consciente dos cidadãos, em razão dos processos de democratização dos sistemas políticos. Segundo Freire (1969), quanto mais os alunos participam, quanto mais se voltam para suas experiências atuais e pregressas “em e com o mundo (...) mais se dão conta de que este não é para os homens um beco sem saída, uma condição intransponível que os esmaga” (p. 84). Ou seja, a participação contribui para a libertação do indivíduo, para o alargamento de seus horizontes e, por conseguinte, aumenta sua motivação. Tabela 20 - Possibilidade do Professor Coordenar Projetos na EJA totalmente à vontade razoavelmente à vontade pouco à vontade constrangido TOTAL F % 36 16 3 1 64,29 28,57 5,36 1,79 56 100,01 Os dados da Tabela 20 mostram o quão à vontade se sente ou não o professor de EJA-Ensino Médio para trabalhar com projetos envolvendo alunos do segmento. Dentre os docentes, 64,29% declararam-se totalmente à vontade para coordenar projetos na EJA de sua escola; 28,57% afirmaram-se razoavelmente à vontade; 5,36% declararamse pouco à vontade e 1,79% declararam-se constrangidos. 125 O Teste do Qui-quadrado, com os resultados χ2o= 7,69 e χ2c= 3,84 (ngl=1), revela a presença de diferenças significantes do ponto de vista estatístico. A proporção de professores que se sentem totalmente ou razoavelmente à vontade para coordenar projetos na EJA permite inferir que o trabalho com projetos pode ser fator motivacional, tanto para alunos quanto para professores. Hernández e Ventura (1998) falam-nos da importância de se organizar o currículo por atividades, temas ou projetos, porque estes permitem abertura e flexibilidade no planejamento e na prática daquilo que foi planejado. Também Gadotti (1997) apóia tal opção, embasado em Freire (temas geradores) [Freire, s/d, ap.GAD, 97]. Esse tipo de organização curricular reduz a compartimentação do ensino em disciplinas estanques e assim impede a fragmentação do conhecimento [HER e VEN, 98]. Os depoimentos espontâneos colhidos durante a resposta a essa questão mostraram, entretanto, uma situação ambígua na EJA com relação a projetos. Entre os docentes, colhemos as seguintes opiniões: “A EJA participa bastante dos projetos da escola”; “Eles gostam de projetos.”; “Os alunos de EJA não gostam de projetos. Eles não entendem que assim também aprendem.”; “Se só tem projeto, projeto, projeto, não dá tempo de desenvolver as matérias, porque o tempo já é curto na EJA.” (professores) Entre os alunos, também colhemos opiniões antagônicas: “A gente vem aqui na escola e não tem aula...”; “É bom ter coisas diferentes.”; “A gente quase não tem aula...Vem aqui e só perde tempo...”. Pode-se pensar na inserção dos projetos no currículo da EJA-Ensino Médio desde que estejam em consonância com a realidade de cada escola, como afirma Almeida (2007) em suas observações acerca de currículo da EJA. Vale frisar que a consideração do gosto de alunos e professores da EJA-Ensino Médio por este ou aquele tema contribuirá para que os projetos se tornem motivantes para a maior parcela de seus sujeitos. Seria interessante realizar uma pesquisa com alunos e professores para conhecer melhor sua opinião sobre projetos e agregar a isso o conhecimento dos temas que mais agradam aos estudantes e aos educadores (Tabela 15). A partir dos resultados, tornar-seia possível analisar com mais clareza a relação Projetos-Motivação docente e discente e sua viabilidade na EJA-Ensino Médio. O perfil a seguir transfere o foco de análise para a figura do professor da EJAEnsino Médio: 126 Alunos Professores menosprezar o aluno ser muito exigente ser esnobe, orgulhoso não dominar a matéria não ouvir o aluno não ser justo ao avaliar o aluno(nota) ser repetitivo ser pouco acessível demonstrar desinteresse pela aprendizagem do aluno ensinar de má-vontade Perfil 4 – Atitudes do Professor que Desmotivam o aluno da EJA-Ensino Médio O perfil 4 mostra a opinião de alunos e professores da EJA-Ensino Médio quanto às atitudes do professor que desmotivam o aluno nesse segmento do ensino. Média e Desvio-padrão foram os cálculos pelos quais se optou para o tratamento estatístico dos dados. Menosprezar o aluno: média de 3,29±0,75 (alunos) e 3,86±1,47 (professores); ser muito exigente: 2,66±0,15 (alunos) e 2,54±0,40 (professores); ser esnobe, orgulhoso: 3,27±0,72 (alunos) e 3,64±1,18 (professores); não dominar a matéria: 3,39±0,85 (alunos) 127 e 3,75±1,34 (professores); não ouvir o aluno: 3,37±0,85 (alunos) e 3,71±1,28 (professores); não ser justo ao avaliar o aluno: 3,53±0,90 (alunos) e 3,68±1,28 (professores); ser repetitivo: 3,10±0,43 (alunos) e 3,29±0,77 (professores); ser pouco acessível: 3,25±0,49 (alunos) e 3,46±0,98 (professores); demonstrar desinteresse pela aprendizagem do aluno: 3,51±0,99 (alunos) e 3,66±1,25 (professores); ensinar de má vontade: 3,56±1,06 (alunos) e 3,84±1,40 (professores). É bom lembrar que o item outros foi criado para contemplar outras características/atitudes do professor que gerem desmotivação nos alunos. Nesse item, os alunos responderam: faltar às aulas – 2 respostas ; dar trabalhos para compensar suas ausências - 2 respostas; ficar ditando – 1; não tirar dúvidas – 1; não ouvir o ponto de vista do aluno – 1 (a questão contempla esse aspecto); não ser paciente com quem tem dificuldade de aprender – 1. Quanto aos professores, apenas um deles respondeu: aplicar avaliações pontuais desmotiva muito. As características negativas (desmotivadoras) listadas nessa questão são compreendidas por alunos e professores de maneira bastante semelhante. Praticamente todas as opiniões convergem para a faixa desmotiva muito, como imaginávamos, com exceção da característica ser muito exigente, sobre a qual docentes e discentes concordam que desmotiva razoavelmente. Cabe lembrar aqui que o comportamento do professor em classe é um elemento essencial no processo de motivação dos estudantes como também o é no processo de desmotivação. Um professor que prioriza atitudes negativas [LIE e FEN, 00, p. 24-25] ou age de maneira maquínica [MAC, 05] inibe a troca de experiências, impede a construção de um ambiente propício ao diálogo, condição fundamental para o trabalho educativo, sobretudo com jovens e adultos [FRE, 07 ; PIN, 07] e além disso promove a coisificação [MAS, 03]. Dessa forma, este mesmo mestre contribui para a despersonalização do ensino [JES, 01, p. 35], elemento funesto em qualquer nível da Educação, cujo combate constitui-se deveras complexo, dadas as condições atuais do nosso ensino. Assim, ao professor da EJA compete observar-se com certa constância a fim de identificar em si comportamentos redutores da motivação discente, bem como redutores da possibilidade de diálogo e troca de experiências. Estes são bem-vindos e assaz necessários na EJA-Ensino Médio para a promoção de uma concepção crítica de mundo, tal como a concepção crítica proposta por Pinto (2007) em seus estudos sobre educação de adultos em nível fundamental. 