Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Ensino de Ciências Campus Nilópolis Leonardo de Almeida Prata NOVAS ANALOGIAS NO ENSINO DE FÍSICA: Eletrostática Nilópolis – RJ 2012 Leonardo de Almeida Prata NOVAS ANALOGIAS NO ENSINO DE FÍSICA: Eletrostática Dissertação apresentado ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências do Campus Nilópolis do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências. Orientador: Profº Dr. Alexandre Lopes de Oliveira Nilópolis – RJ 2012 P912n Prata, Leonardo de Almeida. Novas analogias no ensino de física : eletrostática / Leonardo de Almeida Prata ; Orientador Alexandre Lopes de Oliveira. -- Nilópolis, RJ, 2012. 88 f.; 30 cm Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de Ciências) - Programa de Pós - graduação em Ensino de Ciências, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro. PROPEC, 2012. 1. Física - analogias. 2. Física – estudo e ensino. 3. Eletrostática. I. Oliveira, Alexandre Lopes de. Orient. II. IFRJ. PROPEC. III. Título. CDU 530.17 Leonardo de Almeida Prata NOVAS ANALOGIAS NO ENSINO DE FÍSICA: Eletrostática Dissertação apresentado ao Programa de Pósgraduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências do Campus Nilópolis do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências. Data de aprovação: 16 de Novembro de 2012. __________________________________________________ Profº Dr. Alexandre Lopes de Oliveira (Presidente) IFRJ – Campus Nilópolis __________________________________________________ Profº Dr. José Abdalla Helayël-Neto CBPF __________________________________________________ Profª Drª. Luiza Rodrigues de Oliveira ISERJ / USS Nilópolis - RJ 2012 Agradeço a tudo e todos que pertencem à minha vida e que alguma forma deu-me suporte para ser hoje uma pessoa melhor do fui ontem. AGRADECIMENTOS Ao Professor Alexandre Lopes pelo companheirismo, orientação, paciência e suporte às ideias do presente trabalho. Aos professores João Pereira e Gisele Roças pelas significativas observações, críticas construtivas e contribuições durante o processo de qualificação. Aos demais Professores do Mestrado Profissional em Ensino de ciências pelos valiosos reforços na minha formação. A Patricia Salcides pelo companheirismo e suporte ao longo de minha jornada. A amiga Fernanda Fonseca pela incrível contribuição no produto educacional, sem ela não seria possível dar vida às ideias criadas. A todos os presentes no IFRJ-Nilópolis que acreditaram e compreenderam a minha passagem pela instituição. A todos os amigos que fazem da vida uma experiência edificante. Aos meus pais por todo o suporte e vida. “Eu escrevo minhas emoções para ver o que há dentro de mim” (Michael Kiske) PRATA, L. A. Novas analogias no Ensino de Física: Eletrostática. 85 p. Dissertação. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Nilópolis, Nilópolis, RJ, 2012. RESUMO A utilização de analogias no ensino de Física é um assunto controverso entre os pesquisadores de ensino de ciências. Sendo assim uma estratégia de dois gumes, por uma parte facilita a pesquisa adentro do desconhecido e por outro, devido à variedade de fenômenos e natureza, as analogias estão fadadas a apresentar limitações em algum ponto. Com o intuito de aproximar os referenciais teóricos da disciplina de Física ao cotidiano dos estudantes, faremos uma comparação social dos fenômenos físicos, incluindo o elemento humano para facilitar a compreensão dos mesmos. E é exatamente o que um professor busca para melhorar suas aulas. Assim, pretendemos discutir a utilidade prática desta metodologia no sentido pedagógico, pois o diálogo entre a ‘realidade’ social e a ‘realidade’ física, é uma ferramenta poderosa e controversa nos processos de ensino-aprendizagem. Com isso, podemos também adicionar elementos lúdicos para tornar as analogias uma referência da vida cotidiana, como sugere os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). A concatenação do elemento lúdico com as concepções prévias dos estudantes em uma aula de Física é potencialmente vantajosa aos professores, tornando as introduções aos conceitos mais do que uma simples brincadeira, ou seja, num resgate do cotidiano social servindo como guia para o conhecimento científico. O elemento motivador é tão importante quanto o assunto a ser trabalhado em aula e uma aplicação pedagógica a partir da observação da analogia de Ampère. O diferencial do nosso trabalho aponta que ao se utilizar de algum aspecto emocional ou social nas analogias, estas ficam potencialmente para a posterioridade da sala de aula, mesclando o prazer de aprender com a necessidade de almejar novos conhecimentos. Palavras-chave: Analogias, Eletricidade, Ensino de Física. PRATA, L. A. Novas analogias no Ensino de Física: Eletrostática. 85 p. Dissertação. Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino de Ciências, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Nilópolis, Nilópolis, RJ, 2012. ABSTRACT The use of analogies in teaching physics is a controversial issue among researchers of science education. Thus a two-edged strategy, on one hand makes it easy to search inside the unknown and the other due to the variety and nature of phenomena, analogies are bound to have limitations at some point. In order to approximate the theoretical discipline of Physics to the everyday lives of students, will make a social comparison of physical phenomena, including the human element to facilitate the understanding of them. And that is exactly what a teacher seeking to improve their classes. Thus, we intend to discuss the practical utility of this methodology in the pedagogical sense, once the dialogue between the social 'reality' and physical 'reality' is a powerful and controversial in the teaching-learning process. With this, we can also add ludic elements to make the analogies from a reference of everyday life, as suggested by the National Curriculum (PCN). The concatenation of ludic element with the preconceptions of students in a physics class is potentially beneficial to teachers, making introductions to concepts rather than a mere play, but in a rescue of everyday social life serving as a guide to scientific knowledge. The motivating factor is as important as the subject to be worked in class and a pedagogical application from the observation of the analogy of Ampère. The differential of our work shows that by using some aspect of social or emotional in analogies, they are potentially for posterity the classroom, combining the pleasure of learning with the need to aspire to new knowledge. Keywords: Analogies, Electricity, Teaching of Physics. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 3.1 Relações construídas numa analogia. ..................................................................... 31 Figura 3.2 Experiência sugerida por Galileu Galilei. .................................................................. 44 Figura 3.3 Elementos e suas combinações, segundo John Dalton. .......................................... 45 Figura 3.4 Modelo atômico ‘pudim de ameixas’ de Thompson. ................................................. 46 Figura 3.5 Modelo atômico ‘planetário’ de Rutherford. .............................................................. 46 Figura 3.6 Modelo atômico ‘planetário’ de Bohr. ....................................................................... 47 Figura 3.7 Princípio da equivalência de Einstein. ...................................................................... 47 Figura 3.8 Tabela periódica dos elementos químicos de Mendeleev. ....................................... 48 Figura 3.9 Árvore da vida de Darwin. ........................................................................................ 49 LISTA DE QUADROS Quadro 2.1 Aspectos a serem considerados por professores que buscam inovações .............. 25 Quadro 3.1 Termos empregados por alguns autores aos conceitos comparados em uma analogia. ................................................................................................................................... 32 Quadro 3.2 Conceituações de tipos de comparações. .............................................................. 33 Quadro 3.3 Critérios de classificação de apresentações analógicas baseado em CURTIS e REIGELUTH (1984). ................................................................................................................. 35 Quadro 3.4 Resumos das classificações das analogias........................................................... 38 Quadro 3.5 Resumo dos exemplos apresentados de analogias utilizadas por grandes cientistas em suas descobertas ................................................................................................ 50 Quadro 3.6 Vantagens e Desvantagens das analogias segundo Nagem et al (2003). .............. 51 Quadro 3.7 Potencialidades e Dificuldades das analogias segundo Duarte (2005)................... 52 Quadro 4.1 Conteúdo programático de Física para Ensino Médio do IFRJ-Nilópolis em 2010.. 61 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12 2 PROPÓSITOS E OBJETIVOS DO TRABALHO ............................................................... 23 2.1 2.2 3 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 26 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................... 26 SOBRE O USO DE ANALOGIAS ..................................................................................... 27 3.1 BUSCANDO UM CONSENSO.................................................................................... 31 3.2 DIFERENÇAS ENTRE CONCEITOS DE COMPARAÇÕES ....................................... 32 3.3 CLASSIFICAÇÃO DAS ANALOGIAS ......................................................................... 33 3.4 RELEVÂNCIAS DAS ANALOGIAS ............................................................................. 39 3.5 ANALOGIAS NA CIÊNCIA.......................................................................................... 42 3.6 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO USO DE ANALOGIAS.......................................... 50 3.7 ANALOGIAS E APRENDIZAGEM .............................................................................. 52 3.8 ENSINANDO POR ANALOGIAS ................................................................................ 54 3.8.1 GMAT – Modelo geral de ensino por analogia (general model of analogy teaching) ........................................................................................................................... 55 3.8.2 TWA – Ensinado com analogias (teaching with analogies) .................................. 56 3.8.3 MECA – Modelo de ensino com analogias .......................................................... 57 4 METODOLOGIA ............................................................................................................... 60 5 ANALOGIAS UTILIZADAS DURANTE AS AULAS REGENCIAIS .................................. 64 6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................. 70 6.1 O QUESTIONÁRIO .................................................................................................... 70 6.1.1 1ª Parte – Concepções sobre analogias .............................................................. 71 6.1.2 2ª Parte – Analogias sugeridas em aula .............................................................. 73 6.2 CONCEPÇÕES DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AOS CONTEÚDOS ABORDADOS .. 76 7 CONCLUSÕES ................................................................................................................. 78 8 REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 82 ANEXO 1 - QUESTIONÁRIO .................................................................................................... 87 1 INTRODUÇÃO Though I cannot change the world we're living in, I can always change myself (Andi Deris) Quando um professor decide por adotar alguma técnica de ensino, esse provavelmente está preocupado em tornar o seu trabalho mais prazeroso, eficiente e gratificante. Um professor preocupado com o ensino deveria ter como objetivo transformar o entorno de sua realidade. Dessa forma, o professor deve estar sempre à procura de meios que acrescente às suas aulas tudo aquilo que lhe for possível, a partir de suas experiências, subsídios que potencializem seu discurso. O professor que almeja contribuir com a sociedade deve ter uma noção do poder que possa a vir exercer sobre a formação e crescimento dos jovens. Devido à necessidade de trabalhar precocemente, muitos jovens não dispõem de oportunidades para simplesmente tentarem continuar os seus estudos, como sugere os Parâmetros Curriculares Nacionais (2000), devido às diversas precariedades em suas formações de ensino fundamental e médio. Isto é um problema que levanta uma questão central no papel do professor de ciências: como ser útil para conduzir os alunos à compreensão das ciências? É um fato que atualmente existe um grande desinteresse dos jovens pela ciência, e especialmente com a Física. Problema este que é a motivação do presente trabalho, visto que a Física é uma disciplina que a grande maioria das pessoas não sente afinidade nenhuma e até certa repulsão. Talvez esse fato ocorra devido à forma como venha sendo constantemente apresentada e cobrada na escola. Buscando tornar inteligível uma disciplina que apresenta muita matemática e definições prontas para pessoas que geralmente ignoram ambas, o presente trabalho pretende aproximar os valores pessoais aos conceitos físicos para demonstrar aos alunos que eles podem compreender aquelas que em geral, são curtas definições dos livros e apostilas de Física se houvesse algo a mais para se identificar, chamar a atenção, ou até quem sabe associar afetivamente. Assim, buscamos alguns conceitos análogos em suas vidas que correspondessem àquilo que eles buscavam compreender sem muito sucesso na escola. Sem imaginar que o estudo acerca das analogias no ensino era uma área de consideráveis publicações, o estudo se predispõe a criar algumas analogias próprias que convergem os conceitos científicos com algo que tenha significado real, sem se preocupar muito com as técnicas que envolviam suas aplicações, importando somente a visualização e entendimento dos alunos diante daquilo que é um verdadeiro desafio para eles. Com isso, pode-se adicionar elementos lúdicos para tornar as analogias uma referência da vida cotidiana, o que permite render bons frutos do ponto de vista pedagógico, por se utilizar do 12 cotidiano dos educandos, proporcionando para o professor uma sensação de dever cumprido ao se desmistificar aquela disciplina indecifrável que parece ser a Física. Mesmo que as analogias sejam apresentadas apenas nas introduções dos temas a serem abordados, possuem um potencial efeito duradouro para poder se trabalhar os conteúdos com uma maior atenção e participação conseguintemente. Percebemos então que a linguagem do cotidiano é um caminho para alcançar a cognição dos estudantes e pode ser uma marca registrada na prática pedagógica de um professor que busca alcançar todos os alunos, principalmente àqueles alunos que possuem dificuldades diversas. A linguagem desta forma é mais acessível ao estudante no início das explanações dos professores. Mas, todavia, lembremos que o aluno também tem o dever de se adequar à linguagem científica após o aprendizado. Pois a linguagem científica é universal. As analogias e elementos lúdicos estão presentes como artifícios pedagógicos com uma finalidade distinta: transmitir o conhecimento. Tais características apontam para o conceito de aprendizagem significativa de Ausubel (1968), que de acordo com Moreira (1999), a aprendizagem significativa é um processo onde uma nova informação relaciona-se com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo, ou seja, a nova informação para ser assimilada, decorre dos conhecimentos prévios do indivíduo. Esse processo busca alguma relação entre as informações que o indivíduo dispõe com outra estrutura de conhecimento nova para ele, de onde ele possa retirar semelhanças com a sua visão de mundo. A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação amarra-se em conceitos ou proposições relevantes, pré-existentes na estrutura cognitiva do aprendiz. Já Silva e Terrazzan (2011, p.4) apontam como características da aprendizagem significativa: a) esforço deliberado para relacionar os novos conhecimentos com conhecimentos já existentes na estrutura cognitiva; b) orientação para aprendizagens relacionadas com experiências, fatos ou objetos; c) envolvimento afetivo para relacionar os novos conhecimentos com aprendizagens anteriores. Percebemos também que existe um grande obstáculo a sobrepor nesta observação acerca de qualquer prática pedagógica atual, que é lidar com a grande falta de interesse em geral dos estudantes. Um dos primordiais desafios do professor moderno é exatamente conquistar os alunos perante este quadro apresentado pelos estudantes acerca dos estudos. É neste ponto que a proposta do presente trabalho busca contribuir, fornecendo alguns elementos que podem adicionar no discurso motivador do professor. Podemos perceber algo neste sentido na análise de Varela em 2006 apresentada por Rigolon (2008, p.14): 13 [...] a maioria dos alunos mostrou desempenho insuficiente nas questões objetivas do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio – de 2002, indicando terem terminado o Ensino Médio sem estar devidamente capacitados e preparados para a continuidade de seus estudos ou exercício de atividade profissional. A Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura (UNESCO) e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgaram o resultado de um estudo comparativo mundial focado na área da educação. O Brasil apresentou um desempenho lamentável. Nas provas de Ciências, os brasileiros ficaram em quadragésimo lugar, entre os 41 países pesquisados. Recentemente, foram divulgados os resultados da última avaliação da OCDE e o que se vê é que a situação continua a mesma, estagnada. Dentre 57 países pesquisados desta vez, o Brasil ficou na lastimável 52ª colocação. O autor também ressalva que a escola tem tornado a ciência em algo distante dos alunos, na qual a sua aplicação não existe no cotidiano dos alunos, sendo restrita somente a situações científicas propostas na escola. Arnay afirma que: A aprendizagem formal, entre outras coisas, tenta transformar a maneira como habitualmente se situa a análise das dimensões intermediárias da realidade e situar quem aprende diante dos processos de indagação sobre dimensões às quais não se pode ter acesso sem instrumentos técnicos adequados (ARNAY, 1998, p.38). Além dos problemas de análise, o supracitado autor também ressalva que: O que é ensinado nas escolas está afastado do cotidiano dos alunos porque não está previsto que sua obtenção sirva de ação e reflexão na vida cotidiana. O conhecimento escolar teria de abranger o conhecimento cotidiano para que os alunos tivessem a oportunidade de aprofundar seu pensamento de um conhecimento popular até transformá-lo em um conhecimento escolar (ARNAY, Apud RIGOLON, 2008, p. 14-15). Rigolon e Obara (2010, p.4) parecem concordar como as ideias de Mortimer, sobre a linguagem em ensino de ciências: A própria linguagem científica tem de superar seu discurso neutro, frio, atemporal e imutável e se aproximar mais das formas discursivas mais dinâmicas da nova ciência dos sistemas complexos e também da linguagem cotidiana [...] a partir do diálogo entre o conhecimento científico e cotidiano, na sala de aula, abre‐se a possibilidade do aluno ou aluna perceber que qualquer forma de conhecimento é dinâmica e ao mesmo tempo parcial. Através dessa fala, podemos analisar que os alunos de hoje não possuem a mesma visão de mundo que se tinha algum tempo atrás, onde funcionavam bem outras práticas pedagógicas. Nesse cenário, podemos acrescentar que as analogias: ...na perspectiva educacional, mais especificamente na perspectiva da educação em ciências (portanto a perspectiva que estamos adotando), são ferramentas de uso frequente no processo de construção das noções científicas, estabelecendo relações entre sistemas distintos. Ou seja, um sistema conceitual científico e um sistema conceitual mais familiar. Os conceitos científicos considerados pelos alunos um tanto “indigestos” são mais facilmente compreendidos com o uso destes recursos que tornam os conceitos mais “palatáveis”. Sendo sistemas conceituais diferenciados é evidente que “alvo” e “análogo” são de diferente natureza e portanto é 14 preciso ter cuidado na hora de avaliar os tipos de semelhanças e diferenças entre “alvo” e “análogo” (FERRAZ e TERRAZZAN, 2001, p.3). Com isso, sua utilização no ensino de ciências é de extrema utilidade, particularmente no ensino de Física, onde concentraremos as nossas observações. Entretanto, o interesse pelas disciplinas científicas vem se tornado cada vez mais reduzido, o que é uma situação contraditória se considerarmos que a nossa sociedade moderna é totalmente dependente das tecnologias, e a facilidade do acesso à informação parece não seduzir os estudantes como se esperava pelo progresso adquirido pela humanidade. No caso particular da Física, temos aulas sobre as teorias do século passado com as técnicas pedagógicas do século passado. E como observa Moreira (2000), a aprendizagem significativa