MÉTODOS DE DATAÇÃO MÉTODOS DE DATAÇÃO Os métodos de datação agrupam-se em 4 categorias: 1 - métodos radio-isotópicos – taxa de desintegração atômica de uma amostra 2 - métodos paleomagnéticos – padrão de inversão dos pólos magnéticos 3 - métodos químicos orgânicos e inorgânicos – alterações químicas de uma amostra com o tempo 4 – métodos biológicos – taxas de crescimento de organismos para datação do substrato sobre o qual este reside MÉTODOS DE DATAÇÃO RADIOISOTÓPICOS QUÍMICOS Medição do decaimento radioativo ou dos produtos do decaimento (14C, K/Ar) Orgânicos (racemização de aminoácidos) BIOLÓGICOS Anéis de crescimento Taxas de crescimento Inorgânicos Medição do equilíbrio (series do urânio) Efeitos integrados (termo-luminescência e traços de fissão) taxas de intemperismo tefrocronologia MÉTODOS RADIOMÉTRICOS Em qualquer elemento químico, o número de nêutrons pode variar, resultando em diferentes isótopos do mesmo elemento. -- Hidrogênio Massa = 1 Deutério Massa = 2 Tritio Massa = 3 Os isótopos podem ser estáveis (mesmo numero de protons e neutrons) ou instáveis (maior numero de neutrons) - estes últimos sofrem decaimento radioativo e transmutam-se em novo elemento – são denominados isótopos radioativos ou radionuclídeos MÉTODOS RADIOMÉTRICOS O taxa de decaimento radioativo é presumidamente invariável, de forma que um isótopo radioativo decairá para seu produto parente em um conhecido intervalo de tempo. O método baseia-se na meia-vida dos radio isótopos, ou seja, o intervalo de tempo associado à perda de metade da quantidade do material radioativo original - A RADIOATIVIDADE TORNA-SE DIFÍCIL DE SER MEDIDA APÓS 30 meia-vidas TIPOS DE RADIONUCLÍDEOS RADIONUCLÍDEOS PRIMORDIAIS Radioisótopo Produto Meia-vida Ocorrência 234 8 Urânio 235 U 7.04 x 10 anos 0.72% de todo urânio natural 99.27% de todo urânio natural; existe em concentrações de 0.5 a 4.47 x 109 anos Urânio 238 231Pa 4.7 ppm nas rochas 232 10 Urânio 232 Th 1.41 x 10 anos existe em concentrações médias de 10 ppm nas rochas Urânio 226 Urânio 222 Urânio 40 226Ra 222Rn 40K 1.60 x 103 anos em rochas ígneas 3.82 dias gás nobre 1.28 x 109 anos no solo TIPOS DE RADIONUCLÍDEOS RADIONUCLÍDEOS COSMOGÊNICOS Radioisótopo Produto Meia-vida Formação Carbono 14 14C 5730 anos Produzidos pela interação de raios cósmicos Tritio 3 3H 12.3 anos Produzidos pela interação de raios cósmicos Berilo 7 7Be 53.28 anos Produzidos pela interação de raios cósmicos TIPOS DE RADIONUCLÍDEOS RADIONUCLÍDEOS ANTROPOGÊNICOS Radioisótopo Trítio Produto 3H Meia-vida 12.3 anos Iodo 131 131I Iodo 129 129I Césio 137 137Cs 30.17 anos Estrôncio 90 90Sr 28.78 anos Plutônio 239 239Pu Formação 8.04 dias 1.57 x 107 anos Produzido com testes de armas e reatores de fissão 2.41 x 104 anos Produzido pelo bombardeamento do 238U com nêutrons MÉTODO DO RADIOCARBONO Desenvolvido em 1947 por Willard Libby (EUA) O carbono tem três isótopos naturais - 12C, 13C 14C - estáveis - instável A proporção destes isótopos na atmosfera e seres vivos é de: 12C - 98.89% 13C - 1.11% 14C - 0.00000000010%. Para cada átomo de 14C em um ser vivo, existe 1,000,000,000,000 de átomos de 12C. MÉTODO DO RADIOCARBONO O 14C é produzido constantemente na atmosfera através do bombardeio de (nêutrons). 14CO 2 14C 14N por raios cósmicos é rapidamente oxidado formando - que se mistura com o CO2 inativo. Como o CO2 é consumido pelas plantas, toda as plantas são radioativas. Como os animais dependem das plantas para sobrevivência, todos os seres vivos são radioativos. Após a absorção, o 14C decai e reverte-se em 14N. No entanto, 14C é prontamente consumido e restabelecido nos seres vivos, de forma que se encontra em equilíbrio com aquele da atmosfera. Após a morte do organismo, o decaimento é constante, e o relógio radioativo passa a funcionar. MEIA VIDA 14C = 5730 anos PREMISSAS BÁSICAS DO MÉTODO (1) A produção de radiocarbono por raios cósmicos tem permanecido essencialmente a mesma para estabelecer um equilíbrio de 14C/12C na atmosfera (2) É rápida a mistura do 14C em todo o sistema (aquático e terrestre) (3) A razão isotópica na amostra só é alterada pelo decaimento