128 Nessa esteira da criticidade, chamam também a atenção algumas observações dos alunos contidas no item outros da presente questão. As respostas sinalizam que os alunos estão muito atentos à ação do professor em sala e desgostam de algumas atitudes dos mestres que entram em franca contradição com a sua condição de educador, como: não tirar dúvidas, não ser paciente com quem tem dificuldade de aprender, faltar muito às aulas, dar trabalhos para compensar suas ausências, entre outros. É bom ressaltar também, no mesmo item, a observação de um dos professores acerca do processo de avaliação na EJA: segundo o mestre, avaliações pontuais desmotivam muito os alunos. Tal aspecto merece um estudo mais aprofundado, já que a questão da avaliação constitui-se um ponto fulcral não só na EJA mas na totalidade do ensino. Acreditamos que um caminho interessante de pesquisa caracteriza-se, dada a inexistência, até o momento, de estudos específicos sobre avaliação na EJA-Ensino Médio. Um outro aspecto motivacional digno de nota é a questão da comunicação nãoverbal estabelecida pelo professor com seus alunos. De acordo com Antunes (2007) “em uma explanação oral, discurso ou em uma aula expositiva, (...) apenas 35% do que é captado pelo ouvinte advém das palavras pronunciadas” (p.43). Um professor com voz cansada e monótona, detentor de uma “postura prisioneira de uma rotina que jamais se quebra”, com o “corpo emudecido”, certamente se deparará com o empobrecimento de sua força argumentativa. [ANT, 07, p. 43]. Essa perda de força argumentativa pode ser interpretada pelo aluno como má-vontade, incapacidade ou falta de talento/habilidade para a docência. Daí decorre o movimento de resposta do estudante: sua motivação sofre gradual redução à medida que se perpetua tal circunstância. Novamente aqui se observa a necessidade de auto-avaliação constante do professor no que tange a seu poder de comunicação, que, se não empregado com plenitude, pode resultar na não-mediação do conhecimento. Diante do quadro, urge pensar também que, conforme Freitas, Costa e Faro (2003), “se o professor não tiver um referencial teórico consistente em que se apoiar (...) ele terá dificuldades em articular as ações na sala de aula. O aluno, percebendo isso, (...) não terá motivos para se envolver nas atividades propostas pelo professor” (p. 66). Retorna a idéia da imprescindível capacitação docente, agora vinculada com mais propriedade à motivação discente. 129 Alunos Professores 0 1 2 3 4 5 6 estimular/incentivar o aluno ser inovador nas aulas dominar a matéria relacionar a teoria com a prática fazer o aluno pensar ter bom-humor ter conhecimento ser acessível ser amigo ter didática (saber explicar) ser objetivo ter titulação (pósgraduação,mestrado,doutorado ser rigoroso ser bonzinho Perfil 5 – Atitudes/Características do Professor que Motivam o Aluno Os dados do Perfil 5 mostram o quanto as características/atitudes dos professores listadas na questão motivam o aluno da EJA-Ensino Médio, na ótica dos alunos e dos professores. Média e Desvio-padrão foram os cálculos pelos quais se optou para o tratamento estatístico dos dados. O item estimular/incentivar o aluno teve uma média de 4,33±1,11 na visão dos alunos e 4,79±1,71 na visão dos professores; ser inovador nas aulas: 4,19±0,94 (alunos) e 130 4,66±1,46 (professores); dominar a matéria: 4,43±1,19 (alunos) e 4,82±1,72 (professores); relacionar a teoria com a prática: 4,34±1,07 (alunos) e 4,71±1,64 (professores); fazer o aluno pensar; 4,39±1,21 (alunos) e 4,48±1,24 (professores); ter bom-humor: 4,54±1,40 (alunos) e 4,84±1,76 (professores); ter conhecimento: 4,69±1,54 (alunos) e 4,79±1,68 (professores); ser acessível: 4,46±1,18 (alunos) e 4,71±1,64 (professores); ser amigo: 4,62±1,38 (alunos) e 4,71±1,46 (professores); ter didática: 4,58±1,46 (alunos) e 4,96±1,87 (professores); ser objetivo: 4,63±1,39 (alunos) e 4,66±1,56 (professores); ter titulação: 4,19±0,91 (alunos) e 3,21±0,48 (professores); ser rigoroso: 3,75±0,76 (alunos) e 3,55±1,02 (professores); ser bonzinho: 3,63±0,60 (alunos) e 2,79±0,55 (professores). É importante lembrar que o item outras foi criado para contemplar outras características/atitudes dos professores consideradas motivadoras. Apenas os alunos se manifestaram, acrescentando as seguintes características/atitudes: ensinar com paciência (2 respostas); explicar de forma simples e clara (1 resp.); não faltar às aulas (1); expressar-se bem (1); não ditar com freqüência (1); não reclamar de tudo (1); dar atenção ao aluno (1). Conforme esperado, as características/atitudes positivas do professor são encaradas pelos alunos e pelos próprios docentes como um elemento motivacional de grande importância, confirmando Fita (2006c) quanto ao fato de que a própria figura do professor pode ser uma fonte de motivação importantíssima. Porém, “se um professor não está motivado”, afirma Fita (2006c), “é muito difícil que seja capaz de comunicar a seus alunos entusiasmo, interesse pelas tarefas escolares” (p. 88). De acordo com o autor, um professor desmotivado será definitivamente pouco capaz de motivar seus alunos. Importa, a título de fechamento do bloco, retomar Antunes (2007), quando discorre sobre a força argumentativa do professor centrada na empatia que ele estabelece com seus alunos por meio de um processo integral de comunicação, que inclui o afeto e as emoções demonstradas à classe. A apresentação gestual, conforme o autor, externaliza, juntamente com as palavras, o entusiasmo e a alegria do professor ao ensinar. O Quadro 5 traz apontamentos /observações/ sugestões de alunos da EJA-Ensino Médio quanto ao curso, com a quantidade de vezes em que aparecem ─ logo abaixo dos itens. O objetivo da pergunta foi deixá-los à vontade para escrever sobre aspectos 131 positivos e/ou negativos do curso, bem como dar opiniões acerca do que se pode fazer para aprimorá-lo, em qualquer de seus aspectos. INDISCIPLINA : RESOLVER FALTA DE MOTIVAÇÃO/INTERESSE DOS PROFESSORES: RESOLVER NECESSIDADE DE SEPARAR ALUNOS POR FAIXA DE IDADE 10 8 8 OFERECER MERENDA ACRESCENTAR CURSOS PROFISSIONALIZANTES DAR AULAS, PALESTRAS, CURSOS SOBRE POLÍTICA, CIDADANIA, AMOR AO PRÓXIMO, SOCIOLOGIA,COMPORTAMENTO 5 5 5 DAR AULAS/ ATIVIDADES DIFERENCIADAS P/ MOTIVAR OS ALUNOS DIÁLOGO/INTERAÇÃO/ RELAÇÕES INTERPESSOAIS/ DINÂMICAS ENVOLVENDO PROFESSORES, ALUNOS E DIREÇÃO CURSOS DE ATUALIZAÇÃO PARA OS PROFESSORES 4 4 4 USAR LIVROS, APOSTILAS, XEROX COMPUTADORES NAS SALAS REDUZIR FALTAS DE PROFESSORES 4 4 3 MUDANÇA DE MÉTODO DE ALGUNS PROFESSORES NADA, JÁ ESTÁ BOM FLEXIBILIZAR HORÁRIOS 3 3 2 AULAS DE REFORÇO INSTALAÇÕES FÍSICAS MELHORES LEITURA E ESCRITA (mais atividades) 2 2 2 VALORIZAR/ REMUNERAR MELHOR O PROFESSOR DAR MAIS MATÉRIA, MAIS CONTEÚDO INVESTIR MAIS NA EJA 2 2 2 TRATAMENTO MAIS INDIVIDUALIZADO ESTUDAR FORMA DE TORNAR AULAS MAIS MOTIVANTES PROFESSORES SE COMUNICAREM NA LÍNGUA DO ALUNO 2 1 1 INCLUIR ESPORTES, DANÇA NÃO SEPARAR FAIXAS ETÁRIAS FISCALIZAR PROFESSORES 1 1 1 REDUZIR FALTAS DOS ALUNOS AUMENTAR TEMPO DO CURSO PLANEJAR MELHOR O CURRÍCULO 1 1 1 COMPARTILHAR SABERES COM COLEGAS REDUZIR CONFLITOS DE QUALQUER TIPO TRATAR OS MAIS VELHOS COM RESPEITO, NÃO COMO BURROS 1 1 1 AULAS DE MECÂNICA TER EJA-ENSINO MÉDIO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS MAIS MATERIAL DIDÁTICO 1 1 1 IMPEDIR PROPAGANDAS DUVIDOSAS EM SALA ORGANIZAR HORÁRIOS DE AULA JUNTAR AS SALAS COM POUCOS ALUNOS 1 1 1 TRANSPARÊNCIA QUANTO AO PONTO DE VISTA DIDÁTICO FAZER COM QUE OS ALUNOS SE INTERESSEM MAIS NADA A DECLARAR, POIS NÃO SABE DAR OPINIÃO 1 1 1 Quadro 5 – Sugestões/observações de Alunos da EJA quanto ao curso O quadro 6 traz as mesmas informações, porém agora na ótica dos professores: 132 REPENSAR O CURRÍCULO DE EJA PESQUISAR INTERESSES DOS ALUNOS/ DIVERSIDADE CULTURAL/ DEMANDAS COMUNITÁRIAS REPENSAR/ SEPARAR IDADES 6 4 3 CURSOS PROFISSIONALIZANTES PARA ALUNOS MOTIVAR ALUNOS PARA REDUZIR EVASÃO PROFESSORES CONHECEREM O CURSO NA ÍNTEGRA 2 1 1 REDUZIR O Nº DE ALUNOS POR SALA TREINAMENTO/ CAPACITAÇÃO PARA OS PROFESSORES ESPECIALISTAS NA ÁREA DE MOTIVAÇÃO 1 1 1 REFORÇAR PORTUGUÊS E MATEMÁTICA MAIS ESCOLAS PÚBLICAS COM EJA REDUZIR CUSTOS DOS ALUNOS (TRANSPORTE, OUTROS) 1 1 1 ÀS VEZES O ENSINO SE DÁ DE FORMA MAIS FUNDAMENTADA QUE NO REGULAR DISCIPLINA ÓTIMA PROFESSOR DO ENSINO MÉDIO E UNIVERSITÁRIO NÃO NECESSARIAMENTE TEM QUE SER PROFESSOR DE EJA 1 1 1 Quadro 6 - Sugestões/observações de Professores da EJA quanto ao curso Pode-se observar que as sugestões dos alunos e professores conectam-se a variadas frentes que, de algum modo, foram discutidas ao longo deste trabalho em razão de sua conexão com a motivação docente e discente. 