engloba o confronto entre o novo conhecimento e o conhecimento prévio, dando um especial destaque ao conhecimento prévio, que pode ser a variável que mais influencia na aprendizagem, pois o conhecimento prévio é a base da estrutura cognitiva. Partindo desta premissa, o conhecimento prévio não acadêmico, está certamente atrelado à afetividade. Lembrando que no senso comum confunde-se afetividade com emoção, que são conceitos distintos. Podemos entender a definição de afetividade como um: ...conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre de impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou de tristeza. (CODO & GAZZOTTI, 1999, p. 48-59). Apesar das teorias modernas constituírem a base da tecnologia atual, a atualidade não está presente na maioria dos discursos das aulas de Física, como observamos neste trecho de Pereira e Aguiar (2006): Sabemos que a física é uma disciplina escolar pouco atraente para a maioria dos alunos. O desinteresse pelo estudo de física não resulta da falta de sua aplicação no cotidiano do aluno, pois ela está presente, por exemplo, no funcionamento de aparelhos eletrônicos existentes na maioria dos lares brasileiros. Também não se pode alegar que é uma que se reflete na má qualidade do ensino brasileiro exige, portanto, revisão das práticas pedagógicas (PEREIRA e AGUIAR, 2006, p. 66). Confrontando duas principais ideias, percebemos que o uso de analogias é uma prática inerente à teoria da aprendizagem significativa, porque ambas partem de conhecimentos prévios dos alunos para se alcançar novos conhecimentos. Considerando esse problema, as teorias pedagógicas atuais em geral incentivam o enfrentamento das grandes dificuldades ao construir o conhecimento junto com seus alunos de maneira prazerosa, contextualizada e funcional. De acordo com a tradição, a Física é percebida em geral pelos professores como uma disciplina com um alto grau de dificuldade para ser assimilada pelos estudantes e com isso os mesmos apresentam como resposta desinteresse e problemas com aprendizagem dos conteúdos ministrados. As aulas 15 puramente expositivas são criticadas pela sociedade acadêmica, mas nas condições que os professores enfrentam diariamente para seguir sua vocação, podemos dizer que uma melhoria em sua exposição já seria uma grande contribuição. E se há uma exigência para que os professores dinamizem mais suas aulas, a criatividade pode ser um aliado nessa luta em despertar o interesse dos educandos (ALVES e STACHAK, 2005). É uma exigência imperativa de que as aulas sejam dinâmicas, criativas e contemplem a experimentação, mas convivemos com uma escassez de recursos didáticos suficientes para tal inovação no ensino de ciências. Ainda concordando com os autores Alves e Stachak (2005), atentamos para um problema que assola a maioria dos professores de Física: Atualmente, o ensino é visto como um objeto abstrato, longe da realidade dos alunos, o qual gera um desinteresse total pelo trabalho escolar. Os alunos preocupam-se apenas com a nota e com a promoção, os assuntos estudados são logo esquecidos e aumentam os problemas de disciplina. Isso agrava também aos professores refletindo-se diretamente no aumento da problemática que se enfrenta no ensino médio. Alunos cada vez mais desinteressados estão bloqueados, o raciocínio lógico não foi desenvolvido de uma maneira satisfatória, e aí o problema se agrava (ALVES e STACHAK, 2005, p.2). Pensando no assunto, podemos aceitar que esse desinteresse acaba sendo um aspecto generalizado, porém ele não é causado somente pelas aulas serem exclusivamente expositivas, e é algo trazido de fora da sala de aula. Assim, é muito comum ouvirmos dos estudantes após uma aula qualquer de um assunto novo ao ser introduzido em sala: “Professor, não entendi nada”. Infelizmente, arriscamos afirmar que todo professor de Física já ouviu esta frase na íntegra ao longo de sua carreira. Outro comentário muito ouvido pelos professores de Física que tentam facilitar a linguagem para o melhor entendimento da disciplina é: “Até que o professor é legal, mas a sua matéria que é muito chata”. Então como resgatar o interesse e a motivação em aula, sem estar em dissonância com o conteúdo da Física? É possível tornar as aulas de Física mais interessantes e com significado real para a realidade dos nossos estudantes atuais? É possível construir meios e propor uma intervenção pedagógica que interfira positivamente para a aprendizagem da Física? Apontamos aqui as analogias introdutórias aos temas das aulas como uma possível contribuição para a solução dos referidos problemas apresentados até agora. Não estamos afirmando que os problemas de desinteresse e baixo rendimento escolar estejam projetados somente nos professores e como eles atuam, sabemos também que com a prática pedagógica nem sempre os alunos se comportam como aspirantes a detentores do conhecimento, mas evidenciamos que estes problemas possuem uma dimensão muito maior e mais grave, e que dificilmente será resolvido exclusivamente dentro das salas de aula. Sobre estes problemas centrais, Silva (2004, p.4) analisa: 16 O problema fundamental está no efetivar um processo educativo centrado nas ações do sujeito, nas perturbações produzidas pelo exame de situações práticas, de maneira a se obter as bases para as ultrapassagens conceituais relevantes. De nada adianta desenvolver em sala de aula um formalismo, seja matemático ou lógico, de um determinado problema, se este não se constitui enquanto problema para o estudante. Não se pode esperar superação em suas concepções alternativas se os estudantes engajados no processo de aprendizagem não estão, de fato, envolvidos no construir e questionar suas hipóteses. É necessário que se sintam seduzidos pelo que lhes é apresentado, que encontrem significação a partir das atividades desenvolvidas, para que possam compreender os enunciados científicos e a construção da própria ciência. Logo, as concepções prévias dos educandos possuem um papel importante na aquisição de novos conhecimentos, e uma vez que o mundo moderno é rico e extenso em informação, nem sempre as informações mais integradas com a educação formal são mais sedutoras para os estudantes. A combinação do elemento lúdico com as concepções prévias dos estudantes numa aula de Física é potencialmente útil aos professores de Física, tornando as introduções aos conteúdos mais do que uma simples brincadeira, é um resgate do cotidiano social servindo como guia para o conhecimento científico. O elemento motivador é tão importante quanto o assunto a ser trabalhado em aula. Não é e nem deve ser a pretensão de nenhum professor seduzir todos para sua área de interesse, mas podemos utilizar a ludicidade como uma ferramenta de aprendizagem, e não controlar e influenciar nos interesses dos alunos. Silva (2004, p.3) complementa que: O que está em pauta é o interesse do estudante enquanto propulsor da aprendizagem. E esse interesse se manifesta a partir da ação, permitindo a construção de significados que põem o objeto para o sujeito. Não há como descartar a afetividade no trabalho escolar e nem nos processos cognitivos. Não há desenvolvimento cognitivo se o sujeito não se envolve com o objeto. Entendemos como lúdico uma palavra originária do latim ludus e significa brincar. Estando inclusos nessa definição os jogos, brinquedos e divertimentos em geral. É inerente e fundamental ainda a conduta daquele que joga, brinca e se diverte. Assim, podemos dizer que o emprego educativo do lúdico é uma ferramenta importante que possibilita a aprendizagem, saber, conhecimento e compreensão de mundo do indivíduo (TEIXEIRA, ROCHA e SILVA, 2010). Abrangem em sua concepção os seguintes critérios: a função de literalidade e não-literalidade, os novos signos linguísticos que se estabelecem com regras bem definidas, a flexibilidade a partir de novas combinações de idéias e comportamentos, a ausência de pressão no ambiente, ajuda na aprendizagem de noções e habilidades, favorecendo o ensino de conteúdos escolares e como recurso para motivação no ensino às necessidades do educando e estimulando o desejo de pensar sobre (SANTOS e JESUS, 2010). O lúdico é registrado como parte integrante dos processos de desenvolvimento humanos, podendo ser percebido como um componente desencadeador de situações que permitem a interrelação dos processos e mecanismos necessários à construção do 17 conhecimento e constituem relações entre a atividade prática de conhecer um objeto e a sua apropriação do mesmo em um sistema de relação lógica que pertence ao sujeito (OLIVEIRA e BAZON, 2009). Por outro lado, os processos afetivos na relação professor-aluno estão diretamente associados à aprendizagem, motivação e a utilização do lúdico. Segundo Andrade (2007, p.4), a afetividade pode ser também conceituada a partir da Psicanálise como: ...o conjunto de fenômenos psíquicos manifestados sob a forma de emoções ou sentimentos e acompanhados da impressão de prazer ou dor, satisfação ou insatisfação, agrado ou desagrado, alegria ou tristeza; e afeto, o termo que a psicanálise foi buscar na terminologia psicológica alemã, exprime qualquer estado afetivo, penoso ou desagradável, vago ou qualificado, quer se apresente sob a forma de uma descarga maciça, quer como tonalidade geral. Segundo Freud, toda pulsão se exprime nos dois registros, do afeto e da representação. O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações. Piaget em 1954 considerou que a afetividade não modifica a estrutura no funcionamento da inteligência, contudo é a energia que impulsiona a ação de aprender (ANDRADE, 2007). Ele também em 1967 escreveu que “a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função das interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas” (PIAGET, 1973). Outra consideração importante é de Wallon, que “defende que a emoção é o primeiro e mais forte vínculo entre os indivíduos” (TASSONI, 2000). Os conflitos afetivos detêm uma importância ímpar no desenvolvimento das escolhas que nortearam a evolução psicológica de um indivíduo: A interação social que se estabelece no ambiente escolar também está associada à afetividade e contribui para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, porque este passa a ser constantemente afrontado com diferentes pontos e passa a ser influenciado pela escala de valores que o seu grupo adota. Destas interações sociais se originará a função que cada um desempenhará socialmente (ANDRADE, 2007, p.33). A autora ainda esclarece sobre o papel do professor ao lidar com a afetividade: O professor precisa estabelecer uma relação afetiva com os alunos e que perceba que como indivíduo, seus alunos também têm algo a oferecer e que a aprendizagem se faz por intermédio das interações que são estabelecidas. O professor oferece por meio de suas atitudes, uma série de informações ao aluno que irão contribuir na formação de seu autoconceito. Portanto, as expectativas que o professor tem para com seu aluno poderão contribuir sobre seu desempenho. O aluno que tem suas características valorizadas pelo professor, tende a acentuá-las cada vez mais, enquanto aquele que se sente rejeitado ou discriminado tende a se afastar da situação e acaba por ver as expectativas negativas do professor confirmadas (ANDRADE, 2007, p.34). Assim, ressaltamos que a relação do ensino com a afetividade é uma propriedade que não deve ser descartada na prática pedagógica de um educador, como observa Panizzi (2004, p.2): 18 Falar de afetividade e aprendizagem é falar da essência da vida humana, que por sua natureza social, se constrói na relação do sujeito com os outros sujeitos, num contexto de inter-relações. Cada ser particular relaciona-se com outro num processo de desenvolvimento singular, delineado nas relações sociais. Organiza seu comportamento frente às situações com as quais se depara no seu dia-a-dia, cujo processo realiza-se com base na natureza biológica e cultural que caracteriza o comportamento humano, constituindo assim, a história do sujeito. Consequentemente, vários questionamentos nos fazem analisar se as aulas de Física realmente possuem um caráter significativo, de acordo com os aspectos tratados pelo papel do lúdico e da afetividade no ensino. Assim, resumimos nas análises de Andrade (2007, p.24) acerca da aprendizagem significativa, que podemos assumir na teoria da assimilação três condições imprescindíveis para que o aluno possa alcançar a aprendizagem significativa: ...a necessidade de que o material novo a ser aprendido seja potencialmente significativo do ponto de vista lógico, tenha estrutura e organização internas e que não seja arbitrário; o aluno deve contar com conhecimentos prévios pertinentes que possa relacionar de forma substancial com o novo que tem de aprender e por último, é necessário que o aluno queira aprender de modo significativo. É nesse contexto que identificamos o professor como mediador para uma aprendizagem significativa, através de sua influencia pela afetividade em todo processo de apropriação do conhecimento. Numa visão mais holística da prática pedagógica, a afetividade pode ser uma grande aliada para o discurso do professor em suas aulas, Dell’Agli e Brenelli (2006, p.32) afirmam que: A ação, seja ela qual for, necessita de instrumentos fornecidos pela inteligência para alcançar um objetivo, uma meta, mas é necessário o desejo, ou seja, algo que mobiliza o sujeito em direção a este objetivo e isso corresponde à afetividade. Uma importante contribuição para a aceitação dos fatores afetivos na prática pedagógica alcançaram um novo patamar com a implementação dos parâmetros curriculares nacionais (PCN), assim: As variáveis afetivas tiveram seu impulso com a publicação dos PCN em 1997, mostrando que os aspectos emocionais e afetivos são tão importantes quanto os cognitivos. Dessa forma, o educador necessita estar atento e tornar o ensino contextualizado promovendo a aprendizagem significativa. É ainda nos PCN (1997, p.93) que encontramos a declaração de que devemos potencializar a disponibilidade do educando para a aprendizagem significativa, já que o educando “precisa tomar para si à necessidade e a vontade de aprender” (MATTOS, 2008, p.50). Ainda de acordo com os estudos da autora: “vivemos uma cultura que desvaloriza as emoções, e não vemos o entrelaçamento cotidiano entre razão e emoção, que constitui o viver humano, e não nos damos conta de que todo sistema racional tem um 19 fundamento emocional”. Portanto, entendemos que existe uma relação entre afetividade e racionalidade dentro da sala de aula (MATURANA Apud MATTOS, 2008, p.50). Uma aposta com potenciais chances de sucesso para o ensino de Física seria a mescla de afetividade e analogia na introdução de conceitos físicos, apelando para o cotidiano do estudante numa esfera emocional, mas ao mesmo tempo buscando análogos para os fenômenos físicos, assim aproximando natureza e convivência. E também salientamos que se constitui uma primordial a relação entre afetividade e a construção do conhecimento, assim como a contextualização desse conhecimento na cultura do educando, transforma significativamente o mesmo é possível através do discurso do professor. Aprender a aprender é uma capacidade de intervenção ativa e de mediação entre as situações ocorridas externamente e as atitudes desenvolvidas pelo educando. Ensinar a pensar é proporcionar o desenvolvimento de habilidades que provoquem a utilização do conhecimento em busca da transformação da realidade. Estimular a criatividade leva ao movimento do pensamento, em uma busca dialógica com a descoberta, no exercício de perseguir o saber, via imaginação, intuição e emoção (MATTOS, 2007. p.51). Contudo, segundo Goulart (2008), para se promover um ensino de Física com enfoque conceitual que resgate a exploração de ideias e não somente o arcabouço matemático operacionalizado por equações, é constatado a importância fundamental da utilização de analogias. Na prática pedagógica almejar-se-á uma apresentação dos conceitos de forma mais atraente e eficiente que torne o conteúdo curricular mais fácil de lidar, dentro de uma abordagem cotidiana e afetiva, despontando relações diretas entre o mundo físico e o comportamento humano, que possa permitir a evolução constante do estudante a partir de um processo de reflexão, transformação e assim propiciar a apropriação do conhecimento. A autora toca também num ponto chave que angustia os professores de Física, é o fato de observamos frequentemente um ensino de Física praticamente mecânico, onde os conceitos e ideias são perdidos ou ocultados por trás de equações. Fato que pode acontecer devido à insegurança dos professores com o questionamento das leis, que quase sempre são aceitas em vez de discutidas, prática que infelizmente é transpassada posteriormente aos alunos. Vale ressaltar que a capacidade de aprender está relacionada à capacidade de imaginar (ORTONY, 1975), o que remete às seguintes questões: há criações e/ou utilizações adequadas das analogias aplicadas no ensino de Física? E mesmo que elas sejam adequadas, do ponto de vista conceitual, são satisfatórias o bastante para despertar o interesse do educando? Um estilo menos rígido e mais expressivo no ensino de Física depende das relações entre o sujeito cognoscente e o ‘objeto’ do aprendizado. 20 Todavia, buscaremos evidenciar de que este procedimento de aproximar as analogias com as relações sociais e afetivas dos estudantes torne o ensino mais eficiente. O presente estudo pretende mostrar que é eficaz em sala de aula a analogia quando se é aplicada com uma característica comportamental ou cultural do que com um fenômeno físico encontrado na natureza. Na tentativa de concretizar situações ou conceitos abstratos, por mais que o esforço seja louvável, nada parece assegurar que o ânimo seja despertado apesar da visualização das situações envolvidas. Tentando responder a estas dificuldades e questionamentos que o presente trabalho se lança à busca de acrescentar um pouco de afetividade nas analogias a serem trabalhadas e associadas no ensino de um tópico de Física do ensino médio que possui um alto grau de abstração, que é a o caso da eletrostática. Com o objetivo de ser mais um subsídio aos professores de Física que buscam mais alternativas e recursos no seu discurso pedagógico, alicerçado no cotidiano e nas experiências afetivas para construir o conhecimento, o presente trabalho apontará alguns exemplos que podem ser úteis aos professores de Física que se interessarem em utilizar analogias em seus discursos introdutórios aos conceitos mais abstratos da ciência. Mas ressaltamos aqui que a ciência é por si mesma fruto da abstração, e por mais que utilizemos recursos pedagógicos para melhor visualizar a sua totalidade, o estudante deve compreender que as analogias e demais recursos devem ser abandonados na evolução do pensamento humano, pois sem este salto, estaríamos ainda, por exemplo, aprimorando a vela e nunca alcançaríamos a lâmpada elétrica. O presente trabalho é apresentado em sete capítulos, que decorrem desde um levantamento bibliográfico acerca das analogias até as próprias utilizadas em sala de aula, e sequencialmente é realizada uma pesquisa de campo, de natureza qualitativa e caráter exploratório, com alunos do ensino médio da educação básica a fim de investigar como as apontadas comparações são interpretadas. Concluindo, a presente introdução revela a motivação inicial para a escrita deste trabalho, discutindo a contextualização do problema das dificuldades gerais dos estudantes com a disciplina de Física, e foi dedicada à explicitação dos elementos e referenciais do trabalho, onde as analogias aqui propostas seguem as orientações do contexto social, com o único objetivo de dinamizar as explanações em sala de aula, potencializando o aprendizado. O segundo capítulo evidencia os propósitos e objetivos do presente trabalho, destacando a importância das analogias e sua compatibilidade com as propostas pedagógicas presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). 21 O terceiro capítulo constitui uma revisão e coletânea bibliográfica de conceitos referentes às analogias, desde o seu significado literal até as considerações centrais, relevâncias, classificações, vantagens e limitações, e principais modelos de estratégias com analogias no ensino de ciências, constituindo o primeiro capítulo teórico do trabalho em si. No quarto capítulo nos destinamos em fundamentar os procedimentos metodológicos desenvolvidos em nossa pesquisa empírica, cujo objetivo era, além de se investigar o conhecimento que um determinado grupo de estudantes do ensino médio tinha acerca de algumas analogias trabalhadas nas aulas de eletrostática, tornar o aprendizado mais prazeroso, a partir das experiências pessoais e vivências dos estudantes, principalmente no que tange às afetividades, aproveitando o interesse em sentir, com a necessidade de aprender. O quinto capítulo constitui o elemento principal do presente trabalho, pois se trata da apresentação das analogias criadas, desenvolvidas e trabalhadas em sala de aula para a pesquisa, sendo assim, foi alocado separadamente da metodologia, por se tratar do elemento de contribuição do presente trabalho, não sendo ainda trabalhado ou apresentado em nenhum outro material didático ou publicado. E da mesma maneira que foi bem aceita pelos alunos envolvidos na pesquisa, pode-se constituir em mais um recurso para a prática pedagógica no ensino de ciências. No sexto capítulo demonstramos os resultados decorrentes do nosso estudo bibliográfico, a partir das considerações acerca dos modelos de raciocínio analógico de forma geral e também os apresentados com vistas na proposta a partir das interações sociais, e principalmente sobre as impressões dos estudantes acerca dos aspectos relacionados a este tipo de raciocínio com o objetivo didático. O sétimo e último elemento a ser evidenciado é dedicado às conclusões do trabalho, onde a possibilidade desta prática pedagógica é apontada como uma ferramenta alternativa à disposição do professor que se interessar e julgar pertinente aproveitar as abordagens criativas para enriquecer as aulas de eletrostática em Física, que geralmente são préconceituadas como complicadas e desestimulantes aos olhos dos jovens atuais. A partir de como os estudantes investigados interpretaram determinadas comparações propostas em nossa pesquisa de campo, retomamos algumas das questões básicas do nosso trabalho e erguemos outras indagações pertinentes, apontando novas perspectivas em torno desta temática. 