radioativo A atividade do 14C na atmosfera aumentou em aproximadamente 100% durante os testes nucleares do pós-guerra (grande fluxo de neutrôns). Desta forma, a radioatividade padrão para o 14C é aquela de 1950 - idade 0 (zero) de referência para as datações. Nydal and Loveseth 1993 Efeito industrial – 1890 em diante – redução de 2% da atividade do 14C devido à queima de comb. fósseis MATERIAIS DATÁVEIS PELO MÉTODO DO RADIOCARBONO ¾ carvão, madeira, turfa, solo ¾ sementes, pollen ¾ ossos, conchas calcáreas, casca de ovo ¾ couro, pelos-cabelos, papel ¾ gelo e água ¾ tecidos, cerâmica, pinturas rupestres ¾ espeleotemas ¾ resinas e colas. Waikado Radiocarbon Dating Lab. LIMITAÇÕES DO MÉTODO 1- QUANTIDADE DE AMOSTRA A atividade radioativa natural do 14C é de 13.5 desintegrações por minuto por grama de carbono. Após 57.300 anos – 10 meias vidas – o número de desintegrações em 1 grama de carbono se reduzem a 2,2 POR DIA! Dificuldade de se isolar a radioatividade da amostra daquela externa (próprio aparelho, material de laboratório, etc). A datação de amostras muito velhas (> 35.000 anos) requer pelo menos 100 g de carbono. Limite de datação – cerca de 70.000 anos LIMITAÇÕES DO MÉTODO 2- INCERTEZA QUANTO À FREQUÊNCIA DA DESINTEGRAÇÃO RADIOATIVA Impossível prever quando um átomo irá sofrer decaimento – determina-se o tempo médio de decaimento durante determinado período. Assim, idades absolutas não podem ser fornecidas, pois existe uma MARGEM DE ERRO. 5.000 ±100 anos - 68% de chance da idade se situar entre 4.900 e 5.100 anos - 95% de chance da idade se situar entre 4.800 e 5.200 anos - 99% de chance da idade se situar entre 4.700 e 5.300 anos Quanto maior a massa da amostra, menor o erro. EFEITO RESERVATÓRIO DOS OCEANOS Massas d’água profundas apresentam menos 14C do que as massas d’água superficiais - PORQUE??... Estas massas d’água trazidas à superfície em regiões de ressurgência, diluem a radioatividade do 14C nas águas superficiais. Amostras de carapaças e esqueletos calcáreos se tornam então aparentemente mais velhos do que organismos contemporâneos em terra. O envelhecimento das amostras oscila entre 300 (regiões tropicais) a 750 anos (altas latitudes). No litoral sul do Brasil o efeito reservatório é de 420 anos. Idade da água marinha a 3000 m de profundidade. Áreas achuriadas marcam zonas de formação de massas d’água profundas Broecker 1985 EFEITO RESERVATÓRIO DOS OCEANOS Efeito semelhante é observado em lagos vizinhos a formações calcáreas, onde o carbonato de cálcio (CaCO2) pobre em 14C é dissolvido e incorporado nas águas lacustres. Outro exemplo de contaminação ocorre ao redor de emanações vulcânicas podem mostrar deficiência radioativa de até 3500 anos. MÉTODO POTÁSSIO-ARGÔNIO O potássio ocorre na forma de três isótopos - 39K, 41K 40K - estáveis - instável Isótopos de 40K corresponde a 0,012% de todos os átomos de potássio Produtos do decaimento – 40Ar - maior ocorrência nas rochas 40Ca Método utilizado na datação das rochas basálticas oceânicas - rochas recém formadas não apresentam qualquer teor de argônio, que começa a se formar com o decaimento do potássio. O gás se aloja na estrutura cristalina dos cristais, sendo expulso por aquecimento em laboratório. A datação neste caso se baseia não no decaimento radioativo do 40K mas no aumento da quantidade do produto parente 40Ar. O 40K possui meia-vida de 1,4 bilhão de anos, o que torna o método capaz de medir idades de dezenas de milhões até bilhões de anos. MÉTODO URÂNIO-TÓRIO-CHUMBO Se baseia no decaimento do 238U e 235U, cujo produto final é o chumbo Meia Vida Meia Vida 235U 4,51 B anos 238U 713 M anos 234U 250 M anos 231Pa 32.000 anos 230Th 75.200 anos 237Th 18,6 dias 226Ra 1620 anos 223Ra 11,1 dias 222Rd 3,83 dias 207Pb estável 210Pb 22 anos 210Po 138 dias 206Pb estável A soma dos isótopos de urânio e seu produto parente se mantém constantes durante todo o período de decaimento. MÉTODO URÂNIO-TÓRIO-CHUMBO O método é utilizado na datação de amostras com idades superiores a 30 M de anos – até 3.8 B de anos. Produtos intermediários do decaimento são também utilizados em datações: 230Th e 234U - datação de amostras entre 10.000 e 350.000 anos 231Pa e 238U - datação de amostras entre 5.000 e 150.000 anos 234U e 235U - em depósitos carbonáticos (conchas e corais) emersos datação de amostras entre 40.000 e 1.000.000 anos 210Pb e 206Pb - medição de taxas de deposição em sedimentos recentes (102 anos) MÉTODO DE TRAÇOS DE FISSÃO Esta técnica de datação mede a distribuição espacial de traços (em escala microscópica) que a desintegração de átomos de 238U sobre a superfície de minerais como apatita, e zircão, causados pela fissão do átomo. Literalmente, imprime um sulco na superfície do mineral. Determinando-se o número de traços presentes sobre uma superfície mineral polida, bem como a quantidade de urânio ainda existente (através da indução de traços de fissão), é possível calcular a idade da amostra. É necessário que o mineral, após depositado ou formado, não tenha sido submetido a temperaturas superiores a 120°C. Data amostras entre 20 M e 1 B de anos Traços de fissão espontâneos e induzidos TERMOLUMINESCÊNCIA - TL Cristais de quartzo, feldspato e calcita, após soterrados, ficam sujeitos a um fluxo de radiação natural provocada pelo decaimento de átomos de potássio, urânio, rubídio e tório existentes no depósito sedimentar. Uma das conseqüências deste fluxo é ejetar elétrons da sua órbita estável (ionização), que eventualmente ficam presos em imperfeições da estrutura cristalina. Raios cósmicos também contribuem com o processo. Quanto maior o tempo de soterramento maior a radiação absorvida. Amostras de sedimento (principalmente com tamanho ente 4 e 11μm) quando aquecidas (500 °C) emitem fótons associados ao retorno do elétron à sua órbita original. Quanto mais intensa a luz emitida, mais velha será a amostra. Capacidade de datação de amostras entre 1.000 e 500.000 anos. MÉTODO QUÍMICO – AMINOÁCIDO Os aminoácidos são moléculas complexas que compõe as proteínas. Em geral, para cada aminoácido, existem duas versões quase idênticas, ou "isômeros ópticos“, por se constituírem de imagens invertidas - dextrógira e levógira. Em organismos vivos, apenas a forma levógira aparece. Entretanto, depois que o organismo morre, reações químicas vão transformando parte dos aminoácidos levógiros em dextrógiros, até chegar a um equilíbrio - racemização. A quantidade de aminoácidos dextrógiros em uma amostra permite inferir sua idade Datações no intervalo de 103 a 105 anos - amostras de osso, plantas, conchas (vazas), turfa, etc. PROBLEMA – muitas incertezas devido à dependência da temperatura e pH. CONVENIÊNCIA - requer amostras pequenas – 10 mg de moluscos ou foraminíferos, <10 mg de ossos TEFROCRONOLOGIA Tefra – material piroclástico ejetado durante erupções vulcânicas, formando amplas camadas que são utilizadas como guias em estudos estratigráficos – camadas crono-estratigráficas. A tefra propriamente dita é datada pelo método 40K/40Ar. Para a individualização das camadas é necessário detalhado trabalho de campo e laboratório para identificação de características como granulometria, cor, grau de intemperismo, espessura da camada e estudos químicos e petrográficos. Duas camadas de tefra em sedimentos lacustrinos na Antartica (Svant Bjork) Tefra coletada 60 km a sotavento do Monte Santa Helena (USGS). TEFROCRONOLOGIA ERUPÇÃO DO MONTE PINATUBO 1991 – DISTRIBUIÇÃO DA TEFRA 3 MESES APÓS A ERUPÇÃO Lynn et. Al - http://pubs.usgs.gov/pinatubo/paladio/index.html Lynn et. Al - http://pubs.usgs.gov/pinatubo/paladio/index.html DENDOCRONOLOGIA • Datação de eventos climáticos passados através do estudo dos anéis de crescimento das árvores • Parte da premissa que processos ambientais atuais estiveram atuantes no passado. • Sobreposição dos anéis de uma árvore morta com outra viva permite estimar a data de sua morte e expandir o intervalo de investigação (até 11000 anos) • A seleção do local de amostragem deve ser feita de modo a permitir investigar a variável ambiental de interesse. • Largura dos anéis é uma resposta a variáveis ambientais e à própria fisiologia da árvore Árvore (ou ser vivo) mais velha atualmente tem 4700 anos amostrador Sondagens em recifes de coral