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES A análise de aspectos motivacionais relativos ao processo ensino-aprendizagem da EJA-Ensino Médio possibilitou-nos conhecer melhor os motivos que reconduziram os alunos à escola, bem como o que contribui para a permanência discente no curso e para a manutenção da motivação de alunos e professores do segmento. Também foi possível avaliar fatores os quais se configuram como redutores da motivação ou até mesmo como promotores da desmotivação de ambos os grupos. Entre os elementos que fortalecem a motivação discente está a percepção de facilidade no acompanhamento do curso, aspecto ligado à auto-estima, ao domínio do conhecimento e à experiência de competência do aluno. A percepção do desempenho dos colegas, avaliada na pesquisa, conecta-se ao sociointeracionismo proposto por Vygotsky e se constitui componente motivacional na medida em que os alunos observam a presença e o andamento dos estudos dos colegas e por meio desses parâmetros regulam sua conduta. Pode tornar-se uma variável negativa 133 se o aluno verificar excesso de faltas ou evasão dos colegas, pois isso pode influenciá-lo no sentido de desistir do curso. Por outro lado, os estudantes que faltam pouco em tese têm um bom grau de motivação para aprender, o qual, por seu turno, transforma-se em estímulo coletivo na EJA-Ensino Médio. O estímulo coletivo favorece o ajustamento individual de cada educando, adaptação que se completa com a satisfação de suas expectativas em relação ao curso e, de maneira mais abrangente, em relação ao seu futuro, à possibilidade de construção de seu projeto de vida. A convivência com estudantes de diversas faixas etárias reforça a motivação de alguns alunos, mas é redutor da motivação para boa parte deles, como veremos adiante. Atividades como expor seus pontos de vista, trocar opiniões e discutir temas contemporâneos motivam muito os alunos da EJA-Ensino Médio, entretanto são expedientes empregados com baixa freqüência. Os professores confirmam o uso restrito desse recurso educacional: afirmaram empregá-lo ‘às vezes’, conforme evidenciou a pesquisa. Assim, observamos que o compartilhamento de saberes, sugerido como ideal por diversos autores, sofre uma redução no dia-a-dia da EJA-Ensino Médio. Verificamos que um elemento altamente motivador dos alunos reside na possibilidade de a escolarização contribuir para sua capacitação profissional ou para a melhoria de seu desempenho no mundo do trabalho. ‘Adquirir habilidades para o mercado de trabalho’ aparece como motivo número um, determinante máximo da volta à escola, conforme comprovado na Tabela 1. Acertada é, pois, a idéia de investir na EJA-Ensino Médio profissionalizante, como vêm fazendo autoridades de distintas esferas públicas. Notamos também que o aluno da EJA-Ensino Médio admira o professor que inova em seu jeito de ensinar, buscando métodos e materiais diferenciados para aplicar no cotidiano escolar. A atitude de buscar métodos, materiais diversificados e promover novas abordagens configura-se como fator motivacional de alta relevância na visão dos alunos. A pesquisa atesta que os alunos apreciam computadores, aparatos tecnológicos em geral, apontando-os como altamente eficientes para sua aprendizagem. Recursos como quadro negro e giz, livros didáticos, apostilas, projetores de imagens, jornais, revistas, outros periódicos também foram listados pelos estudantes como recursos totalmente eficientes para sua aprendizagem; portanto, contribuem de forma positiva para a sua motivação. 134 A análise dos dados indicou-nos que a motivação dos alunos tende a aumentar diante de determinados temas, como leis, cidadania, saúde, ações concretas para redução dos desequilíbrios ambientais, psicologia e filosofia. Seria importante ampliar o acesso a tais conteúdos, bem como sua discussão no ambiente da EJA-Ensino Médio, empregando-os como elementos eficazes de motivação discente. Os alunos demonstraram também interesse especial por comunicação verbal e escrita nas empresas, um derivativo do interesse vinculado à aquisição de habilidades para o mercado de trabalho. A habilidade de comunicar-se bem apareceu inclusive na lista de características que os alunos consideram motivantes em um professor. A partir dessas constatações, sugerimos a criação de um espaço curricular na EJA-Ensino Médio para o ensino do Português Instrumental, que nos parece mais motivante do que o ensino tradicional da língua, pois vai ao encontro das necessidades imediatas e futuras dos educandos. Atividades lúdicas, constatamos, igualmente se configuram como fortes promotoras da motivação discente, entretanto verificamos que elas são pouquíssimo empregadas nos ambientes de ensino pesquisados. Os alunos afirmaram que a maioria das estratégias lúdicas listadas nunca é empregada na EJA, enquanto os professores disseram que isso às vezes ocorre, porém tendendo ao quase nunca. Seria produtivo estimular entre os professores da EJA-Ensino Médio o maior emprego de estratégias lúdicas, pois elas são capazes de aumentar o interesse, a motivação dos alunos e desse modo promover aprendizagens significativas. Outras possibilidades de os professores contribuírem para aumentar a motivação dos educandos estão contidas em sua própria postura e ação docente. Nossa pesquisa demonstra que, além de o mestre ser inovador nas aulas, as seguintes características/atitudes docentes são consideradas pelos alunos altamente promotoras da motivação: estimular, incentivar o aluno; dominar a matéria; relacionar a teoria com a prática; ter bom humor; ter conhecimento (amplo, não só da sua disciplina); ser acessível; ser amigo; ter didática (saber explicar); ser objetivo; fazer o aluno pensar. Os estudantes também apreciam o professor que sabe controlar a classe, mantendo a disciplina, e aquele que os escuta, revelando interesse por seu mundo ou ao menos por sua vida escolar. Podemos, então, considerar esses comportamentos como promotores da motivação dos educandos da EJA-Ensino Médio. Tão importante quanto conhecer o que motiva o aluno da EJA-Ensino Médio é verificar o que o desmotiva. Baixa freqüência e evasão aparecem no topo dos problemas 135 da EJA na opinião dos alunos, bem como falta de infra-estrutura em sala; falta de merenda; heterogeneidade etária; indisciplina e ausência de conteúdos profissionalizantes (nas escolas estaduais). Tais entraves têm, a nosso ver, relação direta com a redução do ânimo discente, assim como as demais dificuldades listadas no Quadro 3 (p.77). Além disso, problemas com o horário de trabalho, cansaço, dificuldade de transporte, problemas envolvendo familiares e aulas monótonas são mencionados pelos estudantes como motivos principais que os levam a faltar às aulas. Podem, portanto, ser considerados fatores redutores da motivação para estudar. Há mais elementos redutores da motivação discente, de acordo com o que observamos: a falta de diálogo com professores e com a direção; a desvalorização da subjetividade dos alunos; a falta de acolhimento relacionado à materialidade do espaço escolar e a condição docente. Os estudantes listaram como um problema significativo na EJA-Ensino Médio a dupla/tripla jornada dos professores, o que revela sua percepção de que o professor cansado pode fazer muito menos por eles. Além da percepção do cansaço dos professores, os alunos consideram altamente desmotivantes as seguintes atitudes/características docentes: menosprezar o aluno; ser esnobe, orgulhoso; não dominar a matéria; não ouvir o aluno; não ser justo ao avaliar o aluno; ser pouco acessível; demonstrar desinteresse pela aprendizagem do aluno; ensinar de má-vontade; não tirar dúvidas; não ser paciente com quem tem dificuldade de aprender; faltar muito; dar trabalhos para compensar suas faltas. A ausência ou o não uso de recursos didáticos múltiplos, a ausência de ludicidade e a mesmice completam o quadro dos elementos promotores de desmotivação dos alunos da EJA-Ensino Médio. Quanto aos professores, verificamos que a redução de sua motivação tem relação direta com os seguintes fatores: dupla/tripla jornada de trabalho vivida em razão dos baixos salários ─ o que favorece o desânimo, o desestímulo para diversificar suas aulas ou freqüentar cursos de atualização. Isso pode conduzi-los ao estresse ocupacional crônico, cujas conseqüências são o adoecimento, o afastamento e até a desistência da profissão. Outros fatores que funcionam como elementos de desmotivação docente na EJA-Ensino Médio são a ausência de material de apoio, a heterogeneidade das turmas e o desinteresse dos alunos pelas aulas. Este desinteresse, por sua vez, tem relação com a baixa freqüência e a evasão, referidos pelos docentes como problemas significativos. 