22 2 PROPÓSITOS E OBJETIVOS DO TRABALHO O assunto a ser tratado na presente dissertação é a utilização de analogias trabalhadas sob o prisma das relações sociais, que basicamente pretende utilizar as analogias para os sistemas físicos aproveitando-se de um caráter afetivo para inserir o aluno na descrição que está sendo desenvolvida. Para tal adotaremos a denominação de analogias sociais (PRATA, OLIVEIRA e SIQUEIRA-BATISTA, 2011) no ensino de Física, propondo-se a uma personificação de conceitos e fenômenos físicos para uma melhor compreensão de certos conteúdos da disciplina em sala de aula. Corroborando com Vigotsky (Apud Barreto, 2001) podemos analisar que o individuo se desenvolve no meio social e nele forma seu sistema de representações do real. A nossa proposta convém principalmente para que o estudante possa identificar que o elo entre professor e aluno crie convicções sobre alguns conceitos e valores essenciais que permitem avançar e suportar as adversidades que o aluno possui com a disciplina de Física. O tema escolhido para desenvolver as analogias sociais é a eletrostática, a qual é abordada geralmente no terceiro ano do ensino médio e possui um alto grau de abstração. Mas no caso do presente trabalho, os estudantes envolvidos na pesquisa estão no quarto período, o que equivale ao segundo ano do ensino médio tradicional, por se tratar de um curso técnico. Logo, neste trabalho, será apresentada uma proposta pedagógica de se estabelecer analogias entre o cotidiano – as relações das pessoas, seus dramas e desafios diários – e os conceitos físicos da eletrostática, personalizando as entidades físicas presentes nas teorias e nos exercícios, utilizando-se, neste âmbito, elementos da cognição afetiva para estabelecer novos canais de assimilação dos conteúdos. A ideia do trabalho é assumir os riscos das limitações e dificuldades ao introduzir analogias de cunho social em função do entendimento do estudante, haja vista as dificuldades encontradas nos modelos tradicionais de ensino, nos quais muitos docentes são formados tornando-se meros reprodutores das linguagens tecnicistas. Como observa Bachelard (1996): Os livros de física, que há meio século são cuidadosamente copiados uns dos outros, fornecem aos alunos uma ciência socializada, imóvel, que, graças à estranha persistência do programa dos exames universitários, chega a passar como natural; mas não é; já não é natural (BACHELARD, 1996, p. 30). Desde então, algum progresso já foi observado nas estruturas dos livros didáticos, principalmente a partir da implementação dos PCN, onde a modernidade está presente associada com o cotidiano, mas a prática pedagógica ainda está absorvendo tais ideais. O professor de ciências de formação geral do ensino médio muitas vezes se sente escravizado nessa situação, vendo-se obrigado a trabalhar em função de objetivos que se transformam 23 rapidamente, podendo até não concordar com alguns deles. Mas também não podemos nos esquecer que esse contexto também pode facilitar o “comodismo” de se trabalhar sem questionar as determinações superiores de sua rotina, ocasionando uma acomodação nas práticas cristalizadas e ultrapassadas adicionadas pelo conhecido discurso de que “nada podemos fazer” (MARTINS, 2005). Diversos autores discutem a utilização de analogias e metáforas para a construção do conhecimento em sala de aula, preocupados com suas possíveis utilizações e abordagens e com os seus efeitos na educação e atentos à modernização das abordagens sugeridas nos PCN, segundo Moreira (1997): [...] a aprendizagem do aluno é tanto mais significativa quanto maior for sua capacidade de modelar. Física é uma ciência de modelos a modelagem é uma atividade sistemática dos físicos para construir e aplicar o conhecimento científico. Aprender Física implica, então, aprender a jogar o jogo da modelagem (MOREIRA, 1997, p.28). É importante também salientarmos aqui que as metáforas são diferentes das analogias, apesar de muitos autores considerarem sinônimos em seus textos. A Metáfora, termo de origem grega, denota mudança, transposição. É, em particular, uma comparação implícita. Ela versa em utilizar uma determinada palavra em lugar de outra, porque a imaginação institui uma relação entre ambas, percebendo uma zona de intersecção de significados. Destarte, a metáfora é uma comparação implícita entre dois domínios. Parte-se da hipótese de que um dos domínios é considerado familiar ou veículo ao interlocutor, a partir do qual se procura estabelecer semelhanças com outro domínio, considerado desconhecido ou alvo. Os elementos de comparação não são identificados de forma explícita. Uma das principais características da metáfora é o anseio de se dizer alguma coisa, para entender ou significar outra. A metáfora faz parte do cotidiano de todos nós, é uma linguagem que empregamos para explicar fatos do dia-a-dia. (OLIVEIRA, 2005). Já as analogias possuem um caráter mais matemático, de proporcionalidade, que faz uso das semelhanças genéricas entre dois significados, servindo como veículos para o raciocínio matemático, pois facilitam a compreensão de significados através de uma comparação mais sistemática. No cotidiano, empregamos analogias para explicar ou identificar alguma coisa, com expressões do tipo: parece com; é como se fosse; imagine que; suponha que. Avaliamos as analogias como uma comparação explícita entre dois domínios. Parte-se do pressuposto de que um dos domínios seja considerado familiar ou veículo, a partir do qual se procura constituir semelhanças com o outro domínio, considerado desconhecido ou alvo (OLIVEIRA, 2005). Nesse contexto, os Parâmetros Curriculares Nacionais para Ensino Médio (PCNEM+) apontam um ensino de Física com um novo sentido e estratégias, valorizando o cotidiano dos alunos: 24 Para que todo o processo de conhecimento possa fazer sentido para os jovens, é imprescindível que ele seja instaurado por meio de um diálogo constante entre alunos e professores, mediado pelo conhecimento. E isso somente será possível se estiverem sendo considerados objetos, coisas e fenômenos que façam parte do universo vivencial do aluno, seja próximo, como carros, lâmpadas ou televisões, seja parte de seu imaginário, como viagens espaciais, naves, estrelas ou o Universo. Assim, devem ser contempladas sempre estratégias que contribuam para esse diálogo. [...] Todas essas estratégias reforçam a necessidade de considerar o mundo em que o jovem está inserido, não somente através do reconhecimento de seu cotidiano enquanto objeto de estudo, mas também de todas as dimensões culturais, sociais e tecnológicas que podem ser por ele vivenciadas na cidade ou região em que vive (BRASIL, 2002, p. 83). Carvalho e Gil-Pérez (1998) apontam nove aspectos a serem considerados pelos professores que buscam as inovações, como podemos observar no quadro 2.1: Quadro 2.1 Aspectos a serem considerados por professores que buscam inovações Aspectos Comentários Ruptura com visões simplistas sobre o ensino de Modernidade e educação devem dialogar ciências Conhecer a matéria a ser ensinada Óbvio para um educador Questionar as idéias docentes de “senso comum” As dificuldades na formação e subsistência na sobre o ensino e aprendizagem das ciências profissão são responsáveis pela defasagem do profissional Adquirir conhecimentos teóricos sobre a Pré-requisito básico para a formação inicial do aprendizagem das ciências professor Saber analisar criticamente o “ensino tradicional” O confronto com os novos objetivos da educação está claro nos PCN Saber preparar atividades capazes de gerar uma Novas estratégias são apoiadas, mas pouco aprendizagem efetiva exemplificadas Saber dirigir o trabalho dos alunos As visões de mundo devem ser consideradas Saber avaliar Qualitativamente e quantitativamente Adquirir a formação necessária para associar Passo conseguinte para o professor pesquisador ensino e pesquisa didática FONTE: CARVALHO e GIL-PÉREZ, (1998, p. 5). Entretanto, devemos observar que o abuso com o uso das analogias pode reforçar as concepções indevidas dos estudantes: Estudos mostram que um conceito já ensinado não pode ser usado como um análogo, porque os estudantes frequentemente conservam concepções equivocadas que os tornam incapazes de compreender a analogia. Por isso não parece haver dúvida de que o raciocínio analógico frequentemente não será capaz de remediar as concepções equivocadas dos estudantes, mas, ao contrário, poderá sustentá-las (NAGEM et al., 2003, p.7). 25 Seguindo o raciocínio de Nagem, Rigolon e Obara (2009, p.5) complementam sobre a relação das analogias e a memorização: No intuito de auxiliar o professor no que se refere à contextualização dos conteúdos científicos, a proposta de utilização de analogias dentro de uma metodologia própria permite um redimensionamento do papel atribuído à memória no entendimento e assimilação de conceitos, na medida em que a observação, a reflexão e o raciocínio analógico podem substituir, em parte, a atividade de memorização do aluno. Para contemplar as observações descritas, objetiva-se alcançar os seguintes objetivos: 2.1 OBJETIVO GERAL Apresentar as analogias sociais (PRATA, OLIVEIRA e SIQUEIRA-BATISTA, 2011) como uma alternativa na prática pedagógica dos professores de Física, para um processo ensino-aprendizagem mais significativo. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Realizar levantamentos bibliográficos com as seguintes palavras-chave: analogias e ensino de Física. Verificando quais analogias são normalmente elaboradas e/ou utilizadas nas aulas regenciais, antes da intervenção pedagógica propriamente dita. b) Elaborar e desenvolver uma intervenção pedagógica para os estudantes de formação geral do ensino médio sobre o uso sistematizado das analogias sociais como recurso didático. c) Avaliar as aulas ministradas com o método proposto em relação às aulas tradicionais de Física, abrangendo a compreensão dos estudantes e a dinâmica da técnica através de questionários pós-teste. d) Elaborar um livreto (apostila) em estilo de romance voltado para os estudantes com sugestões da estratégia analogias sociais inseridos no conto como produto educacional da pesquisa. 26 3 SOBRE O USO DE ANALOGIAS O raciocínio humano se baseia em algo conhecido, nos elementos já pertinentes à estrutura cognitiva do sujeito. Nós julgamos os novos elementos aos quais somos expostos, por meio de analogias à nossa experiência acumulada até então, nós usamos o arcabouço cognitivo que já possuímos para lidar com dados novos, portanto o tratamento dessas novas informações vai ser elaborado nas relações que o sujeito estabelecer entre elas e sua estrutura cognitiva atual, e um dos mecanismos de construção dessas relações é o uso de analogias (GOULART, 2008, p.27). Reunimos neste capítulo os principais aspectos sobre o uso de analogias, bem como alguns conceitos sobre o tema, existente na literatura, e a busca de consenso acerca do mesmo tema; diferenças entre conceitos de comparações; classificações das analogias; assim como sua relevância no ensino; analogias na ciência; vantagens e limitações do uso das analogias, a relação das analogias com a aprendizagem e os métodos formais de ensino por analogias. É importante ter em mente que as diversas vertentes para as definições e funções associadas às analogias podem influenciar no aspecto da pesquisa, e assim é importante esclarecer qual será o caminho a ser seguido nesta gama de definições e considerações acerca das analogias. Assim, possuímos várias hipóteses acerca do início da utilização das analogias pelo ser humano, em cada momento da humanidade, esse conceito parece ter uma específica função. Torna-se evidente, então, que o pensamento humano funciona e evolui através do uso de analogias e modelos para a compreensão de algo. Francisco Junior (2010) relata que quando o primeiro homem das cavernas alcançou um fruto por meio de um galho, o qual funcionara como uma extensão do seu braço, repetindo o ato em seguida, já se caracterizava o uso de um conhecimento na adaptação a novas situações, portanto, a base do conhecimento analógico surgia. Corroborando com Pádua (2003): Basicamente o processo analógico ocorre de forma espontânea na cognição humana, a fim de expressar tanto conceitos mais difíceis e complexos quanto aqueles mais fáceis, além de ser utilizado desde a Antigüidade como recurso para diferentes formas de expressão de sentimentos, pensamentos e até da personalidade (PÁDUA, 2003. p. 2). No tocante à linguagem, segundo Nagem et al (2003), constitui-se uma legítima criação do espírito pelo qual o ser pode expressar a si mesmo. Desse pensamento, é razoável compreender a importância e longevidade da utilização de analogias para a construção do conhecimento, pois a expressão de si mesmo buscará sempre formas de se manifestar socialmente para a divulgação da essência do pensamento. Percebemos esta necessidade de comunicação desde os primórdios da comunicação humana. Ao almejar uma definição mais literal do conceito de analogias, de acordo com Santos (1990), significa 27 concomitantemente: “Ana = de acordo com, segundo; Logos = razão”. Consequentemente, segundo uma razão. Já no sentido mais prático utilizado originalmente empregado pelos gregos significa proporcional. Platão foi o primeiro pensador que aplicou a palavra analogia (αναλογια) para destacar a igualdade de relações em meio às quatro formas básicas do conhecimento – episteme e dianóia; pistis e eikasia (PLATÃO, 1987). Ainda nessa análise, Aristóteles também emprega a expressão no sentido de igualdade de relações (ARISTÓTELES, 1996). A analogia tem instituído, a partir de então, um recurso de importância fundamental para os teóricos da argumentação, sejam filósofos, cientistas ou professores, atualmente sendo reconhecidos em dois significados básicos: 1º o sentido próprio e restrito, extraído do uso matemático (equivalente à proporção) de igualdade de relações; 2º o sentido de extensão provável do conhecimento mediante o uso de semelhanças genéricas que se podem aduzir entre situações diversas. No primeiro significado, o termo foi empregado por Platão e por Aristóteles e até hoje é empregado pela lógica e pela ciência. No segundo significado, o termo foi e é empregado na filosofia moderna e contemporânea. O uso medieval do termo é intermediário, entre um e outro significado (ABBAGNANO, 2003. p. 55; grifo do autor). Como consequência, segundo essa definição, a concepção de analogia deriva-se de um conceito matemático que significava “proporção” para a contextura de uma relação que é assimilada a outra relação garantindo uma similaridade de correlações com a intenção de esclarecer, estruturar e avaliar o desconhecido a partir do que se conhece (DUARTE, 2005). Para ilustrar tal pensamento, Santos (1998) aponta em Aristóteles, em sua obra Poética, uma analogia que se refere à vida como o passar dos dias no seguinte esquema: Velhice Tarde Vida Dia O mesmo autor também cita uma passagem de Theotetos, de Platão, onde Sócrates compara o armazenamento de novos conhecimentos ao encarceramento de "pássaros" na "gaiola" da mente. Quando buscamos uma explicitação deste pensamento, apropriando-se das idéias redigidas pelo próprio Platão (1973) em sua obra Timeu, podemos abranger a importância das analogias no estabelecimento de modelos mentais: Mas não é possível que dois termos sozinhos se combinem belamente sem um terceiro, pois se requer que no meio de ambos haja algum vínculo que os conecte. Bem, o mais belo dos vínculos é aquele que faz de si mesmo e dos termos por ele vinculados a maior unidade possível, e a proporção (analogia) é por natureza o que leva a cabo isto de maneira perfeita (PLATÃO, 1973, p. 11). 28 Já ao consultar o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, encontramos as seguintes definições para o conceito de analogia: s.f. qualidade, estado ou condição de análogo 1 relação ou semelhança entre coisas ou fatos [...] 3 p.ext. FIL na filosofia grega de tendência matematizante, identidade de relação entre pares de conceitos dessemelhantes (exemplificada pela proposição platônica: “a inteligência está para a opinião assim como a ciência está para a crença”) [...] 5 p.ext. (da acp.4) FIL esp. na filosofia moderna, processo efetuado através da passagem de asserções facilmente verificáveis para outras de difícil constatação, realizando uma extensão ou generalização probabilística do conhecimento 6 p.ext. FIL o mesmo processo cognitivo transportado para a ciência moderna (como, p.ex., na analogia entre o raio e a centelha elétrica formulada por Benjamin Franklin [1706-1790]) 7 correspondência que pode ser estabelecida entre fenômenos cuja física é distinta, mas cujas grandezas são descritas por funções matemáticas que possuem propriedades semelhantes ou idênticas 9 [...] por a. segundo as relações de semelhança existentes entre coisas ou fatos <raciocinar por a.> ETIM lat. „proporção, relação, simetria, semelhança, conformidade, t. de GRAM analogia‟ <gr. analogía,as „proporção matemática, correspondência‟, de análogos,os,on „proporcional, que está em relação com, análogo‟; [...] (HOUAISS, 2001, p.202, grifos nossos). Definições que corroboram com o Dicionário Popular Matemático, que define o termo analogia como: A analogia é uma comunidade de relações entre dois ou mais sistemas de objetos que são comparados ou também uma relação de semelhança entre duas ou mais coisas. A analogia penetra em nosso pensar, em nosso vocabulário cotidiano e ainda em nossas conclusões triviais bem como em forma artística de se expressar e nos grandes logros científicos. É aqui que a analogia apresenta diversos níveis, segundo a educação de cada qual por qual muitas vezes a gente usa conceitos vagos, ambíguos ou incompletos, mas do ponto de vista Matemática tem que possuir a precisão científica. Desempenha grande papel na solução dos problemas, pois ao encontrar a maneira de resolver um caso similar ou análogo, facilmente se pode aplicar o raciocínio encontrado e chegar à resposta procurada. Os objetos análogos estabelecem certas relações, como um retângulo e um paralelepípedo retangular, cujas relações dos lados da primeira são semelhantes aos do segundo (MIRANDA, 1978, p. 14) De um modo geral, são encontradas na literatura muitas definições para o termo. Selecionamos assim, algumas que se destacam perante o objetivo do trabalho. Segundo Mol (1999), “o conceito de analogia é amplo e utilizado por diferentes autores com significado distinto”. Oliva (2003), de forma bastante objetiva, define analogias simplesmente como comparações entre noções – conceitos, princípios, leis, fenômenos, etc – que mantêm certa semelhança entre si. Outra definição, no mínimo interessante, é a de Aulete (1974): “analogia é o processo pelo qual o espírito, observando as relações e semelhanças das coisas, se eleva ao descobrimento da razão dessas relações e semelhanças”. (FERRY, 2008, p. 32). Já Venville (1994) apresenta a seguinte definição para analogia: A correspondência de algumas características entre conceitos, princípios ou fórmulas que são por si só diferentes. Mais precisamente, é um 29 mapeamento entre características similares de dois conceitos, princípios ou fórmulas (VENVILLE Apud FERRY, 2008, p. 32). Para outros autores, a analogia é entendida como um processo cognitivo que envolve uma comparação explícita entre duas “coisas”, uma definição de informação nova em termos já familiares (NEWBEY, 1987 apud DUARTE, 2005). E uma definição muito citada em revisões sobre o assunto é de Duit (1991) que considera a analogia uma relação entre partes comuns das estruturas de dois domínios, comparando explicitamente as estruturas mediante um modelo. Similarmente, Harrison e Treagust (1993) definem a analogia como uma comparação baseada em similaridades entre estruturas de dois domínios diferentes, um conhecido e outro desconhecido. Outro argumento importante é cedido por Dagher (1995): as analogias referem-se a instâncias nas quais alguns domínios menos familiares se fazem compreensíveis pelo aparecimento de relações de similaridades com um domínio mais familiar (FRANCISCO JÚNIOR, 2010). A analogia então, podemos sintetizar, é uma estreita relação de comparações entre um conceito o alvo e o outro análogo, onde se busca uma equivalência de relações e características similares entre ambos. Essa trilha de correlações é definida por González (2005) como “trama de relações” ou “relação analógica”. Desta forma, Rigolon (2008) sintetiza as investigações de Duit (1991), González (2005) e tantos outros pesquisadores permitindo que sejam feitas as seguintes afirmações sobre a relação analógica: Entre o análogo e o alvo existe uma clara afinidade, ou certa semelhança estrutural. Ou seja, a estrutura básica dos elementos relacionados obedece a uma mesma ordem, comportamento ou propriedade. Na analogia, ocorre muitas vezes permuta de conhecimento tanto do alvo para o análogo como no sentido inverso. Assim, muitas vezes os conceitos se complementam. Os mecanismos constituintes tanto do análogo quanto do alvo podem ser representadas e apresentadas através de esquemas. As semelhanças estruturais permitem que os esquemas exemplifiquem as correlações de forma didática e de fácil percepção. Os esquemas podem também serem apresentados na forma de fluxogramas, quadros-resumo, figuras etc. Assim, o autor completa que a analogia pode ser concebida como um processo no qual, mediante a comparação entre o alvo e o análogo, uma correspondência de relações é estabelecida entre as características similares de ambos (RIGOLON, 2008). E são exatamente estas relações que são exploradas como artifício didático para transportar ideias, conceitos, esquemas, visões e abstrações que não são perceptíveis em uma primeira estância. 