crónica / poesia
página do
11º B
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Pedro Santos
quem sou eu?
O que sou eu, afinal? Até há algum
tempo achava esta pergunta um tipo de
questão feita por quem nunca está bem
com nada ou que queria respostas bem
mais complicadas do que a sua
simplicidade quase óbvia. Mas então,
será pura vontade de pensar ou um
problema realmente sério que apenas
deixa à parte quem vive revestido de
ignorância?
Somos pessoas, é uma realidade
comum a todos nós. Realidade comum
também é a de que sabemos que todos
terminaremos um dia. Que realidade
absurda! Deixa-me furioso! Por que é que
não podemos fazer nada para a mudar?
Oh Deus, salva-me desta ilusão, porque
é-me impossível viver descansado
sabendo que daqui a dez minutos poderei
não mais respirar. Em vão. Pedir a Deus
é falar no vazio. Tenho pena que Ele não
exista, talvez nos pudesse ajudar a todos
neste problema. Quem terá criado a
imagem de Deus? Talvez alguém numa
tentativa feroz de fugir à realidade. Talvez
alguém que tivesse já reparado na
evidência que me ia estando tapada pela
cortina da ignorância. Oh inteligência
desgraçada! Porque me não deixaste na
ignorância? Seria mais feliz, pelo menos.
Oh inteligência, repara nos ignorantes
que me rodeiam, todos eles me acham
louco, sorriem na minha cara, riem do
que eu penso. Mas que raio de
banalidade infantil! Se ao menos isto
passasse com a idade… Mas não, quanto
mais velhos ficamos, mais estúpidos nos
tornamos, mais perto está essa
evidência maldita. Morte miserável.
Tenho-te rancor. Farei tudo o que estiver
ao meu alcance para te afastar. Bem sei
que não te posso evitar. Morte. Serás tu
a única divindade? Por certo que és a
única coisa invencível. O mais que
podemos fazer é evitar-te por algum
tempo, mas não para sempre. Não
penses que te prestarei culto. Não gosto
de coisas que sejam incompatíveis
comigo. Oh morte, se tu não és deus
quem será? O Deus católico? O Deus
muçulmano? Mas esse criou-nos à Sua
imagem e semelhança, mas nós
morremos e Ele não. Porquê? Porque é
que Ele nos criou deficientes? Sim,
porque morrer é uma deficiência do
nosso corpo. Será que Deus pode morrer
também? Mas assim não é Deus. Parece
que aprendi a lição. Poderei ensiná-la a
mais alguém? Certamente que não me
compreenderiam. Apetece-me dizer: «a
vida é tão injusta!». Isto, sim, toda a gente
aceita. Não pelos mesmos motivos que
eu, mas sim pela cultura de nível
baixíssimo que se apodera da maioria.
Sim, a ignorância mantém-vos felizes, até
porque é uma espécie de jogo. Do estilo
cabra-cega. Todos vós tendes a
ignorância a vendar-vos os olhos e ficam
felizes por isso. Porque buscam as
verdades e não as encontram. Porque
acham a Verdade, mas preferem não
tirar a venda ignorante dos olhos e assim
não a percebem. Com o tempo cansamse de procurar a Verdade e de a
compreender e a venda da ignorância
toma-vos o corpo, como se vos
transformasse na ignorância em
pessoa. Morte e ignorância. Que duas
coisas terríveis! Duas coisas que, se
calhar, pensam vocês não serem tão más
assim. Uma acaba com os vossos
problemas e a outra só vos mostra os
problemas estúpidos da estética diária,
dos acontecimentos históricos da casa
do vizinho do lado, a quantidade de folhas
de papel que alguém ganha
mensalmente.
Como responderei, então, à
pergunta: “Quem sou eu?”. Sou um
corpo, tenho alma? Sou uma alma
habitante num corpo? Como posso eu
saber o que está para alem do planeta
quando não consigo explicar a realidade
que me está próxima, a realidade que
me habita… a realidade que sou? Será
que a tese do determinismo se aplica a
mim? Afinal, eu sou o acontecimento que
resultou de causas que me
antecederam.
Os
meus
pais
conheceram-se, os pais deles
conheceram-se, alguém se conheceu
para dar início à árvore genealógica da
minha família, o ser humano
desenvolveu-se, apareceu vida no nosso
planeta, formou-se o Universo, enfim,
como é difícil chegar ao início dos
tempos! Eu próprio poderei ser o
sustento da base, do fim, da
descendência… O que acabei de dizer
foi o que deu origem ao meu corpo, mas
eu não sou só um corpo! Eu sou uma
essência, real ou ilusória, não sei.
Certamente que o passado é parte da
minha essência, mas há algo mais. Sou
livre! É a minha liberdade que completa
a essência que sou. Ter liberdade
permite dar forma às nossas ideias,
sustentar o que somos, fazer do nosso
corpo a imagem daquilo que realmente
somos. Quando me vejo ao espelho ou
numa fotografia, vejo o meu corpo preso
como numa espécie de gaiola. O máximo
que podem tirar-nos é o corpo, a
liberdade está sempre intacta, mesmo
quando nos proíbem de falar, proíbem o
nosso corpo de agir e não o cérebro de
pensar. A liberdade é perigosa, temos
que a usar bem. Por ser perigosa, alguns
têm medo dela e preferem fundamentar
os seus actos com a ausência de
liberdade. Errado! Não podemos fazer
nada, não podemos «ser», se não
tivermos liberdade. Explicado já, pelo
menos parcialmente, o que sou no
presente, como explicar o que sou eu
antes de nascer e depois de morrer?