136 Todos os demais itens listados no quadro 3 (p. 77) completam o panorama concernente aos aspectos redutores da motivação docente. Embora a indisciplina dos alunos apareça no quadro acima referido, não ocupa posição de destaque, donde se conclui que a manutenção da disciplina não é tão desgastante para o professor de EJA ou então o professor de certo modo está conformado/anestesiado diante dos problemas disciplinares. A despeito dos fatores “desmotivacionais” docentes, que podem ─ como a pesquisa apontou ─ contaminar o corpo discente, há elementos positivos, capazes de motivar o educador: A maioria dos professores (96,43%) declarou-se motivada para trabalhar na EJA-Ensino Médio. Entre as prováveis razões que os levam a tal declaração estão a possibilidade de troca de experiências de vida com os alunos, facultando-lhes a oportunidade de compartilhar saberes e assim também aprenderem; os poucos problemas de disciplina (em relação ao Ensino Regular) ─ que , por seu turno, conectam-se ao baixo nível de estresse declarado ─ e o aumento do rendimento mensal. Também parece animar os professores a aceitação, por parte da escola, de suas sugestões, o que valoriza sua subjetividade e sua criatividade. Isso se torna muito importante porque permite ao professor galgar o patamar mais alto da pirâmide de necessidades proposta por Maslow: a auto-realização. A pesquisa evidenciou que esse aspecto é deficitário na vida do professor de EJA-Ensino Médio, pois a primeira dificuldade mencionada pelos professores no quadro de problemas da EJA (Quadro 3, p. 77) diz respeito justamente à preocupação com sua condição básica de trabalho: dupla/tripla jornada. Ou seja, a motivação do professor está muito mais vinculada a questões extrínsecas do que a questões intrínsecas, quando a derradeira vinculação seria bastante desejável para a realização de um trabalho mais produtivo. Entendemos importante investir com maior vigor nos professores da EJA-Ensino Médio (a título de recordação, 98,21% dos docentes pesquisados consideram importante a requalificação para o ensino na EJA), pois, mesmo diante dos obstáculos detectados na pesquisa, a maioria permanece com uma motivação positiva em relação ao trabalho no segmento. Agregado a essa oferta de formação contínua, seria bem-vindo também um adicional em termos salariais, perfeitamente justificável face à complexidade do 137 trabalho, que às vezes é considerado de somenos nalgumas instituições, mas exige muito mais dos mestres do que se pode imaginar. O estudo permitiu-nos conhecer importantes aspectos motivacionais envolvidos na Educação de Jovens e Adultos, tanto do ponto de vista do aluno quanto do professor. Apuramos que a figura do professor é um elemento fundamental na motivação para a aprendizagem na EJA-Ensino Médio, no entanto boa parte das práticas docentes atuais distancia-se daquelas preconizadas pelos autores estudados no referencial teórico. Diante dessa realidade, acreditamos que nosso trabalho possa servir como auxílio para uma reflexão dos docentes e de seus coordenadores/diretores no sentido de repensar algumas práticas pedagógicas na EJA-Ensino Médio. Cremos, pois, que o compartilhamento dos resultados desta pesquisa conduz à revisão de alguns aspectos cruciais relacionados ao currículo, aos métodos de ensino empregados na EJA-Ensino Médio, às condições de trabalho dos docentes e à relação professor-aluno nesse ambiente de ensino. Tal revisão pode contribuir para minimizar a desmotivação da qual derivam a baixa freqüência e a evasão observadas no segmento. Foi-nos possível, por meio das respostas ao questionário, estimular os alunos a refletirem sobre sua vivência escolar na atual fase de aprendizado e dessa maneira acreditamos ter contribuído para a valorização da subjetividade dos estudantes, ensejando e fortalecendo sua participação como cidadãos. Tal participação permitiu-nos detectar o alto grau de consciência crítica do aluno da EJA-Ensino Médio, embora tenhamos percebido lacunas em sua relação com o conhecimento e com o processo de escolarização. Tais lacunas parecem advir justamente de sua limitada participação no universo educacional em que se insere. Cabe, por isso, reforçar a necessidade de um projeto político-pedagógico que se torne uma espécie de parâmetro para a eficácia da aprendizagem na EJA-Ensino Médio. Um projeto específico englobaria de fato todos os seus sujeitos, promovendo sua efetiva participação e, por extensão, motivando-os a prosseguir a busca permanente pelo conhecimento. Próximos do fechamento e na esperança de colaborar com o aperfeiçoamento da Educação de Jovens e Adultos em nível médio, arrolamos alguns caminhos promissores de pesquisa detectados durante a confeccção de nosso trabalho, a saber: a) relação entre a heterogeneidade etária e a motivação para aprender na EJA-Ensino Médio; b) motivação dos considerados alunos-problema na EJA-Ensino Médio; c) relação entre currículo da EJA-Ensino Médio e capacitação do aluno para o mundo do trabalho; d) 138 relação entre currículo da EJA-Ensino Médio e construção de projetos de vida dos alunos; e) temas geradores e suas possibilidades de trabalho na EJA-Ensino Médio; f) compreensão do conceito de interdisciplinaridade entre os docentes da EJA-Ensino Médio; g) métodos/estratégias de ensino que mais motivam os alunos da EJA-Ensino Médio; h) opinião dos alunos sobre o desenvolvimento de projetos na EJA-Ensino Médio; i) a avaliação na EJA-Ensino Médio. À guisa de encerramento, constatamos que o estudo de aspectos motivacionais relativos a professores e alunos da EJA-Ensino Médio, ora concluído, contribuiu para a construção de um panorama motivacional da EJA-Ensino Médio, sem, no entanto, esgotar suas possibilidades analítico-interpretativas. Por essa razão, esperamos ver em curso as possíveis pesquisas há pouco listadas e outras, para o enriquecimento dos estudos sobre a Educação de Jovens e Adultos no país. 139 REFERÊNCIAS ALMEIDA, I. VI Eneja discute currículo para a Educação de Jovens e Adultos, mesa temática "Ensino de Jovens e Adultos (EJA) e Currículo”, disponível em: www2.portoalegre.rs.gov.br/.../default.php?projeto_sec=144&p_secao=3&pg=1992&p_ reg=59038. Acesso em: 30 mai. 2007, 7:08. ANDRADE, R. C. (org.); ACÚRCIO, M. R. B. (coord.) . O Currículo Ressignificado, Porto Alegre/Belo Horizonte, Artmed, 2003. ANTUNES, C. Relações Interpessoais e Auto-Estima: a sala de aula como espaço do crescimento integral. 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(Assinale os mais importantes para você): ( ) ganhar mais na empresa onde trabalha ( ) ser promovido na empresa em que trabalha ( ) mudar de empresa ( ) arranjar um emprego ( ) exercer influência nas decisões da empresa onde trabalha ( ) aumentar sua criatividade ( ) obter reconhecimento de amigos, parentes ou cônjuges ( ) ampliar seu bem-estar mental ( ) adquirir habilidades para o mercado de trabalho ( ) melhorar/ampliar as relações interpessoais (fazer amigos) ( ) aumentar sua produtividade no trabalho ( ) aprimorar sua capacidade de resolver problemas variados ( ) sentir-se gente ( ) ocupar seu tempo ( ) ajudar seus filhos nos estudos ( ) evitar discriminações em razão da falta de um diploma ( ) fugir de problemas familiares ( ) buscar conhecimento, sem outro interesse envolvido ( ) outros (Quais?