30 Assim, podemos perceber que as analogias sempre estiveram presentes na cognição humana, admiradas pela sua fertilidade e poder de visualização de novas ideias, porém muitos não a examinam com a devida importância. Por parecer uma linha de raciocínio óbvia na formação de hipóteses, não as celebramos dignamente (BUNGE, 2007). 3.1 BUSCANDO UM CONSENSO Desde então, por um longo período de tempo as analogias foram utilizadas para a construção de novas ideias devido a sua capacidade de trazer à tona as figuras mentais que auxiliam a transferência de conhecimento de um domínio conhecido para outro desconhecido (FRANCISCO JÚNIOR, 2010). Avaliando a generalização de tal argumento, é possível compreender o porquê de diversos autores utilizarem variadas terminologias e definições quanto aos conceitos de uma analogia. De uma forma geral, encontramos na literatura as seguintes formas de relacionar as analogias: Figura 3.1 Relações construídas numa analogia. FONTE: RIGOLON, 2008. Com isso, alguns dos principais e pioneiros autores sobre o assunto utilizam as denominações apresentadas no quadro seguinte. 31 Quadro 3.1 Termos empregados por alguns autores aos conceitos comparados em uma analogia. Conceito desconhecido Conceito conhecido Autor Tópico Veículo Curtis e Reigeluth (1984) Alvo Análogo Duit (1991) Domínio não familiar Domínio familiar Harrison e Treagust (1993) Alvo Análogo Venville, Bryer e Treagust (1994) Domínio menos familiar Domínio mais familiar Dagher (1995) Alvo Fonte Borges (1997) Branco Análogo Otero (1997) FONTE: FRANCISCO JÚNIOR, 2010. Com essa abrangente variedade terminológica associada à analogia, apresenta-se uma falta de consenso existente entre diversos pesquisadores (DUARTE, 2005). O uso do termo alvo para o objeto desconhecido tem um elevado consenso, mas também pode ser encontrado como tópico, meta ou objeto. Já o domínio conhecido não é tão consensual sendo denominado por muitos outros autores como foro, base, veículo, análogo, entre outros (RIGOLON, 2008). No presente trabalho, optou-se normatizá-los por alvo e análogo. 3.2 DIFERENÇAS ENTRE CONCEITOS DE COMPARAÇÕES Além das diversas definições para analogias, também é importante salientar que muitos autores na literatura científica não distinguem muito bem os conceitos de analogias, metáforas e modelos (MOL, 1999). Observamos que em todos os casos em que analogias são utilizadas, um conceito une todos os significados: a comparação. Assim, segundo Duarte (2005), comumente podemos perceber que o termo analogia é utilizado de maneira indistinta com metáfora, modelo, símile, exemplo e outros. Dagher (1995), por exemplo, não distingue modelo, metáfora e símile, conotando-os, junto com a analogia, numa família de similaridades (RIGOLON, 2008). Goulart (2008, p.29) se apropriando das definições de Mol (1999) situa as diferenças entre os conceitos: Comparação é o ato de confrontar dois conceitos, com o objetivo de elucidar um conceito em estudo (alvo) através de características semelhantes a outro conceito (domínio). (Grifo nosso) Nunes (2010) descreve as diferenciações propostas por Mol (1999) em forma de quadro. A comparação pode ser classificada quanto ao tipo de relação, e subdividida quanto à forma de apresentação: 32 Quadro 3.2 Conceituações de tipos de comparações. FONTE: NUNES 2010 Rigolon (2008) alerta que é algo trabalhoso diferenciar adequadamente o significado de cada termo, porém é uma atitude correta para que não aconteçam confusões no momento de se explicitar um determinado assunto ou conteúdo. Muitos professores utilizam as analogias em sua prática pedagógica rotineira, mas devido à própria função do educador, que consiste em traduzir informações para os estudantes, acaba internalizando as analogias na categoria de exemplo, o que para nossos objetivos no presente trabalho, gera um agente complicador, pois cada tipo de comparação possui uma dimensão de aprofundamento e vínculos. Muitos trabalhos na área de ensino alertam sobre as diferenças e utilidades entre metáforas e analogias, e outros por sua vez ignoram tais substanciais diferenças. Cada momento pedagógico requer uma estrutura ou outra, devendo ao professor o papel de durante o preparar da sua aula, identificar o meio mais adequado a utilizar. 3.3 CLASSIFICAÇÃO DAS ANALOGIAS Diversos autores organizam e classificam os tipos de analogias usadas em suas pesquisas com a intenção melhor organizar e compreender as estruturas e modelos inerentes apresentadas pelos professores em sua prática pedagógica. Na presente análise, procuramos identificar e caracterizar alguns aspectos centrais das classificações das analogias. As analogias podem ser estudadas ou mesmo elaboradas de acordo com a sua classificação, portanto, é conveniente registrar quais são as principais classificações existentes e significativas para o presente trabalho. Na vasta literatura sobre o 33 assunto de analogias, destacamos como principais formas de classificações as propostas de Ferraz e Terrazzan (2001), que dividem as analogias a partir do seu nível de organização; e de Nagem (2003) onde as classificações ocorrem de acordo com a natureza do domínio analógico. Assim, Ferraz e Terrazzan (2001) construíram um conjunto de nove categorias que dizem respeito ao nível de organização das analogias utilizadas pelos professores como ferramentas no processo de construção de noções científicas por aproximação de dois conceitos heterogêneos. O quadro 3 apresenta as nove categorias, a partir da interação com as referências de Curtis e Reigeluth (1984): 34 Quadro 3.3 Critérios de classificação de apresentações analógicas baseado em CURTIS e REIGELUTH (1984). FONTE: ZAMBON e TERRAZZAN, 2007. Apresentamos em seguida outras categorias de classificação que foram propostas por Nagem (2003): Estrutural Quando o objeto análogo pode ser correlacionado com o objeto alvo na sua própria forma, estrutura; Funcional Quando o objeto análogo pode ser correlacionado ao objeto alvo no seu funcionamento; Conceitual ou congelada Quando os termos já são utilizados há um bom tempo, questão de anos, não ocasionando nenhuma nova impressão ao leitor (congelada) ou quando os termos determinam o próprio fenômeno, ou seja, é avaliado como um sinônimo; Antrópica Quando os termos comunicam uma imagem de racionalidade, egocentrismo, conferindo aos objetos 35 ou fenômenos características próprias dos seres humanos; Quando os termos transmitem uma imagem de Zootrópica morfologia ou comportamento, atribuído aos animais; Quando os termos transmitem uma imagem de Fitotrópica morfologia ou comportamento, atribuído aos vegetais. Já Mol (1999) apresenta outra forma mais simples de classificar as analogias baseadas no estudo de Dagher (1995): São Analogias compostas comparações verbais assinaladas pelo emprego de mais de um domínio analógico para explicar o conceito alvo; São Analogias narrativas comparações verbais assinaladas pelo emprego da descrição ou narrativa de uma história; Analogias de procedimento São comparações emprego de verbais eventos assinaladas envolvendo pelo processos científicos com considerável presença do elemento humano; São Analogias periféricas comparações verbais assinaladas pelo acompanhamento de comparações menores e pontuais. Podemos ainda acrescentar duas propostas de classificação das analogias secundárias com base na literatura. Classificação pelo emprego de desenhos (THIELE e TREAGUST, 1992): Analogia verbal Aquela que é apresentada apenas verbalmente, onde os alunos têm de imaginar a situação analógica proposta. Analogia verbal-ilustrada É trabalhada a explicação verbal, complementada ou verbal-pictórica com o auxílio de desenhos no livro, em cartazes ou no quadro-negro ou usando modelos concretos. Analogia pictórica ilustrada ou Apenas utilizam os desenhos, representações, figura, esquema ou modelo para comunicar o conceito da analogia. É empregada bastante em 36 publicidades. Classificação como objetos de estudo (GONZÁLEZ, 2002): são os três tipos de analogias mais estudados nos últimos anos nas pesquisas educacionais: Analogias múltiplas São analogias que costumam comparar alguns resultados da aplicação de diferentes analogias para um mesmo domínio alvo. Analogias pictóricas São analogias estruturadas através de figuras para realizar a comparação. A maioria das desse tipo de analogia está presente nas figuras dos livros didáticos. Analogias de ponte São as analogias que funcionam como “ganchos cognitivos”. Essas analogias sempre ligam o conceito alvo com algum fenômeno ou conceito do cotidiano dos alunos. É a mais utilizada nas pesquisas de Psicopedagogia. Podemos então resumir as classificações apresentadas no seguinte quadro 3.4. 37 Ferraz e Terrazzan Quadro 3.4 Resumos das classificações das analogias. Thiele e Nagem Mol/Dagher Treaugust Gónzales Estruturais Estrutural Compostas Verbal Multiplas Funcionais Funcional Narrativas Verbal- Pictórica Pictóricas Verbal Conceitual De Procedimento Pictórica De ponte Pictórica Antrópica Periféricas Concreta Zootrópica Abstrata Filotrópica Simples Enriquecida Estendida Podemos observar através da comparação que as classificações propostas pelos autores são muito semelhantes, recorrendo às mesmas idéias, com no máximo alguma especificação de algum caso particular ou redução de categorias, inseridas dentro de um contexto mais global. Logo, por uma questão de maior especificação, adotamos as classificações propostas por Ferraz e Terrazzan, baseadas nos estudos de CURTIS e REIGELUTH (1984), por englobar as demais classificações em quesitos mais amplos e possuir maior poder de identificação acerca da analogia utilizada e por uma questão de consolidação na literatura. As três últimas categorias de Nagem (Antrópica, Zootrópica e Filotrópica) são muito específicas, e podem ser incorporadas na categoria Funcional. Já todas as categorias de Mol/Dagher são verbais, apenas detalhadas em casos particulares. E por fim, as categorias de Thiele e Treaugust e de Gónzales também estão incorporadas nas classificações de Ferraz e Terrazzan. Já para o caso específico da Física, Bunge (2007) simplifica as classificações analógicas para dois casos: Substancial, para semelhanças estruturais, como por exemplo, as ondas mecânicas na água e o som; e Formal, para semelhanças conceituais ou matemáticas, como no caso de campo gravitacional e elétrico. O autor defende que as analogias não são relações de equivalência e devem ser abandonadas conforme o amadurecimento da ciência. Porém não descarta o poder pedagógico das mesmas. Francisco Júnior (2010) lembra que outro critério para classificar as analogias pode ser em função do discurso do professor é a posição em que elas são utilizadas, ou seja, antes, durante ou depois da apresentação do conceito alvo. Desta maneira elas podem ser prestadas como organizador prévio (antes), embutido (durante) ou pós-sintetizador (depois). 38 3.4 RELEVÂNCIAS DAS ANALOGIAS Quando se faz qualquer tipo de comparação entre conceitos e ideias similares habitualmente, faz-se uma analogia. Este tipo de pensamento está tão trespassado na cultura humana, que definem diversas atividades diárias e científicas de maneira imperceptível e inconsciente sendo então, característicos da forma de pensar e agir de uma época (CORACINI, 1991). As analogias são essenciais ao desenvolvimento científico e permeiam todos os atos de explanações científicas utilizadas por um professor em sala de aula. As analogias têm o poder de tornar as coisas mais fáceis de entender, liberam o pensamento para algo maior, estimula e esclarece o pensar, cuja tarefa primordial é fazer o estranho parecer familiar (BARROS e ELIA, 2010). Assim, de acordo com Aristóteles (2000), as analogias colaboram para o desenvolvimento das ideias, da linguagem e da também da própria ciência, com implicações fundamentais no campo da educação científica. De forma geral, podemos dizer que a primordial importância da linguagem analógica consiste em promover a permutação do conhecimento de um domínio conceitual não familiar para outro mais familiar, fato este que concatena com sua própria definição. Esta característica se mostra muito útil na área de educação, onde pretende-se sempre melhorar a forma com que a informação e o conhecimento são transmitidos. Apreendemos esta disposição em diversos documentos oficiais de orientação curricular em todos os níveis de ensino, enfatizando-se, por exemplo, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior (licenciaturas), cujo texto aponta que: [...] o preparo inadequado dos professores cuja formação de modo geral, manteve predominantemente um formato tradicional, que não contempla muitas características consideradas na atualidade, como inerentes à atividade docente (BRASIL. Parecer CNE/CP nº9/2001, p.31). Partindo dessas conjecturas torna-se essencial, para a atuação de professores de ciências, a utilização de novas metodologias pedagógicas que permitam o desenvolvimento da capacidade criativa no processo ensino-aprendizagem. Nestes termos, a utilização de analogias e metáforas vem ganhando lugar de destaque – principalmente nas investigações dos pesquisadores em ensino de ciências –, visto que o uso apropriado destas estratégias pode auxiliar a abordagem de temáticas na esfera ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CTSA) (MOREIRA, 1986; ROCHA et al., 2005; SIQUEIRA-BATISTA et al., 2010), correlacionando-as a experiências vividas ou conhecidas pelos estudantes: Ao longo dos últimos anos, tem havido um crescente interesse dos pesquisadores em avaliar o uso de modelos, analogias e metáforas no ensino de Ciências. Entretanto, os trabalhos sobre as condições de produção dessas figuras de linguagem por professores ou alunos são ainda pouco estudados (Bozzeli e Nardi, 2006, p. 77). 39 Destacamos ainda a relevância da analogia no processo ensino-aprendizagem de temas complexos pela possibilidade que elas oferecem de ilustrar ou facilitar a compreensão de um domínio científico (alvo) a partir de um domínio familiar (análogo): Muitas pesquisas desenvolvidas na área de ensino em ciências procuram encontrar novas alternativas para o ensino. Uma destas alternativas é o uso de analogias como recurso didático. Muitos pesquisadores consideram que as analogias possuem um grande potencial didático, pois auxiliam os estudantes a compreender/entender conceitos/fenômenos/assuntos que são desconhecidos mediante relações de semelhança ou diferença estabelecidas com conceitos/fenômenos/assuntos que ele já conhece (Zambon e Terrazzan, 2007, p. 2). É importante assinalar que apesar de as analogias não serem novas estratégias utilizadas pelos cientistas, os autores consideram-nas novas no processo ensinoaprendizagem no sentido de haver sistematizações e estratégias para o seu uso em sala de aula. Os artigos selecionados a partir da revisão da literatura permitiram a identificação das seguintes idéias principais acerca da relevância do uso de analogias: a) O aprendizado da Física torna-se mais fácil e agradável se o estudo de um fenômeno novo for comparado a um fenômeno semelhante já conhecido (JORGE,1990). b) A analogia permite a compreensão conceitual, individual e social, pela obtenção de novos significados, promovendo, simultaneamente, o desenvolvimento das competências cognitivas (DUARTE, 2005). c) O uso de “análogos concretos” é bastante salutar, facultando que os alunos possam observar ou ter contato diretamente com o análogo, mapeando suas principais características (atributos) e fazendo correspondências às características do alvo (ZAMBON e TERRAZZAN, 2007). d) A relação dos conhecimentos físicos com as respectivas aplicações na esfera sociológica tem sido reconhecida como elemento importante no processo ensinoaprendizagem (MION e SUTIL, 2008), defendendo-se a ‘desnaturalização’ dos conceitos de ciências exatas em prol da construção um procedimento vivenciado: Compreendemos proposta educacional como sendo o resultado da vivência de um processo de problematização de conceitos e práticas (expresso em um quadro de conhecimentos veiculados e as atividades educacionais adequadas à sua discussão) e da pesquisa como princípio formativo, educativo e de trabalho (construção de conhecimento científicoeducacional). Isso implica a obtenção de uma rede conceitual, em que se visualizem os conhecimentos físicos reorganizados e hierarquizados, de acordo com discussão em torno de um fio condutor e respeitando as bases epistemológicas, sociológicas e metodológicas envolvidas (MION e SUTIL, p. 4). 40 e) A aprendizagem é uma construção, reconstrução e às vezes desconstrução de saberes. Romper com as analogias clássicas utilizadas no ensino de Física – e de ciências em geral – pressupõe uma reelaboração no modo de pensar do docente: A aprendizagem indica interações do organismo com o meio ambiente. São interações cognitivas, incorporadas na criação de um mundo interior (autocriando-se), entendendo-se a própria vida como um processo de cognição, de aprendizagem na sua sobrevivência e humanização (SANTOS, 2001, p. 68). f) Para que a aprendizagem seja significativa sugere-se uma relação escolar com as experiências anteriores dos alunos, permitindo a formulação e resolução de problemas que incentivam a construção do saber, estabelecendo diferentes tipos de relações entre fatos, objetos, acontecimentos, noções e conceitos, desencadeando modificações de comportamento e contribuindo para a utilização do que é aprendido em diferentes situações (RODRIGUES, et al., 2008). g) A linguagem, poderíamos afirmar, constitui uma autêntica criação do espírito mediante a qual o ser expressa a si mesmo. Há que considerar a questão do obstáculo epistemológico relacionado com as imagens, as analogias e as metáforas, entre outros, que podem ter grande implicação pedagógica. Quando o objetivo é compreender, fazer-se compreender e comunicar algo se pode constatar sucesso na utilização de analogias, metáforas ou imagens. Embora não se conheça muito bem como as atividades que envolvem o uso delas se processam no pensamento, algumas pesquisas apontam essas atividades como instrumentos de valor na construção dos conceitos científicos. Analogias e metáforas são constituintes do pensamento humano e não podemos negar que estão fortemente presentes em quase todas as atividades humanas: na pesquisa científica, no relato dos trabalhos científicos, nas atividades docentes, na expressão oral ou escrita, na divulgação e vulgarização de idéias e produtos (mídia), nos livros didáticos (NAGEM et al, 2003). Cabe enfim aos cientistas e professores reconhecer as esplêndidas dádivas que as analogias podem fazer para a construção e entendimento de teorias, mas também analisálas e expor o emprego não crítico na ciência, pois são apenas andaimes heurísticos que poderão estorvar o crescimento e amadurecimento das teorias em longo prazo, como ocorre hoje com a teoria quântica, que não consegue largar os conceitos análogos nas teorias solidificadas, como acontece na Física Quântica (BUNGE, 2007). 