Antes de nascer, tenho receio que nada
tenha sido, a essência vai-se formando
com o corpo e sem corpo a essência
não se forma. Depois de morrer, a
degradação do corpo e da essência é
conversa com o ignorante
Sonhar contigo
Ai Sandra,
A Xandrinha dos meus sonhos!
É contigo que adormeço
E acordo nos dias risonhos.
Mas a minha má sorte,
Como já estou habituado,
Faz tudo o que pode
Para não ser teu namorado.
Estou triste,
Amuado,
Vou chorar!
Parece que sou da idade
Dos que andam no carrossel,
Só espero que as lágrimas
Não estraguem este papel!
Vou pensar em ti…
O teu cabelo…
Os teus lábios…
A tua pele…
Os teus olhos…
Quem me dera que fosses minha!
Mas não és,
Fico sempre com a consolação
De o poderes ser nos sonhos.
Sonho contigo numa praia,
Os dois agarrados na areia,
A beijarmo-nos com amor
E um puto a fazer asneira.
Imagino-nos a viajar
E a olhar pela janela,
Eu sonho que sou o príncipe
E tu a Cinderela.
Mas de príncipe não tenho nada,
A não ser espadas no coração.
Aquela que me dói mais
É tu dizeres-me “Não!”.
Assim, pois claro,
Perco as esperanças,
E só me restam os sonhos…
Pudera ser nosso Amor
Como uma chama acesa,
Sandra…
AMO-TE minha princesa.
Triste ignorante, que achas beleza em meu escrito,
Que dás ouvido ao oculto divino e ao mito,
Que achas graça desprezante à minha forma de viver,
Pensas que serás mais feliz na hora de morrer?
Não queiras para ti a triste mágoa do meu corpo,
Porque com tão pouca cabeça que tens,
Em menos de um instante, querias ver-te morto!
Não tens coragem de enfrentar a tua fraqueza,
Tens medo de te achar deambulante,
Olhas o céu, vês as estrelas e tudo achas fascinante.
Não percebes a vacuidade da existência,
Não és nada para o Universo. Tenho pena de ti…
Perguntar-me-ás que tenho eu a mais que tu.
Respondo-te que em tudo somos iguais,
Mas eu vejo o “sem nexo” que é a vida
E tu preferes alimentar a tua ingenuidade.
Chamar-me-ás louco!
Pois eu sorrirei para ti e dir-te-ei que é pouco.
Posso ser louco, desprezado ou um triste vagabundo,
Mas a tua sabedoria não toca no meu mundo.
Sou diferente. Não sou único. Assim o espero.
Não pretendo aproveitar-me da tua ignorância,
Pois, quem sabe, precisarei da tua ajuda.
Não olhes para mim desconfiado!
Dá-me a mão e acompanha-me,
Não porque eu queira companhia,
Mas porque na solidão, jamais sobrevivia…
feita separadamente. O corpo acaba
irreversivelmente. A minha essência,
aquilo que sou, dura mais ou menos
tempo de acordo com o uso que fiz da
minha liberdade enquanto o meu corpo
esteve vivo. Permanecerei vivo enquanto
for recordado, até que tudo o que sou
acabe, termine no esquecimento.
Prender o corpo numa moldura ou
imagem não é o caminho para a
eternidade do «ser». Mais tarde
perguntarão: quem é este? Ou, por
outras palavras, a que essência
pertence este corpo? Pois é, se ninguém
se lembrar da essência daquele corpo,
provavelmente o aspecto valorativo que
se dará à pessoa é nulo.
Sendo assim, parece ser
importante que o meu corpo exista vivo
por muito tempo, para que a essência
ganhe consistência, para que a essência
toque na eternidade. Será possível? Não
estarão cá para ver com os vossos
próprios olhos o fim do que sou. Ganhar
consistência na essência não é ter fama,
é ter importância. A fama apaga-se
rapidamente com o corpo, a importância
só se apaga com a essência. Por isso é
que, muito provavelmente, a essência de
Eusébio, não será certamente melhor do
que a de Aristóteles. A fama de Eusébio
durará cem, duzentos, trezentos anos,
não sei. A importância de Aristóteles já
tem, pelo menos, uns bons pares de
séculos.
Eu quero ter importância, não
quero ter fama. Quero ter uma
importância boa, pois Hitler dificilmente
será esquecido, mas nem por isso foi
muito bom. Voltamos à Ética! De facto, a
Ética de cada um é o que vai dando forma
à importância e à essência.
Pergunta respondida? Espero que
sim, esforcei-me para isso, não até ao
limite, mas utilizei muito das minhas
forças e do saber. Até porque para
responder à questão é necessário tirar
a ignorância dos olhos e, em grande
parte de mim, a ignorância é dona do
meu corpo… da minha essência!
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