______________________________________________) 2. Qual seu grau de dificuldade quanto ao acompanhamento do curso: ( ( ( ( ) acompanha muito bem ) acompanha razoavelmente ) tem dificuldades para acompanhar ) não acompanha 3. Quanto ao desempenho dos colegas, você observa que: ( ) os colegas vão muito bem ( ) os colegas vão razoavelmente bem ( ) os colegas vão mal 4. Quanto à disposição dos alunos para aprender em sua sala de Educação de Jovens e Adultos, você considera, de maneira geral, que: ( ( ( ( ( ( ) os alunos são muito motivados ) os alunos demonstram apatia, indiferença ) demonstram resistência, pois não gostam das matérias ) reclamam da dificuldade de entender os conteúdos oferecidos ) reclamam das exigências dos professores ) os alunos são preguiçosos, não querem pensar 5.Assinale idéias que têm relação com a EJA de sua escola: ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) número excessivo de alunos por sala ) baixa freqüência (alunos faltam muito) ) evasão (alunos desistem do curso) ) indisciplina dos alunos ) baixo grau de aproveitamento dos alunos ) apatia, desânimo, desmotivação dos alunos ) desinteresse dos alunos pelos conteúdos ministrados ) falta de recursos didático-pedagógicos ) classes heterogêneas quanto à faixa etária (idades diferentes) ) classes heterogêneas quanto ao poder aquisitivo (alunos de diversas classes sociais) ) classes heterogêneas quanto ao saber escolar ( alunos com diferentes graus de conhecimento) ) professores desmotivados, desanimados ) professores estressados ) professores com dupla ou tripla jornada de trabalho ) inexistência de biblioteca ) biblioteca fechada durante o período de aulas da EJA ) currículo não atende às necessidades dos alunos ) ausência de atividades extra-escolares ) atos de violência praticados por alunos ) alunos envolvidos com drogas ) falta de treinamento/ cursos de atualização para os professores ) falta de salas de aula diferenciadas (com equipamentos variados: computador, TV som, vídeo, datashow, kit tecnológico, kit de ciências, mobiliário diferente...) ) ausência de conteúdos profissionalizantes ) relação pouco amigável entre os alunos ) relacionamento difícil entre alunos e professores ) falta de merenda para os alunos de EJA (escolas públicas) ) alunos sem dinheiro para custear transporte (casa - trabalho- escola - casa) ) falta de espaço para estudo individual ou em grupo dos alunos, para fazer trabalhos escolares 6. De acordo com o que você observa no dia-a-dia escolar, o grau de stress dos professores da EJA de sua escola, é, numa escala crescente de 1 a 5 (sendo 1 o nível mais baixo de stress e 5 o mais alto): ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 7. As matérias que você estuda na EJA de sua escola são: ( ( ( ( ( ) iguais às do Ensino Médio regular ) um pouco diferentes das matérias do Ensino Médio regular ) muito diferentes das matérias do Ensino Médio regular ) totalmente diferentes das matérias do Ensino Médio regular ) não sabe dizer 8. (Responda a esta questão somente se você já esteve antes no Ensino Médio Regular, aquele de três anos): Existe alguma matéria no atual curso (EJA) diferente das que você havia estudado antes? ( ) não ( ) sim (Qual/quais?________________________________________) 9. Quanto à contribuição das disciplinas (matérias) ministradas neste curso para o mercado de trabalho, você considera que: ( ) contribuem muito ( ) contribuem razoavelmente ( ) contribuem pouco ( ) não contribuem 10. Quanto o currículo deste curso contribui para você criar/desenvolver seus projetos de vida? ( ) contribui muito ( ) contribui razoavelmente ( ) contribui pouco ( ) não contribui 11. Na sua opinião, quem é o responsável pela aprendizagem dos estudantes? ( ( ( ( ( ) apenas o aluno ) apenas o professor ) mais o aluno que o professor ) mais o professor que o aluno ) aluno e professor na mesma medida 12.O tipo de material didático utilizado pelo professor influencia a sua aprendizagem? ( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) sempre 13. Classifique os recursos que você considera mais eficientes para sua aprendizagem: quadro negro e giz: ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( )razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente livros didáticos e apostilas ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( )razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente projetores de imagens ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( )razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente experiências práticas ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( ) razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente seminários ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( )razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente computadores ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( ) razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente jornais / revistas / outros periódicos ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( ) razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente outros (Quais?___________________________________________________________) 14. Com que freqüência, durante as aulas, seus professores utilizam os seguintes recursos didáticos? textos e exercícios na lousa livro didático apostilas jornais/revistas filmes músicas transparências slides no datashow computadores discussão de temas contemporâneos convite aos alunos para exposição de suas idéias seminários experiências práticas outros ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca (Quais?_____________________________________________________________) 15. Quanto motivam você, facilitando sua aprendizagem, as seguintes características/atitudes dos professores: estimular / incentivar o aluno ( )não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser inovador nas aulas ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente dominar a matéria ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente relacionar a teoria com a prática ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente fazer o aluno pensar ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ter bom-humor ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ter conhecimento ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser acessível ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser amigo ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ter didática (saber explicar) ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser objetivo ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ter titulação (pós-graduação,mestrado,doutorado) ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser rigoroso ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser bonzinho ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito( ) indiferente outros (Quais?__________________________________________________________) 16. Quanto desmotivam você, prejudicando sua aprendizagem, as seguintes características/atitudes dos professores: menosprezar o aluno ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ser muito exigente ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ser esnobe, orgulhoso ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente não dominar a matéria ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente não ouvir o aluno ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente não ser justo ao avaliar o aluno(nota) ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ser repetitivo ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ser pouco acessível ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente demonstrar desinteresse pela aprendizagem do aluno ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ensinar de má-vontade ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente outras (Quais?