41 3.5 ANALOGIAS NA CIÊNCIA Considerando o pensamento analógico como uma forma de expressão da própria natureza humana, os avanços da humanidade, no sentido de apropriar-se de novos conhecimentos e valores, perpassam pelos limites da cognição. E é através dos significados anteriores que se projetam a visão futura para as novas hipóteses, experimentos e descobertas. Segundo Rigolon (2008), inicialmente as analogias e metáforas estavam restritas aos argumentos retóricos e às poesias. Atribuem-se a Aristóteles, no século IV a.C., as primeiras teorias sobre analogia e metáfora. Em duas grandes obras suas, “Retórica” e “Poética”, Aristóteles menciona aspectos comuns à oratória referindo-se aos desvios na linguagem comum que a tornam mais elaborada, como a metáfora. A analogia e a metáfora têm constituído desde então um recurso para os teóricos da argumentação. Assim, os pensadores empíricos vêem quase sempre, na analogia, apenas uma semelhança de qualidade menor, imperfeita, incerta. Seu único valor seria possibilitar a formulação de uma hipótese que seria verificada por indução. A concepção empirista da ciência não concede à analogia mais do que um papel heurístico; a analogia será eliminada e só permanecerão “os resultados das experiências que ela pode sugerir: o seu papel será de andaimes de uma casa em construção, que são retirados quando o edifício está terminado”. Logo, a analogia é interpretada como um guia de investigações empíricas, sendo posteriormente eliminada após ter exaurido seu papel. Como observa Duarte (2005), Faraday em 1845 escreve a um amigo uma carta onde expressa: Dificilmente pode imaginar como luto para utilizar as minhas ideias poéticas na descoberta de analogias e figuras remotas relativas à terra, ao sol e a toda a classe de objetos – porque acredito que é a forma verdadeira (corrigida pelo discernimento) de levar a cabo uma descoberta (DUARTE, 2005, p.2). Podemos perceber através dos estudos de Faraday, que ele foi um pioneiro em incluir seus pontos de vista para reformular a linguagem utilizada em suas observações e experimentos, principalmente na eletricidade, o uso das analogias o auxiliou a criar novos significados para os fenômenos físicos, como as nomenclaturas anodo e catodo, e a proposta da luz ser a união dos campos de natureza elétrica e magnética (BARROS e ELIA, 2010). Outro ponto importante a ser mencionado é que, frequentemente, psicólogos que estudam a criatividade, constataram que as analogias e metáforas são constantemente utilizadas por cientistas em suas descobertas. A origem dessa conclusão é o fato de muitos cientistas terem dito que obtiveram o “insight” ou a iluminação com a ajuda de uma analogia. Entretanto, os estudos nessa área são escassos (NAGEM et al, 2003). 42 Conscientes de que as analogias possuem vantagens e limitações para a ciência, Bunge (2007, p.271) sintetiza que: A analogia, então tem dois gumes. De uma parte, facilita a pesquisa no interior do desconhecido, encorajando-nos a estender tentativamente nosso conhecimento antecedente a um novo campo. De outra, se o mundo é variegado, então a analogia está condenada a exibir sua limitação em algum ponto, pois o que é radicalmente novo é precisamente o que não se pode explicar com plenitude em termos familiares. Este parece o caso das analogias que ajudaram a construir as teorias quânticas, particularmente as analogias da partícula e onda; elas parecem ter alcançado o seu ponto de ruptura faz muito tempo. No caso do ensino de Física, as analogias utilizadas pela maioria dos professores se referem a comparações de fenômenos naturais de comportamento semelhante. Nestes termos, muitos autores têm estudado as possibilidades e limites das analogias no ensino de Física, as quais ainda são muito redundantes a exemplos clássicos geralmente criados por grandes cientistas. Um caso clássico é lembrado por Duarte (2005) com Maxwell, o qual se utilizou do modelo do “circuito hidráulico” para explicar o “circuito elétrico”, destacando-se que esta analogia, se mantém há mais de cem anos em livros de texto, exatamente por se tratar de uma boa analogia e pertencer a um fato histórico na Física. Apesar de muitos autores concordarem com a utilização das analogias, poucas são realmente atualizadas ou reformuladas para alguns casos específicos em sala de aula, na dinâmica inicial para apresentação das teorias para os jovens de hoje. Tal é a situação do pudim de ameixas utilizado para explicar o modelo atômico de Thompson, como podemos perceber numa entrevista com um estudante de formação geral de ensino médio ao ser questionado sobre esta analogia: Seria familiar, vamos supor, se eu já tivesse comido ele, eu já comi pudim, mas não disso, então para mim não é familiar. Eu só conheço pudim de laranja, e outras coisas, mas de ameixas ou passas não para mim não é familiar porque eu nunca comi destas duas coisas, eu já comi pudim se fosse só o pudim assim tudo bem (SILVA, TERRAZZAN e GAZOLA, 2004, p.9). Porém, esse modelo atômico, apesar de ser reconhecido e identificado internacionalmente, garantindo a universalidade da ciência, se fosse desenvolvido atualmente em terras brasileiras, a analogia provavelmente apresentaria o átomo aos alunos através da comparação com um brigadeiro, já que o doce foi originado em terras brasileiras (e ignorando o a ordem cronológica, evidentemente), tal comparação teria somente o objetivo de facilitar a modelagem do conceito para os estudantes atuais. Alguns outros exemplos também podem recordar-nos acerca de alguns casos de analogias utilizadas pelos cientistas para fazerem-se entender de suas hipóteses e teorias, e seus potenciais didáticos: 43 a) Galileu Galilei provou que a terra se movia como uma pedra largada do topo de um mastro de um navio, com o próprio em movimento, cai aos pés do mastro, assim também, apesar da Terra estar em movimento, uma pedra largada da Torre de Pisa, por exemplo, tende a cair a seus pés. Isto é uma teoria que inspirou Isaac Newton futuramente a escrever a sua primeira lei da dinâmica. (SANTOS, 1998, p.17). Ou seja, a prática dessa experiência comprovou que a pedra, caía ao pé do mastro, estando o barco em movimento uniforme ou em repouso, analisando somente o movimento de queda da pedra. Como podemos observar na tirinha, apresentada na figura 2. Figura 3.2 Experiência sugerida por Galileu Galilei. FONTE: http://www.cbpf.br/~eduhq/html/aprenda_mais/jurema/ficha_relatividademov.htm (Acessado dia 14 de Outubro de 2011) b) Lavoisier, ao postular sua hipótese sobre a respiração como sendo uma troca de gases com o próprio ambiente, relacionou a respiração à combustão (SANTOS, 1998, p.17). c) Benjamim Franklin tenta também aplicar as experiências elétricas a partir da relação da esponja com a água. Para ele: ...a matéria comum é uma espécie de esponja para o fluido elétrico; A esponja não absorveria água se as partes da água não fossem menores que os poros da esponja; (...) enfim, a absorção seria muito rápida se em vez de atração, houvesse entre as partes da água uma mútua repulsão que concorresse com a atração da esponja. É exatamente o caso em que se encontra a matéria elétrica e a matéria comum (BACHELARD, 1996, p.95). d) O Físico Inglês John Dalton propôs em 1803 a sua teoria atômica conhecida como Modelo Bola de Bilhar, por considerar o átomo uma pequena esfera sólida e maciça, descartando a teoria dos quatro elementos de Aristóteles. Ele considerou o átomo sendo maciço, invisível, indestrutível e de massas específicas por elemento. Suas teorias proporcionaram um avanço fundamental na evolução do modelo atômico aceito hoje. Eis um exemplo de seus manuscritos: 44 Figura 3.3 Elementos e suas combinações, segundo John Dalton. FONTE: http://arquivosdoguile.blogspot.com.br/2008_04_01_archive.html (Acessado dia 20 de Maio de 2012) e) Em seu Primeiro Livro - A Treatise on the Motion of Vortex Rings (1883), Thomson “tentou explicar a natureza da matéria e suas propriedades elétricas e químicas sob o ponto de vista da hidrodinâmica e foi a primeira vez que Thomson dedicou atenção aos tubos de descarga (Thomson, 1985. p. 291). Assim, J. J. Thomson após seus experimentos com raios catódicos, descobriu a existência dos elétrons, e para corrigir o modelo atômico de Dalton (que também é uma analogia de átomo com uma esfera maciça, tipo uma bola de bilhar). Como observa Brown (2007): No início do século XX, Thomson argumentou que já que os elétrons compreendiam apenas uma pequena fração da massa de um átomo, eles provavelmente seriam responsáveis por uma fração igualmente pequena do tamanho do átomo. Ele propôs que o átomo consistia em uma esfera positiva uniforme de matéria, na qual os elétrons estavam incrustados... Esse modelo, chamado de modelo ‘pudim de ameixa’ (sobremesa típica da Inglaterra – plum-pudding), nome dado em homenagem a uma tradicional sobremesa inglesa, teve uma vida muito curta (BROWN et al, 2007. p. 35). Uma representação comparativa desse modelo é indicada a seguir: 45 Figura 3.4 Modelo atômico ‘pudim de ameixas’ de Thompson. FONTES: http://www.kutl.kyushuu.ac.jp/seminar/MicroWorld1_E/Part2_E/P24_E/Thomson_model_E.htm e http://www.middleschoolchemistry.com/atomsworld/2011/12/wide-open-spaces/ (Acessado dia 20 de Maio de 2012) f) Rutherford também se aproveitou da analogia do sistema solar para explicar como a partir de suas observações, o núcleo atômico se comportaria como o sol em nosso sistema solar, sendo orbitado pelos elétrons (SILVA e TERRAZZAN, 2005). Como podemos observar no clássico esquema: Figura 3.5 Modelo atômico ‘planetário’ de Rutherford. FONTE: http://enciclopediavirtual.vilabol.uol.com.br/quimica/atomistica/evolucaodosmodelos.html (Acessado dia 25 de Outubro de 2011) g) Já no modelo atômico de Bohr os níveis de energia dos elétrons seriam semelhantes a livros distribuídos e organizados em prateleiras de uma estante ou possuindo apenas algumas órbitas distintas no modelo de Rutherford. Como assinalado na imagem: 46 Figura 3.6 Modelo atômico ‘planetário’ de Bohr. FONTE: http://www.rc.unesp.br/igce/fisica/lem/bibliofisicos/bohr.htm (Acessado dia 25 de Outubro de 2011) h) Na teoria da relatividade geral, há uma equivalência entre a gravidade e a inércia. As leis da Física são as mesmas, seja em um referencial em queda livre em um campo gravitacional ou em um referencial inercial livre da ação de um campo gravitacional. Einstein idealizou um edifício com um elevador em queda livre. Dentro do elevador, uma pessoa, não poderia distinguir se o elevador está em repouso no campo gravitacional da Terra ou está acelerado no espaço com a mesma aceleração da gravidade da Terra livre de forças externas (NAGEM et al, 2003). A figura nos mostra uma ideia do exemplo: Figura 3.7 Princípio da equivalência de Einstein. FONTE: http://www.if.ufrgs.br/~thaisa/cosmologia/cosmo2_corr_8_files/image070.jpg (Acessado dia 25 de Outubro de 2011, tradução nossa) i) Mendeleev expôs a lei periódica e construiu a tabela periódica em 1869. Com ela ajustou alguns pesos atômicos de alguns elementos e previu três novos elementos a partir de espaços vazios em sua tabela e que, mais tarde, foram descobertos, elementos estes que sucederiam o boro, o alumínio e o silício. Para designá-los, Mendeleev adotou o 47 prefixo sânscrito eka, que significa primeiro, chamando-os, respectivamente eka-boro, ekaalumínio e eka-silício. Ele utilizou 63 cartões, escrevendo os nomes e as propriedades químicas dos elementos. Parece presumível que ele tenha usado um jogo de baralho como uma analogia (NAGEM et al, 2003). Figura 3.8 Tabela periódica dos elementos químicos de Mendeleev. FONTE: http://www.conteudoglobal.com/cultura/tabela_periodica/index.asp?action=classificacoes_periodicas_ elementos_antigas&nome=Classifica%E7%F5es+Peri%F3dicas+dos+Elementos+Antigas (Acessado dia 25 de Outubro de 2011) j) Darwin fez uma comparação das linhas evolutivas das espécies com as ramificações de um galho de árvore em sua “árvore da vida”, sendo essa a principal metáfora de “A Origem das Espécies”. Os parentescos mais longínquos ou recentes de todos os seres de uma classe têm sido abundantemente representados por meio de uma árvore. Acredita-se que essa analogia represente mais do que uma simples metáfora, sendo então verdadeiramente útil. Os galhos verdes e jovens podem simular as espécies mais recentes. Aqueles produzidos nos tempos passados podem representar a longa sequência de espécies extintas. A cada período de crescimento, todos os galhos buscam se expandir em todas as direções possíveis, cobrir e eliminar os outros galhos (NAGEM et al, 2003). 48 Figura 3.9 Árvore da vida de Darwin. FONTE: http://mavit.kabunzo.com/2009/02/12/darwin-e-a-arvore-da-vida/ (Acessado dia 02 de Novembro de 2011) No quadro 4 sintetizamos as 10 analogias descritas acima. 49 Quadro 3.5 Resumo dos exemplos apresentados de analogias utilizadas por grandes cientistas em suas descobertas Cientista Alvo Analogia Galileu Galilei Movimento da Terra Lançamento Horizontal Lavoisier Respiração Combustão Benjamin Franklin Corrente Elétrica Água na Esponja Dalton Átomo Bola de bilhar Thompson Átomo Pudim de Passas Rutherford Átomo Sistema solar Bohr Níveis de Energia dos Elétrons Livros em prateleiras Einstein Gravidade Inércia Mendeleev Tabela Periódica Cartas de Baralho Darwin Classes de Espécies Galhos de Árvores Embora a ciência positivista reconheça o papel heurístico das analogias no fornecimento de hipóteses, acreditava-se que só a linguagem literal era adequada e empiricamente respeitável para a caracterização empírica da realidade (DUARTE, 2005). No entanto, a Nova Filosofia da Ciência admite uma nova lógica da construção do conhecimento científico, na qual estão inseridos elementos psicológicos e sociológicos. As analogias podem ser utilizadas, seguindo a nova filosofia científica, na produção de ciências, desde que tomadas às devidas precauções (RIGOLON, 2008). 3.6 VANTAGENS E LIMITAÇÕES DO USO DE ANALOGIAS Tão importante quanto o potencial facilitador das analogias no ensino e na pesquisa é o fato de as mesmas terem a capacidade de dispersar o pensamento em relação ao conceito alvo. Tal observação é o ponto chave das mais duras críticas perante o uso de analogias como recurso didático. Logo é de supra importância que se deixe bem claro as limitações, diferenças e perigos ao trabalhar com este recurso. Outra vantagem é o estímulo ao pensamento concreto a partir de algo abstrato ou não-familiar ao estudante. O pensamento concreto implica muitos vínculos, que podem ser imediatamente satisfeitos numa explanação, sem reflexão prévia. Sendo também um modo básico de operação do pensamento humano, o pensamento concreto utiliza as analogias como base da linguagem 50 nas comunicações em geral entre professor, o aluno e o novo conhecimento a ser trabalhado (BARROS e ELIA, 2010). Nagem et al (2003) sintetiza algumas vantagens e cuidados referentes ao uso de analogias no ensino, argumentando que dizer que o seu uso é desnecessário seria errôneo. Podemos observar no seguinte quadro as vantagens, desvantagens e critérios segundo Nagem et al (2003): Quadro 3.6 Vantagens e Desvantagens das analogias segundo Nagem et al (2003). Vantagens Desvantagens Constitui um recurso didático. Ex.: quando você compara o olho humano funcionando como uma máquina fotográfica, você deve mostrar apenas as semelhanças entre as partes do olho e o mecanismo de funcionamento. Possibilita a verificação da aprendizagem. Ex.: se, ao ensinar um conteúdo, o aluno conseguir fazer uma analogia, significa que alguma coisa ele aprendeu. Usa termos mais simples e familiares ao aluno. Ex.: comparar o núcleo de um átomo com uma formiga no centro de um campo de futebol, fica mais fácil de imaginar a relação núcleo / átomo. Estimula elaboração de hipóteses e solução de problemas. Ex: o sistema planetário usado para o estudo do átomo. Promove mudança conceitual dos alunos. Ex: modelo do osmômetro com papel celofane. Se o aluno entender o processo, ele deverá entender o mecanismo da permeabilidade celular. Torna as aulas mais variadas e motivadoras. Diferença no entendimento entre o que se transmite e o que é recebido pelo aluno. Ex.: se eu uso a analogia das estrelas como luzinhas no céu, os alunos podem entender que, por isso elas não são vistas de dia, pois estão apagadas. Não sendo o aluno quem gera a analogia, a aceitabilidade pode ser questionada. Despidas de historicidade, funcionam na educação científica como verdadeiros obstáculos pedagógicos. Só serão compreendidas à luz do momento histórico de sua elaboração e da comunidade que dela se utiliza. Tomemos como exemplo a descrição da organização social das abelhas. Nela podemos identificar de forma clara a linguagem metafórica além do conteúdo ideológico. Eliminar esse conteúdo é, praticamente, impossível. A história torna-se necessária para podermos trabalhar através da metáfora em uma perspectiva de educação. Conceitos errôneos podem ser fixados, por não haver discernimento das relações de diferenças entre o objeto estudado e o analógico. Seleção de um domínio irrelevante em detrimento do principal. Analogias similares podem evocar processos de raciocínio equivocados. Ex.: Célula, Célula-ovo e ovo. Duarte (2005) também apresenta critérios para estabelecer a relação de vantagens e desvantagens para a utilização das analogias através das potencialidades frequentemente aduzidas para defender a utilização das analogias no ensino das ciências e também são apontadas algumas dificuldades/problemas que se colocam à utilização das analogias no ensino das ciências, que podemos resumir nos seguintes aspectos como segue no quadro: 51 Quadro 3.7 Potencialidades e Dificuldades das analogias segundo Duarte (2005). Potencialidades Dificuldades/Problemas Levam à ativação do raciocínio analógico, organizam a percepção, desenvolvem capacidades cognitivas como a criatividade e a tomada de decisões. A analogia pode ser interpretada como o conceito em estudo, ou dela serem apenas retidos os detalhes mais evidentes e apelativos, sem se chegar a atingir o que se pretendia. Pode não ocorrer um raciocínio analógico que leve à compreensão da analogia. Tornam o conhecimento científico mais inteligível e plausível, facilitando a compreensão e visualização de conceitos abstratos, podendo promover o interesse dos alunos. Constituem um instrumento poderoso e eficaz no processo de facilitar a evolução ou a mudança conceitual. Permitem percepcionar, de uma forma mais evidente, eventuais concepções alternativas. Podem ser usadas para avaliar o conhecimento e a compreensão dos alunos. A analogia pode não ser reconhecida como tal, não ficando explícita a sua utilidade; Os alunos podem centrar-se nos aspectos positivos da analogia e desvalorizar as suas limitações. Assim, podemos concluir que as evidentes limitações no uso de analogias, especialmente ao se considerar aquelas que se estabelecem entre sistemas e fenômenos físicos, os quais, comumente, não representam um recurso estimulante do ponto de vista do aluno, devendo ao professor tornar as relações entre os conceitos mais sincronizadas para não perder o foco do objetivo. E deve-se tomar o devido cuidado para que as analogias não sejam entendidas de forma simplificada, guiando o pensamento para uma visão concreta e imediata a qual impeça a abstração necessária à formação do conhecimento científico (FRANCISCO JÚNIOR, 2010). Doravante, é preciso que o professor tenha consciência e estratégia ao utilizá-las, pois é possível que, ao invés de serem meios facilitadores da aprendizagem, funcionem ao contrário, confundindo e dificultando a compreensão (Nagem et al, 2003). 3.7 ANALOGIAS E APRENDIZAGEM O pensamento analógico faz-se necessário para a compreensão dos fenômenos não-observáveis. Neste contexto, o professor se utiliza de tal capacidade para o desenvolvimento da aprendizagem de seus alunos (FRANCISCO JÚNIOR, 2010). A ênfase no raciocínio analógico permite esclarecer e tornar o conceito mais objetivo, as relações e diferenciações entre os contextos científicos e educacionais mais próximas e toda a complexa discussão sobre os processos de mediação didática que permitem estabelecer 52 pontes entre os dois contextos, permitem aos alunos e professores poderem fazer uso dos modelos científicos e dos processos de modelagem de maneira mais eficaz e prazerosa. Com isso, é plausível a observação de Nagem et al (2003, p.5): ...frequentemente argumenta-se que as analogias podem ser ferramentas valiosas para o ensino e a aprendizagem de conceitos científicos complexos, mas existem posições mais céticas. As analogias podem originar tanto monstros quanto bebês saudáveis. As analogias podem ser ferramentas valiosas na aprendizagem com modificação conceitual, se seus aspectos metafóricos são preservados. Invariavelmente, acaba recaindo ao professor, segundo Lopes (Apud GOULART, 2008), esse papel de digerir esse conhecimento para servi-lo aos seus aprendizes, como um cantor que interpreta uma canção que não é de sua autoria. Assim, estabelecer semelhanças entre o análogo e o alvo exige levantamento e organização de idéias, informações, comparações e hipóteses. Interpretar um fenômeno a partir de uma analogia é como uma apresentação artística, que estimula os sentidos, a cognição e as experiências individuais, sociais e culturais. Uma pergunta de relevante expressividade é formulada por Rigolon (2008) acerca da comparação entre o uso de analogias na ciência e na educação: Se a própria Ciência se utiliza das analogias para divulgar seus conceitos, por que não a escola para ensinar as ciências? Porém, segundo Duarte (2005), as principais pesquisas sobre analogias convergem para um resultado semelhante: a maioria dos professores observados utiliza poucas analogias ou utilizam-nas de forma inadequada; as semelhanças e diferenças entre alvo e análogo são pouco exploradas; não é aplicado ou não se conhece um modelo seguro de uso de analogias; a maioria das analogias parece ocorrer de forma espontânea. Como resultado, afirma a autora, os alunos nem sempre compreendem as analogias que lhes são apresentadas, a sua utilização pode conduzir a conclusões erradas, levando, em alguns casos, à indução de concepções alternativas. A reconhecida importância dada às analogias no processo de ensino-aprendizagem faz com que muitos pesquisadores se refiram às potencialidades da sua utilização na educação em ciências, mas também aos problemas que se auferem a esse uso. As analogias são estratégias de ensino que contribuem no processo de ensino e de aprendizagem com modificação conceitual, na qual podem ajudar a reestruturar a memória já existente e prepará-la para novas informações. O emprego de uma analogia não apenas ajuda ou facilita a aprendizagem de um novo domínio, mas também abre novas perspectivas de visão e, então, reestrutura o análogo. O uso de uma analogia é, portanto, um processo de “mão dupla”, que envolve o desenvolvimento tanto do análogo quanto o do alvo. A 53 relação do aluno com o análogo também exerce a sua influência no processo ensinoaprendizagem, como destacado no seguinte trecho: Porém, vale lembrar que a familiaridade com o análogo por si só não é suficiente para a resolução de problemas ou como meio facilitador, pois é necessário que o estudante tenha condições de fazer uma conexão entre o análogo e o alvo na resolução de problemas (NAGEM et al., 2003, p.7). Ainda podemos destacar que, certos da importância da utilidade e cautela para com o uso das analogias no processo ensino-aprendizagem, uma série de questões norteadoras quanto à sua aplicação prática são pertinentes ao professor para avaliar sua utilidade, aplicação e oportunidade de inserção. Duit (1991) avalia que as analogias são eficazes no ensino desde que o professor considere os conhecimentos dos alunos e faça uso de análogos que sejam familiares aos alunos, caso contrário, seu uso pode ser ineficaz. Assim, de acordo com Nagem et al (2003, p.2-3): Qual é a contribuição das analogias, metáforas e imagens no processo de ensino-aprendizagem? Como os educadores trabalham as analogias, metáforas e imagens presentes em livros-texto ou utilizadas no discurso pedagógico? Qual é a função do conhecimento prévio ou concepções espontâneas no processo de ensino e de aprendizagem? Como o conhecimento prévio do aluno interfere no processo de ensino e de aprendizagem? Que relação pode ser estabelecida entre a construção dos conhecimentos científicos e a construção dos modelos para ensino? Que papel desempenha o uso de modelos na construção do conhecimento? Qual deve ser a nossa preocupação: Como ensinar? Ou, Como aprender? Assim, a aquisição do conhecimento, que já é propriedade do aprendiz, parte de dentro, daquilo que conhece, de suas experiências, e tem sua possibilidade na liberdade na ação, permitindo abstração e generalização daquilo que já é seu. O simbolismo e a fantasia são aliados à prática docente. Logo, assimilar conteúdos com referências na própria vida cotidiana é uma forma prazerosa e duradoura de aprendizagem. 3.8 ENSINANDO POR ANALOGIAS O principal objetivo do uso das analogias está na boa compreensão dos conceitos não-familiares, e para evitar concepções inadequadas, é preciso uma estruturação para a utilização correta do recurso didático. Duarte (2005) alerta que a consideração de que a utilização de analogias no processo de ensino-aprendizagem não deve ser feita de uma forma espontânea, mas deve seguir uma metodologia pensada, com atividades estudadas e 54 previamente planificadas, fato que conduziu à proposta de diversos modelos de ensino com recurso a analogias. E com o propósito de promover sempre uma aprendizagem mais efetiva, algumas propostas atentam para a caracterização das mudanças que podem ser introduzidas para melhorar sua validez didática (RIGOLON, 2008). Segundo Duarte (2005, p.19), que fez uma impecável organização destas propostas: Podemos agrupá- los em três tipologias, de acordo com a estratégia que privilegiam: modelos centrados no professor, modelos centrados no aluno e modelos centrados no professor e no aluno. Em relação a cada uma destas tipologias, apresentam-se os modelos mais representativos e sobre os quais existem alguns estudos empíricos, fazendo referência a aspectos comuns que se reconhece existirem noutros modelos. Em seguida, destacamos três dos modelos mais relevantes de ensino através de analogias. 3.8.1 GMAT – Modelo geral de ensino por analogia (general model of analogy teaching) Um dos primeiros a recorrer ao uso de analogias em contexto de espaço de aula foi Zeitoun (1984), estruturando o General Model of Analogy Teaching (GMAT) – Modelo Geral de Ensino com Analogia, com este modelo ele almejou proporcionar ao professor uma estratégia pensada e orientada para o uso eficaz desta “ferramenta” no ensino. Sobre este modelo, Rigolon (2008) afirma que o professor deve levar em conta as características e a conveniência da analogia a se usar, a metodologia de ensino, o meio de apresentação e a avaliação do resultado, considerando muitas singularidades contextuais. O GMAT é considerado, por muitos pesquisadores (PIRES, 2006), como um dos modelos mais completos, devido à importância que atribui a cada particularidade que o constitui, e se apresenta em 9 etapas cíclicas (ZEITOUN, 1984): 1) Percepção das características dos alunos (opcional): refere-se à identificar e avaliar os conhecimentos e capacidades dos alunos em relação ao raciocínio analógico; 2) Acesso sobre o conhecimento prévio do alvo (o que vai ser ensinado): etapa essencial que vai apurar o que os alunos já possuem de conhecimento sobre o assunto a ser abordado, determinando a posterior adequação e a pertinência da(s) analogia(s) a empregar, esta etapa constitui, na perspectiva construtivista de ensino, um dos passos fundamentais para a construção de novos conhecimentos científicos; 55 3) Análise do material de ensino do alvo: ao analisar os recursos didáticos existentes, no que diz respeito, por exemplo, à presença de analogias, o professor deve integrar as analogias em seus planejamentos; 4) Julgar a validade da analogia: constatar se as analogias estão arranjadas e selecionar a que possuir mais semelhanças entre análogo e alvo, determinando a sua familiaridade, adequação e pertinência (etapa recomendada por Zeitoun para grupos pequenos de estudantes); 5) Determinar as características da analogia: evidenciar as semelhanças entre alvo e análogo, analisando a analogia em si, avaliando as suas características de complexidade e especificidade; 6) Selecionar o método e o meio da apresentação: eleger como a analogia será apresentada, bem como a estratégia de ensino a implementar junto dos alunos; 7) Apresentar a analogia propriamente dita: etapa comum qualquer técnica de aprendizagem em geral, explorando os diferentes conceitos e respectivos domínios, ajudando os alunos a encontrar os atributos mais relevantes e limitações também, para finalmente discutir esses aspectos em conjunto; 8) Avaliar os resultados do modelo: analisar se os alunos alcançaram de fato a analogia, determinando a mudança conceptual dos alunos, bem como a presença de concepções alternativas relativamente ao assunto em estudo; 9) Rever as diferentes etapas do modelo: verificar se houve falhas, assim procedendo os ajustes necessários quando úteis. Pires (2006) destaca que algumas das limitações apontadas a este modelo prendemse com a sua extensão em nove etapas, o que dificulta a sua implementação por parte do professor. O modelo em si é também um tanto pragmático, na medida em que se aplica em situações muito gerais e não em situações particulares do ensino. Contudo, é importante destacar que os modelos posteriores a este baseiam-se fortemente no GMAT de Zeitoun. 3.8.2 TWA – Ensinado com analogias (teaching with analogies) O modelo apresentado agora é um dos mais adotados pelos pesquisadores sobre analogias, porque destaca-se pela simplicidade, eficácia e recorrente aparição na literatura, o modelo TWA (Teaching With Analogies) desenvolvido por Glynn em 1991 e reformulado por Glynn et al., em 1994, invertendo os dois últimos passos, pois baseando-se em aulas observadas, e posterior reflexão referente às mesmas, argumentam que durante as aulas os 56 professores em questão identificam as limitações da(s) analogia(s) e só posteriormente se formam as conclusões do processo. Com base em análises de livros-texto e manuais escolares de Ciências e também de aulas de professores de Ciências tidas como exemplares, este modelo de ensino foi desenvolvido para evitar o uso inadequado de analogias no ensino de Ciências. Glynn et al. (1994) delinearam seis etapas que, a princípio, podem ser levados em consideração ao se ensinar com analogias: 1) Introduzir o assunto alvo ao grupo de alunos – deve-se fazer uma explicação introdutória, breve ou estendida, dependendo da analogia que será empregada; 2) Sugerir o análogo – sugerir aos alunos uma situação análoga. Aqui se deve verificar se o análogo proposto lhes é familiar; podendo ser aceitas sugestões de analogias dos próprios estudantes; 3) Identificar as características e atributos relevantes do análogo – explicar o análogo, e se necessário, identificar suas características mais proeminentes; 4) Estabelecer as similaridades entre análogo e alvo – os alunos devem estabelecer as correspondências entre o alvo e o análogo, auxiliados pelo professor; 5) Estabelecer as diferenças entre análogo e alvo – buscar conceitos alternativos que os alunos possam ter desenvolvido; indicar onde não há correspondência entre os dois domínios, para desestimular conclusões incorretas sobre o alvo, identificando suas limitações; 6) Descrever as conclusões – voltar a atenção totalmente para o alvo, sintetizando os aspectos lecionados. Muitos autores, como Ferraz e Terrazzan (2001) defendem este modelo como sendo aquele que contempla mais convenientemente o trabalho dos alunos no delinear e construir as correspondências analógicas entre domínios, admitindo não só uma participação direta e ativa na construção do conhecimento dos alunos, como também a possibilidade de desenvolver outras competências (PIRES, 2006). 3.8.3 MECA – Modelo de ensino com analogias Considerando outras variáveis importantes, destacamos também um modelo mais atual e metódico, Pires (2006) apresenta este modelo como portador de inovação pedagógica que lhe é atribuída devido à suas capacidades dinâmica e adaptativa na estruturação de conceitos novos, e ainda destaca que é cada vez mais aceito devido à recorrência à intuição básica como processo cognitivo fundamental ao homem. Os autores, 57 Nagem et al (2001), defendem que esta “ferramenta” permite identicamente servir de instrumento de verificação da aprendizagem. O modelo descrito chama-se Modelo de Ensino Com Analogias (MECA), derivado do TWA, e sugerido pelo Grupo de Estudo de Metáforas e Analogias na Tecnologia, na Educação e na Ciência – GEMATEC -, do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, sob a orientação e organização do professor Ronaldo Luiz Nagem (NAGEM; CARVALHAES e DIAS, 2001): 1) Definição da área de conhecimento: seleciona a matéria na qual a analogia será aplicada, (exemplo: Matemática, Biologia, Física…); 2) Definição do assunto: é a definição do tema, referindo o conteúdo a ser abordado através de um planejamento baseado nas analogias a serem utilizadas; 3) Definição do público: fundamenta-se no conhecimento prévio dos alunos e perfil do grupo, esta etapa enquadra informações como a idade, concepções adotadas pelos alunos sobre o assunto a tratar, conhecimentos prévios necessários…etc; 4) Identificação do análogo: conhecer o veículo a ser comparado, ou seja, refere-se especificamente à própria analogia, que pretende adequar a compreensão do conteúdo em estudo; 5) Estabelecimento do alvo: o professor identifica qual tema será trabalhado, realçando o alvo; 6) Descrição da analogia: explica o processo propriamente dito, iniciando-se pela apresentação e exploração do análogo e depois passando-se a trabalhar com o alvo. O análogo funciona, então, como situação motivadora; 7) Identificação de semelhanças e diferenças: refere-se ao professor estabelecer os pontos de semelhança e diferença entre alvo e análogo, podendo montar um quadro onde o número de semelhanças seja igual ao de diferenças. Pois os autores sugerem que a quantidade e a objetividade das semelhanças devem ser notórias, permitindo chamar a atenção dos alunos para com as semelhanças; 8) Reflexões: análise sobre a analogia, proposta pelo professor, avaliando com os alunos a validade da analogia, as suas limitações, assim como a adequação ao assunto proposto inicialmente. É um momento muito importante na exploração do modelo pois propicia o desenvolvimento de uma atitude crítica e reflexiva; 9) Avaliação: sugere aos professores a implementação de uma estratégia que permita considerar a assimilação qualitativa conseguida, baseada no grau de compreensão atingido da analogia. Os autores deixam como sugestão, a produção de analogias por parte dos alunos, podendo este “propor um veículo mais familiar, levantar as similaridades e diferenças, explicitando, dessa forma, a sua compreensão acerca do objeto em estudo.” 58 Este modelo sugere uma participação ativa do professor, muito além do papel de guia do processo e enfatiza o destaque das semelhanças e diferenças entre o análogo e o alvo. Os modelos apresentados aqui constituem os mais citados e utilizados nas pesquisas acerca de analogias e norteiam novas propostas. A importância de explicitar tais técnicas se dá a partir da compreensão e distinção da forma de lidar com os conhecimentos prévios dos estudantes e como se estruturar as comparações pertinentes, tornando os métodos de mais fácil aplicabilidade de acordo com a proposta do professor que se identifica com tais técnicas pedagógicas. 59 4 METODOLOGIA A seleção por um método utilizado numa pesquisa científica deve ponderar e circundar a questão que originou o estudo e os dados coletados a partir da mesma. Para se obter dados significativos adotamos a pesquisa onde a estruturação do método científico se aplique às instâncias sociais legitimamente, apropriando-se da descrição, julgo de valores e relatos dos alunos participantes da pesquisa. Logo, esta seção destina-se a uma apresentação geral da pesquisa, o que sugere a discussão dos procedimentos metodológicos aplicados, assim como a descrição do contexto no qual ela se realizou, ou seja, a apresentação do local onde os dados foram coletados e dos sujeitos que dela participaram através de um canal formal de comunicação, ou seja, um questionário para avaliar o aprendizado dos mesmos. A investigação aqui descrita teve como objetivo principal avaliar as potencialidades e limitações do uso e produção das analogias sociais durante uma experiência de ensino de Física, com uma turma de 3º Período do técnico em química do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRJ) de Nilópolis, Rio de Janeiro composta por 21 alunos variando entre 15 e 18 anos, no segundo semestre de 2010, almejando verificar se a aprendizagem foi significativa para os alunos sujeitos da pesquisa. O local da pesquisa foi escolhido por ser um local onde o pesquisador leciona e principalmente por haver alunos que possam debater ideias acerca das estratégias trabalhadas, sem mencionar que o fato de ser a mesma instituição da presente pós-graduação do trabalho aqui desenvolvido gera certas facilidades de comunicação entre os interesses do professor-pesquisador e do mestrado profissional em ensino de ciências que se consolida na casa. A instituição de ensino foi criada de acordo com a Lei 11.892, de 29 de dezembro de 2008, mediante a modificação do Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis (CEFET Química de Nilópolis-RJ), seguida da integração do Colégio Agrícola Nilo Peçanha, até então associado à Universidade Federal Fluminense. Na página da instituição podemos ter uma ideia de seus rumos: O IFRJ tem, na sua trajetória, atuado na formação de jovens e adultos trabalhadores comprometidos com o desenvolvimento sustentável, amparado nos princípios da ética e da cidadania. Nossa perspectiva de uma educação inclusiva tenta resgatar o direito ao conhecimento e à formação profissional de cidadãos, principalmente daqueles historicamente marginalizados, a quem sempre foi negado o direito de participação e intervenção consciente nos grandes temas que norteiam a vida de uma sociedade. Um processo histórico de espoliação e negação dos princípios básicos de cidadania. O direito ao conhecimento, que foi negado a amplas camadas de nosso povo, tem provocado distorções tão gritantes em nossa sociedade, que somente uma intervenção planejada e amparada nos princípios da politecnia poderá resgatá-lo, e assim dar início a um novo processo de formação de trabalhadores livres, críticos, conscientes e 60 sujeitos das transformações de que nosso país necessita. Tendo o trabalho como agente educativo, a histórica relação de nossa Instituição com o mundo do trabalho, associada a um modelo democrático de gestão que vimos implementando, credencia-nos para novos desafios (www.ifrj.edu.br/instituicao/historico). O grupo de alunos foi escolhido pensando nos temas a serem abordados, concatenado os conteúdos programáticos das séries de formação geral do ensino médio com as analogias já previamente criadas pelo professor-pesquisador. A escolha do tema a ser acometido foram alguns dos tópicos principais da eletrostática, para tal recorreu-se à utilização de analogias originais criadas pelo sujeito da presente pesquisa. O conteúdo programático da disciplina de Física para a turma em questão é apresentado no quadro abaixo: Quadro 4.1 Conteúdo programático de Física para Ensino Médio do IFRJ-Nilópolis em 2010. As analogias trabalhadas em aula se referem ao início do conteúdo programático da disciplina para a turma pesquisada, consistindo nos conceitos de carga elétrica e suas propriedades, força elétrica, campo elétrico e potencial elétrico. Temas estes escolhidos devido ao seu caráter abstrato, o que sugere em geral algum tipo de comparação nas explanações dos professores de Física para a transmissão de novas ideias aos alunos. De acordo com Gil (1999), para tais atribuições: um bom pesquisador precisa, além do conhecimento do assunto, ter curiosidade, criatividade, integridade intelectual e sensibilidade social. São igualmente importantes a humildade para ter atitude autocorretiva, a imaginação disciplinada, a perseverança, a paciência e a confiança na experiência (SILVA e ESTERA, 2001, p.16). 61 A pesquisa realizada é de caráter qualitativo com um manuseio quantitativo dos dados, no caso um questionário aplicado aos estudantes, visto que a complexidade do objeto de estudo exige uma exposição dos eventos observados em sala de aula e das concepções dos alunos diante das analogias trabalhadas. Assim, as questões a serem respondidas perpassam em elucidar como os alunos entenderam e absorveram os conteúdos a partir das analogias utilizadas nas explanações iniciais de maneira mais satisfatória e adequada. Para tal, planificou-se e implementou-se uma intervenção pedagógica com a característica de descrever os conceitos da eletrostática de acordo com a técnica aqui denominada de analogia social (PRATA, OLIVEIRA e SIQUEIRA-BATISTA, 2011). Deste modo, a partir dessa comunicação surgirá como produto educacional à elaboração um material didático que estabeleça comparações entre conceitos físicos e eventos usuais da vida, envolvendo pessoas, valores e comportamentos, na forma de um livreto endereçado aos jovens contando com uma situação hipotética em que personagens fictícios retratam a implementação de tal estratégia. Trata-se de uma proposição focada na retenção dos conteúdos ensinados na psique do estudante a partir de uma vertente afetiva e possibilitando assim uma aprendizagem a partir do aspecto social, análoga a um conceito ou fenômeno da natureza Física. O sucesso da presente estratégia está intrinsecamente ligado à experiência de plenitude que o aluno vivencia através do caráter lúdico, como afirma Feijó (1992), o lúdico é uma necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana. E se considerado na educação, é muito animador. O plano de trabalho, como dito anteriormente, decorreu ao longo do segundo semestre letivo de 2010 onde ao longo do currículo tradicional do curso, foram introduzidas as novas analogias e foram bem recepcionadas pelos estudantes ao longo do período. Por último, após o lecionamento dos temas, foi aplicado o questionário aberto, pósteste, de forma a avaliar a influência do uso e produção de analogias na evolução conceitual dos alunos, bem como a influência destas na construção do conhecimento científico, e por conseguinte verificar as principais impressões que o método imprimiu sobre a concepção de uma aula de Física com certo grau de originalidade. O questionário foi aplicado em abril de 2011, cerca de seis meses após as aulas expositivas, durante uma aula de biologia para a mesma turma pesquisada, com o intuito de resgatar as concepções e impressões que foram registradas pelos alunos, período este em que não tinham mais contato com o professorpesquisador, devido ao sistema periódico de disciplinas do curso técnico em questão. Este fator pode contribuir para uma análise qualitativa do aprendizado dos mesmos, de acordo com suas respostas aos estímulos introduzidos nas aulas. 