__________________________________________________________) 17. Com que freqüência os professores aplicam as estratégias lúdicas abaixo durante as aulas da EJA? dinâmicas de grupo ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca jogos/ brincadeiras ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca contar histórias, causos, piadas ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca audição, análise, composição de músicas ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca dramatizações ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca 18. Algum professor, neste curso, utilizou um método de ensino interessante/ inovador em sala de aula, que favoreceu você em sua aprendizagem? ( ) não ( ) sim (Qual/quais?_______________________________________________________) 19. Você costuma assistir regularmente às aulas? Quanto às faltas, você: ( ) nunca falta ( ) falta poucas vezes ( ) falta sempre ( ) não costuma assistir às aulas 20. Você acredita que os alunos faltem às aulas em sua escola porque: ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) têm problemas com o horário de serviço ) têm problemas com transporte ) estão muito cansados do trabalho ) têm problemas envolvendo familiares ) têm receio quanto à segurança da escola/dos arredores da escola ) acham as aulas monótonas,desinteressantes ) têm dificuldades de relacionamento com os colegas ) não têm problemas e não faltam ) têm outros problemas, diferentes dos listados acima 21. Quanto à disciplina em sua classe, você considera que os alunos são: ( ( ( ( ) muito indisciplinados, qualquer que seja a aula ) às vezes indisciplinados, tanto faz a aula ) disciplinados em todas as aulas ) disciplinados ou indisciplinados conforme o professor 22. Em que medida a indisciplina dos colegas de classe dificulta seu aprendizado? ( ( ( ( ) dificulta muito ) dificulta razoavelmente ) dificulta muito pouco ) não dificulta 23. Qual a sua idade? _______anos. 24. Quanto ao grau de interesse/motivação dos alunos pelo curso, você considera que: ( ) os alunos mais jovens são os mais interessados/motivados ( ) os alunos com mais idade são os mais interessados/motivados ( ) todos os alunos apresentam o mesmo grau de interesse/motivação, independentemente da faixa etária ( ) todos os alunos apresentam o mesmo grau de desinteresse/desmotivação, independentemente da idade ( ) o grau de interesse varia, porém segundo outros critérios. (Quais?__________________________________________________________) 25. Na sua opinião, uma sala de aula com alunos de variadas faixas etárias: ( ( ( ( ( ) facilita muito a aprendizagem dos alunos ) facilita um pouco a aprendizagem dos alunos ) dificulta um pouco a aprendizagem dos alunos ) dificulta muito a aprendizagem dos alunos ) não interfere no aprendizado dos alunos 26. Quanto a uma possível separação de alunos por faixa etária na EJA (Educação de Jovens e Adultos), você considera: ( ) altamente necessária ( ) necessária ( ) pouco necessária ( ) desnecessária ( ) irrelevante 27. Assinale temas que você consideraria importante/interessante incluir no currículo de EJA de sua escola: ( ) Como administrar suas finanças ( ) Comunicação verbal e escrita nas empresas ( ) Relação entre alimentação e saúde ( ) Como cuidar de bebês ( ) Prevenção de doenças / primeiros-socorros ( ) Noções de comportamento em diferentes contextos ( ) Como organizar eventos ( ) Ações concretas para o reequilíbrio ambiental ( ) Cultivo de hortas e pomares ( ) Noções sobre leis e cidadania ( ) Como cozinhar o trivial variado ( ) Noções de mecânica de automóveis/outras máquinas ( ) Noções de instalações elétricas (residenciais,comerciais,industriais) ( ) Noções de tubulações hidráulicas ( ) Aplicação de programas de computadores ( ) Lazer nas metrópoles ( ) Estética facial e corporal ( ) Organização de ambientes ( ) Filosofia ( ) Noções de Psicologia ( ) Jardinagem / Paisagismo ( ) Confeccção de roupas ( ) Pintura de ambientes residenciais e comerciais ( ) Artesanato ( ) Como ser um bom vendedor ( ) Outros 28. Até que ponto você se sente livre para propor aos professores alguma atividade educativa diferente em sala de aula ou fora dela ? ( ( ( ( ) totalmente livre ) razoavelmente livre ) pouco livre ) nada livre 29. Qual a sua ocupação atual? ____________________________________________________________ 30. O espaço abaixo está reservado para que você dê, se quiser, sugestões para melhorar a Educação de Jovens e Adultos (EJA) de sua escola : _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ Muito obrigada por sua participação ! ANEXO 2 QUESTIONÁRIO - PROFESSORES 1. Há quanto tempo você leciona no Ensino Médio da EJA (Educação de Jovens e Adultos)? ____anos 2. Você leciona na EJA- Ensino Médio em escola: ( ) federal ( ) estadual ( ) particular 3. Quanto à disposição dos alunos para aprender na EJA (Educação de Jovens e Adultos), você considera, de maneira geral, que: ( ( ( ( ( ( ) os alunos são muito motivados ) os alunos demonstram apatia, indiferença ) demonstram resistência, pois não gostam das matérias ) reclamam da dificuldade de entender os conteúdos oferecidos ) reclamam das exigências dos professores ) os alunos são preguiçosos, não querem pensar 4. Quanto à indisciplina na EJA de sua escola: ( ( ( ( ) indisciplina freqüente, de difícil controle ) indisciplina freqüente, mas facilmente controlável ) poucos problemas de disciplina ) ausência de problemas disciplinares 5. De acordo com o que você observa no dia-a-dia escolar, o grau de stress dos professores da EJA de sua escola, é, numa escala crescente de 1 a 5 (sendo 1 o nível mais baixo de stress e 5 o mais alto): ( )1 ( )2 ( )3 ( )4 ( )5 6. Em quantas escolas você leciona? ( )uma ( )duas ( )três ( )mais de três 7. As aulas que você ministra na EJA : ( ) são sua única fonte de renda ( ) são sua principal fonte de renda ( ) são um complemento do salário recebido em outras instituições escolares ou empresas ( ) são um complemento do salário recebido na mesma instituição pelas aulas no ensino regular 8. Quanto ao seu grau de motivação atual para o trabalho com EJA você se considera: ( ( ( ( ) altamente motivado ) razoavelmente motivado ) pouco motivado ) desmotivado 9. Se você respondeu “pouco motivado” ou “desmotivado”, liste os principais motivos: ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 10. Quanto ao grau de interesse/motivação dos alunos de EJA pelo curso, você considera que: ( ) os alunos mais jovens são os mais interessados/motivados ( ) os alunos com mais idade são os mais interessados/motivados ( ) todos os alunos apresentam o mesmo grau de interesse/motivação, independentemente da faixa etária ( ) todos os alunos apresentam o mesmo grau de desinteresse/desmotivação, independentemente da idade ( ) o grau de interesse varia, porém segundo outros critérios. (Quais?