62 Para o desenvolvimento e realização de um estudo de caráter qualitativo com base na impressão dos alunos acerca da nova intervenção pedagógica, corroboramos com Bogdan e Biklen (1994), onde a pesquisa qualitativa apresenta cinco características principais que facilitam que o investigador alcance os seus objetivos: 1) O pesquisador tem contato direto com o ambiente a ser estudado, o ambiente natural é a fonte de dados da pesquisa e o pesquisador assume um papel fundamental; 2) A pesquisa qualitativa é descritiva, cujos dados são as transcrições de entrevistas, memoriais, notas de campo, questionários, relatos, entrevistas, entre outros; 3) Há uma preocupação maior com o processo e não somente com os resultados, o os signos atribuídos pelos entes pesquisados às coisas em termo geral são importantes para o pesquisador; 4) O pesquisador utiliza a indução como forma de analisar os dados, utilizando-se de abstrações prévias; 5) Busca levantar o “significado” das dinâmicas dos pesquisados. A discussão do uso de diferentes métodos para o ensino de Física tem ganhado maior relevância na atualidade, uma vez que a maioria dos professores da disciplina tem uma preocupação predominante, e até certo ponto, correta com os conteúdos, sendo precária a formação dos mesmos no que tange às discussões sobre os métodos de ensino. A mudança deste cenário pode ocorrer com a inserção de modelos familiares da realidade que possam tornar a Física mais prazerosa, sem desconsiderar o rigor científico, mas ousando e inovando com práticas que se consolidem a partir das experiências pessoais e das descobertas a partir do cotidiano e situações sociais (BALBINOT, 2005). Com isso, a afetividade toma um papel central na aquisição do conhecimento, pelo reconhecimento de uma identidade mais completa na linguagem que transmite um pensamento ou ideia. Como afirma Vygotsky, o arranjo da consciência permuta desde o afeto até o intelecto, assim, “... os processos pelos quais o afeto e o intelecto se desenvolvem estão inteiramente enraizados em suas inter-relações e influências mútuas” (WERTSCH, 1990). 63 5 AS ANALOGIAS UTILIZADAS DURANTE AS AULAS REGENCIAIS Nesta parte central do trabalho, sugerimos cinco analogias referentes aos conteúdos iniciais e fundamentais da eletrostática. As analogias que os alunos presenciaram durante as aulas regenciais foram reescritas de forma sistematizada por uma questão pedagógica, pois nas aulas elas são transmitidas de forma entrelaçada com os conteúdos tradicionais. As analogias utilizadas não são totalmente perfeitas, mas se propõem a estabelecer um elo afetivo entre o aluno, algumas experiências de vida e o conteúdo de Física. A aula tradicional é um instrumento poderoso na relação ensino–aprendizagem, não sendo esta prática desconsiderada, mas nas introduções ou exemplificações de certos assuntos, a abordagem menos formal tem uma real importância na assimilação dos estudantes, e por isso utilizou- se uma linguagem coloquial para facilitar a explicação. As analogias seguem a ementa inicial do curso, que é a eletrostática, onde foram escolhidos alguns conceitos fundamentais para serem trabalhados com as analogias, sendo estes: a carga elétrica e os processos de eletrização. Todas as analogias foram inseridas durante a instrução dos assuntos, no início ou no meio da explanação dos tópicos. Podendo até parecer que foram originadas de algum “insight” da criatividade momentânea ou do improviso do professor autor da pesquisa, justamente pelo caráter informal com que foram inseridas as analogias. Mas todas as analogias sugeridas foram previamente construídas. Seguindo um modelo semelhante à classificação de Thiele e Treagust (1992), as analogias ainda foram classificadas de acordo com: relação analógica (estrutural para semelhança de forma ou funcional para semelhança de função) e formato de apresentação (verbal ou verbal-ilustrada). Em seguida, foram suscitados aspectos positivos e negativos de cada analogia, de acordo com as potencialidades e dificuldades, levantadas por Duit (1991); Glynn (1991); Thiele e Treagust (1992); Bozelli e Nardi (2004); Duarte (2005) e Fabião e Duarte (2005). Muitos dos aspectos aqui ditos como “negativos” nem chegam a realmente o serem. São mais erros conceituais ou limitações e cuidados que devem ser considerados com relação ao assunto tratado ou meras sugestões para que a analogia pudesse ser melhorada. Outro ponto importante a ser salientado é que as analogias aplicadas não formam uma sequência de fatos ou idéias, sendo estas geralmente isoladas para determinas aulas, podem ou não ter relações, mas não sendo obrigatoriamente complementares. Como o foco principal das analogias é fazer comparações dos fenômenos físicos com algum comportamento humano, as relações interpessoais são adotadas como padrão para fazer as comparações. Apresentamos então o fruto das exposições em sala de aula. 64 Aula 1- Introdução, conceitos iniciais de eletrostática Analogia 1 Para começar a abordar o assunto sobre cargas elétricas, é interessante recordar a estrutura atômica, e assim comentar sobre os seus elementos constituintes: os prótons, elétrons e nêutrons. A associação do número da carga elétrica de um íon com suas propriedades elétricas, pode consequentemente resultar num composto iônico, como é o caso da atração que ocorre com os íons Na+ e o Cl–. Isto pode ser um bom pretexto para discutir os princípios da eletrostática, personificando os portadores de carga e relacionando a atração elétrica com a atração emocional, afetiva, amorosa, etc. Explicando os conceitos iniciais da eletrostática: “Para compreender a carga elétrica como uma propriedade da natureza, precisamos de dois portadores de cargas, um positivo e um negativo e, assim como os humanos, temos o homem e a mulher como as “partículas” elementares da sociedade.” Alvo: Carga elétrica. Análogo: Ser humano. Classificação: Analogia simples, funcional e verbal. Ponto positivo: Útil para estabelecer os princípios de atração e repulsão. Os opostos se atraem e os iguais se repelem. Assim, estabelece-se uma comparação entre as naturezas opostas de cada um dos sexos com a natureza oposta de cada partícula carregada: o sinal. Ponto negativo: Estabelecer quem é o positivo e o negativo gera uma discussão sem muita relevância, porém diverte os alunos tal discussão. O mesmo ocorre ao considerar os homossexuais, que não possuem análogos nos conceitos em questão. 65 Analogia 2 O que faz um corpo possuir determinada carga, positiva ou negativa é o resultado do saldo das diferentes quantidades de portadores de carga. Assim, para diferenciar um corpo neutro de um eletrizado destacamos tais diferenças utilizando a situação das quantidades de pessoas numa festa, onde os casais representariam os átomos em equilíbrio (o número de cargas positivas é igual ao número de cargas negativas), e as pessoas que estivessem sem par, seriam responsáveis pela caracterização da festa. Como por exemplo, uma festa com 10 casais e dois rapazes desacompanhados, daria à festa um saldo de mais homens que mulheres, assim poderíamos dizer que a festa se encontra carregada de “homens”, ou simplesmente dizer que a festa ficou conhecida como em relação direta às quantidades de portadores de cargas em excesso num corpo eletrizado. Alvo: Análogo: Corpo eletrizado. Festa com números de homens diferentes do número de mulheres. Classificação: Analogia simples, funcional e verbal. Ponto positivo: Reconhecimento facilitado da questão do excesso não ter relação com as operações básicas de matemática, pois muitos alunos costumam confundir o sinal das cargas elétricas como soma ou subtração, assim o exemplo exposto ajuda a desmistificar tal confusão. Ponto negativo: Os estereótipos que servem de descontração se tornem apelos discriminatórios. 66 Aula 2 – Processos de eletrização Explicando a obtenção de cargas elétricas em corpos neutros através de analogias distintas para cada caso: atrito, contato e indução. Analogia 3 A eletrização por atrito pode ser agora comparada com outro comportamento muito comum ao ser humano que é o amor aos animais de estimação. Uma relação grosseira entre os carinhos e afagos com e o atrito serve como desculpa para dizer que há a troca de “algo” entre os dois, que os enche de vontade de continuar juntos equivale à troca de elétrons no processo de eletrização por atrito. Quanto mais se “atritam”, mais se enche de vontade pela troca desse “algo a mais”. Deixando claro que aqui estabelecemos a carga elétrica como a vontade de se ficar junto e estabelecer relações afetivas para a funcionalidade da analogia. Alvo: Análogo: Eletrização por atrito. Uma “troca de carinhos” entre um homem e seu animal de estimação. Classificação: Analogia enriquecida, funcional e verbal. Ponto positivo: Fácil visualização do processo, por sem um exemplo bem cotidiano, ajuda na assimilação do conteúdo. Ponto negativo: Pouco alcance afetivo para endossar a analogia para alunos que nunca tiveram animais de estimação. 67 Analogia 4 Neste caso, as cargas positivas de uma carga seriam comparadas a valores de patrimônio pessoal. Enquanto as cargas negativas seriam equivalentes às dívidas de uma pessoa. Assim, haverá uma soma dos bens ao juntar ou casar (cargas em contato), e divisão igual ao se separar (afastamento posterior das cargas ao contato). Para ilustrar, um exercício com 3 esferas carregadas: A, B e C, com cargas +10Q, 4Q e -5Q, respectivamente, são colocadas em contato. A esfera A toca B e separa logo em seguida, após isto, toca C e separa novamente, qual a carga final das cargas? As cargas, para facilitar o entendimento do processo seriam identificadas como: A Homem com certo patrimônio que está disposto a casar para estabelecer família. B Mulher bonita e simpática, porém com certa dívida financeira. O casamento no caso é a união (soma algébrica) dos bens de ambos. Após certo tempo, o relacionamento infelizmente não dá certo, e a mulher pede o divórcio e assim, de acordo com a justiça, metade do patrimônio do casal é repartida pelos dois (divisão igualitária entre as partes envolvidas). Logo, o homem divorciado, agora com carga +3Q após o processo, infeliz pela escolha errônea de companheira, decide dar mais uma chance ao destino e escolhe outra companheira, que deve mais que a anterior, esfera C. A nova união se dá e repete o processo até a mais uma inevitável separação, terminado o exercício. Alvo: Eletrização por contato. Análogo: Casamento e divórcio com separação de comunhão de bens. Classificação: Analogia enriquecida, funcional e verbal. Ponto positivo: Identificação imediata dos jovens com os dramas da vida moderna; similaridade matemática como o evento físico: idêntico ao processo em questão; associação do quantitativo das cargas com extratos bancários, carga positiva representada como saldo positivo na conta corrente, e cargas negativas como dívida na praça faz com que a assimilação seja facilitada. Ponto negativo: Euforia de certos alunos que não tem maturidade para lidar com estes assuntos. 68 Analogia 5 O próximo processo de eletrização pode ser descrito como o deslocamento de pessoas para regiões de interesses, assim como o deslocamento de elétrons num corpo neutro ou não sob a presença de outro corpo carregado eletricamente. Podemos exemplificar o processo com o seguinte caso: Um bastão carregado se aproxima de corpo eletricamente neutro, polarizando o último. O corpo neutro seria identificado como um prédio residencial habitado apenas por casais (repetindo a ideia usada para o corpo neutro da analogia 2), e o bastão carregado seria uma mulher atraente que passasse perto do prédio, assim, os homens deixariam seus respectivos conjugues para deslumbrar a beldade que está passando próxima, deixando as esposas em casa, e consequentemente polarizando a região, mulheres de um lado e homens do outro, em seguida a utilização do fio terra para neutralizar uma extremidade seria comparado as mulheres chamando por telefone seus amigos do sexo oposto para fazerem companhia a elas enquanto os conjugues estão fora, e logo, quando os maridos retornassem, o prédio ficaria com mais homens do que mulheres, de acordo com o processo físico da indução. Alvo: Eletrização por indução. Análogo: Deslocamento de pessoas para regiões de interesses. Classificação: Analogia enriquecida, funcional e verbal. Ponto positivo: Aproveitando características da analogia 2, o processo é uma consequência a partir da história contada, de simples entendimento e lúdica. Ponto negativo: As quantidades de portadores de carga no processo físico não equivaler à quantidade de pessoas que constam na analogia. 69 6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A apresentação destas novas analogias para os estudantes – os quais não estão acostumados com uma abordagem tão informal da Física, geralmente tratada de forma estereotipada como uma ciência de difícil entendimento – teve boa receptividade, através de depoimentos dos próprios durante e após as aulas. Na medida em que eles associaram os conceitos científicos a sentimentos e situações sociais, torna-se o conteúdo mais assimilável. Os comentários da turma, de uma maneira geral, apontaram para a criatividade das analogias utilizadas e rapidamente dramatizadas pelo professor autor deste trabalho, auxiliando o alcance dos objetivos da aula, com a leveza do bom humor. Assim, os dados da presente pesquisa, pela maneira como foram coletados, permitem que se façam diferentes reflexões acerca das analogias sociais apresentadas aos alunos. O primeiro objetivo pensado na formulação da pesquisa é sobre os conceitos desses alunos acerca das analogias. E o segundo objetivo de reflexão é sobre o uso das analogias sugeridas em sala de aula. Para tanto, os resultados deste trabalho estão de acordo com coleta de dados dos questionários. Eles mostram os conceitos dos alunos pesquisados seis meses (um período letivo) depois da intervenção pedagógica (Abril de 2011). Com o intuito de resgatar as concepções assimiladas dos alunos quanto à abordagem dos temas trabalhados em classe (Agosto à Outubro de 2010). 6.1 O QUESTIONÁRIO A pesquisa foi realizada por meio de um questionário aberto escrito sobre analogias (Anexo 1) respondido à caneta e à lápis, sendo permitidas rasuras, que foram excluídas nas respostas. O questionário foi elaborado totalizando dez perguntas diversas sobre analogia, pelas quais é possível saber: quais são os conceitos prévios que esses estudantes possuem sobre analogias, quais são as opiniões acerca de sua eficácia pedagógica, quais suas opiniões acerca das analogias utilizadas e se acham importante a sua utilização como recurso didático. De uma forma geral, o questionário conseguiu englobar todos os pontos interessantes para esta pesquisa. É importante também informar que nenhum dos 21 alunos que participaram da pesquisa repetiu o 3º período e que eles foram aqui enumerados e discriminados de A a V para preservar suas identidades. 70 6.1.1 1ª Parte – Concepções sobre analogias “Para você, o que são analogias?” Quanto à primeira questão sobre o que seriam analogias, 19 dos 21 estudantes apresentaram respostas que consideravam o estabelecimento de comparações. Isto é, a maioria (90,1%) dos inquiridos se referiu ao termo comparação. Aparecendo também o termo “coisas similares” (aluno L) e “associações que se fazem da matéria com coisas que acontecem no nosso dia-a-dia” (aluno R). Para essa categoria de respostas, é possível encontrar, por exemplo, respostas como essas: Aluno A: “São tipos de comparações”, Aluno C: “São meios que você usa para comparar uma coisa com outra, de forma fácil de se entender” Aluno D: “Formas utilizadas para alguns conceitos complicados” Aluno H: “Comparação entre duas ou mais coisas que possuem algo em comum”. Aluno I – “Analogias são uma comparações entre coisas diferentes, uma conhecida e outra não conhecida, visando o ensino (aprendizado) da que não se conhece”. Aluno J: “Analogias são comparações inteligentes, legais, com fim de facilitar o aprendizado” A resposta do estudante J sugere que a diversão é bem vinda na apresentação das analogias, onde a identificação da estratégia proposta no presente trabalho é considerável para o conceito de analogia do estudante. “Você gosta ou considera importante o uso de analogias para se introduzir um conceito, teoria, modelo ou exercício nas aulas de Física?” Na segunda questão, 85,7% dos estudantes afirmaram que gostam ou consideram importante que o professor utilize analogias para se ensinar os conceitos. Os alunos restantes responderam que depende da analogia utilizada, provavelmente diante à excitação da turma quando eram abordado temas de relações afetivas e amorosas nas comparações. As justificativas apresentadas consideraram desde a facilitação do estudo, o auxílio para o entendimento, até a visualização de conceitos abstratos. Podemos ilustrar algumas respostas: Aluno R: “São importantes, porque fixo melhor o conceito” Aluno Q: “Em casos muito abstratos, sim” Houve ainda outro comentário do estudante J, que justificou a sua resposta dizendo que o uso de analogias “também servem para descontrair as aulas”. Esse comentário do estudante reforça as considerações de Glynn (1989) sobre a utilização de analogias que tendem a favorecer o envolvimento dos alunos no processo de construção de seu 71 conhecimento e, consequentemente, contribuir para aumentar a motivação deles em relação ao ensino de Ciências (FERRY, 2008). “Alguma analogia utilizada em aula de Física te ajudou a compreender algum conceito, teoria, modelo ou exercício?” A terceira pergunte intenciona resgatar as impressões que ficaram nos estudantes após um período letivo, e se ainda assim, absorveram as idéias dos fenômenos ou apenas os análogos. Todas as respostas foram positivas, e resgataram pelo menos uma analogia que auxiliou a compreender conceitos ensinados, apesar de 14,3% não lembrar de nenhuma em específico. Um deles, entretanto recorda que as analogias utilizadas são uma “maneira diferente do convencional” de assimilar um conceito ou equação Física. Destacamos aqui uma das respostas: Aluno I: “Uma em que cargas são como mulheres...” Ausubel (1980), na lógica da aprendizagem significativa (GOMES et al., 2008), defende que “o conhecimento previamente adquirido é a verdadeira pedra de toque para interiorizar e tornar compreensíveis novos significados”. A totalidade das afirmativas mostra que realmente a as analogias desempenham um papel de enriquecimento e esclarecimento perante novos e complexos conceitos. “Em sua opinião, quais são as vantagens ou desvantagens de se estudar Física através de analogias?” Em relação à quarta questão, os alunos de formação profissional do ensino médio não se mostraram familiarizados com a percepção das desvantagens em relação às analogias propostas, decerto porque se identificaram com as mesmas, o que pode indicar uma superestimativa da prática adotada. A maioria das respostas sugere que as vantagens vêm ao auxílio do entendimento e absorção da matéria como elemento facilitador de comunicação. Como podemos averiguar nos exemplos selecionados: Aluno C: “Tem a vantagem de fácil memorização e a desvantagem de perder a inocência” Aluno F: “Vantagens – melhor entendimento, a aula não fica cansativa. Desvantagens – às vezes a comparação deixa a turma desconcentrada.” Aluno L: “As vantagens é a facilidade de entendimento e a desvantagem é a confusão que as analogias podem causar” Aluno M: “A vantagem é conseguir entender de forma simples os conceitos da Física” 72 O comentário do aluno F refere-se à falta de maturidade de alguns jovens ao abordar temas de conotação sexual, descentralizando a atenção das semelhanças que buscam acrescentar para as aulas. Da mesma forma que o aluno L acrescenta que as confusões geradas pelas analogias são de caráter comportamental, devido a grande excitação dos estudantes perante algumas explanações. Houve alguns alunos que não identificou desvantagens na intervenção pedagógica adotada no presente trabalho, o que é um indicador positivo para a pesquisa. Como responde o aluno U: “Não vejo nenhuma desvantagem...”. Estas respostas parecem estar de acordo com o que diz Duarte (2005) ao discutir algumas potencialidades frequentemente aduzidas para defender a utilização das analogias no ensino de Ciências. Uma das potencialidades recomendadas é a possibilidade das analogias tornarem “o conhecimento científico mais inteligível e plausível, facilitando a compreensão e visualização de conceitos abstratos, podendo promover o interesse dos alunos” 6.1.2 2ª Parte – Analogias sugeridas em aula “Para você, o que o professor quis dizer com as analogias sugeridas nas aulas do período?” A segunda parte do questionário é dedicada ao resgate das impressões dos estudantes acerca das analogias utilizadas em aula de uma maneira generalizada, para obter um panorama de suas aprovações ou não diante da intervenção pedagógica adotada. Para esta primeira questão da segunda parte, foi detectada uma variedade de respostas sem concatenações explícitas, provavelmente devido ao caráter subjetivo da pergunta generalizada. Houve inclusive algumas (42,8%) que não eram inerentes à pergunta, revelando uma má interpretação da mesma. Porém observou-se que o objetivo geral dos comentários se refere ao caráter de facilitar o entendimento dos conteúdos através das analogias. Como podemos exemplificar: Aluno E: “...deixou mais clara (as explicações) através das analogias” Aluno H: “Explicar a atração entre corpos de cargas opostas através de expressões corporais”. Aluno J: “Passar a mensagem principal, que é a matéria”. Aluno N: “...visualizar melhor algo...” Aluno T: “Somente quis simplificar a explicação da teoria”. Aluno U: “Quis dizer que coisas muito distintas também são muito semelhantes”. Aluno V: “Quis introduzir a matéria de forma mais fácil”. 73 Apesar não ter sido observado uma convergência nas respostas desta questão, o comentário do aluno M sintetiza aquilo que se busca na utilização de estratégias didáticas na prática pedagógica: “Ele quis dizer que não é tão difícil o conceito quanto parece”. De forma semelhante, o aluno P diz: “Que é possível fazer uma relação com os conceitos introduzidos na aula e coisas comuns do nosso dia-a-dia”. Resposta esta que revela o sucesso da intervenção pedagógica proposta no presente trabalho. “O que você achou das analogias utilizadas?” A segunda pergunta preza pela opinião pessoal dos estudantes diante da estratégia adotada pelo professor autor da pesquisa. A grande maioria das respostas (90,5%) aprova o método utilizado, comentando também sobre o caráter divertido das exposições das analogias, fator que ajudou a agradar a intervenção pedagógica, donde destacamos as seguintes opiniões: Aluno A: “Achei até divertido...” Aluno B: “Bem pensadas” Aluno F: “Achei interessante, pois deu pra entender melhor a matéria”. Aluno J: “Bem legal, todos riram e aprenderam a matéria”. Aluno R: “Diferente”. Outra resposta que indica a originalidade da proposta é dada pelo aluno U: “Eu achei interessante pois é um método diferente e pouco adotado pelos professores”. Logo, os comentários que surgiram na questão é um incentivo para o constante desenvolvimento do método e expansão para mais conteúdos. “Quais as semelhanças e diferenças entre um conceito introduzido e a analogia utilizada?” Na terceira questão foi observado que houve uma dificuldade dos alunos em lembrar e relacionar umas das analogias trabalhadas no período passado com o conceito alvo, todos os alunos não responderam de forma satisfatória, não sendo necessário citar alguma resposta designadamente. As considerações apresentadas reforçam o que Duarte (2005) aponta como dificuldades ou problemas que se colocam à utilização das analogias no ensino de Ciências. Dentre estas o fato da analogia poder ser interpretada como o conceito em estudo, ou dela serem apenas retidos os detalhes mais evidentes e apelativos, sem se chegar a atingir o que se pretendia. “Qual a importância da analogia para o entendimento do conceito físico?” 74 Já na quarta questão, a propriedade mais global tornou as respostas mais satisfatórias para a análise. A questão em si é um artifício para verificar se haveria incoerências em relação à questão dois da primeira parte, onde é perguntado sobre a importância das analogias nas aulas de Física. Todas as respostas apresentaram referencias ao melhor entendimento da matéria. Sendo interessante destacar a resposta do aluno I: “Desobscura a disciplina...”. De maneira semelhante, o aluno M ressalta que as analogias são importantes para “...imaginar o que está sendo explicado”, exaltando as condições analógicas concreto-abstrata organizadas por Ferraz e Terrazan (2001). Que é o caso da eletrostática, que apresenta os seus conceitos com certo grau de abstração, sendo facilitadas suas compreensões se houver algo relacionado analogicamente com algo ou situação social concreta. “Houve alguma dificuldade de entendimento acerca de alguma analogia utilizada ou do conceito em si?” Concomitante com as questões anteriores, a quinta questão pretende averiguar se alguma dificuldade passou despercebida nas respostas anteriores, fechando o ciclo de questionamentos sobre as analogias apresentadas no presente trabalho. Apenas 23,8% dos alunos apontaram ter sentido alguma dificuldade de entendimento algumas vezes, mas respondendo que na maioria dos casos a dificuldade é contornada. Assim como 14,3% das respostas indicam a dificuldade apenas com os conceitos físicos, como revela o aluno T: “No conceito em si dúvidas sempre surgem, mas as analogias nos ajudam a entender o que é falado”. Evidentemente, as respostas dos alunos sugerem que para eles as analogias assumiram um papel fundamental para a aprendizagem. “Espaço para sugestões, elogios ou críticas sobre o trabalho desenvolvido” Esta última questão foi colocada para extrair mais alguma percepção e opinião pessoal diante do trabalho desenvolvido, como pontos positivos destacaramp-se as seguintes respostas: Aluno A: “Continue com as analogias...Foi muito divertido ter tido aula com o senhor.” Aluno I: “O trabalho, por ser irreverente, torna às vezes os alunos mais dispersos...” Aluno N: “Um belo trabalho.” Aluno T: “...descontraí e tira a tensão da aula...” Outro comentário inusitado feito pelo aluno J diz que: “...a analogia é um dom...”, talvez ele intencionasse se referir à criatividade e inovação das analogias apresentadas, mas este trecho de sua resposta é no mínimo curioso. O único comentário com caráter de crítica foi o do aluno G que acha que deveria haver uma variação maior nas analogias, no 75 caso, as comparações constantes com as relações sociais não devem tê-lo agradado, provavelmente devido ao fato de a maioria das analogias utilizadas no ensino de Física ser uma relação entre fenômenos e fórmulas de mesma natureza. Estamos propondo no presente trabalho mais uma alternativa para enriquecer o “leque de opções” para o professor na hora de escolher analogias para serem trabalhadas no ensino de eletrostática. E a partir deste raciocínio o professor pode adaptar e formular as suas próprias analogias de acordo com o público que trabalha, sempre buscando a melhor maneira de transmitir o conhecimento. As analogias aqui apresentadas claramente se estruturam na classificação de analogias funcionais, uma vez em que os alvos são estruturas da matéria do mundo atômico, possuindo um caráter abstrato, e assim as analogias estruturais possuem o atributo de relacionar os aspectos visuais. Observamos também que nem todas as analogias apresentadas após o as aulas regenciais seguiram todos seis passos do método TWA de Glynn et al. (1994), mas pelo menos, continha muitos dos passos que o compõem, o que possibilitou a melhor otimização e organização das mesmas para a explanação em sala de aula. 6.2 CONCEPÇÕES DOS ALUNOS EM RELAÇÃO AOS CONTEÚDOS ABORDADOS Os alunos entrevistados foram oralmente questionados em aula sobre o entendimento dos conteúdos com a finalidade de perceber se as analogias foram satisfatórias para o aprendizado dos mesmos. As analogias sugeridas aqui no presente trabalho e aplicadas em sala de aula obtiveram uma boa receptividade por quase a totalidade dos alunos e representou um fator determinante na aquisição de conceitos teóricos fundamentais sobre a disciplina Física, mais especificamente sobre alguns tópicos da Eletrostática, que foram exatamente escolhidos por se tratarem assuntos que abrangem muitos conceitos abstratos. E assim as analogias sociais foram de grande valia para ajudar a construir os modelos mentais para uma aprendizagem significativa dos alunos. As notas dos mesmos nas avaliações posteriores da intervenção pedagógica (testes, provas e experiências) foram satisfatórias no sentido que nenhum aluno ao final do curso ficou reprovado na disciplina e todos se promoveram sem o artifício da recuperação, evidenciando uma assimilação adequada dos conteúdos e conceitos da disciplina. Lembrando que o nível das avaliações estava de acordo com a bibliografia adotada (ALVARENGA e MAXIMO, 2009) e assim podemos afirmar que o objetivo pedagógico foi alcançado com sucesso. 76 Os estudantes entenderam que a dimensão lúdica abordada era parte integrante da estratégia de ensino e associaram a mesma à personalidade do professor. Como observam Grilo, Queiroz e Pinto (2002, p.2): ...não se pode distinguir formação pessoal da formação profissional. Quando pretendemos compreender a ação docente, temos que considerar, sobretudo, que o processo de formação do professor é um crescente e um continum, portanto, a dimensão lúdica na formação do profissional é parte integrante de todo o processo, amplo, complexo e integral. É algo indissociável de auto-formação na relação concreta entre o estudo (técnico), entre a reflexão individual e entre a interação coletiva, isso dentro de um confronto de idéias e troca de experiências vivenciadas. Assim, as analogias sociais, com seu caráter lúdico, devem fazer parte não só do discurso, mas também da visão pessoal do professor acerca da realidade social de seus alunos. Sendo uma estratégia de envolvimento afetivo entre o assunto abordado e as experiências dos estudantes, a não dissolução de ambos é uma característica que aponta a afetividade como um fator de desenvolvimento humano, como afirma Tassoni (2000, p.1) analisando Vygotsky: ...que a construção do conhecimento ocorre a partir de um intenso processo de interação entre as pessoas. Portanto, é a partir de sua inserção na cultura que a criança, através da interação social com as pessoas que a rodeiam, vai se desenvolvendo. Apropriando-se das práticas culturalmente estabelecidas, ela vai evoluindo das formas elementares de pensamento para formas mais abstratas, que a ajudarão a conhecer e controlar a realidade. O professor então se destaca no papel do outro que garante que as relações sociais permeiem o processo ensino-aprendizagem, a construção do conhecimento e a própria construção do sujeito. E os alunos percebem muito bem isso em sala de aula quando se tem um objetivo pedagógico a se cumprir. 77 7 CONCLUSÕES O método da ciência (...) é muito mais importante do que as descobertas dela. (Carl Sagan) É claro que na nova filosofia da educação o papel do professor é o de um orientador e formador de um cidadão capaz de continuar pensando, evoluindo e prosperando em qualquer área em que se aventure em sua vida, mas sabemos que este papel pode e deve ser desempenhado da melhor forma possível, e para isto que existem pesquisas educacionais que almejam desenvolver e aprimorar o trabalho dos profissionais em educação. Para o sucesso desta linha de raciocino, é essencial que o apreço dos alunos pelas aulas de ciências seja revigorado, pois do contrário, como observa Rigolon (2008): Mas como um aluno pode questionar e ter sua opinião sobre assuntos polêmicos e atuais, como os alimentos transgênicos, o aquecimento global, a nanotecnologia, e etc. se ele não teve acesso a formas diferentes de ensino se não às tradicionais aulas expositivas e, por isso, não se interessou? (RIGOLON, 2008, p.107). Partindo do questionamento inserido na discussão, a escola necessita urgentemente de novas concepções acerca de suas práticas educacionais. A maior parte das contribuições teóricas na área de educação se limita a meras metodologias que não fazem muito sentido no dia-a-dia do professor, sendo as contribuições concretas, de fácil e direta aplicação, se tornem um tanto vagas e normalmente tão entediantes quanto suas originalidades. Por isso que uma escola é reinventada, que rompe com os princípios da escola tradicional e apresenta uma nova concepção de educação, é uma libertação das mesmices, dos manuais e testes de aprendizagem, onde o professor ambiciona que sua prática pedagógica seja única e que os alunos aprendam cada vez melhor, descubram-se como agentes de suas próprias vidas e que assim sejam felizes na medida do possível. O professor que reflete sobre a sua prática, reorientando-a, deve encontrar-se em estado permanente de formação, estreitamente vinculado a uma valorização do conhecimento científico pela sociedade (MARTINS, 2005). Com este espírito inspirador que o presente trabalho buscou contribuir de forma direta e criativa para com as aulas de eletrostática, sugerindo novas formas de abordar os conceitos, que normalmente são vistos de forma fria, impregnada de termos estranhos e de difícil visualização. Apontamos que a Física possa ser caracterizada como uma atividade humana, e assim, pode haver uma estreita relação com seus próprios comportamentos. Relações que, aliás, ainda não foram devidamente estudadas e comparadas. Aceitamos que 78 muito além das analogias aqui sugeridas, o comportamento humano compara-se às leis específicas da natureza, o que caracteriza o escopo do presente trabalho. Martins (2005) discute que a alfabetização científica e tecnológica é premente numa sociedade em que, pela própria natureza das questões que surgem, não podemos mais separar um cidadão crítico de um “cidadão científico”. Buscamos, destarte, com as analogias sociais criar uma via de mão dupla para estes significados, onde o cidadão científico se identifique como uma “ciência cidadã”. É pertinente salientar que não somos aqui contra o ensino tradicional dos conteúdos de ciências, até porque é através da dedicação e comprometimento com o conhecimento que se desenvolve um cientista ou um profissional em qualquer área. Porém, o professor que foi formado geralmente no ensino tradicional encontra dificuldades para transpor sua visão da ciência posteriormente para seus alunos. Assim, principalmente no ensino médio, tanto na formação geral quanto na profissional, onde nem todos os alunos possuem simpatia ou aptidão para as ciências exatas, o professor está constantemente numa situação desfavorável de não conseguir atrair a atenção de todos. Partindo deste contexto que surgiram as ideias de se trabalhar com conceitos mais unânimes e gerais da vida, como as relações homem-mulher, paixões e bom-humor. Logo, a Física que aqui pretendemos demonstrar é algo que depende das interações humanas, e suas atividades sejam valorizadas como conhecimento prévio para ser contemplada em toda a sua amplitude e dimensão pelas técnicas de ensino, permitindo mais uma leitura do mundo, conectando Ciência e vida, ou seja, uma busca pela formação do indivíduo através de suas próprias considerações, fazendo ciência e interagindo com o mundo que nos cerca. Acerca dessas características na formação e prática do professor, Grilo, Queiroz e Pinto (2002, p.4) refletem: O professor não deve adaptar-se a realidade social em que vivemos, e sim assumir o seu papel como ator social capaz de colocar mais cor, mais sabor, mais vida tanto na sua vivencia como naquilo que se propõe a fazer. Isso é possível quando ele reconhece o lúdico que o acompanhou durante todo o seu desenvolvimento. Outro fator a ser considerado pelo professor que busca melhorar suas aulas é o usualmente chamado de “brilho no olhar”, fator este que representa o quanto o professor acredita e se impõe em busca de seus objetivos para com o seu trabalho. Podemos perceber uma frieza muito grande por parte dos pesquisadores ao apresentarem e proporem suas estratégias de ensino é hora das inovações contaminarem e estabelecerem novas concepções na prática do ensino de ciências, muito além de novas figuras em livros didáticos. 79 Os resultados apresentados apontam que, as analogias trabalhadas, apesarem de ser integrantes apenas da introdução de conceitos em aulas (de conteúdos rigorosos na maioria dos casos, devido à ementa e característica do curso técnico em questão), mostraram um aumento significativo no interesse dos alunos pela disciplina e pela discussão de conceitos abstratos, uma vez que possuem um análogo concreto para se basearem. Além de todas as dificuldades que possam surgir na prática pedagógica, foi observado também que o fator diversão é sempre bem-vindo pelos estudantes. E ao se estabelecer um laço afetivo entre o conhecimento e a cognição do aluno através das analogias sociais, o processo ensino-aprendizagem torna-se mais eficaz. As principais consequências da intervenção pedagógica do presente trabalho devemse essencialmente em como uma breve introdução a um tema de aula de conteúdos abordada com resgates de interações sociais, sentimentos e concepções de vida, podem trazer uma participação mais ativa nas aulas e posteriormente ficar registrada nas lembranças mais significativas e felizes dos estudantes. Memórias que podem marcar o período de aprendizado e formação são importantes e por esta razão são capazes de levar o conhecimento em mais um aspecto da vida. Assim, o diferencial do nosso trabalho registra que ao se utilizar de algum aspecto emocional ou social nas analogias, estas ficam para a posterioridade da sala de aula mesclando o prazer de aprender com a necessidade de almejar novos conhecimentos. As consequencias destas intervenções estão intimamente relacionadas à capacidade de visualização e imaginação do estudante em perceber os mecanismos da natureza e que podemos encontrar certas semelhanças nos padrões de comportamentos tanto dos humanos quanto dos fenômenos físicos, introduzindo o cotidiano nas explicações científicas, estabelecendo vínculos e significados para uma disciplina não tão apreciada pela maiorias dos estudantes de ensino médio em geral. Sendo possível transportar ideias de um saber puramente científico para um saber de senso comum, sem afetar o conteúdo em sala de aula, deixando claro que estas analogias são apenas uma motivação inicial para as futuras explicações do professor, onde o método tradicional de ensino sempre é importante. Através da realidade dos professores de ensino médio, se destaca que há uma enorme dificuldade em tornar as aulas de Física mais interessante para essa geração de jovens imersos na cultura digital. As analogias sociais propostas aqui tem como finalidade exclusiva despertar a curiosidade destes jovens para o conhecimento científico através das relações sociais. Pois podemos também facilmente perceber que a palavra social é uma entidade de peso nas chamadas redes sociais que ocupam o cotidiano dos estudantes atuais. Devendo ser interessante aproveitar este interesse gratuito dos jovens em fenômenos sociais para modificar um pouco o discurso em sala de aula. As analogias 80 sociais estudadas no presente trabalho confirmam em ser uma técnica motivadora para aprendizagem destes jovens, principalmente pelo fato de facilitar a linguagem para a comunicação e transmissão do conhecimento científico. As analogias sociais também se mostraram como uma técnica carregada de poder criativo que possui a capacidade de incluir rapidamente o estudante no discurso, alterando-o, interagindo e transformando as relações propostas inicialmente pelo professor, adaptando os exemplos de acordo com as vivências dos estudantes e fazendo-os procurar tais relações com o conteúdo abordado. Mesmo que a princípio não se tenha muito significados em comum, o professor pode aproveitar o momento de criatividade para despertar o interesse até dos estudantes menos compromissados com a disciplina, pois o discurso vai além do conteúdo, pode-se analisar a vida, costumes, reações e comportamento das pessoas. Em vista de todos estes problemas e prováveis soluções aqui discutidas, o produto educacional busca enriquecer as analogias utilizadas verbalmente através de um texto romanceado que apresentará as relações apresentadas de forma lúdica e contextualizada, servindo de guia pedagógico para o professor que se identificar com as ideias aqui trabalhadas e assim aproveitar o texto para inserir os conteúdos no cotidiano dos alunos através de seus dramas emocionais, que é o foco do texto produzido. Cientes de que toda proposta pedagógica é uma visão particular de um assunto, e logo pode se ou não interessante para um determinado professor, sabemos que as analogias aqui sugeridas não são uma solução derradeira para o problema do aprendizado de Física pelos alunos de ensino médio e nem que representa uma receita pronta para os professores utilizar em sala de aula, mas buscamos acrescentar um toque de criatividade que aproxime os conteúdos do cotidiano social dos estudantes de ensino médio e que se adapte à realidade que os professores de ensino médio observam hoje em dia, e que assim possam utilizar as ideias aqui trabalhadas da forma que julgarem mais interessante. 81 8 REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ALVARENGA, B.; MÁXIMO A. Curso de Física. V. 3. São Paulo, Scipione, 2009. ALVES, V. C.; STACHAK, M. A importância de aulas experimentais no processo ensinoaprendizagem em física: ”Eletricidade”. 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Contamos com sua colaboração para respondê-lo, pois suas informações são importantes para o andamento desse trabalho. Não é necessária a sua identificação. Muito obrigado pela colaboração. Leonardo Prata (responsável pela pesquisa) 1. Idade: _________________________ 2. Está repetindo o 3º período do ensino médio: ( ) NÃO ( ) pela 1ª vez ( ) pela 2ª vez 1ª PARTE – Concepções sobre analogias 1. Para você, o que são analogias? 2. Você gosta ou considera importante o uso de analogias para se introduzir um conceito, teoria, modelo ou exercício nas aulas de Física? 3. Alguma analogia utilizada em aula de Física te ajudou a compreender algum conceito, teoria, modelo ou exercício? 4. Em sua opinião, quais são as vantagens ou desvantagens de se estudar Física através de analogias? 87 2ª PARTE – Analogias sugeridas em aula 1. Para você, o que o professor quis dizer com as analogias sugeridas nas aulas do período? 2. O que você achou das analogia utilizadas? 3. Quais as semelhanças e diferenças entre o conceito introduzido e a analogia utilizada? 4. Qual a importância da analogia para o entendimento do conceito físico? 5. Houve alguma dificuldade de entendimento acerca da analogia utilizada ou do conceito em si? 6. Espaço para sugestões, elogios ou críticas sobre o trabalho desenvolvido. 88