______________________________________________________________) 11. Na sua opinião, uma sala de aula com alunos de várias faixas etárias: ( ( ( ( ( ) facilita muito a aprendizagem dos alunos ) facilita um pouco a aprendizagem dos alunos ) dificulta um pouco a aprendizagem dos alunos ) dificulta muito a aprendizagem dos alunos ) não interfere no aprendizado dos alunos 12. Quanto à possível separação de alunos por faixa etária na EJA, você considera: ( ) altamente necessária ( ) necessária ( ) pouco necessária ( ) desnecessária ( ) irrelevante 13. Assinale idéias que têm a ver com a EJA de sua escola: ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) número excessivo de alunos por sala ) baixa freqüência (alunos faltam muito) ) evasão (alunos desistem do curso) ) indisciplina dos alunos ) baixo grau de aproveitamento dos alunos ) apatia, desânimo, desmotivação dos alunos ) desinteresse dos alunos pelos conteúdos ministrados ) falta de recursos didático-pedagógicos ) classes heterogêneas quanto à faixa etária (idades diferentes) ) classes heterogêneas quanto ao poder aquisitivo ) classes heterogêneas quanto ao saber escolar ) professores desmotivados, desanimados ) professores estressados ) professores com dupla ou tripla jornada de trabalho ) inexistência de biblioteca ) biblioteca fechada durante o período de aulas da EJA ) currículo não atende às necessidades dos alunos ) ausência de atividades extra-escolares ) atos de violência praticados por alunos ) alunos envolvidos com drogas ) falta de treinamento/ cursos de atualização para os professores ) falta de salas de aula diferenciadas (com equipamentos variados: computador, TV, som, vídeo, datashow, kit tecnológico, kit de ciências, mobiliário diferente...) ) ausência de conteúdos profissionalizantes ) relação pouco amigável entre os alunos ) relacionamento difícil entre alunos e professores ) falta de merenda para os alunos de EJA (escolas públicas) ) alunos sem dinheiro para custear transporte (casa - trabalho- escola – casa) ) falta de espaço para estudo individual ou em grupo dos professores, para pesquisa e desenvolvimento de projetos pedagógicos 14. O currículo de EJA (Educação de Jovens e Adultos) de sua escola é: ( ( ( ( ( ) igual ao do Ensino Médio regular ) um pouco diferente do currículo desenvolvido no Ensino Médio regular ) muito diferente do currículo desenvolvido no Ensino Médio regular ) totalmente diferente do currículo do Ensino Médio regular ) não sabe dizer 15. Se você assinalou „diferente‟, explique abaixo quais são as diferenças. ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 16. Em que medida o currículo de EJA desenvolvido em sua escola contribui para a produção e compartilhamento de múltiplos saberes entre alunos e professores? ( ( ( ( ) contribui muito ) contribui razoavelmente ) contribui pouco ) não contribui 17. Em que medida o currículo de EJA desenvolvido/aplicado em sua escola leva em consideração sugestões dos professores: ( )sempre ( )algumas vezes ( ) raras vezes ( )nunca 18. Quais das experiências pedagógicas abaixo são desenvolvidas habitualmente na Educação de Jovens e Adultos de sua escola? ( ) ensino de música (instrumentos) ( ) feira de ciências ( ) feira/semana cultural ( ) projeto de educação ambiental ( ) elaboração de jornais ( ) concurso de redação (poesias,contos,crônicas,dissertações) ( ) produção de histórias em quadrinhos ( ) murais ( ) oficina de reciclagem do lixo ( ) apoio pedagógico em horários diferenciados para alunos com dificuldades ( ) pesquisas de campo para observação de recursos naturais e culturais ( ) projetos variados (dança, saúde, artesanato, trabalhos sociais, „minha cidade‟, empresas fictícias...) ( ) grupos corais ( ) aulas/oficinas de artesanato ( ) grupos de teatro ( ) campeonato de futebol e/ou outros esportes ( ) aulas / campeonato de xadrez ( ) gincanas culturais e desportivas ( ) unidades didáticas voltadas para o trabalho em comércio, indústria,serviços. ( ) festas típicas (Quais?__________________________________________) ( )outros? (Quais?_______________________________________________) 19. Classifique os recursos que você considera mais eficientes para a aprendizagem dos alunos: quadro negro e giz: ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( )razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente livros didáticos e apostilas ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( )razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente projetores de imagens ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( )razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente experiências práticas ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( ) razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente seminários ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( )razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente computadores ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( ) razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente jornais / revistas / outros periódicos ( ) ineficiente ( )pouco eficiente ( ) razoavelmente eficiente ( ) totalmente eficiente outros (Quais?________________________________________________________________) 20. Com que freqüência, durante as aulas, você utiliza os seguintes recursos didáticos? textos e exercícios na lousa ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca livro didático ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca apostilas ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca jornais/revistas ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca filmes ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca músicas ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca transparências ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca slides no datashow ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca computadores ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca discussão de temas contemporâneos ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca convite aos alunos para exposição de suas idéias ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca seminários ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca experiências práticas ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca outros (Quais?_____________________________________________________________) 21.Com que freqüência você aplica as estratégias lúdicas abaixo durante as suas aulas na EJA? dinâmicas de grupo ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca jogos/ brincadeiras ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca contar histórias, causos, piadas ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca audição, análise, composição de músicas ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca dramatizações ( )sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( )nunca 22.Quanto desmotivam o aluno, prejudicando a aprendizagem dele, as seguintes características/atitudes dos professores: menosprezar o aluno ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ser muito exigente ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ser esnobe, orgulhoso ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente não dominar a matéria ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente não ouvir o aluno ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente não ser justo ao avaliar o aluno (nota) ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ser repetitivo ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ser pouco acessível ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente demonstrar desinteresse pela aprendizagem do aluno ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente ensinar de má-vontade ( )não desmotiva ( )desmotiva um pouco ( )desmotiva razoavelmente ( ) desmotiva muito ( ) indiferente outras (Quais?____________________________________________________________________) 23. Quanto motivam o aluno, facilitando a aprendizagem dele, as seguintes características/atitudes dos professores: estimular / incentivar o aluno ( )não motiva ( )motiva pouco ( ) motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser inovador nas aulas ( ) não motiva ( )motiva pouco ( ) motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente dominar a matéria ( ) não motiva ( )motiva pouco ( ) motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente relacionar a teoria com a prática ( ) não motiva ( )motiva pouco ( ) motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente fazer o aluno pensar ( ) não motiva ( )motiva pouco ( ) motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ter bom-humor ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ter conhecimento ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser acessível ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser amigo ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ter didática (saber explicar) ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser objetivo ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ter titulação (pós-graduação,mestrado,doutorado) ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser rigoroso ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito ( ) indiferente ser bonzinho ( ) não motiva ( )motiva pouco ( )motiva razoavelmente ( )motiva muito( ) indiferente outros (Quais?___________________________________________________) 24. Na sua opinião, quem é o responsável pela aprendizagem dos estudantes? ( ) apenas o aluno ( ) apenas o professor ( ) mais o aluno que o professor ( ) mais o professor que o aluno ( ) aluno e professor na mesma medida 25. No que se refere a mercado de trabalho, qual a contribuição, a seu ver, proporcionada aos alunos pelas disciplinas ministradas neste curso de EJA? ( ) contribuem muito ( ) contribuem razoavelmente ( ) contribuem pouco ( ) não contribuem 26. Quanto, a seu ver, o currículo deste curso de EJA contribui para o aluno criar/desenvolver seus projetos de vida? ( ( ( ( ) contribui muito ) contribui razoavelmente ) contribui pouco ) não contribui 27. Até que ponto você se sente livre para propor ao coordenador de EJA de sua escola alguma atividade diferente das habituais, um projeto ou uma nova unidade didática? ( ( ( ( ) totalmente livre ) razoavelmente livre ) pouco livre ) nada livre 28. Existe trabalho interdisciplinar aplicado à EJA em sua escola? ( ) sempre ( )quase sempre ( )às vezes ( )quase nunca ( ) nunca 29. Você se sentiria à vontade para coordenar um projeto em sua escola, do qual participassem os alunos da EJA? ( ( ( ( )totalmente à vontade )razoavelmente à vontade )pouco à vontade )constrangido 30. Você considera a participação dos professores em cursos de (re)qualificação profissional para o trabalho com EJA: ( ( ( ( ( ) muito importante ) importante ) pouco importante ) indiferente ) sem nenhuma importância 31. Assinale temas que você consideraria importante/interessante incluir no currículo de EJA de sua escola: ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) Como administrar suas finanças ) Comunicação verbal e escrita nas empresas ) Relação entre alimentação e saúde ) Como cuidar de bebês ) Prevenção de doenças / primeiros-socorros ) Noções de comportamento em diferentes contextos ) Como organizar eventos ) Ações concretas para o reequilíbrio ambiental ) Cultivo de hortas e pomares ) Noções sobre leis e cidadania ) Como cozinhar o trivial variado ) Noções de mecânica de automóveis/outras máquinas ) Noções de instalações elétricas (residenciais,comerciais,industriais) ) Noções de tubulações hidráulicas ) Aplicação de programas de computadores ) Lazer nas metrópoles ) Estética facial e corporal ) Organização de ambientes ) Filosofia ) Noções de Psicologia ) Jardinagem / paisagismo ) Confeccção de roupas ) Pintura de ambientes residenciais e comerciais ) Artesanato ) Como ser um bom vendedor ) Outros (Quais? _________________________________________________) 32. Este espaço destina-se a outras observações que você considere importante fazer a respeito do Ensino de Jovens e Adultos: _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Muito obrigada por participar! Se quiser tomar conhecimento da análise dos dados desta pesquisa, deixe aqui seu e-mail: _____________________________________ ANEXO 3 Serviço Público Federal Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Prezado(a) Sr.(a), O projeto Aspectos Motivacionais na Educação de Jovens e Adultos: Interrelações no Ensino Médio é uma pesquisa aprovada pelo CEP (Comitê de Ética de Pesquisa) do CEFET–SP, orientada pelo professor Marco Antonio M. Grillo, com a colaboração de demais docentes e alunos da instituição. O objetivo geral da pesquisa é analisar, em algumas escolas públicas e particulares da cidade de São Paulo, elementos motivacionais relativos a professores e alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos) no Ensino Médio. Nossos objetivos específicos são: verificar a motivação na EJA a partir de variáveis como o papel do professor, a percepção que este tem da escola e de seu trabalho, bem como a percepção do aluno em relação à sua escola, aos seus colegas, seus professores e às condições gerais que circundam sua vida escolar. Pretendemos, por meio desta pesquisa, compartilhar com alunos e professores conhecimentos acerca de estratégias de motivação eficazes no processo ensino-aprendizagem da EJA. Durante a atividade será entregue um questionário. O participante (voluntário) terá livre-arbítrio para escolher se quer ou não responder às questões propostas. Tal atividade é considerada sem risco, porém, se este procedimento gerar desconforto, constrangimento ou outra situação negativa qualquer, sua participação poderá ser interrompida sem qualquer prejuízo para si. Informamos que o participante não terá despesa alguma com a pesquisa, não receberá qualquer forma de remuneração por esta atividade voluntária e terá seus dados pessoais mantidos em sigilo. Os resultados gerais obtidos por meio da atividade de campo serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua participação em sala de aula ou congressos. O participante poderá, se julgar necessário, entrar em contato com o responsável pela atividade de campo, prof. Marco Antonio M. Grillo, através do telefone (11) 6976- 1023, ou com a Comissão de Ética do CEFET – SP, telefone (11) 6763-7546, para esclarecer eventuais dúvidas. Este Termo de Consentimento é feito em 2 (duas) vias, de maneira que uma permanecerá em seu poder e a outra com a aluna responsável pela aplicação dos questionários. São estas, por fim, todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a sua participação na referida atividade de campo. Atenciosamente, Sandra Pereira Falcão Eu, ___________________________________________________________________, R.G. nº______________________, declaro ter lido e compreendido todas as informações contidas neste documento e dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário(a) da atividade de campo supracitada, sob responsabilidade da estudante Sandra Pereira Falcão, aluna do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo, e do professor Marco Antonio M. Grillo, professor do curso de Pós-Graduação do CEFET-SP, asseguradas as condições apresentadas pela pesquisadora. São Paulo, ____ de____________________ de 2007. ______________________________________________ Assinatura do voluntário ______________________________ __________________________________ Marco Antonio M. Grillo R. Pedro Vicente, 625 625 625 Canindé – São Paulo – SP (endereço profissional) Telefone: (11) 6976-1023 Sandra Pereira Falcão RG: 17. 072. 060 E-mail: [email protected] E-mail: [email protected] ANEXO 4 CARTA AO COORDENADOR DO COMITÊ DE ÉTICA DO CEFET-SP São Paulo, 03 de setembro de 2007. Senhor Coordenador, ____________________________________________, em anexo segue o Projeto Aspectos Motivacionais na Educação de Jovens e Adultos: Inter-relações no Ensino Médio, a ser realizado por Sandra Pereira Falcão, R.G. 17072060, sob minha orientação. Solicito o parecer da Comissão de Ética para a realização do projeto. Sendo o que se apresenta, reitero a Vossa Senhoria protestos de consideração. Atenciosamente, ____________________________________ (Prof. Ms. Marco Antonio Grillo) Ao Prof. Dr. ..................................................................... Coordenador do Comitê de Ética do Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo - CEFET